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06 - ROMANOS

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ROMANOS
V an Johnson
INTRODUÇÃO
1. Autor
A fim d e re a lça r n o ssa le itu ra d e R o m a ­
n o s , a lg u m as q u e s tõ e s p e rtin e n te s s o b re 
o a u to r — P au lo , o a p ó s to lo ju d e u p ara 
o s g e n tio s — s e rã o tratad as b re v e m e n te :
a ) A C ham ada d e Paulo
“C ristian ism o n ã o é re lig iã o ; é re la ç ã o ”. 
Eis a d e c la ra ç ã o fav o rita d o s p ro te s ta n ­
tes. P au lo n ã o teria n en h u m a q u ere la co m 
esta caracterização da vida cristã, v isto q ue, 
p ara e le , o c r is tia n ism o e ra in te n sa m e n ­
te p e s s o a l . O q u e m a is e s p e r a r ía m o s , 
considerando a natureza de sua “conversão”? 
E le n ã o fo i g a n h o e m m e io a d e b a te s ou 
p o r o u v ir te s te m u n h o s d e c re n te s . N em 
a o v e r E stê v ã o s e r a p e d re ja d o p o r su a fé 
a c o n v ic ç ã o d e P au lo s o b re o c r is tia n is­
m o fo i m u d a d a (A t 7 .5 4 — 8 .1 ) . E le fo i 
su rp re en d id o p e lo p ró p rio Je s u s , q u e o 
e n fre n to u n a e stra d a d e D a m a sc o , e o 
ch a m o u (A t 9 -1 -9 ). P o r c o n se g u in te , e le 
se ca ra cte riz a c o m o “ch a m a d o [.. J a p ó s ­
to lo ” e “serv o d e je s u s C risto ” (R m 1 .1 ).
O p a ssa d o ju d a ico d e P a u lo já o tin h a 
predisposto a v er a fé em term os relacionais. 
E m n e n h u m lu g ar isto é m ais ev id e n te d o 
q u e n a id éia d o c o n ce rto . D e u s en tro u em 
c o n c e r to c o m A b raão , o u se ja , E le e s ta ­
b e le c e u u m a re la ç ã o c o m A b ra ã o a fim 
d e criar p a ra si m e sm o u m p o v o . O c o n ­
ceito do A ntigo Testam ento acerca da justiça 
d e D eu s, q u e é o te m a m ais im p o rta n te 
d e R o m a n o s, d iz re s p e ito à m a n e ira p e la 
qual D eus age para cum prir os term os desta 
r e la ç ã o e s ta b e le c id a p e lo c o n ce rto . Isra ­
e l tin h a d e re s p o n d e r e m a m o r e o b e d i­
ê n c ia à q u E le q u e n ã o só d eu in íc io à re ­
la çã o , m as ta m b é m a m a n te v e m ed ia n te 
su a ju stiça .
E ste e n te n d im e n to re la c io n a i da fé fo i 
in te n s ifica d o p o r P a u lo q u a n d o e le e n ­
c o n tro u o C risto v iv o . O fa to d e e ssa v e r­
dade d o evangelho ter v indo a Paulo através
d e u m e n c o n tro p e sso a l, a fe to u a m a n e i­
ra p e la q u a l e le m ais tard e a d e sc re v e . 
C item o s e x e m p lo s d e c a d a s e ç ã o d e R o ­
m a n o s:
• O tema supram encionado da justiça de 
D eus (e .g ., Rm 1.17) enfatiza os atos 
salvadores de Deus para trazer as pessoas 
em relação com Ele (e .g ., Rm 3.21-31).
• A ira de D eus cai sobre os que re je i­
tam a relação que Ele o ferece (Rm 1.18- 
23; 2 .4 ,5 ).
• A paz com Deus (Rm 5.1), que é resul­
tado da justificação pela fé, refere-se à 
restauração da relação entre a huma­
nidade e Deus.
• Paulo d escreve que a vida está relaci­
onada com Adão ou com Cristo (Rm
5.12-21).
• Nossa relação com Cristo é tamanha que 
-nós, na verdade, tomamos parte em sua 
vida de certo m odo que vai além da 
natureza das relações humanas — nós 
m onem os com Cristo e ressuscitaremos 
com Ele (Rm 6.2-10).
• O Espírito que habita em nós faz com que 
a presença de Jesus se torne real para 
nós(Rm8.9,10). Fomos adotados no povo 
de Deus, e essa adoção nos é confirma­
da pelo testemunho do Espírito (Rm 8.14- 
17) e garantida pela obra salvadora de 
Deus e de Cristo (Rm 8.31-39).
• A seção parentética da carta com eça com 
a premissa de que vivemos nossa vida 
' em resposta à misericórdia de Deus (Rm
12.1,2).
• A seção parenética também descreve como 
nossa relação com Deus e Cristo será 
vivenciada em nossas relações com as 
pessoas (Rm 12.3— 15.13). Em outras 
palavras, vivemos em resposta à rela­
ção que Ele graciosam ente iniciou.
A c h a m a d a d e P a u lo n ã o fo i s ó p e s ­
so a l, m a s ta m b é m e s p e c íf ic a : E le t in h a 
d e s e r a p ó s to lo p a ra o s g e n tio s (R m 1 .5 ; 
cf. G l 1 .1 5 ,1 6 ). E m bora P e d ro ,Jo ã o e T iago 
t iv e s s e m r e c o n h e c id o q u e P a u lo fo ra 
ch a m a d o p a ra e s te t ip o d e m in is tér io (G l
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ROMANOS
■
C R O N O L O G IA D A V ID A D E P A U L O
5 d.C. N a sc im e n to d e S a u lo e n tre 6 a.C . e 10 d .C .. m as p ro v a v e lm e n te 
e m c e rca d e 5 d .C . (b a s e a d o n o s te rm o s " jo v e m ” [At 7.581 e “v e ­
lh o ” [Fm 91)
35 M artírio d e E stê v ã o (At 7 .5 7 -6 0 ) 
C o n v e rsã o d e S au lo (At 9 .1 -1 9 )
3 5 -3 8 A v iag em p e la re g iã o á ra b e (G l 1 .1 7 ) e n c a ix a -s e c o m At 9 -23 , d u ­
ra n te o s “m u ito s d ia s”
38 V isita d e d u as s e m a n a s a Je ru sa lé m (At 9 .2 6 -2 9 ; G l 1 .1 8 ,1 9 )
3 8 -4 3 M in istério na S íria e C ilícia (A t 9 .3 0 ; G l 1 .2 1 )
4 3 C h e g a d a a A n tio q u ia da Síria (At 1 1 ,2 5 ,2 6 )
43/ 44 V isita cia fo m e (A t 1 1 .2 7 -3 0 ; 12 .25 ; G 12 ,l-10 [?]); a m o rte d e H ero d es, 
q u e o c o rre u e m 4 4 d .C ., está in te rca la d a e n tre as v ia g e n s para e 
d e je r u s a lé m (A t 1 2 .1 9 -2 3 )
4 6 -4 8 P rim eira V ia g e m M issio n ária (A t 13-2— 1 4 .2 8 )
48/ 49 E scrita d e G ála tasO ) e m A n tio q u ia da Síria
49/ 50 C o n fe rê n c ia d e je r u s a lé m (At 1 5 .1 -2 9 ; G l 2 .1-10[?])
5 0 -5 2 S e g u n d a V ia g e m M issio n ária (A t 1 5 .4 0 — 1 8 .2 3 )
51 E scrita d e 1 T e ss a lo n ic e n s e s e m C o rin to
51/52 E scrita d e 2 T e ss a lo n ic e n s e s e m C o rin to
51/ 52 C o m p a re çM lé n to p e ra n te G á lio (A t 1 8 .1 2 -1 7 )
51/52 E scrita d e G á la ta s(?) e m C o rin to
52 R e to rn o a Je ru sa lé m e A n tio q u ia d a Síria (A t 1 8 .2 2 )
53 E scrita d e G á la ta s(?) e m A n tio q u ia d a Síria
5 3 -5 7 T e rce ira V ia g em M issio n ária (At 1 8 .2 3 — 2 1 .1 7 )
5 3 -5 5 E m É fe so (A t 1 9 .1 — 2 0 .1 )
55 E scrita d e 1 C o rín tio s em É feso
55 E scrita d e 2 C o rín tio s na M a ce d ô n ia
57 E scrita d e R o m a n o s e m C e n cré ia o u C o rin to
57 P risão em Je ru s a lé m (.At 2 1 .2 7 — 2 2 .3 0 )
5 7 -5 9 E n c a rce ra m e n to c e s a re n o (At 2 3 .2 3 — 2 6 .3 2 )
59 V iagem n áu fraga p ara R om a (A l 2 7 .1 — 2 8 .1 6 )
59-61/ 62 P rim eiro e n c a rc e ra m e n to ro m a n o (A t 2 8 .1 6 -3 1 )
6 0 Escrita d e É fe s o em R om a
60 E scrita d e C o lo ss e n s e s e m R om a
6 0 E scrita d e F ilem o m em R om a
61 E scrita d e F ilip en se s em R om a
6 2 So ltu ra d o e n c a rc e ra m e n to ro m a n o
6 2 -6 7 Q u arta V ia g em M issio n ária in c lu in d o o m in istério em Creta 
(T t 1 .5)
6 3 -6 6 Escrita d e 1 T im ó te o e T ito e m F ilip os
67/ 68 S e g u n d o e n c a rc e ra m e n to ro m a n o (2 T m 4 .6 -8 )
67/ 68 E scrita d e 2 T im ó te o n o c a la b o u ç o d e M am ertim e (2 T m 1 .6 -8 )
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ROMANOS
2 .9 ) , su a m e n s a g e m a o s g e n tio s a c e r c a 
d a l ib e rd a d e e m C risto , se m c o n s id e r a ­
ç ã o d a s o b s e r v â n c ia s ju d a ic a s , su sc ito u 
a c r ít ic a d e ju d e u s d e d e n tro e d e fo ra 
d a Ig re ja . E m c o n s e q ü ê n c ia , n o tra n s ­
c u rs o d a re d a ç ã o d e d e R o m a n o s , P a u ­
lo e s m e ra -s e e m d e fe n d e r a n a tu re z a d o 
s e u a p o s to la d o ( e .g . , v e ja Rm 1 .1 -6 ) . O 
a p ó s to lo a firm a s e u a m o r p o r s e u p o v o 
(R m 9 .1 -3 ; 1 0 .1 ), e ta m b é m d e s c o b r e q u e 
e le v ê su a m is sã o g e n t ia c o m o m e io d e 
in stig ar o c iú m e d o s ju d e u sp ara q u e e le s 
se c h e g u e m a C ris to (R m 1 1 .1 3 -1 5 ) .
b) A Escatologia A pocalíptica 
de Paulo.
O p o n to d e v ista e s c a to ló g ic o (o te rm o 
escatológico te m a v e r c o m o s fin s d o s 
te m p o s ) d e P a u lo fo i fa to r d e c is iv o na 
fo rm a ç ã o d e su a te o lo g ia . H á p o n to s d e 
s e m e lh a n ç a e n tr e su a e s c a to lo g ia e a 
e sc a to lo g ia a p o c a líp tic a , a q u a l g a n h o u 
m e rec id a fam a n o s c írcu lo s ju d a ico s d o 
s é c u lo II a .C . e p e rm a n e c e u in flu e n te a té 
o c o m e ç o d o s é c u lo II d.C . N ão há e sp a ­
ç o p ara d ar um tra ta m en to p le n o a o tó ­
p ic o d a e sc a to lo g ia a p o c a líp tic a , m as a l­
g u n s d e seu s a s p e c to s e su a re la ç ã o c o m 
as id é ia s p au lin a s se rã o b re v e m e n te d e ­
lin e a d o s aq u i.
A escatologia apocalíptica acentuava que 
o fim d o s tem p o s traria a so lu çã o p ara os 
in fo rtú n io s d e Israel. A o con trário d e u m a 
v isã o te o ló g ic a p ro e m in e n te n o A n tigo 
T esta m en to , a q u al ten d ia a v er a e la b o ra ­
ç ã o d as re co m p e n sa s e p u n içõ e s d e D eu s 
d en tro d o cu rso da h istória , a e sca to lo g ia 
a p o c a líp tic a e ra m a is in c lin a d a a v e r a 
con cessão da justiça divina n o m undo porvir. 
C ertam ente esta v isão da vida ap ó s a m orte 
tinha suas raízes n o A ntigo Testam ento (e .g ., 
Is 2 6 .1 9 ; D n 1 2 .1 ,2 ), m a sm u ita sd a s id éias 
q u e cerca v a m a n atu reza da v id a ap ó s a 
m orte foram debatidas e d esenvolvidas por 
escrito res a p o ca líp tico s. E les escrev era m 
so b re a e sp era n ça futura para co n fo rtar os 
o p rim id o s e ex o rtá -lo s a p e rm a n e ce r fiéis 
(c f. Rm 5 .3 -5 ; 8 .1 8 -2 5 ; 1 3 .1 1 -1 4 ). E m p ar­
ticular, era sua ênfase n o im inente fim deste 
m u n d o q u e d eu a o s seu s escrito s tal p o ­
d er de co n so la r e en co ra jar.
E m q u a s e to d o s o s e sc r ito s a p o c a líp ­
tico s ju d a ic o s o ju lg a m e n to fin a l figu ra 
p r o e m in e n te m e n te c o m o o m o m e n to 
q u an d o a ju stiça d e D eu s é im posta. N essa 
é p o c a , o s ju s to s ser ia m re c o m p e n s a d o s 
e o s p e c a d o re s , p u n id o s . O ju lg a m e n to 
seria o m om ento d e vindicação para aqueles 
q u e fo ra m fié is a D e u s , q u a n d o o m u n ­
d o in te iro v e ria q u e m era m e q u e m n ã o 
era m o s v e rd a d e iro s ju sto s (c f. R m 8 .1 9 ) . 
A ênfase d e Paulo na justificação q u e ocorce 
n o ju lg a m e n to c o r re s p o n d e a e s ta v isã o 
(R m 3 .2 0 ; 5 .9 ,1 0 ,1 9 ; c f. ta m b é m Is 4 5 .2 5 ;
5 0 .8 ,9 ) . N e sse te m p o , o ju iz d iv in o dará 
su a d e c is ã o s o b r e q u e m é a b s o lv id o e 
q u em é con d en ad o. Isto significa q u e ainda 
q u e s e p o s sa d iz e r q u e a ju s t if ic a ç ã o se ja 
a lg o q u e já o c o r re u p a ra o c re n te (R m
5 .1 ) , é a p e n a s u m b e n e f íc io p re s e n te , 
p o rq u e te m -s e a g a ra n tia d e q u e é u m a 
re a lid a d e fu tu ra .
O d u a lism o é o u tra c a ra c te r ís tica da 
c o sm o v isã o a p o c a líp tic a . A re a lid a d e é 
d escrita e m u m a d e d u as fo rm a s: H á um 
m u n d o p re s e n te e u m m u n d o porvir, e 
h á s o m e n te d o is tip o s d e p e sso a s — os 
p e c a d o re s e o s ju sto s. S e m e lh a n te a isto , 
P au lo a rg u m en tará q u e o in d iv íd u o está 
e m A d ão o u e m C risto (R m 5 .1 2 -2 1 ) , está 
so b o p o d e r d o p e c a d o o u v iv o e m Cris­
to (R m 6 .1 -2 3 ) e e stá n a c a rn e o u n o E s­
p írito (R m 8 .1 -3 9 ) .
M as é em te rm o s d e d u a lism o te m p o ­
ral, a d iv isã o e n tre esta era e a p ró x im a , 
q u e a e sc a to lo g ia d e P a u lo d ifere d a c o n ­
c e p ç ã o a p o c a líp tic a p op u lar. P ara P au lo , 
a era fu tu ra já irro m p eu n a era p re se n te . 
A té à V ind a d o Senhor, v iv em o s n a s o b r e ­
p o s içã o de eras. Sua c o m p re e n sã o da obra 
d e C risto o lev a a m o v e r o c o m e ç o da era 
fu tu ra p a ra o presen te . E m b o ra a c o n c lu ­
s ã o da o b ra sa lv a d o ra d e D e u s v e n h a a 
se d ar n o final d esta era , a m o rte e re s ­
s u rre içã o d e C risto fo rn e c e m b e n e f íc io s 
im ediatos. P or cau sa da sua m orte, aq u eles 
q u e e s tã o e m C risto já sã o sa lv o s: E les 
m o rrera m p ara o p e c a d o e e s tã o n u m a 
n o v a re la ç ã o c o m D e u s . P o r c a u s a da 
ressu rre içã o , a q u e le s q u e e s tã o e m C ris­
to já e x p e r im e n ta m a lg o d o p o d e r da 
re ssu rre içã o n o m e io d e u m m u n d o q u e 
agon iza (Rm 5— 6). Esta v isão d e duas eras
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ROMANOS
é co m u m e n te ch a m a d a estru tu ra e sc a to - 
ló g ic a “já , m a s a in d a n ã o ”. E m o u tra s 
p a lav ras, a o b ra d e D e u s d o fim d o s te m ­
p o s já c o m e ç o u , m as n ã o estará c o m p le ­
ta a té q u e a e ra n o v a c h e g u e , q u a n d o a 
atu al term inar.
c) A Visão que Paulo Tinha da 
Lei.
U m a d as re v o lu çõ e s p rim árias n o s estu ­
d o s d o N ovo T e sta m e n to d u ran te as ú lti­
m as d é ca d a s é u m a n o v a v isã o d o Ju d a ­
ísm o d o S e g u n d o T e m p lo e o p a p e l q u e 
a le i d e se m p e n h a v a n e le . A c o m p re e n ­
s ã o a n te rio r d o ju d a ísm o c o m o re lig iã o 
d e o b ras-ju stiça fo i g ran d em en te a b a n d o ­
n ad a . E m b o ra e s ta re a v a lia ç ã o d o ju d a­
ísm o ten h a c o m e ça d o m ais n o in íc io d este 
s é c u lo , fo i o livro P a u l a n d P alestinian 
Ju d a ism (P a u lo e o Ju d a ís m o P a le s tin o ), 
d e E. P. S a n d ers (1 9 7 7 ) , q u e c o lo c o u a 
eru d içã o cio N o v o T e sta m e n to n u m n o v o 
cu rso . Sand ers a rg u m en to u q u e p o d e m o s 
analisar um a religião o lhando co m o a pessoa 
en tra e fica n e ssa re lig iã o . E x a m in a n d o 
o s p rim eiro s e scrito s p a le stin o s , e le c o n ­
clu iu q u e a le i fu n c io n a v a n o ju d a ísm o 
n ã o c o m o m e io d e o b te r e n tra d a n o c o n ­
certo (salvação), m as co m o m eio d e m anter 
u m lu g ar d en tro d o p o v o d o c o n ce rto . O s 
judeus entend eram q u e eles estavam num a 
re la ç ã o d e c o n c e r to c o m D eu s, p o rq u e 
D eu s os tinha eleg id o. C on cord antem en te , 
a o b se rv â n c ia da le i era v ista c o m o re s ­
posta à iniciativa graciosa d e D eus. Sanders 
tip ificav a e s te p a d rã o d e re lig iã o c o m o 
“n o m ism o d e c o n c e r to ”. Esta n ã o era um a 
re lig iã o le g a lis ta , s e e n te n d e rm o s q u e 
le g a lism o é u m sis tem a n o q u al o fav o r 
d e D e u s é o b tid o p e la s o b ras .
O p ro b le m a p ara o in térp rete d e P au lo
— e p articu larm en te para o le ito r d e R o ­
m a n o s, o n d e a d iscu ssã o d o ju d aísm o e 
da lei é essen cia l para o argum ento da carta 
— é avaliar o q u e e le escrev eu levan d o em 
co n ta esta n o v a p ersp ectiv a so b re o ju d a­
ísm o. O p o n to d e vista q u e tem d o m in a­
d o a e x e g e s e p ro testan te na era da p ó s- 
R efo rm a é q u e P au lo criticava a c re n ça d e 
q u e se p o d eria o b te r ju stiça o b se rv a n d o a 
lei. E m outras palavras, P au lo estava a ta­
cando o m esm o tipo d e judaísmo que Sanders 
d em o n stro u q u e n u n ca existiu .V árias s o lu ç õ e s fo ra m p ro p o sta s p ara 
o d e b a te s o b re P a u lo e a lei:
1) Uma sugestão é que Paulo não entendeu 
o judaísmo. A dificuldade óbvia com esta 
idéia é que propõe que nós, no século XX, 
podem os com preender o que Paulo, um 
participante, não entendia.
2) Paulo torceu o judaísmo intencionalm en­
te para diferençar o cristianismo de suas 
raízes judaicas. Ao representar o judaísmo 
com o religião de obras-justiça, ele pôde 
mostrar que a m ensagem de salvação do 
cristianismo através da graça pela fé é única
— e superior. Mas é difícil explicar com o 
Paulo pensava que esta tática de descri­
ção enganosa poderia ser bem-sucedida, 
quando ele escrevia à congregações onde 
havia judeus.
3) A abordagem mais popular nas últimas 
décadas é ver o problem a que se acha não 
em com o Paulo via o judaísmo, mas em 
com o nós vemos Paulo. De acordo com 
esta linha de pensamento, a sombra do ensino 
da Reforma que se avulta em nosso pas­
sado teo lóg ico fez-nos levar avante um 
engano do argumento de Paulo contra a 
lei. Os reform adores interpretavam a crí­
tica de Paulo ao judaísmo levando em conta 
a batalha que em preendiam com a Igreja 
Católica Romana. Assim, eles interpreta­
vam Paulo com o se ele estivesse discutin­
do contra o m esm o tipo de sistema religi­
oso que eles: um sistema no qual as obras 
estão conectadas com a salvação. Em suma, 
o judaísmo não ensinava como obter a justiça 
pelas obras; a Igreja Católica Romana sim. 
E m b o ra h a ja am p la v aried ad e d e in ter­
p re ta ç õ e s q u e a d v o g a m q u e a v isã o q u e 
P a u lo tin h a da le i e d o ju d a ísm o fo i m al- 
en te n d id a , m u ito s co m p a rtilh a m a id éia 
d e q u e P a u lo a ta ca v a o ju d a ísm o c a ra c ­
te r iz a d o p e lo “n o m is m o d o c o n c e r to ”. 
D e s cre v e re i c o m b re v id a d e o a rg u m en ­
to d e u m p ro e m in en te estu d io so d o N ovo 
T e sta m e n to q u e d e fe n d e essa n o ç ã o . J . 
D u n n a p re se n ta a rg u m en to s e m seu c o ­
m en tá rio d e R o m a n o s (v e ja esp . p p . lxiii- 
lx x ii) , m o stra n d o q u e o a ssu n to e m R o ­
m a n o s n ã o é so b re c o m o a p e s so a en tra 
n o p o v o d o c o n c e r to d e D e u s m ed ia n te
ROMANOS
a o b s e r v â n c ia d a le i ( o q u e é u m a m á 
in te rp re ta ç ã o d o ju d a ísm o e d a a b o rd a ­
g e m d e P a u lo a isso ). A n tes, o s ju d e u s 
advogavam q u e certas obras, ou m arcadores 
d e c o n c e r to , e ra m crítica s p ara e le s m a n ­
te re m seu lu g ar n o c o n c e r to . E stes m ar­
c a d o re s d e id en tid a d e serv iam p ara s e ­
p a ra r o s ju d e u s d o re s to d o m u n d o c o m o 
p o v o esco lh id o d e D eus. Era a o bservân cia 
destas obras— a circuncisão, as leis dietéticas 
e a o b se rv â n c ia d o sá b a d o e o u tro s d ias 
sa n to s ju d a ico s — q u e P a u lo esta v a a ta ­
cand o. O argum ento d e Paulo é este: A gora 
q u e C risto v e io , o s ju d e u s já n ã o p o d e m 
p resu m ir q u e a q u e le s q u e o b se rv a m e s ­
sas obras serão d eclarados justos. E m outras 
p a lav ras, e le s n ã o p o d e m p resu m ir q u e 
a m e m b re sia n o p o v o d e D e u s lh e s c o n ­
c e d a v a n ta g e m n o ju lg a m e n to s o b re to ­
d as as o u tras n a ç õ e s .
4) Mas há outra abordagem no debate sobre 
Paulo e a lei, a qual parece preferível: O 
judaísmo era mais pluralista em seu enten­
dimento e prática da lei do que o que o 
conceito de “nomismo de concerto” transmite. 
Isto não é para disputar a existência de 
nomistas de concerto do século I , que viam 
a observância da lei como meio de expressar 
o amor a Deus, que, por sua graça, os fez 
seu povo. Mas há razão para questionar 
se esta visão da lei era universalm ente 
defendida e praticada, afinal, hoje quase 
todos os estudiosos concordam que não 
havia um único tipo de judaísmo no sécu­
lo I. Ademais, o argumento de Paulo em 
Rom anos não se em presta facilm ente à 
interpretação de Dunn, que arrazoava que 
Paulo estava atacando um sistema no qual 
fazer as obras da lei estava ficando cada 
vez mais associado com obseivar certas prá­
ticas. Das práticas que Dunn identifica como 
as três principais — a circuncisão, as leis 
dietéticas e o sábado — só a primeira vem 
à baila para discussão quando ele argumenta 
a não observar a lei (cap. 2).
A ntes da p u b lic a ç ã o da o b ra re fe re n ­
c ia l d e S a n d e rs e m 1 9 7 7 , a o b ra d e R. 
L o n g en eck er identificou duas ab o rd agen s 
à le i n o Ju d a ís m o d o S e g u n d o T em p lo , 
u m a d as q u a is era o “n o m ista re a g e n te ”. 
S e m e lh a n te à id é ia d e “n o m ista d e c o n ­
c e r to ” q u e S an d ers a p re se n ta ria e to rn a ­
ria fa m o sa , L o n g e n e c k e r e sc re v e u q u e a 
re a ç ã o n o m ista era o ju d eu q u e g u ard a­
va a lei em resposta à m isericórdia d e D eus. 
M uitas e x p re ss õ e s d o sé c u lo I d o s ju d eu s 
d evotos m ostram u m entend im ento d e que 
a graça p reced e as obras, isto é, q u e guardar 
o c o n c e r to é u m a re s p o s ta a m o ro s a à 
m iser icó rd ia d e D eu s. H á o u tro s escrito s 
q u e m o stram o u tra m o tiv a çã o p ara fa z er 
as o b ra s da le i — p ara obter a ju stiça ou 
o fav o r d e D eu s (p p . 6 6 -7 0 ) . E sta é a a b o r­
d a g e m d o “leg a lis ta a g e n te ”.
U m a re lig iã o b a s e a d a n a le i c o m o o 
ju d a ísm o estaria p ro p e n sa a ta is re s p o s ­
tas d iv ersas, m e sm o c o m u m c o rp o im ­
p ressio n an te d e literatura q u e p roclam av a 
a le i c o m o re sp o sta à g raça . O s p ro te s ­
ta n tes d ev e ria m e n te n d e r isso . A d e s p e i­
to d o fa to d e q u e a sa lv a ç ã o p e la g ra ça é 
p ro c la m a d a e m se u s p ú lp ito s , h á u m a 
te n d ê n cia n a q u e le s q u e o u v e m e a ce ita m 
a m e n sa g e m a ca ir n o leg a lism o , c o m o 
se o q u e e le s fa z e m o b tiv e sse o u p re se r­
v a sse o lu g ar d e le s n o R e in o . Q u a lq u e r 
fé p o d e d eg e n e ra r e m leg a lism o , p a rticu ­
la rm e n te a q u e la s n a q u a l a le i e c ó d ig o s 
d e sa n tid a d e sã o cen tra is às e x p r e ss õ e s 
d e d e v o ç ã o .
O e le m e n to c o m u m p a ra o “n o m is ta 
r e g e n t e ” e o “le g a lis ta a g e n te ” é a g u a r­
da d a le i, p o r q u a lq u e r m o tiv a ç ã o . P a ra 
a m b o s , a ju s t iç a e s tá a s s o c ia d a à le i. O 
a rg u m e n to d e P a u lo e m R o m a n o s tra ta 
d e a m b o s o s g ru p o s em q u e sep a ra c o m ­
p le ta m e n te a ju stiça das o b ra s da le i, q u e r 
esta s se ja m e n te n d id a s c o m o o b te n to ra s 
d e ju s t iç a o u c o m o a re s p o s ta a d e q u a ­
d a à g ra ça d e D e u s . Q u e r d izer, s e u a r­
g u m e n to é q u e c o m a v in d a d e C risto , 
o p ap el da le i e m term o s d e ju stiça c h e g o u 
a o fim (R m 1 0 .4 ) .
2. Destinatários
Paulo era som ente u m viajante entre m uitos 
q u e to m a ra m a re s o lu çã o : “Im p o rta -m e 
v e r ta m b é m R o m a ” (At 1 9 .2 1 ). R o m a, o 
cen tro do Im p ério R om ano, atraia visitantes 
e c o lo n o s d e to d o o im p é rio e a lé m fro n ­
te iras. A c o m p o s iç ã o d o g ru p o d e c re n ­
tes q u e se e n co n tra v a m n a g ra n d e c id a ­
d e re fle tia seu status c o m o c id a d e im p e ­
rial e c o sm o p o lita . D e fa to , as v árias d is­
809
ROMANOS
t in çõ e s h u m a n a s q u e P a u lo d ec la ra v a in ­
v á lid as e m C risto — “n ã o há ju d eu n e mg re g o ; n ã o há serv o [escravo] n e m livre; 
n ã o há m a c h o n e m fê m e a ” (G l 3 .2 8 ) — 
descrevem habilm ente a audiência d e Paulo. 
P o r e x e m p lo , ju lg a n d o p e la alta p o rc e n ­
ta g e m d o s q u e e m R o m a tin h a m s id o 
e sc ra v o s , o u a in d a o eram , e p e la q u a n ­
tid a d e d e n o m e s d e e sc ra v o s q u e a p a re ­
c e n a lista d e c re n te s ro m a n o s n o ca p ítu ­
lo 16 , o con tin g en te cristão d os q u e tinham 
fo rm ação escrava era bastan te grande (veja 
o s c o m e n tá r io s s o b re Rm 6 .1 5 -2 3 ) .
O p r im e iro c o n t in g e n te d e c r e n te s 
ro m an o s era p red o m in an tem en te judaico . 
C o m o e ra o p a d rã o e m o u tro s lu g a re s, 
o e s ta b e le c im e n to d e u m a ig re ja cris tã 
a c o n te ce u d en tro da com u n id ad e judaica. 
S a b e m o s p o r A tos q u e a m issã o cristã fo i 
c e n tra d a in ic ia lm e n te n a s in a g o g a s e m ­
p re e o n d e q u e r q u e fo ss e p o s s ív e l (e .g ., 
A t 1 1 .1 9 -2 1 ; 1 3 -5 ,1 4 ) . D o e s tim a d o u m 
m ilh ã o d e p e s so a s q u e m o rav a e m R om a 
n o s é c u lo I d .C ., a lg o e n tre q u a re n ta e 
c in q ü e n ta m il e ra m ju d e u s . D a s e v id ê n ­
c ia s d a s c a ta c u m b a s ju d a ica s e m R o m a, 
a p op u lação judaica foi segregada em várias 
c o m u n id a d e s , c a d a q u a l se cen tra liz a v a 
n u m a s in a g o g a lo c a l e tin h a se u p ró p r io 
c o rp o a d m in istra tiv o (S ch ü rer, v o l. 3, PP- 
9 5 -9 6 ) .
E ste e ra o a m b ie n te n o q u a l o c r is tia ­
n ism o flo r e s c e u e m R o m a. O s c r is tã o s- 
ju d eu s prim itivos teriam p e rm a n e cid o as­
s o c ia d o s às suas s in a g o g a s lo ca is , e m d e ­
c o rrê n c ia d as v árias ig re ja s fo rm a d a s nas 
c a sa s d o s c re n te s , q u e te r ia m c re s c id o 
e m v o lta d o b a irro ju d a ic o . E ste le g a d o 
a in d a é e v id e n te q u a n d o P a u lo e sc re v e 
a o s R o m a n o s . Na sa u d a ç ã o a o s c re n te s 
em Rom a ele identifica vários agrupam entos 
d e p e s s o a s q u e p re su m iv e lm e n te re p re ­
se n ta m ig re ja s q u e se re u n ia m em c a sa 
(R m 1 6 .5 ,1 0 ,1 1 ,1 4 ,1 5 ) . O fa to d e q u e n ã o 
havia um co rp o d e cren tes em R om a p o d e 
e x p lic a r a ra z ã o d e P a u lo n u n c a se re fe ­
rir a o s c re n te s ro m a n o s c o m o ig re ja .
A d e sp e ito da tra d içã o da ig re ja p rim i­
tiva. P e d ro n ã o e s ta b e le c e u a igre ja ro ­
m an a. N ão h á e v id ên cia b íb lica q u e a p ó ie 
es ta te o r ia . A to s n o s le v a a c re r q u e o 
m in istério d e P ed ro p e rm a n e ce u cen trad o
e m Je ru s a lé m d u ran te o te m p o e m q u e o 
c r is tia n ism o c o m e ç o u a p e n e tra r a c id a ­
d e im p eria l n o p e r ío d o d e p o is d o P e n te - 
co s te s . A lém d isso , se P e d ro tiv esse fu n ­
d a d o a ig re ja , e n tã o se e sp era ria a lgu m a 
re fe rê n c ia d e P a u lo a e le .
O a p a re c im e n to d o c r is tia n ism o e m 
Rom a foi p recedid o p or relatórios de judeus 
q u e v ia ja v a m d a Ju d é ia a R o m a s o b r e o 
q u e fo i d ito e fe ito p o r Je s u s d e N azaré . 
O u tro ss im , h av ia o s ju d e u s ro m a n o s e m 
Je ru s a lé m , q u e c e le b ra ra m o P e n te c o s - 
tes logo ap ós a crucificação d e je su s . Alguns 
d e le s te s te m u n h a ra m o re su lta d o d e o 
E sp ír ito S a n to te r v in d o s o b r e o s c e n to 
e v in te c re n te s (A t 1 .1 5 ; 2 .1 -4 ,1 0 ,1 1 ) , e 
e le s c o m c ertez a teriam in fo rm a d o o q u e 
v iram e o u v ira m q u a n d o v o lta ra m p a ra 
c a sa . R e a lm e n te , p o d e te r h a v id o a lg u n s 
judeus ro m an o s en tre os três m il q u e foram 
batizados em resp osta a o serm ão d e P ed ro 
n a q u e le d ia (A t 2 .4 1 ) . E m to d o c a s o , n ã o 
d e m o ra r ia a q u e o u tro s ju d e u s q u e c re - 
ram e m C risto v ia ja sse m a R o m a. É q u a ­
se c e r to q u e fo i a ss im q u e a c o m u n id a ­
d e cris tã fo i e s ta b e le c id a n a ca p ita l.
Isto n ã o q u e r d izer q u e a p rim eira fa se 
d o cristianism o foi co m p le tam en te judaica 
ou q u e p e rm a n e ce u p rin c ip a lm e n te ju ­
d a ica p o r m u ito te m p o . L igados às s in a ­
g o g a s esta v a m o s g e n tio s a tra íd o s a o ju ­
d a ísm o . E stes “te m e n te s a D e u s ” estari- 
am ab erto s a o e v a n g e lh o p o rq u e estav am 
lig ad o s c o m a fé ju d a ica e p ro c la m a v a m 
a a c e ita ç ã o p o r D e u s sem to d a s as e x i­
g ê n c ia s da lei.
N os d ias e m q u e P a u lo e sc re v e u R o ­
m a n o s, as igre jas q u e se reu n iam em ca sa 
esta v a m a ssu m in d o u m c a rá te r ca d a v ez 
m ais g e n tio . S e e stiv e rm o s c o rre to s em 
co lo car a data da escrita da carta em m ead os 
d o s a n o s c in q ü e n ta , e n tã o e ste é o p e r í­
od o n o qual m uitos judeus, inclusive cristãos, 
e sta v a m v o lta n d o a R o m a e te n ta n d o re ­
in te g ra r-se n a s o c ie d a d e ro m a n a . E m 49
d .C ., o im p e ra d o r C láu d io tin h a d e c re ta ­
d o q u e o s judeus fo ssem exp u lso s d e Rom a 
p o r c a u sa d e d is tú rb io s n o b a irro ju d a i­
co . C o m o o h is to r ia d o r ro m a n o S u e tô n io 
e sc re v e u se te n ta a n o s d e p o is d o e v e n ­
to , “p o rq u e o s ju d e u s d e R o m a esta v a m 
se e n tre g a n d o a c o n sta n te s re v o lta s so b
810
ROMANOS
a in s tig a çã o d e C resto , e le o s e x p u lso u 
da c id a d e ” (.Cláudio). V isto q u e é a m p la ­
m e n te c rid o q u e “C re s to ” s e ja a lu sã o a 
“Cristo”, a perturbação provavelm ente tinha 
a lg o a v e r c o m a o p o s iç ã o e n tre c e r to s 
ju d eu s à m e n sa g e m d o e v a n g e lh o . A tos 
1 8 .2 reg istra q u e d o is d o s ju d e u s e x p u l­
so s fo ram Á qüila e Priscila. O d ecre to teria 
c a d u ca d o c o m a m o rte d e C láu d io e m 54
d .C ., se n ã o a n tes , e assim o s ju d e u s p re ­
d isp o sto s a voltar teriam co m e ça d o a fazê- 
lo . U m d o s d esa fio s q u e P a u lo e n fre n to u 
nesta carta era tratar d o p ro b lem a q u e estes 
judeus cristãos teriam tido ao voltar a igrejas 
q u e tinham se tornad o m en o s judaicas co m 
a a u s ê n c ia d ele s .
3. Data e Lugar
É m u ito m ais s im p les e s ta b e le c e r o lugar 
da carta d e R o m an o s d en tro da vida e obra 
d e Paulo d o q u e ser e sp ec ífico so b re a data 
e m q u e a carta fo i e scrita . H á um c o n s e n ­
so geral d e que a escrita d e R om anos ocorreu 
e m a lgu m te m p o e m m e a d o s a fins d o s 
a n o s c in q ü e n ta .
H á u m a c o rd o m u ito d ifu n d id o d e q u e 
P a u lo esta v a e m C o rin to q u a n d o e le d i­
to u R o m a n o s a T é rc io (R m 1 6 .2 2 ). P au lo 
estav a n a re g iã o da M a ced ô n ia e A caia n a 
é p o c a d a e scrita , v isto q u e e le tin h a a c a ­
b a d o d e fa z e r a c o le ta p ara o s sa n to s d e 
Je a is a lé m d as igrejas d aq u ela reg ião , m as 
a in d a n ã o tin h a c o m e ç a d o a v ia g e m a 
Je ru sa lé m (R m 1 5 .2 5 -2 8 ) . A lém d isso , a l­
g u m as d as p e s so a s q u e e le m e n c io n a n a 
lista d e sa u d a çõ e s su g e re m q u e e le e s ta ­
va e m C o rin to q u a n d o escre v e u.
1) Febe, a m ensageira que levou a carta de 
Paulo para Roma, era diaconisa em Cencréia
— o porto oriental de Corinto, a uns onze 
quilômetros de distância (Rm 16.1,2).
2) Gaio, o anfitrião de Paulo na época da escrita 
(Rm 16.23), pode ser o mesmo Gaio a quem 
Paulo batizou em Corinto (1 Co 1.14).
3) Erasto, que enviou saudações junto com 
Gaio para a igreja romana (Rm 16.23), pode 
ser o indivíduo associado com Corinto em 
Atos 19.22 e 2 Tim óteo 4.20.
Para o intérprete d e R om anos, u m en ten ­
d im e n to d e o n d e e sta carta se e n c a ix a n o 
c o n te x to d a vida e m in istério d e P a u lo é 
d e muito m aior importância que um a solução
p ara o p ro b le m a d e o n d e e q u a n d o R o ­
m a n o s fo i escrito . A ntes d e e le e sc re v e r 
esta carta , o a p ó s to lo já e x p re ssa ra ao s 
co r ín tio s seu d e s e jo d e p re g a r o E v a n g e ­
lh o n as terras a lé m d e le s (2 C o 1 0 .1 6 ) — 
p resu m iv e lm en te , P au lo q u is d iz er so b re 
as re g iõ e s m ais a o e s te da A caia . U m a d as 
ra z õ e s d e P a u lo e sc re v e r à ig re ja ro m a n a 
é p ara in fo rm á -la d e q u e seu a n tig o d e ­
s e jo está a p o n to d e se co n cretiz a r. Em 
R o m a n o s 1 5 .1 7 -2 4 , P au lo e x p lica q u e e le 
já teria id o v ia jar a o e s te , p ara R o m a, m as 
fo i a tra sa d o p o r c a u sa d e su a m e ta em 
co m p le ta r sua p re g a çã o à le ste d ele s , isto 
é, a re g iã o d e Je ru sa lé m a o Ilír ico (p a rte 
da re g iã o d a e x -Iu g o s lá v ia ) . Q u a n to à 
p o ssib ilid a d e d e P a u lo ter m in istrad o n o 
Ilír ico (n ã o m e n c io n a d o e m A tos), o u até 
às su as fro n te iras , é p o n to d iscu tív el.
M as a n te s d e o a p ó s to lo ir a R o m a, e le 
d e v e te r e n tre g u e a o s sa n to s e m je r u s a ­
lé m a c o le ta q u e e le re u n iu d as ig re ja s 
p red om inantem ente gentias na M aced ônia 
e A ca ia (R m 1 5 .2 5 ,2 6 ) . S a b e m o s p e la 
corresp on d ên cia de Paulo co m os coríntios 
q u e e le d av a g ra n d e im p o rtâ n c ia a e sta 
c o le ta (1 C o 1 6 .1 -4 ; 2 C o 8 — 9 ). N ão é 
su rp re sa q u e e le e s te ja u m p o u c o a n s i­
o s o a c e r c a d a v ia g e m a Je ru s a lé m a g o ra 
q u e e s tá im e d ia ta m e n te d ia n te d e le . E le 
p e d e as o ra çõ e s d o s cren tes ro m an o s para 
a viagem , porqu e e le tem inim igos n a ju d é ia 
e p o rq u e e stá a p re e n s iv o d e q u e a c o le ­
ta n ã o s e ja c o n s id e ra d a a c e itá v e l p e lo s 
s a n to s d e lá.
P or trás d e sua p reocu p ação q u e a dádiva 
das igrejas gentias seja considerada aceitável 
p o r se u s d es tin a tá rio s e s tá a c o n s ta n te 
te n s ã o e n tre P a u lo , o a p ó s to lo p a ra o s 
g e n tio s , e o u tro s c re n te s ju d e u s q u e d is ­
c o rd a v a m d a s p rá tica s m iss io n á ria s d e 
P a u lo , e le já tin h a e n fre n ta d o o p o s iç ã o 
dos cristãos ju d eu s q u e estav am cen trad os 
e m je ru sa lé m (At 15; Gl 2). D e significância 
a q u i é o fa to d e q u e u m d o s re su lta d o s 
d o C o n cilio d e Je r u s a lé m :— u m a reu n iã o 
c o n v o c a d a para d e b a te r a q u e s tã o so b re 
o q u e o s g e n tio s sã o o b r ig a d o s a fa z e r 
d e p o is d a c o n v e r s ã o — fo i o re q u is ito 
d e q u e e le s se le m b ra s se m d o s p o b re s 
(G l 2 .1 0 ; i .e ., o s p o b re s d e Je ru s a lé m ). 
A n tes d e P a u lo e m p r e e n d e r n o v a fa se
811
ROMANOS
m in is ter ia l, e le e s tá a n s io s o e m cu m p rir 
essa e x ig ê n c ia e levar a u m en ce rra m en to 
a d e q u a d o d e se u m in is té r io n o le s te , 
o fe r e c e n d o u m a e x p r e s s ã o g e n e r o s a da 
p r e o c u p a ç ã o d as ig re ja s g e n tia s p e lo s 
irm ã o s ju d e u s . Is to , P a u lo e sp e ra , fixa rá 
as re la ç õ e s e n tre as ig re ja s d a D iá sp o ra 
e a Ig re ja e m je r u s a lé m , n u m só lid o fu n ­
d a m e n to a n te s q u e e le d e ix e a re g iã o .
Q u a n d o e le e scre v e a o s R o m an o s, n ã o 
p re sse n te q u e u m d ia e le c h e g a rá a R om a 
e m ca d e ia s . M as seu re c e io s o b r e a v ia ­
g e m a je r u s a lé m sã o b e m fu n d ad as. C er­
to s ju d eu s d a Á sia in c ita ra m ta n ta o p o s i­
ç ã o a P au lo e m je ru sa lé m q u e e le foi p reso 
e s u b s e q ü e n te m e n te e n v ia d o a C esaré ia 
co m o prisioneiro para ser ju lgado p o r Félix, 
o procurador da província rom ana da Ju d éia . 
P au lo p e rm a n e ce p ris io n eiro e m C esaréia 
p o r p e lo m e n o s d o is a n o s (At 2 4 .2 7 ), em 
c u jo te m p o F é lix é su b stitu íd o p o r F esto . 
P a u lo a p e la a C ésa r q u a n d o c o m p a re c e 
p e ra n te F e s to e , assim , o a p ó s to lo fin a l­
m e n te c h e g a a R o m a c o m o p ris io n e iro a 
e sp e ra d e ju lg a m e n to (A t 2 5 .1 — 2 8 .3 1 ).
4. Ocasião e Propósito
A n tes d e d iscu tirm o s p o r q u e P a u lo e s ­
c re v e u R o m a n o s, d e v e m o s e n fa tiz a r q u e 
R o m a n o s é u m a carta . D e sd e a o b ra de 
A. D e issm a n n (1 9 1 2 ) , q u e co m p a ro u os 
d o cu m e n to s d o N o v o T e sta m e n to c o m 
texto s d o m u n d o g reco -ro m an o , é com u m 
diferençar entre epístola e carta. U m a epístola 
é um a com p o sição escrita na form a de carta, 
m as d ife re n te m e n te d e u m a carta e m si, 
n ã o trata d as p a rticu la res d e u m a situ a­
ç ã o lo ca l. A inda q u e R o m a n o s te n h a s e ­
m e lh a n ça m ais p ró x im a d e u m a e p ís to la 
q u e q u a isq u e r d as o u tras cartas d e P a u ­
lo , é u m a carta . F o i o ca s io n a d a p e la s s i­
tu ações do apóstolo e da com unid ad e cristã 
e m R om a. D e fa to , c o m o v e re m o s , a ra ­
z ão p o r q u e R o m a n o s se a sse m e lh a tão 
d e p e rto a u m a e p ís to la re la c io n a -s e d i­
re ta m e n te c o m as c ircu n stâ n c ia s d o e s ­
crito r e d o s d estin atário s.
N ão h á c o n s e n s o e n tre o s e stu d io so s 
s o b re o p ro p ó s ito d e R o m a n o s. A c o n fu ­
sã o c o m e ç a c o m P a u lo : E le c ita d ife re n ­
tes razões para escrev er n o co m e ço da carta 
d o q u e e le faz n o fim . O s e stu d io so s d i­
fe re m fre q ü e n te m e n te so b re q u al d estas 
ra z õ e s é o v e rd a d e iro p ro p ó s ito da ca r­
ta. M as se fo r retirad a a p re su n çã o d e q u e 
deve hav eru m ú n ico propósito de Rom anos, 
e n tã o a ta re fa é s im p lif ica d a , P o r q u e 
d ev e ría m o s p re su m ir q u e P a u lo só tem 
u m a razão e m m e n te p ara c o m p o r esta 
carta? A final d e c o n ta s , seu s p ro p ó s ito s 
d eriv am d e su a s itu a çã o e da d o s c re n te s 
ro m a n o s.
P au lo é u m m ission ário co m asp iraçõ es 
de futuro trabalho evangelístico na Espanha. 
As c o n g re g a ç õ e s ro m a n a s q u e se re u n i­
am em casa são im portantes para o apóstolo, 
p o rq u e e le q u e r q u e R o m a sirva d e b a s e 
d e a p o io para este n o v o p ro je to (Rm 15-23- 
29). M as P a u lo n ã o te m au to rid a d e a p o s ­
tó lic a s o b r e a c o m u n id a d e ro m a n a d e 
c re n te s , v is to q u e e le n u n ca m in istro u lá. 
U m d os p rop ósitos d esta carta é ap resentar 
seu m inistério e m en sag em . É p or isso que, 
c o m o o b se rv a m o s a n tes , g ran d e p arte d e 
R o m a n o s é tã o s is te má tic a . P a u lo e s tá 
d e se n v o lv e n d o u m a e x p lic a ç ã o lo n g a e 
ló g ica d e su a m e n sa g em . C o n tu d o , n ã o 
é u m tratado sistem ático p o rq u e e le n u n ca 
p e rd e d e v ista sua a u d iê n cia ro m an a . Sua 
c o n s c iê n c ia d e le s e su as p re o c u p a ç õ e s 
p a r tic u la re s b ro ta m e m v á rio s p o n to s , 
m e sm o q u a n d o e le está n o m e io d e u m 
a rg u m en to e x te n so .
P au lo e sp era q u e esta carta v e n h a a ser 
b e m receb id a e pavim ente o cam in h o para 
sua c h eg a d a . E le n ã o tem garantia d e u m a 
recep ção positiva, considerando que a crítica 
d o seu m in istério e m e n sa g e m c ircu lo u 
a m p la m e n te e m c o n s e q ü ê n c ia da o p o s i­
ç ã o d o s ju d e u s. A ssim , esta carta é m ais 
q u e u m a e x p lic a ç ã o d e sua m e n sa g em ; 
é ta m b é m u m a d efesa .
M as P a u lo te m a lg o m ais e m m e n te d o 
que apenas usar a igreja rom ana com o ponto 
d e p artid a o u c o m o s e d e d e seu s e m p re ­
en d im en to s ev an gelístico s alhures. H á um 
p ro p ó s ito p a sto ra l p o r trás d esta c o r re s ­
p o n d ê n c ia . N o in íc io d a ca rta e le o s in ­
form a d e sua in ten ção em lhes dar um dom 
espiritual. C o m o será d iscutid o n o c o m e n ­
tário, a carta d e Paulo rep resenta o c o m e ço 
do seu m inistério apostólico para eles. Paulo 
está c ie n te da te n sã o en tre cristão s ju d eu s 
e g e n tio s e m R o m a, e é p o r isso q u e e le
812
ROMANOS
se se n te c o m p e lid o a lh e s o fe re c e r o tip o 
de m inistério para o qual ele, ap óstolo judeu 
p ara os gentios, fo i cham ad o. Seguram ente 
e le tem e ssa s itu a çã o e m m e n te e n q u a n ­
to a p re se n ta o s a rg u m en to s n o s ca p ítu ­
lo s 1 a 11 s o b re a ig u ald ad e d e ju d eu s e 
g e n tio s e m te rm o s d e ju stiça . E e le m o s­
tra q u e tem c o n h e c im e n to d a te n sã o e n ­
tre e le s q u a n d o a p lica a m e n sa g e m d os 
cap ítu los 1 a 11 n o s cap ítu lo s 12 a 15, o n d e 
a re la çã o en tre ju d e u s e g e n tio s é o p o n ­
to fo ca l d este s ú ltim o s ca p ítu lo s.
5. Tema
D e sd e a R efo rm a é co m u m id en tifica r a 
ju s tif ic a çã o p e la fé c o m o te m a d e R o m a ­
n o s e d o c e n tro da te o lo g ia p a u lin a . N ão 
o b sta n te , isto é e x a g e ra r seu p a p e l em 
R o m a n o s e su a im p o rtâ n cia p ara o p e n ­
sa m e n to p a u lin o . A ju stific a çã o p e la fé é 
central a o argum ento de Paulo em R om anos 
1 .1 8 a 5 .21 q u e ju d eu s e g e n tio s s ã o igu al­
m e n te cu lp a d o s d ia n te d e D e u s , c o m o 
resultado de q u e am bos só p od em ser salvos 
p e la fé . É c o m b a s e na fé em C risto q u e o 
in d iv íd u o se rá d e c la ra d o ju sto , o u será 
ju stifica d o , n o ju lg a m en to .
A ju s tif ic a ç ã o p e la fé é u m c o n c e ito 
d o m in a n te e m só d u as carta s p a u lin a s : 
R o m a n o s e G álatas. H á u m a ra z ã o p ara 
isso. A ju stificação é um co n ce ito d o Antigo 
T e sta m e n to , e é a p licá v e l n e ssa s cartas, 
p o rq u e a m b a s lid a m c o m a s su n to s d e 
im portân cia particular para os judeus. P ela 
m esm a ra z ã o , P a u lo faz u so e x te n s o d e 
c ita ç õ e s d o A n tigo T e sta m e n to e a lu sõ es 
e m a m b a s as carta s (v e ja e sp . R m 9— 11, 
on d e o tóp ico é a justiça de D eus para Israel). 
Q u a n d o P a u lo se d irige a u m a c o n g re g a ­
ç ã o g en tia , o u p e lo m e n o s um a n a q u al 
assu n to s ju d a ico s n ã o sã o s ig n ifica tiv o s, 
e le p re fe re fa la r d e c re n te s c o m o a q u e ­
les q u e e s tã o e m C risto e m v e z d a q u e les 
q u e fo ra m ju stifica d o s p e la fé.
Se p rocurarm os um tem a q u e se so b res­
sa ia na carta , e n tã o te re m o s o c o n c e ito 
da ju stiça d e D e u s . D e fa to , a ju stific a çã o 
pela fé é um asp ecto d este tem a m ais am plo. 
E m R o m a n o s 1 .1 6 ,1 7 , P a u lo d e lin e ia o 
a ssu n to da carta : “[No e v a n g e lh o ] se d e s ­
c o b r e a ju stiça d e D e u s ”. O q u e P a u lo faz 
e m R o m a n o s é d e sc re v e r a n atu reza da
ju stiça o u d a o b ra salv ad ora d e D eu s (v e ja 
co m e n tá r io s e m Rm 1 .1 6 ,1 7 ) . P o d e m o s 
resu m ir o c o n te ú d o da carta assim :
• A justiça de Deus cancela a pena do pecado 
(Rm 1.18— 5.21).
• A justiça de Deus quebra o poder do 
p ecad o pela m orte de Cristo e pela 
capacitação do Espírito que habita em 
nós (Rm 6.1— 8.39).
• A justiça de Deus é atuante hoje e no 
futuro para com seu povo escolhido (Rm
9.1— 11.36).
• A justiça de Deus, sua obra salvadora, 
vivenciada por judeus e gentios igual­
m ente (Rm 12.1— 15.13).
6. Forma Original de Romanos
H á u m a te o ria d e q u e o c a p ítu lo 16 n ã o 
fa z ia o r ig in a lm e n te p a rte d a c a rta a o s 
Rom anos. Entre as várias razões dadas para 
esta posição estão a presença de um a b ên ção 
a o té rm in o d o ca p ítu lo 15 e o fa to d e q u e 
o c a p ítu lo 16 c o n té m u m a lo n g a lista d e 
p e sso a s sau d ad as p o r P au lo , o q u e su gere 
q u e e ste ca p ítu lo n ã o p o d e ter s id o e s ­
cr ito p a ra R o m a, u m lugar o n d e e le n u n ­
ca estivera. Aigum entou-se que a lista extensa 
d e c o n h e c id o s in d ica u m a igreja o n d e e le 
tin h a p a ssa d o um te m p o n o m in istério , 
co m o É feso . A ssim , a teoria e fésia sustenta 
q u e o ca p ítu lo 16 e ra u m a carta sep a ra d a 
e n v ia d a a o s e fé s io s , a q u a l e m a lg u m 
m o m e n to fo i u n id a à carta ro m an a .
C o n tra e sta te o r ia h á m u ito s fa to re s 
d ec isiv o s.
1) Os vários elem entos contidos no capítulo
16 — saudações, doxologia e notas finais
— são típicos da seção final de uma carta 
escrita por Paulo, e seria surpreendente se 
Romanos tam bém não os contivesse em 
sua conclusão.
2) C. H. Dodd (p. 14) observou que quando 
Paulo escreve para uma igreja ele só saú­
da indivíduos se está escrevendo a uma 
assem bléia que não visitou (e.g ., Colos- 
senses). Ao saudar indivíduos específicos, 
Paulo estabelece pontos de contato com 
a igreja. Em outras palavras, estes indiví­
duos são suas referências pessoais. O fato 
de Paulo conhecer tantas pessoas que ti­
nham se mudado para Roma é resultado
813
ROMANOS
do status daquela cidade com o destino pri­
mário dentro do império (“todos os cam i­
nhos levam a Rom a”), com boas estradas 
e paz política que facilitam viagens freqüentes 
de e para a capital.
7. Metodologia
A lguns p on tos d ev em ser d estacad os sobre
a a b o rd a g e m q u e e stá s e n d o fe ita n e s ta
s e ç ã o d o Com entário Bíblico Pentecostal.
1) Num curto com entário com o este, duras 
decisões devem ser constantemente tomadas 
em termos do que será e não será incluí­
do. Rom anos é tão rico em conteúdo que 
estas decisões são particularmente difíceis,
e, é claro, tudo em Rom anos é a palavra 
de Deus. O leitor deve estar cônscio de que 
há muitos e bons com entários extensos, 
que dão m aiores detalhes e explicações 
sobre todos os assuntos críticos que cer­
cam determinados textos (veja Bibliogra­
fia). Minha abordagem é dar a certos ca­
pítulos mais atenção, por causa (a) de seu 
papel crítico dentro do argumento da car­
ta com o um todo, e/ou (b) de sua relevância 
para a entrada dos cristãos no terceiro milênio. 
Em particular, os capítulos 3 ,6 a 8 ,1 2 e 14 
são tratados mais extensivam ente que os 
outros.
2) O fato de Rom anos ser uma cartalevanta 
algumas considerações herm enêuticas. O 
recurso primário para interpretar Rom a­
nos é a própria carta. Quando Paulo es­
creve às congregações em Roma, ele não 
presume que elas tenham à disposição uma 
coletânea de suas cartas — este é o seu 
primeiro contato direto com elas. Ele su­
põe que o que ele escreve será entendido 
pelo contexto da carta. O nde eu faço re­
ferência a tópicos e frases semelhantes nas 
outras cartas de Paulo, será em benefício 
da com paração em vez da interpretação. 
Embora outras cartas nos ajudem em nos­
sos esforços em com pletar a natureza do 
pensam ento paulino, a prioridade sempre 
deve ser interpretar a carta por seus pró­
prios dizeres. Por exem plo, não devemos 
pressupor que Paulo argumenta da m es­
ma maneira em todas as suas cartas, ou que 
ele usa palavras e frases só de um modo 
de uma carta para outra. Cartas são docu­
mentos ocasionais, nos quais o tipo de co­
m unicação que elas contêm é determina­
do pelas situações do escritor e destinatá­
rio.
Há outra consideração herm enêutica aqui. 
Prestarem os atenção à estrutura de Carta 
aos Rom anos. Há pistas que nos ajudam a 
determinar as ênfases de Paulo na carta, 
com o tam bém seu propósito em escrever 
para Roma (veja com entários de abertura 
sobre Rm 1.1-17).
3) Este não é um com entário crítico. Não se 
esm era em se ocupar com extensos argur 
mentos ou interagir em certa extensão com
o mundo da erudição. Procura apresen­
tar um com entário claro e pertinente so­
bre a carta de Paulo aos crentes rom anos. 
Mas para dar ao leitor uma idéia das con­
trovérsias e debates que estão em circula­
ção hoje, interagirei em particular com al­
guns com entários m odernos .e influentes 
ao longo da exposição. Isto proporciona­
rá ao leitor um senso das posições várias 
que estão sendo atualm ente discutidas. 
Atenção especial será dada aos com entá­
rios de D. M oo e J. D. G. Dunn, e ao livro 
God's Empowering Presence (A Presença 
Capacitadora de Deus), de Fee, que é uma 
exposição de cada versículo paulino que 
lida com o Espírito Santo.
4) Em relação ao m étodo de anotação, os 
números de páginas dos comentários não 
serão dados se o conteúdo a que se refere 
aparecer naqueles volumes sob o versículo 
que estamos discutindo. Quer dizer, se estou 
explicando Romanos 8.28 e cito Moo, o leitor 
acha a referência no comentário de Moo no 
mesmo capítulo e versículo. Os números 
de páginas serão usados para livros ou para 
a matéria introdutória nos comentários.
ESBOÇO
1. Abertura da Carta (1.1-17)
1.1. Saudação (1.1-7).
1.2. Oração de Agradecimento (1.8-10).
1.3. Primeiro Diálogo de Viagem (1.11-15).
1.4. Tema da Carta (1.16,17).
2. Corpo da Carta: A Justiça de Deus
Revelada no Evangelho
(1 .18— 15.13)
814
ROMANOS
2.1 . A Justiça de Deus Cancela a Pena do 
Pecado (1.18— 5.21).
2 .1 .1 . A Situação Difícil da Humanidade 
sob a Ira de Deus (1.18— 3.20).
2 .1 .1 .1 . A Ira de Deus sobre a Humani­
dade (1.18-32).
2 .1 .1 .2 . A Ira de Deus sobre os Judeus 
(2.1— 3.20).
2 .1 .1 .2 .1 . O Julgamento Imparcial de 
Deus (2.1— 11).
2 .1 .1 .2 .2 . O Julgamento e a Lei (2.12-16).
2 .1 .1 .2 .3 . O Predicamento Judaico 
(2.17-24).
2 .1 .1 .2 .4 .0 Julgamento e a Circuncisão 
(2.25-29).
2 .1 .1 .2 .5 . Objeções (3.1-8).
2 .1 .1 .2 .6 . Resumo: Todas as Pessoas 
Estão Sujeitas à Ira (3.9-20).
2 .1 .2 . A Salvação da Humanidade pela Fé 
em Jesus Cristo (3.21— 4.25).
2 .1 .2 .1 . A Salvação pela Morte de Cristo 
(3.21-26).
2 .1 .2 .2 . A Salvação pela Fé 
(3.27— 4.25).
2 .1 .2 .2 .1 . O Conceito Básico de Fé 
(3.27-31).
2 .1 .2 .2 .2 . Ilustração: A Fé de Abraão 
(4.1-25).
2 .1 .3 . A Esfera da Graça (5.1-21).
2 .1 .3 .1 . A Vida na Esfera da Graça 
(5.1-11).
2 .1 .3 .1 .1 . Os Benefícios da Graça (5.1-5).
2 .1 .3 .1 .2 . A Expressão Última da Graça 
(5.6-8).
2 .1 .3 .1 .3 . A Meta da Graça (5.9-11).
2 .1 .3 .2 . O Triunfo da Graça sobre o Pecado 
e a Morte (5.12-21).
2 .2 . A Justiça de Deus Quebra o Poder do 
Pecado (6.1— 8.39).
2 .2 .1 . O Poder sobre o Pecado (6.1— 7.6).
2 .2 .1 .1 . Morrer para Viver (6.1-14).
2 .2 .1 .2 . Morrer para Seivir (6.15-23).
2 .2 .1 .3 . Morrer para a Lei (7.1-6).
2 .2 .2 . A Lei e o Pecado: Uma Defesa da 
Lei (7.7-25).
2 .2 .2 .1 . A Morte pela Lei (7.7-12).
2 .2 .2 .2 . A Ineficácia da Lei e da Carne 
(7.13-25).
2 .2 .3 . O Espírito de Vida que Dá Poder 
sobre o Pecado e a Morte (8.1-13).
2 .2 .4 . O Espírito de Adoção (8.14-17).
2 .2 .5 . A Esperança da Glória (8.18-39).
2.2.5.1. A Esperança da Glória: Presente 
no Sofrimento (8.18-27).
2.2.5.2. A Esperança da Glória: Garantida 
pela Justiça de Deus (8.28-39).
2.3. A Justiça de Deus para com Israel 
(9.1— 11.36).
2.3.1. O Problema (9.1-5).
2.3.2. O Propósito de Deus (9.6-29).
2.3.3. O Fracasso de Israel (9.30— 10.21).
2.3.4. Salvando o Remanescente; 
Endurecendo os Outros (11.1-10).
2.3.5. O Presente e o Futuro de Deus 
para Israel (11.11-32).
2 .3 .5 .1 . O Propósito do Endurecimento 
( 1 1 .1 1 -1 6 ).
2.3.5.2. Como Ver os Judeus (11.17-24).
2.3.5.3- A Salvação de Israel (11.25-32).
2.3.6. Em Louvor de Deus (11.33-36).
2.4. A Justiça de Deus Vivenciada por 
Judeus e Gentios e entre Eles
(12.1— 15.13).
2.4.1. Vivendo em Resposta à Justiça de 
Deus (12.1,2).
2.4.2. As Relações na Igreja (12.3-13a).
2.4.2.1. O Pensamento Correto sobre 
Relações (12.3-5).
2.4.2.2. Os Dons Individuais (12.6-8).
2.4.2.3. Exortações Gerais sobre Relações 
com Outros na Igreja (12.9-13a).
2.4.3. A Relação com o Mundo 
(12.13b— 13.14). '
2.4.3.1. A Relação com 0 Mundo em 
Geral (12.13b-21).
2.4.3.2. A Relação com o Governo 
(13.1-7).
2.4.3.3. A Relação com o Próximo 
(13.8-10).
2.4.3.4. Vivenciando as Relações com 
a Urgência Escatológica (13.11-14).
2 .4 .4 . As Relações entre Judeus e Gentios 
(14.1— 15.13).
2.4.4.1. Aceitem-se uns aos Outros; Não 
se Julguem (14.1-12).
2.4.4.2. Ajam com Amor uns pelos 
Outros; Não Escandalizem (14.13-23).
2.4.4.3. Cristo, o Modelo para os Fracos e 
para os Fortes (15.1-6).
2.4.4.4. Resumo (15.7-13).
3. Fechamento da Carta (15.14— 16.27)
3.1. Segundo Diálogo de Viagem (15.14-33).
3.1.1. A Missão de Paulo (15.14-22).
815
ROMANOS 1
3.1.2. Antes da Espanha: A Coleta para os
Santos (15.23-33)-
3.2. Elogio a Febe (16.1,2).
3-3- Saudações aos Conhecidos de Paulo
( 16 .3- 16).
3.4. Advertência Final (16.17-20).
3.5. Saudações dos Associados de Paulo
(16.21-23).
3.6. Doxologia Final (16.25-27).
COMENTÁRIO
1. Abertura da Carta (1.1-17).
C o m o e ra h a b itu a l n o s é c u lo I, a a b e rtu ­
ra da Carta ao s R o m an o s c o m e ça c o m um a 
sa u d a çã o e u m ag rad ecim en to . P au lo n ão 
ap enas adota estas co n v en çõ es epistolares, 
m as as ad ap ta d e a c o rd o c o m seu s p ro ­
p ó s ito s a p o s tó lico s .
1 .1 . S a u d a ç ã o ( 1 .1 - 7 )
O s e le m e n to s e a o rd e m na sa u d a çã o d e 
Rom anos conform am -se com as convenções 
c o m u n s d as cartas h e le n ís tic a s — a id e n ­
tifica çã o d o rem eten te , a e sp e c ific a çã o d o 
destinatário e u m a saud ação. P au lo adapta 
e s te s e le m e n to s fo rm a is e n v o lv e n d o -o s 
c o m te m a s te o ló g ic o s e a ssu n to s d e in te ­
re sse p e s so a l, q u e serv e m p ara in d ica r o 
q u e v e m a seg u ir n a carta.
A sau d ação , q u e n ão é m uito m ais longa 
q u e a sa u d a çã o típ ica d o s d ias a tuais, é a 
m ais exten sa segun do o s pad rões paulinos. 
É s ig n ifica tiv o q u e as o u tras d u as cartas 
paulinas on d e as saud ações são m ais longas 
q u e a norm a paulina (1 Coríntios e G álatas) 
s e ja m c a rta s n a s q u a is P a u lo e x p r e s s a 
p u n g e n te p re o c u p a ç ã o so b re as c o n g re ­
g a ç õ e s a q u e e sc re v e . A lo n g a sa u d a çã o 
e m R o m an o s n o s avisa a n ã o v er esta carta, 
co m o às v ezes ocorre, c o m o u m tratam ento 
s is te m á tico e im p a rc ia l d e a ssu n to s te o ­
ló g ico s .
Esta ab ertu ra d a cartam o stra um a p re ­
o cu p a ç ã o p re m e n te n a m en te d o escritor, 
n ã o tanto co m a s ito ação rom ana, m as co m 
a p ró p ria s itu ação d e P au lo e m fa ce das 
igrejas ro m an as, le v a n d o -se em c o n ta sua 
visita im inente. O ap óstolo tinha op onentes, 
e a sa u d a çã o rev e la q u e e le con jectu ra v a
q u e a crítica q u e e les faz iam d ele tinha se 
e sp a lh a d o p o r R om a. A s e ç ã o d e abertu ra 
é m uito longa, p orqu e Paulo im ediatam ente 
in sere n a estrutura u m a d efe sa d o e v a n ­
g e lh o q u e e le p reg a e d o seu ap o sto lad o . 
Sua p re o c u p a ç ã o so b re a visita se to rn a 
exp líc ita n o s d iá lo g o s d e v ia g em q u e e le 
p õ e in terca la n o co rp o d a carta (R m 1 .11 - 
15 e 1 5 .1 4 -3 3 ).
N um a fa s ta m e n to d a fo rm a ep isto la r 
e sta b e lec id a , P au lo se id en tifica n o v ersí­
cu lo 1 d e duas m an eiras: “serv o d e Je su s 
Cristo” e “cham ad o [...] ap óstolo”. Mais típico 
é sua sin gu lar a u to d e fin içã o c o m o “a p ó s­
to lo ” (v e ja 1 C o 1 .1 ; 2 C o 1.1 ; E f 1 .1; Cl 1 .1;
2 T m 1.1 ; em F p 1 .1 , e le se c h a m a “serv o ”, 
e em Fm 1, “p ris io n e iro ”). O ú n ico outro 
lugar o n d e a d upla d es ig n a çã o d e serv o e 
a p ó sto lo a p a re c e é e m T ito 1.1 , m as ali, 
“a p ó s to lo ” está s em a p alavra “ch a m a d o ”. 
(P a u lo ta m b ém se d irige a o s c ren tes ro ­
m a n o s c o m u m a d up la d efin içã o n o v. 7 .)
A d u p la re fe rê n c ia e n fá tica a o status 
d e P a u lo c o m o a p ó s to lo e serv o é a p ro ­
priada para um a introdução, o u — levando 
e m c o n ta a crítica q u e é a p o n ta d a co n tra
0 e v a n g e lh o q u e P a u lo p re g a — u m a 
ap o lo g ia , a u m a igreja q u e e le está a p o n to 
d e v isitar p e la p rim eira v e z . E stes te rm o s 
m erecem com entário breve, pois nos contam 
a m a n e ira n a q u a l P a u lo d e s e ja v a s e r 
e n te n d id o .
1) O ponto mais importante é que Paulo é 
“servo” ou “escravo” (doulos) de Jesu s. 
Usando para si a familiar terminologia “servo" 
a partir de referências bíblicas a Moisés, 
Davi e muitos dos profetas, Paulo mostra 
sua identificação com a obra de Deus ini­
ciada entre os judeus. Na sua explanação 
de que ele é servo de Cristo Jesus, ele mostra 
sua devoção absoluta ao Messias.
2) Ele é “cham ado para apóstolo”. Por trás 
desta frase acha-se a dramática chamada 
de Paulo na estrada de D am asco (At 9), 
quando o Senhor ressurreto lhe apareceu 
e o com issionou. Esta experiência perm i­
tiria Paulo se incluir entre o grupo apos­
tólico, pois ser testem unha ocular de J e ­
sus era condição prévia para a m em bresia 
(cf. 1 Co 9.1; 15.7,8).
D e p o is d e s e a p re s e n ta r n o v e rs íc u lo
1 e a n te s d e id e n tifica r o d estin a tá rio —
816
ROMANOS 1
o q u e e ra t íp ico , n u m a ca rta d o s é c u lo I, 
v ir im e d ia ta m en te e m seg u id a — P au lo 
p a s sa a tra ta r d e q u a lq u e r c o n c e p ç ã o 
e rrô n e a q u e p o d e ria e sta r c ircu la n d o em 
R o m a a re s p e ito d e le e d e su a p re g a çã o . 
D e a co rd o c o m m u ito s co m en ta rista s d os 
d ias h o d ie rn o s , as fra se s cu rta s e e q u ili­
b ra d a s n o s v e rs íc u lo s 3 e 4 s ã o re tirad as 
d e u m a p rim itiva c o n fis s ã o cristã . O fa to 
de Paulo incluir um a declaração confessional 
serve p rim eiram en te p ara n o tificar sua au­
d iê n c ia d e q u e seu e v a n g e lh o — a p e sa r 
d o q u e e le s p o d e ria m te r o u v id o — e s ­
tav a e m lin h a c o m a tra d iç ã o d o e v a n g e ­
lh o q u e lh e fo ra e n tre g u e .
O e v a n g e lh o p a ra o q u a l P a u lo fo i 
s e p a ra d o (v . 1) d ec la ra o cu m p rim e n to 
d o q u e foi prom etido n o A ntigo Testam ento 
p e lo s p ro fe ta s (v. 2 ) c o n c e rn e n te a je s u s , 
o M essias, o q u e é d escrito e m d u as fra­
ses c o m p le m e n ta re s . Q u a n to à sua n a tu ­
reza hu m ana, E le era da lin h ag em d e D avi 
(v . 3; cf. Is 1 1 .1 ). Q u a n to à su a e x is tê n c ia 
esp iritual n o céu , E le v ive “em p o d e r” (e m 
v e z d a fra q u e z a a sso c ia d a c o m a fo rm a 
h u m a n a ; cf. 1 C o 1 5 .3 5 -5 5 ) .
A tra d u çã o d a NVI s u g e re q u e o “E sp í­
rito d e s a n t if ic a ç ã o ” (o E sp ír ito S a n to ) 
d e s e m p e n h o u u m p a p e l n a e x a lta ç ã o d e 
Cristo. T alvez é m e lh o r en te n d e r esta frase 
(lit., “s e g u n d o o E sp írito d e sa n tid a d e ”)
— c o m o fiz em o s a c im a — c o m o fu n c io ­
n a n d o e m p a ra le lo c o m a fra se n o v e rs í­
c u lo 3 (lit., “seg u n d o a c a rn e “) p ara c o n ­
trastar o s d o is â m b ito s d e e x is tê n c ia . O 
esta d o te rre n o é v iv id o d e a c o rd o c o m as 
lim ita çõ e s h u m a n a s, a o p a sso q u e o e s ­
ta d o p ó s -re ss u rre iç ã o é u m a e x is tê n c ia 
esp iritu al caracterizad a p o r p od er. É, “p o r 
e x c e lê n c ia , u m a v id a d o E sp ír ito ” (F e e , 
19 9 4 , p. 4 8 1 ) . E ste ú ltim o te m a será e x ­
p lorado m ais tarde quan do Paulo d escrever 
as atuais im plicações para aqueles que vivem 
n a e sfe ra d o E sp írito (R m 5; 8 ).
A re ssu rre içã o e fe tu o u a p a ssa g e m d e 
Cristo d e um estad o p ara o outro. N ão q u e 
esta s e q ü ê n c ia d e e v en to s o ca s io n o u su a 
F ilia çã o , c o m o o c o m e ç o d o v e rs íc u lo 3 
d e ix a c la ro , m as q u e seu p le n o e sta d o d e 
F ilh o — o u , c o m o “n o s so S e n h o r” — é 
a g o ra in a u g u ra d o , p o rq u e E le re in a d o s 
c é u s ju n ta m e n te c o m o Pai.
É d este S e n h o r q u e P a u lo re c e b e u (o 
“n ó s ” [ocu lto] é p ro v a v e lm e n te re fe rê n ­
c ia estilística a e le ) “a graça e o a p o sto la d o ” 
(v. 5 ). O s d o is te rm o s e s tã o e stre ita m e n ­
te re la c io n a d o s . “G ra ç a ”, te m a p re d o m i­
n a n te e m R o m a n o s, d en o ta a q u i o a to d e 
D e u s p o r m e io d o q u al u m p e rse g u id o r 
da Ig re ja fo i c o m iss io n a d o p e lo S e n h o r 
re ssu rre to p ara s e r seu a p ó s to lo . A p arti­
cular m issão apostólica d e Paulo era cham ar 
os g e n tio s à m e sm a su b m issã o a C risto 
q u e e le próprio experim entara n o encontro 
c o m C risto n a estrad a d e D a m a sc o . A s­
sim , e le se d irig e a o s ro m a n o s n a q u a li­
dade d aqueles que, dentre as naçõ es, foram 
ch a m a d o s à fé e m Je s u s C risto (v . 6 ).
Q u an d o e le ch eg a ao segun do elem en to 
fo rm a l d a s a u d a ç ã o , n o v e rs íc u lo 7 , a 
identificação d os destinatários, e le usa duas 
frases d escritiv as (q u e e q u ilib ra m as duas 
d es ig n a çõ e s q u e e le u sou p ara si m esm o ): 
“a m a d o s d e D e u s ” e “ch a m a d o s s a n to s ”. 
A seg u n d a frase é p arale la à au to d efin ição 
d e P a u lo c o m o “ch a m a d o p ara [ser] a p ó s ­
to lo ”. A ssim c o m o e le fo i c h a m a d o p ara 
ser a p ó s to lo , da m e sm a fo rm a e le s fo ram 
cham ados para serem santos, ouseja , aqueles 
que p o r causa da con v ocação de D eus foram 
sep a ra d o s p a ra serv i-lo .
“Graça [charis] e paz” é a saudação padrão 
d e P a u lo , e m c o m b in a ç ã o c o m u m a v ari­
a ç ã o d a p a lav ra g re g a ch a ire in ( “sa u d a ­
ç ã o ”) c o m a p alav ra g reg a trad u zid a p e la 
típ ica sa u d a çã o h eb ra ica , shalom ( “p a z ”).
1.2. O ração de 
Agradecim ento 
(1 .8 - 10)
N as c a rta s d o s é c u lo I a s a u d a ç ã o era 
co s tu m e ira m e n te seg u id a p o r u m a g ra­
d e c im e n to e u m d e s e jo d e o ra ç ã o , tip i­
cam ente pela saúde do destinatário. Tam bém 
era costu m e P au lo inclu ir n este p o n to um a 
e x p re ss ã o d e a g ra d e c im e n to a D e u s p e ­
los destinatários da carta (exceto em Gálatas). 
In c lu ía n ã o s ó a s su n to s p e lo s q u a is o 
a p ó s to lo v in h a o ra n d o p e la c o n g re g a çã o 
à q u a l e le e sc re v e , m as ta m b é m tó p ico s 
q u e e le q u e r a g o ra tratar. Q u e r d izer, a 
oração d e agradecim ento servia para o leitor 
co m o notificação sobre o q u e estava à frente.
817
ROMANOS 1
O fa to d e P a u lo e m R o m a n o s p a ssa r sem 
d e m o ra d e su a p a lav ra d e a g ra d e c im e n ­
to p ara seu s p la n o s d e v ia g e m n ã o é um a 
q u e b ra d a fo rm a. In d ica o s ig n ifica d o d o 
d iá lo g o d e v ia g e m d e P a u lo p a ra o p ro ­
p ó s ito d a carta.
O e lo g io q u e P a u lo faz a o s c re n te s 
ro m a n o s p e la d ifu n d id a r e p u ta ç ã o d e 
fé q u e e le s m a n tê m , é e x p r e s s a c o m o 
a ç ã o d e g ra ç a s a D e u s p o r J e s u s C risto . 
“A ss im c o m o é p o r m e io d e C ris to q u e 
a g ra ç a d e D e u s é tra n sm itid a a o s h o ­
m e n s (v . 5 ) , a ss im é p o r m e io d e C risto 
q u e a g ra tid ã o d o s h o m e n s é tra n s m iti­
d a a D e u s ” ( B r u c e , 1 9 8 5 ) - 1 N ã o é d e 
s u rp r e e n d e r q u e P a u lo d e s ta c a s s e a fé 
d o s c r is tã o s ro m a n o s n o v e rs íc u lo 8 , p o r 
c a u s a d e su a p r e o c u p a ç ã o m is s io n á r ia 
e m le v a r o s g e n t io s a u m p o n to d e fé 
(R m 1 .5 ). O q u e su rp re en d e é a m u d a n ça 
a b ru p ta d e to m q u e é in tro d u z id a p e lo 
ju ra m e n to d o v e r s íc u lo 9- O a p ó s to lo 
c h a m a D e u s c o m o te s te m u n h a p a ra su a 
a f irm a ç ã o d e q u e e le c o n s ta n te m e n te 
o ra v a p o r e le s . P o r trás d e ta l fó rm u la 
s o le n e ja z a a p r e e n s ã o d o a p ó s to lo , de 
q u e su a d e c la ra ç ã o d e p re o c u p a ç ã o p o r 
e le s n ã o v e n h a a s e r c r id a , v is to q u e e le 
n u n c a o s t in h a v is ita d o .
P a u lo im e d ia ta m en te diz q u a l e ra seu 
p e d id o d e o ra ç ã o : “Q u e , n a lg u m tem p o , 
p e la v o n ta d e d e D eu s, se m e o fe re ç a b o a 
o c a s iã o d e ir te r c o n v o s c o ” (v . 1 0 ). P au lo 
era se n sív e l à crítica , q u e já fo ra le v a n ta ­
da c o n tra e le (2 C o 1 .1 7 ), q u e o q u e e le 
d iz n e m se m p re e le faz . A c o n c lu s ã o q u e 
P a u lo q u e r q u e se ja tirad a d o p e d id o d e 
o ra ç ã o é q u e o p ró p rio D e u s tin h a a tra­
s a d o su a v ia g e m à c a p ita l d o Im p é r io 
R o m a n o . Sua d ilig ê n c ia so b re o assu n to 
su rg e à to n a n o v a m e n te n o v e rs íc u lo 13, 
o n d e e le u sa u m a fó rm u la d e re v e la ç ã o 
— “N ão quero, porém , irmãos, q u e ignoreis” 
— , para acentuar q u e seus repetidos planos 
d e ir tin h a m sid o o b sta cu liz a d o s .
T a m b é m d ig n o d e n o ta aq u i é a q u ali­
ficação d e Paulo no versículo 9, de q u e serve 
a D e u s “e m m eu esp ír ito ”. O q u e e le q u er 
d izer c o m esta frase é p ro v av elm en te e x ­
p licad a p e lo co n tra ste q u e e le faz e m R o ­
m a n o s 1 2 .1 , o n d e P au lo u sa a im ag em re ­
tirada d o sistem a sacrifica l d o A ntigo T e s­
ta m e n to p ara m ostrar as d iferen ça s en tre 
a dinâmica espiritual atuante no novo concerto 
e na lei. Identificam os contraste sem elhante 
n o p la n o d e fu n d o d o v ersícu lo 9, o n d e 
“em m eu espírito” significa que as exigências 
d e D eu s ago ra estã o em g ran d e m ed id a 
in tern alizad as d o q u e era o c a so n as e x i­
g ê n cia s escritas da lei.
1 . 3 . P rim e iro D iá lo g o d e 
V ia g em ( 1 .1 1 - 1 5 )
O d iá lo g o d e v ia g e m era u m a c a ra cte rís ­
tica c o m u m n a ca rta p au lin a . Serv ia para 
in fo rm a r a o s le ito re s a c e rc a d e seu s p la ­
n o s d e v ia g em o u d e seu s co m p a n h e iro s . 
É particu larm en te p ro em in en te em R om a­
n o s , a p a re c e n d o n a a b ertu ra e n o fe c h a ­
m e n to d a carta (R m 1 5 -1 4 -3 3 ); a razão d e 
e le e scre v e r a carta está estre ita m en te v in ­
cu la d a à su a v isita im in en te .
O expresso propósito de Paulo em desejar 
v ê -lo s é p a ra q u e e le p o ssa lh e s d ar “a l­
g u m d o m e s p ir i tu a l” (ti ch a rism a 
p n eu m a tik o n , v. 11 ). “D o m ” (charism a), 
q u e é derivado d e charis (“graça”), é m elhor 
definido co m o exp ressão con creta da graça 
d e D e u s . E sta g ra ça se re fe re a a lg o tão 
v a sto q u a n to a o b ra d e D e u s e m C risto 
(e .g ., E f 2 .8 ) o u à p ro v isã o d a v id a e te rn a 
(R m 6 .2 3 ). T a m b ém p o d e expressar, co m o 
aq u i, u m a fo rm a d e g ra ça q u e é in d iv i­
d ualizada p ara q u em a re c e b e . É freq ü en te 
ch am arm o s estas ap tid ões esp iritualm ente 
capacitadas de “dons espirituais” (elas estão 
a listad as e m R m 1 2 ,1 C o 1 2 e E f 4 ; cf. F ee , 
1 9 9 3 , p p . 3 3 9 -3 4 7 ) .
O pronom e indefinido “algum ” (ti) implica 
q u e P au lo n ã o tem em m en te u m “d om 
espiritual” esp ecífico . A com binação de graça 
e a p o sto la d o n o v ersícu lo 5 — u m a a sso ­
c ia ç ã o q u e a ind a estaria so a n d o n o s o u v i­
d o s d o s seu s le ito res — lh es sugeriria q u e 
o d o m esp iritu al q u e e le q u e r d ar re la cio - 
na-se com seu apostolado. Presumivelmente, 
e le q u e r d izer o tip o d e m in istério q u e sua 
cham ad a e autoridade co m o a p ó sto lo para 
o s g en tio s o ca p a c ita a levar a e les . N esta 
carta, e le já está partilhando co m eles o d om 
esp iritu al (cf. F e e , 19 9 4 , pp. 4 8 6 -4 8 9 ).
P au lo a n tec ip a q u e o p artilh am en to d o 
dom espiritual co m eles produzirá um “fruto”
818
ROMANOS 1
(.karpos). E m ou tras p alav ras, e le e sp era 
q u e seu tra b a lh o c o m o s ro m a n o s v e n h a 
a te r o s m e sm o s re su lta d o s q u e e le tev e 
en tre o u tro s g e n tio s , P o is c o m o e le d e i­
x a c la ro , se u m a n d a to é a lc a n ç a r to d o s 
o s g en tio s , q u e r “g re g o s” q u e r “b á rb a ro s” 
(n ã o -g re g o s ), “s á b io s ” ou “ig n o ra n tes”. O 
co n tra s te d o a p ó s to lo aq u i n ã o é a p e n a s 
en tre raças o u g e o g ra fia s , m as ta m b é m 
e n tre c la sse s . A p alav ra “b á rb a ro ” v iera a 
d esign ar, d e m a n e ira d erro g a tó ria , to d a s 
as pessoas do im pério que não eram “gregas” 
e m te rm o s d e e d u c a ç ã o e cu ltu ra . P au lo 
está d ec la ra n d o q u e o e v a n g e lh o é p ara 
to d o s.
P ara q u e n ã o s o e p re s u n ç o s o q u e só 
e le s p re c is e m d o seu m in istério , e le im e ­
d ia ta m e n te q u a lific a c o m e s ta s p a la v ra s 
su a in te n ç ã o d e c la ra d a d e lh e s d a r u m 
dom : “Isto é, para q u e juntam ente con v osco 
e u s e ja c o n s o la d o p e la fé m ú tu a , ta n to 
v o ssa c o m o m in h a ” (v . 1 2 ). É m a is q u e 
u m a m a n e ira c o r tê s d e falar. C o m o seu 
e n s in o e m R o m a n o s 1 2 .3 -8 ilu stra , P a u ­
lo v ê ca d a m e m b ro d o c o r po d e C risto 
a tu a n d o n u m a re la ç ã o m u tu a m e n te d e ­
p e n d e n te . C o lo c a n d o e m p a la v ra s m ais 
s im p les, P a u lo está p o n d o e m p rática sua 
c re n ç a d e q u e o s c re n te s p re c is a m u n s 
d o s o u tro s .
Para resum ir, es ta carta era m ais q u e 
u m a carta d e a p re s e n ta ç ã o p ara o b te r a 
ap ro v ação d e um a co n g re g a çã o cu ja ajuda 
e le p re c isa v a p ara cu m p rir sua m issã o n a 
E sp a n h a . T a m b é m e ra o c o m e ç o d o tip o 
d e ê n fa s e m in isteria l, o u d o m esp iritu al, 
q u e e le te n c io n a v a lev ar a R o m a — sua 
m e n sa g e m da u n id a d e de ju d e u s e g e n ­
tio s em Cristo.
1.4. Tema d a Carta (1 .16,17)
Paulo con clu i sua exten sa abertura da carta, 
n a q u al e le se e sm e ro u e m se a p re se n ta r 
a si m e sm o e a o e v a n g e lh o q u e e le p re ­
ga , c o m u m a d e c la ra ç ã o te m á tica so b re 
a n atu reza d o seu e v a n g e lh o . P o r cau sa 
da o p o s iç ã o q u e su a m e n sa g e m in stig a­
va, ta n to d en tro d e c írcu lo s cris tã o s (c f. 
R m 3 .8 ) q u a n to fo ra , e le p re fa c ia su a 
d ec la ra çã o c o m fo rte a firm ação : “[Eu] n ã o 
m e e n v e rg o n h o d o e v a n g e lh o d e C risto”.
U san d o esta frase, P au lo identifica sua p re­
g a ç ã o c o m o m e sm o e v a n g e lh o d o qual 
Je s u s o rd e n o u q u e seu s se g u id o re s n ã o 
tiv e sse m v e rg o n h a (M c 8 .3 8 ; Lc 9 -2 6 ).
P a u lo n ã o se e n v e rg o n h a d o e v a n g e ­
lh o p o rq u e n ad a m ais é q u e o v e ícu lo d o 
“p o d e r [dynam is] d e D e u s ”, c a p a c ita n d o 
to d o s o s q u e c rê e m a sere m sa lv o s d a ira, 
ta n to a g o ra (c f. v. 1 8 ) c o m o n o te m p o d o 
fim . O e v a n g e lh o , a p ro c la m a ç ã o da o b ra 
d e D e u s em C risto , e fe tu a a sa lv a ç ã o q u e 
d e sc re v e . C o m o afirm a W right: “O e v a n ­
g e lh o [...] n ã o é a p e n a s s o b re o p o d e r de 
D eu s q u e salva p e sso a s . É o p o d er d e D eus 
em a ç ã o p ara salvar p e sso a s” (1 9 9 7 , p. 6 l ) . 
Q u an d o o ev a n g e lh o é p reg ad o , vicias são 
to ca d a s e tra n sfo rm a d a s p e lo p o d e r d e 
D eu s.
A o rd em d e sa lv a çã o d ada a o térm in o 
do versículo 16: “Primeiro do judeu e tam bém 
d o g re g o ”, re fle te a p rim azia d o s ju d eu s 
c o m o p o v o e sco lh id o d e D eu s. A o rd em 
ap arece neste con texto não tanto co m o um a 
d ec la ra çã o d e p riorid ad e, m as c o m o um a 
p ro c la m a çã o da a b ra n g ê n c ia d o e v a n g e ­
lho . D ito d e outra m an eira , P au lo está d i­
zen d o q u e e ste é o m e io e x c lu s iv o d e sa l­
v ação para judeus e gentios. O q u e e le quer 
d izer c o m isso ficará ev id en te na carta: A 
lei já n ã o é u m fa to r na e q u a ç ã o d a ju stiça .
O versículo 17 discon'e sob re o q u e tom a 
o e v a n g e lh o o p o d e r d e D e u s . R e v e la “a 
ju stiça d e D e u s ”, e m o u tras p alav ras, sua 
ativ id ad e sa lv ad ora . O c o n c e ito d a ju sti­
ça d e D e u s n a s cartas d e P a u lo te m sid o 
en ten d id o de m uitas form as p e lo s c o m e n ­
taristas d o N ovo T esta m en to (v e ja W right, 
1 9 9 7 , p p . 1 0 0 -1 1 0 ) . A v isã o co m u m e n ­
co n trad a n o s escrito s d a R efo rm a e ra q u e 
a ju stiça cie D e u s se re fe re a um a ju stiça 
q u e r e c e b e m o s d e D eu s. E m o u tras p a ­
lavras, é su a ju stiça a n ó s im p u tad a . Em 
co n tra s te , a v isã o assu m id a p o r m u ito s 
e s tu d io so s d e h o je é q u e a c o m p re e n s ã o 
d e P a u lo r e f le te o c o n c e i to d o A n tig o 
T e sta m e n to d a ju stiça d e D eu s, o q u e p õ e 
ênfase em D eu s agir fielm ente n o co n ce ito . 
E m o u tras p a lav ras, a re v e la ç ã o d a ju sti­
ça d e D e u s n o v e rs íc u lo 17 s ig n if ic a a 
re v e la ç ã o d e su a ativ id ad e sa lv ad ora .
H á o u tro a s p e c to d a ju stiça d e D eu s. 
E m b o ra a tô n ica d a fra se e s te ja n a ativi-
819
ROMANOS 1
A perseguição neroniana 
movida em 64 d.C. foi uma 
tentativa transparente feita 
pelo imperador para culpar 
os cristãos pelo grande 
incêndio que destruiu grande 
parte da cidade de Roma. A 
populaça culpava Nero e 
lamentava por aqueles que 
eram injustamente torturados 
na arena (cf. Tácito, A na is).
Roma
nos D ias de Paulo
Em termos de importância política, posição 
geográfica e magnificência cabal, a cidade 
superlativa do império era Roma, a capital.
Situada numa série de contrafortes protuberantes 
e eminências baixas (os “sete montes") 
a leste de uma curva do rio Tibre, a uns vinte 
e oito quilômetros do Mediterrâneo, Roma j
era célebre por seus impressionantes edifícios a
públicos, aquedutos, banhos, teatros e vias públicas, 
muitas das quais ligavam províncias distantes.
A cidade dos cristãos do século I tinha se expandido muito 
além dos seus muros sérvios do século IV a.C. e permanece 
sem muros, confiante de sua grandeza.
As características mais proeminentes eram o monte 
Capitolino, com templos para Júpiter e Juno, e o vizinho 
Palatino, adornado com palácios imperiais, incluindo a 
"Casa Dourada" de Nero. Ambos os montes davam vista ao 
Fórum Romano, o ponto central do império.
Alternativamente descrito como a gloriosa aquisição culmi­
nante do gênero humano e como o esgoto do universo, onde
a escória de todo canto do império se reunia, Roma 
tinha razões para ter orgulho cívico por causa de sua arquite­
tura e vergonha por atordoantes problemas sociais urbanos, 
não diferentes dos das cidades dos dias modernos.
O apóstolo Paulo entrou na cidade pelo sul, pela Via Ápia. 
Primeiramente ele morou sob prisão domiciliar e, mais tarde, 
após um período de liberdade, como prisioneiro condenado no 
calabouço Mamertime, próximo do Fórum. Extraordinariamente, 
Paulo pôde proclamar o Evangelho entre todas as classes de 
pessoas, do palácio à prisão. De acordo com a tradição, ele foi 
executado em um ponto da Via Óstia, fora de Roma, em 63 d.C.
820
ROMANOS 1
d a d e sa lv ad ora d e D e u s , o p la n o d e fu n ­
d o d o A n tig o T e sta m e n to n o s a d v erte a 
n ã o esta b e le ce rm o s u m a sep a ra çã o m uito 
ríg id a en tre o q u e D eu s faz e o resu ltad o 
d e su a a ç ã o . N o A n tig o T e s ta m e n to , a 
fidelid ad e d e D eu s ao c o n c e ito é exp ressa 
p o r su a a ç ã o em m a n ter a re la çã o q u e E le 
in icio u co m o seu p o v o . A ju stiça d e D eu s 
resu lta e m re la çã o . A ju stiça d e D e u s q u e 
está s e n d o rev e la d a é su a a tiv id ad e em 
c o lo c a r h o m e n s e m u lh e re s n u m a re la ­
ç ã o c o m E le e em su sten ta r e ssa re la çã o 
p o r sua g raça (v e ja D u n n ; M o o ).
C o m o d ev e m o s e n te n d e r a re v e la ç ã o 
da ju stiça d e D eus? O q u e está s e n d o re ­
v elad o ? E stá d e a c o rd o co m o p la n o sa l­
v a d o r d e D e u s e m Je s u s Cristo? C o m c e r ­
te z a o b se rv a m o s o p la n o d e fu n d o p ara 
esta v isã o n o s e scrito s a p o c a líp tic o s ju ­
d a ic o s , q u e m o stra m D e u s r e v e la n d o 
a s p e c to s d o seu p la n o p ara o h o m em e a 
terra , fa to q u e n ã o p o d eria se r c o n h e c i­
d o d e o u tro m o d o . A lg u ém p o d e ria fa ­
zer b o m a rg u m en to afirm an d o q u e o q u e 
está s e n d o re v e la d o é o m o d o d e sa lv a ­
ç ã o em C risto , q u e d esv ia c o m p le ta m e n ­
te a le i e é re c e b id o so m e n te p e la fé.

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