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ROMANOS V an Johnson INTRODUÇÃO 1. Autor A fim d e re a lça r n o ssa le itu ra d e R o m a n o s , a lg u m as q u e s tõ e s p e rtin e n te s s o b re o a u to r — P au lo , o a p ó s to lo ju d e u p ara o s g e n tio s — s e rã o tratad as b re v e m e n te : a ) A C ham ada d e Paulo “C ristian ism o n ã o é re lig iã o ; é re la ç ã o ”. Eis a d e c la ra ç ã o fav o rita d o s p ro te s ta n tes. P au lo n ã o teria n en h u m a q u ere la co m esta caracterização da vida cristã, v isto q ue, p ara e le , o c r is tia n ism o e ra in te n sa m e n te p e s s o a l . O q u e m a is e s p e r a r ía m o s , considerando a natureza de sua “conversão”? E le n ã o fo i g a n h o e m m e io a d e b a te s ou p o r o u v ir te s te m u n h o s d e c re n te s . N em a o v e r E stê v ã o s e r a p e d re ja d o p o r su a fé a c o n v ic ç ã o d e P au lo s o b re o c r is tia n is m o fo i m u d a d a (A t 7 .5 4 — 8 .1 ) . E le fo i su rp re en d id o p e lo p ró p rio Je s u s , q u e o e n fre n to u n a e stra d a d e D a m a sc o , e o ch a m o u (A t 9 -1 -9 ). P o r c o n se g u in te , e le se ca ra cte riz a c o m o “ch a m a d o [.. J a p ó s to lo ” e “serv o d e je s u s C risto ” (R m 1 .1 ). O p a ssa d o ju d a ico d e P a u lo já o tin h a predisposto a v er a fé em term os relacionais. E m n e n h u m lu g ar isto é m ais ev id e n te d o q u e n a id éia d o c o n ce rto . D e u s en tro u em c o n c e r to c o m A b raão , o u se ja , E le e s ta b e le c e u u m a re la ç ã o c o m A b ra ã o a fim d e criar p a ra si m e sm o u m p o v o . O c o n ceito do A ntigo Testam ento acerca da justiça d e D eu s, q u e é o te m a m ais im p o rta n te d e R o m a n o s, d iz re s p e ito à m a n e ira p e la qual D eus age para cum prir os term os desta r e la ç ã o e s ta b e le c id a p e lo c o n ce rto . Isra e l tin h a d e re s p o n d e r e m a m o r e o b e d i ê n c ia à q u E le q u e n ã o só d eu in íc io à re la çã o , m as ta m b é m a m a n te v e m ed ia n te su a ju stiça . E ste e n te n d im e n to re la c io n a i da fé fo i in te n s ifica d o p o r P a u lo q u a n d o e le e n c o n tro u o C risto v iv o . O fa to d e e ssa v e r dade d o evangelho ter v indo a Paulo através d e u m e n c o n tro p e sso a l, a fe to u a m a n e i ra p e la q u a l e le m ais tard e a d e sc re v e . C item o s e x e m p lo s d e c a d a s e ç ã o d e R o m a n o s: • O tema supram encionado da justiça de D eus (e .g ., Rm 1.17) enfatiza os atos salvadores de Deus para trazer as pessoas em relação com Ele (e .g ., Rm 3.21-31). • A ira de D eus cai sobre os que re je i tam a relação que Ele o ferece (Rm 1.18- 23; 2 .4 ,5 ). • A paz com Deus (Rm 5.1), que é resul tado da justificação pela fé, refere-se à restauração da relação entre a huma nidade e Deus. • Paulo d escreve que a vida está relaci onada com Adão ou com Cristo (Rm 5.12-21). • Nossa relação com Cristo é tamanha que -nós, na verdade, tomamos parte em sua vida de certo m odo que vai além da natureza das relações humanas — nós m onem os com Cristo e ressuscitaremos com Ele (Rm 6.2-10). • O Espírito que habita em nós faz com que a presença de Jesus se torne real para nós(Rm8.9,10). Fomos adotados no povo de Deus, e essa adoção nos é confirma da pelo testemunho do Espírito (Rm 8.14- 17) e garantida pela obra salvadora de Deus e de Cristo (Rm 8.31-39). • A seção parentética da carta com eça com a premissa de que vivemos nossa vida ' em resposta à misericórdia de Deus (Rm 12.1,2). • A seção parenética também descreve como nossa relação com Deus e Cristo será vivenciada em nossas relações com as pessoas (Rm 12.3— 15.13). Em outras palavras, vivemos em resposta à rela ção que Ele graciosam ente iniciou. A c h a m a d a d e P a u lo n ã o fo i s ó p e s so a l, m a s ta m b é m e s p e c íf ic a : E le t in h a d e s e r a p ó s to lo p a ra o s g e n tio s (R m 1 .5 ; cf. G l 1 .1 5 ,1 6 ). E m bora P e d ro ,Jo ã o e T iago t iv e s s e m r e c o n h e c id o q u e P a u lo fo ra ch a m a d o p a ra e s te t ip o d e m in is tér io (G l 805 ROMANOS ■ C R O N O L O G IA D A V ID A D E P A U L O 5 d.C. N a sc im e n to d e S a u lo e n tre 6 a.C . e 10 d .C .. m as p ro v a v e lm e n te e m c e rca d e 5 d .C . (b a s e a d o n o s te rm o s " jo v e m ” [At 7.581 e “v e lh o ” [Fm 91) 35 M artírio d e E stê v ã o (At 7 .5 7 -6 0 ) C o n v e rsã o d e S au lo (At 9 .1 -1 9 ) 3 5 -3 8 A v iag em p e la re g iã o á ra b e (G l 1 .1 7 ) e n c a ix a -s e c o m At 9 -23 , d u ra n te o s “m u ito s d ia s” 38 V isita d e d u as s e m a n a s a Je ru sa lé m (At 9 .2 6 -2 9 ; G l 1 .1 8 ,1 9 ) 3 8 -4 3 M in istério na S íria e C ilícia (A t 9 .3 0 ; G l 1 .2 1 ) 4 3 C h e g a d a a A n tio q u ia da Síria (At 1 1 ,2 5 ,2 6 ) 43/ 44 V isita cia fo m e (A t 1 1 .2 7 -3 0 ; 12 .25 ; G 12 ,l-10 [?]); a m o rte d e H ero d es, q u e o c o rre u e m 4 4 d .C ., está in te rca la d a e n tre as v ia g e n s para e d e je r u s a lé m (A t 1 2 .1 9 -2 3 ) 4 6 -4 8 P rim eira V ia g e m M issio n ária (A t 13-2— 1 4 .2 8 ) 48/ 49 E scrita d e G ála tasO ) e m A n tio q u ia da Síria 49/ 50 C o n fe rê n c ia d e je r u s a lé m (At 1 5 .1 -2 9 ; G l 2 .1-10[?]) 5 0 -5 2 S e g u n d a V ia g e m M issio n ária (A t 1 5 .4 0 — 1 8 .2 3 ) 51 E scrita d e 1 T e ss a lo n ic e n s e s e m C o rin to 51/52 E scrita d e 2 T e ss a lo n ic e n s e s e m C o rin to 51/ 52 C o m p a re çM lé n to p e ra n te G á lio (A t 1 8 .1 2 -1 7 ) 51/52 E scrita d e G á la ta s(?) e m C o rin to 52 R e to rn o a Je ru sa lé m e A n tio q u ia d a Síria (A t 1 8 .2 2 ) 53 E scrita d e G á la ta s(?) e m A n tio q u ia d a Síria 5 3 -5 7 T e rce ira V ia g em M issio n ária (At 1 8 .2 3 — 2 1 .1 7 ) 5 3 -5 5 E m É fe so (A t 1 9 .1 — 2 0 .1 ) 55 E scrita d e 1 C o rín tio s em É feso 55 E scrita d e 2 C o rín tio s na M a ce d ô n ia 57 E scrita d e R o m a n o s e m C e n cré ia o u C o rin to 57 P risão em Je ru s a lé m (.At 2 1 .2 7 — 2 2 .3 0 ) 5 7 -5 9 E n c a rce ra m e n to c e s a re n o (At 2 3 .2 3 — 2 6 .3 2 ) 59 V iagem n áu fraga p ara R om a (A l 2 7 .1 — 2 8 .1 6 ) 59-61/ 62 P rim eiro e n c a rc e ra m e n to ro m a n o (A t 2 8 .1 6 -3 1 ) 6 0 Escrita d e É fe s o em R om a 60 E scrita d e C o lo ss e n s e s e m R om a 6 0 E scrita d e F ilem o m em R om a 61 E scrita d e F ilip en se s em R om a 6 2 So ltu ra d o e n c a rc e ra m e n to ro m a n o 6 2 -6 7 Q u arta V ia g em M issio n ária in c lu in d o o m in istério em Creta (T t 1 .5) 6 3 -6 6 Escrita d e 1 T im ó te o e T ito e m F ilip os 67/ 68 S e g u n d o e n c a rc e ra m e n to ro m a n o (2 T m 4 .6 -8 ) 67/ 68 E scrita d e 2 T im ó te o n o c a la b o u ç o d e M am ertim e (2 T m 1 .6 -8 ) 806 ROMANOS 2 .9 ) , su a m e n s a g e m a o s g e n tio s a c e r c a d a l ib e rd a d e e m C risto , se m c o n s id e r a ç ã o d a s o b s e r v â n c ia s ju d a ic a s , su sc ito u a c r ít ic a d e ju d e u s d e d e n tro e d e fo ra d a Ig re ja . E m c o n s e q ü ê n c ia , n o tra n s c u rs o d a re d a ç ã o d e d e R o m a n o s , P a u lo e s m e ra -s e e m d e fe n d e r a n a tu re z a d o s e u a p o s to la d o ( e .g . , v e ja Rm 1 .1 -6 ) . O a p ó s to lo a firm a s e u a m o r p o r s e u p o v o (R m 9 .1 -3 ; 1 0 .1 ), e ta m b é m d e s c o b r e q u e e le v ê su a m is sã o g e n t ia c o m o m e io d e in stig ar o c iú m e d o s ju d e u sp ara q u e e le s se c h e g u e m a C ris to (R m 1 1 .1 3 -1 5 ) . b) A Escatologia A pocalíptica de Paulo. O p o n to d e v ista e s c a to ló g ic o (o te rm o escatológico te m a v e r c o m o s fin s d o s te m p o s ) d e P a u lo fo i fa to r d e c is iv o na fo rm a ç ã o d e su a te o lo g ia . H á p o n to s d e s e m e lh a n ç a e n tr e su a e s c a to lo g ia e a e sc a to lo g ia a p o c a líp tic a , a q u a l g a n h o u m e rec id a fam a n o s c írcu lo s ju d a ico s d o s é c u lo II a .C . e p e rm a n e c e u in flu e n te a té o c o m e ç o d o s é c u lo II d.C . N ão há e sp a ç o p ara d ar um tra ta m en to p le n o a o tó p ic o d a e sc a to lo g ia a p o c a líp tic a , m as a l g u n s d e seu s a s p e c to s e su a re la ç ã o c o m as id é ia s p au lin a s se rã o b re v e m e n te d e lin e a d o s aq u i. A escatologia apocalíptica acentuava que o fim d o s tem p o s traria a so lu çã o p ara os in fo rtú n io s d e Israel. A o con trário d e u m a v isã o te o ló g ic a p ro e m in e n te n o A n tigo T esta m en to , a q u al ten d ia a v er a e la b o ra ç ã o d as re co m p e n sa s e p u n içõ e s d e D eu s d en tro d o cu rso da h istória , a e sca to lo g ia a p o c a líp tic a e ra m a is in c lin a d a a v e r a con cessão da justiça divina n o m undo porvir. C ertam ente esta v isão da vida ap ó s a m orte tinha suas raízes n o A ntigo Testam ento (e .g ., Is 2 6 .1 9 ; D n 1 2 .1 ,2 ), m a sm u ita sd a s id éias q u e cerca v a m a n atu reza da v id a ap ó s a m orte foram debatidas e d esenvolvidas por escrito res a p o ca líp tico s. E les escrev era m so b re a e sp era n ça futura para co n fo rtar os o p rim id o s e ex o rtá -lo s a p e rm a n e ce r fiéis (c f. Rm 5 .3 -5 ; 8 .1 8 -2 5 ; 1 3 .1 1 -1 4 ). E m p ar ticular, era sua ênfase n o im inente fim deste m u n d o q u e d eu a o s seu s escrito s tal p o d er de co n so la r e en co ra jar. E m q u a s e to d o s o s e sc r ito s a p o c a líp tico s ju d a ic o s o ju lg a m e n to fin a l figu ra p r o e m in e n te m e n te c o m o o m o m e n to q u an d o a ju stiça d e D eu s é im posta. N essa é p o c a , o s ju s to s ser ia m re c o m p e n s a d o s e o s p e c a d o re s , p u n id o s . O ju lg a m e n to seria o m om ento d e vindicação para aqueles q u e fo ra m fié is a D e u s , q u a n d o o m u n d o in te iro v e ria q u e m era m e q u e m n ã o era m o s v e rd a d e iro s ju sto s (c f. R m 8 .1 9 ) . A ênfase d e Paulo na justificação q u e ocorce n o ju lg a m e n to c o r re s p o n d e a e s ta v isã o (R m 3 .2 0 ; 5 .9 ,1 0 ,1 9 ; c f. ta m b é m Is 4 5 .2 5 ; 5 0 .8 ,9 ) . N e sse te m p o , o ju iz d iv in o dará su a d e c is ã o s o b r e q u e m é a b s o lv id o e q u em é con d en ad o. Isto significa q u e ainda q u e s e p o s sa d iz e r q u e a ju s t if ic a ç ã o se ja a lg o q u e já o c o r re u p a ra o c re n te (R m 5 .1 ) , é a p e n a s u m b e n e f íc io p re s e n te , p o rq u e te m -s e a g a ra n tia d e q u e é u m a re a lid a d e fu tu ra . O d u a lism o é o u tra c a ra c te r ís tica da c o sm o v isã o a p o c a líp tic a . A re a lid a d e é d escrita e m u m a d e d u as fo rm a s: H á um m u n d o p re s e n te e u m m u n d o porvir, e h á s o m e n te d o is tip o s d e p e sso a s — os p e c a d o re s e o s ju sto s. S e m e lh a n te a isto , P au lo a rg u m en tará q u e o in d iv íd u o está e m A d ão o u e m C risto (R m 5 .1 2 -2 1 ) , está so b o p o d e r d o p e c a d o o u v iv o e m Cris to (R m 6 .1 -2 3 ) e e stá n a c a rn e o u n o E s p írito (R m 8 .1 -3 9 ) . M as é em te rm o s d e d u a lism o te m p o ral, a d iv isã o e n tre esta era e a p ró x im a , q u e a e sc a to lo g ia d e P a u lo d ifere d a c o n c e p ç ã o a p o c a líp tic a p op u lar. P ara P au lo , a era fu tu ra já irro m p eu n a era p re se n te . A té à V ind a d o Senhor, v iv em o s n a s o b r e p o s içã o de eras. Sua c o m p re e n sã o da obra d e C risto o lev a a m o v e r o c o m e ç o da era fu tu ra p a ra o presen te . E m b o ra a c o n c lu s ã o da o b ra sa lv a d o ra d e D e u s v e n h a a se d ar n o final d esta era , a m o rte e re s s u rre içã o d e C risto fo rn e c e m b e n e f íc io s im ediatos. P or cau sa da sua m orte, aq u eles q u e e s tã o e m C risto já sã o sa lv o s: E les m o rrera m p ara o p e c a d o e e s tã o n u m a n o v a re la ç ã o c o m D e u s . P o r c a u s a da ressu rre içã o , a q u e le s q u e e s tã o e m C ris to já e x p e r im e n ta m a lg o d o p o d e r da re ssu rre içã o n o m e io d e u m m u n d o q u e agon iza (Rm 5— 6). Esta v isão d e duas eras 807 ROMANOS é co m u m e n te ch a m a d a estru tu ra e sc a to - ló g ic a “já , m a s a in d a n ã o ”. E m o u tra s p a lav ras, a o b ra d e D e u s d o fim d o s te m p o s já c o m e ç o u , m as n ã o estará c o m p le ta a té q u e a e ra n o v a c h e g u e , q u a n d o a atu al term inar. c) A Visão que Paulo Tinha da Lei. U m a d as re v o lu çõ e s p rim árias n o s estu d o s d o N ovo T e sta m e n to d u ran te as ú lti m as d é ca d a s é u m a n o v a v isã o d o Ju d a ísm o d o S e g u n d o T e m p lo e o p a p e l q u e a le i d e se m p e n h a v a n e le . A c o m p re e n s ã o a n te rio r d o ju d a ísm o c o m o re lig iã o d e o b ras-ju stiça fo i g ran d em en te a b a n d o n ad a . E m b o ra e s ta re a v a lia ç ã o d o ju d a ísm o ten h a c o m e ça d o m ais n o in íc io d este s é c u lo , fo i o livro P a u l a n d P alestinian Ju d a ism (P a u lo e o Ju d a ís m o P a le s tin o ), d e E. P. S a n d ers (1 9 7 7 ) , q u e c o lo c o u a eru d içã o cio N o v o T e sta m e n to n u m n o v o cu rso . Sand ers a rg u m en to u q u e p o d e m o s analisar um a religião o lhando co m o a pessoa en tra e fica n e ssa re lig iã o . E x a m in a n d o o s p rim eiro s e scrito s p a le stin o s , e le c o n clu iu q u e a le i fu n c io n a v a n o ju d a ísm o n ã o c o m o m e io d e o b te r e n tra d a n o c o n certo (salvação), m as co m o m eio d e m anter u m lu g ar d en tro d o p o v o d o c o n ce rto . O s judeus entend eram q u e eles estavam num a re la ç ã o d e c o n c e r to c o m D eu s, p o rq u e D eu s os tinha eleg id o. C on cord antem en te , a o b se rv â n c ia da le i era v ista c o m o re s posta à iniciativa graciosa d e D eus. Sanders tip ificav a e s te p a d rã o d e re lig iã o c o m o “n o m ism o d e c o n c e r to ”. Esta n ã o era um a re lig iã o le g a lis ta , s e e n te n d e rm o s q u e le g a lism o é u m sis tem a n o q u al o fav o r d e D e u s é o b tid o p e la s o b ras . O p ro b le m a p ara o in térp rete d e P au lo — e p articu larm en te para o le ito r d e R o m a n o s, o n d e a d iscu ssã o d o ju d aísm o e da lei é essen cia l para o argum ento da carta — é avaliar o q u e e le escrev eu levan d o em co n ta esta n o v a p ersp ectiv a so b re o ju d a ísm o. O p o n to d e vista q u e tem d o m in a d o a e x e g e s e p ro testan te na era da p ó s- R efo rm a é q u e P au lo criticava a c re n ça d e q u e se p o d eria o b te r ju stiça o b se rv a n d o a lei. E m outras palavras, P au lo estava a ta cando o m esm o tipo d e judaísmo que Sanders d em o n stro u q u e n u n ca existiu .V árias s o lu ç õ e s fo ra m p ro p o sta s p ara o d e b a te s o b re P a u lo e a lei: 1) Uma sugestão é que Paulo não entendeu o judaísmo. A dificuldade óbvia com esta idéia é que propõe que nós, no século XX, podem os com preender o que Paulo, um participante, não entendia. 2) Paulo torceu o judaísmo intencionalm en te para diferençar o cristianismo de suas raízes judaicas. Ao representar o judaísmo com o religião de obras-justiça, ele pôde mostrar que a m ensagem de salvação do cristianismo através da graça pela fé é única — e superior. Mas é difícil explicar com o Paulo pensava que esta tática de descri ção enganosa poderia ser bem-sucedida, quando ele escrevia à congregações onde havia judeus. 3) A abordagem mais popular nas últimas décadas é ver o problem a que se acha não em com o Paulo via o judaísmo, mas em com o nós vemos Paulo. De acordo com esta linha de pensamento, a sombra do ensino da Reforma que se avulta em nosso pas sado teo lóg ico fez-nos levar avante um engano do argumento de Paulo contra a lei. Os reform adores interpretavam a crí tica de Paulo ao judaísmo levando em conta a batalha que em preendiam com a Igreja Católica Romana. Assim, eles interpreta vam Paulo com o se ele estivesse discutin do contra o m esm o tipo de sistema religi oso que eles: um sistema no qual as obras estão conectadas com a salvação. Em suma, o judaísmo não ensinava como obter a justiça pelas obras; a Igreja Católica Romana sim. E m b o ra h a ja am p la v aried ad e d e in ter p re ta ç õ e s q u e a d v o g a m q u e a v isã o q u e P a u lo tin h a da le i e d o ju d a ísm o fo i m al- en te n d id a , m u ito s co m p a rtilh a m a id éia d e q u e P a u lo a ta ca v a o ju d a ísm o c a ra c te r iz a d o p e lo “n o m is m o d o c o n c e r to ”. D e s cre v e re i c o m b re v id a d e o a rg u m en to d e u m p ro e m in en te estu d io so d o N ovo T e sta m e n to q u e d e fe n d e essa n o ç ã o . J . D u n n a p re se n ta a rg u m en to s e m seu c o m en tá rio d e R o m a n o s (v e ja esp . p p . lxiii- lx x ii) , m o stra n d o q u e o a ssu n to e m R o m a n o s n ã o é so b re c o m o a p e s so a en tra n o p o v o d o c o n c e r to d e D e u s m ed ia n te ROMANOS a o b s e r v â n c ia d a le i ( o q u e é u m a m á in te rp re ta ç ã o d o ju d a ísm o e d a a b o rd a g e m d e P a u lo a isso ). A n tes, o s ju d e u s advogavam q u e certas obras, ou m arcadores d e c o n c e r to , e ra m crítica s p ara e le s m a n te re m seu lu g ar n o c o n c e r to . E stes m ar c a d o re s d e id en tid a d e serv iam p ara s e p a ra r o s ju d e u s d o re s to d o m u n d o c o m o p o v o esco lh id o d e D eus. Era a o bservân cia destas obras— a circuncisão, as leis dietéticas e a o b se rv â n c ia d o sá b a d o e o u tro s d ias sa n to s ju d a ico s — q u e P a u lo esta v a a ta cand o. O argum ento d e Paulo é este: A gora q u e C risto v e io , o s ju d e u s já n ã o p o d e m p resu m ir q u e a q u e le s q u e o b se rv a m e s sas obras serão d eclarados justos. E m outras p a lav ras, e le s n ã o p o d e m p resu m ir q u e a m e m b re sia n o p o v o d e D e u s lh e s c o n c e d a v a n ta g e m n o ju lg a m e n to s o b re to d as as o u tras n a ç õ e s . 4) Mas há outra abordagem no debate sobre Paulo e a lei, a qual parece preferível: O judaísmo era mais pluralista em seu enten dimento e prática da lei do que o que o conceito de “nomismo de concerto” transmite. Isto não é para disputar a existência de nomistas de concerto do século I , que viam a observância da lei como meio de expressar o amor a Deus, que, por sua graça, os fez seu povo. Mas há razão para questionar se esta visão da lei era universalm ente defendida e praticada, afinal, hoje quase todos os estudiosos concordam que não havia um único tipo de judaísmo no sécu lo I. Ademais, o argumento de Paulo em Rom anos não se em presta facilm ente à interpretação de Dunn, que arrazoava que Paulo estava atacando um sistema no qual fazer as obras da lei estava ficando cada vez mais associado com obseivar certas prá ticas. Das práticas que Dunn identifica como as três principais — a circuncisão, as leis dietéticas e o sábado — só a primeira vem à baila para discussão quando ele argumenta a não observar a lei (cap. 2). A ntes da p u b lic a ç ã o da o b ra re fe re n c ia l d e S a n d e rs e m 1 9 7 7 , a o b ra d e R. L o n g en eck er identificou duas ab o rd agen s à le i n o Ju d a ís m o d o S e g u n d o T em p lo , u m a d as q u a is era o “n o m ista re a g e n te ”. S e m e lh a n te à id é ia d e “n o m ista d e c o n c e r to ” q u e S an d ers a p re se n ta ria e to rn a ria fa m o sa , L o n g e n e c k e r e sc re v e u q u e a re a ç ã o n o m ista era o ju d eu q u e g u ard a va a lei em resposta à m isericórdia d e D eus. M uitas e x p re ss õ e s d o sé c u lo I d o s ju d eu s d evotos m ostram u m entend im ento d e que a graça p reced e as obras, isto é, q u e guardar o c o n c e r to é u m a re s p o s ta a m o ro s a à m iser icó rd ia d e D eu s. H á o u tro s escrito s q u e m o stram o u tra m o tiv a çã o p ara fa z er as o b ra s da le i — p ara obter a ju stiça ou o fav o r d e D eu s (p p . 6 6 -7 0 ) . E sta é a a b o r d a g e m d o “leg a lis ta a g e n te ”. U m a re lig iã o b a s e a d a n a le i c o m o o ju d a ísm o estaria p ro p e n sa a ta is re s p o s tas d iv ersas, m e sm o c o m u m c o rp o im p ressio n an te d e literatura q u e p roclam av a a le i c o m o re sp o sta à g raça . O s p ro te s ta n tes d ev e ria m e n te n d e r isso . A d e s p e i to d o fa to d e q u e a sa lv a ç ã o p e la g ra ça é p ro c la m a d a e m se u s p ú lp ito s , h á u m a te n d ê n cia n a q u e le s q u e o u v e m e a ce ita m a m e n sa g e m a ca ir n o leg a lism o , c o m o se o q u e e le s fa z e m o b tiv e sse o u p re se r v a sse o lu g ar d e le s n o R e in o . Q u a lq u e r fé p o d e d eg e n e ra r e m leg a lism o , p a rticu la rm e n te a q u e la s n a q u a l a le i e c ó d ig o s d e sa n tid a d e sã o cen tra is às e x p r e ss õ e s d e d e v o ç ã o . O e le m e n to c o m u m p a ra o “n o m is ta r e g e n t e ” e o “le g a lis ta a g e n te ” é a g u a r da d a le i, p o r q u a lq u e r m o tiv a ç ã o . P a ra a m b o s , a ju s t iç a e s tá a s s o c ia d a à le i. O a rg u m e n to d e P a u lo e m R o m a n o s tra ta d e a m b o s o s g ru p o s em q u e sep a ra c o m p le ta m e n te a ju stiça das o b ra s da le i, q u e r esta s se ja m e n te n d id a s c o m o o b te n to ra s d e ju s t iç a o u c o m o a re s p o s ta a d e q u a d a à g ra ça d e D e u s . Q u e r d izer, s e u a r g u m e n to é q u e c o m a v in d a d e C risto , o p ap el da le i e m term o s d e ju stiça c h e g o u a o fim (R m 1 0 .4 ) . 2. Destinatários Paulo era som ente u m viajante entre m uitos q u e to m a ra m a re s o lu çã o : “Im p o rta -m e v e r ta m b é m R o m a ” (At 1 9 .2 1 ). R o m a, o cen tro do Im p ério R om ano, atraia visitantes e c o lo n o s d e to d o o im p é rio e a lé m fro n te iras. A c o m p o s iç ã o d o g ru p o d e c re n tes q u e se e n co n tra v a m n a g ra n d e c id a d e re fle tia seu status c o m o c id a d e im p e rial e c o sm o p o lita . D e fa to , as v árias d is 809 ROMANOS t in çõ e s h u m a n a s q u e P a u lo d ec la ra v a in v á lid as e m C risto — “n ã o há ju d eu n e mg re g o ; n ã o há serv o [escravo] n e m livre; n ã o há m a c h o n e m fê m e a ” (G l 3 .2 8 ) — descrevem habilm ente a audiência d e Paulo. P o r e x e m p lo , ju lg a n d o p e la alta p o rc e n ta g e m d o s q u e e m R o m a tin h a m s id o e sc ra v o s , o u a in d a o eram , e p e la q u a n tid a d e d e n o m e s d e e sc ra v o s q u e a p a re c e n a lista d e c re n te s ro m a n o s n o ca p ítu lo 16 , o con tin g en te cristão d os q u e tinham fo rm ação escrava era bastan te grande (veja o s c o m e n tá r io s s o b re Rm 6 .1 5 -2 3 ) . O p r im e iro c o n t in g e n te d e c r e n te s ro m an o s era p red o m in an tem en te judaico . C o m o e ra o p a d rã o e m o u tro s lu g a re s, o e s ta b e le c im e n to d e u m a ig re ja cris tã a c o n te ce u d en tro da com u n id ad e judaica. S a b e m o s p o r A tos q u e a m issã o cristã fo i c e n tra d a in ic ia lm e n te n a s in a g o g a s e m p re e o n d e q u e r q u e fo ss e p o s s ív e l (e .g ., A t 1 1 .1 9 -2 1 ; 1 3 -5 ,1 4 ) . D o e s tim a d o u m m ilh ã o d e p e s so a s q u e m o rav a e m R om a n o s é c u lo I d .C ., a lg o e n tre q u a re n ta e c in q ü e n ta m il e ra m ju d e u s . D a s e v id ê n c ia s d a s c a ta c u m b a s ju d a ica s e m R o m a, a p op u lação judaica foi segregada em várias c o m u n id a d e s , c a d a q u a l se cen tra liz a v a n u m a s in a g o g a lo c a l e tin h a se u p ró p r io c o rp o a d m in istra tiv o (S ch ü rer, v o l. 3, PP- 9 5 -9 6 ) . E ste e ra o a m b ie n te n o q u a l o c r is tia n ism o flo r e s c e u e m R o m a. O s c r is tã o s- ju d eu s prim itivos teriam p e rm a n e cid o as s o c ia d o s às suas s in a g o g a s lo ca is , e m d e c o rrê n c ia d as v árias ig re ja s fo rm a d a s nas c a sa s d o s c re n te s , q u e te r ia m c re s c id o e m v o lta d o b a irro ju d a ic o . E ste le g a d o a in d a é e v id e n te q u a n d o P a u lo e sc re v e a o s R o m a n o s . Na sa u d a ç ã o a o s c re n te s em Rom a ele identifica vários agrupam entos d e p e s s o a s q u e p re su m iv e lm e n te re p re se n ta m ig re ja s q u e se re u n ia m em c a sa (R m 1 6 .5 ,1 0 ,1 1 ,1 4 ,1 5 ) . O fa to d e q u e n ã o havia um co rp o d e cren tes em R om a p o d e e x p lic a r a ra z ã o d e P a u lo n u n c a se re fe rir a o s c re n te s ro m a n o s c o m o ig re ja . A d e sp e ito da tra d içã o da ig re ja p rim i tiva. P e d ro n ã o e s ta b e le c e u a igre ja ro m an a. N ão h á e v id ên cia b íb lica q u e a p ó ie es ta te o r ia . A to s n o s le v a a c re r q u e o m in istério d e P ed ro p e rm a n e ce u cen trad o e m Je ru s a lé m d u ran te o te m p o e m q u e o c r is tia n ism o c o m e ç o u a p e n e tra r a c id a d e im p eria l n o p e r ío d o d e p o is d o P e n te - co s te s . A lém d isso , se P e d ro tiv esse fu n d a d o a ig re ja , e n tã o se e sp era ria a lgu m a re fe rê n c ia d e P a u lo a e le . O a p a re c im e n to d o c r is tia n ism o e m Rom a foi p recedid o p or relatórios de judeus q u e v ia ja v a m d a Ju d é ia a R o m a s o b r e o q u e fo i d ito e fe ito p o r Je s u s d e N azaré . O u tro ss im , h av ia o s ju d e u s ro m a n o s e m Je ru s a lé m , q u e c e le b ra ra m o P e n te c o s - tes logo ap ós a crucificação d e je su s . Alguns d e le s te s te m u n h a ra m o re su lta d o d e o E sp ír ito S a n to te r v in d o s o b r e o s c e n to e v in te c re n te s (A t 1 .1 5 ; 2 .1 -4 ,1 0 ,1 1 ) , e e le s c o m c ertez a teriam in fo rm a d o o q u e v iram e o u v ira m q u a n d o v o lta ra m p a ra c a sa . R e a lm e n te , p o d e te r h a v id o a lg u n s judeus ro m an o s en tre os três m il q u e foram batizados em resp osta a o serm ão d e P ed ro n a q u e le d ia (A t 2 .4 1 ) . E m to d o c a s o , n ã o d e m o ra r ia a q u e o u tro s ju d e u s q u e c re - ram e m C risto v ia ja sse m a R o m a. É q u a se c e r to q u e fo i a ss im q u e a c o m u n id a d e cris tã fo i e s ta b e le c id a n a ca p ita l. Isto n ã o q u e r d izer q u e a p rim eira fa se d o cristianism o foi co m p le tam en te judaica ou q u e p e rm a n e ce u p rin c ip a lm e n te ju d a ica p o r m u ito te m p o . L igados às s in a g o g a s esta v a m o s g e n tio s a tra íd o s a o ju d a ísm o . E stes “te m e n te s a D e u s ” estari- am ab erto s a o e v a n g e lh o p o rq u e estav am lig ad o s c o m a fé ju d a ica e p ro c la m a v a m a a c e ita ç ã o p o r D e u s sem to d a s as e x i g ê n c ia s da lei. N os d ias e m q u e P a u lo e sc re v e u R o m a n o s, as igre jas q u e se reu n iam em ca sa esta v a m a ssu m in d o u m c a rá te r ca d a v ez m ais g e n tio . S e e stiv e rm o s c o rre to s em co lo car a data da escrita da carta em m ead os d o s a n o s c in q ü e n ta , e n tã o e ste é o p e r í od o n o qual m uitos judeus, inclusive cristãos, e sta v a m v o lta n d o a R o m a e te n ta n d o re in te g ra r-se n a s o c ie d a d e ro m a n a . E m 49 d .C ., o im p e ra d o r C láu d io tin h a d e c re ta d o q u e o s judeus fo ssem exp u lso s d e Rom a p o r c a u sa d e d is tú rb io s n o b a irro ju d a i co . C o m o o h is to r ia d o r ro m a n o S u e tô n io e sc re v e u se te n ta a n o s d e p o is d o e v e n to , “p o rq u e o s ju d e u s d e R o m a esta v a m se e n tre g a n d o a c o n sta n te s re v o lta s so b 810 ROMANOS a in s tig a çã o d e C resto , e le o s e x p u lso u da c id a d e ” (.Cláudio). V isto q u e é a m p la m e n te c rid o q u e “C re s to ” s e ja a lu sã o a “Cristo”, a perturbação provavelm ente tinha a lg o a v e r c o m a o p o s iç ã o e n tre c e r to s ju d eu s à m e n sa g e m d o e v a n g e lh o . A tos 1 8 .2 reg istra q u e d o is d o s ju d e u s e x p u l so s fo ram Á qüila e Priscila. O d ecre to teria c a d u ca d o c o m a m o rte d e C láu d io e m 54 d .C ., se n ã o a n tes , e assim o s ju d e u s p re d isp o sto s a voltar teriam co m e ça d o a fazê- lo . U m d o s d esa fio s q u e P a u lo e n fre n to u nesta carta era tratar d o p ro b lem a q u e estes judeus cristãos teriam tido ao voltar a igrejas q u e tinham se tornad o m en o s judaicas co m a a u s ê n c ia d ele s . 3. Data e Lugar É m u ito m ais s im p les e s ta b e le c e r o lugar da carta d e R o m an o s d en tro da vida e obra d e Paulo d o q u e ser e sp ec ífico so b re a data e m q u e a carta fo i e scrita . H á um c o n s e n so geral d e que a escrita d e R om anos ocorreu e m a lgu m te m p o e m m e a d o s a fins d o s a n o s c in q ü e n ta . H á u m a c o rd o m u ito d ifu n d id o d e q u e P a u lo esta v a e m C o rin to q u a n d o e le d i to u R o m a n o s a T é rc io (R m 1 6 .2 2 ). P au lo estav a n a re g iã o da M a ced ô n ia e A caia n a é p o c a d a e scrita , v isto q u e e le tin h a a c a b a d o d e fa z e r a c o le ta p ara o s sa n to s d e Je a is a lé m d as igrejas d aq u ela reg ião , m as a in d a n ã o tin h a c o m e ç a d o a v ia g e m a Je ru sa lé m (R m 1 5 .2 5 -2 8 ) . A lém d isso , a l g u m as d as p e s so a s q u e e le m e n c io n a n a lista d e sa u d a çõ e s su g e re m q u e e le e s ta va e m C o rin to q u a n d o escre v e u. 1) Febe, a m ensageira que levou a carta de Paulo para Roma, era diaconisa em Cencréia — o porto oriental de Corinto, a uns onze quilômetros de distância (Rm 16.1,2). 2) Gaio, o anfitrião de Paulo na época da escrita (Rm 16.23), pode ser o mesmo Gaio a quem Paulo batizou em Corinto (1 Co 1.14). 3) Erasto, que enviou saudações junto com Gaio para a igreja romana (Rm 16.23), pode ser o indivíduo associado com Corinto em Atos 19.22 e 2 Tim óteo 4.20. Para o intérprete d e R om anos, u m en ten d im e n to d e o n d e e sta carta se e n c a ix a n o c o n te x to d a vida e m in istério d e P a u lo é d e muito m aior importância que um a solução p ara o p ro b le m a d e o n d e e q u a n d o R o m a n o s fo i escrito . A ntes d e e le e sc re v e r esta carta , o a p ó s to lo já e x p re ssa ra ao s co r ín tio s seu d e s e jo d e p re g a r o E v a n g e lh o n as terras a lé m d e le s (2 C o 1 0 .1 6 ) — p resu m iv e lm en te , P au lo q u is d iz er so b re as re g iõ e s m ais a o e s te da A caia . U m a d as ra z õ e s d e P a u lo e sc re v e r à ig re ja ro m a n a é p ara in fo rm á -la d e q u e seu a n tig o d e s e jo está a p o n to d e se co n cretiz a r. Em R o m a n o s 1 5 .1 7 -2 4 , P au lo e x p lica q u e e le já teria id o v ia jar a o e s te , p ara R o m a, m as fo i a tra sa d o p o r c a u sa d e su a m e ta em co m p le ta r sua p re g a çã o à le ste d ele s , isto é, a re g iã o d e Je ru sa lé m a o Ilír ico (p a rte da re g iã o d a e x -Iu g o s lá v ia ) . Q u a n to à p o ssib ilid a d e d e P a u lo ter m in istrad o n o Ilír ico (n ã o m e n c io n a d o e m A tos), o u até às su as fro n te iras , é p o n to d iscu tív el. M as a n te s d e o a p ó s to lo ir a R o m a, e le d e v e te r e n tre g u e a o s sa n to s e m je r u s a lé m a c o le ta q u e e le re u n iu d as ig re ja s p red om inantem ente gentias na M aced ônia e A ca ia (R m 1 5 .2 5 ,2 6 ) . S a b e m o s p e la corresp on d ên cia de Paulo co m os coríntios q u e e le d av a g ra n d e im p o rtâ n c ia a e sta c o le ta (1 C o 1 6 .1 -4 ; 2 C o 8 — 9 ). N ão é su rp re sa q u e e le e s te ja u m p o u c o a n s i o s o a c e r c a d a v ia g e m a Je ru s a lé m a g o ra q u e e s tá im e d ia ta m e n te d ia n te d e le . E le p e d e as o ra çõ e s d o s cren tes ro m an o s para a viagem , porqu e e le tem inim igos n a ju d é ia e p o rq u e e stá a p re e n s iv o d e q u e a c o le ta n ã o s e ja c o n s id e ra d a a c e itá v e l p e lo s s a n to s d e lá. P or trás d e sua p reocu p ação q u e a dádiva das igrejas gentias seja considerada aceitável p o r se u s d es tin a tá rio s e s tá a c o n s ta n te te n s ã o e n tre P a u lo , o a p ó s to lo p a ra o s g e n tio s , e o u tro s c re n te s ju d e u s q u e d is c o rd a v a m d a s p rá tica s m iss io n á ria s d e P a u lo , e le já tin h a e n fre n ta d o o p o s iç ã o dos cristãos ju d eu s q u e estav am cen trad os e m je ru sa lé m (At 15; Gl 2). D e significância a q u i é o fa to d e q u e u m d o s re su lta d o s d o C o n cilio d e Je r u s a lé m :— u m a reu n iã o c o n v o c a d a para d e b a te r a q u e s tã o so b re o q u e o s g e n tio s sã o o b r ig a d o s a fa z e r d e p o is d a c o n v e r s ã o — fo i o re q u is ito d e q u e e le s se le m b ra s se m d o s p o b re s (G l 2 .1 0 ; i .e ., o s p o b re s d e Je ru s a lé m ). A n tes d e P a u lo e m p r e e n d e r n o v a fa se 811 ROMANOS m in is ter ia l, e le e s tá a n s io s o e m cu m p rir essa e x ig ê n c ia e levar a u m en ce rra m en to a d e q u a d o d e se u m in is té r io n o le s te , o fe r e c e n d o u m a e x p r e s s ã o g e n e r o s a da p r e o c u p a ç ã o d as ig re ja s g e n tia s p e lo s irm ã o s ju d e u s . Is to , P a u lo e sp e ra , fixa rá as re la ç õ e s e n tre as ig re ja s d a D iá sp o ra e a Ig re ja e m je r u s a lé m , n u m só lid o fu n d a m e n to a n te s q u e e le d e ix e a re g iã o . Q u a n d o e le e scre v e a o s R o m an o s, n ã o p re sse n te q u e u m d ia e le c h e g a rá a R om a e m ca d e ia s . M as seu re c e io s o b r e a v ia g e m a je r u s a lé m sã o b e m fu n d ad as. C er to s ju d eu s d a Á sia in c ita ra m ta n ta o p o s i ç ã o a P au lo e m je ru sa lé m q u e e le foi p reso e s u b s e q ü e n te m e n te e n v ia d o a C esaré ia co m o prisioneiro para ser ju lgado p o r Félix, o procurador da província rom ana da Ju d éia . P au lo p e rm a n e ce p ris io n eiro e m C esaréia p o r p e lo m e n o s d o is a n o s (At 2 4 .2 7 ), em c u jo te m p o F é lix é su b stitu íd o p o r F esto . P a u lo a p e la a C ésa r q u a n d o c o m p a re c e p e ra n te F e s to e , assim , o a p ó s to lo fin a l m e n te c h e g a a R o m a c o m o p ris io n e iro a e sp e ra d e ju lg a m e n to (A t 2 5 .1 — 2 8 .3 1 ). 4. Ocasião e Propósito A n tes d e d iscu tirm o s p o r q u e P a u lo e s c re v e u R o m a n o s, d e v e m o s e n fa tiz a r q u e R o m a n o s é u m a carta . D e sd e a o b ra de A. D e issm a n n (1 9 1 2 ) , q u e co m p a ro u os d o cu m e n to s d o N o v o T e sta m e n to c o m texto s d o m u n d o g reco -ro m an o , é com u m diferençar entre epístola e carta. U m a epístola é um a com p o sição escrita na form a de carta, m as d ife re n te m e n te d e u m a carta e m si, n ã o trata d as p a rticu la res d e u m a situ a ç ã o lo ca l. A inda q u e R o m a n o s te n h a s e m e lh a n ça m ais p ró x im a d e u m a e p ís to la q u e q u a isq u e r d as o u tras cartas d e P a u lo , é u m a carta . F o i o ca s io n a d a p e la s s i tu ações do apóstolo e da com unid ad e cristã e m R om a. D e fa to , c o m o v e re m o s , a ra z ão p o r q u e R o m a n o s se a sse m e lh a tão d e p e rto a u m a e p ís to la re la c io n a -s e d i re ta m e n te c o m as c ircu n stâ n c ia s d o e s crito r e d o s d estin atário s. N ão h á c o n s e n s o e n tre o s e stu d io so s s o b re o p ro p ó s ito d e R o m a n o s. A c o n fu sã o c o m e ç a c o m P a u lo : E le c ita d ife re n tes razões para escrev er n o co m e ço da carta d o q u e e le faz n o fim . O s e stu d io so s d i fe re m fre q ü e n te m e n te so b re q u al d estas ra z õ e s é o v e rd a d e iro p ro p ó s ito da ca r ta. M as se fo r retirad a a p re su n çã o d e q u e deve hav eru m ú n ico propósito de Rom anos, e n tã o a ta re fa é s im p lif ica d a , P o r q u e d ev e ría m o s p re su m ir q u e P a u lo só tem u m a razão e m m e n te p ara c o m p o r esta carta? A final d e c o n ta s , seu s p ro p ó s ito s d eriv am d e su a s itu a çã o e da d o s c re n te s ro m a n o s. P au lo é u m m ission ário co m asp iraçõ es de futuro trabalho evangelístico na Espanha. As c o n g re g a ç õ e s ro m a n a s q u e se re u n i am em casa são im portantes para o apóstolo, p o rq u e e le q u e r q u e R o m a sirva d e b a s e d e a p o io para este n o v o p ro je to (Rm 15-23- 29). M as P a u lo n ã o te m au to rid a d e a p o s tó lic a s o b r e a c o m u n id a d e ro m a n a d e c re n te s , v is to q u e e le n u n ca m in istro u lá. U m d os p rop ósitos d esta carta é ap resentar seu m inistério e m en sag em . É p or isso que, c o m o o b se rv a m o s a n tes , g ran d e p arte d e R o m a n o s é tã o s is te má tic a . P a u lo e s tá d e se n v o lv e n d o u m a e x p lic a ç ã o lo n g a e ló g ica d e su a m e n sa g em . C o n tu d o , n ã o é u m tratado sistem ático p o rq u e e le n u n ca p e rd e d e v ista sua a u d iê n cia ro m an a . Sua c o n s c iê n c ia d e le s e su as p re o c u p a ç õ e s p a r tic u la re s b ro ta m e m v á rio s p o n to s , m e sm o q u a n d o e le está n o m e io d e u m a rg u m en to e x te n so . P au lo e sp era q u e esta carta v e n h a a ser b e m receb id a e pavim ente o cam in h o para sua c h eg a d a . E le n ã o tem garantia d e u m a recep ção positiva, considerando que a crítica d o seu m in istério e m e n sa g e m c ircu lo u a m p la m e n te e m c o n s e q ü ê n c ia da o p o s i ç ã o d o s ju d e u s. A ssim , esta carta é m ais q u e u m a e x p lic a ç ã o d e sua m e n sa g em ; é ta m b é m u m a d efesa . M as P a u lo te m a lg o m ais e m m e n te d o que apenas usar a igreja rom ana com o ponto d e p artid a o u c o m o s e d e d e seu s e m p re en d im en to s ev an gelístico s alhures. H á um p ro p ó s ito p a sto ra l p o r trás d esta c o r re s p o n d ê n c ia . N o in íc io d a ca rta e le o s in form a d e sua in ten ção em lhes dar um dom espiritual. C o m o será d iscutid o n o c o m e n tário, a carta d e Paulo rep resenta o c o m e ço do seu m inistério apostólico para eles. Paulo está c ie n te da te n sã o en tre cristão s ju d eu s e g e n tio s e m R o m a, e é p o r isso q u e e le 812 ROMANOS se se n te c o m p e lid o a lh e s o fe re c e r o tip o de m inistério para o qual ele, ap óstolo judeu p ara os gentios, fo i cham ad o. Seguram ente e le tem e ssa s itu a çã o e m m e n te e n q u a n to a p re se n ta o s a rg u m en to s n o s ca p ítu lo s 1 a 11 s o b re a ig u ald ad e d e ju d eu s e g e n tio s e m te rm o s d e ju stiça . E e le m o s tra q u e tem c o n h e c im e n to d a te n sã o e n tre e le s q u a n d o a p lica a m e n sa g e m d os cap ítu los 1 a 11 n o s cap ítu lo s 12 a 15, o n d e a re la çã o en tre ju d e u s e g e n tio s é o p o n to fo ca l d este s ú ltim o s ca p ítu lo s. 5. Tema D e sd e a R efo rm a é co m u m id en tifica r a ju s tif ic a çã o p e la fé c o m o te m a d e R o m a n o s e d o c e n tro da te o lo g ia p a u lin a . N ão o b sta n te , isto é e x a g e ra r seu p a p e l em R o m a n o s e su a im p o rtâ n cia p ara o p e n sa m e n to p a u lin o . A ju stific a çã o p e la fé é central a o argum ento de Paulo em R om anos 1 .1 8 a 5 .21 q u e ju d eu s e g e n tio s s ã o igu al m e n te cu lp a d o s d ia n te d e D e u s , c o m o resultado de q u e am bos só p od em ser salvos p e la fé . É c o m b a s e na fé em C risto q u e o in d iv íd u o se rá d e c la ra d o ju sto , o u será ju stifica d o , n o ju lg a m en to . A ju s tif ic a ç ã o p e la fé é u m c o n c e ito d o m in a n te e m só d u as carta s p a u lin a s : R o m a n o s e G álatas. H á u m a ra z ã o p ara isso. A ju stificação é um co n ce ito d o Antigo T e sta m e n to , e é a p licá v e l n e ssa s cartas, p o rq u e a m b a s lid a m c o m a s su n to s d e im portân cia particular para os judeus. P ela m esm a ra z ã o , P a u lo faz u so e x te n s o d e c ita ç õ e s d o A n tigo T e sta m e n to e a lu sõ es e m a m b a s as carta s (v e ja e sp . R m 9— 11, on d e o tóp ico é a justiça de D eus para Israel). Q u a n d o P a u lo se d irige a u m a c o n g re g a ç ã o g en tia , o u p e lo m e n o s um a n a q u al assu n to s ju d a ico s n ã o sã o s ig n ifica tiv o s, e le p re fe re fa la r d e c re n te s c o m o a q u e les q u e e s tã o e m C risto e m v e z d a q u e les q u e fo ra m ju stifica d o s p e la fé. Se p rocurarm os um tem a q u e se so b res sa ia na carta , e n tã o te re m o s o c o n c e ito da ju stiça d e D e u s . D e fa to , a ju stific a çã o pela fé é um asp ecto d este tem a m ais am plo. E m R o m a n o s 1 .1 6 ,1 7 , P a u lo d e lin e ia o a ssu n to da carta : “[No e v a n g e lh o ] se d e s c o b r e a ju stiça d e D e u s ”. O q u e P a u lo faz e m R o m a n o s é d e sc re v e r a n atu reza da ju stiça o u d a o b ra salv ad ora d e D eu s (v e ja co m e n tá r io s e m Rm 1 .1 6 ,1 7 ) . P o d e m o s resu m ir o c o n te ú d o da carta assim : • A justiça de Deus cancela a pena do pecado (Rm 1.18— 5.21). • A justiça de Deus quebra o poder do p ecad o pela m orte de Cristo e pela capacitação do Espírito que habita em nós (Rm 6.1— 8.39). • A justiça de Deus é atuante hoje e no futuro para com seu povo escolhido (Rm 9.1— 11.36). • A justiça de Deus, sua obra salvadora, vivenciada por judeus e gentios igual m ente (Rm 12.1— 15.13). 6. Forma Original de Romanos H á u m a te o ria d e q u e o c a p ítu lo 16 n ã o fa z ia o r ig in a lm e n te p a rte d a c a rta a o s Rom anos. Entre as várias razões dadas para esta posição estão a presença de um a b ên ção a o té rm in o d o ca p ítu lo 15 e o fa to d e q u e o c a p ítu lo 16 c o n té m u m a lo n g a lista d e p e sso a s sau d ad as p o r P au lo , o q u e su gere q u e e ste ca p ítu lo n ã o p o d e ter s id o e s cr ito p a ra R o m a, u m lugar o n d e e le n u n ca estivera. Aigum entou-se que a lista extensa d e c o n h e c id o s in d ica u m a igreja o n d e e le tin h a p a ssa d o um te m p o n o m in istério , co m o É feso . A ssim , a teoria e fésia sustenta q u e o ca p ítu lo 16 e ra u m a carta sep a ra d a e n v ia d a a o s e fé s io s , a q u a l e m a lg u m m o m e n to fo i u n id a à carta ro m an a . C o n tra e sta te o r ia h á m u ito s fa to re s d ec isiv o s. 1) Os vários elem entos contidos no capítulo 16 — saudações, doxologia e notas finais — são típicos da seção final de uma carta escrita por Paulo, e seria surpreendente se Romanos tam bém não os contivesse em sua conclusão. 2) C. H. Dodd (p. 14) observou que quando Paulo escreve para uma igreja ele só saú da indivíduos se está escrevendo a uma assem bléia que não visitou (e.g ., Colos- senses). Ao saudar indivíduos específicos, Paulo estabelece pontos de contato com a igreja. Em outras palavras, estes indiví duos são suas referências pessoais. O fato de Paulo conhecer tantas pessoas que ti nham se mudado para Roma é resultado 813 ROMANOS do status daquela cidade com o destino pri mário dentro do império (“todos os cam i nhos levam a Rom a”), com boas estradas e paz política que facilitam viagens freqüentes de e para a capital. 7. Metodologia A lguns p on tos d ev em ser d estacad os sobre a a b o rd a g e m q u e e stá s e n d o fe ita n e s ta s e ç ã o d o Com entário Bíblico Pentecostal. 1) Num curto com entário com o este, duras decisões devem ser constantemente tomadas em termos do que será e não será incluí do. Rom anos é tão rico em conteúdo que estas decisões são particularmente difíceis, e, é claro, tudo em Rom anos é a palavra de Deus. O leitor deve estar cônscio de que há muitos e bons com entários extensos, que dão m aiores detalhes e explicações sobre todos os assuntos críticos que cer cam determinados textos (veja Bibliogra fia). Minha abordagem é dar a certos ca pítulos mais atenção, por causa (a) de seu papel crítico dentro do argumento da car ta com o um todo, e/ou (b) de sua relevância para a entrada dos cristãos no terceiro milênio. Em particular, os capítulos 3 ,6 a 8 ,1 2 e 14 são tratados mais extensivam ente que os outros. 2) O fato de Rom anos ser uma cartalevanta algumas considerações herm enêuticas. O recurso primário para interpretar Rom a nos é a própria carta. Quando Paulo es creve às congregações em Roma, ele não presume que elas tenham à disposição uma coletânea de suas cartas — este é o seu primeiro contato direto com elas. Ele su põe que o que ele escreve será entendido pelo contexto da carta. O nde eu faço re ferência a tópicos e frases semelhantes nas outras cartas de Paulo, será em benefício da com paração em vez da interpretação. Embora outras cartas nos ajudem em nos sos esforços em com pletar a natureza do pensam ento paulino, a prioridade sempre deve ser interpretar a carta por seus pró prios dizeres. Por exem plo, não devemos pressupor que Paulo argumenta da m es ma maneira em todas as suas cartas, ou que ele usa palavras e frases só de um modo de uma carta para outra. Cartas são docu mentos ocasionais, nos quais o tipo de co m unicação que elas contêm é determina do pelas situações do escritor e destinatá rio. Há outra consideração herm enêutica aqui. Prestarem os atenção à estrutura de Carta aos Rom anos. Há pistas que nos ajudam a determinar as ênfases de Paulo na carta, com o tam bém seu propósito em escrever para Roma (veja com entários de abertura sobre Rm 1.1-17). 3) Este não é um com entário crítico. Não se esm era em se ocupar com extensos argur mentos ou interagir em certa extensão com o mundo da erudição. Procura apresen tar um com entário claro e pertinente so bre a carta de Paulo aos crentes rom anos. Mas para dar ao leitor uma idéia das con trovérsias e debates que estão em circula ção hoje, interagirei em particular com al guns com entários m odernos .e influentes ao longo da exposição. Isto proporciona rá ao leitor um senso das posições várias que estão sendo atualm ente discutidas. Atenção especial será dada aos com entá rios de D. M oo e J. D. G. Dunn, e ao livro God's Empowering Presence (A Presença Capacitadora de Deus), de Fee, que é uma exposição de cada versículo paulino que lida com o Espírito Santo. 4) Em relação ao m étodo de anotação, os números de páginas dos comentários não serão dados se o conteúdo a que se refere aparecer naqueles volumes sob o versículo que estamos discutindo. Quer dizer, se estou explicando Romanos 8.28 e cito Moo, o leitor acha a referência no comentário de Moo no mesmo capítulo e versículo. Os números de páginas serão usados para livros ou para a matéria introdutória nos comentários. ESBOÇO 1. Abertura da Carta (1.1-17) 1.1. Saudação (1.1-7). 1.2. Oração de Agradecimento (1.8-10). 1.3. Primeiro Diálogo de Viagem (1.11-15). 1.4. Tema da Carta (1.16,17). 2. Corpo da Carta: A Justiça de Deus Revelada no Evangelho (1 .18— 15.13) 814 ROMANOS 2.1 . A Justiça de Deus Cancela a Pena do Pecado (1.18— 5.21). 2 .1 .1 . A Situação Difícil da Humanidade sob a Ira de Deus (1.18— 3.20). 2 .1 .1 .1 . A Ira de Deus sobre a Humani dade (1.18-32). 2 .1 .1 .2 . A Ira de Deus sobre os Judeus (2.1— 3.20). 2 .1 .1 .2 .1 . O Julgamento Imparcial de Deus (2.1— 11). 2 .1 .1 .2 .2 . O Julgamento e a Lei (2.12-16). 2 .1 .1 .2 .3 . O Predicamento Judaico (2.17-24). 2 .1 .1 .2 .4 .0 Julgamento e a Circuncisão (2.25-29). 2 .1 .1 .2 .5 . Objeções (3.1-8). 2 .1 .1 .2 .6 . Resumo: Todas as Pessoas Estão Sujeitas à Ira (3.9-20). 2 .1 .2 . A Salvação da Humanidade pela Fé em Jesus Cristo (3.21— 4.25). 2 .1 .2 .1 . A Salvação pela Morte de Cristo (3.21-26). 2 .1 .2 .2 . A Salvação pela Fé (3.27— 4.25). 2 .1 .2 .2 .1 . O Conceito Básico de Fé (3.27-31). 2 .1 .2 .2 .2 . Ilustração: A Fé de Abraão (4.1-25). 2 .1 .3 . A Esfera da Graça (5.1-21). 2 .1 .3 .1 . A Vida na Esfera da Graça (5.1-11). 2 .1 .3 .1 .1 . Os Benefícios da Graça (5.1-5). 2 .1 .3 .1 .2 . A Expressão Última da Graça (5.6-8). 2 .1 .3 .1 .3 . A Meta da Graça (5.9-11). 2 .1 .3 .2 . O Triunfo da Graça sobre o Pecado e a Morte (5.12-21). 2 .2 . A Justiça de Deus Quebra o Poder do Pecado (6.1— 8.39). 2 .2 .1 . O Poder sobre o Pecado (6.1— 7.6). 2 .2 .1 .1 . Morrer para Viver (6.1-14). 2 .2 .1 .2 . Morrer para Seivir (6.15-23). 2 .2 .1 .3 . Morrer para a Lei (7.1-6). 2 .2 .2 . A Lei e o Pecado: Uma Defesa da Lei (7.7-25). 2 .2 .2 .1 . A Morte pela Lei (7.7-12). 2 .2 .2 .2 . A Ineficácia da Lei e da Carne (7.13-25). 2 .2 .3 . O Espírito de Vida que Dá Poder sobre o Pecado e a Morte (8.1-13). 2 .2 .4 . O Espírito de Adoção (8.14-17). 2 .2 .5 . A Esperança da Glória (8.18-39). 2.2.5.1. A Esperança da Glória: Presente no Sofrimento (8.18-27). 2.2.5.2. A Esperança da Glória: Garantida pela Justiça de Deus (8.28-39). 2.3. A Justiça de Deus para com Israel (9.1— 11.36). 2.3.1. O Problema (9.1-5). 2.3.2. O Propósito de Deus (9.6-29). 2.3.3. O Fracasso de Israel (9.30— 10.21). 2.3.4. Salvando o Remanescente; Endurecendo os Outros (11.1-10). 2.3.5. O Presente e o Futuro de Deus para Israel (11.11-32). 2 .3 .5 .1 . O Propósito do Endurecimento ( 1 1 .1 1 -1 6 ). 2.3.5.2. Como Ver os Judeus (11.17-24). 2.3.5.3- A Salvação de Israel (11.25-32). 2.3.6. Em Louvor de Deus (11.33-36). 2.4. A Justiça de Deus Vivenciada por Judeus e Gentios e entre Eles (12.1— 15.13). 2.4.1. Vivendo em Resposta à Justiça de Deus (12.1,2). 2.4.2. As Relações na Igreja (12.3-13a). 2.4.2.1. O Pensamento Correto sobre Relações (12.3-5). 2.4.2.2. Os Dons Individuais (12.6-8). 2.4.2.3. Exortações Gerais sobre Relações com Outros na Igreja (12.9-13a). 2.4.3. A Relação com o Mundo (12.13b— 13.14). ' 2.4.3.1. A Relação com 0 Mundo em Geral (12.13b-21). 2.4.3.2. A Relação com o Governo (13.1-7). 2.4.3.3. A Relação com o Próximo (13.8-10). 2.4.3.4. Vivenciando as Relações com a Urgência Escatológica (13.11-14). 2 .4 .4 . As Relações entre Judeus e Gentios (14.1— 15.13). 2.4.4.1. Aceitem-se uns aos Outros; Não se Julguem (14.1-12). 2.4.4.2. Ajam com Amor uns pelos Outros; Não Escandalizem (14.13-23). 2.4.4.3. Cristo, o Modelo para os Fracos e para os Fortes (15.1-6). 2.4.4.4. Resumo (15.7-13). 3. Fechamento da Carta (15.14— 16.27) 3.1. Segundo Diálogo de Viagem (15.14-33). 3.1.1. A Missão de Paulo (15.14-22). 815 ROMANOS 1 3.1.2. Antes da Espanha: A Coleta para os Santos (15.23-33)- 3.2. Elogio a Febe (16.1,2). 3-3- Saudações aos Conhecidos de Paulo ( 16 .3- 16). 3.4. Advertência Final (16.17-20). 3.5. Saudações dos Associados de Paulo (16.21-23). 3.6. Doxologia Final (16.25-27). COMENTÁRIO 1. Abertura da Carta (1.1-17). C o m o e ra h a b itu a l n o s é c u lo I, a a b e rtu ra da Carta ao s R o m an o s c o m e ça c o m um a sa u d a çã o e u m ag rad ecim en to . P au lo n ão ap enas adota estas co n v en çõ es epistolares, m as as ad ap ta d e a c o rd o c o m seu s p ro p ó s ito s a p o s tó lico s . 1 .1 . S a u d a ç ã o ( 1 .1 - 7 ) O s e le m e n to s e a o rd e m na sa u d a çã o d e Rom anos conform am -se com as convenções c o m u n s d as cartas h e le n ís tic a s — a id e n tifica çã o d o rem eten te , a e sp e c ific a çã o d o destinatário e u m a saud ação. P au lo adapta e s te s e le m e n to s fo rm a is e n v o lv e n d o -o s c o m te m a s te o ló g ic o s e a ssu n to s d e in te re sse p e s so a l, q u e serv e m p ara in d ica r o q u e v e m a seg u ir n a carta. A sau d ação , q u e n ão é m uito m ais longa q u e a sa u d a çã o típ ica d o s d ias a tuais, é a m ais exten sa segun do o s pad rões paulinos. É s ig n ifica tiv o q u e as o u tras d u as cartas paulinas on d e as saud ações são m ais longas q u e a norm a paulina (1 Coríntios e G álatas) s e ja m c a rta s n a s q u a is P a u lo e x p r e s s a p u n g e n te p re o c u p a ç ã o so b re as c o n g re g a ç õ e s a q u e e sc re v e . A lo n g a sa u d a çã o e m R o m an o s n o s avisa a n ã o v er esta carta, co m o às v ezes ocorre, c o m o u m tratam ento s is te m á tico e im p a rc ia l d e a ssu n to s te o ló g ico s . Esta ab ertu ra d a cartam o stra um a p re o cu p a ç ã o p re m e n te n a m en te d o escritor, n ã o tanto co m a s ito ação rom ana, m as co m a p ró p ria s itu ação d e P au lo e m fa ce das igrejas ro m an as, le v a n d o -se em c o n ta sua visita im inente. O ap óstolo tinha op onentes, e a sa u d a çã o rev e la q u e e le con jectu ra v a q u e a crítica q u e e les faz iam d ele tinha se e sp a lh a d o p o r R om a. A s e ç ã o d e abertu ra é m uito longa, p orqu e Paulo im ediatam ente in sere n a estrutura u m a d efe sa d o e v a n g e lh o q u e e le p reg a e d o seu ap o sto lad o . Sua p re o c u p a ç ã o so b re a visita se to rn a exp líc ita n o s d iá lo g o s d e v ia g em q u e e le p õ e in terca la n o co rp o d a carta (R m 1 .11 - 15 e 1 5 .1 4 -3 3 ). N um a fa s ta m e n to d a fo rm a ep isto la r e sta b e lec id a , P au lo se id en tifica n o v ersí cu lo 1 d e duas m an eiras: “serv o d e Je su s Cristo” e “cham ad o [...] ap óstolo”. Mais típico é sua sin gu lar a u to d e fin içã o c o m o “a p ó s to lo ” (v e ja 1 C o 1 .1 ; 2 C o 1.1 ; E f 1 .1; Cl 1 .1; 2 T m 1.1 ; em F p 1 .1 , e le se c h a m a “serv o ”, e em Fm 1, “p ris io n e iro ”). O ú n ico outro lugar o n d e a d upla d es ig n a çã o d e serv o e a p ó sto lo a p a re c e é e m T ito 1.1 , m as ali, “a p ó s to lo ” está s em a p alavra “ch a m a d o ”. (P a u lo ta m b ém se d irige a o s c ren tes ro m a n o s c o m u m a d up la d efin içã o n o v. 7 .) A d u p la re fe rê n c ia e n fá tica a o status d e P a u lo c o m o a p ó s to lo e serv o é a p ro priada para um a introdução, o u — levando e m c o n ta a crítica q u e é a p o n ta d a co n tra 0 e v a n g e lh o q u e P a u lo p re g a — u m a ap o lo g ia , a u m a igreja q u e e le está a p o n to d e v isitar p e la p rim eira v e z . E stes te rm o s m erecem com entário breve, pois nos contam a m a n e ira n a q u a l P a u lo d e s e ja v a s e r e n te n d id o . 1) O ponto mais importante é que Paulo é “servo” ou “escravo” (doulos) de Jesu s. Usando para si a familiar terminologia “servo" a partir de referências bíblicas a Moisés, Davi e muitos dos profetas, Paulo mostra sua identificação com a obra de Deus ini ciada entre os judeus. Na sua explanação de que ele é servo de Cristo Jesus, ele mostra sua devoção absoluta ao Messias. 2) Ele é “cham ado para apóstolo”. Por trás desta frase acha-se a dramática chamada de Paulo na estrada de D am asco (At 9), quando o Senhor ressurreto lhe apareceu e o com issionou. Esta experiência perm i tiria Paulo se incluir entre o grupo apos tólico, pois ser testem unha ocular de J e sus era condição prévia para a m em bresia (cf. 1 Co 9.1; 15.7,8). D e p o is d e s e a p re s e n ta r n o v e rs íc u lo 1 e a n te s d e id e n tifica r o d estin a tá rio — 816 ROMANOS 1 o q u e e ra t íp ico , n u m a ca rta d o s é c u lo I, v ir im e d ia ta m en te e m seg u id a — P au lo p a s sa a tra ta r d e q u a lq u e r c o n c e p ç ã o e rrô n e a q u e p o d e ria e sta r c ircu la n d o em R o m a a re s p e ito d e le e d e su a p re g a çã o . D e a co rd o c o m m u ito s co m en ta rista s d os d ias h o d ie rn o s , as fra se s cu rta s e e q u ili b ra d a s n o s v e rs íc u lo s 3 e 4 s ã o re tirad as d e u m a p rim itiva c o n fis s ã o cristã . O fa to de Paulo incluir um a declaração confessional serve p rim eiram en te p ara n o tificar sua au d iê n c ia d e q u e seu e v a n g e lh o — a p e sa r d o q u e e le s p o d e ria m te r o u v id o — e s tav a e m lin h a c o m a tra d iç ã o d o e v a n g e lh o q u e lh e fo ra e n tre g u e . O e v a n g e lh o p a ra o q u a l P a u lo fo i s e p a ra d o (v . 1) d ec la ra o cu m p rim e n to d o q u e foi prom etido n o A ntigo Testam ento p e lo s p ro fe ta s (v. 2 ) c o n c e rn e n te a je s u s , o M essias, o q u e é d escrito e m d u as fra ses c o m p le m e n ta re s . Q u a n to à sua n a tu reza hu m ana, E le era da lin h ag em d e D avi (v . 3; cf. Is 1 1 .1 ). Q u a n to à su a e x is tê n c ia esp iritual n o céu , E le v ive “em p o d e r” (e m v e z d a fra q u e z a a sso c ia d a c o m a fo rm a h u m a n a ; cf. 1 C o 1 5 .3 5 -5 5 ) . A tra d u çã o d a NVI s u g e re q u e o “E sp í rito d e s a n t if ic a ç ã o ” (o E sp ír ito S a n to ) d e s e m p e n h o u u m p a p e l n a e x a lta ç ã o d e Cristo. T alvez é m e lh o r en te n d e r esta frase (lit., “s e g u n d o o E sp írito d e sa n tid a d e ”) — c o m o fiz em o s a c im a — c o m o fu n c io n a n d o e m p a ra le lo c o m a fra se n o v e rs í c u lo 3 (lit., “seg u n d o a c a rn e “) p ara c o n trastar o s d o is â m b ito s d e e x is tê n c ia . O esta d o te rre n o é v iv id o d e a c o rd o c o m as lim ita çõ e s h u m a n a s, a o p a sso q u e o e s ta d o p ó s -re ss u rre iç ã o é u m a e x is tê n c ia esp iritu al caracterizad a p o r p od er. É, “p o r e x c e lê n c ia , u m a v id a d o E sp ír ito ” (F e e , 19 9 4 , p. 4 8 1 ) . E ste ú ltim o te m a será e x p lorado m ais tarde quan do Paulo d escrever as atuais im plicações para aqueles que vivem n a e sfe ra d o E sp írito (R m 5; 8 ). A re ssu rre içã o e fe tu o u a p a ssa g e m d e Cristo d e um estad o p ara o outro. N ão q u e esta s e q ü ê n c ia d e e v en to s o ca s io n o u su a F ilia çã o , c o m o o c o m e ç o d o v e rs íc u lo 3 d e ix a c la ro , m as q u e seu p le n o e sta d o d e F ilh o — o u , c o m o “n o s so S e n h o r” — é a g o ra in a u g u ra d o , p o rq u e E le re in a d o s c é u s ju n ta m e n te c o m o Pai. É d este S e n h o r q u e P a u lo re c e b e u (o “n ó s ” [ocu lto] é p ro v a v e lm e n te re fe rê n c ia estilística a e le ) “a graça e o a p o sto la d o ” (v. 5 ). O s d o is te rm o s e s tã o e stre ita m e n te re la c io n a d o s . “G ra ç a ”, te m a p re d o m i n a n te e m R o m a n o s, d en o ta a q u i o a to d e D e u s p o r m e io d o q u al u m p e rse g u id o r da Ig re ja fo i c o m iss io n a d o p e lo S e n h o r re ssu rre to p ara s e r seu a p ó s to lo . A p arti cular m issão apostólica d e Paulo era cham ar os g e n tio s à m e sm a su b m issã o a C risto q u e e le próprio experim entara n o encontro c o m C risto n a estrad a d e D a m a sc o . A s sim , e le se d irig e a o s ro m a n o s n a q u a li dade d aqueles que, dentre as naçõ es, foram ch a m a d o s à fé e m Je s u s C risto (v . 6 ). Q u an d o e le ch eg a ao segun do elem en to fo rm a l d a s a u d a ç ã o , n o v e rs íc u lo 7 , a identificação d os destinatários, e le usa duas frases d escritiv as (q u e e q u ilib ra m as duas d es ig n a çõ e s q u e e le u sou p ara si m esm o ): “a m a d o s d e D e u s ” e “ch a m a d o s s a n to s ”. A seg u n d a frase é p arale la à au to d efin ição d e P a u lo c o m o “ch a m a d o p ara [ser] a p ó s to lo ”. A ssim c o m o e le fo i c h a m a d o p ara ser a p ó s to lo , da m e sm a fo rm a e le s fo ram cham ados para serem santos, ouseja , aqueles que p o r causa da con v ocação de D eus foram sep a ra d o s p a ra serv i-lo . “Graça [charis] e paz” é a saudação padrão d e P a u lo , e m c o m b in a ç ã o c o m u m a v ari a ç ã o d a p a lav ra g re g a ch a ire in ( “sa u d a ç ã o ”) c o m a p alav ra g reg a trad u zid a p e la típ ica sa u d a çã o h eb ra ica , shalom ( “p a z ”). 1.2. O ração de Agradecim ento (1 .8 - 10) N as c a rta s d o s é c u lo I a s a u d a ç ã o era co s tu m e ira m e n te seg u id a p o r u m a g ra d e c im e n to e u m d e s e jo d e o ra ç ã o , tip i cam ente pela saúde do destinatário. Tam bém era costu m e P au lo inclu ir n este p o n to um a e x p re ss ã o d e a g ra d e c im e n to a D e u s p e los destinatários da carta (exceto em Gálatas). In c lu ía n ã o s ó a s su n to s p e lo s q u a is o a p ó s to lo v in h a o ra n d o p e la c o n g re g a çã o à q u a l e le e sc re v e , m as ta m b é m tó p ico s q u e e le q u e r a g o ra tratar. Q u e r d izer, a oração d e agradecim ento servia para o leitor co m o notificação sobre o q u e estava à frente. 817 ROMANOS 1 O fa to d e P a u lo e m R o m a n o s p a ssa r sem d e m o ra d e su a p a lav ra d e a g ra d e c im e n to p ara seu s p la n o s d e v ia g e m n ã o é um a q u e b ra d a fo rm a. In d ica o s ig n ifica d o d o d iá lo g o d e v ia g e m d e P a u lo p a ra o p ro p ó s ito d a carta. O e lo g io q u e P a u lo faz a o s c re n te s ro m a n o s p e la d ifu n d id a r e p u ta ç ã o d e fé q u e e le s m a n tê m , é e x p r e s s a c o m o a ç ã o d e g ra ç a s a D e u s p o r J e s u s C risto . “A ss im c o m o é p o r m e io d e C ris to q u e a g ra ç a d e D e u s é tra n sm itid a a o s h o m e n s (v . 5 ) , a ss im é p o r m e io d e C risto q u e a g ra tid ã o d o s h o m e n s é tra n s m iti d a a D e u s ” ( B r u c e , 1 9 8 5 ) - 1 N ã o é d e s u rp r e e n d e r q u e P a u lo d e s ta c a s s e a fé d o s c r is tã o s ro m a n o s n o v e rs íc u lo 8 , p o r c a u s a d e su a p r e o c u p a ç ã o m is s io n á r ia e m le v a r o s g e n t io s a u m p o n to d e fé (R m 1 .5 ). O q u e su rp re en d e é a m u d a n ça a b ru p ta d e to m q u e é in tro d u z id a p e lo ju ra m e n to d o v e r s íc u lo 9- O a p ó s to lo c h a m a D e u s c o m o te s te m u n h a p a ra su a a f irm a ç ã o d e q u e e le c o n s ta n te m e n te o ra v a p o r e le s . P o r trás d e ta l fó rm u la s o le n e ja z a a p r e e n s ã o d o a p ó s to lo , de q u e su a d e c la ra ç ã o d e p re o c u p a ç ã o p o r e le s n ã o v e n h a a s e r c r id a , v is to q u e e le n u n c a o s t in h a v is ita d o . P a u lo im e d ia ta m en te diz q u a l e ra seu p e d id o d e o ra ç ã o : “Q u e , n a lg u m tem p o , p e la v o n ta d e d e D eu s, se m e o fe re ç a b o a o c a s iã o d e ir te r c o n v o s c o ” (v . 1 0 ). P au lo era se n sív e l à crítica , q u e já fo ra le v a n ta da c o n tra e le (2 C o 1 .1 7 ), q u e o q u e e le d iz n e m se m p re e le faz . A c o n c lu s ã o q u e P a u lo q u e r q u e se ja tirad a d o p e d id o d e o ra ç ã o é q u e o p ró p rio D e u s tin h a a tra s a d o su a v ia g e m à c a p ita l d o Im p é r io R o m a n o . Sua d ilig ê n c ia so b re o assu n to su rg e à to n a n o v a m e n te n o v e rs íc u lo 13, o n d e e le u sa u m a fó rm u la d e re v e la ç ã o — “N ão quero, porém , irmãos, q u e ignoreis” — , para acentuar q u e seus repetidos planos d e ir tin h a m sid o o b sta cu liz a d o s . T a m b é m d ig n o d e n o ta aq u i é a q u ali ficação d e Paulo no versículo 9, de q u e serve a D e u s “e m m eu esp ír ito ”. O q u e e le q u er d izer c o m esta frase é p ro v av elm en te e x p licad a p e lo co n tra ste q u e e le faz e m R o m a n o s 1 2 .1 , o n d e P au lo u sa a im ag em re tirada d o sistem a sacrifica l d o A ntigo T e s ta m e n to p ara m ostrar as d iferen ça s en tre a dinâmica espiritual atuante no novo concerto e na lei. Identificam os contraste sem elhante n o p la n o d e fu n d o d o v ersícu lo 9, o n d e “em m eu espírito” significa que as exigências d e D eu s ago ra estã o em g ran d e m ed id a in tern alizad as d o q u e era o c a so n as e x i g ê n cia s escritas da lei. 1 . 3 . P rim e iro D iá lo g o d e V ia g em ( 1 .1 1 - 1 5 ) O d iá lo g o d e v ia g e m era u m a c a ra cte rís tica c o m u m n a ca rta p au lin a . Serv ia para in fo rm a r a o s le ito re s a c e rc a d e seu s p la n o s d e v ia g em o u d e seu s co m p a n h e iro s . É particu larm en te p ro em in en te em R om a n o s , a p a re c e n d o n a a b ertu ra e n o fe c h a m e n to d a carta (R m 1 5 -1 4 -3 3 ); a razão d e e le e scre v e r a carta está estre ita m en te v in cu la d a à su a v isita im in en te . O expresso propósito de Paulo em desejar v ê -lo s é p a ra q u e e le p o ssa lh e s d ar “a l g u m d o m e s p ir i tu a l” (ti ch a rism a p n eu m a tik o n , v. 11 ). “D o m ” (charism a), q u e é derivado d e charis (“graça”), é m elhor definido co m o exp ressão con creta da graça d e D e u s . E sta g ra ça se re fe re a a lg o tão v a sto q u a n to a o b ra d e D e u s e m C risto (e .g ., E f 2 .8 ) o u à p ro v isã o d a v id a e te rn a (R m 6 .2 3 ). T a m b ém p o d e expressar, co m o aq u i, u m a fo rm a d e g ra ça q u e é in d iv i d ualizada p ara q u em a re c e b e . É freq ü en te ch am arm o s estas ap tid ões esp iritualm ente capacitadas de “dons espirituais” (elas estão a listad as e m R m 1 2 ,1 C o 1 2 e E f 4 ; cf. F ee , 1 9 9 3 , p p . 3 3 9 -3 4 7 ) . O pronom e indefinido “algum ” (ti) implica q u e P au lo n ã o tem em m en te u m “d om espiritual” esp ecífico . A com binação de graça e a p o sto la d o n o v ersícu lo 5 — u m a a sso c ia ç ã o q u e a ind a estaria so a n d o n o s o u v i d o s d o s seu s le ito res — lh es sugeriria q u e o d o m esp iritu al q u e e le q u e r d ar re la cio - na-se com seu apostolado. Presumivelmente, e le q u e r d izer o tip o d e m in istério q u e sua cham ad a e autoridade co m o a p ó sto lo para o s g en tio s o ca p a c ita a levar a e les . N esta carta, e le já está partilhando co m eles o d om esp iritu al (cf. F e e , 19 9 4 , pp. 4 8 6 -4 8 9 ). P au lo a n tec ip a q u e o p artilh am en to d o dom espiritual co m eles produzirá um “fruto” 818 ROMANOS 1 (.karpos). E m ou tras p alav ras, e le e sp era q u e seu tra b a lh o c o m o s ro m a n o s v e n h a a te r o s m e sm o s re su lta d o s q u e e le tev e en tre o u tro s g e n tio s , P o is c o m o e le d e i x a c la ro , se u m a n d a to é a lc a n ç a r to d o s o s g en tio s , q u e r “g re g o s” q u e r “b á rb a ro s” (n ã o -g re g o s ), “s á b io s ” ou “ig n o ra n tes”. O co n tra s te d o a p ó s to lo aq u i n ã o é a p e n a s en tre raças o u g e o g ra fia s , m as ta m b é m e n tre c la sse s . A p alav ra “b á rb a ro ” v iera a d esign ar, d e m a n e ira d erro g a tó ria , to d a s as pessoas do im pério que não eram “gregas” e m te rm o s d e e d u c a ç ã o e cu ltu ra . P au lo está d ec la ra n d o q u e o e v a n g e lh o é p ara to d o s. P ara q u e n ã o s o e p re s u n ç o s o q u e só e le s p re c is e m d o seu m in istério , e le im e d ia ta m e n te q u a lific a c o m e s ta s p a la v ra s su a in te n ç ã o d e c la ra d a d e lh e s d a r u m dom : “Isto é, para q u e juntam ente con v osco e u s e ja c o n s o la d o p e la fé m ú tu a , ta n to v o ssa c o m o m in h a ” (v . 1 2 ). É m a is q u e u m a m a n e ira c o r tê s d e falar. C o m o seu e n s in o e m R o m a n o s 1 2 .3 -8 ilu stra , P a u lo v ê ca d a m e m b ro d o c o r po d e C risto a tu a n d o n u m a re la ç ã o m u tu a m e n te d e p e n d e n te . C o lo c a n d o e m p a la v ra s m ais s im p les, P a u lo está p o n d o e m p rática sua c re n ç a d e q u e o s c re n te s p re c is a m u n s d o s o u tro s . Para resum ir, es ta carta era m ais q u e u m a carta d e a p re s e n ta ç ã o p ara o b te r a ap ro v ação d e um a co n g re g a çã o cu ja ajuda e le p re c isa v a p ara cu m p rir sua m issã o n a E sp a n h a . T a m b é m e ra o c o m e ç o d o tip o d e ê n fa s e m in isteria l, o u d o m esp iritu al, q u e e le te n c io n a v a lev ar a R o m a — sua m e n sa g e m da u n id a d e de ju d e u s e g e n tio s em Cristo. 1.4. Tema d a Carta (1 .16,17) Paulo con clu i sua exten sa abertura da carta, n a q u al e le se e sm e ro u e m se a p re se n ta r a si m e sm o e a o e v a n g e lh o q u e e le p re ga , c o m u m a d e c la ra ç ã o te m á tica so b re a n atu reza d o seu e v a n g e lh o . P o r cau sa da o p o s iç ã o q u e su a m e n sa g e m in stig a va, ta n to d en tro d e c írcu lo s cris tã o s (c f. R m 3 .8 ) q u a n to fo ra , e le p re fa c ia su a d ec la ra çã o c o m fo rte a firm ação : “[Eu] n ã o m e e n v e rg o n h o d o e v a n g e lh o d e C risto”. U san d o esta frase, P au lo identifica sua p re g a ç ã o c o m o m e sm o e v a n g e lh o d o qual Je s u s o rd e n o u q u e seu s se g u id o re s n ã o tiv e sse m v e rg o n h a (M c 8 .3 8 ; Lc 9 -2 6 ). P a u lo n ã o se e n v e rg o n h a d o e v a n g e lh o p o rq u e n ad a m ais é q u e o v e ícu lo d o “p o d e r [dynam is] d e D e u s ”, c a p a c ita n d o to d o s o s q u e c rê e m a sere m sa lv o s d a ira, ta n to a g o ra (c f. v. 1 8 ) c o m o n o te m p o d o fim . O e v a n g e lh o , a p ro c la m a ç ã o da o b ra d e D e u s em C risto , e fe tu a a sa lv a ç ã o q u e d e sc re v e . C o m o afirm a W right: “O e v a n g e lh o [...] n ã o é a p e n a s s o b re o p o d e r de D eu s q u e salva p e sso a s . É o p o d er d e D eus em a ç ã o p ara salvar p e sso a s” (1 9 9 7 , p. 6 l ) . Q u an d o o ev a n g e lh o é p reg ad o , vicias são to ca d a s e tra n sfo rm a d a s p e lo p o d e r d e D eu s. A o rd em d e sa lv a çã o d ada a o térm in o do versículo 16: “Primeiro do judeu e tam bém d o g re g o ”, re fle te a p rim azia d o s ju d eu s c o m o p o v o e sco lh id o d e D eu s. A o rd em ap arece neste con texto não tanto co m o um a d ec la ra çã o d e p riorid ad e, m as c o m o um a p ro c la m a çã o da a b ra n g ê n c ia d o e v a n g e lho . D ito d e outra m an eira , P au lo está d i zen d o q u e e ste é o m e io e x c lu s iv o d e sa l v ação para judeus e gentios. O q u e e le quer d izer c o m isso ficará ev id en te na carta: A lei já n ã o é u m fa to r na e q u a ç ã o d a ju stiça . O versículo 17 discon'e sob re o q u e tom a o e v a n g e lh o o p o d e r d e D e u s . R e v e la “a ju stiça d e D e u s ”, e m o u tras p alav ras, sua ativ id ad e sa lv ad ora . O c o n c e ito d a ju sti ça d e D e u s n a s cartas d e P a u lo te m sid o en ten d id o de m uitas form as p e lo s c o m e n taristas d o N ovo T esta m en to (v e ja W right, 1 9 9 7 , p p . 1 0 0 -1 1 0 ) . A v isã o co m u m e n co n trad a n o s escrito s d a R efo rm a e ra q u e a ju stiça cie D e u s se re fe re a um a ju stiça q u e r e c e b e m o s d e D eu s. E m o u tras p a lavras, é su a ju stiça a n ó s im p u tad a . Em co n tra s te , a v isã o assu m id a p o r m u ito s e s tu d io so s d e h o je é q u e a c o m p re e n s ã o d e P a u lo r e f le te o c o n c e i to d o A n tig o T e sta m e n to d a ju stiça d e D eu s, o q u e p õ e ênfase em D eu s agir fielm ente n o co n ce ito . E m o u tras p a lav ras, a re v e la ç ã o d a ju sti ça d e D e u s n o v e rs íc u lo 17 s ig n if ic a a re v e la ç ã o d e su a ativ id ad e sa lv ad ora . H á o u tro a s p e c to d a ju stiça d e D eu s. E m b o ra a tô n ica d a fra se e s te ja n a ativi- 819 ROMANOS 1 A perseguição neroniana movida em 64 d.C. foi uma tentativa transparente feita pelo imperador para culpar os cristãos pelo grande incêndio que destruiu grande parte da cidade de Roma. A populaça culpava Nero e lamentava por aqueles que eram injustamente torturados na arena (cf. Tácito, A na is). Roma nos D ias de Paulo Em termos de importância política, posição geográfica e magnificência cabal, a cidade superlativa do império era Roma, a capital. Situada numa série de contrafortes protuberantes e eminências baixas (os “sete montes") a leste de uma curva do rio Tibre, a uns vinte e oito quilômetros do Mediterrâneo, Roma j era célebre por seus impressionantes edifícios a públicos, aquedutos, banhos, teatros e vias públicas, muitas das quais ligavam províncias distantes. A cidade dos cristãos do século I tinha se expandido muito além dos seus muros sérvios do século IV a.C. e permanece sem muros, confiante de sua grandeza. As características mais proeminentes eram o monte Capitolino, com templos para Júpiter e Juno, e o vizinho Palatino, adornado com palácios imperiais, incluindo a "Casa Dourada" de Nero. Ambos os montes davam vista ao Fórum Romano, o ponto central do império. Alternativamente descrito como a gloriosa aquisição culmi nante do gênero humano e como o esgoto do universo, onde a escória de todo canto do império se reunia, Roma tinha razões para ter orgulho cívico por causa de sua arquite tura e vergonha por atordoantes problemas sociais urbanos, não diferentes dos das cidades dos dias modernos. O apóstolo Paulo entrou na cidade pelo sul, pela Via Ápia. Primeiramente ele morou sob prisão domiciliar e, mais tarde, após um período de liberdade, como prisioneiro condenado no calabouço Mamertime, próximo do Fórum. Extraordinariamente, Paulo pôde proclamar o Evangelho entre todas as classes de pessoas, do palácio à prisão. De acordo com a tradição, ele foi executado em um ponto da Via Óstia, fora de Roma, em 63 d.C. 820 ROMANOS 1 d a d e sa lv ad ora d e D e u s , o p la n o d e fu n d o d o A n tig o T e sta m e n to n o s a d v erte a n ã o esta b e le ce rm o s u m a sep a ra çã o m uito ríg id a en tre o q u e D eu s faz e o resu ltad o d e su a a ç ã o . N o A n tig o T e s ta m e n to , a fidelid ad e d e D eu s ao c o n c e ito é exp ressa p o r su a a ç ã o em m a n ter a re la çã o q u e E le in icio u co m o seu p o v o . A ju stiça d e D eu s resu lta e m re la çã o . A ju stiça d e D e u s q u e está s e n d o rev e la d a é su a a tiv id ad e em c o lo c a r h o m e n s e m u lh e re s n u m a re la ç ã o c o m E le e em su sten ta r e ssa re la çã o p o r sua g raça (v e ja D u n n ; M o o ). C o m o d ev e m o s e n te n d e r a re v e la ç ã o da ju stiça d e D eus? O q u e está s e n d o re v elad o ? E stá d e a c o rd o co m o p la n o sa l v a d o r d e D e u s e m Je s u s Cristo? C o m c e r te z a o b se rv a m o s o p la n o d e fu n d o p ara esta v isã o n o s e scrito s a p o c a líp tic o s ju d a ic o s , q u e m o stra m D e u s r e v e la n d o a s p e c to s d o seu p la n o p ara o h o m em e a terra , fa to q u e n ã o p o d eria se r c o n h e c i d o d e o u tro m o d o . A lg u ém p o d e ria fa zer b o m a rg u m en to afirm an d o q u e o q u e está s e n d o re v e la d o é o m o d o d e sa lv a ç ã o em C risto , q u e d esv ia c o m p le ta m e n te a le i e é re c e b id o so m e n te p e la fé.
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