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RESUMO DO TEXTO “A CAPACIDADE CIVIL DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA NO DIREITO BRASILEIRO (REFLEXÕES A PARTIR FO I ENCUENTRO INTERNACIONAL SOBRE LOS DERECHOS DE LA PERSONA COM DISCAPACIDAD EM EL DERECHO PRIVADO DE ESPANA, BRASIL, ITALIA Y PORTUGAL” Alice Maria C. L. Bitencourt O texto apresentado para a realização da presente atividade articula reflexões e debates em torno do tema do I Encuentro Internacional sobre los derechos de la persona com discapacidad em el Derecho Privado de España, Brasil, Italia y Portugal, evento ocorrido na Faculdade de Direito da Universidade de Sevilha. Nesse sentido, as autoras iniciam o artigo expondo algumas mudanças legislativas ocorridas após a Convenção da ONU sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência em países participantes do evento. A partir disso, notou-se que o Brasil foi o país cujo ordenamento jurídico sofreu alterações mais profundas com a ratificação dessa Convenção, a qual foi reconhecida pelo Decreto Legislativo nº 186 de 9 de julho de 2008. Essas mudanças se deram, sobretudo, pela consolidação do Estatuto da Pessoa com Deficiência, o qual alterou o Código Civil e estabeleceu a plena capacidade civil das pessoas com deficiência. Essa nova perspectiva se deu, principalmente, pela visão adotada na Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde, feita pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Nessa transformação de paradigma, entendeu-se a incapacidade como “um conjunto complexo de condições, muitas das quais criadas pelo ambiente social” (OMS, 2004 apud TERRA; TEIXEIRA, 2018), isto é, a incapacidade não é apenas uma condição inerente ao indivíduo, mas sim fruto de uma questão política. Com a abordagem biopsicossocial, ou seja, a que abrange o modelo médico e o social, a incapacidade é resultado tanto de limitações das funções e estruturas do corpo, quanto da influência de fatores sociais e ambientais. Dessa forma, o Estatuto da Pessoa com Deficiência conclui que será considerado deficiente aquele que “tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas” (BRASIL, 2015). Desse modo, foi estabelecido o direito ao pleno exercício da capacidade legal das pessoas com deficiência em igualdade de condições com as demais pessoas, o qual inclui, por exemplo, o direito da conservação da fertilidade, da constituição de união estável e casamento e de decidir sobre os números de filhos. Essas disposições garantem autonomia sobre as próprias decisões desses indivíduos. No entanto, em caráter excepcional, é assegurado, no art. 84 do Estatuto citado, a submissão à curatela como medida protetiva extraordinária e proporcional às necessidades e circunstâncias das pessoas determinadas, sendo ela direcionada apenas a assuntos relacionados aos direitos de natureza patrimonial e negocial. Nesse contexto, cabe ao juiz decidir sobre a restrição da capacidade do sujeito com base nos casos particulares, fazendo-se necessário que ele demonstre os atos e negócios patrimoniais que ficarão sob curatela. A decisão quanto a essa condição deverá condizer com o grau de comprometimento da funcionalidade do indivíduo. Além disso, a interpretação referente à abrangência dos atos de natureza patrimonial e negocial afeta diretamente a proteção dos deficientes. O primeiro entendimento quanto aos atos submetidos à curatela expõe que eles correspondem àqueles que são, ao mesmo tempo, patrimoniais e negociais, reduzindo as situações objeto de curatela. O segundo, por outro lado, compreende que esses atos podem ser ligados a direitos de natureza patrimonial e também a direitos negociais. O último possibilita uma ampliação da atuação da curatela, permitindo os direitos decorrentes de ato jurídico stricto sensu ou de negócio jurídico, assim como os derivados de negócios jurídicos existenciais. As exceções quanto a essa norma estão consolidadas no art. 85, §1º, e art.6 do Estatuto da Pessoa com Deficiência. As autoras colocam, ainda, que é possível desfazer os atos e negócios jurídicos com base em uma análise funcional realizada a posteriori, em outros termos, após o exercício do ato de autonomia do sujeito. Ademais, elas explicitam a possibilidade do juiz de decidir, de forma individualizada e fundamentada, se o indivíduo pode exercer o direito existencial. Para tanto, é imprescindível que a resolução seja fundamentada em argumentos racionais-constitucionais. A pesquisa conclui, portanto, que, por regra, as pessoas portadoras de algum tipo de deficiência possuem plena capacidade civil, sendo admitidas restrições em caráter excepcional somente quando for o único instrumento para a proteção dos direitos humanos, dos interesses e preferências desses sujeitos. Soma-se a isso a condição de temporariedade da curatela, isto é, deve ser firmada pelo menor tempo possível. REFERÊNCIAS BRASIL. Lei nº13.146 de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). TERRA, Aline de Miranda Valverde; TEIXEIRA, Ana Carolina Brochado. A capacidade civil da pessoa com deficiência no Direito brasileiro: reflexões a partir do I Encuentro Internacional sobre los derechos de la persona con discapacidad en el Derecho Privado de España, Brasil, Italia y Portugal. Revista Brasileira de Direito Civil – RBDCilvil, Belo Horizonte, v. 15, p. 223-233, jan./mar. 2018.
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