Prévia do material em texto
1 UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ-UESPI CAMPUS CLÓVISMOURA – CCM COORDENAÇÃO DE GEOGRAFIA LICENCIATURA PLENA EM GEOGRAFIA O ENSINO DE GEOGRAFIA E A PERCEPÇÃO DE PAISAGEM NO PERCURSO CASA-ESCOLA: POR ALUNOS DO 6° ANO DA ESCOLA MUNICIPAL DEP. HUMBERTO REIS DA SILVEIRA NO MUNICÍPIO DE TERESINA-PI Igor de Araújo Pinheiro TERESINA-PI 2010 2 UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ-UESPI CAMPUS CLÓVISMOURA – CCM COORDENAÇÃO DE GEOGRAFIA LICENCIATURA PLENA EM GEOGRAFIA O ENSINO DE GEOGRAFIA E A PERCEPÇÃO DE PAISAGEM NO PERCURSO CASA-ESCOLA: POR ALUNOS DO 6° ANO DA ESCOLA MUNICIPAL DEP. HUMBERTO REIS DA SILVEIRA NO MUNICÍPIO DE TERESINA-PI Monografia exigida como trabalho final de conclusão do Curso de Licenciatura Plena em Geografia da Universidade Estadual do Piauí, sob orientação da Profª. Esp. Jucélia Pereira Monteiro. TERESINA-PI 2010 3 Igor de Araújo Pinheiro O ENSINO DE GEOGRAFIA E A PERCEPÇÃO DE PAISAGEM NO PERCURSO CASA-ESCOLA: POR ALUNOS DO 6° ANO DA ESCOLA MUNICIPAL DEP. HUMBERTO REIS DA SILVEIRA NO MUNICÍPIO DE TERESINA-PI. Aprovado em ___/___/___ BANCA EXAMINADORA ___________________________________ Professora Esp. Jucélia Pereira Monteiro Presidente ___________________________________ Professor Msc. Francisco Gomes Ribeiro Filho Membro ____________________________________ Professor Esp. René Pedro Aquino Membro 4 “Paisagens são formas mais ou menos duráveis. O seu traço comum é ser a combinação de objetos naturais e de objetos fabricados, isto é, objetos sociais, e ser resultado da acumulação da atividade de muitas gerações.” Milton Santos, 1978 5 AGRADECIMENTOS Agradeço pela conquista de conclusão do 3° grau primeiro a Deus, que na sua infinita bondade me concedeu ferramentas para alcançar tal graça em minha trajetória, bem como as experiências vividas no período acadêmico. À família, o reconhecimento por permanecer ao meu lado nas diferentes situações, sejam elas positivas ou negativas. Aos meus amigos, agradeço pelo apoio nos momentos de necessidade, em especial Filipe Fontineles, Raquel Almeida, Renata Mourão, Rusniel Carvalho e Tetuliano Brandão. Aos amigos da universidade, Jessica Mousinho, Valéria Sousa e Nayra Castro, presentes nos mais diversos momentos, mostrando o valor da verdadeira amizade. À professora Jucélia Monteiro, sou grato pela missão de orientar a presente obra. Aos professores da UESPI – CCM e aqueles que passaram pela instituição, agradeço pela troca de conhecimentos e experiências. Em especial, ao professor Francisco Gomes, que na sua figura de paciência encorajou-me no aprofundamento do meu tema. 6 LISTA DE ABREVIATURAS OU SIGLAS EMDHRS - Escola Municipal Deputado Humberto Reis da Silveira SEMEC – Secretaria Municipal de Educação e Cultura 7 RESUMO O presente trabalho foi realizado com o objetivo de mostrar a importância da percepção de paisagem no percurso casa-escola feita por alunos do 6° ano do ensino fundamental da Escola Municipal Dep. Humberto Reis da Silveira, na zona sudeste de Teresina (PI), possuindo como principal aspecto a utilização da percepção em aulas de Geografia. A disciplina de Geografia é vista por uma porção de alunos como decorativa ou apenas descritivas, onde os fenômenos relacionados ao espaço em que vivem não estão ligados diretamente à cultura da sociedade. Cabe ao professor da área despertar nos alunos um olhar mais crítico, auxiliando-os na observação da paisagem ao redor fazendo uso da percepção na abordagem do tema de paisagem. O objetivo do estudo foi identificar as representações e as percepções dos alunos sobre o termo “paisagem”, em relação às paisagens observadas no bairro Frei Damião entre os trajetos casa e escola. O bairro Frei Damião, é dotado de carências estruturais das mais diversas ordens, é resultado de um processo de crescimento desordenado e sem participação dos órgãos públicos competentes. Para isso foi realizado estudo prévio sobre a área ao redor da escola, a fim de organizar a pesquisa no intuito de detectar sujeitos através da percepção dos alunos. A metodologia utilizada foi o levantamento bibliográfico e sistematização dos estudos; instrumental: roteiro de entrevista para professores, questionários para alunos e registro fotográfico do bairro; o levantamento percentual dos dados coletados substanciou e possibilitou a disposição das informações adquiridas em gráficos. As principais fontes utilizadas foram Milton Santos, Antônio Penna Gomes, Lana de Sousa Cavalcanti e Armand Frimont. O resultado da pesquisa nos induziu verificar a existência de problemas no conhecimento sobre o tema paisagem. Observamos que a maioria dos alunos associa o termo “paisagem” com a natureza. Observamos, ainda que, para grande parte dos alunos, a paisagem bonita está relacionada à natureza conservada, e a paisagem feia, à natureza degradada e aos elementos do ambiente construído. Falta clareza a respeito de paisagem, uma relação mais ativa entre conceito e vivência voltados à questão de paisagem, possibilitaria à criança a compreensão de paisagem natural e construída. Percebe-se que o papel do professor é importantíssimo na dicotomia das formas de paisagem. PALAVRAS-CHAVE: Espaço. Paisagem. Representação. Observação e Percepção. 8 ABSTRACT This work was carried out in order to show the importance of the perception of landscape on the way home-school students done by the 6th year of primary education at the Municipal School Rep. Humberto da Silveira Reis, in the southeast area of Teresina (PI) having as main feature the use of perception in geography lessons. The discipline of geography is seen by students as a portion of decorative or merely descriptive, where the phenomena related to space in which they live are not linked directly to the culture of society. The teacher has to wake up in the area a more critical students, helping them to observe the surrounding landscape by making use of perception to the theme of landscape. The objective was to identify the representations and perceptions of students about the term "landscape" in relation to the landscapes seen in the neighborhood Frei Damião between home and school trips. The district Frei Damião, is endowed with structural deficiencies of various orders, is the result of a process of growth and disorderly without the participation of competent public bodies. For this preliminary study was conducted on the area around the school in order to organize research in order to detect individuals through the perception of students. The methodology used was a literature review and systematization of the research; Instrumental interview guide for teachers, questionnaires for students and photographic record of the district, the percentage of survey data collected substantiated and made possible the provision of information acquired in graphics. The main sources used were Milton Santos, Antonio Gomes Penna, Lana de Souza Cavalcanti and Armand Frimont. The search result induced us to verify the existence of problems in knowledge about the issue landscape. We observed that most students associate the word "landscape"with nature. We also observed that, for most students, the beautiful landscape is related to the conservative nature, landscape and ugly, the degraded nature and the elements of the built environment. Lack of clarity about the landscape, a more active relationship between concept and experience focused on the question of landscape, allow the child an understanding of the natural landscape and built. It is perceived that the teacher's role is important in the dichotomy of the forms of landscape. KEYWORDS: Space. Landscape. Representation. Observation and Perception. 9 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 10 1 A PERCEPÇÃO: CONTIBUINDO DO ESTUDO DE PAISAGEM ............................. 13 1.1 A Construção do estudo espacial e de paisagem ............................................................ 14 1.2 A utilização do conhecimento geográfico na identificação dos elementos de paisagem .................................................................................................................................. 16 1.3 O ensino de geografia auxiliando na percepção de paisagem dos alunos ........................................................................................................................................ 18 1.3.1 A percepção como ferramental de aprendizagem................................................... 23 2 A PRÁTICA DA PERCEPÇÃO DE PAISAGEM NA APRENDIZAGEM DOS ALUNOS DO 6° ANO DA E. M. DEP. HUMBERTO DA SILVEIRA REIS ............... 27 2.1 A visão dos professores acerca da percepção de paisagem ......................................... 28 2.2 A percepção de paisagem dos alunos do 6° ano ........................................................... 32 CONCLUSÃO ...................................................................................................................... 43 BIBLIOGRAFIAS ................................................................................................................ 46 APÊNDICES ........................................................................................................................ 48 10 INTRODUÇÃO O interesse pelo estudo da paisagem é crescente. Nas últimas décadas do século passado, porém não só a geografia, mas por ciências como Arquitetura, Antropologia, Artes e outras. A Geografia protagoniza na escola o significado da paisagem. Através de polissentidos – sons, movimentos, formas, odores, sensações – há possibilidade de comunicação entre mundo e indivíduo. O ponto de partida para a leitura/compreensão da paisagem está nos estímulos conquistados pelo homem desde os primeiros dias de vida até o cotidiano das salas de aula. Por meio de estímulos sensoriais, trabalhados durante sua vida, o indivíduo decodifica os elementos contidos no espaço. A compreensão da paisagem faz-se então através da percepção sensorial do mundo de acordo com a sua experiência. A maneira como se dá a percepção é diferente de um indivíduo para outro. O contexto cultural, religioso, moral, influencia de modo inconsciente a compreensão aos estímulos lançados. A compreensão dá-se por mecanismos perceptivos que elaboram opiniões a partir de pequenas experiências, então um dos grandes desafios é perceber e interpretar os estímulos espaciais. A produção do conhecimento transgride a sala de aula no instante em que abarca outros modelos de aprendizagem. A análise espacial contribui para a informação emitida pela paisagem. Seus significados estão carregados de interesses, às vezes, não para a sociedade local, havendo controvérsias no volume de informações produzidas na paisagem. Estas informações podem aparecer como rudimentos capazes de agradar ou não, deste modo todo esforço de envolver o aluno a temas que por ventura reduzem o seu interesse, salutando o processo de ensino-aprendizagem. Em outras palavras, a relação da paisagem com o aluno pode desenvolver um sentimento topofóbico, explicado por Amorim Filho (1996, p.142) como “os sentimentos negativos do homem em relação ao seu meio, isto é, ela conduz a noção de paisagem do medo”. Neste mesmo raciocínio, é vasta a discussão de temas relacionados à preservação ambiental, que é estudada transversalmente pela Geografia, trata dos valores e atitudes 11 concebidas pela sociedade para com as estruturas naturais. Portanto, a paisagem apreendida pode ou não manter um elo afetivo com o homem. Para responder à problemática levantada, foram determinados os seguintes objetivos geral: retratar o estudo de paisagem a partir da percepção dos alunos no ensino de Geografia da Escola Municipal Deputado Humberto Reis da Silveira (EMDHRS) e específicos: identificar se há a utilização da percepção dos alunos do 6° ano no estudo de paisagem; discutir as dificuldades encontradas por professores relacionadas à percepção dos alunos; discutir as metodologias implementadas no ensino de Geografia referentes ao estudo das paisagens. A EMDHRS constitui o universo deste estudo, que teve como amostra o 6° ano do ensino fundamental. As turmas de 6° ano constituem-se, enquanto objetos para a pesquisa, pelo fato de ser nessa série que o estudo de paisagem é iniciado, e por ser a série na qual de fato inicia-se o estudo da disciplina de Geografia. Essas características são pontuais, pois há todo um cuidado no manejo do ensino-aprendizado dos alunos, possibilitando um maior grau de conhecimento sobre o espaço geográfico. O trabalho de pesquisa foi dividido em dois instantes: o primeiro a pesquisa bibliográfica, que serviu de embasamento para a fundamentação, estruturada no 1° capítulo. No segundo instante, fez-se a pesquisa de campo, onde foi utilizado roteiro de entrevista e questionário para a coleta de dados. De acordo com a pesquisa, os alunos possuem um conhecimento utópico ou estereotipado sobre o que seja paisagem. As paisagens, para a maioria deles é sinônimo de beleza natural onde o homem não participa ativamente, reflexo do ensino que não procurou contextualizar a paisagem ao redor – como o encontrado de casa para a escola – com o estudo sobre as formas de paisagem. As técnicas utilizadas no transcorrer da pesquisa foram o levantamento bibliográfico, registro fotográfico e pesquisa de campo. Esta última possibilitou analisar o conhecimento dos alunos sobre o conceito de paisagem e a relação dos mesmos com a paisagem em volta deles. Através do roteiro de entrevista, aplicado junto aos professores da escola, foi possível apurar a metodologia empregada relativa à percepção de paisagem dos alunos, e, conseqüentemente, 12 também, na percepção dos professores. As principais fontes utilizadas foram Milton Santos, Antônio Penna Gomes, Lana de Sousa Cavalcanti e Armand Frimont. O trabalho dividiu-se em duas partes, no 1° capítulo A Percepção: contribuindo no estudo de paisagem e no 2° capítulo A prática da percepção de paisagem na aprendizagem dos alunos do 6° ano da EMDHRS. O levantamento percentual dos dados coletados possibilitou o arranjo das informações mostradas em gráficos. Para a ilustração das considerações dos professores sobre a paisagem, foi realizado um registro de depoimento. O registro fotográfico permite a visualização da paisagem observada no bairro Frei Damião. Em relação à pesquisa, ficou constatado como é complexa a aplicabilidade da percepção dos alunos no ensino de geografia. A aplicabilidade por vezes esbarra na negligência dos responsáveis pela educação, que nem sempre são a favor de práticas dinâmicas de ensino. Constatou-se uma observância compartilhada nas entrevistas, manifestadas pelo conhecimentodas paisagens próximas aos alunos. Todavia, também ficou constatada a má utilização da percepção como ferramenta no estudo de paisagem e de outros temas da ciência geográfica. Observou-se também a atuação dos professores de geografia no trato com as experiências vivenciadas pelas crianças. Portanto, o que é exposto torna-se de fato um pouco distante da realidade local da maioria dos alunos entrevistados. Os alunos não se sentem parte da paisagem à sua volta, e sem o conhecimento do seu “mundo” não reconhecerão o bairro onde residem como componente da paisagem. Diante do exposto, este estudo vem a contribuir para a discussão que é altivo, não se encerrando neste trabalho monográfico. 13 1 A PERCEPÇÃO: CONTRIBUINDO NO ESTUDO DE PAISAGEM Professor e escola possibilitam um vínculo com o aprendizado das representações espaciais pelos alunos, permitindo explorar o estudo da paisagem geográfica a partir de métodos perceptivos. Ambos podem buscar alternativas didáticas práticas que interfiram na estrutura do aprendizado, exaltando o caráter pesquisador das crianças pelas paisagens encontradas no espaço fora da escola. As novas práticas didáticas tornam o contato direto da criança com a paisagem o grande diferencial do ensino contemporâneo. No estudo de paisagens os conteúdos são permanentes, não acompanham as mutações da paisagem real. Interagir o alunos com o mundo real e também a uma nova cultura e novos espaços, estabelece uma proximidade maior com pessoas e espaços, refletindo uma conexão afetiva em comparação a uma minguada relação já existente. Na educação, os novos desafios têm se aplicado aos profissionais diante das transformações sofridas pela sociedade. A descarga de informações sem uma triagem adequada ao aluno requer cuidado no que cerne seu objetivo geral, o aprendizado. O desafio está em captar o olhar do aluno para transformações locais, relacionando conteúdos pouco explorados, como o de paisagem, às questões sociais envolvidas no contexto deles. Múltiplos enfoques foram retomados pela Geografia, após um período de esquecimento, na noção de paisagem. A alusão às formas concretas e estáticas alterou-se a um relativo consenso de espaço dinamizado. Noção de paisagem se constitui atualmente concebida e compreendida na sua completude resultado dos inúmeros processos antropológicos no espaço, capaz de se moldar e ser moldado nos paradigmas de cada época, coloca Ab’Sáber (2003, p.9) “Todos os que se iniciam no conhecimento das ciências da natureza [...] atingem a ideia de que a paisagem é sempre uma herança”. Nesse contexto, o estudo da paisagem se dá analisando sua transição de modo inconsciente por meio de estímulos. O acompanhamento de perto pelo indivíduo aprimora o entendimento em termos geomorfológicos, econômicos e arranjos sociais. O observador busca correspondências entre o conteúdo “paisagem” e os fenômenos simbólicos tangentes da paisagem. 14 1.1 A Construção do estudo espacial e de paisagem. Para apreender as formas espaciais estruturadas e para preparar o seu advento como também conhecer seu processo construtivo, a geografia se põe a explorar os resultados aparentes e ocultos do estudo espacial no que tange à construção de suas paisagens. Após a Segunda Guerra Mundial o mundo modificou-se e a Geografia procurou novos paradigmas. Andrade (1987, p.105) discorre sobre esse período como: O impacto do pós-guerra sobre a Geografia não se limitou a fazê-la sair das Universidades e tentar disputar espaço com outras disciplinas na área do planejamento e da crítica social. Ela provocou a reflexão dos geógrafos sobre a natureza da Geografia e os levou a atitudes de crítica, à reformulação dos seus princípios científicos e filosóficos, à negação do passado, [...], e à procura de novos caminhos. Antes preocupados em elaborar teorias distantes do seu objeto de estudo, os geógrafos se puseram a adotar uma conjuntura crítica a respeito dos mecanismos abordados na Geografia, a fim de sistematizar as ideias fixas destinadas ao estudo do espaço como um todo. Na Geografia, esta concepção tem sido retomada com múltiplos enfoques, após um período de esquecimento. A necessidade de uma “ciência em formação” atravessou o século, cuja destinação, acreditava-se, não deveria ser a lixeira da história humana e sim material construtivo para o avanço social e espacial. Nessa perspectiva, ressalta-se também a evolução sobre o conceito de paisagem ao longo dos últimos anos, por vários autores, que relacionam a transformação do conceito de paisagem em conceito geográfico. A paisagem se encontra no mesmo patamar das ações espaciais, colocando de lado o caráter estético-descritivo, onde teve seu desenvolvimento inicial relacionado ao paisagismo e com arte dos jardins, para assumir um significado mais amplo e de integração entre todos os elementos que a compõem. Sobre o papel da paisagem, Lacoste (1985, p.62) lembra que “a paisagem na Geografia escolar deve ser lida, percebida e compreendida em sua completude e não só contemplada e admirada, desconectada do raciocínio estratégico”. O novo direcionamento e interpretação dados ao conceito de espaço também está atrelada ao conceito de paisagem, onde ambas posicionam análise integrada do sistema natural 15 e a inter-relação entre os sistemas naturais, econômicos e sociais modificando o cunho descritivo para reflexões mais científicas. Embora seu conceito caminhe ao lado do conceito de espaço, a paisagem não pode ser considerada como a mesma, pois se não houver paisagem, ainda sim haverá espaço. Claval (2001, p. 160) define: Novas perspectivas aparecem no domínio dos estudos sobre a paisagem no final dos anos setenta. A paisagem cessou de ser concebida como um dado objeto. O enfoque foi, a partir de então, colocado na dialética entre a dimensão objetiva e a dimensão subjetiva do olhar e sobre a relação entre a paisagem como marca da cultura e a paisagem como matriz da cultura. O domínio da paisagem abrange assim, todos os elementos que são capazes de ser vistos e sentidos como cores, movimentos, sons, odores etc. Os elementos são percebidos de forma complexa e dinâmica integralmente no espaço, onde outros elementos naturais-culturais evoluem em conjunto. Guerra (2006, p.107) completa: A paisagem corresponde a um organismo complexo, feito pela associação específica de formas e apreendido pela análise morfológica, ressaltando que se trata de uma interdependência entre esses diversos constituintes, e não de uma simples adição, e que se torna conveniente considerar o papel do tempo. Uma reflexão mais integradora entre as partes são incorporadas à paisagem como sua função na natureza de fisionomia e funcionalidade, destacando, ao mesmo tempo, sua dinâmica entre os componentes naturais. Tais abordagens revelam o papel exercido pelo conceito de paisagem em expressar as características do lugar ou do território. Dessa forma, acrescenta Tuan (1980, p.111) “o que importa para as crianças são as sensações físicas. Uma criança precisa sentir tatilmente o meio ambiente, ter contato físico com ele”. Esse novo olhar abre viés para ser trabalhado o conceito de paisagem a partir da abordagem sistêmica em diferentes estágios de transformações dos elementos naturais, artificiais e humanizados. Para isto, deve ser trabalhada respeitando suas etapas, de forma a serem perceptíveis as transformações ao longo do tempo, no intuito que se mantenha uma base conceitual e não somente lúdica. O método utilizado visa os resultados que a percepção sobre a paisagem propicia a quem a observa, aumentando o grau de entendimento entre os elementos que formam esse 16 sistema. Nora Keite (2010, p.54) reforça o pensamento quando fala que “a idéia é compreender e diferenciar o conjunto depaisagens naturais que existem em nosso planeta”. Como se pode observar, a paisagem acima de tudo deve ser compreendida a partir de um estudo prévio. Estudar a paisagem, bem como o espaço, sempre apresentou dificuldades internas – divergências entre grupos que a compõem – como a geografia da percepção e os estudos comportamentais realizados por Piaget e seus discípulos. Além disso, os problemas ecológicos agravados pelo desenvolvimento do capitalismo, provocando a degradação do meio ambiente, em escala que coloca em perigo a existência da humanidade, remetem à paisagem um estudo que tem um grande campo de ação. 1.2 A utilização dos conhecimentos geográficos na identificação dos elementos de paisagem As diferentes linhas do pensamento geográfico decorrentes na geografia apresentam variadas categorias ou unidades de análise espacial como a de paisagem. Esta, no entanto, é percebida como um complexo sistema e fonte de percepções para quem a utiliza nas mais distintas funcionalidades. Tal pensamento requer, de quem faz uso, um planejamento adequado para cada categoria de análise, seja ela de pesquisa, estudo ou somente uma simples percepção. O conhecimento geográfico aplicado à paisagem, avalia aspectos de acordo com as dimensões ecológicas e sociais que vivemos, eliminando o caráter estritamente descritivo utilizado em épocas anteriores. A proposta desta análise é pela identificação dos elementos representados e como estão dispostos espacialmente nas suas variadas faces através do pensamento geográfico. A paisagem percebida no contexto espacial confere a quem a observa rastros das atividades humanas, pois retrata as relações sociais estabelecidas em um determinado local. Berque (1992, p.84) aponta esse relacionamento: 17 A paisagem é uma marca, pois expressa uma civilização, mas é também uma matriz por que participa dos esquemas de percepção, de concepção e de ação – ou seja, da cultura – que canaliza, em certo sentido, a relação de uma sociedade com o espaço e com a natureza e, portanto, a paisagem do seu ecúmeno. E assim, sucessivamente, por infinitos laços de co-determinação. Os elementos capturados na percepção são selecionados de forma diferentes, restando ao observador à capacidade de discernir os elementos espaciais. No entanto, a observação torna-se ainda mais difícil se o indivíduo não conhecer as formas de paisagem. Para Del Rio e Oliveira (1996, p.139), “a percepção enquanto um processo de interação do indivíduo com o meio ambiente, dá-se por mecanismos perceptivos propriamente ditos e principalmente cognitivos”. Os elementos presentes nas diversas paisagens propiciam ao observador, neste caso o aluno, o encontro das atividades humanas desenvolvidas ao longo do tempo em cada exemplar de paisagem, gerando escalas mais amplas como lugar, região ou território. Saber relacionar tais elementos aos fenômenos produzidos por eles atribui à ciência geografica papel de destaque na função da percepção. Rosendahl (2001, p.16) justifica: [...] a partir da década de 1950, a paisagem geográfica deixa de ser local, regional, e passa a conter uma série de signos que remetem a fluxos em conexão com o mundo. As inovações técnicas, a evolução dos transportes, a evolução da circulação dos homens, das informações e das mercadorias, alteraram o sistema de interpretação das paisagens. As regiões econômicas passaram a representar melhor o novo mundo da técnica, da informação, do capital e da densidade de bens e pessoas. A ciência geográfica adentra na percepção de paisagem no momento em que possibilita, através de métodos aquém de didáticos, ao observador, não somente sentir, bem como analisar e entender os elementos contidos na paisagem. O elemento capturado revela característica do recorte espacial, a paisagem assim torna-se reconhecível para quem a percebe. A paisagem, no instante em que é percebida, revela momentos da história humana, principalmente quando está culturalizada, um produto do trabalho de muitas gerações. A paisagem se sujeita ao processo de mudança da sociedade para se adaptar às novas realidades, não havendo dúvida, a mudança ocorrida será percebida logo então. Diferentes formas de visualizar, analisar e perceber a paisagem geográfica de cada região é fundamental para a compreensão dos alunos pelo meio em que vivem: por que minha 18 casa está no morro? Ou por que o rio passa pelo centro da cidade? São perguntas talvez não respondidas por eles nas séries seguintes. A interpretação da paisagem pode acontecer por meio de diversos modos, como observação de fotografias, filmes e até mesmo obras de arte, o fundamental também são os trabalhos de campo. O estímulo à percepção capacita o aluno a entender o relacionamento paisagem/meio tão importantes no âmbito geográfico contemporâneo. Vivendo num espaço mundializado, aonde o dinamismo da sociedade fomenta o conhecimento sobre os fenômenos gerados pela mesma, o aluno necessita de estímulos vindos dos professores, não somente de Geografia, mas de diversas outras disciplinas, visando ao acumulo do conhecimento criado a partir da observação da paisagem. Tuan (1980, p.4) explica: tanto a resposta dos sentidos aos estímulos externos, como a atividade proposital, na qual certos fenômenos são claramente registrados, enquanto outros retrocedem para a sombra ou são bloqueados. Muito do que percebemos tem valor para nós, para a sobrevivência biológica e para propiciar algumas satisfações que estão enraizadas na cultura. A dinâmica da paisagem dependerá da magnitude e freqüência dos fenômenos espaciais e temporais, ela está sujeita a distorções que serão ou poderão ser percebidas em seus variados moldes. A criança apresentará uma maior facilidade para perceber como estão dispostos os elementos em paisagens mais simples, a exemplo do seu bairro. Paisagens mais complexas como aquelas fora do seu contexto social, centro da cidade, outras cidades, dificilmente significará algo para o aluno. Os elementos reconhecidos na paisagem são aqueles presentes no contexto social de quem observa, o que caracteriza, a percepção como reconhecimento do que outrora foi visualizado, sentido. 1.3 O ensino de geografia auxiliando na percepção de paisagem dos alunos A Nova Geografia, engajada na construção das representações sociais sobre a cientificidade e objetividade, entre outras coisas, a crítica da Geografia Tradicional e a 19 formulação de novos métodos de análises, colocaram a utilização da paisagem como paradigma das relações socioespaciais. A preocupação com a criança, e, conseqüentemente, com o futuro da humanidade, fez os geógrafos tradicionais repensarem a forma como a sociedade plasma e organiza os espaços. Daí o desenvolvimento da percepção e do comportamento junto às atividades de ensino, Castellar (2005, p.218) contribui na reflexão “o olhar geográfico da criança pode ser estimulado ao comparar diferentes espaços e escalas de análise, o que possibilita superar a falsa dicotomia existente entre o local e o global, [...]”. O ensino de geografia contemporânea busca estimular a criança a compreender as relações existentes entre ela e o espaço, na tentativa de estudar as modificações na paisagem ao seu redor. A partir da compreensão da paisagem que estão inseridas as crianças estarão capacitadas para analisar outros tipos de paisagem, até mesmo traçando uma analogia entre as diversas paisagens. Estas relações se modificam ao longo do tempo, bem como as transformações espaciais. A relação homem/espaço sofre alterações que acabam influenciando na paisagem. Ao perceber mudanças nesta paisagem, o aluno nota a ocorrência de novas relações sobre as existentes. Sobre a metamorfose sentida pela paisagem, Santos (2007, p.54) considera:A paisagem nada tem de fixo, de móvel. Cada vez que a sociedade passa por um processo de mudança, a economia, as relações sociais e políticas também mudam, em ritmos e intensidades variados. A mesma coisa acontece em relação ao espaço e à paisagem que se transformam para se adequar às novas necessidades da sociedade. A paisagem reaparece como conceito importante para a geografia trabalhar em sala de aula a relação direta do aluno à organização espacial, edificando desde cedo à representação que o espaço possui em sua vivência, como parte integrante dele. Para tal compreensão sobre os espaços, vale ressaltar a relevância que a percepção possui no estudo das representações sociais. Perceber o espaço nas suas diversas formas põe a paisagem em lugar de destaque dentre as representações socioespaciais. A percepção subjetiva da paisagem como elemento integrante 20 do meio se faz necessário no ensino da disciplina geográfica. Mendonza (1988, p.132) ressalta o caráter de objetividade, ora de subjetividade da Geografia da Percepção: Um Sistema real cujos elementos e interações são o que são com independência da percepção ou do significado que lhes dêem as pessoas carentes do distanciamento e dos instrumentos teóricos adequados para um conhecimento objetivo. Tal definição remete à corrente da Geografia da Paisagem tornar-se o próprio objeto dessa ciência, possibilitando a observação dos aspectos visíveis e sensoriais dos fenômenos geográficos, relacionando homem e meio, caracterizados nas diferenças existentes entre as áreas. As paisagens estão na dimensão da percepção, sendo sempre um processo seletivo de apreensão e materialização de um determinado momento da sociedade. Como bem cita Gomes (1974, p.11): Perceber é conhecer, através dos sentidos, objetos e situações. O ato implica, como condição necessária, a proximidade do objeto no espaço e no tempo, bem como a possibilidade de se lhe ter acesso direto ou imediato. Objetos distantes no tempo não podem ser percebidos. Podem ser evocados ou imaginados. A percepção, assim, vem a ser instrumento necessário para a conotação dos elementos de paisagem, através dos sentidos, a possibilidade de apreender a totalidade dos objetos espaciais. A percepção é, assim, forma restrita de captação de conhecimentos espaciais, dentre eles a paisagem, que se mantém portadora de significados, expressando crenças, mitos, valores, utopias tendo uma dimensão unicamente simbólica. Sobre isso Gomes (1974, p.12) coloca: A propósito da natureza dos objetos capazes de serem atingidos pelas atividades perceptivas, convêm esclarecimentos. Perceber não é perceber, apenas, objetos concretos, como são os vulgarmente designados por essa palavra. Percebem-se, além dos objetos concretos, objetos ideais. Poderia a paisagem então ser classificada em certo momento, como possuindo uma qualificação orgânica, percebida como forma de um habitat. A paisagem finda por gerar relações genéricas com as outras paisagens. Sua estrutura e função são determinadas por formas integrantes e dependentes de outras paisagens, distinta de associações, ao mesmo tempo tornando-se composta por áreas físicas e culturais. Remetente às formas de paisagem, Corrêa (2004, p.24): Toda paisagem tem uma individualidade, bem como uma relação com outras paisagens e isso também é verdadeiro com relação às formas que compõem a 21 paisagem. Nenhum vale é exatamente igual a outro vale; nenhuma cidade é uma réplica exata de outra cidade. As formas existentes na paisagem estão à mercê do julgamento de quem as observa, sob a sensibilidade subjetiva da percepção individual. Suas características genéricas são selecionadas de forma particular no espaço, considerando cada tipo de elemento existente, a fim de estruturar, sem dúvida conduzido com inteligência, um imaginário de paisagem. A posição de Corrêa (2004, p.24) a respeito dessa idéia nos remete ao seguinte: No sentido aqui empregado, a paisagem não é simplesmente uma cena real vista por um observador. A paisagem geográfica é uma generalização derivada da observação de cenas individuais. (...) mas ele tem sempre em mente o genérico e procede por comparação. A percepção empregada no ensino de Geografia ao analisar as características que particulariza a paisagem, leva a questões no âmbito educacional a respeito do conceito de paisagem, principalmente quando este remete à espacialização. O espaço indiscutivelmente está carregado de signos codificados, símbolos espaciais contidos na paisagem aludindo à representação ao nível da conceituação. Sobre o significado que o espaço representado, Massey (2008, p.43): Existe uma idéia com a história tão longa e renomada, que chegou a adquirir o status de panaceia indiscutível para todos os males: a idéia de que há uma associação entre espaço e a fixação do significado. A representação certamente a conceituação – foi concebida como espacialização. A paisagem quando percebida sob o olhar de uma criança não é sentida na sua totalidade, é recortada de tal forma, que apenas elementos visivelmente interessantes ao seu foco são observados e catalogados. O domínio do visível está na dimensão do que pode ser percebido, tornando-se um processo seletivo de apreensão, numa compreensão de seus determinantes mais objetivos. Descrever elementos de paisagem realizados por algumas crianças durante o ensino de geografia é tão forte que se torna deturpada, a criança possui no seu imaginário a paisagem somente como as formas naturais do espaço e ditas belas, extraindo rudimentos isolados do espaço. A seletividade das crianças é abordada por Cavalcanti (1998, p.49): A ideia de paisagem que está sendo construída por essas crianças é estereotipada, é uma imagem, é um lugar idealizado, idílico. (...) É, além disso, 22 uma imagem estática, que não apresenta dinâmica, que não se transforma sem deixar de ser paisagem. Ou seja, a imagem de paisagem para a maioria desses alunos parece ser a de uma estampa de parede. Fundamentalmente a apreensão dos objetos a serem manipulados pelas crianças será considerada, por se tratar da subjetividade envolvida no processo perceptivo, pois essa atividade de sentir através dos instrumentos sensoriais do corpo humano requer uma coordenação visando à maior eficiência perceptiva. Sobre a capacidade perceptiva humana vale destacar a premissa de Gomes (1974, p.146): Na realidade, apenas uma pequena margem do que ocorre é relevante para efeito de ajustamento e apenas em relação a essa pequena margem de acontecimentos nos manifestamos sensíveis. Biologicamente, pois, não estamos preparados senão para um limitado processo de captação de informações. A criança como objeto perceptivo deste trabalho nem sempre compreende ou percebe os conceitos espaciais usados pelos adultos, como exemplo o de paisagem. Principalmente aqueles lançados no ensino de Geografia, e abordados de formas pré-percebidas, dificultando ainda mais o processo de perceptividade espacial. Tais dificuldades encontram-se na maneira como é trabalhada a questão Almeida (1989, p.10) observa: Primeiramente, não cremos que se possa, de fato, ensinar conceitos. Além disso, a “incompreensão” ilustrada nos exemplos acima decorre, de um lado, da dificuldade inerente ao nível de compreensão da realidade em que as crianças envolvidas se encontravam; e, de outro, da forma como, na escola, os conceitos relativos à noção de espaço são trabalhados. O preparo para esse domínio perceptivo relativo ao que está presente na paisagem é desenvolvido em grande parte, pelo professor. Porém, essa observação da realidade espacial não é mera identificação de elementos, marca somenteo início de uma ampla análise dos conceitos, na estruturação de uma idéia mais ampla sobre o que seja paisagem. É preciso considerar o envolvimento do aluno com o seu meio, à cerca desta abordagem Cavalcanti (1998, p.172) explica: Contudo, sabe-se que o professor está com os alunos na sala de aula durante o ano inteiro, mas não sabe tirar proveito de possibilidades de aproximação física, afetiva e cognitiva com eles (...). Seja como for, o estudo confirmou a importância de uma aproximação com os alunos e com seu processo de pensamento. 23 A prática da percepção necessita da dominação da atividade perceptiva, levando quem observa a prática da construção de conceitos através da percepção e do uso dos múltiplos sentidos. O ensino de Geografia é dotado de recursos a garantir o uso do sistema perceptivo da criança em suas mais diversas situações, cabe ao professor a difícil missão de guiar o aluno por esse mundo de sensações. A paisagem pode e deve ser objeto de estudo não só do ensino de Geografia, mas de quem a faz dentro de sala de aula. É preciso definir os papéis que professores e alunos desempenham dentro do ensino. Na escola, como no ensino de Geografia, impera o formalismo da relação aluno e professor, trato que reflete nas atividades cotidianas mais básicas. Cavalcanti (1998, p.173) considera: Considero, a partir daí, bastante relevante refletir sobre as possibilidades “revolucionárias” do cotidiano escolar e o exercício de papéis de seus agentes sociais. (...) Para que as mudanças ocorram, é preciso que alunos e professores não os exerçam inconscientemente, porque na vida social é imprescindível exercê-lo em alguma medida, ainda que recusando suas formas cristalizadas e estereotipadas. Tal entendimento leva a determinados caminhos no ensino de Geografia, na busca da formação/compreensão do conceito de paisagem no decurso da percepção contida em cada aluno. As representações presentes na imaginação de cada criança, só ressalta, tão importância é a percepção de paisagem na formação socioconstrutiva da criança. 1.3.1 A percepção como ferramenta de aprendizagem Dizer que paisagem é o que vemos é um equívoco, é diminuir nossas percepções a um único sentido, pois a paisagem existe em seus vários sentidos, entregue às várias representações nela contida. Os sentidos nos auxiliam em vários trabalhos desenvolvidos por nós, são responsáveis pela identificação das atividades desenvolvidas no espaço. Observar as expressões do espaço no seu conjunto de significados faz da percepção uma ferramenta relevante nas novas metodologias empregadas por professores de Geografia. A 24 análise ambiental, urbana, ou mesmo do cotidiano tornam o sujeito conhecedor de si próprio, mas para isso é necessário o auxilio da percepção. Kozel (1996, p.73) afirma que “É a partir da observação do meio mais próximo do aluno, da sua localização geográfica, representação que permitirão à criança compreender sua realidade e transformá-la”. A percepção pode ser o instrumento mais eficaz na condição da aprendizagem para o estudo dos conceitos espaciais como o de paisagem. Observar os acontecimentos recorrentes no dia a dia do aluno interfere positivamente no seu entendimento sobre a paisagem ao seu redor, podendo até mesmo gerar modificações que melhorem aquela paisagem. Os profissionais da área esquecem que a capacidade de perceber as formas, sons e cheiros do mundo estão presentes desde muito cedo na vida dos alunos, antes mesmo deles ingressarem na vida escolar. Em relação a esta capacidade do aluno, Kozel (1996, p.75) lembra que “Não se pode esquecer que a capacidade de observação já existe na criança antes de sua vida escolar, e essa experiência é acumulada, ampliada ou reformulada em diferentes circunstâncias da prática pedagógica com crianças” A percepção trazida pelo aluno do seu ambiente físico vem acumuladas de experiências pessoais, e pode ser utilizada no ensino para o seu aprendizado. A paisagem está carregada de significados, no momento em que os alunos já possuem um elo afetivo com o lugar fica mais fácil sua compreensão sobre os valores da paisagem. Essa relação do homem com o espaço percebido revela o sentimento do espaço na vida da criança, pois sua ligação entre meio e ser humano é composta desde cedo. O aluno desenvolve-se dentro das condições que o espaço oferece. Frimont (1980, p.42) reforça que “O estudo da psicologia do espaço na criança e no adolescente mostra, na complexidade das representações, toda a espessura dos valores que ligam o homem jovem, e em seguida o adulto, ao meio em que vive”. A paisagem situada no espaço de vivência do aluno, embora não seja para ele um lugar ideal, ou como a paisagem encontrada em livros, mantém relações boas que perpetuaram enquanto o convívio durar. Embora a criança conheça outras paisagens, experimente novas sensações, a paisagem apreendida pelo aluno através da percepção na busca do seu real conceito permanecerá para sempre em sua mente. 25 Os novos espaços, as novas paisagens farão parte da existência individual do aluno, as relações são renovadas, ganhando moldes distintos. O conceito de paisagem pode ser estudado contextualizando os fenômenos locais dos alunos, no entanto devem assegurar sua peculiaridade genérica para o estudo de outras paisagens, diante dessa consideração Frimont (1980, p.31) coloca: As estruturas da percepção e da inteligência do espaço assentam todas as estruturas psicológicas da criança, em esquemas cada vez mais adaptados às novas situações, por assimilação e acomodação. O espaço vivido é uma experiência contínua. O aluno deve estar preparado não somente para compreender a paisagem encontrada no seu meio, mas todas as formas e estruturas de paisagem encontrada por ele. Nessa abordagem a percepção é passo inicial para um prolongado estudo das paisagens, Frimont (1980, p.35) lembra que “A descoberta do mundo não pode permanecer no estágio de uma simples percepção, mesmo prolongada por uma descrição”. O estudo das paisagens não para na escola, ele continua nas novas experiências do indivíduo. A metodologia empregada pelo professor no estudo da paisagem pode usufruir da percepção, no entanto, deve ater ao fato de que o aluno não aprenderá tudo sobre paisagem numa simples observação. A utilização da percepção no ensino dará caminho ao aluno ler a paisagem e a partir daí concluir suas próprias definições, o professor possibilitará a capacidade de interpretação da paisagem. Quanto ao significado da percepção Besse (2000, p.64) destaca: A paisagem é um signo, ou um conjunto de signos, que se trata então de aprender a decifrar, a decriptar, num esforço de interpretação que é um esforço de conhecimento, e que vai, portanto, além da fruição e da emoção. A ideia é que há de se ler a paisagem. Aprender sobre a paisagem é bem mais que somente identificar fatos de modo isolado, é poder observar a paisagem na sua complexa estrutura fundamentada em eventos históricos que edificaram suas formas. A leitura da paisagem é uma leitura de sentidos, onde o autor relaciona-se direto com a obra, interagindo e atuando como receptor da sua linguagem codificada. A paisagem como texto não-verbal é composta por Ferrara (1991, p.16) como: 26 Desvencilhando-se da centralidade lógica e conseqüentes linearidade e contigüidade do sentido, o texto não-verbal tem outra lógica, onde o significado não se impõe, mas pode se distinguir sem hierarquia, numa simultaneidade; logo, não há sentido, mas sentidos que não se impõem mas que podem ser produzidos. A aprendizagem sobre paisagem, considerando o princípio da percepção, desperta no aluno uma consciência crítica quanto à mesma, havendo uma otimização das experiências da sua leitura. Se háuma melhora no aprendizado em relação ao conceito de paisagem, o fato é que, a percepção ajuda na leitura simultaneamente no conhecimento do aluno. O ensino pode e deve valorizar a aprendizagem dos alunos por meio de instrumentos dinâmicos como a percepção. A leitura das paisagens favorece no conhecimento e amadurecimento crítico do aluno, pois é a partir da sua “visão” que serão lançadas os verdadeiros conceitos sobre paisagem. A paisagem só vale ser estudada se tiver algum valor na vida de quem a percebe. 27 2 A PRÁTICA DA PERCEPÇÃO DE PAISAGEM NA APRENDIZAGEM DOS ALUNOS DO 6° ANO DA E. M. DEP. HUMBERTO REIS DA SILVEIRA. É evidente que o estudo da paisagem e a percepção adquirida pelos alunos são fundamentais para o desenvolvimento de outras habilidades dentro da disciplina de Geografia. As experiências dos alunos podem ser aproveitadas em outras atividades dentro e fora do ensino, criando um elo entre o indivíduo e o espaço. A qualidade da aprendizagem sobre o estudo de paisagens termina prejudicada quando o foco do ensino não está voltado para as percepções sentidas pelos alunos. O problema cresce na medida em que a abordagem “paisagem” é imposta na forma descritiva, eliminando qualquer chance do aluno desenvolver um papel crítico relacionado à questão. A prática da percepção de paisagem empregada em sala de aula, em sua maioria, não alcança a funcionalidade geográfica, que é a de aprender as formas do espaço partindo do princípio da percepção. Diante disto, nos deparamos com alunos do 7°, 8° e até 9° anos sem condição intelectual capaz de distinguir paisagem natural de paisagem cultural, desconfigurando todo um sistema planejado de ensino. Os professores de Geografia têm apresentado dificuldades na aproximação dos conteúdos è realidade dos alunos, cabe ao profissional da área ultrapassar tais barreiras construídas há anos. O estímulo às sensações, um planejamento aprimorado sobre os temas, a utilização da vivência social do aluno nas aulas seriam capazes de modificar este panorama. A estrutura escolar também coloca em risco o aprendizado, se tratando de que o estudo da percepção exige do professor mais que “aulas convencionais”, requer aulas passeio ou até mesmo observação a pontos específicos escolhidos para amostra de paisagem. As barreiras encontradas em escolas pelos professores e alunos para a prática da percepção de paisagem são numerosas e desafiadoras nas suas diversas modalidades. A escola municipal, assim como tantas outras, permanece distante do convívio entre aluno e educação, já o ensino de Geografia se for trabalhado incorretamente pelo grupo escolar 28 será prejudicado. Na escola o relevante é aproximar ao máximo o conteúdo a prática que é ou será exercida pelo aluno em sociedade. 2.1 A visão dos professores acerca da percepção de paisagem Na EMDHRS o trabalho dos professores ocorre de forma integrada à coordenação, assim como se vivencia em outras escolas municipais, onde as práticas externas elaboradas pelos professores para com suas turmas são monitoradas através de um planejamento prévio. Nas aulas em que o professor da disciplina de geografia almeje trabalhar o conteúdo fora do espaço físico escolar, a prática carece da autorização por parte de quem faz a coordenação. As atividades desenvolvidas fora da escola são incomuns em aulas de geografia. Na EMDHRS, bem como em outras escolas administradas pela SEMEC há necessidade de um ofício para a solicitação de transporte para alunos, tornando ainda mais burocrática a prática de campo. Embora estas atividades propiciem ao aluno interação com os diversos espaços e suas paisagens, a simples observação no percurso casa-escola contribui no aprendizado sobre as formas encontradas na paisagem. Percurso este, realizado em espaços curtos, não havendo na maioria dos casos a observação por meios de transporte terrestre. O percurso feito de casa para escola pode revelar as peculiaridades situados entre esses espaços, servem como um recurso a mais para ser usufruído pelo professor para as aulas que abordem o tema paisagem. Fica destinado ao professor criar caminho rumo à percepção da paisagem local, vale estimular o sensorial na identificação dos elementos trabalhando o tema de paisagem paralelo à percepção. A EMDHRS serviu de universo para a pesquisa e foram delimitadas para amostra as turmas do 6° ano do ensino fundamental por estar no quadro de conteúdos o tema de paisagem. Para diagnosticar a problemática sobre as dificuldades encontradas pelos professores da área de Geografia, bem como da influência que esses profissionais exercem acerca da aprendizagem 29 adquirida através da percepção de paisagem dos alunos. O levantamento percentual dos dados coletados e respostas dos professores de Geografia possibilitaram a disposição das informações adquiridas. Em relação à importância que a percepção de paisagem adquirida pelos professores influencia na aprendizagem, comprova-se pela resposta dos dois professores que a percepção deles contribui diretamente no ensino quando o assunto é paisagem, tais como: “A partir do momento que falamos da realidade, ou seja, quando fazemos relações do que está sendo estudado com o que vivemos” (professor A). “Partindo do princípio que eu tenho pelo menos uma teoria sobre esse assunto, influencia de alguma forma o aprendizado dos alunos” (professor B). Isto reflete o papel dos educadores na percepção dos elementos contidos na paisagem por alunos do 6° ano, no instante em que o reconhece a importância da paisagem em torno de si e dos percebidos pelos alunos, ou mesmo elementos que são percebidos, mas não são reconhecidos como paisagem. É sem dúvida pela influência do professor de geografia que se inicia o processo de identificação da paisagem pela criança. A percepção sensorial é intrínseca da natureza humana e o seu aprimoramento depende de como esta percepção é trabalhada nas crianças desde os primeiros estímulos maternos até na vida escolar da mesma. Quando questionados sobre o que é paisagem para os professores, as informações obtidas foram as seguintes: “É tudo que a visão alcança e também o local onde vive a humanidade” (professor B). “Tudo o que vemos é paisagem, o belo, o feio, o natural, o artificial, tudo é paisagem” (professor A). Pode-se comprovar que os professores reconhecem a paisagem como tudo aquilo que pode ser apreendido pela percepção (neste caso somente visual). O professor A acrescenta ainda que possa ser belo (natural) ou feio (artificial), dependendo da análise individual. Portanto, reconhece a percepção como uma das ferramentas a ser utilizada na abordagem do 30 estudo de paisagem, embora não reconheçam a importância de todos os sentidos na apreensão da paisagem. Com base na pergunta de como os professores trabalham a percepção de paisagem adquirida pelos alunos, as respostas foram as seguintes: “Tentando compreendê-los, mas buscando melhorar essa percepção, já que sua visão sempre remete ao natural (plantas, mar, montanha).” (professor A). “Levando em consideração a sua realidade local e contextualizando com a sua vivência” (professor B). A consideração dos professores converge para o mesmo ponto, no qual a compreensão do aluno ou o que ele considera como paisagem, é ponto de partida para a discussão mais aprofundada em relação ao tema. Os professores podem assim contextualizar o tema à realidade vivenciada e até mesmo desmistificar a ideia que se tem sobre paisagem (algo somente natural). Indagados a respeito das possíveis mudanças sentidas dentro da sala de aula, após a observação da paisagem pelos alunos, os professores informaram que: “Não, porque não existindoaula de campo e só se tendo o livro didático a percepção de paisagem fica restrita” (professor B). “Em alguns alunos sim. Eles ficaram mais atentos e tentaram compreender mais os diversos espaços que os cercam” (professor A). Identificaram-se no professor que a utilização da percepção somente poderá ocorrer quando uma aula passeio acontecer, não restando alternativa senão o material didático no estudo de paisagem. Já a professora revelou que houve mudança, mesmo que não em todos os alunos, na forma de estudar paisagem. O professor de geografia tem por finalidade ensinar, avaliar e principalmente incentivar o aluno às práticas do conhecimento. O acesso do aluno no campo da percepção deverá ser influenciado pelo educador, que, nesta área de paisagem, não somente abordará o tema no 31 caráter descritivo, mas é de extrema importância uma abordagem através do olhar crítico da criança. Indagados de que maneira os professores avaliam os alunos pela percepção de paisagem feita por eles, relata-se o seguinte: “Imaturos. É como se não conseguissem ver à frente. Eles têm uma visão romântica e pouco crítica, e precisa melhorar” (professor A). “Avalio de forma qualitativa, incentivando o aluno a conhecer melhor o lugar onde vive” (professor B). A professora ressalta a falta de experiência na percepção dos alunos, evidencia a imagem que eles possuem de paisagem ao se referir como uma “visão romântica”, sem seguir critérios de classificação. O professor avalia-os sem um critério de pontuação, apenas incentivando o aluno no conhecimento do seu espaço social, a fim de auxiliar no estudo da paisagem. Fica confirmado a respeito dos professores pesquisados o não reconhecimento da atividade perceptiva como instrumento funcional no sistema de ensino-aprendizagem. A percepção serve apenas de coadjuvante quando se faz necessário para o trabalho da paisagem e de outros fenômenos espaciais, evidenciando a sub-utilização da compreensão de paisagem nas aulas de geografia. Questionados se utilizam passeios como idas ao Shopping ou centro da cidade, nas aulas de Geografia, os professores concluíram: “Sim, e isso se fez necessário para a percepção de paisagem” (professor B). “Sim. Sempre que posso tento relacionar o que estudamos com o que vivemos, e busco a realidade mais próxima a eles” (professor A). Nota-se do professor, a prática da percepção dos lugares por onde eles percorrem. A professora enfatiza a aproximação do estudo e da vivência na busca pelo conhecimento da paisagem, relacionando-a à realidade dos alunos. Isto só se faz possível devido à prévia análise 32 das paisagens antes de aplicarem o conceito em sala de aula, auxiliando no aprendizado dos alunos. No que diz respeito sobre a influência da observação da paisagem na sua atividade enquanto professor, as colocações foram as seguintes: “Sim. Na compreensão do mundo de que nos cerca, na forma como podemos analisar essa paisagem” (professor A). “Sim. Porque desvendando a paisagem pode se oferecer um horizonte mais amplo aos alunos que só tem como ao livro didático” (professor B). Analisando as respostas dos professores conclui-se que, o mesmo resultado em obtido pelos professores através da observação/percepção de paisagem, podem ser alcançados pelos alunos. Embora o adulto exerça uma função diferente ao da criança, o objetivo desejado será o mesmo para ambos, capturar a paisagem e utilizar a leitura nas suas respectivas funções de professor e aluno. Ficou evidente o comportamento dos professores referentes à percepção de paisagem vista pelo ângulo deles, não muito diferente das outras pessoas, mas consistentes de uma mesma motivação, conhecer para ensinar aos seus alunos. O foco deve ser no objetivo da percepção, e não somente observar para identificar quais elementos estão contidos na paisagem. A paisagem é para ser compreendida na sua complexa moldura, o que supõe a existência de motivos concretos para o seu estudo, conhecer a si no espaço vivido. O reconhecimento como parte integrante da paisagem é combustível para o aluno continuar sua análise do espaço geográfico, considerando-se resultado dos fenômenos existentes na paisagem. 2.2 A percepção de paisagem dos alunos do 6° ano. Ao responder as questões sobre paisagem verifica-se em alunos do 6° ano do ensino fundamental um paradoxo entre o conhecimento que eles possuem de paisagem e o que de fato 33 é paisagem. O modo como é exposto nas escolas o estudo de paisagem, bem específica na EMDHRS, reforça o questionamento sobre como trabalhar entre alunos temas complexos como o de paisagem. Os temas espaciais: lugar, território, paisagem rotineiramente nas escolas são realizados de maneira superficial, apenas abordando o conceito sem um aprofundamento pelo professor a fim de lançar o aluno na pesquisa. Pesquisa esta, não contemplada no molde de um trabalho de classe ou avaliação, pesquisa que instiga o aluno ao reconhecimento do conteúdo espacial. As crianças, por natureza, são curiosas para saber como alguns fenômenos ocorrem no espaço, está preparada (ou quase) a aprender conteúdos sem que estes já estejam consolidados. O fato se dá na maneira como o conteúdo é colocado para o aluno, tornando-se decisivo no seu aprendizado, podendo gerar mais conflitos ou mesmo resolver questões. Neste caso, o conhecimento pode acontecer seguindo duas lógicas: o professor explica ao aluno o que é paisagem, ou o professor coloca uma situação que o permita ao aluno reconhecer a paisagem. Quando o professor explica ao aluno o que é paisagem, sua capacidade de raciocínio é minimizada, no entanto, a incorporação do estudo de paisagens à situação como observação/percepção aguça o entendimento do aluno pelo conteúdo, pois o mesmo participa da ação construtiva do conhecimento. A análise que se segue decorreu da aplicação de questionário e registro fotográfico da paisagem ao redor da escola, tendo por finalidade diagnosticar o resultado obtido sobre o estudo de paisagem presente nas aulas de Geografia da EMDHRS. A investigação desses alunos procedeu através da coleta de dados e questionários destinados aos alunos dos turnos Manhã e Tarde do 6° ano do ensino fundamental, totalizando 126 entrevistas que substanciaram a coleta de informações. A escola foi delimitada nas turmas de 6° ano, na qual é iniciado o estudo de paisagem. O levantamento percentual dos dados, acompanhados das imagens do bairro e desenhos de alguns alunos possibilitou diagnosticar a problemática acerca da percepção de paisagem dos alunos. 34 Conforme as informações alcançadas sobre o que o aluno entende por paisagem, 3% dos alunos pesquisados consideram aquilo visível, 1% aparência, 1% construções, 45% um lugar bonito e 50% uma vista bonita, como se observa no gráfico a seguir: GRÁFICO 1 – O que você entende por paisagem. Fonte: pesquisa direta jun/2010. Pode-se comprovar que a metade (ver no gráfico 1) dos entrevistados considera a paisagem como sendo uma vista bonita e para a maioria (95%) a paisagem é um lugar ou vista que é bonito. Logo, o conhecimento do que seja paisagem, está relacionado à beleza do espaço, ou seja, os alunos não reconhecem a paisagem ao redor se não houver beleza (plantas, rios, montanhas). A relação feita pelos alunos sobre o conceito de paisagem como oriundo do espaço bonito, bem organizado e repleto de elementos naturais, esclarece os resultados obtidos aqui. Quando solicitado que desenhassem ou escrevessem a paisagem observada no percurso casa- escola, os alunos ilustraram em sua maioria, paisagens exclusivamente naturais, onde o Homem não é visto homem como parte integrante desta paisagem. O desenho abaixo reflete muito bem a concepção de paisagem que grande parte dos alunos possui, na qual,paisagem está caracterizada como o natural e belo, onde as formas construídas e o próprio Homem não fazem parte dela. 1% 1% 45% 50% 3% APARÊNCIA CONSTRUÇÕES UM LUGAR BONITO UMA VISTA BONITA AQUILO VISÍVEL 35 Desenho 1: paisagem feita por aluno Fonte: Pesquisa direta jun/2010. Foi questionado se casas, prédios, ruas e outras construções são considerados paisagens, ficou constatado que: 55% informaram que não consideram; 45% consideram sim construções como forma de paisagem, como pode se observar no gráfico a seguir: GRÁFICO 2 – Casas, prédios, ruas etc. são considerados paisagem. Fonte: pesquisa direta jun/2010. No imaginário do aluno a paisagem é em sua maioria a soma de elementos naturais, capazes de despertar no observador o encanto pelo natural. Na outra face, os elementos culturais, planejados ou não pelo homem, dificilmente despertam o mesmo fascínio no instante da percepção. Conforme Cavalcanti (1998, p. 49) “a ideia de paisagem que está sendo construída por essas crianças é estereotipada, [...]. Não parece ser um lugar real, onde vivem pessoas comuns, onde trabalham pessoas comuns”. Indagados se observam a paisagem no caminho entre casa e escola os alunos responderam o seguinte: 78% afirmaram que sim e 22% que não, como constata no gráfico a seguir: 45% 55% SIM NÃO 36 GRÁFICO 3 – Observa a paisagem existente entre casa e escola. Fonte: pesquisa direta jun/2010. É notória uma desarmonia, pois grande parte dos alunos (ver gráfico 3) observa a paisagem no percurso casa-escola (vice-versa), mesmo assim a representação de paisagem não é destacada com um trabalho cooperativo para desenvolver o conhecimento através da percepção. Diante do questionamento sobre a utilização da observação feita entre casa e escola nas aulas de Geografia, as informações coletadas foram: 34% responderam sim; 12% não e 53% somente quando o professor questiona. Como se comprova no gráfico abaixo: GRÁFICO 4 – A utilização da observação da paisagem nas aulas de Geografia. Fonte: pesquisa direta jun/2010. Pelo observado acima (gráfico 4), a paisagem capturada no trajeto casa- escola é utilizada em aulas de Geografia que abordem o tema paisagem em mais da metade dos entrevistados somente quando o professor pergunta, significa subutilizar a relação existente entre paisagem e percepção. 78% 22% SIM NÃO 34% 12% 53% SIM NÃO 37 Questionados se conseguem descrever com exatidão a paisagem encontrada no caminho de casa para a escola, as respostas contidas constataram que: 61% informaram sim; 12% não e 12% responderam sim, mas com dificuldade, como mostra o gráfico abaixo: GRÁFICO 5 – Descreve com exatidão a paisagem no caminho casa-escola. Fonte: pesquisa direta jun/2010. Com base nos dados, observa-se a facilidade que a criança possui de descrever com exatidão a paisagem defronte a ela, embora em alguns momentos encontre dificuldade, o aluno verifica a paisagem no percurso diário de casa para escola. Essa facilidade em descrever através de desenhos, mapas, imagens e registros escritos é característica da idade dos alunos pesquisados. O desenho a seguir mostra algumas das representações percebidas nesta paisagem, nem todos os alunos apreendem corretamente os elementos talvez por deficiência de habilidades artísticas, embora alguns conseguiram descrever um variado conjunto de elementos presentes no espaço do seu bairro. Desenho 2: desenho da paisagem feita por aluno. Fonte: Pesquisa direta jun/2010. 61% 27% 12% SIM NÃO SIM, MAS COM DIFICULDADE 38 Foi questionado se existem diferenças entre as paisagens do seu bairro e as paisagens encontradas nos livros, constata-se que: 83% responderam sim e 17% não, como podem ser identificados no gráfico: GRÁFICO 6 – Diferenças na paisagem do bairro para a encontrada no livro. Fonte: pesquisa direta jun/2010. De acordo com o gráfico 6, nota-se a discrepância entre as ilustrações presentes em livros didáticos e a realidade dos alunos, a paisagem contida no livro levará o aluno a reconhecer a paisagem como surreal, distinto do que de fato exista, como a falta de planejamento adequado do espaço urbano. As distorções são notórias entre as imagens encontradas no livro didático do 6° ano para a localidade do Residencial Frei Damião (bairro onde está situada a escola pesquisada). O processo de ocupação irregular negligenciou um fator importantíssimo, a falta de espaços públicos para a construção de áreas de lazer e a ação antrópica é um agravante para o a infra- estrutura do bairro. Foto 1 – Falta de esgotamento sanitário. Foto 2 – Lixo nas ruas. Fonte: pesquisa direta jun/2010. Fonte: pesquisa direta jun/2010. 83% 17% SIM NÃO 39 Interrogados quais seriam as maiores diferenças encontradas, os alunos responderam o seguinte: 47% responderam as árvores; 46% as casas; 36% os prédios; 29% as pessoas e 36% tudo, conforme demonstra o gráfico seguinte: GRÁFICO 7 - Diferenças encontradas nas paisagens.¹ Fonte: pesquisa direta jun/2010. Neste caso, os dados obtidos (gráfico 7) refletem os diferentes elementos de paisagem encontrados pelos alunos no livro e no bairro, os elementos classificados comprovam a desigualdade na paisagem encontrada no bairro em que residem e no livro de Geografia. Portanto, os elementos comuns na realidade dos alunos, como casas, prédios e outras construções se não contidos nos matérias de ensino, dificultam o entendimento dos alunos a respeito de paisagem. A paisagem encontrada nas proximidades da escola indica quais são as diferenças encontradas, principalmente no caso das moradias. As sub-moradias em torno da escola associada à falta de planejamento urbano do local é a maior disparidade indicada por eles, as árvores também estão entre os mais citados, pois tratam-se de árvores locais. A foto abaixo revela a condição espacial e de paisagem encontradas próximo à escola, revelando uma possível dissonância entre a paisagem encontrada nos livros de Geografia e a paisagem observada no percurso casa-escola por alunos do 6° ano. Se as imagens contidas no livro não forem semelhantes a estas, dificilmente o aluno reconhecerá o seu bairro como uma paisagem. _____________ ¹Os alunos podem marcar mais de uma caixa de seleção, então a soma das percentagens pode ultrapassar 100%. 46% 46% 36% 29% 36% AS ÁRVORES AS CASAS OS PRÉDIOS AS PESSOAS TUDO 40 Foto 3 – Moradia diferente da encontrada no livro didático. Fonte: pesquisa direta jun/2010. Em relação ao estímulo vindo do professor para a percepção da paisagem ao seu redor, constatou-se: 42% responderam sim; 20% responderam não e 38% um pouco, segundo o gráfico a seguir: GRÁFICO 8 – Estímulo oriundo do professor. Fonte: pesquisa direta jun/2010. Isto revela o pouco interesse dos professores em relação às influências que a percepção causam na aprendizagem dos alunos do 6° ano. Verificou-se estarem alheio ao fato de terem um fator de conhecimento importantíssimo. Os alunos não se sentem estimulados pelos professores a observar melhor a paisagem/espaço em que vivem, revelando neste caso, um descuido nos métodos de aprendizagem que não levam em consideração as experiências dos alunos. 42% 20% 38% SIM NÃO UM POUCO 41 Questionados onde mais além da sala de aula com o professor é possível aprender Geografia, as respostas foram: 59% em casa; 9% na rua; 3% no ônibus; 7% na praça e 22% outros lugares, como se observa no gráfico abaixo: GRÁFICO 9 – Onde além da sala de aula é possível aprender geografia. Fonte: pesquisa direta jun/2010. Isso justifica o fato da maior parte dos alunos relacionaremas relações espaciais com os estudos de rotina, no qual o estudo das disciplinas fora do ambiente escolar necessariamente tem de ser feito em casa, com o auxilio de tarefas ou leitura. Neste caso, a percepção torna-se mera coadjuvante nas estratégias de ensino-aprendizagem sobre os principais conceitos do mundo vivido. Foi solicitada aos alunos, diante das limitações, a descrição do que foi observado no percurso de casa para a escola. Os elementos identificados foram catalogados em categorias de paisagens para a introdução dos resultados quantitativos em gráfico, constatando que: 25% das paisagens são naturais; 16% são construídas; 40% natural e construída; 11% paisagem degradada e 8% não descreveram nenhuma paisagem, de acordo com o gráfico abaixo: 59% 9% 7% 3% 22% EM CASA NA RUA NO ÔNIBUS NA PRAÇA OUTROS LUGARES 42 GRÁFICO 10 – Descrição da paisagem observada. Fonte: pesquisa direta jun/2010. Nota-se acima (gráfico 10) a habilidade de representar a paisagem observada no percurso casa – escola pela maioria dos alunos (92% do total), identificadas pelos mais diversos sentidos; visão, odores e barulhos. A percepção de paisagem representada algumas vezes em imagens traduz de maneira abstrata a compreensão de cada aluno, e, conseqüentemente, a forma que cada um percebe o mundo. Neste trabalho a estratégia de compreender a paisagem está na percepção e na capacidade de abstrair da rotina no percurso casa – escola a sensibilidade do observador, mesmo que este não o tenha. O emprego deste procedimento metodológico torna-se bastante apropriado na leitura sensorial da paisagem. Logo justifica o fato de os alunos moradores do entorno da escola não observarem melhor a paisagem estática do bairro, pois não é trabalhada a paisagem vivenciada no seu dia a dia. 25% 16% 40% 11% 8% PAISAGEM NATURAL PAISAGEM CONSTRUÍDA NATURAL E CONSTRUÍDA PAISAGEM DEGRADADA NENHUMA PAISAGEM 43 CONCLUSÃO Os meios perceptivos ganham maior valor no campo do aprendizado se introduzidos de maneira educativa, a começar pela sua introdução em aulas de geografia, o resultado final tornará o estudo de paisagens estimulante para os alunos. O estímulo gerado através da percepção está atribuído ao caráter inovador realizado pelo professor. O aluno, em decorrência, se reconhece como conteúdo da própria paisagem a ser percebida. Os professores de geografia eventualmente empregam o hábito da percepção em aulas de geografia, a simples percepção do aluno no percurso casa - escola ajudaria na aproximação à temática da paisagem. Os métodos de observação são simples e estão ao alcance do aluno, pois ele não precisará de meios sofisticados para a percepção, além daqueles que normalmente são utilizados no dia-dia. A leitura da paisagem pode ocorrer em qualquer lugar, no passeio à casa de parentes; compras no centro da cidade; ou mesmo em percurso pelo bairro. A proposta aqui lançada não é abreviar a metodologia aplicada por professores em conteúdos da área física, muito pelo contrário mas salientar as experiências cotidianas dos alunos na construção de conceitos complexos e dinâmicos como o de paisagem. Alguns fatos chamaram a atenção, como as formas dos alunos perceberem a paisagem do seu bairro, muitas vezes associando-a com a natureza conservada. Entretanto, a natureza degradada, também é percebida na paisagem como uma dicotomia espacial, beleza e indecoroso lado a lado no mesmo espaço. Já o ser humano é pouco evidenciado na descrição e respostas dos alunos pesquisados, resultado da concepção de paisagem ser algo natural. Como nem todos os alunos conseguiram perceber as multirrelações que a paisagem possui na sociedade contemporânea, levamos a crer que o professor deve aumentar sua atenção na execução dos métodos de ensino, traçando estratégias adequadas ao uso da percepção dos alunos na elaboração dos conteúdos referentes à paisagem geográfica. Portanto, como reflexo desta demanda, cada professor explorará os conteúdos inserindo o contexto social do aluno. A escola quando se refere à prática da percepção sensorial é citada em poucos momentos, embora seu dever de orientar o corpo docente no cumprimento metodológico seja 44 grande, maior até que dos professores. Há uma extrema necessidade de estímulos oriundos de todas as partes na educação, da escola para o professor, do professor para os alunos, dos alunos para a escola e professores, que inicia uma cadeia de interesses disposta a melhorar o ensino como um todo. O estímulo que aqui foi tão enfatizado é colocado como peça chave para os problemas subsistentes na aprendizagem de paisagem, especialmente por que é a partir do estímulo que as partes iniciam o processo de inovação. A percepção chega como essa inovação no gênero de aprendizado informal, aquele que não aprendemos somente no espaço escolar, mas o que carregamos conosco, como reflexos da nossa experiência diária. Os alunos percebem o espaço ao seu redor, porém não são orientados corretamente sobre os fatos que ocorrem no meio em que vivem. Perceber o espaço ao redor é mais que somente identificar elementos ou classificá-los em categorias, perceber é conhecer o funcionamento das estruturas na qual é parte, compreendendo causas e efeitos sobre ela. A própria ciência geográfica reconhece e explica o fenômeno como princípio da causalidade. O fato é que não podemos ensinar o conteúdo de paisagem sem antes introduzirmos nossa percepção na paisagem que vivemos. A busca da percepção como discurso, onde a imagem se comunica com o conhecimento, pode contribuir no ensino-aprendizagem do ensino fundamental. A percepção, por suas características próprias, promove um instante de análise sigmática, ressaltando formas cores, odores, contrastes prolongados. Este exercício de análise sigmática, demorado, pode oferecer um aprendizado e um reconhecimento sobre a paisagem. Nas leituras de paisagem, as qualidades estáticas quase sempre são exaltadas, em detrimento da verdadeira propriedade do signo. De certo modo, as representações não exigem um aprofundamento do intérprete durante a análise dos símbolos presentes, o observador precisa somente de uma vivência cultural ampliada em relação à paisagem, que neste caso, é fácil, pois o aluno é um constante observador dessa paisagem. A real tradução do percebido facilita a proposição da paisagem aos alunos do ensino fundamental, que quase sempre conseguem se deixar levar pela apreciação da paisagem. 45 Percebemos que é notória a motivação para a interpretação da paisagem. Faz-se necessário uma maior conscientização, uma mudança de valores e comportamentos não só dos professores, mas também da escola, para que todos percebam a importância da percepção dos alunos no seu desenvolvimento intelectual. Cabe aos que fazem educação, representados pelos professores, coordenadores e diretores, não negligenciarem, ou seja, deixarem os interesses particulares suprirem os interesses coletivos. Enfim, tudo isso nos leva a concluir que a existência de uma prática de ensino que valorize as experiências dos alunos, sem que haja dissociação ao tema proposto, contribua na sua formação intelectual, fazendo-o refletir sobre o mundo em que estão inseridos e sejam passivas de mudanças que sem dúvida afetam de algum modo suas relações. O conceito de “paisagem” é ponto de partida para a inclusão das propostas de estudos de percepção espacial no ensino de geografia, uma vez que os alunos devem compreender as analogias existentes no meio em que vivem. Em tempos de aprimoramento do ensino público, que visa uma aproximação ao ensino de países desenvolvidos, essa concepção de condicionar as aulas, sejam de quais disciplinas forem, à realidade do aluno, é cada vez mais necessária no exercício da educação. Pois