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1 Universidade de Lisboa Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas UC de Sociologia Geral I Ensaio sobre o objeto de estudo “Por uma sociologia pública” de Michael Burawoy (Teses I, II, e III) Laura Tomé Galvão Nº 234599 Novembro 2021 Ano letivo de 2021/2022 2 Índice Introdução ................................................................................................................................... 3 Resumo da Tese I …………………………………………………………………………………………………………….3 Resumo da Tese II………………………………………………………………………………………………………..4 Resumo da Tese III………………………………………………………………………………………………….4 Apreciação crítica………………………………………………………………………………………………5 Conclusão…………………………………………………………………………………………………….6 Referências Bibliográficas……………………………………………………………………….8 “A Sociologia é compreensiva” -Max Weber 3 Introdução Neste trabalho, irei analisar e resumir as teses I, II e III do texto “Por uma sociologia pública” de Michael Burawoy. Para além disto, irei apresentar uma apreciação crítica com base neste artigo e em mais dois artigos de opinião distinta à do Burawoy. Na primeira tese, irei resumir o que Michael Burawoy quer dizer com “A aspiração por uma sociologia pública é mais forte e sua realização mais difícil, à medida que a sociologia move-se à esquerda e o mundo move-se à direita” e irei analisar o porquê disto acontecer, nesta tese temos o porquê da sociedade precisar da sociologia pública e temos a evolução da sociologia pública como é que ela se virou mais para a esquerda e esclarece a razão pela qual isto aconteceu. Na segunda tese, irei resumir o que Buraway diz ser importante para a Sociologia, como é que a Sociologia pública tradicional e a Sociologia pública orgânica se unem e a importância dos debates da sociedade e dos estudantes para a Sociologia. Na terceira e última tese, irei resumir as diferenças entre várias sociologias introduzidas pelo autor. Por fim, para além da apreciação crítica, apresentarei uma conclusão. Resumo da Tese I Na primeira tese, Burawoy começa por explicar os acontecimentos de 1968 em que, devido à guerra do Vietname, foi pedido à ASA para votar contra a guerra, no entanto, das pessoas que votaram, 2/3 eram contra a oposição da ASA à guerra mas, perguntados individualmente, 54% era contra a guerra, percentagem quase igual à população em geral. 35 anos depois, em 2003, durante a guerra do Iraque, foi feito exatamente o mesmo pedido à ASA, porém, desta vez, 75% dos votantes era contra a guerra, valor igual à população em geral que era a favor da guerra. O autor também explica que foi nos anos 60 que houve um crescimento exponencial das ideologias liberais, “uma forte guinada para esquerda”, devido à forte presença das mulheres e das minorias raciais no campo da Sociologia. Graças a este fenómeno, a sociologia pública começou a focar-se mais na sociedade, nas classes sociais, nos trabalhadores, as diferenças raciais, nas diferenças dos géneros e etc, o seu objeto de estudo mudou, antes era “as virtudes da democracia liberal americana”, agora estuda-se a sociedade e as diferenças que existem dentro dela. Apesar deste aumento do discurso de igualdade e liberdade, a Sociologia continua a estudar uma enorme e contínua desigualdade e dominação das classes ricas para com as pobres. Michael Burawoy também sublinha que devido à expansão do mercado, existe um enorme aumento das desigualdades sociais que resulta na reversão do trabalho feito pela Sociologia. Nisto, o autor explica que o mercado e o Estados que o apoiam estão a violar os direitos do seu próprio povo e a de vários outros povos, ambos trabalham em conjunto 4 contra a ideologia de sociedade. Buraway explica que o crescente interesse pela Sociologia acontece porque é uma reação à privatização de tudo. O autor conclui a tese ao dizer que o facto do mundo se movimentar desta forma, ou seja, de uma forma contrária à Sociologia, instiga mais a vontade e o interesse de o estudar, porém cria vários obstáculos e problemas que têm de ser ultrapassados. Resumo da Tese II Nesta tese, o autor refere como é importante os sociólogos escreverem livros que possam ser lidos fora da academia, de forma a provocar discussões e debates sobre os assuntos, é importante os sociólogos conseguirem transmitir aquilo que investigam. Burawoy, também refere como o público da Sociologia pública tradicional é pequeno e invisível, não têm voz nem como se manifestar, então a Sociologia pública tradicional gera debates sobre estes públicos, apesar de não participar diretamente neles. Também é falado como a Sociologia pública orgânica, ao contrário da Sociologia pública tradicional, trabalha diretamente com as pessoas (as minorias, os trabalhadores e etc), mas estas duas Sociologias interligam-se, elas precisam uma da outra, a Sociologia pública orgânica informa a Sociologia pública tradicional e, esta última, molda a primeira. Neste momento da tese, o autor coloca a seguinte questão: Porque é que o público, e a sociedade em geral, deve confiar na Sociologia? O autor também fala que, de acordo com Alan Wolfe, Robert Putnam e Theda Skocpol, alertam-nos que os públicos da Sociologia estão a desaparecer (“destruídos pelo mercado”, “colonizados pela mídia” ou “paralisados pela burguesia”), mas Burawoy refuta dizendo que se procurarmos bem, não há falta de público, pois o público não é fixo, o público evolui, transforma-se, muda, enfim, desenvolve-se. Michael Burawoy avança que com a Sociologia podemos criar grupos sociais e estudar os seus problemas, podemos integrar-nos num desses grupos, mas devemos usar esta habilidade para ajudar a política de um pais e nunca para proveito próprio, pois era o que Durkheim defendia. A Sociologia acaba por defender muitas ideias liberais e de esquerda porque o mundo continua demasiado conservador. Michael Burawoy conclui esta Tese falando na importância dos estudantes para o desenvolvimento da Sociologia, eles podem ajudar a Sociologia a evoluir ao procurarem pessoas que tenham os mesmos problemas pessoais que eles, os estágios servem para treinar os futuros sociólogos e para os ajudar a evoluir. Burawoy diz que a Sociologia tem de ser deixada a céu aberto de forma a poder ser julgada e debatida por todos. Resumo da Tese III Aqui, Burawoy introduz falando de C. Wright Mills que direcionou toda a Sociologia para a Sociologia pública, Michael Burawoy aponta que naquele período da Sociologia (XIX) não havia outra opção ou retorno. Agora a Sociologia tem de partir daqui, e dividir o trabalho sociológico. Começa por distinguir Sociologia Pública de Sociologia Política. A Sociologia política serve para oficializar soluções aos problemas e para procurar respostas a questões que não as têm, esta Sociologia serve para responder “aos clientes”. Já a Sociologia Pública, em vez de procurar soluções, fala com o seu público de maneira a fazer algumas mudanças na sociedade, nesta Sociologia o importante é o debate e chegar a um acordo com o público. O objetivo desta área da Sociologia é a própria conversação. 5 Burawoy apresenta um ótimo exemplo de Sociologia Pública, o livro de Barbara Ehrenreich´s que fala sobre os trabalhadores de Walmart que eram mal pagos, isto +e Sociologia pública pois a autora entrou em conversação com os trabalhadores para expor este problema. Estas “Sociologias” não são “exclusivas nem antagônicas”, ou seja, não se opõe. Tanto que a Sociologia política pode tornar-se Sociologia Pública e vice-versa. Quando a política não consegue responderaos problemas do público a Sociologia Pública entra em ação. A Sociologia Profissional é muito importante para o desenvolvimento das sociologias devido ao seu conhecimento acumulado. É graças a esta Sociologia que todos os outros ramos da Sociologia têm os seus métodos de investigação e pesquisa organizados, métodos quais que vão evoluindo e sendo modificados à medida que sociedade apresenta mais e novos problemas. Para além disto, temos a Sociologia Crítica, cuja função é analisar as bases da Sociologia Profissional, aqui, Burawoy. C Wright Mills diz que a Sociologia nos anos 50 é irrelevante e não passa de uma grande teoria sobre a sociedade e tantos outros exemplos, a função da Sociologia Crítica é avisar a Sociologia Profissional dos problemas mais delicados da sociedade. Da mesma forma que a Sociologia Política precisa da Sociologia Pública, a Sociologia Profissional precisa da Sociologia Crítica. Entretanto são-nos colocadas duas questões, a primeira por Alfred McLung Lee: “Sociologia para Quem?” para os sociólogos ou para a sociedade? É claro que a resposta é para a sociedade, a segunda pergunta colocada por Lynd é “Sociologia para Quê?” A Sociologia deve preocupar-se só com os fins da Sociedade ou deve preocupar-se com os meios para atingir os fins? Àquilo a que Horkheimer e Theodor Adorno chamaram de dialética do esclarecimento, Burawoy chama a um tipo de racionalidade Conhecimento Instrumental e a outro Conhecimento Reflexivo, o primeiro é profissional e académico e o segundo é crítico e público. Micahel Burawoy conclui esta Tese ao afirmar que a categorização da Sociologia é um Produto Social. Apreciação crítica Alan Touraine em “A Sociologia Pública e o fim da Sociedade” diz que a Sociologia Profissional chegou à sua forma mais acabada na altura de Talcott Parsons, no entanto, foi rapidamente abaixo nos anos 60, graças aos movimentos de igualdade raciais e igualdade de género e à Guerra do Vietname, a sociedade rejeitou a ideologia de um sistema social. Touraine também diz que a Sociologia crítica tem perdido a sua importância, porque, na opinião do autor, esta Sociologia não se conseguiu manter ligada às ideologias socialistas e também acabou por ir abaixo devido ao determinismo social, ou seja, não havia possibilidade de nenhum movimento político ou social destronarem um sistema opressivo. Touraine explica a intenção de Burawoy de criar mais duas Sociologias e acrescenta que tem uma opinião diferente, aceita a perspetiva de Burawoy, no entanto, ele prefere concentrar-se nas diferenças entre a Sociologia pública e a Sociologia Profissional, tendo sempre em conta as diferenças históricas e culturais. A primeira situação que Touraine aponta é o facto de a Sociologia já não ser compatível com a palavra “clássica”. A Sociologia Clássica é definida por ser “um estudo dos processos pelos quais a sociedade é integrada, repele aqueles que considera seus inimigos 6 e controla os seus conflitos internos e processos de mudança”. Pelo que já estamos habituados, sociedades estáveis, ou seja, sociedades sem guerra e sem confrontos políticos são mais facilmente analisadas por esta definição de Sociologia, mas sociedades que foram colonizadas ou que estão em guerra não podem ser estudadas neste molde. Estas sociedades acabam por ser mais sensíveis à seguinte oposição: como acabam por ser mais instáveis que outras sociedades, são extremamente influenciados por outras culturas, sendo comumente conhecido como globalização, para além disto, estas sociedades são normalmente definidas pela sua religião, etnia e pela sua cultura. São inadequadamente estudadas e analisadas, logo acabamos com situações descritas não- socialmente e sociedades descritas não-socialmente. Devido a isto, a Sociologia Clássica como a conhecemos tem vindo a ser “destruída” pelo capitalismo, ou seja, a falta de controlo da sociedade e da política sobre o meio económico, o segundo ataque vem da Sociologia em si, pois esta já não analisa a sociedade e a sua funcionalidade, mas analisa a sociedade como um conjunto de processos que controlam toda a vida social. Depois, temos a Sociologia Radical que, originalmente, na opinião de Touraine, estudava o capitalismo, a colonização e o patriarcado, tem-se tornado cada vez mais repetitiva, sem oferecer algo de novo e apenas revela atos de opressão e repressão que não existem ou que não são importantes (sublinho: opinião de Touraine). Por fim, temos o enfraquecimento ou o desaparecimento das modalidades tradicionais de sociabilidade, ou seja, a perda das formas mais comuns de sociabilização devido ao aumento do individualismo e do subjetivismo. A ideia de sociedade tem vindo a ser destruída ao longo dos tempos pelo princípio da orientação axiológica. Como um sujeito de direitos, uma pessoa ou uma categoria tem o direito não apenas de defender sua identidade – uma formulação que é perigosamente unidimensional –, mas também de ser um ator livre e responsável no seu relacionamento com o ambiente – sempre saturado de relações de poder. Esse «sujeito» pode ser constituído de uma forma tanto negativa e destrutiva como positiva e inclusiva. O ponto de partida de Turaine é o declínio da sociologia clássica, a qual se tem apresentado como sociologia profissional, mas sem o direito de fazê-lo, pois a relevância conferida ao critério profissional precisaria ser dada a todas as outras orientações da sociologia. Em consequência disso, a sociologia pública ocupa o lugar central, porque ela se constitui na busca por atores. A sociologia para políticas públicas e a sociologia crítica são duas orientações que se completam, mas ambas podem também ser consideradas como subprodutos da sociologia pública. Por fim, uma nova sociologia profissional aparece como o estudo de instituições que não se dedicam às necessidades dos sistemas sociais, mas sim à proteção dos indivíduos e grupos contra as forças sociais dominantes. Nessa situação extrema, há o risco de uma autodestruição da sociologia. O risco aqui é de se eliminar a sociologia profissional, e essa solução foi empregue com frequência nos primeiros anos da Guerra Fria. Uma conclusão otimista afirmaria que todos os tipos de sociologia poderiam ser considerados parte de uma sociologia geral dos atores. A diferenciação interna da sociologia precisa de ser combinada com sua integração ou, pelo menos, com a influência recíproca dos quatro tipos principais de orientação sociológica. Tal objetivo requer a combinação da sociologia pública com a sociologia profissional, ao passo que a sociologia radical e a sociologia para políticas públicas movem-se 7 lentamente para direções opostas das principais tendências da sociologia. Mas não devemos esquecer que a sociologia profissional é útil para a sociologia pública – não apenas porque ela lhe impõe regras metodológicas, mas, acima de tudo, porque a teoria social é baseada tanto em pesquisas empíricas como em análises mais teóricas, as quais são indispensáveis para descobrirmos em que setores da vida social a sociologia «comprometida» poderá, com sucesso, tornar clara a natureza dos problemas sociais e as condições de programas de reforma política e moralmente eficazes. Não concordo necessariamente com tudo o que foi dito por Turaine, por exemplo quando ele fala na Sociologia Radical não acho que a sua perspetiva seja a mais correta, a Sociologia Radical enquanto ciência, a meu ver, sim está um pouco repetitiva, mas não acho que invente problemas ou que dê demasiada importância a problemas que não são importantes, penso que a Sociologia Radical ao dar voz aos problemas que não são tão visíveis pela sociedade está a tentar parar estes problemas e tenta que não ganhem tanta repercussão no nosso mundo, não afetando negativamente a nossa sociedade. Apesar de Turaine ter razão em vários dos seuspontos e apresentar argumentos viáveis, penso que, ainda assim, o estudo de Burawoy faz mais sentido nas suas palavras do que o estudo de Turaine, não quero desvalorizar o trabalho dele, mas Burawoy tem mais razão e coerência na sua divisão e explicação do mundo sociológico. Conclusão Durante o processo deste trabalho percebi que a área da Sociologia é mais complexa do que aparenta, no entanto, é uma ciência extremamente nova que ainda tem algumas falhas na sua formação. Várias da Sociologia interconectam-se ao ponto de muitas vezes não se saber a diferença entre elas e todas as áreas da Sociologia necessitam umas das outras para puderem funcionar. No entanto, as suas falhas no sistema de análise e estudo acontecem porque a Sociologia não evoluiu o suficiente, esta ciência estuda a sociedade e a sua evolução, mas esta não conseguiu ainda acompanhar o mundo que a rodeia. Percebi que os movimentos sociais, como o feminismo, a luta contra o racismo e etc, realmente mudaram o rumo da Sociologia, se não fossem estes movimentos a Sociologia, as mulheres e a minorias raciais tiveram um grande impacto na ciência, os anos 60 foram realmente um ponto viragem na nossa história enquanto sociedade. Apesar desta mudança, o nosso mundo movimenta-se cada vez mais à direita, logo a Sociologia é cada vez mais necessária (no entanto, continua a ser desvalorizada de diferentes formas por pessoas que não entendem o seu valor na sociedade). Concluindo, a Sociologia é imensamente necessária para a sociedade apesar de ainda não ter conseguido acompanhar a sua evolução por completo, a Sociologia precisa de nós enquanto sociedade pois somos nós que a moldamos e que a fazemos evoluir, sem a sociedade a Sociologia deixaria de existir por completo. Também acrescento que esta ciência é extremamente necessária para o mundo começar a caminhar na direção certa, não estou a afirmar que a esquerda é o rumo certo, estou a dizer que os direitos humanos e a igualdade deviam ser o nosso rumo, se é uma ideologia de esquerda ou direita acho que não devia importar, somos todos cidadãos de uma sociedade e devíamos de nos respeitar. 8 Referências Bibliográficas v22n56a03Alain Touraine.pmd (scielo.br) https://www.scielo.br/j/ccrh/a/q66RcpyKBKYKN9hMLRGW6KF/?format=pdf&lang=pt
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