Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
LEGISLAÇÃO ADUANEIRA AULA 6 Prof. João Alfredo Lopes Nyegray CONVERSA INICIAL Olá! Você já se perguntou de onde vem a riqueza das nações? Países prósperos, como os da América do Norte ou da Europa, ou, ainda, países que têm crescido fortemente como a China e a Índia. Qual será o motor de crescimento desses países todos? Obviamente, essa não é uma resposta fácil. Educação de qualidade, facilidade para empreender e fazer negócios, bem como perceber a capacidade das empresas em inovar e gerar novos produtos e oportunidades, sem dúvida pesam bastante na resposta a essa questão. No entanto, há outro ponto importante: o comércio. Não o comércio de rua ou o dos grandes shoppings, mas o comércio internacional, que é, sem dúvida, um dos grandes motores do desenvolvimento econômico de países como China e Índia. Nesses locais, são fabricados os mais diversos bens, alguns com matéria-prima importada, que, depois, são exportados para todo o mundo. Figura 1 – Nova Iorque, Cingapura e Londres: exemplos de desenvolvimento Ao analisar essa questão, percebe-se que a evolução do comércio internacional é um dos fortes motores do crescimento e do desenvolvimento das nações. No entanto, não são só mercadorias que podem ser comercializadas: existem também os serviços! Todas essas trocas são compreendidas pelas relações econômicas internacionais, as quais veremos adiante! CONTEXTUALIZANDO Se as relações econômicas internacionais são parte importante do desenvolvimento das nações, isso quer dizer também que as empresas e os governos – participantes que possibilitam o acontecimento dessas relações, seja por meio de operações de comércio, seja por meio de incentivo – têm papel fundamental nesse processo. Mas, afinal, por qual motivo as nações comercializam? Apenas para vender e lucrar? Veja o trecho abaixo: O comércio permite aos países usar seus recursos nacionais de modo mais eficiente por meio da especialização. O comércio permite a indústrias e operários serem mais produtivos. O comércio também permite às nações atingirem padrões de vida mais elevados e manterem baixo o custo de muitos produtos de uso cotidiano. Sem o comércio internacional, a maioria delas ficaria impossibilitada de alimentar, vestir e abrigar seus cidadãos nos níveis atuais. Até as economias ricas em recursos como os Estados Unidos sofreriam sem comércio. Alguns tipos de alimento ficariam indisponíveis ou só poderiam ser obtidos a preços exorbitantes. Café e açúcar passariam a ser artigos de luxo. As fontes de energia derivadas de petróleo escasseariam. Os veículos parariam de rodar, as cargas deixariam de ser entregues, e as pessoas não poderiam aquecer seus lares no inverno. Em suma, não se trata somente de nações, empresas e cidadãos beneficiarem-se do comércio internacional; a vida moderna é praticamente impossível sem ele. (Cavusgil; Knight; Riesenberger, 2010) E você, já havia pensado por essa perspectiva? Considere as imagens abaixo: Figura 2 – Shangai: 1990 e 2010 Fonte: <https://goo.gl/ZnVQ7r>. Essas imagens mostram a cidade chinesa de Shangai em 1990 e em 2010. Que mudança radical, não é mesmo? O que houve nesse curto espaço de tempo? Houve relação econômica: facilitação da vida do empreendedor e dedicação às relações econômicas internacionais, não só nas exportações de produtos ou serviços, mas nos serviços financeiros e na atração de investimentos e inovações. Espantoso, não é? Como você avalia o desempenho do Brasil no comércio internacional? O que nosso país poderia fazer para melhorar sua participação comercial no mundo? TEMA 1 – O LIVRE COMÉRCIO Anteriormente, nós vimos como a riqueza das nações está ligada, dentre vários fatores, à sua participação nas transações financeiras internacionais. Podemos dizer, então, que qualquer nação altamente exportadora terá boa qualidade de vida? Que qualquer nação exportadora trará oportunidades para os estudantes de comércio exterior? Infelizmente, não! Vamos utilizar um país do oriente médio qualquer: esse país, de pequena população, pode ter exportações altíssimas, importações comparativamente pequenas, e, ainda assim, baixa qualidade de vida. Isso é comum de acontecer, pois essa nação pode exportar muito muito petróleo e importar todo o resto numa quantidade razoavelmente pequena para atender sua pequena população. Nesse caso, apenas alguns poucos se beneficiam das exportações, e não a nação como um todo. É por isso que precisamos falar sobre livre comércio e competitividade! Competitividade liga-se, normalmente, a vários fatores, dentre os quais a capacidade de produzir e vender de forma melhor. Nesse sentido, “um país com maior competitividade é um país que consegue com maior facilidade, colocar os bens e serviços que produz, nos mercados externos, aumentando por isso as suas exportações” (Almeida, 2003). Essas exportações acabam retornando em benefícios para a população, como empregos, investimentos, crescimento econômico e desenvolvimento de forma geral. Anualmente, são divulgados diversos índices de competitividade mundial. Infelizmente, ano a ano, o Brasil vem perdendo posições, e atualmente está atrás até mesmo do Cazaquistão e do Peru. O mesmo vale para o ranking da Organização Mundial do Comércio dos maiores exportadores. Veja o quadro abaixo e compare os maiores exportadores com os países mais competitivos. Você consegue perceber como as coisas se relacionam? Quadro 1 – Maiores exportadores x países mais competitivos Maiores Exportadores Mais Competitivos China Suíça Estados Unidos Estados Unidos Alemanha Cingapura Japão Alemanha Holanda Holanda França Japão Coréia do Sul Hong Kong Reino Unido Finlândia Hong Kong Suécia Itália Reino Unido Fonte: Elaboração com base em dados da OMC e Fórum Econômico Mundial. Quanto mais livre é o ambiente de um país, quanto mais suas empresas importam, mais opções de escolha têm seus consumidores. Como consequência, suas empresas nacionais buscam criar produtos melhores, mais inovadores e de maior tecnologia para permanecerem no mercado. Aquelas que não o fizerem estarão fadadas ao fechamento ou à falência. Por outro lado, quando o governo trava as importações, por meio de leis e procedimentos burocráticos, e sem sincronia, com muitos órgãos intervenientes, cria empecilhos ao comércio exterior, menos às empresas que se engajam em atividades internacionais. Consequentemente, o país perde oportunidades de crescimento, desenvolvimento e exportação. Há quem considere as importações maléficas a uma determinada nação, uma vez que entram produtos ou serviços e sai dinheiro. No entanto, as importações podem beneficiar produtores, ou, ainda, aqueles que importam um insumo, fabricam algo, e depois exportam o produto final. Por fim, as exportações beneficiam os consumidores, que acabam por ter acesso a uma série de produtos por um preço atrativo. Com muitas importações, caso a indústria nacional de dado segmento queira sobreviver, precisará inovar, agregar qualidade e, de alguma forma, oferecer tudo isso a um preço menor. Ou seja: ser competitiva! Um exemplo de país que evoluiu e cresceu graças à sua dedicação às relações econômicas internacionais foi Cingapura. Esse país asiático, na década de 1960, era pobre, sem recursos naturais ou terras férteis. Por meio de incentivos governamentais, solidificação da moeda, respeito à propriedade privada e incentivos ao empreendedorismo e ao setor industrial, Cingapura, hoje, temuma renda per capita maior do que a dos Estados Unidos e da União Europeia. Esse país conta com poucas regulamentações que travam a internacionalização de suas empresas, além de apresentar impostos baixos e zero tributos sobre as operações de importação ou exportação. Como consequência, suas empresas competem não pensando no governo, ou em perder dezenas de centenas de horas para cumprir com suas obrigações tributárias, como acontece no Brasil. A competição se dá por base em qualidade, melhores produtos ou serviços. De forma geral, pode-se afirmar que: a ausência de restrições ao fluxo de bens e serviços entre as nações é preferível porque: os consumidores e as empresas podem facilmente adquirir os produtos que desejam; [...] as importações podem ajudar a reduzir os custos das empresas, elevando dessa forma seus lucros (que podem ser repassados aos trabalhadores sobre a forma de aumento de salário); as importações podem ajudar a reduzir os gastos dos consumidores, aumentando dessa forma seus padrões de vida; de modo geral, o comércio internacional sem restrições aumenta a prosperidade dos países mais pobres. (Cavusgil; Knight; Riesenberger, 2010). Isso significa dizer que o livre mercado e a liberdade econômica permitem que os empresários busquem, sem o atrapalho do governo, melhores condições de comércio. O livre mercado, então, estimula “empresários a buscar sempre novas formas de exportar ou de competir com os importados, gerando mais incentivo ao aprendizado e à inovação do que em um sistema de comércio ‘administrado’” (Magnoli; Serapião Jr., 2012). Isso funciona? Bem, não existe, na verdade, um mercado que seja totalmente livre, sem qualquer restrição do governo. No entanto, existem aqueles países economicamente mais livres, cujos índices de liberdade econômica são os mais elevados. Estão, entre eles, a Suécia, a Suíça, o Canadá, a Dinamarca, a Austrália e a Nova Zelândia. Ou seja: as nações economicamente mais livres são, sem exceção, as nações mais ricas e prósperas do planeta. Por outro lado, existem também aqueles locais mais economicamente repressores, como Cuba, Venezuela ou Coréia do Norte. Nesses países, o estado tem um papel preponderante e os indivíduos, pouquíssima liberdade. As nações economicamente repressoras são, sem exceção, nações menos desenvolvidas. Texto de leitura obrigatória Leia o capítulo 11 do seguinte livro: NYEGRAY, J. A. L. Legislação aduaneira, comércio exterior e negócios internacionais. Curitiba: Intersaberes, 2016. Disponível em: <http://uninter.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788559720518>. Acesso em: 25 jul. 2017. Saiba mais Leia o artigo "Lee Kuan Yew, o homem responsável pelo que Cingapura tem de melhor e de pior". Disponível em: <http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2059>. TEMA 2 – POLÍTICAS COMERCIAIS E PROTECIONISMO Esquecendo, por um momento, a questão da riqueza das nações, você já se perguntou por que as nações comercializam? Por qual razão os países não tentam viver isolados, fabricando tudo o que podem por conta própria? Imaginemos por um minuto: se não fosse pelo comércio exterior e internacional, de onde viriam as máquinas de nossa indústria? Como o resto do mundo teria acesso à soja, ao suco de laranja e às proteínas animais, fabricados aqui no Brasil? Como o Brasil teria acesso a automóveis e motores, muitas vezes de empresas alemãs, italianas ou estadunidenses? Como teríamos acesso a manufaturados diversos, muitas vezes provenientes da China? Ou, então, produtos têxteis vindos de vários locais da Ásia? Não teríamos! Seríamos obrigados a tentar fabricar aqui, por conta própria, tudo o que necessitássemos para nossa vida diária. Por mais que, em alguns casos, isso pudesse ser possível, muitas vezes não valeria à pena, considerando que o valor final dos produtos poderia ficar extremamente alto e pouco atrativo. Figura 3 – Rua deserta na capital da Coreia do Norte: o país vive isolado do resto do mundo, o que impede seu desenvolvimento Fonte: http://www.imil.org.br/wp-content/uploads/2009/05/hyangsan.jpg Por conta dessas dificuldades, afirma-se que o comércio internacional permite que as nações atinjam padrões de vida mais elevados, forçando empresas a serem mais e mais eficientes. Para alguns, é possível, sim, viver sem o comércio exterior, ainda que com todos esses inconvenientes. Hoje, essas pessoas são exceção, mas há algum tempo se acreditava que quanto mais poderosa fosse uma nação, mais independente ela deveria ser. Essa teoria se originou na época do Mercantilismo, corrente de pensamento econômico que acreditava que toda vez que um país importava alguma coisa e retirava pagamento de seus cofres para quitar a importação, essa nação ficava mais pobre e, consequentemente, menos poderosa. Não à toa, iniciam-se as Grandes Navegações, na busca por encontrar novas reservas de ouro e prata, para enriquecer e empoderar as nações europeias: A definição mais aceita de mercantilismo informa que este termo compreende um conjunto de ideias e práticas econômicas dos Estados da Europa ocidental entre os séculos XV, XVI e XVII voltadas para o comércio, principalmente, e baseadas no controle da economia pelo Estado. Mercantilismo dá nome, nesse sentido, às diferentes práticas e teorias econômicas do período do Absolutismo europeu. (Silva, 2006) A questão é, se ninguém quer importar, como alguém exportará? Impossível, não é mesmo? Passados alguns séculos após o surgimento das ideias Mercantilistas, o escocês Adam Smith escreveu um livro contestando as práticas comerciais internacionais de então. Em A Riqueza das Nações, Smith argumentava que “a verdadeira base da riqueza de um país era medida pela quantidade e qualidade de seus bens e serviços, não por suas reservas de metais preciosos” (Perry, 2002). Assim, surge o princípio econômico das Vantagens Absolutas. Após a publicação de Adam Smith, o britânico David Ricardo pensou sobre o comércio internacional de forma distinta, criticando a lógica protecionista predominante em suas épocas. De maneira geral, o protecionismo envolve grandes responsabilidades para os Estados, que devem cuidar de um número cada vez maior de áreas. Países protecionistas são, também, economicamente repressores. Nessas nações, os particulares e suas empresas não possuem autonomia para importar e exportar o quanto quiserem. O estado deverá regular, permitir e proibir uma série de condutas. Mas por que os países adotariam essas práticas? Acreditava-se que políticas protecionistas, principalmente em relação ao comércio exterior, pudessem proteger a indústria nacional e estimular seu crescimento. São países que ofereceriam subsídios a determinadas áreas cuja política econômica quisesse estimular: A ideia de subsidio envolve uma transferência de renda real da sociedade a um setor selecionado, no caso o setor exportador. Os subsídios assim considerados são objeto de regulamentação explícita por parte da Organização Mundial do Comércio e são frequentes os casos de questionamento de um país em relação a outro quanto à concessão desses subsídios. (Baumann; Canuto; Gonçalves, 2004). Será que esses subsídios ajudam a indústria doméstica? Será que o protecionismo pode fazer com que as empresas nacionais se desenvolvam? Bem, essa não é uma resposta fácil. O que se percebeu pelas experiências protecionistas é que, quando um governo fornece subsídios à determinada empresa ou área, esta empresa ou área estimulada não precisa se preocupar tanto com competitividade, inovação e crescimento, uma vez que seus recursos vieram do governo. Isso geraria produtos baratos emrazão de políticas – ainda que questionáveis – que favorecem que sua produção seja barata. Esses preços baixos são, então, artificiais. Nesses casos, assim que os governos retiram os subsídios de determinadas áreas, os preços dos produtos até então subsidiados tendem a crescer desenfreadamente, uma vez que o custo de produção deixou de ser bancado pelo poder público e passou para o particular. Isso nos leva a um segundo questionamento a respeito do protecionismo. Será que ele estimula a indústria nacional? Vamos pegar o caso do Brasil. No decorrer das décadas de 1950 até a década de 1990, éramos um país protecionista e altamente regulado. Havia restrições variadas às importações como forma de promover a indústria doméstica. E qual foi o resultado disso? Tínhamos apenas quatro montadoras de automóveis no país, outras poucas de eletrodomésticos e uma demanda reprimida. O que é demanda reprimida? Significa que tínhamos muita gente querendo comprar, mas poucas empresas oferecendo produtos e serviços. Como a oferta era pequena, o consumidor se via obrigado a comprar os itens oferecidos, que nem sempre eram bons. Por isso, durante tanto tempo, o brasileiro teve a impressão de que produto importado era melhor do que produto nacional. A baixa concorrência não estimulava as empresas a inovar e buscar oferecer produtos melhores a preços mais baixos. E hoje em dia? Hoje, dificilmente teremos um país 100% protecionista (com exceção de Coreia do Norte, que é um país fechado) ou 100% aberto e livre. O que há é um mix das duas coisas, às vezes mais fechado, às vezes mais aberto. E quais as formas de proteção comercial existentes hoje? Fechamento de mercado e de fronteiras às importações? Não! “Dentre as formas de proteção comercial, pode-se citar a adoção de tarifas aduaneiras, o contingenciamento ou cotas de importação, as barreiras não tarifárias, regulamentações sanitárias e mais recentemente exigências ambientais e até proteções sociais [...]” (Marinho, 2011). TEMA 3 – O BRASIL E O COMEX E o Brasil, será que é um país protecionista ou um país de livre mercado? Bem, antes de respondermos a essa questão, é importante lembrar que nenhuma nação é 100% uma coisa ou outra coisa. Ninguém pode ser totalmente fechado e protecionista (exceto a Coreia do Norte e outras nações de viés comunista) ou totalmente aberto e desregulado. O Brasil encontra-se, atualmente, mais como um país protecionista do que como um país de livre mercado. As dezenas de leis que existem sobre o comércio exterior exigem atenção intensa do estado e de suas várias instituições intervenientes ao nosso comércio exterior. Os empresários brasileiros gastam pelo menos duas mil e seiscentas horas anuais somente para cumprir com todas as exigências tributárias que o governo impõe. No comércio exterior, o cenário não poderia ser diferente: a história brasileira moldou a aduana e seu propósito. Do seu descobrimento, em 1500, até a chegada da família real portuguesa, em 1808, passamos por um período comercial fechado. Naquela época, éramos colônia de Portugal, e não poderíamos ter indústria. Tudo o que precisávamos deveria ser importado da metrópole Portugal. Tudo o que poderíamos vender deveria ser vendido também para a metrópole, que comercializava nossos produtos pelo resto do mundo. Assim, nessa época, nossa aduana tinha uma finalidade que condizia com o momento econômico do país: garantir o destino das importações e exportações. Com a independência, em 1822, cai por terra o pacto colonial e, assim, tornou-se possível iniciar nosso desenvolvimento sem depender de outrem. A partir desse momento, a aduana passa a ter um caráter arrecadatório. A ideia era arrecadar com as importações e exportações, uma vez que já não éramos mais obrigados a comercializar apenas com Portugal. Esse propósito arrecadatório da nossa aduana vai até 1930, quando o presidente Getúlio Vargas cria empresas estatais nacionais para tentar produzir, por conta própria, muitos dos itens que importávamos de outras nações. A partir daquele momento, altera-se o propósito da aduana, que deixa de ser arrecadatório e passa a ser protecionista, ou seja: impedindo a entrada de produtos importados, na vã tentativa de estimular a indústria nacional. No entanto, não conseguimos ser os melhores na produção de tudo o que precisávamos: [...] no caso brasileiro a concorrência global por mercados e investimentos colocou para o país a necessidade de uma reinserção competitiva na economia internacional. Embora o modelo de desenvolvimento baseado na substituição de importações tenha sido superado, o êxito do crescimento econômico havia proporcionado a organização de setores desenvolvimentistas e protecionistas fortes e estáveis assim como gerado uma estrutura industrial diversificada. (Abreu, 2002) Assim, o protecionismo iniciado no governo Vargas se estende até a década de 1990, momento da abertura econômica brasileira. A partir de então, o propósito da aduana passa a ser regulatório, de regular e controlar a entrada e saída de pessoas, bens e demais itens. No entanto, o que vemos acontecer é o oposto: uma série de procedimentos complexos e desconexos acabam por atrapalhar a inserção internacional de nossas empresas. E quem é, afinal, o responsável pela política comercial de um país? A Receita Federal, órgão de competência aduaneira? Ou a chancelaria – Ministério das Relações Exteriores? Essa é uma resposta a uma pergunta complexa: As políticas nacionais de comércio exterior são raramente conduzidas apenas pelas chancelarias. Os ministérios dedicados à indústria, à agricultura, à ciência e tecnologia, à saúde, à cultura e ao trabalho, entre outros, procuram defender interesses setoriais e exercem maior ou menor influência sobre a diplomacia comercial. As negociações sobre investimentos e patentes, no quadro da OMC, compõe a pauta cada vez mais vasta da diplomacia comercial e são alvo de disputas entre grupos de interesse em cada nação. (Magnoli; Serapião Jr., 2002). Isso significa que não é apenas o Ministério das Relações Exteriores que controla a política comercial de uma nação, e sim seus governantes, ministérios e até mesmo sua orientação política. Governos situados à esquerda buscarão imprimir sua ideologia também nessa área, buscando países também de esquerda. Governos de ideologia situada mais à direita, buscarão outros objetivos, como o alinhamento a países mais industrializados, de ideologia semelhante. Assim, ainda que tenhamos uma política mais protecionista, apenas o protecionismo não consegue, por conta própria, explicar nossa política comercial. O Brasil tem sido cada vez mais presente em fóruns comerciais globais, nos quais busca defender seus negócios mais lucrativos. E quais são esses negócios? Não é segredo para ninguém da importância que o agronegócio tem para nosso país. Assim, muito da política comercial do nosso governo se pauta por buscar a liberalização do comércio internacional de produtos agrícolas: No terreno menos defensivo, os interesses brasileiros concentravam- se em dois temas: protecionismo agrícola, em particular desmantelamento de subsídios à exportação, e legislação anti- dumping. Como membro da coalizão de Cairns, que reúne países favoráveis ao desmantelamento do protecionismo agrícola, o Brasil pressionou pela inclusão de menção explícita à eliminação de subsídios à exportação de produtos agrícolas (“reductions of, with a view to phasing out, all forms of export subsidies”), além de substancial melhoria no acesso a mercados e substancial redução de apoio à produção doméstica que implique em distorções no comércio deprodutos agrícolas. (ABREU, 2002) Ainda que essa seja uma pauta importante, dificilmente será suficiente para dar conta dos desafios do nosso crescimento. É urgente que nossos governantes adotem políticas comerciais mais agressivas para beneficiar exportadores. Buscar países desenvolvidos, celebrar tratados de liberalização comercial e reduzir a burocracia devem, obrigatoriamente, fazer parte da lista de prioridades para nossos governantes. TEMA 4 – LEGISLAÇÃO ADUANEIRA E LOGÍSTICA Até aqui, você já entendeu que o comércio exterior se refere às trocas comerciais de uma nação com o resto do mundo. Você entendeu também que os negócios internacionais têm preocupações mais amplas, tais como o entendimento das razões pelas quais as nações comercializam e como elas o fazem. Agora, pensemos, por um instante: o que seria dessas duas áreas sem a logística? Como transportar as toneladas de soja que saem do Brasil para a China, os manufaturados que saem da China para o Brasil e o suco de laranja que sai do Brasil para os Estados Unidos? Sem logística, não existe comércio exterior. Com o passar dos anos, em especial no decorrer do século XX, as trocas comerciais se intensificaram, e, como consequência, a logística precisou se aprimorar. Junto das ideias de logística internacional para o comércio exterior, constatou-se a necessidade de aumentar a rapidez e eficiência dos transportes para satisfazer clientes cada vez mais exigentes. Uma das características de nosso tempo é que, hoje, temos uma oferta de bens e produtos maior do que a demanda. Assim, os consumidores tornaram-se o público a ser conquistado. Mas e o que a logística tem com isso? Tudo. Pense, por um instante, nas grandes redes de lojas virtuais que você conhece. Quais são os concorrentes de Amazon, Submarino, e-Bay e Mercado Livre? Muitas vezes, os concorrentes não são as demais lojas on-line, e sim as lojas físicas nas quais o consumidor pode obter o produto que deseja sem que precise esperar pela sua entrega. Por conta dessa nova lógica, tem-se exigido cada vez mais não só da logística, mas de seus profissionais. Justamente por isso, pode-se dizer: Um dos grandes obstáculos da logística num ambiente globalizado é justamente utilizar diferentes estratégias para melhorar a eficiência da cadeia logística, fazendo com que as empresas consigam competir em diferentes mercados. [...] Este ambiente competitivo e dinâmico faz com que haja a necessidade de um ambiente integrado internamente e um nível de relacionamento forte junto às outras empresas parceiras. A logística tornou-se uma importante ferramenta para ganhar competitividade e ajustar os fluxos de materiais a esta realidade veloz, em que a redução de tempo na distribuição, estocagem e movimentação dos produtos serão a chave competitiva para o comércio internacional. (Coelho, 2011) Você consegue perceber como o comércio exterior simplesmente não existe sem a logística? Além desse íntimo relacionamento entre essas duas áreas profissionais e do conhecimento, existe outra questão que passa a preocupar gestores de todo o mundo: o chamado gerenciamento da cadeia de suprimentos, que [...] engloba todos os estágios envolvidos, direta ou indiretamente, no atendimento de um pedido de um cliente. A cadeia de suprimentos não inclui apenas fabricantes e fornecedores, mas também transportadoras, depósitos, varejistas e os próprios clientes. Dentro de cada organização, como por exemplo, uma fábrica, a cadeia de suprimentos inclui todas as funções envolvidas no pedido do cliente, como desenvolvimento de novos produtos, marketing, operações, distribuição, finanças, e o serviço de atendimento ao cliente entre outras (Chopra; Meindl, 2003, p. 2) Veja a extensão das preocupações que a cadeia de suprimentos aborda. Agora, estenda esse pensamento para uma escala internacional: como fazê-lo e gerenciá-lo da melhor forma considerando as grandes distâncias que separam os países e os continentes? Além disso, existem muitas empresas que trabalham com a chamada “cadeia global de valor”, ou seja, essas organizações dividem suas atividades industriais por todo o mundo. A pesquisa de novos produtos fica num país, a matriz em outro e a fabricação num terceiro. É a logística, portanto, a responsável por unir todos esses componentes e transportá-los até seus clientes pelo mundo. Entendeu por que, sem a logística, não há comércio internacional? E tem mais! Para que você entenda bem a cadeia logística internacional, deve, antes de mais nada, ter a clara ideia da cadeia logística, ou cadeia de abastecimento de forma geral. O que é isso? Bem, a cadeia de abastecimento [...] corresponde ao conjunto de processos requeridos para obter materiais, agregar-lhes valor de acordo com a concepção dos clientes e consumidores e disponibilizar os produtos para o lugar (onde) e para a data (quando) que os clientes e consumidores desejarem. Além de ser um processo bastante extenso, a cadeia apresenta modelos que variam de acordo com as características do negócio, do produto e das estratégias utilizadas pelas empresas para fazer com que o bem chegue às mãos dos clientes e consumidores. (Bertaglia, 2012, p. 4) Quanta coisa, não é mesmo? Trata-se de toda a preocupação que envolve pegar uma matéria-prima numa determinada localidade, transformá-la, alterá-la e entregá-la como um produto para um cliente em algum lugar, seja numa loja, num armazém de um website ou em qualquer ponto no qual o consumidor final pode adquiri-la de alguma forma. O que se percebeu nos últimos anos é que administrar a cadeia de abastecimento “exige o entendimento dos impactos que serão causados nas organizações, em seus processos e na sociedade” (Bertaglia, 2012, p. 4). Infelizmente, ainda é comum que indústrias inteiras parem sua fabricação por falta de alguma matéria-prima ou de algum componente. Se essa indústria efetuou algum contrato de compra e venda com algum cliente, atrasos podem ser penalizados por multas, que afetarão diretamente a lucratividade da organização. E internacionalmente? As cadeias logísticas internacionais de suprimento compreendem a necessidade de estender a lógica da integração para fora das fronteiras da empresa e das fronteiras do país, incluindo fornecedores e clientes; considerando que, modernamente, a vantagem competitiva de uma empresa se baseia na produtividade (custo adequado) e diferenciação do produto (inovação, qualidade e nível de serviço), com benefícios para todas as partes envolvidas. (Nobre; Robles, 2016, p. 61) A logística, portanto, deixa de ser apenas uma preocupação com matérias primas, materiais, produtos e entregas, e passa a ser uma fonte de vantagens ou desvantagens competitivas, conforme é administrada. Hoje, num mundo freneticamente integrado, entender a cadeia logística internacional é essencial para alavancar a competitividade de uma determinada organização. Nesse ponto, muitos alunos nos questionam: “mas professor, as normas logísticas nacionais e internacionais não são as mesmas? Como, então, ser mais competitivo?” Sim, as normas são as mesmas para todas as empresas, mas Embora os processos em geral se apresentem relativamente uniformes para qualquer empresa, pois as normas são nacionais e internacionais e, portanto, afetando da mesma maneira todos os atores que estão no palco, a forma de ação de cada empresa proporciona um resultado completamente diferente para cada uma delas. Isso ocorre ainda que a mercadoria ou o serviço transacionado seja exatamente igual ao apresentado por seus concorrentes, inclusive para entrega aos mesmos importadores e destinos finais. (Keedi, 2011, p. 75) Considerandoa citação, podemos afirmar que a eficiência e a competitividade de sua empresa deixam de depender apenas dela, da qualidade de seus produtos ou de seus preços, e passam a depender também de você: profissional de comércio exterior que deve, sim, entender de logística. Pense, por um instante, na guerra do Iraque, na invasão do Afeganistão. O que você diria a respeito da eficiência do transporte de armas, blindados e soldados dos Estados Unidos até lá? Desafios semelhantes são aqueles com os quais as empresas se defrontam, uma vez que, internacionalmente, na [...] cadeia de abastecimento de exportação, a distribuição física das mercadorias sofre o impacto de diferentes agentes presentes no ambiente externo, portanto, a utilização e aprimoramento das técnicas de logística internacional devem adaptar-se a uma realidade empresarial em constante mudança (Silva, 2008, p. 132). Se, domesticamente, já é complicado ajustar a cadeia de abastecimento, imagine internacionalmente! Você está preparado para entender cada aspecto do fluxo logístico entre sua empresa e o consumidor final, e entre seus fornecedores e sua empresa. Só assim, você pode pensar em maneiras e mecanismos para agilizar e melhorar seus processos logísticos internacionais. TEMA 5 – O BRASIL NO CENÁRIO INTERNACIONAL DE NEGÓCIOS As trocas internacionais são crescentes ou se mantêm estáveis? Se considerarmos o mundo como um todo, percebemos que o comércio internacional tem crescido continuamente nos últimos anos, o que é confirmado por estatísticas da Organização Mundial do Comércio, conforme vimos anteriormente. Dessa forma, percebemos como, ano após ano, o mundo tem comercializado mais, trocado mais e, como consequência, utilizado mais serviços logísticos. Mas e o Brasil, como fica nesse cenário? Será que aumentamos nossa participação no comércio global? Infelizmente, não. De acordo com a OMC, somos apenas o 25º exportador. Quadro 2 – Classificação de países exportadores segundo a OMC Posição País Posição País 1 China 16 Emirados Árabes Unidos 2 Estados Unidos 17 Arábia Saudita 3 Alemanha 18 Espanha 4 Japão 19 Índia 5 Holanda 20 Taipei 6 França 21 Austrália 7 Coréia do Sul 22 Brasil 8 Reino Unido 23 Suíça 9 Hong Kong 24 Tailândia 10 Rússia 25 Malásia 11 Itália 26 Polônia 12 Bélgica 27 Indonésia 13 Canadá 28 Áustria 14 Singapura 29 Suécia 15 México 30 República Tcheca Fonte: Dados OMC. Esses dados nos mostram que, mesmo o Brasil sendo um país territorialmente extenso, promissor em diversas áreas, não conseguimos nos destacar no comércio internacional. A concorrência com outros países mais eficientes, com melhor infraestrutura e apoio às exportações, tem dificultado a atuação das empresas brasileiras. Um dos maiores responsáveis pelo nosso desempenho é a burocracia. O Brasil possui mais de 3.600 normas de comércio exterior, o que faz com que o país perca em competitividade, bem como afugenta os empresários locais da atuação global. O que mais nos afeta? A baixa eficiência da aduana. Enquanto a eficiência aduaneira em países como Canadá, Cingapura e outros chega em 100%, a aduana brasileira tem apenas 12% de eficiência. Esse dado é absurdo! [...] dentre os 50 países selecionados, é alarmante o Brasil apresentar a menor eficiência relativa de todos os países da base considerada, o que sugere que a Secretaria da Receita Federal do Brasil, responsável pela aduana brasileira, tenha que buscar alternativas para implementar as mudanças e reformas de uma maneira mais célere. (Morini, Barassa et al., 2014) O fato de termos tantas normas, tantas instituições intervenientes e tantas autoridades, além da baixa eficiência da aduana, complica ainda mais a participação brasileira no cenário comercial global. Nosso sistema aduaneiro e de comércio exterior precisam de reformas urgentes, uma vez que têm causado perdas enormes a nosso país: [...] as perdas anuais decorrentes do atual Sistema Aduaneiro Brasileiro representam aproximadamente US$ 2,5 bilhões, considerando apenas os custos operacionais e financeiros dos exportadores e dos importadores. Os procedimentos de importação e exportação são complicados, demorados e inconsistentes, gerando impactos negativos para a imagem do Brasil no exterior e custos adicionais significativos, com perda de competitividade no mercado internacional. (Procomex, 2014) Além disso, existem outras lutas travadas que são grandes empecilhos à nossa competitividade internacional. Por exemplo, a corrupção, desviando verbas que deveriam ser destinadas ao aprimoramento do país e de nossa infraestrutura: [...] embora com grandes potencialidades, o Brasil poderá enfrentar alguns obstáculos ao seu desenvolvimento econômico e social. A elevada corrupção, desigualdades sociais, baixos níveis de escolaridade, desordenamento urbanístico, pobreza de grande parte da população e altos índices de criminalidade tornam ainda difícil o investimento estrangeiro no Brasil. (Ferreira; Reis; Serra, 2011). Perdemos, então, competitividade e participação no mercado global por pura desorganização. Essa desorganização do governo e dos entes do setor público é o maior dos entraves ao crescimento do país. Basta prestar atenção aos debates presidenciais: há alguma menção à legislação aduaneira? Às normas de comércio exterior? Uma série de candidatos quer fazer o país crescer, mas se esquecem de mencionar um dos principais motores propulsores do desenvolvimento: justamente o Comex. Nossa infraestrutura é outro problema. O Brasil é altamente dependente do transporte rodoviário, e os outros modais precisam de urgente atenção: Os modais brasileiros em geral apresentam problemas e precisam de investimentos do governo para melhoria e possível adequação das suas deficiências. O sistema rodoviário, o mais utilizado no país, enfrenta situação ruim fora dos eixos das grandes capitais. As estradas são precárias e não oferecem segurança ao transporte. O sistema adotado para as privatizações dos pedágios acabou por onerar o transporte, deixando o custo dos fretes mais alto. (Barboza, 2014) E sabe qual é a pior parte disso? [...] apenas, 11% das estradas brasileiras são pavimentadas, ficando atrás da China, Rússia e Índia. As condições das estradas brasileiras provocam um aumento no tempo de entrega e uma redução na qualidade de serviços, que muitas vezes foram sentidos no cumprimento de contratos, pagamentos de multas por atraso e até mesmo perda do negócio. (Salum, 2014) Quando pensamos em ferrovias, por exemplo, esses dados são ainda mais alarmantes. Existem obras inacabadas por todo o país, muitas delas sem projeto, que já drenaram uma quantidade imensa de dinheiro público e ainda estão longe de sua conclusão. Por tudo isso, nós, profissionais, cidadãos e eleitores, precisamos cobrar cada vez mais nossos representantes, e conscientizar não só a classe política, mas nossos amigos e familiares, da urgente necessidade de reformas por todo o país, para que não fiquemos, por todo o sempre, “deitados eternamente em berço esplêndido”. Texto de leitura obrigatória Leia o capítulo 12 do seguinte livro: NYEGRAY, J. A. L. Legislação aduaneira, comércio exterior e negócios internacionais. Curitiba: InterSaberes, 2016. Disponível em: <http://uninter.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788559720518>. Acesso em: 25 jul. 2017. TROCANDO IDEIAS Você tem ideia de como estão nossos portos e ferrovias? Veja o vídeo abaixo e comente com seus colegas o que poderia ser feito para mudar essa situação. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=D3QYBVvy6aE&t=9s>. NA PRÁTICALeia e considere o artigo “Comércio exterior – Burocracia, precisamos de ti?”, de autoria de Franciney Carvalho, para o portal Administradores, publicado em 9 de setembro de 2015, disponível em <http://www.administradores.com.br/artigos/academico/comercio-exterior- burocracia-precisamos-de-ti/90157/>. Após ler e analisar o artigo, responda: o que o país poderia fazer para simplificar seus procedimentos aduaneiros? Qual é o impacto da burocracia para as empresas brasileiras? Existem muitas coisas que o governo poderia fazer para melhorar os procedimentos. A primeira delas seria centralizar num só órgão e numa só lei todos os procedimentos para importação e exportação, de forma que essa lei única seguisse um procedimento lógico. Atualmente, muitos dos procedimentos são desconexos, o que faz com que as empresas percam tempo precioso em seu processo de internacionalização. O impacto disso para as empresas é que ou elas perdem competitividade, ou acabam não participando do comércio exterior justamente por não entender toda a burocracia que o cerca. Simplificar é a palavra-chave, ainda mais se o país espera crescer. FINALIZANDO Competitividade liga-se, normalmente, a vários fatores, dentre os quais está a capacidade de produzir e vender de forma melhor. Nesse sentido, “um país com maior competitividade é um país que consegue com maior facilidade, colocar os bens e serviços que produz, nos mercados externos, aumentando por isso as suas exportações” (Almeida, 2003). Essas exportações acabam retornando em benefícios para a população, decorrentes de empregos, investimentos, crescimento econômico e desenvolvimento, de forma geral. O livre mercado e a liberdade econômica permitem que os empresários busquem, sem o atrapalho do governo, melhores condições de comércio. O livre mercado, então, estimula “empresários a buscar sempre novas formas de exportar ou de competir com os importados, gerando mais incentivo ao aprendizado e à inovação do que em um sistema de comércio ‘administrado’.” (Magnoli, Serapião Jr., 2012). O protecionismo, por outro lado, envolve grandes responsabilidades para os Estados, que devem cuidar de um número cada vez maior de áreas. Países protecionistas são, também, economicamente repressores. Nessas nações, os particulares e suas empresas não possuem autonomia para importar e exportar o quanto quiserem. O estado deverá regular, permitir e proibir uma série de condutas. O Brasil encontra-se, atualmente, mais como um país protecionista do que como um país de livre mercado. As dezenas de leis existentes sobre o comércio exterior exigem atenção intensa do estado e de suas várias instituições intervenientes ao nosso comércio exterior. Os empresários brasileiros gastam, pelo menos, duas mil e seiscentas horas anuais somente para cumprir com todas as exigências tributárias que o governo impõe. O protecionismo iniciado no governo Vargas se estende até a década de 1990, momento da abertura econômica brasileira. A partir de então, o propósito da aduana passa a ser regulatório, de regular e controlar a entrada e saída de pessoas, bens e demais itens. No entanto, o que vemos acontecer é o oposto: uma série de procedimentos complexos e desconexos que acabam por atrapalhar a inserção internacional de nossas empresas. O comércio exterior simplesmente não existe sem a logística. Além desse íntimo relacionamento entre essas duas áreas profissionais e do conhecimento, existe outra questão que passa a preocupar gestores de todo o mundo: o chamado gerenciamento da cadeia de suprimentos. A concorrência com outros países mais eficientes, com melhor infraestrutura e apoio às exportações, tem dificultado a atuação das empresas brasileiras. Um dos maiores responsáveis pelo nosso desempenho é a burocracia. O Brasil conta com mais de 3600 normas de comércio exterior, o que faz com que o país perca em competitividade, afugentando os empresários locais da atuação global. REFERÊNCIAS ALMEIDA, A. Economia aplicada para gestores. Cadernos IESF. Lisboa: Espaço Atlântico, 2003. AMATUCCI, M. Teorias de negócios internacionais e a economia brasileira – de 1850 a 2007. In.: Internacionalização de Empresas. São Paulo: Editora Atlas, 2009. CABRAL, J. L. Comércio internacional para concursos. São Paulo: Editora Método, 2011. CARVALHO, F. Comércio exterior: burocracia, precisamos de ti? Administradores.com. 9 set. 2015. Disponível em: <http://www.administradores.com.br/artigos/academico/comercio-exterior- burocracia-precisamos-de-ti/90157/>. Acesso em: 25 jul. 2017. CAVUSGIL, S. T.; KNIGHT, G.; RIESENBERGER, J. Negócios Internacionais: estratégia, gestão e novas realidades. São Paulo: Pearson, 2010. FERREIRA, M. P.; REIS, N. R.; SERRA, F. R. Negócios internacionais e internacionalização para as economias emergentes. Lisboa: Lidel, 2011. FISCHER, R.; URY, W.; PATTON, B. Como chegar ao sim: as negociações de acordos sem concessões. São Paulo: Imago, 2005. HOBSBAWM, E. Era dos extremos: o breve século XX. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. IAMIN, G. P. Negociação: conceitos fundamentais e negócios internacionais. Curitiba: InterSaberes, 2016. MAGNOLI, D.; SERAPIÃO JR., C. Comércio exterior e negociações internacionais. São Paulo: Saraiva, 2012. NYEGRAY, J. A. L. Legislação aduaneira, comércio exterior e negócios internacionais. Curitiba: InterSaberes, 2016. PROCOMEX lança proposta de modernização da aduana. Logweb, 31 maio 2014. Disponível em: <http://www.logweb.com.br/procomex-lanca-proposta-de- modernizacao-da-aduana/>. Acesso em: 25 jul. 2017. SILVA, L. A. T. Logística no comércio exterior. São Paulo: Aduaneiras, 2011. Sinopse de: COELHO, L. C., 2011. Disponível em: <http://www.logisticadescomplicada.com/logistica-no-comercio-exterior/>. Acesso em: 25 jul. 2017. SOUZA, R. da S.; SOUZA, G. A Logística Internacional e Comércio Exterior Brasileiro: Modais de Transporte, Fluxos Logísticos e Custos Envolvidos. AEDB – Associação Educacional Dom Bosco. Disponível em: <http://www.aedb.br/seget/arquivos/artigos13/631831.pdf>. Acesso em: 27 jul. 2017. WERNECK, P. Comércio exterior e despacho aduaneiro. 4 ed. Curitiba: Juruá, 2009.
Compartilhar