Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Alfabetização de Jovens e Adultos: Fundamentos Metodológicos W B A 0 5 0 1_ v1 .2 2/152 Alfabetização de Jovens e Adultos: Fundamentos Metodológicos Autoria: Jany Dilourdes Nascimento Como citar este documento: NASCIMENTO, Jany Dilourdes. Alfabetização de Jovens e Adultos: Fun- damentos Metodológicos. Valinhos: 2017. Sumário Apresentação da Disciplina 03 Unidade 1: Breve Histórico da Educação de Jovens e Adultos no Brasil 05 Unidade 2: Paulo Freire e as concepções: bancária e libertadora da educação 27 Unidade 3: Bases teóricas da Educação Popular e da EJA 44 Unidade 4: Pressupostos filosóficos e metodológicos da alfabetização de jovens e adultos 62 Unidade 5: Alfabetização e letramento – As contribuições de Emília Ferreiro 80 Unidade 6: A Psicogênese da Língua Escrita 96 Unidade 7: Currículo – O que deve ser ensinado na EJA e como? 113 Unidade 8: Avaliação na EJA 132 2/152 3/152 Apresentação da Disciplina A disciplina Alfabetização de jovens e adul- tos: fundamentos metodológicos parte de uma breve contextualização histórica da educação de jovens e adultos (EJA) no Bra- sil até os nossos dias. Essa contextualização abrange desde a abordagem inicial de uma educação tradicional baseada no trabalho com sílabas até a abordagem da educação de jovens e adultos proposta por Paulo Freire. Busca-se o aprofundamento da proposta freiriana como uma educação progressista baseada em princípios da Educação Popu- lar, concepção que vê o aluno como sujeito histórico e social capaz de problematizar, compreender e intervir em sua realidade. Para Freire, o ato de educar não é neutro, pois propõe a formação de valores ligados a que tipo de ser humano e a que o mundo se quer construir. Ainda que de perspectiva revolucionária, a proposta de Freire apresenta recursos met- odológicos restritos à época de sua siste- matização teórica. Assim, esta disciplina traz as contribuições da obra de Emília Fer- reiro sobre o processo de aquisição da língua escrita numa perspectiva socioconstrutiv- ista. Discute-se questões como o currículo da EJA e o papel fundamental do professor alfabetizador. A disciplina apresenta uma proposta bas- tante dinâmica: além dos textos e das aulas em vídeo, você contará com slides, infor- mações suplementares, questões para re- flexão e um estudo de caso a fim de tornar possível o aprofundamento teórico sobre o 4/152 assunto bem como a transposição desses conhecimentos teóricos para a prática da sala de aula. 5/152 Unidade 1 Breve Histórico da Educação de Jovens e Adultos no Brasil Objetivos 1. Regatar o histórico da educação de jovens e adultos no Brasil. 2. Compreender os avanços e retrocessos da EJA ao longo dos anos. 3. Perceber preconceitos contra analfabetos. 4. Destacar a mudança de paradigma na concep- ção de educação e de alfabetização de adultos após as contribuições de Paulo Freire. 5. Verificar a coerência entre a garantia do direito a EJA e as políticas públicas que buscam efetivá-lo. Unidade 1 • Breve Histórico da Educação de Jovens e Adultos no Brasil6/152 Introdução A primeira aula deste curso visa apresentar e discutir a educação de jovens e adultos no Brasil a partir de uma contextualização histórica e crítica. Esse panorama geral e abrangente será de fundamental impor- tância para o entendimento dos temas que virão a seguir. É impossível discutir a educação de jovens e adultos no Brasil sem mencionar as con- tribuições e as obras de Paulo Freire. O au- tor desenvolve uma crítica à educação que ele denomina de “bancária”, afirma que não há neutralidade no processo educativo e propõe uma educação libertadora na qual o aluno é considerado sujeito ativo de sua aprendizagem. Importante ainda destacar a influência de grandes conferências internacionais sobre educação, a nova Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional (LDB) e questões deter- minantes à viabilização da EJA, como o seu financiamento, por exemplo. 1. História da Educação de Jo- vens e Adultos no Brasil A Educação no Brasil, durante quatro sécu- los, foi predominantemente uma educação de dominação cultural, seletiva e exclu- dente. A educação de jovens e adultos ain- da mais. Em 1882, a Lei Saraiva (Decreto nº 3.029/1881) reafirmou a imagem pre- conceituosa do analfabeto como ser inca- paz e ignorante. Nesse período, a oferta de ensino estava atrelada a interesses políticos e eleitorais. Unidade 1 • Breve Histórico da Educação de Jovens e Adultos no Brasil7/152 A partir dos anos 1930, o Brasil começou a consolidar um sistema público de educação elementar. Em 1932, grandes transforma- ções aconteceram na sociedade brasileira. O êxodo rural provocou grande concen- tração populacional nos centros urbanos e o processo de industrialização reclamava a necessidade da ampliação da educação elementar como uma condição para sua ex- pansão. A Constituição Federal de 1934, considera- da revolucionária, instituiu no Brasil a obrig- atoriedade e gratuidade do ensino primário para todos, mas não demorou muito até ser derrubada pelo golpe de Getúlio Vargas e ser substituída por outra Constituição, em 1937. Nesse período, vivemos um dos mo- mentos mais autoritários de nossa história, o chamado Estado Novo, ditadura que du- rou até 1945. Para saber mais O Decreto nº 3.029, de 9 de janeiro de 1881, teve como redator final o Deputado Rui Barbosa e ficou conhecido como “Lei Saraiva”, homenagem feita a José Antônio Saraiva, Ministro do Império, que foi o responsável pela primeira reforma eleitoral do país. O decreto instituiu o “Título de Eleitor” e proibiu o voto de analfabetos. https://pt.wikipedia.org/wiki/9_de_janeiro https://pt.wikipedia.org/wiki/1881 https://pt.wikipedia.org/wiki/Rui_Barbosa https://pt.wikipedia.org/wiki/Conselheiro_Saraiva https://pt.wikipedia.org/wiki/Ministro https://pt.wikipedia.org/wiki/Imp%C3%A9rio https://pt.wikipedia.org/wiki/Brasil https://pt.wikipedia.org/wiki/Decreto https://pt.wikipedia.org/wiki/T%C3%ADtulo_de_Eleitor Unidade 1 • Breve Histórico da Educação de Jovens e Adultos no Brasil8/152 A educação de jovens e adultos passou a ga- nhar força nesse cenário a partir da década de 1940, quando os movimentos de reivin- dicação da ampliação da educação elemen- tar passaram a incluir esforços de extensão desse direito à EJA. Concomitantemente com o término da Se- gunda Guerra Mundial, a ditadura de Vargas chegou ao fim em 1945, iniciando um novo período de entusiasmo diante da redemo- cratização. Nesse mesmo período foi criada a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), que fez pressão mundial em favor da educação de adultos analfabetos. Esse cenário voltado para a industrialização e para a incremen- tação de bases eleitorais colaborou para que a educação de adultos fosse reconhe- cida dentro dos esforços voltados para edu- cação elementar. Para saber mais O Estado Novo foi inspirado no fascismo e no sa- lazarismo, regimes marcados pelo autoritarismo e forte intervenção estatal. A justificativa era impe- dir um “complô comunista”. Nesse período o en- tão presidente anunciou uma nova Constituição (1937), que suspendia todos os direitos políticos, abolia os partidos e as organizações civis. Unidade 1 • Breve Histórico da Educação de Jovens e Adultos no Brasil9/152 Um marco histórico da EJA foi a Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos (CEAA) lançada pelo professor Lourenço Fi- lho em 1947. A campanha começou a de- gradar-se por volta da década de 1950, mas mesmo assim foi de extrema importância por instaurar um campo teórico de pesqui- sa em torno do tema do analfabetismo e da educação de adultos. 1.2 Mudança de Paradigma Paulo Freire, educador pernambucano, se opôs à ideia vigente nos anos 1960 de que o analfabetismo era a causa da situação de subdesenvolvimento econômico e social do país. Ao contrário, ele subverteu esse pen- samento, indicando que a desigualdade é que causava o analfabetismo.Para saber mais Manuel Bergström Lourenço Filho (10/03/1897 a 03/07/1970) foi um educador brasileiro conhe- cido por sua participação no movimento dos pio- neiros da Escola Nova. Eugenista, sua obra revela preocupação com a modernização da escola, no entanto, foi duramente criticado por colaborar com o governo de Getúlio Vargas. https://pt.wikipedia.org/wiki/10_de_mar%C3%A7o https://pt.wikipedia.org/wiki/1897 https://pt.wikipedia.org/wiki/3_de_agosto https://pt.wikipedia.org/wiki/1970 https://pt.wikipedia.org/wiki/Educador https://pt.wikipedia.org/wiki/Escola_Nova https://pt.wikipedia.org/wiki/Get%C3%BAlio_Vargas Unidade 1 • Breve Histórico da Educação de Jovens e Adultos no Brasil10/152 Freire criticou a educação bancária tradi- cional e recusou-se a aceitar a visão pre- conceituosa e marginalizada do analfabeto como indivíduo sem cultura, incapaz e ig- norante. Ele propôs uma educação crítica conscientizadora, baseada no diálogo; uma educação problematizadora da realidade existencial dos sujeitos. No início da déca- da de 1960, Freire inspirou programas de alfabetização e de educação popular como o Movimento de Educação de Base (MEB), li- gado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), aos Centros de Cultura Popu- lar (CPC) ligados à União Nacional dos Estu- dantes (UNE). A pressão desses movimentos sobre o governo federal culminou, no início do ano de 1964, no Plano Nacional de Alfa- betização, proposta que seria orientada por ele, mas foi interrompida pelo golpe militar de 1964, levando-o ao exílio. A proposta de Freire foi substituída pelo Mo- vimento Brasileiro de Alfabetização (Mo- bral). O Mobral foi uma política governa- mental do golpe militar, totalmente despo- litizada, portanto, desprovida de conteúdo crítico. As mensagens serviam para confor- Para saber mais O analfabetismo e o analfabeto eram tidos como a “chaga” da sociedade brasileira, de acordo com o discurso higienista de dominação cultural. Leia o artigo Imagens do analfabetismo: a educação na perspectiva do olhar médico no Brasil dos anos 20, de Heloísa Helena Pimenta Rocha, publicado em 1995. Unidade 1 • Breve Histórico da Educação de Jovens e Adultos no Brasil11/152 mar uma visão ingênua da sociedade e para incutir a aceitação da Ditadura como uma sociedade moderna, ligada ao progresso. O Mobral deixou poucas contribuições. Uma delas foi o Programa de Educação Integrada (PEI), que possibilitava a continuidade dos estudos dos recém-alfabetizados. O Mobral foi extinto em 1985 e substituído pela Fundação Educar (Fundação Nacional para Educação de Jovens e Adultos). Esta Fundação apoiou algumas iniciativas de educação básica de jovens e adultos, con- duzidas por prefeituras e instituições da so- ciedade civil. A Fundação Educar também foi extinta em 1990, Ano Internacional da Alfabetização, ocasião em que o governo federal fechou programas de alfabetização de jovens e adultos. No cenário internacional, no mesmo ano aconteceu a Conferência Mundial de Edu- cação para Todos, em Jomtien, que chamou a responsabilidade de todos os países signa- tários para com o direito à educação de to- dos, inclusive à educação de jovens e adultos. No final da década de 1990 foi promulga- da no Brasil a nova Lei de Diretrizes e Ba- ses da Educação Nacional – LDB (Lei n° 9.394/1996), na qual a EJA passou a ser considerada uma modalidade da educação básica nas etapas do ensino fundamen- tal e médio. A Emenda Constitucional n°. 14/1996 também instituiu a obrigatorie- dade do poder público em oferecer o Ensino Fundamental para aqueles que não tiveram acesso na idade própria. A partir da mesma Emenda, foi criado o Unidade 1 • Breve Histórico da Educação de Jovens e Adultos no Brasil12/152 Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (FUNDEF), regulamentado pela Lei nº 9.424/1996, que vetou a con- tabilização das matrículas no Ensino Fun- damental nos cursos de educação de jovens e adultos, para fins de repasse de recursos, inviabilizando o financiamento da educação de jovens e adultos. Em 2001 foi aprovado o Plano Nacional de Educação (PNE). Este plano definiu como um dos objetivos a integração de ações do poder público para a erradicação do anal- fabetismo. Já o novo Plano Nacional de Ed- ucação (PNE 2014/2024) apresenta retro- cessos relativos à EJA. Esta breve trajetória histórica nos ajuda a reafirmar a luta pela Educação como um Di- reito Humano de todos em qualquer idade. Unidade 1 • Breve Histórico da Educação de Jovens e Adultos no Brasil13/152 Glossário Dominação Cultural: A imposição da visão de mundo dos colonizadores aos povos colonizados é chamada de invasão cultural. De acordo com Freire, a invasão cultural convence os invadidos de que são inferiores aos invasores e, portanto, devem adquirir seus valores, hábitos, maneira de se vestir, falar e pensar. Submetidos a condições concretas de opressão, tornam-se incapazes de lutar por sua libertação. Temos como exemplo os jesuítas que vieram catequizar os indígenas. Educação bancária: Concepção de educação tradicional na qual o professor é o detentor do sa- ber, portanto, deposita o conhecimento no aluno que nada sabe. Unidade 1 • Breve Histórico da Educação de Jovens e Adultos no Brasil14/152 Glossário Eugenia: Termo cunhado na Inglaterra do século XIX por Francis Galton, sobrinho de Charles Da- rwin, em seu livro Hereditary genius, publicado em 1869. A eugenia tentou fundamentar-se em bases supostamente científicas, validando a segregação e limpeza racial. Redemocratização: Tornar a democratizar. Em 30 de outubro de 1945, uma ação militar de- pôs Getúlio Vargas e pôs fim ao Estado Novo. No dia 2 de dezembro de 1945, foram realizadas eleições para a presidência da República e para formar uma Assembleia Nacional Constituinte. Eurico Dutra foi eleito com 55% dos votos e as eleições foram um passo importante para o resta- belecimento da democratização do país. Fonte: <https://static.todamateria.com.br/upload/30/de/30_de_outubro.jpg>. Acesso em: 14 jun. 2017. http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas2/biografias/Getulio_Vargas.asp https://static.todamateria.com.br/upload/30/de/30_de_outubro.jpg Questão reflexão ? para 15/152 O Parecer CNE 11/2000, coordenado pelo Relator Conselheiro Car- los Roberto Jamil Cury, que trata das Diretrizes Curriculares Na- cionais para a Educação de Jovens e Adultos, é até hoje um dos documentos mais importantes sobre a EJA. O documento aborda três funções da EJA: função reparadora, função equalizadora e fun- ção permanente da EJA, que também pode ser chamada de quali- ficadora. Leia o documento disponível no Portal do Ministério da Educação e reflita sobre essas funções e a mudança da concepção de educação proposta . 16/152 Considerações Finais (1/2) • Dominação cultural. • Preconceito contra o analfabeto. • 1932: Início de um sistema público de Educação Elementar. • Constituição de 1934: instituiu a obrigatoriedade e gratuidade do ensino primário para todos. • Constituição de 1937: suspendeu todos os direitos políticos, aboliu os par- tidos e as organizações civis. • Década de 1940: movimentos de reivindicação da ampliação da educação elementar incluem a reivindicação do direito à EJA. • Redemocratização. • Fim da 2ª Guerra Mundial, criação da Unesco, pressão mundial para o fim do analfabetismo. • Interesse político na ampliação das bases eleitorais. 17/152 Considerações Finais (2/2) • 1947: Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos lançada pelo pro- fessor Lourenço Filho. • Paulo Freire e a educação progressista. • Movimentos em prol da educação popular: Movimento de Educação de Base (MEB), ligado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), aos Centros de Cultura Popular (CPC) ligados à União Nacional dos Estudantes (UNE). • 1964: Paulo Freire e o Plano Nacional de Alfabetização. • Golpe militar de 1964, levando-o ao exílio. • A proposta de Freireé substituída pelo Movimento Brasileiro de Alfabetiza- ção (Mobral). • Conferência Mundial de Educação para Todos, em Jomtien. • Direito à Educação de Todos inclusive à Educação de Jovens e Adultos. Unidade 1 • Breve Histórico da Educação de Jovens e Adultos no Brasil18/152 Referências BRASIL. Decreto nº 3.029, de 9 de janeiro de 1881. Publicação original – Portal da Câmara dos Deputados. Rio de Janeiro, 1881. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/ decret/1824-1899/decreto-3029-9-janeiro-1881-546079-publicacaooriginal-59786-pl.html>. Acesso em: 21 jun. 2017. BRASIL. Constituição (1934). Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil. Rio de Janeiro, 1934. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui- cao34.htm>. Acesso em: 28 maio 2017. BRASIL. Constituição (1937). Constituição dos Estados Unidos do Brasil. Rio de Janeiro, 1937. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao37.htm>. Acesso em: 28 maio 2017. BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília: Diário Oficial da União,1996. BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Parecer 11/2000. Diretrizes curriculares nacionais para a educação de jovens e adultos. Brasília: Diário Oficial da União, 2000. http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-3029-9-janeiro-1881-546079-publicacaooriginal-59786-pl.html http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-3029-9-janeiro-1881-546079-publicacaooriginal-59786-pl.html http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao34.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao34.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao37.htm Unidade 1 • Breve Histórico da Educação de Jovens e Adultos no Brasil19/152 BRASIL. Lei nº 11.494, de 20 de junho de 2007. Regulamenta o Fundo de Manutenção e Desen- volvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação – FUNDEB, de que trata o art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias; altera a Lei n. 10.195, de 14 de fevereiro de 2001; revoga dispositivos das Leis n. 9.424, de 24 de dezembro de 1996, 10.880, de 9 de junho de 2004, e 10.845, de 5 de março de 2004; e dá outras pro- vidências. Brasília: Diário Oficial da União, 2007. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11494.htm>. Acesso em: 29 jun. 2017. BRASIL. Lei nº 13.005, de 24 de junho de 2014. Aprova o Plano Nacional de Educação – PNE e dá outras providências. Brasília: Diário Oficial da União, 2014. Disponível em: <http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l13005.htm>. Acesso em: 29 jun. 2017. FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 42. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11494.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11494.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l13005.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l13005.htm 20/152 1. O que é Dominação Cultural? a) É entender bem a cultura de um povo. b) É impor a sua cultura a outro povo, como uma forma de cultura superior. c) Significa uma forma de resistência à dominação. d) É a imposição do modo de viver dos colonizados. e) Corresponde à luta pela libertação de um povo. Questão 1 21/152 2. A Constituição de 1934 foi considerada revolucionária por: a) Propor a obrigatoriedade do ensino pago para todos. b) Incentivar o ensino secundário para as zonas urbanas. c) Instituir a obrigatoriedade e gratuidade do ensino primário para todos. d) Provocar a redução da oferta da educação pública gratuita. e) Instituir a obrigatoriedade do ensino gratuito apenas na zona rural, mais necessitada. Questão 2 22/152 3. Com o fim da Ditadura de Vargas e a redemocratização, a principal ra- zão dos investimentos públicos na educação de adultos foi: a) Erradicar o analfabetismo. b) Garantir o acesso e a permanência na escola. c) Ajudar a formar pessoas críticas para votar com consciência. d) Colaborar com a sociedade em prol de um mundo melhor e mais justo e) Formar mão de obra para emergente industrialização e ampliar as bases eleitorais. Questão 3 23/152 4. As ideias de Paulo Freire são consideradas um divisor de águas na educa- ção: a) Por terem proposto uma educação conscientizadora, crítica e dialógica. b) Por terem proposto uma educação tradicional para adultos. c) Porque esse educador propôs a educação bancária. d) Por querer formar mão de obra especializada para o progresso do Brasil. e) Por terem inspirado o Mobral. Questão 4 24/152 5. De acordo com a Lei nº 9.394, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Na- cional de 20 de dezembro de 1996: a) A educação de jovens e adultos passa a fazer parte da educação básica nas etapas do ensino fundamental e médio. b) A educação básica só compreende o direito de crianças e adolescentes nas etapas do ensino fundamental e médio. c) O financiamento da EJA é incentivado pelo FUNDEF. d) O repasse de recursos para EJA colabora com a implementação da EJA em todo território nacional. e) Matrículas da EJA são contabilizadas para o FUNDEF. Questão 5 25/152 Gabarito 1. Resposta: B. O conceito de Dominação Cultural está liga- do à imposição da cultura de um povo colo- nizador a outro povo colonizado. Refere-se a uma dominação ideológica que pretende incutir a ideia de que a cultura do coloniza- dor é superior, convencendo os colonizados a um tipo de conversão cultural e obediên- cia sem resistência. 2. Resposta: C. A Constituição de 1934 foi considerada re- volucionária por instituir a obrigatoriedade e gratuidade do ensino primário como um direito para todos. Não demorou muito até ser derrubada pelo golpe de Getúlio Var- gas e ser substituída por outra Constituição (1937), bastante reacionária, que suprimia todos os direitos políticos, abolia os parti- dos e as organizações civis. 3. Resposta: E. Considerando que o Brasil começava a se industrializar, havia necessidade de formar mão de obra para o trabalho e o fato de que pessoas analfabetas não podiam votar por causa da Lei Saraiva, o fim da Ditadura de Vargas e a redemocratização fizeram com que se investisse na educação de jovens e adultos para ampliar as bases eleitorais. 4. Resposta: A. As ideias de Paulo Freire são consideradas um divisor de águas na educação por terem 26/152 Gabarito proposto uma educação conscientizadora, crítica e dialógica, que apreendia o aluno como sujeito de sua própria educação, con- trária à educação tradicional bancária da época, que desconsiderava os conhecimen- tos prévios dos alunos, vistos como pessoas sem cultura. 5. Resposta: A. De acordo com a Lei nº 9.394, Lei de Dire- trizes e Base da Educação Nacional, de 20 de dezembro de 1996, a educação de jovens e adultos passa a fazer parte da educação básica nas etapas do ensino fundamental e médio, embora o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (FUNDEF) te- nha vetado a contabilização das matrículas da EJA no Ensino Fundamental para fins de repasse de recursos, inviabilizando o finan- ciamento da educação de jovens e adultos. 27/152 Unidade 2 Paulo Freire e as concepções: bancária e libertadora da educação Objetivos 1. Compreender a concepção de educação tradicio- nal e educação progressista. 2. Entender a concepção de educação bancária. 3. Compreender a relação Sujeito x Objeto. 4. Refletir sobre a educação como um ato político. 5. Refletir sobre Educação crítica x Educação ingênua. 6. Discutir sobre a importância da dialogicidade na educação. 7. Aprofundar o conceito de educação problematiza- dora e transformadora. Unidade 2 • Paulo Freire e as concepções: bancária e libertadora da educação28/152 Introdução Este tema discute um dos principais concei- tosde Paulo Freire, a concepção “bancária” da educação. Esta concepção de educação ajuda a definir a educação tradicional e a distingui- -la da concepção progressista. Na primeira, encontramos o educador como sujeito e os educandos como objetos nos quais o conhe- cimento do educador é depositado. Já na con- cepção progressista, os educandos são sujei- tos do conhecimento, não objetos. A concepção progressista concebe a educa- ção como um ato político, pelo qual nos po- sicionamos diante do mundo, do lado dos fracos e oprimidos ou contra eles. É uma edu- cação que problematiza o mundo no qual se vive, portanto fundamenta-se no diálogo en- tre as pessoas, sujeitos históricos que enten- dem seu papel transformador no mundo. 1. Paulo Freire e a concepção “bancária” da educação No início dos anos 1960, Paulo Freire ques- tionou a educação tradicional brasileira, pro- pondo reflexões sobre o distanciamento entre a educação e os sujeitos aos quais ela se desti- nava. Para o autor, aquela educação era alheia à experiência existencial dos educandos e o educador era considerado o único sujeito da educação “cuja tarefa indeclinável é encher os educandos dos conteúdos de sua narração” (FREIRE, 2005, p. 58). Para Paulo Freire, não existe neutralidade no ato de educar. Educar significa transmitir va- lores, portanto, deveríamos nos perguntar: que tipo de pessoas estamos formando? Que tipo de mundo desejamos? Educar envolve um projeto de mundo? Formamos sujeitos críticos para um mundo mais justo para todos ou formamos pessoas conformadas diante da realidade? Unidade 2 • Paulo Freire e as concepções: bancária e libertadora da educação29/152 Para saber mais Um dos sonhos de Paulo Freire era que seu acervo pessoal fosse acessível à população sem custos. Uma parceria firmada entre a Brasiliana USP e o Instituto Paulo Freire (IPF), possibilita a realização de parte desse sonho disponibilizando o acesso gratuito a vários trabalhos do pensador. Para saber mais Paulo Freire Fonte: <http://educacaointegral.org.br/wp- -content/uploads/2015/04/paulo-freire_ anistiado-17.jpg>. Acesso em: 29 ago. 2017. http://educacaointegral.org.br/wp-content/uploads/2015/04/paulo-freire_anistiado-17.jpg http://educacaointegral.org.br/wp-content/uploads/2015/04/paulo-freire_anistiado-17.jpg http://educacaointegral.org.br/wp-content/uploads/2015/04/paulo-freire_anistiado-17.jpg Unidade 2 • Paulo Freire e as concepções: bancária e libertadora da educação30/152 A concepção bancária de educação é feita de narrativas, não sendo dialógica, é arbitrária, impo- sitiva, opressora e desumanizante. A narração de que o educador é o sujeito, conduz os educandos à memo- rização mecânica do conteúdo narrado. Mais ainda, a narração os transfor- ma em “vasilhas”, em recipientes a serem “enchidos” pelo educador. Quan- to mais vá “enchendo” os recipientes com seus “depósitos”, tanto melhor educador será. Quanto mais se deixem docilmente “encher”, tanto melho- res educandos serão. (FREIRE, 2005, p. 58) Para saber mais Paulo Reglus Neves Freire (19/09/1921) Pernambucano, formou-se em Direito pela Faculdade de Direito de Recife, mas não exerceu a profissão. Ga- nhou notoriedade por sua experiência com alfabetização de adultos em Angicos (RN). Foi exilado. Trabalhou como professor em Harvard e foi consultor educacional de vários países na África. Voltou ao Brasil em 1980. Lecionou na Unicamp e PUC-SP. Tornou-se Secretário de Educação no Município de São Paulo (1989). Rece- beu o título de doutor Honoris Causa em vinte e sete universidades no mundo. Disponível no site Paulo Freire . Unidade 2 • Paulo Freire e as concepções: bancária e libertadora da educação31/152 Daí advém a concepção bancária da educa- ção. Historicamente as pessoas guardavam dinheiro em casa; percebendo uma forma lucrativa de investir o dinheiro de outros e emprestar a juros, foram criados os primei- ros bancos. Atualmente os bancos evoluíram bastante no objetivo de obter lucros, mas a questão aqui é compreender a razão de Freire ter usado essa analogia. Para ele, aquele tipo de educação estava equi- vocado, os educadores eram os donos do co- nhecimento e depositavam seus conhecimen- tos nos alunos que nada sabiam, assim a edu- cação bancária parte da ideia de que educar é um ato de depositar, transferir conhecimento. Na concepção bancária, os educadores são os sujeitos e os educandos são meros obje- tos, de maneira que nessa visão da educação os educandos são acostumados a aceitar in- formações, não são incentivados a pensar so- bre elas, mas a aceitá-las passivamente, es- timulando uma visão ingênua e conformada do mundo. Por faltar criticidade, a educação bancária atua como prática da dominação, tende a estimular a aceitação das situações opressoras como sendo naturais e inevitáveis determinadas pelo destino, destacando o ca- ráter mítico e fatalista como mais uma de suas características. Para saber mais Determinismo O termo determinismo origina-se do verbo “deter- minar”. Refere-se a uma corrente de pensamento que defende a ideia de que não há livre-arbítrio, tudo depende de relações de causalidade, de acor- do com o determinismo, todos os fatos e ações hu- manas são predeterminadas pela natureza, sendo a “liberdade de escolha” uma mera ilusão. Unidade 2 • Paulo Freire e as concepções: bancária e libertadora da educação32/152 A educação problematizadora proposta por Paulo Freire é comprometida com a desmitificação da realidade e com a libertação; por ser crítica, é conscientizadora; e por conceber os educandos como sujeitos históricos, carrega em seu cerne a transformação como possibilidade. Link Aqui será inserido as referências complementares. Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos (MOVA) criado na gestão de Paulo Freire em São Paulo, transformou-se em modelo nacional. Disponível no site Paulo Freire .. Fórum de EJA Espaço que busca a conexão entre o movimento social pela EJA, envolvendo 27 fóruns estaduais e distri- tal de EJA e as Tecnologias de Informação. Disponível no site Fórum Eja . Procure o do seu estado! Unidade 2 • Paulo Freire e as concepções: bancária e libertadora da educação33/152 Glossário Analogia: Analogia é estabelecer uma relação de semelhança entre duas ou mais entidades dis- tintas, assim como Paulo Freire fez com os “Bancos” e as escolas. Educação dialógica: Educação dialógica é a educação baseada no “diálogo”, não na transmissão do conhecimento. Mitificadora: Que tem qualidades fascinantes, de maneira a ocultar a verdade. Questão reflexão ? para 34/152 Leia o texto a seguir, do próprio Paulo Freire: A concep- ção “bancária” da educação como instrumento da opressão. Seus pressupostos, sua crítica. FREIRE, Paulo – Pedagogia do Oprimido. São Paulo: Paz e Terra. Pp.57-76. 1996. Re- flita sobre a questão e pense em como seria possível apli- car a educação libertadora na escola de forma prática . 35/152 Considerações Finais • Conceito de Educação como ato político não partidário, afirmação de que não há neutralidade na educação. • Educação tradicional bancária na qual os educandos não são sujeitos, são objetos receptores de conhecimento. • A educação tradicional baseia-se em narrativas feitas pelos professores a seus alunos, enquanto que a educação libertadora se baseia no diálogo en- tre ambos. • A educação tradicional apoia-se na consciência ingênua mitificadora, en- quanto a educação libertadora incentiva a consciência crítica. • A educação tradicional trabalha a favor da manutenção da opressão, en- quanto a educação libertadora trabalha para sua emancipação e para a transformação da sua realidade como uma possibilidade. Unidade 2 • Paulo Freire e as concepções: bancária e libertadora da educação36/152 Referências FREIRE, Paulo. Ação cultural para a liberdade e outros escritos. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2007. ______. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000. ______. Educação e mudança.Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979. ______. Ideologia e educação: reflexões sobre a não neutralidade da educação. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981. ______. Pedagogia do oprimido. 42. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005. http://books.google.com/books?id=0LrGAAAACAAJ 37/152 1. As concepções de Educação Tradicional e Progressista são, respectiva- mente: a) Conservadora e libertadora. b) Libertadora e crítica. c) Autoritária e alienante. d) Transformadora e problematizadora. e) Dialógica e conservadora. Questão 1 38/152 2. A concepção da “educação bancária” baseia-se em ideias que: Questão 2 a) Consideram os alunos sujeitos históricos. b) Comparam a educação a um Banco pela analogia do investimento em seus clientes. c) Partem do princípio da transmissão de conhecimentos do professor para o aluno, conside- rando este último como mero objeto recipiente. d) Difundem a dialogicidade da educação. e) Apresentam a educação como um ato político. 39/152 3. A respeito da educação como um ato político, podemos afirmar que: Questão 3 a) Toda educação deve ter um partido. b) Que a educação é neutra. c) Que a educação transmite valores e uma concepção de mundo, por isso não é neutra. d) Política nada tem a ver com educação e não devemos misturá-las. e) Ao considerarmos a educação como um ato político, trabalhamos para a conservação da ordem social. 40/152 4. Paulo Freire foi um educador renomado no mundo todo por suas ideias: Questão 4 a) Sobre educação em geral. b) Apenas sobre educação de adultos. c) Sobre educação tradicional. d) A respeito das injustiças que os opressores sofrem. e) Por defender a educação bancária. 41/152 5. Está correto afirmar que a concepção de Educação progressista é: Questão 5 a) A concepção da Educação que visa o progresso nacional e o desenvolvimento econômico e social. b) Ingênua em defender a transformação do mundo. c) Tem como objetivo a aceitação das coisas como são, pois não podemos mudá-las. d) Passiva diante da realidade do mundo, pois baseia-se em noções deterministas. e) Problematiza a realidade do sujeito para que possa compreender-se como sujeito histórico e assim agir para transformar o mundo. 42/152 Gabarito 1. Resposta: A. A primeira concepção de educação é a Tra- dicional, portanto, conservadora; a segun- da concepção de educação apresentada é a Progressista, que se opõe à primeira, sendo libertadora. Então, respectivamente, temos: Concepção de Educação Tradicional = Con- servadora. Concepção de Educação Progressista = Li- bertadora. 2. Resposta: C. A concepção “bancária” de educação parte do princípio de que só o professor detém o conhecimento, portanto ele transmite seus conhecimentos para os alunos. Nessa rela- ção, somente o professor é sujeito, os alu- nos são objetos recipientes do conhecimen- to depositado por eles. 3. Resposta: C. A educação não é político-partidária, e nem deve ser. Mas é um ato político porque es- colhemos de que lado estamos: dos fracos e oprimidos ou dos fortes e opressores. Ao transmitir valores sobre o tipo de pessoas que formamos e o tipo de mundo que que- remos, estamos tomando uma posição po- lítica, não neutra. 4. Resposta: A. Algumas pessoas costumam relacionar Paulo Freire apenas à educação de adultos, 43/152 Gabarito no entanto, sua proposta de educação é ge- ral, para todas as idades e em todos os seg- mentos da educação. 5. Resposta: E. A concepção progressista problematiza a realidade do sujeito para que possa refle- tir criticamente sobre as injustiças sociais e compreender-se como sujeito histórico, posicionar-se diante delas, ao contrário de uma educação ingênua para a aceitação da realidade como se fosse por causas mágicas determinadas e inquestionáveis. Só como sujeitos podemos agir para transformar o mundo. 44/152 Unidade 3 Bases teóricas da Educação Popular e da EJA Objetivos 1. Apresentar o entrelaçamento dos temas. 2. Desmitificar o fracasso escolar, como o fracasso da escola em receber as crianças das camadas populares. 3. Verificar a influência das ideias de Paulo Freire nos movimentos sociais. 4. Fundamentar a Educação Popular e os princípios de- mocráticos como base da Educação de Jovens e Adul- tos. 5. Compreender a gestão democrática como a educação feita com o povo, para o povo. Unidade 3 • Bases teóricas da Educação Popular e da EJA45/152 Introdução Este tema propõe expor as bases teóricas que sustentam a Educação Popular e a EJA. Os princípios democráticos, éticos e de par- ticipação política tratam de uma educação emancipadora e crítica que assume seu po- sicionamento político em defesa da justiça social e de melhores condições de vida. Também discutiremos a transformação do conceito de Educação Popular e esclarece- remos a forma como foi apropriado pelos movimentos sociais que compartilhavam das ideias de Paulo Freire. A educação popu- lar passa a ser a educação feita com o povo e não só para o povo, princípio que orientou a gestão de Freire à frente da Secretaria da Educação do município de São Paulo. Freire recusava-se a entregar políticas prontas à população, recebia e dialogava com os mo- vimentos, e juntos elaboravam políticas pú- blicas. Os conceitos apresentados ao longo deste tema serão de máxima importância para compreensão dos seguintes. 1. Bases teóricas da Educação Popular e da EJA Durante alguns temas retomaremos alguns assuntos tratados anteriormente, afinal, os temas não são isolados, encontram-se en- trelaçados entre si e ajudam a esclarecer e aprofundar outros novos. Historicamente, no Brasil, as escolas públi- cas eram frequentadas pela elite, a maior parte da população era excluída do direi- to à educação e quando, finalmente, con- Unidade 3 • Bases teóricas da Educação Popular e da EJA46/152 seguiam entrar na escola, sofriam um tipo “expulsão encoberta” que demonstrava o despreparo da escola para lidar com a po- pulação pobre. Embora houvesse uma grande desigualda- de social, o analfabetismo era considerado a causa, não o efeito da situação econômica. Na contramão dessa visão encontramos Paulo Freire e os movimentos sociais que lutavam pela democratização da escola pública, ou seja, pelo direito de todos à educação. Para saber mais Expulsão encoberta Em sua obra A psicogênese da língua escrita, Emí- lia Ferreiro (1999, p. 20) afirma que chamar de “deserção” social o abandono da escola não é apropriado pois trata-se mais de um problema de dimensões sociais. Por essa razão, em lugar de chamar de “deserção” teríamos de chamar o fenômeno de “expulsão encoberta”, pois a desi- gualdade social e econômica acaba significando desigualdades educacionais. Para saber mais Explicações sobre o fracasso escolar como res- ponsabilidade do indivíduo fazem parte de mitos da educação que há tempos foram superados na literatura, porém permanecem nas práticas educativas. Veja o texto Fracasso escolar no con- texto da escola pública: entre mitos e realidades, de Solange Aparecida Bianchini Forgiarini e João Carlos da Silva. Unidade 3 • Bases teóricas da Educação Popular e da EJA47/152 Para saber mais Movimentos Sociais Os movimentos são difíceis de definir conceitualmente e há várias abordagens que são difíceis de comparar. Os vários autores tentam isolar alguns aspectos empíricos dos fenômenos coletivos, mas como cada autor acentua elemen- tos diferentes, dificilmente se pode comparar definições. Infelizmente, estas são mais definições empíricas do que conceitos analíticos. [...] O que é em- piricamente chamado de “movimento social” é um sistema de ação que liga orientações e significados plurais. Uma ação coletiva singular ou um evento de protesto, além disso, contêm tipos diferentes de comportamento e as análises têm de romper sua aparente unidade e descobrir os vários elementos nela con- vergentes e possivelmente tendo diferentes consequências. [...] Unidade 3 • Bases teóricas da Educação Popular e daEJA48/152 Desde a década de 1960, mais efetivamente, a luta por uma educação pública de qualidade para todos permeia a luta de movimentos sociais, porém a educação reivindicada estava forte- mente ligada aos ideais desses movimentos, que buscavam princípios democráticos, éticos e de participação política, incluindo melhores condições de vida, portanto, tratava-se de uma edu- cação emancipadora e crítica, educação que assume seu posicionamento político em defesa da maioria oprimida. Para saber mais Eu defino analiticamente um movimento social como uma forma de ação cole- tiva (a) baseada na solidariedade, (b) desenvolvendo um conflito, (c) rompendo os limites do sistema em que ocorre a ação. Estas dimensões permitem que os movimentos sociais sejam separados dos outros fenômenos coletivos (delin- quência, reivindicações organizadas, comportamento agregado de massa) que são, com muita frequência, empiricamente associados com “movimentos” e “protesto”. (MELUCCI, 1989, p. 54-57) Fonte: MELUCCI, Alberto. Um objetivo para os movimentos sociais? Lua Nova, n. 17, p. 49-66, jun. 1989. Unidade 3 • Bases teóricas da Educação Popular e da EJA49/152 Para saber mais Educação de qualidade Fala-se muito em educação de qualidade, mas o que define a qualidade na educação além do acesso e da permanência? Podemos falar de vá- rios indicadores, porém o mais importante é a ga- rantia da aprendizagem. Disponível no Portal do Ministério da Educação . 1.1 A Educação Popular O conceito de Educação Popular surgiu na América Latina durante o século XIX, na Ar- gentina, a partir da obra De la educación po- pular, escrita pelo então presidente General Domingo Faustino Sarmiento. Para ele, Edu- cação Popular era a oferta da educação es- tatal primária para todos. Porém, no século XX, o movimento sindical operário se apropria do conceito de Edu- cação Popular e o ressignifica, tomando-o como educação voltada para os interesses do povo. Paulo Freire inspirou os principais programas de Educação Popular, como o Movimento de Educação de Base (MEB), li- gado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). A Educação Popular surge no Brasil dentro dos movimentos populares, fora das esco- las, como contraponto à ideologia domi- nante. Freire assume essa concepção de “Educação Popular”, cidadã e democrática, feita com o povo, para o povo. Enquanto http://numeracaoromana.babuo.com/XIX-numero-romano Unidade 3 • Bases teóricas da Educação Popular e da EJA50/152 Freire foi Secretário da Educação da cidade de São Paulo, tentou implantar uma gestão demo- crática da educação na rede púbica de ensino. No entanto, ainda hoje restam alguns equívocos quando falamos de Educação Popular. Normal- mente, esta é associada à educação de jovens e adultos. Porém, como educação para todos, não é a faixa etária que a define, e sim sua concepção de educação voltada para a mobilização e a organização das classes populares, com o objetivo de sua emancipação e empoderamento. Para saber mais Um dos mais renomados professores da Universidade de São Paulo, o professor Vitor Paro, possui um site que, além de divulgar seu trabalho, possibilita acesso gratuito a alguns textos disponíveis que po- dem ser baixados. Dentre os artigos e capítulos de livro, encontramos A qualidade da escola pública: a importância da gestão escolar. Unidade 3 • Bases teóricas da Educação Popular e da EJA51/152 Glossário Democratização: A democratização da gestão na escola pública é um indicador de qualidade da educação. Democratizar significa diminuir a centralização das decisões, tornando-as democrá- ticas e participativas. Educação primária: Até 1971 no Brasil, o ensino primário constituía o primeiro estágio da edu- cação escolar que era composto por quatro séries anuais e poderia prolongar-se por até mais duas séries complementares. A conclusão do ensino primário era condição para o ingresso no ensino ginasial. No mesmo ano, o ensino primário fundiu-se com os quatro anos do ensino gina- sial, dando origem ao ensino de 1º grau, de 8 anos. Com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, de 1996, o ensino de 1º grau foi substituído pelo ensino fundamental. Emancipação: Termo que se refere à libertação de qualquer tipo de opressão ou privação; alfor- ria, independência. https://pt.wikipedia.org/wiki/1971 https://pt.wikipedia.org/wiki/Educa%C3%A7%C3%A3o_escolar https://pt.wikipedia.org/wiki/Educa%C3%A7%C3%A3o_escolar https://pt.wikipedia.org/wiki/Gin%C3%A1sio_(escola) https://pt.wikipedia.org/wiki/Lei_de_Diretrizes_e_Bases_da_Educa%C3%A7%C3%A3o https://pt.wikipedia.org/wiki/1996 https://pt.wikipedia.org/wiki/Ensino_fundamental Questão reflexão ? para 52/152 Leia o documento Marco de referência da educação po- pular para as políticas públicas, disponível no Portal do Ministério da Educação/Conae2014, e responda se ges- tões democráticas como a de Paulo Freire na cidade de São Paulo podem servir de exemplo para outros municí- pios. 53/152 Considerações Finais • Entendimento da concepção de educação bancária para compreender a educação democrática como seu oposto. • O conceito de fracasso escolar culpabilizou o educando e criou um mito ideológico a respeito do assunto. Freire e outros autores mostraram que as condições sociais perversas de pobreza restringiam a construção de conhe- cimentos prévios exigidos pela escola, de maneira que a escola feita para a elite fracassou ao ensinar essas crianças. • Análise da importância das ideias de Paulo Freire nos movimentos sociais e na formação da concepção de educação progressista que temos hoje em contraposição à educação tradicional. • A Educação Popular e os princípios democráticos fundamentam a educação de jovens e adultos. • A gestão democrática é a educação feita com o povo, para o povo. Unidade 3 • Bases teóricas da Educação Popular e da EJA54/152 Referências BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Educação popular na escola cidadã. Petrópolis/RJ: Vozes, 2000. FERREIRO, Emília; TEBEROSKY, Ana. A psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artmed, 1999. FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000. ______. Educação e mudança. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979. ______. Pedagogia da esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997. MELUCCI, Alberto. Um objetivo para os movimentos sociais? Lua Nova, [s.l.], n. 17, p. 49-66, jun. 1989. PARO, Vitor Henrique. PARO, Vitor H. Gestão democrática da escola pública. São Paulo: Ática, 2001. http://books.google.com/books?id=0LrGAAAACAAJ http://books.google.com/books?id=vde5QwAACAAJ 55/152 1. O acesso e permanência do aluno na escola é um dos indicadores de qua- lidade da educação. Considerando os altos níveis de repetência escolar nos primeiros anos de escolaridade nas décadas de 1970, podemos afirmar que: a) Os alunos das classes populares fracassavam por não conseguirem aprender a ler e escrever. b) A escola era exigente demais para que os alunos pobres pudessem acompanhar e precisava se adaptar, rebaixando os níveis de exigência. c) Os alunos das classes populares possuíam um déficit cultural. d) A escola fracassou ao receber as crianças das camadas populares, pois era uma escola feita para a elite e, por isso, praticou a “expulsão” desses alunos de forma velada. e) A culpa do fracasso escolar era da evasão em massa. Questão 1 56/152 2. Durante algum tempo o analfabetismo foi considerado a causa, e não o efeito, da situação econômica do país. a) Esta visão está correta, pois o analfabetismo atrasava o desenvolvimento do país. b) O analfabetismo era uma praga nacional e precisava ser erradicado para o país progredir economicamente. c) Paulo Freire inverte esse pensamento ao afirmar que o analfabetismo é resultado da desi- gualdade social, não sua causa. d) Paulo Freire concorda com a afirmação e propõe a superação dessa condição. e) Esta é uma visão crítica da sociedade que apontava o problema para queuma solução fosse apresentada. Questão 2 57/152 3. Aponte a definição correta de Educação Popular: a) Educação Popular pode ser definida como a educação de jovens e adultos. b) A Educação Popular nasceu na Argentina e foi adotada pelo Brasil nos mesmos moldes, como política educacional do estado. c) A Educação Popular foi reinventada no Brasil pelos movimentos populares que cobravam do governo uma educação formal e elitista. d) Os movimentos populares reivindicavam apenas o direito à educação, entendido como a ampliação de vagas. e) A Educação Popular foi ressignificada no Brasil pelos movimentos sociais, inspirada pelas ideias de Paulo Freire, e lutava por uma educação democrática feita com a participação do povo. Questão 3 58/152 4. Qualidade da educação significa: a) Acesso e permanência na escola. b) Acesso, permanência, garantia de aprendizagem e participação democrática nas decisões. c) Bom desempenho nas avaliações institucionais internas e externas. d) Que a escola deve oferecer merenda, material escolar e uniforme. e) Aumentar os anos de escolaridade e exigir a frequência escolar. Questão 4 59/152 5. Encontre a melhor definição para Gestão Democrática: a) Significa que os políticos devem elaborar planos democráticos e entregar à população. b) Está intimamente ligada à participação social, numa gestão feita com o povo, para o povo. c) Gestão democrática significa que o partido político escolhido deve tomar as decisões, já que foi eleito pelo povo, que não sabe decidir adequadamente. d) Na gestão democrática o povo deve, exclusivamente, participar votando e escolhendo um representante. e) A gestão democrática se contrapõe à ideologia dominante, reafirmando o poder da elite em escolher seus governantes. Questão 5 60/152 Gabarito 1. Resposta: D. A visão de que os alunos fracassavam já foi superada na literatura. Quem fracassou foi a escola, que, acostumada a receber a elite, não se preparou para receber as crianças das camadas populares que traziam conheci- mentos não escolarizados, com isso promo- veu a “expulsão encoberta” desses alunos. 2. Resposta: C. Realmente, durante um período da história do Brasil o analfabetismo foi considerado uma espécie de câncer da sociedade. Pau- lo Freire, afirma que esse modo de pensar é ingênuo e o inverte ao afirmar que o analfa- betismo era resultado da desigualdade so- cial, e não sua causa. 3. Resposta: E. O termo “Educação Popular” realmente tem sua origem na Argentina, no entanto, os mo- vimentos sociais brasileiros ressignificaram sua definição, que, inspirada pelas ideias de Paulo Freire, passou a ser entendida como uma forma de educação democrática para todos, feita com a participação do povo. 4. Resposta: B. Qualidade da educação significa acesso e permanência, mas não só, também deve garantir que os educandos aprendam. Con- cluir uma etapa escolar sem garantir pro- ficiência em leitura, escrita e no raciocínio lógico matemático não atrela qualidade ao ensino. E por último, uma educação de qua- 61/152 Gabarito lidade deve estar relacionada à participação democrática e cidadã. 5. Resposta: B. A melhor definição para Gestão Democrá- tica é a da participação social, numa gestão não vertical, que ouve o povo e assim traba- lha na construção de propostas feitas com ele, não para ele de forma impositiva e sem diálogo. 62/152 Unidade 4 Pressupostos filosóficos e metodológicos da alfabetização de jovens e adultos Objetivos 1. Explicitar os pressupostos filosóficos e metodológicos da educação de jovens e adultos. 2. Entender a proposta de gestão democrática de governo e da educação de Paulo Freire. 3. Estudar o Movimento de Educação de Adultos (MOVA). 4. Esclarecer que o método utilizado em Angicos foi ultrapassa- do, mas não os pressupostos da sua concepção de Educação. 5. Compreender as proposições sobre o fazer pedagógico de Paulo Freire. 6. Aprofundar o conhecimento sobre os princípios orientado- res da proposta de Paulo Freire. Unidade 4 • Pressupostos filosóficos e metodológicos da alfabetização de jovens e adultos63/152 Introdução Após compreendermos as bases teóricas que sustentam a concepção de Educação proposta por Paulo Freire, iniciamos a com- preensão de outro aspecto importantíssimo de sua obra: a sua metodologia. Em primei- ro lugar, cabe ressaltar que Freire não foi um metodólogo, mas um pensador da educa- ção, portanto construiu uma teoria do co- nhecimento. Frequentemente o autor é lembrado pelo “método” Paulo Freire, no entanto, ele mes- mo reconheceu as limitações desse méto- do, tanto por sua origem acadêmica não es- tar ligada à alfabetização quanto por causa do contexto histórico-educacional da épo- ca. De lá para cá muitas pesquisas foram realizadas na área da alfabetização, dentre elas destacam-se as contribuições de Emí- lia Ferreiro, que trataremos em temas ainda por vir. No momento, nos restringiremos a entender o legado de Paulo Freire, que nos deixou pressupostos filosóficos e proposi- ções sobre o fazer pedagógico que vão mui- to além de um método. Unidade 4 • Pressupostos filosóficos e metodológicos da alfabetização de jovens e adultos64/152 Link Paulo Freire utilizava muitas imagens para alfabetizar Fonte: <https://upload.wikimedia.org/wikipe- dia/commons/6/60/Method_Paulo_Freire. jpg>. Acesso em: 19 jun. 2017. 1. Pressupostos filosóficos e metodológicos da alfabetização na educação de jovens e adultos Os pressupostos filosóficos e metodológicos da concepção de educação de Paulo Freire nasceram inicialmente da experiência em Angicos e foram atualizados em sua gestão como Secretário da Educação da cidade de São Paulo, durante a gestão de Luiza Erun- dina como prefeita (1989). https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/6/60/Method_Paulo_Freire.jpg https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/6/60/Method_Paulo_Freire.jpg https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/6/60/Method_Paulo_Freire.jpg Unidade 4 • Pressupostos filosóficos e metodológicos da alfabetização de jovens e adultos65/152 Após a experiência de Angicos e anos de exílio, ao assumir a Secretaria da Educação Paulo Freire cria a primeira experiência do Movimento de Alfabetização (MOVA), jun- tamente com os movimentos sociais com os quais mantinha diálogo constante, de modo que a concepção pedagógica do programa foi se construindo no processo. Como para Freire a educação não é neutra, ele opta por pedagogias emancipadoras, não tradicionais, de maneira que o proces- so de alfabetização começa pelo “Estudo da Realidade” do sujeito, ou “Leitura do Mun- do” que corresponde à leitura da realidade local. Estudo que educandos e educadores realizam juntos em busca de “Temas Gera- dores” que serão o ponto de partida para a construção do Projeto Político Pedagógico (PPP). Link As contribuições de Paulo Freire para a alfabetiza- ção de jovens e adultos. O vídeo do Programa de Formação de Professores Alfabetizadores (Profa) do MEC traz depoimentos de Emília Ferreiro, Vera Barreto e Vera Masagão so- bre as contribuições de Paulo Freire. Unidade 4 • Pressupostos filosóficos e metodológicos da alfabetização de jovens e adultos66/152 Para saber mais Projeto Político Pedagógico (PPP) Você sabia que foi na gestão de Luiza Erundina e Paulo Freire em São Paulo que as delegacias regionais de ensino municipal foram transformadas em Núcleos de Ação Educativa (NAEs), visando acabar com a visão fiscalizadora e destacar o aspecto pedagógico? Disponível no site Paulo Freire . Após a realização da leitura do mundo, esta deve ser compartilhada com o grupo, pois nenhuma pessoa sozinha é capaz de captar toda a realidade, de maneira que o diálogo não é apenas uma estratégia, mas uma forma de aproximação mais abrangente dessa realidade. O estudo dos temas levantados não é usado para acumular informações, mas para problemati- zação existencial e da realidade social na qual se vive. A educação consiste na práxis, portanto aeducação é conscientizadora e utópica por restaurar a busca da esperança. Ler o mundo para Freire não é apenas constatar a realidade, mas poder intervir nela e transformá-la em busca de um mundo mais justo e solidário. Unidade 4 • Pressupostos filosóficos e metodológicos da alfabetização de jovens e adultos67/152 Todos esses pressupostos filosóficos já esta- vam presentes desde a experiência em An- gicos, quando ele utilizou famílias silábicas retiradas das palavras geradoras tal como a palavra “TIJOLO”, no entanto, o “Estado da Arte” sobre o tema alfabetização era bas- tante limitado, ainda mais no que se referia à educação de adultos. Mais tarde, Freire reconheceu as limitações de seu método no aspecto do trabalho com sílabas, não quanto aos pressupostos liga- dos a elas: a “investigação”, “tematização” e “problematização”, e afirmou a necessida- de de atualização do processo de aquisição da língua escrita, recomendando estudos como os de Emília Ferreiro. É importante ressaltar que a utilização de famílias silábi- cas, método totalmente ultrapassado hoje e abandonado pelo próprio Freire, não invali- da nenhuma de suas contribuições filosófi- cas e metodológicas. Na perspectiva freiriana, as “classes” são substituídas pelos Círculos de Cultura, alu- nos são substituídos por participantes e professores são os coordenadores do de- bate. A base do círculo de cultura é o diá- Para saber mais É bom lembrar que Freire formou-se em Direi- to e não possuía experiência com alfabetização, por isso recorreu à sua esposa, Elza Maria Costa de Oliveira, professora primária, para ajudá-lo no aspecto da alfabetização. Elza utilizou os recursos pedagógicos de seu tempo. Unidade 4 • Pressupostos filosóficos e metodológicos da alfabetização de jovens e adultos68/152 logo, assim, as pessoas não se sentam de costas umas para as outras. A leitura do mundo não é realizada apenas no início do processo, mas durante toda a trajetória, a cada círculo de cultura. O círcu- lo de cultura parte do princípio de que todas as pessoas possuem conhecimentos e que estes devem ser valorizados. O passo seguinte é a problematização do contexto apurado na leitura do mundo por meio da pedagogia da pergunta que pre- tende desestabilizar certezas construídas e criar novas possibilidades. Em seguida, propõe-se o aprofundamento teórico e a avaliação dialógica, processual e formativa, que implicam em registro e sistematização. Link O Centro de Estudos Vereda, que foi dirigido por Vera Barreto, junto com o Movimento de Educa- ção de Base (MEB), produziu um material bem in- teressante, baseado em textos, não em sílabas, para o trabalho com jovens e adultos. Fonte: <https://acervo.fe.ufg.br/index.php/ composicao-com-as-capas-dos-livros-da- -colecao-poetizando-historiando-e-confa- bulando>. Acesso em: 21 jun. 2017. https://acervo.fe.ufg.br/index.php/composicao-com-as-capas-dos-livros-da-colecao-poetizando-historiando-e-confabulando https://acervo.fe.ufg.br/index.php/composicao-com-as-capas-dos-livros-da-colecao-poetizando-historiando-e-confabulando https://acervo.fe.ufg.br/index.php/composicao-com-as-capas-dos-livros-da-colecao-poetizando-historiando-e-confabulando https://acervo.fe.ufg.br/index.php/composicao-com-as-capas-dos-livros-da-colecao-poetizando-historiando-e-confabulando Unidade 4 • Pressupostos filosóficos e metodológicos da alfabetização de jovens e adultos69/152 Glossário Conceito antropológico de cultura: Nós, que vivemos num mundo letrado, tendemos a super- valorizar a cultura escrita. Em determinados tempos históricos foi dito equivocadamente que algumas pessoas não possuíam cultura, no entanto, Paulo Freire já se preocupava com isso ao defender que a cultura é um traço humano e que todos os povos têm cultura. Para ele, tudo o que resulta da ação humana sobre o que é natural é cultura, portanto, arar a terra, limpar os lixos, assim como produzir um texto literário ou pintar um quadro é produção cultural. Esperança: A definição de esperança freiriana é diferente do sentido atribuído no senso comum. Para Freire, esperança é verbo (esperançar), indica ação. Esperança, no sentido freiriano, signi- fica esperança ativa, não esperança vã, mas esperança que se espera na construção do por vir. Práxis: Práxis é a capacidade de ação-reflexão-ação e por meio deste movimento transformar a realidade. Questão reflexão ? para 70/152 Analise o trabalho a seguir. Fundamentando-se no que já aprendeu até agora a respeito da EJA e da importância da re- flexão sobre a realidade dos alunos adultos, verifique se um trabalho voltado às crianças parece apropriado para a edu- cação de jovens e adultos. Monografia “Caprichem nas folhinhas”: a infantilização das práticas pedagógicas e a docência da EJA, de Márjorie Béz Réus. 71/152 Considerações Finais • Os pressupostos filosóficos e metodológicos da educação de jovens e adul- tos, defendidos por Paulo Freire, são importantes para a EJA. • Há coerência entre a proposta de gestão democrática de governo e da edu- cação de Paulo Freire. • O Movimento de Educação de Adultos (MOVA) serviu como modelo de edu- cação de jovens e adultos para o Brasil inteiro. • O método de silábico de alfabetização utilizado em Angicos tornou-se ul- trapassado, mas não os pressupostos filosóficos e metodológicos de Freire. • Proposições sobre o fazer pedagógico de Freire: Leitura do Mundo, Temas Geradores, Projeto Político Pedagógico, Círculos de Cultura. Unidade 4 • Pressupostos filosóficos e metodológicos da alfabetização de jovens e adultos72/152 Referências BEISIEGEL, Celso R. Paulo Freire. Recife/PE: Fundação Joaquim Nabuco; Editora Massangana, 2010. (Coleção Educadores.) FREIRE, Paulo. Educação e mudança. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979. ______. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 7. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996. ______. Paulo. Pedagogia do oprimido. 42. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005. 73/152 1. Os pressupostos filosóficos e metodológicos da concepção de educação de Paulo Freire nasceram inicialmente da experiência em Angicos. Encontre a afirmação correta sobre esse assunto: a) Paulo Freire abandonou a experiência de Angicos e tomou outros rumos na educação. b) A experiência de Angicos utilizou o método silábico de alfabetização, recurso disponível na época; depois dos estudos de Emília Ferreiro, Paulo Freire propôs a atualização do método, porém nunca abandonou seus próprios pressupostos filosóficos e metodológicos. c) Na gestão de Luiza Erundina em São Paulo, como Secretário da Educação, Paulo Freire aban- donou seus pressupostos filosóficos e pedagógicos e propôs uma gestão tradicional e auto- ritária. d) A proposta de educação de Freire em Angicos foi interrompida pelo golpe militar de 1964, e Freire nunca mais retomou seu projeto de educação de adultos. e) Angicos pouco contribuiu para Freire elaborar seus pensamentos. Questão 1 74/152 2. Como foi criado o MOVA (Movimento de Alfabetização de Jovens e Adul- tos) durante a gestão de Paulo Freire à frente da Secretaria Municipal de São Paulo? a) A prefeita Luiza Erundina foi quem solicitou a Freire que providenciasse um programa de EJA. b) Ele instituiu um concurso público para chamar a todos que quisessem participar de forma democrática. c) Freire propôs uma gestão democrática e ouviu os movimentos que reivindicavam a educa- ção de jovens e adultos e, juntos, construíram o MOVA. d) O MOVA já possuía uma orientação política pedagógica e recusou-se a trabalhar com Freire. e) Paulo Freire, que já possuía experiência com a EJA, criou o MOVA sozinho e depois só mandou executar. Questão 2 75/152 3. De acordo com pressupostos freirianos, defina “Leitura do Mundo”: a) A “Leitura do Mundo” é o processo de sonho e encantamento do educando pelo mundo. b) Para realizar a “Leitura do Mundo”, antes é preciso aprender a ler as palavras. c) A concepção de “Leitura do Mundo” é idealista por propor que todostêm as mesmas chan- ces, porém uns são mais esforçados que outros. d) “Leitura do Mundo” corresponde à leitura da realidade local do educando. e) A realidade do mundo dos educandos deve ser escrita e lida pelos professores nos livros que irão fornecer aos alunos. Questão 3 76/152 4. De acordo com as ideias de Freire, qual a relação entre “Leitura do Mun- do”, “Temas Geradores” e “Projeto Político Pedagógico” (PPP)? a) Para Freire, o Projeto Político Pedagógico é fundamental. Deve ser escrito antes da “Leitura do Mundo”. b) Os “Temas Geradores” devem ser escritos primeiro, para ajudar a compor o Projeto Político e Pedagógico para ter elementos para a “Leitura do Mundo”. c) A “Leitura do Mundo” precede à “Leitura da Palavra”, portanto, a primeira ação deve ser a pesquisa da realidade dos educandos, pesquisa que revelará os “Temas Geradores” que comporão o “Projeto Político Pedagógico”. d) Como os alunos são analfabetos, eles ainda nãos sabem ler o mundo, por isso os educadores realizam a Leitura do Mundo e a problematizam para os educandos. e) O Projeto Político Pedagógico envolve compromisso, toda escola deve ter o seu e deve ser feito pelos educadores, para os educandos. Questão 4 77/152 5. A práxis é um conceito muito importante para Paulo Freire, no universo pedagógico ela significa: a) A capacidade de abstrair a realidade. b) O movimento constante de ação-reflexão-ação que possibilita transformação da realidade. c) O movimento de reflexão sobre a ação como forma de conscientização. d) Práxis é a capacidade de atuar e refletir por meio de intervenções alheias. e) A educação está sempre em constante reformulação, por isso precisamos da práxis para re- flexão, como movimento abstrato de distanciamento da realidade. Questão 5 78/152 Gabarito 1. Resposta: B. A experiência de Angicos utilizou o método silábico de alfabetização, recurso disponível na época. Na ocasião, Emília Ferreiro ainda trabalhava em sua pesquisa, que revolucio- nou o modo de pensar o processo de aqui- sição da língua escrita. Freire propôs a atu- alização do método silábico, porém nunca abandonou seus pressupostos filosóficos e metodológicos ligados à “Leitura do Mun- do”, aos “Temas Geradores” e ao PPP. Tanto que quando voltou ao Brasil, após os anos de exílio, continuou seu legado. 2. Resposta: C. Ao assumir a Secretaria da Educação do mu- nicípio de São Paulo, Freire apresentou uma proposta de governo democrática, coerente com suas ideias. Ele não praticou um gover- no de gabinete, no qual, fechado em si mes- mo, escrevia ao povo o que e como deveria agir e pensar; antes, ouviu os movimentos que reivindicavam a educação de jovens e adultos e, juntos, construíram o MOVA (Mo- vimento de Alfabetização de Jovens e Adul- tos), experiência que posteriormente espa- lhou-se por todo o Brasil. 3. Resposta: D. Segundo Freire, a “Leitura do Mundo” cor- responde à leitura da realidade local do educando. É a pesquisa que deve ser feita antes de iniciar o processo de alfabetização, para descobrir como pensam, o que fazem, 79/152 Gabarito o que é importante para aqueles educandos e, assim, levantar os Temas Geradores. 4. Resposta: C. Para Feire, a Leitura do Mundo, ou leitura da realidade, deve ser a primeira ação a ser re- alizada pelos educandos e com eles, na bus- ca dos “Temas Geradores” necessários para iniciar o processo de problematização da realidade e fundamentar o Projeto Político Pedagógico. 5. Resposta: B. A práxis pedagógica é o movimento cons- tante de ação-reflexão-ação sobre a práti- ca. Não se trata só de reflexão no campo das ideias e nem só de prática, mas de ambas, num processo de contínuo, um movimento que possibilita transformação da realidade. 80/152 Unidade 5 Alfabetização e letramento – As contribuições de Emília Ferreiro Objetivos 1. Compreender as contribuições de Emília Ferreiro. 2. Conhecer a perspectiva socioconstru- tivista. 3. Diferenciar a perspectiva tradicional da construtivista. 4. Definir os conceitos de alfabetização e letramento. Unidade 5 • Alfabetização e letramento – As contribuições de Emília Ferreiro81/152 Introdução Emília Ferreiro iniciou seus estudos a partir da problemática dos altos níveis de reprova- ção e evasão escolar na América Latina. Ela queria entender a razão de algumas crian- ças irem bem e outras irem mal no que diz respeito à aprendizagem da língua escrita. Assim, a autora desenvolveu uma teoria do conhecimento sobre o processo de aquisi- ção da leitura e da escrita sob um novo pa- radigma nunca antes explorado. 1. As contribuições de Emília Ferreiro para a alfabetização Relembrando o histórico da educação brasi- leira, especialmente a educação de jovens e adultos, vimos que embora houvesse pres- são popular em prol do direito à educação para todos, essa questão era incipiente. Historicamente, a concepção de educação bancária fez uso de cartilhas como manu- ais de instrução orientadores de um plano didático e metodológico que se iniciava por meio do modelo sintético de ensino, co- meçando por letras isoladas, primeiro pelas vogais, depois as consoantes, a fim de for- mar sílabas simples. Posteriormente, eram incluídas sílabas complexas, palavras e tex- tos curtos sem sentido, com frases isoladas. Segundo Aranha (2006), as teorias cogniti- vas surgiram no bojo da psicologia cogni- tiva e de pesquisas linguísticas voltadas a compreender as estruturas do pensamento. Emília Ferreiro foi aluna de Jean Piaget, por- tanto, foi fortemente influenciada por ele. A autora adota a teoria construtivista, na qual prevalece a orientação antropológica Unidade 5 • Alfabetização e letramento – As contribuições de Emília Ferreiro82/152 histórico-social, pela qual os seres humanos se fazem por meio das relações sociais e pela ação humana que exercem sobre o mundo. Para o construtivismo, o conhecimento não é inato e nem transmitido, não nasce com o sujeito, é construído pela interação entre os sujeitos e destes com o objeto. Nesse modelo epistemológico, a aprendi- zagem se dá por etapas sucessivas dentro de um processo. Na década de 1970, a autora interessou-se pela situação educacional da América La- tina, principalmente pelos altos índices de “repetência” das séries iniciais, sabendo que o “fracasso escolar” normalmente levava ao abandono da escola. Os estudos de Emília Ferreiro mostraram que crianças, jovens e adultos formulam ideias sobre como se lê e como se escreve, mesmo antes de saber ler convencionalmente. Ferreiro opõe-se à educação tradicional e artificial e ao uso de cartilhas, sendo res- ponsável pela mudança radical na forma de perceber o ensino e a aprendizagem como complementares, e não como dissociados. Ela destaca a importância de saber o que o aluno já conhecer sobre a leitura e a escrita por meio de diagnósticos. Valoriza o papel do professor como mediador do conheci- mento e o papel do aluno como sujeito do seu próprio processo de aprendizagem. Sua teoria do conhecimento joga por terra a concepção tradicional baseada em sílabas como um método eficiente e mais fácil, pois comprova porque as ideias que os alunos formulam sobre como se escreve são in- compatíveis com o uso de cartilhas, ressal- Unidade 5 • Alfabetização e letramento – As contribuições de Emília Ferreiro83/152 tando a importância do uso social da leitu- ra e da escrita nas salas de aula. 1.1 Alfabetização e Letramento No Brasil, encontramos muitos autores que defendem a alfabetização sob a perspec- tiva do letramento, dentre eles está a obra de referência de Magda Becker Soares. A autora entende letramento como forma de alfabetizar por meio do uso social da leitura e da escrita, criando uma oposição entre al- fabetizar e letrar. No entanto, para Ferreiro, só se pode alfabetizar por meio do uso so- cial da leitura e da escrita. Assim, a autora recusa-se a aceitar o termo letramento. Para saber mais O professor construtivista assume papel im- portantíssimona alfabetização de seus alunos; aquele que assume a concepção construtivista é um professor pesquisador, que investiga o que os alunos pensam sobre a leitura e a escrita e propõe problematizações dessas ideias para que o co- nhecimento possa avançar. A ideia de que o pro- fessor construtivista não interfere é equivocada e preconceituosa. Unidade 5 • Alfabetização e letramento – As contribuições de Emília Ferreiro84/152 Para saber mais Magda Becker Soares foi a autora que instaurou o uso do termo Letramento no Brasil. Veja a obra a seguir, referência na discussão desse tema. SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. São Paulo: Autêntica, 1999. Fonte: <http://educere1.webnode.com/news/resenha%3A-letramento%3A-um-tema-em-tr%- C3%AAs-g%C3%AAneros/>. Acesso em: 7 jun. 2017. http://educere1.webnode.com/news/resenha%3A-letramento%3A-um-tema-em-tr%C3%AAs-g%C3%AAneros/ http://educere1.webnode.com/news/resenha%3A-letramento%3A-um-tema-em-tr%C3%AAs-g%C3%AAneros/ Unidade 5 • Alfabetização e letramento – As contribuições de Emília Ferreiro85/152 Glossário Epistemologia: A epistemologia é uma área da filosofia que se propõe a estudar a Teoria do Co- nhecimento. Método Sintético ou Modelo Sintético: É um método de alfabetização baseado no ensino das letras isoladas, depois das sílabas até chegar à palavra, e depois à frase; utiliza textos artificiais e os alunos demonstram dificuldades para compreender o que leem e para produzir textos com sentido. Uso social da leitura e da escrita: Este termo refere-se a situações comunicativas reais de lei- tura e de escrita. Questão reflexão ? para 86/152 Com base no texto A concepção “bancária” da educação como instrumento da opressão. Seus pressupostos. Sua crítica (Fragmento), de Paulo Freire, produza um comen- tário sobre a crítica que se faz ao uso de cartilhas. Disponível no Portal do Ministério da Educação . 87/152 Considerações Finais • Emília Ferreiro é autora de grande importância para a compreensão da con- cepção de alfabetização que temos hoje. Adepta da concepção antropoló- gica histórico-social, ela esclarece que o conhecimento não é nato, ele é construído na relação entre as pessoas e na ação destas sobre o mundo. • Sob influência de Piaget, seu mestre, Ferreiro também define o conheci- mento como etapas dentro de um processo, destaca que o ensino e a apren- dizagem não são dissociados como se acreditava. Ela valoriza o papel do professor mediador e o do aluno como sujeito do processo de construção do conhecimento. • Ferreiro, comprova que mesmo pessoas que ainda não sabem ler e escrever possuem ideias sobre a escrita que vão de encontro ao uso de famílias silá- bicas utilizado por cartilhas de alfabetização. Também se opõe ao conceito de letramento em oposição à alfabetização, pois entende que alfabetizar significa letrar. Unidade 5 • Alfabetização e letramento – As contribuições de Emília Ferreiro88/152 Referências ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da educação. São Paulo: Moderna, 2006. FERREIRO, Emília; TEBEROSKY, Ana. A psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artmed, 1999. 89/152 1. O que levou Emília Ferreiro a estudar o processo de aquisição da leitura e da escrita? a) O incentivo de seu mestre, Piaget. b) Os altos níveis de reprovação escolar na América Latina. c) O bom desempenho da maior parte dos estudantes. d) O interesse em comprovar que a classe social mais favorecida era mais inteligente que a me- nos favorecida. e) A constatação de que alguns tinham dom para estudar e outros não. Questão 1 90/152 2. Qual a concepção de Emília Ferreiro a respeito do uso de cartilhas? Questão 2 a) Ela desaprova, por se basear em atividades artificiais que desconsideram o conhecimento dos alunos. b) Ela aprova, pois considera a cartilha como apoio para a aprendizagem. c) A autora desaprova, pois na época nem todos podiam comprar. d) Ferreiro é adepta do uso de cartilhas, pois defende o trabalho com famílias silábicas. e) Ela acredita que a cartilha deve ser usada, pois apresenta níveis de conhecimento evolutivos partindo das letras até a formação da palavra e da frase. 91/152 3. Para que servem as avaliações diagnósticas da leitura e da escrita? Questão 3 a) Para mapear os problemas de aprendizagem. b) Para mostrar os erros dos alunos. c) Para evidenciar o que o aluno já sabe sobre a escrita. d) Para classificar os alunos mais inteligentes e os mais atrasados. e) Para registrar as dificuldades dos alunos a fim de mostrar para os pais. 92/152 4. A concepção de educação de Emília Ferreiro é denominada de construti- vismo por: Questão 4 a) Acreditar que as crianças devem construir suas ideias sem interferência de adultos. b) Reconhecer que o professor constrói o conhecimento e depois ensina o aluno a fazer o mes- mo. c) Saber que o conhecimento é construído pela humanidade, depois transmitido pela escola. d) Defender que o aluno é sujeito de sua própria aprendizagem e, ao aprender a ler e escrever, ele reinventa a escrita. e) Ser uma concepção tradicional de educação e defender a construção silábica. 93/152 5. Qual a concepção de Emília Ferreiro sobre alfabetização e letramento? Questão 5 a) Ferreiro defende as duas concepções como complementares. b) Ferreiro concorda com Magda Becker Soares, que defende a distinção entre as duas concep- ções. c) A autora se opõe à ideia de letramento, já que concebe a alfabetização como forma de ensi- no baseada no uso social dos textos. d) Ela considera a criação do termo em língua portuguesa desnecessária, mas o assimila em sua obra. e) Emília Ferreiro aprova o uso das duas concepções. 94/152 Gabarito 1. Resposta: B. Ferreiro estava muito incomodada com a reprovação em massa, especialmente das crianças das classes sociais desfavorecidas. Ela não aceitava a explicação de que crian- ças mais ricas eram mais inteligentes, então iniciou uma série de experimentos que mos- traram que o contato com o mundo letrado favorecia a aquisição de conhecimentos so- bre a leitura e a escrita. 2. Resposta: A. A autora desaprova totalmente, pois a car- tilha traz textos descontextualizados e ar- tificiais que subestimam a inteligência das crianças, além valorizar a memorização e a cópia ao invés da produção e revisão de tex- tos como é na vida real. 3. Resposta: C. As avaliações diagnósticas servem para o professor saber o que o aluno já sabe sobre a escrita e o que ele ainda não sabe e preci- sa descobrir, servindo assim de instrumento orientador do planejamento do professor. 4. Resposta: D. A concepção de educação denominada de construtivismo é definida por ideias que de- fendem o aluno como sujeito de sua própria aprendizagem, e como tal ele não absorve o conhecimento como uma esponja, mas o constrói. 95/152 Gabarito 5. Resposta: C. Emília Ferreiro se opõe à ideia de letramen- to, considera a terminologia desnecessária já que só concebe o ensino da leitura e da escrita como um processo que se utiliza de textos reais em contextos de uso social. 96/152 Unidade 6 A Psicogênese da Língua Escrita Objetivos 1. Compreender a teoria de Emília Fer- reiro sobre o processo de aquisição da língua escrita. 2. Diferenciar hipóteses ligadas à quan- tidade e à qualidade do escrito. 3. Verificar que a associação da fala com a escrita não é óbvia para quem inicia o processo de aprendizagem. 4. Explicitar os níveis do desenvolvimen- to da escrita na EJA. Unidade 6 • A Psicogênese da Língua Escrita97/152 Introdução A obra Psicogênese da língua escrita (FER- REIRO; TEBEROSKY, 1999) mostra que a aprendizagem é um processo composto por etapas e que o conhecimento é cons- truído pelo aluno, que não é passivo, é su- jeito do seu próprio processo de aprendi- zagem. É de extrema importância para os profes- sores conhecerem como se dá o processo de aquisição da língua escrita. Se estive- rem alienados desse processo, não con- seguirão compreender as manifestações dos alunos e
Compartilhar