Buscar

TCC - FILOSOFIA - ETAPA 1 - RESUMO DA IDEIA - ETAPA 2 - INTRODUÇÃO E CAPÍTULO I-convertido-convertido

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 18 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 18 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 18 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

TRABALHO DE CURSO – PROJETO DE PESQUISA 
Etapa 1 – Resumo da ideia 
FILOSOFIA DO ABSURDO E A SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A COMPREENSÃO DA 
DIMENSÃO DO HOMEM 
 
RESUMO: O presente trabalho pretende analisar a condição de absurdidade na 
concepção camusiana; esse sentimento de estranheza diante do mundo e o mal-estar 
sentido frente as questões sem sentido, as quais geram a revolta relacionada a muitos 
atos que absorvem nossa existência. Esse absurdo mostra o confronto entre a 
irracionalidade do mundo e a necessidade de clareza e de racionalizar que se encontra 
no homem --, convergindo para a denominada pulsão de morte. Esta análise refletirá, 
principalmente, sobre a relação existente entre homem e mundo e as consequências 
advindas desta. E ainda, como o homem pode se colocar, conduzir-se e viver tantas 
imposições, considerando que a proposta camusiana propõe a superação do que está 
posto sem uma suposição divina ou racional, crendo ser capaz, apenas, numa posição 
moral. 
 Problema: O absurdo relatado por Camus mostra o confronto entre a irracionalidade 
do mundo e a necessidade de clareza e de racionalizar que se encontra no homem --, 
convergindo para a denominada pulsão de morte e da infelicidade? O que o leva a 
rebelar-se? 
Objetivo geral: Compreender e considerar como os diversos cenários envolvidos em tantas 
controvérsias da vida humana como um todo, exercem e oferecem impossibilidades de ação e 
atuação do homem, tornando sua existência inexpressiva. 
Objetivos específicos: 1- Compreender o conceito de absurdo, de revolta e morte, em 
Camus; 2 – Elencar possíveis correlações de impossibilidades existenciais e o conceito 
de absurdidade; 3 – Observar a condição de dominação e a imposição como agentes 
de revolta pela infelicidade sofrida; 4 - retomada corajosa do homem na busca de seus 
ideais. 
Metodologia: Análise das obras de Camus (O homem revoltado; O mito de Sísifo, O 
primeiro homem) sobre o conceito de absurdidade, revolta, morte e moral, comparando- 
os aos acontecimentos e condições da vida humana. Leitura de artigos e teses 
relacionados à ideia do absurdo, da felicidade, morte e revolta, segundo a concepção 
camusiana. 
Resultado: Responder à pergunta do trabalho quanto ao conceito de absurdidade em 
Camus poder contribuir para a compreensão da dimensão do homem, e refletir sobre a 
relação existente entre homem e mundo e as consequências advindas desta. 
 
REFERÊNCIAS 
 
CAMUS, A. O Mito de Sísifo. Rio de Janeiro: Record, 2004. 
 , A. O Homem Revoltado. Rio de Janeiro: Record, 1997. 
 
 
 ETAPA 2 
 INTRODUÇÃO E CAPÍTULO I 
A FILOSOFIA DO ABSURDO E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A COMPREENSÃO DA 
DIMENSÃO DO HOMEM 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
“Proclamo que não creio em nada e que 
tudo é absurdo, mas não posso duvidar de 
minha própria proclamação e tenho de, no 
mínimo, acreditar em meu protesto. A 
primeira e única evidência que assim me é 
dada, no âmbito da experiência absurda, é 
a revolta” - CAMUS, O Homem Revoltado. 
 
A absurdidade da condição humana é tratada na obra de Camus como sendo 
uma condição dolorosa e de precariedade, revelada numa existência sem sentido, 
ligada a um sentimento de abatimento do espírito e à condição de revolta --, dada a 
impossibilidade de ação e da não liberdade do ser, como relata o autor: [...] se o absurdo 
aniquila todas as minhas possibilidades de liberdade eterna, também me devolve e 
exalta, pelo contrário, minha liberdade de ação. Tal privação de esperança e de futuro 
significa um crescimento na disponibilidade do homem. (CAMUS, 2004, p. 68). 
Assim, o conceito de absurdidade na obra de Camus apresenta-nos dois 
pontos: o absurdo, revelado ao ser como o problema de incapacidade que está 
consciente ao homem, e a revolta, que surge exatamente dada esta condição de 
impossibilidade de ação desse ser, frente a tantas imposições e barreiras por ele 
encontradas. 
 Considerando que Camus não acredita ser possível explicar esta condição de 
absurdidade através da razão, mas somente pelo viés moral, onde é entendido de 
maneira subjetiva, o ser se constrói a si mesmo, independente do que for posto como 
código fixado socialmente, como se pode observar em: [...] não que a nostalgia lhe seja 
alheia [ao homem absurdo]. Mas prefere a ela sua coragem e seu raciocínio. A primeira 
lhe ensina a viver sem apelo e a satisfazer-se com o que tem, o segundo lhe ensina 
seus limites (CAMUS, 2004, p. 80). 
Em (PINTO, 1988, p.160), relaciona-se como sendo a contemplação de uma 
vida sem expressividade a este sentimento de absurdidade --, visto em Camus como: 
[...] Transposto para o interior da escrita de quem contempla a própria vida e procura 
expressar sua própria intuição do absurdo, esses exemplos de estilização transformam- 
se em invenção de si. Viver expressando o absurdo será a forma de duplicar a 
existência, de corrigí-la sem jamais negar o impulso que impele à criação. 
Para Foucault, o modo existencial destacados em suas obras, O uso dos 
prazeres e O cuidado de si, esclarece o modo peculiar dos comportamentos, 
compreendendo-os como uma arte de viver: [...] Estamos bem longe de uma forma de 
austeridade que tende a sujeitar todos os indivíduos da mesma forma, [...], sob uma lei 
universal [...]. As poucas grandes leis comuns da cidade, da religião, ou da natureza 
permanecem presentes, mas como se elas desenhassem ao longe um círculo bem 
largo no interior do qual o pensamento prático deve definir o que convém fazer. E para 
isso ela não tem necessidade de algo como um texto que faça as leis, mas de uma 
techné ou de uma "prática" de um savoir-faire que, levando em conta os princípios 
gerais, guie a ação no seu próprio momento, de acordo com o contexto e em função de 
seus próprios fins. Portanto, não é universalizando a regra de sua ação que, nessa forma 
de moral, o indivíduo se constitui como sujeito ético; é ao contrário, por meio de uma 
atitude e de uma procura que individualiza sua ação que modulam e que até podem dar 
um brilho singular pela estrutura racional e refletida que lhe confere. (FOUCAULT, 1988, 
p. 59). 
Na obra O Mito de Sísifo o autor tece um elogio à vida associando-a a ato de 
ser feliz, ainda que na condição absurda de viver. Mas, ainda assim, reagir de forma 
racional aos acontecimentos advindos do mundo e às muitas opressões que ocorrem 
aos indivíduos a todo momento, propiciam e encaminham o ser ao desejo de morte e 
consequente suicídio. 
Como se observa na obra Homem Revoltado (1951), Camus evidencia a 
absurdidade vista em o Mito de Sísifo e, ao mesmo tempo, elabora e rejeita, tanto a 
violência quanto a opressão exercida sobre os indivíduos. 
No entanto, não há evidências de que a problemática da condição de 
absurdidade se revela na vida do homem, como sendo a característica mais marcante, 
existente nas variadas situações e barreiras que a todo instante, o ser humano é 
submetido. Mas, considerando as muitas experiências e vivências, as quais não são 
racionais, mas realmente vividas e sentidas, trazendo a sensação de absorvência da 
existência e a ineficácia dos esforços humanos em realizar seus desejos, acredita-se, 
no mínimo, ter estas alguma influência na psiquê e nos sentimentos de inadequação do 
homem. 
Fica no entanto, evidente, que esse homem, sujeito desta absurdidade, nunca 
terá total clareza e compreensão absoluta de sua condição de ação e liberdade, para 
ser e fazer no mundo. 
Faulkner (1929) – em O Som e a Fúria -, comenta sobre a obra camusiana: “Camus 
dizia que o único verdadeiro papel do homem, nascido em um mundo absurdo, era viver, ter 
consciência de sua vida, de sua revolta, de sua liberdade.” E o próprio Camus explicou como 
havia concebido o conjunto de sua obra : “No início eu queria exprimir a negação. Em três 
formas: romanesca — foi O estrangeiro; dramática— Calígula. O equívoco; ideológica — O 
mito de Sísifo. E previa o positivo em três formas também : romanesca — A peste; dramática 
— O estado de sítio e Os justos; ideológica — O homem revoltado. Já entrevia uma terceira 
categoria, em torno do tema do amor.” 
Desta maneira, o homem encontra-se como que obrigado a viver uma vida de maneira 
lúcida e de encarar sua existência conscientemente, já que não pode se eximir do 
reconhecimento e da condição de uma vida absurda. Viver sem nada que simbolize um aspecto 
divino ou mesmo o próprio Deus a comandá-lo, sua valoração moral e social inexistem. Nesta 
condição, ele é livre para fazer uso de suas escolhas, podendo assim, agir de maneira a se 
transformar. Ele estará livre da moral e dos valores impostos de orientação de suas ações. 
No entanto, não se pode afirmar com convicção que todo homem agirá assim, 
desconsiderando a existência de Deus. O aspecto trágico da condição de uma vida inexpressiva 
e vazia e da indiferença existencial em alguns, pode ser ou não potencializado e evidenciado 
de maneiras distintas de homem para homem e de como cada um se conscientiza dessa 
inexpressividade. 
 
1.1 Justificativa 
 Para compreender o conceito de absurdo em Albert Camus, assim como a 
separação que o autor afirma existir entre o homem e o mundo --, onde os indivíduos 
são lançados e entregues à própria sorte, como que responsáveis por construir e dar 
sentido às suas vidas, num estado de abandono --, buscou-se elaborar esta pesquisa. 
 Para tanto, no intuito de entender como pode o ser se construir e identificar-
se como humano --, mesmo diante de tanta negação e tanta desesperança --, esta 
pesquisa foi elabora a fim de vislumbrar um sentido de algo que leve o homem ao 
despertamento e conscientização desta condição de no mundo viver, mas dele não 
ser parte, pois não há como constatar aspectos de sua humanidade. 
 
1.2 O problema do absurdo 
O absurdo é o homem trágico diante do espelho. 
(CAMUS, Cadernos II, p.88) 
 
O absurdo relatado por Camus mostra o confronto entre a irracionalidade do 
mundo e a necessidade de clareza e de racionalizar que se encontra no homem e em 
sua condição de viver, convergindo para a denominada pulsão de morte e da 
infelicidade. Como sobreviver a isto? o que o leva a rebelar-se? 
De acordo com o próprio autor: [...] A história dos homens como um todo nada 
mais é, de qualquer sorte, que uma longa luta até a morte pela conquista do prestígio 
universal e do poder absoluto. Em sua essência, ela é imperialista. Estamos longe do 
bom selvagem do século XVIII e do contrato social. No som e na fúria dos séculos, 
cada consciência, para existir de agora em diante, deseja a morte do outro. Além disso, 
essa tragédia implacável é absurda, já que, no caso da aniquilação de uma das 
consciências, a consciência vitoriosa deixa por isso mesmo de ser reconhecida, pois 
não pode ser reconhecida pelo que não existe mais. Na realidade, a filosofia do 
parecer encontra aqui o seu limite (Albert Camus, 2011, p. 168). 
Para Reale & Antiseri (2006, p. 5): [...] os problemas filosóficos, portanto, existem, 
são inevitáveis e irreprimíveis; envolvem cada homem particular que não renuncie 
pensar. A maioria desses problemas não deixa em paz: Deus existe, ou existiríamos 
apenas nós, perdidos neste imenso universo? O mundo é um cosmo ou um caos? A 
história humana tem sentido? e se tem, qual é? ou então, tudo – a glória e a miséria, 
as grandes conquistas e o sofrimento dos inocentes, vítimas e carnífices – tudo 
acabará no absurdo, desprovido de sentido? [...] Eis, portanto, alguns problemas 
filosóficos de fundo que dizem respeito às escolhas e ao destino de todo homem e 
com os quais se aventuraram as mentes mais elevadas da humanidade, deixando-nos 
como herança um verdadeiro patrimônio de ideias, que constitui a identidade e a 
grande riqueza do Ocidente. 
 
1.3 Objetivo Gerais 
Compreender e considerar como os diversos cenários e ocorrências que 
envolvem a vida humana, exercem e oferecem impossibilidade de ação e atuação do 
ser, tornando sua existência inexpressiva, banal e absurda. 
 
1.4 Objetivos Específicos 
 
Objetiva-se nesta pesquisa: 
 
- explora r o conceito de absurdidade em Albert Camus para melhor 
entender a condição de homem absurdo; 
- identificar os tipos de acontecimentos que serão agentes disparadores 
para o suicídio ante a percepção e conscientização da separação 
existente entre o homem e o mundo; 
- determinar possível relação existente entre uma vida sem sentido, absurda e a 
ideação do suicídio; 
- elencar a possibilidade de uma ética no homem absurdo. 
 
1.5 Fundamentação Teórica 
 
Albert Camus foi um dos pensadores mais expressivos no cenário francês. Suas 
obras demonstravam a incoerência existente entre os acontecimentos que ocorriam 
numa Europa repleta por inúmeras ideologias vigentes e aquilo que produzia. Sua obra 
denominada “OEstrangeiro “e a “Peste” deram-lhe reconhecimento, além do Prêmio 
Nobel em 1957. Estas obras foram divididas pela crítica, em quatro fases: 1º- Período 
da literatura solar (“O Avesso e o Direito”, “Núpcias” e o “Verão”. 2º - A Fase do 
Absurdo (“O Estrangeiro”, “O Mito de Sísifo” e “Calígula”. 3º - A Fase da Rebeldia (“A 
Peste, “O Estado de Sítio”, “Os Justos” e “O Homem Revoltado”. 4º - A Fase da Solidão 
e a Dúvida (“A Queda, o “Exílio e o Reino” e “O Primeiro Homem”. 
Em Oliver Todd (1988), afirma-se que obra de Camus existe uma constante, 
referente ao tema do homem privado da ideia de Deus, consciente da condição 
limítrofe de tradução da realidade pela razão. Isto é, da possibilidade de significar e 
dar sentido a existência, mas não tendo o recurso do divino ou da razão absoluta. 
Surge, então, o problema do suicídio. 
Sartre, no prefácio da edição portuguesa de ‘O Estrangeiro, escreve’: 
[...] “certo é que o absurdo não está no homem nem no mundo, 
se o tomarmos separadamente; mas, como é o caráter essencial 
do homem o estar-no-mundo, o absurdo é, em suma, unitário 
com a condição humana. Por isso, não é em primeiro lugar o 
objeto de simples noção: é a iluminação desolada que no-lo revela. 
Então, se sabemos recursar o socorro enganador das religiões ou das 
filosofias da existência, temos algumas evidências essenciais: o 
mundo é um caos, uma “divina equivalência que nasce da 
anarquia”; -- não há amanhã, visto que se morre. “...num universo 
subitamente privado de ilusões e luzes, o homem sente-se um 
estrangeiro”. 
 
E, algumas folhas depois, ele continua: 
 
 
“O absurdo fundamental manifesta antes um divórcio: o 
divórcio entre a aspirações do homem à unidade e o dualismo 
intransponível do espírito e da natureza, entre o impulso do 
homem em direção ao eterno e o caráter finito de sua existência, 
entre a preocupação que é sua própria existência e a inutilidade 
de seus esforços. A morte, o pluralismo irredutível das verdades 
e dos seres, a ininteligibilidade do real, o acaso, eis os polos do 
absurdo”. 
 
Já em Camus, o suicídio ou a vida são possibilidades para o homem, a partir do 
seu estado e percepção e consciência do absurdo. É após esta condição de 
consciência que o homem é capaz de decidir ou optar sobre a vida ou a morte; se há 
possibilidades de conviver com o mundo e de nele estar. Será possível viver sem 
esperança, sem Deus ou condição de ilusão? quais circunstâncias evidenciam e 
favorecem o distanciamento do homem para com a existência? 
É a partir da observação do absurdo pelo homem que o questionamento a 
respeito do suicídio surge como possibilidade para a vida inexpressiva. O homem, 
incondicionalmente sem ação e sem atingir seus ideais, visualiza uma aparente e 
ilusória solução para substituir a realidade: o hábito, que aqui, assemelha-se a uma 
aparência de realidade oferecendo possibilidade para a existência. 
Mas, inevitavelmente, em certo momento dessa existência, odescompasso 
existencial entre aquilo que ele vê e o que realmente aspira, se evidencia. Novamente o 
suicídio se apresenta como possível saída para seus questionamentos. A partir de 
então, e conforme aparece nas obras de Camus com certa constância, somente será 
possível três atitudes para representar e justificar o abandono pela vida: a morte do 
corpo, a morte da alma ou da psique ou apegar-se à esperança de vida. 
Segundo Camus, baseado nesta constatação o homem pode encontrar uma 
ética própria, um princípio de unidade para uma vida mais humana. É o princípio da 
solidariedade que, de acordo com o autor, descreve: [...] o que nos deixa tão sós em 
um estado de desamparo e solidão é justamente o que fornece o ensejo para o homem 
reconhecer no outro a si e daí concluir que não estamos sós. 
 Ele menciona a condição de revolta como sendo: [...] nos revoltamos (com nossa 
própria condição), por isto existimos. O fato de o absurdo atingir sem diferenciação 
todos os homens torna possível que todos eles compartilhem um mesmo logos, no 
qual todos se tornam um e encontram na ausência de sentido objetivo, o sentido que 
os une, que lhes fornece um propósito. 
 Em outras termos, o encontro no absurdo fornece o ambiente necessário para 
que o homem encontre sua humanidade com suporte no princípio revolta-
solidariedade. É no ato de perceber e se conscientizar sobre o absurdo que o humano 
se aparta de uma vida mecânica, sem sentido. 
 De acordo com Camus, esta é uma visão única da realidade, o que ajuda a evitar 
a opção de morte. Para ele, a relação entre esses conceitos oportuniza o desvendar 
do limite da razão humana, posteriormente, permitindo conviver de forma consciente 
com a limitação --, sendo este o caminho para a vida e não para amorte. 
 
1.6 Procedimentos 
Como delineado na introdução desta pesquisa, o objetivo maior é compreender 
o conceito de absurdidade em Camus a fim de identificar possíveis causas que levam 
ao suicídio, as quais são decorrentes da sensação de inexpressão e ausência de 
sentido na existência do homem. 
Assim, a partir da análise de textos encontrados em dissertações e projetos de 
pesquisas relacionados ao tema, e das obras do próprio autor e outros que expressam 
seus conceitos, procurou-se responder a questões como: a precariedade humana e 
a existência inexpressiva do homem absurdo pode contribuir para o suicídio? o 
sentimento de estranheza do ser em relação ao mundo pode ser entendido como? 
quais as consequências para a vida do homem a partir da sua conscientização de uma 
vida absurda? como ocorre e a partir do que se dá a revolta do homem? 
Desta forma, baseado nas leituras dos textos em questão, procurou-se delinear 
um esquema que possibilitasse a análise do objeto de pesquisa, resultando no 
discorrer propriamente dito destas situações que propiciam a fragilidade do ser e sua 
incapacidade de reagir, até que se conscientize da mecanicidade que sua vida se 
tornou e da necessidade de reação para que se possa dar sentido e significado à sua 
existência. 
 
2 Desenvolvimento 
 
 
CAPÍTULO I 
 
O DESPERTAR DO SENTIMENTO DE ABSURDIDADE NO HOMEM 
 
Apesar de muitos pensadores e teóricos daquela época considerarem Albert 
Camus como filósofo, ele sempre declarou claramente não se ver nem como filósofo, 
nem como um existencialista. Isto em 1945 foi dito pelo próprio Camus, durante uma 
entrevista a uma revista denominada Servir, onde dizia-se totalmente diferente daquilo 
que achavam ele ser: [...] eu não sou um filósofo. Não creio suficientemente na razão 
para acreditar num sistema. O que me interessa é saber como é preciso conduzir-se. 
E mais precisamente, como podemos nos conduzir quando não cremos nem em Deus 
nem na razão. 
Segundo Camus, [...] O existencialismo tem duas formas: uma, com Kierkegaard 
e Jaspers, desemboca na divindade pela crítica da razão; outra, que chamarei de 
existencialismo ateu, com Husserl, Heidegger e Sartre, culmina também numa 
divinização, mas que é simplesmente a da história, considerada como único absoluto. 
Não se acredita mais em Deus, mas acredita-se na história. De minha parte, 
compreendo bem o interesse da solução religiosa e percebo particularmente a 
importância da história. Mas não creio nem em uma nem em outra, em sentido 
absoluto. 
Camus se dizia um artista, tendo uma filosofia à sua maneira. Amigo de Sartre, 
estava ligado ao existencialismo, mas recusava se intitular existencialista porque, 
segundo ele, já que esta filosofia não podia ultrapassar a angústia ou o sentimento de 
abandono do ser, ele não assumiria este conceito. Apesar disso, Sartre e Camus 
discursavam sobre o conceito de absurdidade em relação ao mundo. Mas, suas 
concepções diferenciavam-se muito. 
Na obra de Camus, o absurdo era tido como sendo o drama existencial da 
humanidade. Segundo o que ele relatava, o absurdo era uma maneira que ele 
encontrara de fazer com que a consciência sobre a não existência de sentido no mundo 
se mantivesse viva. Ele dizia não haver diferença entre arte e filosofia, como segue: 
[...] os filósofos antigos (e com razão) pensam muito mais do que leem. É por isso que 
se detêm tanto no concreto. [...]. Hoje se lê mais do que se pensa. Não temos filosofias, 
mas unicamente comentários. [...] ao ponto de que um livro de filosofia que hoje 
aparece sem se apoiar em nenhuma autoridade, citação, comentário etc., não será 
levado a sério (CAMUS, 1964, p. 72). 
Viver é fazer que o absurdo viva. Fazê-lo viver é, antes 
de mais nada, olhá-lo. Por isso, uma das poucas posturas 
filosóficas coerente é a revolta, o confronto perpétuo do 
homem com sua própria escuridão. Ela é a exigência de 
uma transparência impossível e questiona o mundo a cada 
segundo. [...] Ela é a presença constate diante de si 
mesmo. [...] Essa revolta é apenas a certeza de um destino 
esmagador, sem a resignação que deveria acompanhá-la 
(CAMUS, 1965b, p. 138). 
Em Camus, o homem se descobre enquanto no estado de revolta e identifica ser 
este o motivo de sua concientização, o saber-se lúcido à sua condição de absurdidade 
no mundo. No entanto, Camus pensa a desconstrução do homem, isto é, a noção de 
sua existência e de como ela se dá e é realizada, do interior para o exterior. 
 “A consequência da revolta é recusar a 
 legitimação do assassinato, já que, em 
 seu princípio, ela é protesto contra 
 a morte.” 
 
Camus, O Homem Revoltado, O Assassinato Niilista 
 
Nele, a filosofia da absurdidade encontra-se bipartida, ou seja, antes de 1930, na 
escola Francesa e a outra, de acordo com Kierkegaard, por volta de 1850. Como Albert 
Camus, Soren Kierkegaard escrevia a partir de suas vivências e tudo o que ocorria na 
sua existência, assim como, do sentimento depressivo que o atingiu, relacionado às 
experiências com as mortes vivenciadas. Ele denominava sua filosofia como da vida, 
de modo aos acontecimentos ocorridos no seu existir. 
Em Kierkegaard, o conceito de ansiedade e de absurdo, relacionavam-se ao 
homem como sendo um ser de santidade o qual buscava um encontro com Deus 
perante a percepção de desesperança e de necessidade de salvação. Na sua obra “O 
Desespero Humano” o assunto básico é a desesperança do ser e da necessidade de 
realizar uma escolha que o faça se conscientizar da própria existência no mundo. 
Possuir um fim próprio e uma vontade que se fundamentasse racionalmente lhe 
possibilitaria agir e viver como um ser individual neste mundo. Nesta obra, esse 
desespero era entendido como uma relação entre si e a morte. 
Para Kierkegaard, o pior quepoderia ocorrer com o ser enquanto vivo, era o 
estado em que ele se encontrasse em desespero. Diferentemente de Camus, o filósofo 
dinamarquês, entendia o absurdo ligado à questão de um salto para a fé, através da 
admissão de uma existência divina. Para ele, se poderia explicar a fé, enquanto finita, 
através da infinitude que existe na divindade. 
Para Camus, a revelação desse homem absurdo e suas relações ao longo de 
sua existência, o qual foi condicionado a viver uma vida repleta de problemas e 
barreiras existenciais, ocorre como em seu tempo, permeado por guerras, crises, 
muitas doenças e dificuldades, como ele mesmo relata: [...] Cada artista mantém, 
assim, no fundo de si mesmo, uma fonte única que alimenta durante a sua vida o que 
ele é e o que ele faz. [...] por mim, sei que a minha fonte está em O Avesso e o Direito, 
nesse mundo de pobreza e de luz em que vivi por muito tempo [...] (CAMUS, O Avesso 
e o Direito, Pref. 1954). 
Esta luta travada entre essas forças contraditórias, entre a necessidade de estar 
só e a busca da comunhão com o outro, vai se efetuando no mais íntimo do ser, na 
profundeza da condição humana. Esta dor constante, interminável e irremediável, 
pode ser a causa e a fonte onde se originam as mais ricas criações, podendo ainda, 
conduzir o sujeito aos descaminhos, onde loucura e morte são elementos 
inseparáveis, como nos fala Clarice Lispector, nas vivências relatadas em suas obras: 
[...] “É preciso ter conquistado o universo das identificações simbólicas da linguagem, 
enquanto referências, para descermos a esses subterrâneos sem nos perdermos nele: 
“A solidão, a mesma que existe em cada um me faz inventar. E haverá outro modo de 
salvar-se? Senão o de criar as próprias realidades?”. 
São os extremos de uma mesma ponte que interligam a angústia do nascer e 
angústia de morrer, ligadas por um elo que não se desfaz. Ali, neste lugar, escoa-se 
nossa vida, marcada pela existência simultânea e ambivalente, de mesma intensidade 
desses extremos. 
Nesses dois momentos ou estas duas ideias correlacionadas a uma mesma coisa 
e que se opõem mutuamente, o sujeito se vê obrigado a cumprir e suportar o que lhe 
foi imposto como uma pena por existir: haverá de cumprir, para continuar a viver, um 
investimento de modo a refazer ou reatar seus laços a fim de transpor sua solidão e, 
ao mesmo tempo, libertar-se deles, abandoná-los para existir e sobreviver. 
 É assim que, neste confuso e emaranhado caminho, buscando tanto o prazer, a 
felicidade e a separação e negação da dor, que o ser vai elaborando e construindo 
seus laços, seus afetos, se vendo no outro e, através do hábito de se solidarizar-se, 
se mantém e suporta o absurdo da vida para não se entregar e sucumbir. 
 
 
 
 
CAPÍTULO II 
 
AS BARREIRAS E IMPOSSIBILIDADES QUE GERAM O ABSURDO 
 
 O mundo em que vivo repugna-me, mas 
 sinto-me solidário com todos os homens 
 que nele sofrem. 
 
 Albert Camus 
 
 Albert Camus, em O Mito de Sísifo (2004), inúmeras vezes anuncia a condição 
que traz ao homem, sensações que o fazem reviver o sentimento de absurdo. 
 São experiências e acontecimentos que o levam a se confrontar com a condição 
de absurdidade. Pode ocorrer a qualquer momento e os sinais deste resurgimento e 
destas sensações podem se relacionar com atitudes desumanas do dia a dia, a morte 
de um ente querido, o sofrimento em vista de alguma incapacidade e o sentimento de 
não pertencimento --, ocasionando a sensação de estranheza. Tudo isto são as 
barreiras e impedimentos que surgem como muros, de acordo com Camus, inibindo e 
bloqueando a ação do ser. 
 
 
 Diversos “fatos”, diferentes experiências podem 
 trazer à tona o absurdo. A qualquer hora, “numa 
 esquina qualquer, o sentimento de absurdo “pode 
 bater no rosto de um homem qualquer”. 
 (CAMUS, 2004, p. 25). 
 
 Em Camus (2004, p. 28), o passar dos anos na vida do homem, durante o seu 
envelhecimento e, quanto mais velho ele vai ficando, começa a entender que morrerá 
e, apesar de querer muito viver, transcender tais barreiras e dar continuidade à sua 
vida, ele se depara com o absurdo. São tantas dificuldades e impedimentos, mas ele 
quer viver e quer que sua vida seja longa, quer ter muito mais tempo para desenvolver 
seus ideais. Vai imaginando sua vida no futuro, elaborando e sonhando com dias que 
poderão não vir. 
 
 
 
 
 
 
 [...] na idade que torna mais duro o trabalho das mãos, 
 quando este não é meramente mecânico. Essa dor [o 
 cansaço] anunciava-lhe também a velhice. Lá onde os 
 músculos atuam, o trabalho acaba sendo maldito 
 precede a morte e, nas noites de grandes esforços, o 
 sono é justamente como a morte. 
 
(CAMUS,1997, p. 69). 
 
 Esta sucessão de acontecimentos trás ao homem a constatação maior: 
pertence a um determinado momento, e assim sendo, é temporal. Passa a viver uma 
dualidade aterrorizante, onde o tempo é vida e, numa perpectiva mais assutadora, é 
morte. Esta é, portanto, a condição mais certa e evidente na vida do homem --, ele é 
mortal (CAMUS, 2003, p. 307). 
 
 
 
 
 A partir desta condição de lucidez surge em sua vida um cenário adverso. Ele se depara 
com a realidade inevitável: está envelhecendo. Diante de tal realidade, resta-lhe a angústia de 
saber que está a caminho do fim. O que lhe resta fazer a partir de agora, senão aguardar o 
sono final? (CAMUS, 1997, P. 27). É então, revelado ao homem, o seus limites e 
impossibilidades, não o permitindo nenhum motivo para crer que poderá esperar qualquer 
coisa do futuro. Não se pode mais, sequer, sonhar? 
 Em Camus (1994, p. 114), o autor afirma que a juventude é uma soma de possibilidades. 
Ele diz a respeito de uma certa idade, os trinta anos, que é, simultaneamente, o auge da 
juventude e o começo do fim (CAMUS, 28), o Mito de Sísifo. 
 Já em O avesso e o direito – (2003), Camus faz uma analogia da vida do homem 
relatando a estranheza de um viajante em uma cidade que nada lhe é familiar, onde uma 
sensação enauseante lhe acomete, enquanto vai vagando por ruas e pessoas totalmente 
estranhas. Vai percorrendo os lugares sem conseguir distinguir nada que lhe pareça familiar. 
Tudo isso vai gerando e trazendo ao viajante, uma sensação de afastamento do que lhe é 
característico. Ele não consegue se reconhecer ou identificar nada que lhe seja próprio. 
Sente, então, o medo e o vazio dos hábitos. Não há prazer na viagem. 
 Assim, o autor vai discorrendo sobre a inumanidade do homem dada a sua 
atitude mecânica perante a vida não refletida e sem sentido. Para ele esses são “os 
muros do absurdo”, formados pelo tempo, pela desumanidade dos homens e o 
estrangeirismo. Ao se chocar com estes muros o homem percebe sua condição 
limítrofe, frágil e absurda. 
CAPÍTULO III 
 
A RELAÇÃO ENTRE O SUICÍDIO E O PENSAMENTO(...) há várias maneiras de suicidar-se, uma 
Não se pode negar, portanto que os homens temem a morte. A privação da 
 vida é certamente a pena suprema [...]. O medo da morte surge do fundo mais 
 obscuro do ser, o devasta; o instinto de vida, quando é ameaçado, se afoba 
 e se debate nas piores angústias. 
 (CAMUS, 1965, Réflexions sur la guillotine, p. 1032). 
 
 
 das quais é a doação total e o esquecimento 
 da própria pessoa. (Camus,2004,p.86). 
 
 
 Segundo Camus, viver é morrer a cada dia que se finda. Esta forma de perceber 
a vida encaminha o homem a uma contradição constante. Ao mesmo tempo em que 
ele vai percebendo estas questões da existência, ele passa a sentir certa aversão pela 
vida. É nesse momento que Camus afirma a possibilidade do vínculo entre aquilo que 
o homem pensa e o suicídio. Ou seja, quanto mais ele constata sua condição e a 
contrariedade da vida, mais ele imagina a morte. Camus denomina isto de raciocínio 
absurdo, o qual é capaz de anular as esperanças, a satisfação e a paz do homem. 
 
 
 
 
 
 
 
 No entanto, Camus relata que a ausência de alguma coisa que signifique 
a vida não é um incentivo à morte, e sim, à vida. De acordo com esta visão 
camusiana, a coerência está em dar manutenção a vida, ainda que por várias 
vezes e, diariamente, o absurdo ocorra na existência do homem. Isto é o mesmo 
que imaginar que, sem a presença da vida não haverá absurdo ou motivo para a 
revolta. Camus afirmava que ao se tirar a vida, na verdade, se efetua a fuga da 
responsabilidade de suas ações e das muitas possibilidades que a existência 
pode oferecer. 
 Entende-se, portanto, que o autor não tinha uma visão negativa e 
desfavorecida da vida, considerando que ele afirmava só poder existir sentido 
absurdo no caso de haver vida. Desta maneira, ele denominava o suicídio como 
sendo voluntarismo para a morte, evidenciando claramente, a não condição de 
motivos ou razões para viver. 
 No entanto, ainda que o homem esteja em situações reais de dificuldade e 
crise, como, por exemplo, a perda de um parente, ele se atém à vida e não quer 
perdê-la, antes, quer lutar por ela e fazê-la perpetuar, segundo o que Camus 
declara em “O Mito de Sísifo”: [...] “o juízo do corpo tem o mesmo valor que o do 
espírito e o corpo recua diante do aniquilamento”. 
Amanhã, tudo vai mudar, amanhã. De repente, 
ele descobre que amanhã será igual, e depois de 
amanhã, e todos os outros dias. E essa 
irremediável descoberta o esmaga. São ideias 
semelhantes que nos fazem morrer. Por não 
conseguir suportá-las, as pessoas se matam – 
ou, quando se é jovem, fazem-se frases sobre 
elas”. 
 (CAMUS, O Avesso e o Direito, A ironia) 
 
 Nesta obra, Camus revela claramente, a necessidade de se refutar as questões 
do dia a dia, ou seja, deixar os atos mecânicos e rotineiros, sem sentido. Ele relata 
quanto as questões que realmente devem ser consideradas essenciais em relação à 
vida diária, o que nos possibilitará o entendimento e ao encaminhamento pelo amor à 
existência. 
 Considerando que o raciocínio absurdo visa levar ao homem a desconsiderar e 
anular a própria vida, é preciso evitá-lo, a fim de que haja esperança para a condição 
humana. É devido à busca de alguns filósofos como Chestov, Kierkegaard e Jasper, no 
alívio baseado numa particularidade religiosa, que Camus os critica pois, segundo ele, 
a condição absurda pode ocorrer por uma inspiração religiosa ou pela racionalidade. Isto 
por que, ainda que se negue este absurdo através da razão ou da religião, todo homem 
deseja a eternidade. A isto ele denominava “suicídio filosófico”, pois, a partir do instante 
que se une o absurdo ao aspecto divino, acaba-se por negar o achado filosófico, já que 
os conflitos e as inquietações sobre a existência do homem findam. Para Camus (1942, 
p. 51): [...] “partindo do absurdo sobre os escombros da razão, num universo fechado e 
limitado ao humano, divinizam o que os esmaga e acham razões para esperar naquilo 
que os despoja” 
 Segundo Camus, o ato do suicídio é o resultado lógico frente ao absurdo, já que 
esse ato de suicidar-se é a não condição de uma solução para o absurdo. O autor relata 
que neste momento, quando o homem decide pela morte é sua confirmação de que a 
vida o venceu. Que não houve respostas aos seus questionamentos e às complexidades 
vivenciadas. Para Camus, esta é a morte voluntária, ou ainda, a demonstração da não 
motivação para viver. Para que haja sentido em continuar vivendo, será necessário uma 
investigação do absurdo vivenciado, resultando assim, na negação do suicídio. 
 De acordo com Camus (2011, p. 16): [...] “a última conclusão do raciocínio 
absurdo é, na verdade, a rejeição do suicídio e a manutenção desse confronto 
desesperado entre a interrogação humana e o silêncio do mundo. O suicídio significaria 
o fim desse confronto, e o raciocínio absurdo considera que ele não poderia endossá-lo 
sem negar suas próprias premissas. Tal conclusão, segundo ele, uma fuga ou liberação. 
Mas fica claro que ao mesmo tempo, esse raciocínio admite a vida como único bem 
necessário porque permite justamente esse confronto, sem o qual a aposta não 
encontraria respaldo. Para dizer que a vida é absurda, a consciência precisa estar viva”. 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
 A paixão e o valor pela vida não acaba na inexistência de sentido, culminando 
com o suicídio. Se analisarmos do ponto de vista de Camus, matar-se ou suicidar-se, 
nada mais é que evidenciar a falta de preparo para reagir às exigências da existência. 
Camus relata que o homem deve enfrentar e reagir às barreiras que essa existência lhe 
oferece, pois isto possibilitará o confronto com a absurdidade. O autor deixa claro que, 
ainda que não haja sentido na existência humana, o ato do suicídio é o símbolo maior 
das muitas inquietações e dúvidas a respeito de haver ou não, significado em tudo o que 
ocorre na vivência do homem. Ou seja, o suicídio como meio que acabará com a dúvida 
relacionada ao sentido de sua existência não é, jamais, a solução para esse problema. 
Esse ato é a condição de exterminar e destruir completamente a própria vida. 
 O autor relata que este sentimento ocorre ao coração do homem nos momentos 
em que ele se encontra angustiado e inquieto pelas circunstância que, aparentemente, 
não poderão ser transpostas, gerando pensamentos de tormento. Camus relata que o 
absurdo, por ser lógico, não pode ter como resposta, o suicídio. 
 Assim, ele sugere que a revolta é a resposta à condição de absurdidade, pois é 
contrária a renúncia e desistência da vida. Rebelar-se contra algo é requerer que se 
atenda ou satisfaça, é manifestar e fazer saber o seu direito. É ansear e querer antes, 
a liberdade e não a renúncia do que lhe seja devido. Já o suicídio, por conter em sua 
essência a destruição, não pode ser considerado como meio para se superar o absurdo 
da vida, mas de exterminá-la. 
 Portanto, a percepção e conhecimento do absurdo deve considerar o 
enfrentamento entre o mundo e o homem, sendo a via que determina a permanência e 
continuidade de sua vida. É buscar e fazer oposição à tirania e a um movimento 
infindável de opressão, que têm como fundamento o terror e a condição servil, tentando 
silenciar e apagar a esperança de um amanhã melhor. É romper corajosamente com a 
mentira de que não vai dar, que não há futuro. Esta revolta é o desejo de liberdade a 
qual se opõe veemente à servidão esubserviência. É a revolta que justifica a criação e 
não a destruição. 
 
REFERÊNCIA 
 
CAMUS, A. A Peste. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1950. 
 A. O Estrangeiro. Lisboa: Edição Livros do Brasil, 1997. 
 , A. O mito de Sísifo: ensaio sobre o absurdo. Rio de Janeiro: Guanabara, 
1989 
 , A. O primeiro homem. Tradução de Teresa Bulhões Carvalho da Fonseca 
 , A. A morte feliz. Tradução de Valerie Rumjanek. Rio de Janeiro: Record, 
1998. 
 , A. Cadernos II. Tradução de Antonio Quadros. Lisboa: Edição livros do 
Brasil, 1996. 
 , A. Cadernos. Tradução de Gina de Freitas. Lisboa: edição livros do Brasil, 
 
1996. 
 , A. Núpcias, o verão. Tradução de Vera Queiroz da Costa e Silva. Rio de 
Janeiro: 
 , A. O Avesso e o Direito. Rio de Janeiro: Editora Record, 1999. 
 , A. O homem revoltado. Tradução de Valerie Rumjanek. Rio de Janeiro: 
Record, 
 _,A. A Queda. 1o ed. Brasil: Best Bolso-Record, 2007. 
 A. O Estrangeiro. 5° ed. Rio de Janeiro: Best Bolso, 2014. 
“Seminário de Pesquisa II”. 12. Cumprimento do componente curricular obrigatório 
“Exame de10. Redação parcial da dissertação. 11. Cumprimento do componente 
curricular obrigatório 1997. 
Cadernos de Psicanálise / Sociedade de Psicanálise da Cidade do Rio de janeiro - 
CARVALHO, J. J. C. Albert Camus: tragédia do absurdodo absurdo. João Pessoa: 
Ideia, 2009. 
LISPECTOR, C. Um sopro de vida: Pulsações. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1978. 
Livros do Brasil, 1997. 
 , C. Onde estiveste de noite? Rio de Janeiro: Artenova, 1974. 
GUIMARÃES, C. E. As dimensões do Homem. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1971. 
KIERKEGAARD, S. O Desespero humano. São Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 323. 
Maria Luiza Newlands Silveira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1994. 
NASIO, J.D. O livro da dor e do amor. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.Nova 
Fronteira, 1979. 
OLIVEIRA, B. J. de. A Revolta em Albert Camus. Rio de Janeiro: Book link, 2001. 
TOOD, O. Albert Camus - Uma Vida - Tradução de Monica Stahel. Ed. Record, 
1988. v. 1, n.1 (1982). - Rio de Janeiro: A Sociedade. 1982 - V. 23, n. 26, 2007. 
ARENDT, Hannah. Origens do Totalitarismo: anti-semitismo, imperialismo, 
totalitrismo.Trad. Roberto Raposo. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. 
_____________. A Condição Humana. Trad. Roberto Raposo. 10. ed. Rio de 
Janeiro: Forense Universitária, 2007. 
CALVINO, Ítalo. Seis propostas para o próximo milênio. Trad. Ivo Barroso. São 
Paulo: Companhia das Letras, 1990. 
GUIMARÃES, Carlos Eduardo. As Dimensões do Homem: Mundo, Absurdo, 
Revolta. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1971. 
KIERKEGAARD, Søren. O diário de um sedutor. São Paulo: Abril Cultural, 1979. 
(Os Pensadores) 
 ____________. O Conceito de Angústia. Tradução de Álvaro Luiz Montenegro 
Valls. – Petrópolis, RJ: Vozes; 2011. SARTRE, Jean Paul. O Existencialismo é 
um Humanismo. São Paulo. Abril Cultural, 1973. 
____________. O que é Literatura. São Paulo. 3º ed. Editora Afiliada, 2004. 
 Jaspers, Karl. Psicologia de las concepciones del mundo. Editora Gerdos S&A: 
Madrid, 1967. 
____________. Iniciação Filosófica. Guimarães Editoria: Lisboa, 1961.

Continue navegando