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Especial inclusiva Educação Ed u c a ç ã o e sp ec ia l in c lu si v a E d u c a ç ã o e sp ec ia l in c lu si v a Transtornos Invasivos de Desenvolvimento e Transtornos do Comportamento: Estratégias Educacionais para o Trabalho de Inclusão Cynthia Garcia Oliveira C yn th ia G ar ci a O liv ei ra Tr an st or no s I nv as iv os Uni da de 5 Desmistificando as Características e Possibilidades de Desenvolvimento e Aprendizagem de Estudantes com Transtornos de Desenvolvimento e do Comportamento 100 a unidade 5 desmistificará mitos e ideias errôneas quanto às características, o desenvolvimento e à aprendizagem de estudantes, que apresentam transtornos de desenvolvimento e do comportamento 5.1. Introdução Com o nascimento da Psicologia como ci- ência, a inteligência era uma competência cognitiva e individual. Nesse sentido, as oportunidades de inclu- são e ascensão social eram em virtude da capacidade intelectual das pessoas, assim surge a necessidade de testes, que pudessem medir a inteligência para selecio- nar e classificar os sujeitos e integrá-los à sociedade. Com a finalidade de selecionar e separar os estudantes com atraso intelectual, para que não atra- palhassem o ensino dos estudantes que não apresen- tavam problemas de aprendizagem, o Governo de Paris, na França, tentando resolver o problema do fracasso escolar, pediu para Alfred Binet e seu cole- ga Théodore Simon (conhecidos pelo interesse em pesquisas com crianças normais e retardados) para elaborarem um teste para identificar as crianças in- capazes de beneficiarem-se do ensino comum, com objetivo de segregá-las do ensino regular. Ao falar sobre os estudos e pesquisa sobre a inteligência, afir- ma Miranda (1998, p. 75): “As novas explicações da inteligência, permitem rever e ampliar a discussão sobre inteligência e não chegam a romper com os modelos anteriores de inteligência; são mais uma justificação e legitimação dos processos de exclusão e de adequação das pessoas à ordem vi- 102 gente; sendo uma noção naturalizada de inteligência, obscurecendo as determinações históricas da ativida- de de intelectual, e sugerem que a discussão sobre a inteligência no momento é uma tarefa fundamental para a Psicologia, e é fundamental que os educado- res se apropriem das implicações dessas abordagens, para evitar a disseminação das conhecidas e nefastas formas de psicologismos na Educação.” Muitas abordagens e concepções de inteli- gência e desenvolvimento humano já foram desen- volvidas por diversos estudiosos, ocorre que ainda hoje na moderna sociedade capitalista, há uma ten- dência à intelectualização do processo produtivo, o que supõe uma supervalorização da capacidade in- telectual humana. O nosso objetivo aqui é a partir da Psicologia Histórica e Cultural apontar algumas ideias errôneas construídas no imaginário coletivo sobre as características dos estudantes com trans- tornos de desenvolvimento e do comportamento, superando-as e identificando a partir desse referen- cial teórico as possibilidades de desenvolvimento e aprendizagem desses estudantes. 5.2. Mitos e Ideias Errôneas Sobre as Características de Educandos com Transtornos de Desenvolvimento e do Comportamento Como ainda impera, em nosso meio, algu- mas ideias errôneas, estereótipos e preconceitos a cerca deste alunado, precisamos desfazer esses equívocos. A literatura aponta diversos mitos. Ci- taremos a seguir os mais comuns e que necessitam serem desmistificados: 1. Pessoas com transtornos apresentam problemas mentais e devem ficar retidas em instituições preparadas para atendê-las fora do convívio social – isso é um mito incompatível com a inclusão. Os transtornos de desenvolvimento e do comportamento podem ter causas diversas, inclusive causas emocionais, como também de ordem bioló- gica, porém essas pessoas podem e devem participar do convívio social e serem incluídas nele, respeitan- do-se suas diferenças, limitações e potencialidades. A sociedade deve oferecer condições para seu de- senvolvimento e aprendizagem, em busca de atendi- mentos especializados. 2. O autista só vive em seu “mundo pró- prio” interagindo com o ambiente que cria – o fato é que o autista tem dificuldade de compreender o meio que o cerca, mas estão nesse meio, e con- 104 forme a interação que o meio estabelecer com ele conseguirá ter uma boa interação, superando suas dificuldades. 3. Toda criança hiperativa apresenta al- tas habilidades – podemos encontrar pessoas que apresentam dois ou mais transtornos de desenvol- vimento e do comportamento, mas é um erro achar que todo hiperativo tem altas habilidades. 4. Superdotação como sinônimo de ge- nialidade – impera uma confusão entre conceito de superdotado e gênio, achando-se que ambos são a mesma coisa, mas não são. Em relação à superdo- tação e genialidade Vygotsky (1998, p. 9, 11) traz a seguinte contribuição: ‘‘A genialidade diferencia-se do talento sobretudo pelo nível e caráter da criação: os gênios são inovadores de uma nova época histórica de seu meio.’’ Desta forma, é importante entendermos que superdotado é diferente de gênio, pois superdotado é o indivíduo que apresenta uma facilidade relativa- mente maior comparada com o seu grupo, diferente do gênio que apresenta capacidades significativa- mente superiores em relação ao momento histórico em que vivem; são pessoas que trazem contribuições para a evolução da sociedade, por exemplo os gran- des cientistas. A genialidade é um fenômeno raro na humanidade contemplando as habilidades do su- perdotado, mas de maneira ampla, com contribui- ções a nível mundial e histórico. 5. A pessoa que apresenta condutas típi- cas é um delinquente e deve ficar retido em ins- tituições de tratamento – mais um mito, o fato da pessoa apresentar esse distúrbio de comportamen- to não significa que é um delinquente. Deve haver entendimento desse transtorno e buscar alternativas diversas que contribuam com pleno desenvolvimen- to e aprendizagem dessas pessoas. Nesse sentido, vale ressaltar a importância e relevância de estudar, pesquisar e buscar cursos de formação continuada, para que haja entendimento dos transtornos sem preconceitos e estereótipos, desmistificando assim, o desconhecido o que possi- bilita realizar a inclusão e as intervenções psicopeda- gógicas necessárias para o desenvolvimento e apren- dizagem desses estudantes. 5.3. Possibilidades de Desenvolvimento e Aprendizagem Considerando os Sentidos Subjetivos dos Estudantes com Transtornos de Desenvolvimento e do Comportamento O estudo da subjetividade na perspectiva da Psicologia Histórica e Cultural compreende a com- plexidade dos fatos em sua essência singular, histó- rica e cultural. Segundo Rey (2005): a sociedade é organizada através de sistemas complexos. 106 “Consideramos que a subjetividade, segundo a nossa definição é a forma com que dela nos aproximamos, representa uma realidade complexa, impossível de ser conhecida por categorias universais a priori que frequentemente representam muito mais dogmas que construções científicas.” (REY, 2005, p. 117) Nessa perspectiva, o homem tem por carac- terística principal o desenvolvimento da consciência, que se desenvolve em um determinado contexto cul- tural e histórico. Explicita Vygotsky (2004, p. 44): “Consequentemente, toda a fórmula do comporta- mento do homem, em cuja base estará a fórmula do comportamento do animal completada por novos membros, terá o seguinte aspecto: 1) reações heredi- tárias + 2) reações hereditárias x experiência in- dividual (reflexos condicionados) + 3) experiência histórica + 4) experiência social + 5) experiência desdobrada (consciência).” González Rey (2002) a partir do referencial da Psicologia Histórica e Cultural, complementa os estudos iniciados por Vygotsky (1989) aprofundan- do o estudo da subjetividade humana. Nessa pers- pectiva, o desenvolvimento e aprendizagem segundo GonzálezRey (2006, p. 37): “Considero que a categoria sentido subjetivo de fato abre uma possibilidade para integrar na significação da apren- dizagem aspectos que têm sido totalmente ignorados até hoje, o que leva não apenas a adição, mas a uma repre- sentação diferente da aprendizagem com importantes con- sequências para a prática profissional nos diferentes campos da atividade humana. Aprender é toda uma produção subjetiva cuja qualidade não está definida apenas pelas operações lógicas que estão na base desse processo.” A subjetividade humana, nessa perspectiva, apresenta aspectos sociais e individuais, os quais se configuram em zonas de sentidos singulares em cada pessoa, os quais interagem entre si, num pro- cesso dinâmico e recursivo, e o sujeito atua influen- ciando e sendo influenciado pelos espaços sociais nos quais convive. Nessa perspectiva independente do transtor- no que o estudante possa vir a apresentar, o funda- mental é conhecer os seus aspectos subjetivos, o que o envolve e o motiva, pois só o que faz sentido para o sujeito terá significado ao mesmo, possibilitando assim, de fato seu desenvolvimento e aprendizagem. 108 5.4. Afetividade e Criatividade O desenvolvimento e aprendizagem das pes- soas que apresentam transtornos invasivos de desen- volvimento e do comportamento, na perspectiva da Psicologia Histórica e Cultural, busca recuperar o sujeito, e a partir dele, de seus interesses, motivações e potencialidades. É possível realizar uma interven- ção significativa que de fato realize a inclusão. O educando deve ser considerado o sujeito atuante do seu processo de desenvolvimento e aprendizagem, o que é possível através de uma prática dialógica que tenha sentido para o aluno. Segundo González Rey (2006, p. 39): “A conversação, o diálogo em sala de aula, estimula o envolvimento do aluno, define um processo de aprendi- zagem norteado pela reflexão. O aluno vai entrando em um caminho que o obrigará a assumir posições, processo facilitador da emocionalidade na atividade de aprender.” A prática pedagógica com esses educandos deve considerá-los em sua totalidade, movidos por interesses de sentido singular, o que possibilita a su- peração de suas limitações e a sua atuação a partir de suas capacidades na sociedade. Nesse sentido, desta- ca Rey (2006, p. 34): […] “Os sentidos subjetivos constituem verdadei- ros sistemas motivocacionais que – diferente das teorias mais tradicionais da motivação – permite- -nos representar o envolvimento afetivo do sujeito em uma atividade, não apenas pelo seu vínculo concreto nela, mas como produção de sentidos que implicam em uma configuração única, sentidos sub- jetivos, emoções e processos simbólicos resultantes de subjetivação que integram aspectos da história individual, como os diferentes momentos atuais da vida de cada sujeito concreto.” O educador deve estabelecer uma relação de diálogo, e desenvolver uma metodologia que te- nha sentido para o educando, seja ele deficiente ou normal, assim o professor conseguirá atingir níveis mais elevados de desenvolvimento e aprendiza- gem com seus estudantes. Nesse sentido, orienta Vygotsky (2004, p. 195): […] “O mestre deve ter sempre a preocupação de preparar as respectivas potencialidades não só da mente como também do sentimento. Não devemos nos esquecer de atingir o sentimento do aluno, quan- do queremos enraizar alguma coisa na sua mente. Dizemos frequentemente: “Eu me lembro disso por- que isso me impressionou na infância.” 110 Quando o professor, conhece seu estudante, suas potencialidades, sua história de vida, seus inte- resses e motivações, consegue envolvê-lo na apren- dizagem, oferecendo ao mesmo, a possibilidade de ser o ator de sua própria aprendizagem. Segundo Anache e Martínez (2007, p. 52): […] “a personalidade é a forma em que diferentes pro- cessos e unidades psicológicas, procedentes da experiência anterior do sujeito e organizados de determinadas formas, vai se integrar como um elemento de sentido da atividade atual em que esse sujeito está inserido.” É relevante destacar aqui que o aspecto criativo que move o potencial do sujeito. Assim sen- do, o estudante deve ser recuperado em sua posição criativa, uma vez que o desenvolvimento da cons- ciência da atuação do sujeito na sociedade ocorre quando o mesmo consegue um desenvolvimento re- flexivo e criativo em suas atividades. Segundo Martí- nez (2006, p. 70): “A consideração do caráter personológico da cria- tividade implica um importante desafio no terreno educativo. Ao supor que a criatividade não constitui uma habilidade a mais, mas um processo complexo em cuja base está o personológico em sua função re- guladora, as estratégias educativas para favorecer seu desenvolvimento tornam-se sistemas complexos de in- fluências e interações. Trata-se fundamentalmente de criar sistemas atividade-comunicação que promovam o desenvolvimento dos recursos personológicos essen- ciais que intervêm na expressão criativa do sujeito.” A criatividade deve ser considerada como a alavanca educacional, e ser promovida a todo o momento no cotidiano escolar. Com relação ao desenvolvimento e aprendizagem das pessoas com transtornos de desenvolvimento e do compor- tamento a criatividade é necessária por inúmeros motivos, dentre eles: ➢ O professor criativo consegue desenvolver ativi- dades que envolvam efetivamente os alunos; ➢ Possibilita trabalhar aspectos cognitivo-afetivos; ➢ Permite o desenvolvimento de potencialidades em níveis elevados de desenvolvimento e apren- dizagem; ➢ Permite a atuação efetiva dos estudantes, como sujeitos atuantes do processo. 112 Referências ANACHE, Alexandra Ayach; MARTÍNEZ, Al- bertina Mitjáns. O Sujeito com Deficiência Mental: Processos de Aprendizagem na Perspectiva Históri- co-Cultural. In: JESUS, Denise Meirelles de; BATIS- TA, Cláudio Rodrigo; et all (org.). Inclusão Práticas Pe- dagógicas de Pesquisa. Editora Mediação, Porto Alegre, p. 41-53, 2007. GONZÁLES REY, Fernando Luis. O Sujeito que Aprende: Desafios do desenvolvimento do tema da aprendizagem na Psicologia e na prática pedagógi- ca. In: TACCA, Maria Carmen V.R. Aprendizagem e trabalho pedagógico. Campinas: SP, Editora Alínea, p. 28-44, 2006. _______. Fernando Luis. La Subjetividad: su signifi- cación para la Ciencia Psicológica. In: _______. Por uma Epistemologia da Subjetividade: São Paulo: Casa do Psicólogo, 2002. _______. O sujeito, a subjetividade e o outro na dialética complexa do desenvolvimento humano. In: _______. O outro no desenvolvimento humano. São Pau- lo: Pioneira Thomson Learning, 2004. _______. Pesquisa Qualitativa e Subjetividade: os pro- cessos de construção da informação. Tradução Marcel Aristides Ferrada Silva. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2005. _______. Sujeito e Subjetividade: uma aproximação histórico-cultural. Tradução Marcel Aristides Fer- rada Silva. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002. _______. O Sujeito que Aprende: desafios do de- senvolvimento do tema da aprendizagem na psicolo- gia e na prática pedagógica. In: TACCA, Maria Car- men V. R. (org.). Aprendizagem e Trabalho Pedagógico. Campinas, SP: Editora Alínea, 2006. MARTÍNEZ, Albertina Mitjáns. Criatividade, Persona- lidade e Educação. Tradução Mayra Pinto. Campinas, SP: Papirus, 1997. __________. Criatividade no Trabalho Pedagógico e Criatividade na Aprendizagem: uma relação neces- sária. In: TACCA, Maria Carmen V.R. Aprendizagem e trabalho pedagógico. Campinas: SP, Editora Alínea, p. 69-94, 2006. VYGOTSKY, Live Semiónovich. A Formação So- cial da Mente. In: COLE, Michael; STEINER, Vera John; SCRIBNER, Sylvia; SOUBERMAN, Ellen (Orgs.). Tradução Jose Cipolla. 3.ª ed. brasileira. São 114 Paulo: Martins Fontes, 1989. __________. Psicologia Pedagógica. Tradução do russo e introdução de Paulo Bezerra. São Paulo: Martins Fontes, 2004. Exercícios Propostos 1. Após os estudos das contribuições da Psicologia Histórica e Cultural,no que diz respeito ao desenvolvimento e aprendiza- gem, aponte suas principais contribuições nesse sentido. ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ 1 Re sp os ta 2. Explique o que é sentido subjetivo na pers- pectiva da Psicologia Histórica e Cultural?. ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ 3. Comente sobre a importância do traba- lho com a criatividade para estudantes com transtornos invasivos de desenvolvimento e do comportamento. ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ 2 3 Re sp os ta Re sp os ta Uni da de 6 Desafios da Inclusão no Ensino Regular e na Sociedade 118 a unidade 6 discorrerá sobre a inclusão no ensino regular, seus limites e possibilidades no contexto da socie- dade capitalista. 6.1. Introdução Conforme as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica (MEC/SE- ESP, 2002), o serviço de apoio pedagógico especiali- zado é realizado nas classes comuns mediante: • a atuação colaborativa de professor especializa- do em educação especial; • a atuação de professores-intérpretes das lingua- gens e códigos aplicáveis; • a atuação de professores e outros profissionais itinerantes intra e interinstitucionalmente; • a disponibilização de outros apoios necessários à aprendizagem, à locomoção e à comunicação. Considerando as Diretrizes Nacionais (2002) e Políticas de Educação Especial (2007), as quais preveem a inclusão dos estudantes com transtornos de desenvolvimento e do comportamento no ensino regular, será feita aqui uma breve reflexão sobre as possibilidades e limites da inclusão no contexto da sociedade capitalista. 120 A Educação Inclusiva surge com a Declara- ção de Salamanca (1994) prevendo o acesso de to- dos ao ensino regular independentemente de suas limitações, sejam elas emocionais, físicas, mentais, e/ou outras. Ocorre que no sistema capitalista ao qual vivemos, a preocupação do Governo centra-se em aumentar a produção do capital, e não do desen- volvimento dos indivíduos. Nessa lógica do capital, investe-se o mínimo necessário para o maior núme- ro possível de alunos, o que obviamente excluirá os alunos que necessitam de atenções especiais para também se desenvolverem. O objetivo do sistema capitalista é gerar mão de obra qualificada para au- mentar a produção e consequentemente o lucro do capital, e é a partir da Educação que o indivíduo ad- quirirá conhecimentos e habilidades necessárias para o aumento da produção. Desde 1991, a rede pública de ensino no Brasil tem aumentado a cada ano significativamente o número de alunos matriculados no ensino regular, mas a qualidade deste ensino tem deixado a desejar aumentando-se intensamente o número de fracassos escolares. Para Carvalho (2009, p. 49): “Precisamos esclarecer, de uma vez por todas, que os movimentos em prol de uma “educação para todos” são 6.2. Educação Inclusiva no Contexto Brasileiro movimentos: (a) inclusão de todos em escolas de quali- dade, “independente de suas condições físicas, intelec- tuais, sociais, emocionais, linguísticas ou outras” tal como citado anteriormente e (b) para garantir-lhes a permanência, bem-sucedida, no processo educacional escolar desde a educação infantil até a universidade.” Além da desigualdade de distribuição de ren- da no Brasil que é significativa, o Governo reduz cada vez mais os gastos públicos baixando a qualidade do ensino na rede pública, além de não oferecer qualifi- cação e capacitação continuada aos professores. Para mudar a atual situação da Educação no Brasil é necessário que haja uma mudança no sis- tema de Governo, de forma que ofereça melhores condições de vida para as pessoas e maiores investi- mentos na Educação, possibilitando assim oferecer um ensino de qualidade para todos. A Educação In- clusiva é pautada nesse princípio de uma Educação de qualidade para todos independente de suas dife- renças. Todos têm o direto de receber um ensino que lhe ofereça condições de pleno desenvolvimen- to de suas potencialidades. 122 A Educação Inclusiva não significa incluir alunos com deficiências no ensino regular, mas sim desenvolver uma Educação que tenha a preocupa- ção em desenvolver o potencial de cada aluno, consi- derando e respeitando as diferenças culturais, sociais e econômicas. Nessa perspectiva, explica Carvalho (2009, p. 50): “Se a proposta da Educação Inclusiva já tivesse o con- senso dos pais de alunos, dos professores e de gestores, essa expansão não seria tão problemática: todos os alunos estariam na condição de educandos, sem rótulos para eles ou para a educação que se lhes oferece. Como quaisquer aprendizes de uma escola de boa qualidade para todos, seriam os usuários do especial na Educação e não da Educação Especial como subsistema à parte.” O trabalho pedagógico deve oferecer um en- sino de qualidade atendendo à diversidade dos estu- dantes, considerando que cada estudante é único, e o professor deve estar aberto e ter sensibilidade para conhecer cada um, seus interesses, motivações, po- dendo assim identificar os mecanismos pelos quais poderá desenvolver o potencial de cada aluno. Se- gundo Martínez (2005, p 104): 6.3. Trabalho com a Diversidade como desafio para a inclusão […] “A compreensão da escola como um sistema social complexo facilita identificar barreiras e resis- tências ao processo de inclusão escolar difíceis de se- rem compreendidas se a escola é considerada apenas espaço onde a atividade de ensino – aprendizagem acontece. Indiscutivelmente, a identificação e compre- ensão de tais barreiras constituem um importante passo para poder delinear estratégias intencionais tendentes a sua superação.” Uma das maiores barreiras para a inclusão está relacionada às condições materiais, pois é invi- ável que um professor tendo uma jornada de dois ou até mesmo três períodos de aula, deparando-se com salas superlotadas tenha condições de conhecer os interesses e motivações de cada estudante, e te- nha tempo de elaborar planejamentos diferenciados que considere a individualidade dos mesmos. Nesse sentido, deve haver uma mudança de nível macro, na política educacional do Brasil, oferecendo me- lhores condições materiais aos professores para que possam desenvolver práticas pedagógicas inclusivas. Deve haver melhoria: no salário dos professores, na jornada de trabalho, diminuir o número de alunos por sala, enquanto não houver essas mudanças, a in- clusão continuará sendo um limite difícil e até mes- mo impossível de ser alcançado. 124 Considerando que a inclusão como foi colo- cado na aula anterior, tem como princípio desenvol- ver as potencialidades de todos os estudantes através de um ensino de qualidade para todos. A escola que consegue romper com as barreiras que dificultam e impossibilitam a inclusão terágarantia de sucesso es- colar de todos os alunos. Com relação às barreiras da inclusão explica Carvalho (2009, p. 52 e 53): “Para garantir o sucesso na concretização desta in- tencionalidade educativa, há que superar as barrei- ras existentes em suas múltiplas origens e intencio- nalidades, para o que se faz necessário: (a) libertar o aluno da condição de solitário responsável por seu insucesso na escola, (b) identificar todos os obstá- culos que lhe impedem ou dificultam seu sucesso no processo de aprendizagem, (c) analisar o contexto em que a aprendizagem se realiza e (d) abandonar, definitivamente, os rótulos, quaisquer que sejam...” “As barreiras para a aprendizagem não existem, apenas, porque as pessoas sejam deficientes ou com distúrbios de aprendizagem, mas decorrem das ex- pectativas do grupo em relação às potencialidades e das relações entre os aprendizes e os recursos huma- nos e materiais, socialmente disponíveis, para aten- 6.4. Escolas Inclusivas Como Garantia de Sucesso Escolar der às suas necessidades. Dizendo de outro modo, as barreiras à aprendizagem dependem do contexto onde são criadas, perpetuadas ou, muitas vezes, e felizmente, eliminadas.” Os primeiros passos para romper com as barreiras da inclusão é ter comprometimento com uma Educação de qualidade para todos. A escola que tem esse comprometimento terá condições de oferecer recursos pedagógicos e materiais para que a inclusão ocorra. O outro passo imprescindível é a luta por mudanças na política educacional de fi- nanciamento, deve haver mudanças nas estruturas governamentais garantindo melhores salários e con- dições materiais de trabalho para os professores. A escola inclusiva, por trabalhar com o res- peito à diversidade e com foco no desenvolvimento de cada estudante consegue desenvolver práticas pe- dagógicas que garantem o sucesso escolar. 126 Na perspectiva da inclusão, os estudantes são compreendidos e respeitados em suas diferen- ças, sejam elas culturais, sociais, físicas, biológicas e/ ou emocionais. Nesse sentido, as intervenções pe- dagógicas com alunos, que apresentam transtornos invasivos de desenvolvimento e do comportamen- to, buscam em primeiro lugar, compreender o es- tudante, independente de suas limitações, como um sujeito que possui uma história de vida, repleto de sentimento e sentidos subjetivos, que o motivam ou não para a realização de determinadas atividades. “O caráter singular da aprendizagem vai nos obri- gar a pensar em nossas práticas pedagógicas sobre os aspectos que propiciam o posicionamento do aluno como sujeito da aprendizagem, o que necessariamen- te vai implicar o aluno com suas experiências e ideias no espaço do aprender. Isso é conseguido não apenas com os aspectos técnicos envolvidos na exposição de um conteúdo, mas com o desenvolvimento de rela- ções que facilitam o posicionamento ativo e reflexi- vo dos alunos, o que nos leva a outra consequência ao considerar o sujeito que aprende nas práticas 6.5. Como Desenvolver as Potencialidades dos Alunos com Transtornos de Desenvolvimento e do Comportamento pedagógicas: a compreensão da aprendizagem como uma prática dialógica.” (GONZÁLEZ REY, p. 38, 2006) Nessa perspectiva, a prática pedagógica deve estar sempre aberta ao diálogo. Considerar o estu- dante como ator desse processo e não mero recep- tor de conhecimentos, o professor precisa dialogar com seus alunos. Quando o estudante consegue ter autonomia de ser ator do seu processo de aprendi- zagem, tem maiores possibilidades de conhecer seu potencial e suas limitações, o que facilita a utilização de seu potencial em favor do seu desenvolvimento e aprendizagem, e isso só é possível através de uma prática dialógica. 128 ANACHE, Alexandra Ayach; MARTÍNEZ, Alber- tina Mitjáns. O Sujeito com Deficiência Mental: Pro- cessos de Aprendizagem na Perspectiva Histórico- -Cultual. In: JESUS, Denise Meirelles de; BATISTA, Cláudio Rodrigo; et all (org.). Inclusão Práticas Pedagó- gicas de Pesquisa. Editora Mediação, Porto Alegre, p. 41-53, 2007. GONZÁLES REY, Fernando Luis. O Sujeito que Aprende: Desafios do desenvolvimento do tema da aprendizagem na Psicologia e na prática pedagógi- ca. In: TACCA, Maria Carmen V.R. Aprendizagem e trabalho pedagógico. Campinas: SP, Editora Alínea, p. 28-44, 2006. MARTÍNEZ, Albertina Mitjáns. Inclusão Escolar Desafios para o Psicólogo. In: _______ (Org.). Psico- logia Escolar e Compromisso Escolar. Campinas, SP: Edi- tora Alínea, 2005. MEC/SEESP. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. (Documento elabora- do pelo Grupo de Trabalho nomeado pela Portaria Ministerial n.º 555, de 5 de junho de 2007, prorroga- da pela Portaria n.º 948, de 09 de outubro de 2007). Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seesp/ Referências arquivos/pdf/politica.pdf> Acesso em 11 de Junho de 2011. ROSITA, Elder Carvalho. Escola Inclusiva: a reorgani- zação do trabalho pedagógico. Porto Alegre: Mediação, 3.ª edição, 2010. __________________. Removendo barreiras para a aprendizagem: Educação Inclusiva. Porto Alegre: Media- ção, 2009, 8.ª Ed. Atual. VYGOTSKY, Liev Semiónovich. Psicologia Pedagógi- ca. Tradução do russo e introdução de Paulo Bezer- ra. São Paulo: Martins Fontes, 2004. 130 Fale um pouco dos limites e possibilida- des de uma Educação Inclusiva no con- texto brasileiro. ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ O que deve ser feito para que haja condições materiais para que a inclusão aconteça? ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ 2 Re sp os ta Re sp os ta 1 Exercícios Propostos A autora Carvalho (2009, p. 52 e 53) descreve algumas barreiras à inclusão, comente-as. ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ Qual prática pedagógica possibilita desenvol- ver a autonomia e consciência do aluno sobre o seu desenvolvimento e aprendizagem? Ex- plique como isso pode ocorrer. ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ 4 Re sp os ta Re sp os ta 3