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07/12/2021 1 DA CONTABILIDADE SOCIAL À MACROECONOMIA: REVISITANDO KEYNES Prof. Eduardo de Pintor eduardo.pintor@unila.edu.br Edições dos Livros • Capítulo 3 = item 2.3 do capítulo 2. • Capítulo 5 = capítulo 3. • Capítulo 4 = Capítulo 4. • Capítulo 6 = Capítulo 5. • Teoria macroeconômica teve início com a publicação do livro Teoria Geral do Emprego do Juro e da Moeda. • Com a publicação da Teoria Geral, em 1936, foram envidados todos os esforços para a construção de um sistema a partir do qual pudesse ser observada a evolução dos agregados que são de fundamental importância na avaliação da performance econômica de um país. • Foi partindo da macroeconomia que se chegou as contas nacionais. • O objetivo maior de Keynes, ao escrever a Teoria Geral, foi contrapor-se a teoria econômica então dominante. 1 2 3 4 07/12/2021 2 TEORIA CLÁSSICA • A economia capitalista portava uma espécie de regulador automático que impedia as crises e o desemprego. • Desemprego voluntário, ou seja, as pessoa que não estavam trabalhando encontravam-se em tal situação porque não se dispunham a ofertar sua força de trabalho aos salários vigentes. Não trabalhavam porque não queriam. • A enorme crise dos anos 1930 mostrara a clara inadequabilidade de tal teoria para explicar a realidade. • Keynes tentou demonstrar que não existia regulador automático e que a maior parte do desemprego era involuntário, decorrente de uma demanda por força de trabalho diminuta e incapaz de empregar toda a oferta existente. • Keynes questionou relações de causa e feito tomadas como líquidas e certas até então, apontou para relações distintas e opostas àquelas, forjou novos conceitos (como o de incerteza e preferência pela liquidez) e revelou identidades. A DETERMINAÇÃO DA RENDA • Na Conta de produção (ou conta do produto) de uma economia fechada e sem governo, temos: –Do lado do débito da conta, a renda ou Produto Nacional Bruto –Do lado do crédito, a indicação da forma concreta tomada por essa renda, ou seja, quanto foi consumo e quanto foi investimento (variação de estoques mais formação bruta de capital fixo) DÉBITO CRÉDITO a1 salários C consumo pessoal a2 lucros D variação de estoques (investimento) a3 aluguéis E formação bruta de capital fixo (investimento) a4 juros A renda ou produto nacional líquido (A = a1 + a2 + a3 + a4) B depreciação RENDA OU PRODUTO BRUTO DESPESA BRUTA 5 6 7 8 07/12/2021 3 • Sendo: – Y = renda – C = consumo – I = investimento Y = C + I • A renda gerada é resultado da quantidade produzida de bens e serviços, ou seja, da quantidade produzida de bens de consumo somada a quantidade produzida de bens de investimento • Keynes demonstrou que o principal fator a determinar o nível de C é a renda, ou seja, Y. • O consumo das famílias varia com o nível de renda: quanto maior é a renda, maior é o consumo e vice- versa. • Propensão marginal a consumir: dado um determinado nível de renda, as famílias consomem boa parte dela, mas também poupam uma parte. – A propensão a consumir é muito maior nas famílias de baixa renda e menor nas famílias de renda mais elevada. – No limite, as famílias de renda extremamente baixa não poupam nada de sua renda, consumindo-a integralmente. • Na média da economia, existe uma propensão ao consumo, que podemos chamar de c, onde 0 < c < 1 – (ou propensão marginal a consumir). • Formalmente podemos escrever que: C = f(Y) • Existe uma parcela do consumo que não varia com o nível de renda e que podemos chamar de consumo autônomo, indicado por Ca. • Portanto: Y = Ca + cY • Assim: Y = Ca + cY + I 9 10 11 12 07/12/2021 4 • Keynes constatou que o investimento depende de variáveis sujeitas à flutuação, devido às sempre presentes incertezas em relação ao futuro. • Preferência pela liquidez = preferência pela segurança que o dinheiro traz e que, segundo Keynes, está na base da determinação da taxa de juros da economia • Eficiência marginal do capital (EmgK) = expectativas quanto ao rendimento futuro esperado dos bens de capital. • Considerando r a taxa de juros I = f(r, EmgK) • O investimento é uma variável extremamente instável e que pode explicar por que, em determinados momentos, a economia opera num nível de produção que não é suficiente para empregar todos os fatores de produção disponíveis. • A determinação do nível de renda e produto é intimamente dependente do comportamento do investimento, o qual é bastante sujeito a flutuações. • Reordenando a equação: –Y = Ca + cY + I –Temos: Y(1 – c) = Ca + I • Logo: 𝐘 = 𝐂𝐚 + 𝐈 (𝟏 − 𝐜) • Keynes chamou ( ) de multiplicador. • O multiplicador indica a magnitude do aumento no nível de renda em decorrência seja de um aumento em Ca, seja de um aumento em I. • Indica que quanto maior for a propensão da economia a consumir, maior é o efeito multiplicador de uma elevação no Ca ou I. 13 14 15 16 07/12/2021 5 EXEMPLO • Se c for igual a 0,9 (ou seja, na média, as famílias consomem 90% de sua renda), o multiplicador será 10, de modo que, se houver um aumento de $ 100 no investimento, o aumento na renda será de $ 1.000. • Se, numa outra hipótese, tivermos c igual a 0,5, o multiplicador será 2, de modo que o mesmo aumento de $ 100 no investimento provocará uma elevação na renda de apenas $ 200. • Supondo que Ca é uma variável bastante estável, a atuação positiva do efeito multiplicador sobre o nível de renda fica na inteira dependência do comportamento de I (investimento). • Como o I está sujeito à intensas flutuações, os momentos em que I decresce provocam um efeito sobre o nível de renda e produto que é ampliado pelo efeito multiplicador. • Nesses momentos, mesmo dispondo de fatores de produção para operar num nível mais elevado, a economia permanece operando num nível insuficiente para empregar toda a força de trabalho e toda a capacidade instalada. • É importante perceber, em todo o raciocínio, a manutenção da identidade entre produto e renda, ao mesmo tempo em que ela também nos permite identificar os determinantes do nível de renda no qual opera a economia. • É por causa deste último elemento que pudemos substituir o sinal indicador de identidade (≡) pelo sinal de igualdade (=). A TEORIA KEYNESIANA E A CONTABILIDADE NACIONAL A conta do produto de uma economia aberta e com governo traz, do lado do débito, a oferta de bens e serviços e do lado do crédito, a demanda. 17 18 19 20 07/12/2021 6 CONTA PRODUÇÃO DÉBITO CRÉDITO I Importações de bens e serviços não fatores G Exportações de bens e serviços não fatores J – H Renda líquida enviada (+) ou recebida (-) do exterior C Consumo pessoal a1 Salários L Consumo do governo a2 Lucros D Variação de estoques a3 Aluguéis E Formação bruta de capital fixo a4 Juros A Renda ou produto nacional líquido (A = a1 + a2 + a3 + a4) B Depreciação Q – N Impostos indiretos líquidos de subsídios OFERTA DE BENS E SEVIÇOS DEMANDA POR BENS E SERVIÇOS • Se passarmos a rubrica importações para o lado do crédito com sinal negativo, encontraremos: Y ≡ C + I + G + (X – M) • Onde: • C = Consumo (rubrica consumo pessoal) • I = Investimento • G = Gastos do governo (rubrica consumo do governo) • X = exportações de bens e serviços não fatores • M = Importações de bens e serviços não fatores • O nível de produto e renda em que opera a economia não depende apenas do consumo e do investimento, mas também dos gastos do governo e das exportações líquidas das importações. • Um efeito multiplicador (devidamente modificado pela introdução do governo, particularmente por sua capacidade de tributar) também vai atuar sobre os possíveis aumentos, seja nos gastos do governo, seja nas exportações líquidas das importações. Um aumento nos gastos do governo eleva o nível de renda, e um aumento nas exportações produz efeito idêntico, enquanto um aumento nas importações produz efeito contrário, todos esses efeitos devidamente ampliados, para cima ou para baixo, conforme o caso, pela magnitude do multiplicador. 21 22 23 24 07/12/2021 7 •Um aumento –na parcela autônoma do consumo –no investimento –nos gastos do governo –na demanda externa pelos bens e serviços que a economia em questão produz • Estimula a produção e eleva o nível de renda na magnitude determinada pelo multiplicador. • No caso das exportações, trata-se de um estímulo externo, de uma injeção de demanda na economia, que provém de um aumento na demanda externa pelos bens e serviços internamente produzidos. • Um aumento nas importações representa um vazamento de estímulo, uma transferência, para fora da economia, de uma parcela de sua demanda por bens e serviços. • Importante papel dos gastos do governo para elevar o nível de renda e produto – Em determinados momentos em que o investimento insista em manter-se deprimido e em que os estímulos advindos de fora da economia não sejam suficientes para evitar o desemprego, só o governo tem condição de retirar a economia de tal situação. – Aumentando seus gastos, ele promoverá uma elevação no nível de renda e produto, que poderá reverter as expectativas pessimistas quando ao futuro e, assim, recuperar, em curto espaço de tempo, os próprios níveis de investimento. • A partir de Keynes, o governo passa a ter também a responsabilidade por aquilo que se costuma denominar controle da demanda efetiva. • O governo tem de acompanhar a evolução da economia e intervir sempre que necessário para impedir que ela fique deprimida por longos períodos de tempo. • Tais considerações, bem como o novo papel que ganha o governo a partir delas deram origem ao que se chamou de consenso keynesiano e a um período de cerca de 30 anos em que o Estado efetivamente assumiu esse papel. 25 26 27 28 07/12/2021 8 • No mundo acadêmico, o consenso foi rompido pelo advento da teoria das expectativas racionais, que deu nova vida aos pressupostos que Keynes atacara e recuperou a primazia da teoria ortodoxa. • No mundo real, a combinação de inflação com desemprego levou a uma onda de contestação quanto à pertinência do papel do Estado como regulador do nível de demanda e pôs em destaque as políticas associadas àquilo que se costuma chamar neoliberalismo (controle dos gastos públicos, Estado mínimo, privatizações, desregulamentação e abertura econômica). • A relação entre a macroeconomia e contabilidade nacional. • O que ocorreu foi que, segundo Keynes, partindo da preocupação em construir uma teoria da demanda como um todo que faltava à teoria econômica de então (lado da oferta). • O trabalho teórico desse economista britânico permitiu descobrir a existência ex-post da identidade entre produto, renda e dispêndio (demanda agregada). • Essa identidade não é questionada, independente de se aceitar ou não as relações de causa e efeito que as proposições teóricas keynesianas defendem para a dinâmica ex-ante do sistema econômico. • Uma das óticas de mensuração do produto é a ótica da demanda (dispêndio), a qual mostra a composição do PIB a partir das categorias de demanda tal como estipulado na equação: Y = C + I + G + ( X – M) • A equação, além de ser uma proposição teórica derivada da teoria keynesiana, acabou por constituir-se também numa identidade macroeconômica. • A conta do produto que vigorou no Brasil até 1996 mostra essa relação. CONTA PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB) DÉBITO CRÉDITO Produto Interno Bruto a custo de fatores Remuneração dos empregados Excedente operacional bruto Consumo final das famílias Tributos indiretos Consumo final das administrações públicas (menos) Subsídios Formação bruta de capital fixo Variação de estoques Exportações de bens e serviços não fatores (menos) importações de bens e serviços não fatores Produto Interno Bruto a preços de mercado (PIBpm) Dispêndio correspondente ao Produto Interno Bruto 29 30 31 32 07/12/2021 9 DA CONTABILIDADE SOCIAL À MACROECONOMIA: REVISITANDO KEYNES Prof. Eduardo de Pintor eduardo.pintor@unila.edu.br 33
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