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T * r ~ c 22 orno nas Geraldo Attílio De Tiana Tasca Carli As espécies incluídas neste capítulo são membros da família Trichomonadidae, da subfamília Trichomonadinae, da ordem Trichomonadida, da classe Zoomastigophorea, e do filo Sarcomastigophora. As quatro espécies encontradas no 1 homem são Trichomonas vaginalis, Trichomonas tenax, - Trichomonas hominis e Trichomitus fecalis. I 1 A espécie T vaginalis, patogênica, foi descrita pela pri- i meira vez em 1836, por Donné, que a isolou de uma mulher com vaginite. Em 1894, Marchand e, independentemente, I Miura (1894) e Dock (1896), observaram este flagelado na uretrite de um homem. O T tenax, não-patogênico, vive na cavidade bucal humana e também de chipanzés e macacos. O T. hominis, não-patogênico, habita o trato intestinal hu- mano. O í? fecalis foi encontrado em um único paciente, não existindo certeza se o homem seria seu hospedeiro primário. TRICHOMONAS VAGINALIS O Trichomonas vaginalis é uma célula polimorfa, tanto no hospedeiro natural como em meios de cultura. Os espé- cimes vivos são elipsóides ou ovais e algumas vezes es- féricos. O protozoário é muito plástico, tendo a capacida- de de formar pseudópodes, os quais são usados para cap- turar os alimentos e se fixar em partículas sólidas. Em pre- parações fixadas e coradas, ele é tipicamente elipsóide, pi- riforme ou oval, medindo em média 9,7km de comprimento (variando entre 4,5 e 19mm) por 7,Opm de largura (varian- do entre 2,5 e 12,5pm). Os organismos vivos são um terço maiores. Como todos os iricomonadídeos, não possui a forma cís- tica, somente a trofozoítica. A forma é variável, tanto nas preparações a fresco e como nas coradas. As condições fisico-químicas (por exemplo, pH, temperatura, tensão de oxigênio e força iônica) afetam o aspecto dos tricomonas; entretanto, a forma tende a se tornar uniforme entre os flagelados que crescem nos meios de cultura do que en- tre aqueles observados na secreção vaginal e na urina. Esta espécie possui quatro flagelos anteriores livres, de- siguais em tamanho e se originam no complexo granular basal anterior, também chamado de complexo citossomal. A membrana ondulante e a costa nascem no complexo granular basal. A margem livre da membrana consiste em um filamento acessório fixado ao flagelo recorrente. A extremidade posterior da costa é usualmente encoberta pelo segmento terminal da membrana ondulante. O axóstilo é uma estrutura rígida e hialina que se projeta através do centro do organismo, prolongando-se até a extremidade posterior e conecta-se anteriormente a uma pequena estrutura em forma de crescente, a pelta. O apa- relho parabasal consiste num corpo em forma de "V", as- sociado a dois filamentos parabasais, ao longo dos quais se dispõe o aparelho de Golgi composto por vesículas paralelas achatadas. O blefaroplasto está situado antes do axóstilo, sobre o qual se inserem os flagelos, e coor- dena os seus movimentos. O núcleo é elipsóide próximo a extremidade anterior, com uma dupla membrana nucle- ar e frequentemente apresenta um pequeno nucléolo. O retículo endoplasmático está presente ao redor da mem- brana nuclear. Esse protozoário é desprovido de mitocôn- drias, mas apresenta grânulos densos paraxostilares ou hi- drogenossomos, dispostos em fileiras (Fig. 13.1). Local da Infecção O T vaginalis habita o trato genitourinário do homem e da mulher, onde produz a infecção e não sobrevive fora do sistema urogenital. A multiplicação, como em todos os tricomonadídeos, se dá por divisão binária longitudinal, e a divisão nuclear é do tipo criptopleuromitótica, sendo o cariótipo constituído por seis cromossomos. Contrariando o que ocorre na maioria dos protozoários, não há formação de cistos. No entanto, muitos autores têm descrito estruturas arredondadas, imó- Fig. 13.1 - Tricomonas humanos. 1 = Trichomonas vaginalis; 2 = Trichomonas tenax; 3 = Trichomonas hominis. FA = Flagelo anterior livre; MO = Mem- brana ondulante; CP = Corpo parabasal e aparato de Golgi (são vistos juntos); C 0 = Costa; N = Núcleo; FP = Filamento parabasal; AX = Axóstilo; H = Hidrogenossomos; (Adaptada de Heinz Mehlhorn editor. Parasitology in Focus. Facts and Trends. Berlin: Springer-Verlang; 1988. veis, aparentemente com os flagelos intemalizados, como pseudocistos ou mesmo formas degenerativas. Fisiologia O 7: vaginalis é um organismo anaeróbio facultativo. Cresce perfeitamente bem na ausência de oxigênio, em mei- os de cultura com faixa de pH compreendida entre 5 e 7,5 e em temperaturas entre 20 e 40°C. Como fonte de energia, o flagelado utiliza glicose, frutose, maltose, glicogênio e ami- do. Alguns carboidratos, como a sacarose e a manose, não são utilizados. Numerosas enzimas são identificadas no pa- rasito, particulamente as enzimas glicolíticas, permitindo a utilização de glicídeos pela via d'Embden-Meyerhof ou pela via das pentoses. O ciclo de Krebs é incompleto e o protozoário não contém citocromo. Sendo desprovido de mitocôndrias, o parasito possui grânulos densos, os hidro- genossomos, portadores da piruvato ferredoxina-oxidorre- dutase (PFOR), enzima capaz de transformar o pimvato em acetato e de liberar adenosina-trifosfato (ATP) e hidrogê- nio molecular (H,). O 7: vaginalis é capaz de manter em re- serva o glicogênio. Ele pode realizar a síntese de um certo número de aminoácidos, possuindo uma fraca atividade de transaminação. Transmissão É incontestável que a tricomoníase é uma doença vené- rea. O 7: vaginalis é transmitido através da relação sexual e pode sobreviver por mais de uma semana sob o prepúcio do homem sadio, após o coito com a mulher infectada. O ho- mem é o vetor da doença; com a ejaculação, os tricomonas presentes na mucosa da uretra são levados a vagina pelo esperma. Atualmente, admite-se que a transmissão não- sexual é rara. A tricomoníase neonatal em meninas é adqui- rida durante o parto. O 7: vaginalis tem se destacado como um dos princi- pais patógenos do trato urogenital humano e está associa- do a sérias complicações de saúde. Publicações recentes mostraram que 7: vaginalis promove a transmissão do ví- rus da imunodeficiência humana (HIV); é causa de baixo peso, bem como de nascimento prematuro; predispõe mu- lheres a doença inflamatória pélvica atípica, câncer cervi- cal e infertilidade. Problemas relacionados com a gravidez: estudos têm relatado associação entre tricomoníase e ruptura prematura de membrana, parto prematuro, baixo peso de recém-nasci- do em grávidas com ruptura espontânea de membrana, bai- xo peso ao nascer associado a parto prematuro, endometrite pós-parto, natimorto e morte neonatal. A resposta inflama- tória gerada pela infecção por 7: vaginalis pode conduzir direta ou indiretamente a alterações na membrana fetal ou decídua. Problemas relacionados com a fertilidade: o risco de infertilidade é quase duas vezes maior em mulheres com his- tória de tricomoníase comparado com as que nunca tiveram tal infecção. O 7: vaginalis está relacionado com doença in- flamatória pélvica pois infecta o trato urinário superior, cau- sando resposta inflamatória que destrói a estrutura tubária e danifica as células ciliadas da mucosa tubária, inibindo a passagem de espermatozóides ou óvulos através da tuba uterina. Mulheres com mais de um episódio de tricomonía- se têm maior risco de infertilidade do que aquelas que tive- ram um único episódio. 116 Capitulo 13 'kansmissiio do HIV: a infecção por 7: vaginalis tipica- mente faz surgir uma agressiva resposta imune celular local com inflamação do epitélio vaginal e exocérvice em mulhe- res e da uretra em homens. Essa resposta inflamatória induz urna grande infiltração de leucócitos, incluindo células-alvo do HIV, como linfócitos TCD4+ e macrófagos, aos quais O HIV pode se ligar e ganhar acesso. Além disso, o 7: vaginalis frequentemente causa pontos hemorrágicos na I mucosa, permitindo o acesso direto do vírus para acorren- : te sdgiiínea. Desse modo, há um aumento na porta de en- trada para o vírus em indivíduos HIV-negativos. Similarmen- , te, em uma pessoa infectada pelo HIV, os pontos hemorrá- gicos e a idamação podem aumentar os níveis de vírus nos fluidos corporais e o número de linfócitos e macrófagos in- fectados pelo HIV presentes na região genital. Isso resulta em aumento de vírus livres e ligados aos leucócitos, expan- dindo a porta de saída do HIV. Deste modo, há uma proba- bilidade oito vezes maior de exposição e transmissão de par- ceiro sexual não-infectado. Além disso, um aumento da car- ga vira1 na secreção uretral tem sido documentado em indi- víduos com tricomoníase. Um aumento na secreção de cito- cinas (interleucinas 1, 6, 8 e 10), conhecidas por aumentar a suscetibilidade ao HN, está sendo agora demonstrado duran- te a tricomoníase. O 7: vaginalis têm a capacidade de degra- dar o inibidor de protease leucocitária secretória, um produ- to conhecido por bloquear o ataque do HIV às células, poden- do esse fenômeno também promover a transmissão do vúus. Em adição, muitos pacientes são assintomáticos e, mantendo- se sexualmente ativos, propagam ainda mais a infecção. Es- sas descobertas sugerem que o diagnóstico e o tratamento para a infecção por 7: vaginalis em homens e mulheres podem reduzir significativamente a transmissão do HIV. Mecanismos da Patogênese: o estabelecimento de 7: vaginalis na vagina inicia com o aumento do pH, já que o pH normal da vagina é ácido (3,8-4,5) e o organismo cresce em pH maior que 5. A elevação do pH vaginal na tricomo- níase é evidente, com uma redução concomitante de Lactobacillus acidophilus e um aumento na proporção de bactérias anaeróbias. Um contato inicial entre 7: vaginalis e leucócitos resulta em formação de pseudópodes, interna- lização e degradação das células imunes nos vacúolos fagocíticos do parasito. A interação entre 7: vaginalis com seu hospedeiro é um processo complexo, no qual estão en- volvidos componentes associados a superficie celular do parasito e células epiteliais do hospedeiro e também compo- nentes solúveis encontrados nas secreções vaginal e uretral. A aderência e a citotoxicidade exercidas pelo para- sito sobre as células do hospedeiro podem ser ditadas pe- los fatores de virulência, como adesinas, cisteína-proteina- ses, integrinas, cell-detaching factor (CDF) e glicosidases. Embora os mecanismos contato-dependentes tenham um papel significativo na patogênese da tricomoníase, mecanis- mos contato-independentes estão também envolvidos, já que produtos secretados pelo parasito, como glicosidases e CDF, em meios de cultura, têm se mostrado altamente tó- xicos a células epiteliais. Outra classe de moléculas implica- da na adesão de 7: vaginalis é representada pelas cisteína- proteinases, que são citotóxicas e hemoliticas e apresentam capacidade de degradar IgG, IgM e IgA presentes na vagi- na. A expressão dos genes que codificam as proteinases e as adesinas é modulada por fatores externos relacionados com hospedeiro, como os níveis de cálcio e ferro. Enquanto o número de organismos na vagina diminui durante a menstruação, os fatores de virulência mediados pelo ferro contribuem para a exacerbação dos sintomas nesse período. O ferro contribui para a resistência de 7: vaginalis ao complemento por regular a expressão de cisteína proteinases, que degradam a porção C3 do com- plemento depositada sobre a superfície do organismo. Além disso, o 7: vaginalis pode se auto-revestir de pro- teínas plasmáticas do hospedeiro. Esse revestimento não permite que o sistema imune reconheça o parasito como estranho. Sintomas e Sinais O 7: vaginalis apresenta alta especificidade de localiza- ção, sendo capaz de produzir infecção somente no trato uro- genital humano, pois não se instala na cavidade bucal ou no intestino. Mulher O espectro clínico da tricomoníase varia da forma assin- tomática ao estado agudo. Estudos clínicos e experimentais da infecção determinaram que o período de incubação va- ria de três a 20 dias. O 7: vaginalis infecta principalmente o epitélio do trato genital. Nas mulheres adultas, a exocérvice é suscetível ao ataque do protozoário, mas raramente os or- ganismos são encontrados na endocérvice. Esse flagelado não causa corrimento endocervical purulento. Poderá ser observada uma secreção cervical mucopurulenta em infec- ções genitais associadas a Neisseria gonorrhoeae, Chlamydia trachomatis ou herpes simples. A tricomoníase provoca uma vaginite que se caracteriza por um corrimento vaginal fluido abundante de cor amarelo-esverdeada, bolhoso, de odor fétido, mais frequentemente no período pós-menstrual. O processo infeccioso é acompanhado de prurido ou irritação vulvovaginal de intensidade variável e dores no baixo ventre. A mulher apresenta dor e dificulda- de para as relações sexuais (dispareunia de intróito), des- conforto nos genitais externos, dor ao urinar (disúria) e fre- qüência miccional (poliúria). A vagina e a cérvice podem ser edematosas e eritematosas, com erosão e pontos hemorrá- gicos na parede cervical, conhecida como colpitis macu- laris ou cérvice com aspecto de morango. A tricomoníase é mais sintomática durante a gravidez ou entre mulheres que tomam medicamento anticoncepcional oral. Homem A tricomoníase no homem é comumente assintomática ou apresenta-se como uma uretrite com fluxo leitoso ou pu- rulento e uma leve sensação de prurido na uretra. Pela ma- nhã, antes da passagem da urina, pode ser observado um corrimento claro, viscoso e pouco abundante, com descon- forto ao urinar (ardência miccional) e por vezes hiperemia do meato uretral. Durante o dia, a secreção é escassa. O para- sito desenvolve-se melhor no trato urogenital do homem, em que o glicogênio é mais abundante. Nos portadores assin- tomáticos, o parasito permanece na uretra e talvez na prós- tata. As seguintes complicações são atribuídas a esse orga- nismo: prostatite, balanopostite e cistite. Esse protozoário pode se localizar ainda na bexiga e vesícula seminal. Capitulo 13 O estudo imunológico da tricomoníase urogenital foi possível quando o parasito pôde ser cultivado in vitro. A presença de anticorpos locais e sistêmicos é frequentemepte revelada na espécie humana, apesar de não ter sido ainda comprovada a existência da imunidade adquirida contra a tricomoníase humana. A presença de anticorpos protetores foi constatada em camundongos imunizados com soro hu- mano de pacientes infectados, e desafiados com i? vagi- nalis. Como acontece no homem, essa proteção tende a de- saparecer após aproximadamente seis meses. As imunoglobulinas antitricomonas da classe IgG foram encontradas no soro de 90% das mulheres com vaginites. Pelos métodos turbimétricos e de radioimunoensaio, anticor- pos da classe IgA antitricomonas foram mostrados na secre- ção vaginal de mulheres infectadas. Através da imunofluo- rescência indireta, foi mostrada a existência de IgG anti- tricomonas na secreção vaginal de 70% das mulheres infec- tadas por esse flagelado, a IgA em 8% dos casos e a IgM em todas as doentes. Após o tratamento, a IgG permanece estável, a IgA diminui ligeiramente e a IgM passa a ser en- contrada em somente 20% das pacientes infectadas. Não foi possível evidenciar anticorpos nas vias urogenitais de ho- mens portadores de i? vaginalis. No aspecto celular, estudos in vitro indicaram que os neutrófilos polimorfonucleares e os monócitos são citotóxi- cos ao i? vaginalis em condições aeróbicas. Esse experi- mento dificilmente pode levar a uma correlação com os acha- dos clínicos, pois nas vaginites produzidas por tricomonas, os polimorfonucleares são abundantes, mas o processo ci- totóxico não se realiza, talvez devido ao meio anaeróbico da vagina ou a uma deficiência de componentes moduladores da resposta imunológica inata. Os processos de hipersen- sibilidade imediata e tardia foram observados através de rea-ções cutâneas, e a hipersensibilidade tipo I tende a ser inespecífica a certos antígenos, enquanto a hipersensibili- dade tipo IV mostra-se mais específica. Conjugando os re- sultados dessas provas in vivo e in vitro para o diagnósti- co da tricomoníase conclui-se que os dados encontrados são muito variáveis e discutíveis. Isso em parte é devido a variabilidade antigênica do parasito e a sua capacidade de evadir o sistema imune do hospedeiro. Apesar da doença e o protozoário terem sido descritos em 1836, por Donné, o diagnóstico clínico e laboratorial da tricomoníase, especialmente no homem, continua apresen- tando inúmeras dificuldades. Clínico O diagnóstico da tricomoníase não pode ter como base somente a apresentação clínica, pois a infecção poderia ser confundida com outras doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), visto que o clássico achado da cérvice com aspec- to de morango é observado somente em 2% das pacientes e o commento espumoso somente em 20% das mulheres in- fectadas. Se a clínica fosse utilizada isoladamente para o diagnóstico, 88% das mulheres infectadas não seriam diag- nosticadas e 29% das não infectadas seriam falsamente in- dicadas como tendo infecção. A investigação laboratorial é necessária e essencial para o diagnóstico da tricomoníase, uma vez que leva ao tratamento apropriado e facilita o con- trole da propagação da infecção. Laboratorial Colheita da Amostra Homem: Para que os procedimentos de diagnóstico te- nham sucesso, os homens deverão comparecer ao local da colheita pela manhã, sem terem urinado no dia e sem terem tomado nenhum medicamento tricomonicida há 15 dias. O material uretral é colhido com uma alça de platina ou com swab de algodão não-absorvente ou de poliéster. O orga- nismo é mais facilmente encontrado no sêmen do que na urina ou em esfregaços uretrais. Uma amostra fresca pode- rá ser obtida pela masturbação em um recipiente limpo e estéril. Também deve ser examinado o sedimento centrifugado (600g por 5 min) dos primeiros 20ml da urina matinal. A secreção prostática e o material subprepucial são coletados com um swab molhado em solução salina isotô- nica (0,15M) tépida. Mulher: As mulheres não deverão realizar a higiene va- ginal durante um período de 18 a 24 horas anterior a coihei- ta do material, e não devem ter feito uso de medicamen- tos tricomonicidas, tanto vaginais (geléias e cremes) como orais, há 15 dias. A vagina é o local mais facilmen- te infectado e os tricomonas são mais abundantes duran- te os primeiros dias após a menstruação. O material é usualmente coletado na vagina com swab de algodão não-absorvente ou de poliéster, com o auxílio de um espéculo não-lubrificado. Preservação da Amostra O i? vaginalis é suscetível à desidratação e as mudan- ças do potencial de óxido-redução. O material colhido de pacientes que não for examinado em preparações a fresco, imediatamente após a colheita ou inoculado em meios de cultura, deverá ser preservado em líquidos ou em meios de transporte. A solução salina isotônica (0,15M) glicosada a 0,2% pode ser usada como líquido de transporte e mantém os tricomonas viáveis durante várias horas a temperatura de 37°C. Os meios de transporte de Stuart (1956) e de Arnies (1967) (Capítulo 57 - Meios de Cultura) modificados man- têm os organismos por um período de 24 horas. A solução do fixador álcool polivinílico (fixador APV) mantém os m i m - ganismos preservados sem que haja alterações na sua mor- fologia, estando assim preparados para serem corados pe- los métodos de Leishman, Giemsa, e pela hematoxilina- fémca, segundo Heidenhain. Exame Microscópico O exame microscópico convencional de preparações a fresco e de esfregaços fixados e corados, com os métodos de cultivo, são os procedimentos laboratoriais mais comumente empregados no diagnóstico da tricomoníase urogenital. Apesar do exame microscópico direto do líquido prostático e do sedimento urinário não apresentar problemas na sua observação, a densidade dos leucócitos polimorfo- nucleares e as células epiteliais do exsudato vaginal, tendem a dificultar e obscurecer a pesquisa do protozoário, princi- palmente a visualização dos movimentos dos flagelos. O diagnóstico da tricomoníase, tradicionalmente, depende da observação microscópica do protozoário móvel, através do exame direto de esfiegaços a fresco com auxílio da micros- copia de campo claro elou de campo escuro elou de con- traste de fase, bem como pela microscopia de esfiegaços fi- xados e corados. Quando este estudo apresentar resultado negativo, deve ser complementado pelo exame de cultivo. Exame LI;reto a Fresco Preparações não-coradas: a microscopia da secreção vaginal ou cervical dos exsudatos uretrais e do líquido pros- iático diluídos em solução salina isotônica (0,15M) tépi- da é o exame de rotina usual para a identificação do flagelado. O protozoário perde a sua motilidade caracte- rística quando as preparações permanecem em tempera- tura ambiente fria, tornando-se necessário uma observa- ção microscópica rápida. As duchas vaginais baixam con- sideravelmente a sensibilidade dos esfregaços microscó- picos a fresco, não ocorrendo o mesmo com os procedi- mentos de cultivo. Preparações coradas: com o objetivo de aumentar a sen- sibilidade do exame microscópico direto, vários corantes são adicionados as montagens salinas. Apesar dos tricomonas não se corarem com safianina, verde-de-malaquita, azul-de- metileno e com azul-cresil-brilhante, os elementos celulares tomam os corantes e contrastam com os organismos vivos não-corados; somente os flagelados mortos são corados in- tensamente. Preparações fixadas e coradas: devido as limitações do exame microscópico direto, uma variedade de métodos de coloração têm sido indicados para o diagóstico do i? vaginalis no homem e na mulher. Os principais são: alaranjado de acridina, Giemsa, Leishman, Diff-Quik, Fontana, ácido periódico de Schiff, imunoperoxidase e he- matoxilina fémca, segundo Heidenhain. Exame após Cultivo Muitos meios de cultura líquidos ou semi-sólidos têm sido descritos para o isolamento e manutenção axênica do T vaginalis. Depois que foi possível cultivar amostras de tricomonas pela adição de penicilina e estreptomicina aos meios, o diagnóstico, o isolamento e a manutenção dos tri- comonas tornaram-se fácil e as culturas puderam ser pa- dronizadas, facilitando o diagnóstico laboratorial da trico- moníase e o controle dos resultados da terapêutica. Os principais meios de cultura usados são: o de Johnson & Trussell, 1943 (CPLM), o de Kupferberg, Johnson & Sprince, 1948 (STS) e o de Diamond, 1957 (TYM) (Capítulo 57 - Meios de Cultura). O imunodiagnóstico através de reações de aglutinação, mttodos de imunofluorescência (direta e indireta) e técnicas imunoenzirnáticas (ELISA) têm contribuído para aumentar o índice de certeza do resultado. Essas técnicas não substitu- em os exames parasitológicos (microscópio e cultura), mas Capitulo 13 podem completá-los, quando negativos. Os métodos imuno- lógicos têm significado maior naqueles casos de pacientes assintomáticos, permitindo uma triagem adequada com a possibilidade de um tratamento precoce e uma diminuição do risco da transmissão. Os testes imunológicos não são rotineramente usados no diagnóstico dessa protozoose. A tricomoníase é a DST não-vira1 mais comum no mun- do, com 170 milhões de casos novos ocorrendo anualmen- te. A incidência da infecção depende de vários fatores in- cluindo idade, atividade sexual, número de parceiros sexu- ais, outras DSTs, fase do ciclo menstrual, técnicas de diag- nóstico e condições socioeconômicas. A prevalência é alta entre os grupos de nível socioeconômico baixo, entre as pacientes de clínicas ginecológicas, pré-natais e em servi- ços de doenças sexualmente transmitidas. A perpetuação do protozoário parasito depende da sobrevivência no hospe- deiro humano. O organismo, não tendo a forma cística,é suscetível a dessecação e as altas temperaturas, mas pode viver, surpreendentemente, fora de seu hábitat por algumas horas sob altas condições de umidade. O 7: vaginalis pode viver durante três horas na urina coletada e seis horas no sêmen ejaculado. Embora T vaginalis seja transmitido por relação sexual, certas circunstâncias levam a crença de que, teoricamente, uma via não-venérea pode existir, explicando a tricomonía- se em meninas, incluindo recém-nascidas, assim como em mulheres virgens. No recém-nascido, a tricomoníase pode ocorrer durante a passagem pelo canal de parto, em conse- qüência da infecção materna, quando a mãe não toma me- didas profiláticas contra a parasitose durante a gestação ou quando ainda não iniciou o tratamento por não apresentar sintomas. Aproximadamente 5% dos neonatos podem adqui- rir a tricomoníase verticalmente de suas mães infectadas. Na ocasião do parto, o epitélio escamoso da vagina da recém- nascida sofre ação de estrógenos matemos e pode permitir a colonização do parasito. Entretanto, esse efeito hormonal desaparece em poucas semanas após o parto, tornando o trato genital relativamente resistente a invasão do i? vaginalis. Desta forma, os bebês teriam condições de elimi- nar espontaneamente o parasito. Pode não ser necessário tratar a tricomoníase levemente sintomática nas três primei- ras semanas de vida porque a infecção é autolimitada. A tricomoníase é incomum na infancia (de 1 a 10 anos de idade), já que as condições vaginais (baixo pH) não favore- cem o desenvolvimento da parasitose. Portanto, quando encontrada na criança, deve ser cuidadosamente pesquisa- da, averiguando-se as possibilidades tanto de abuso sexu- al quanto de outras fontes de infecção, que não sexual En- tretanto, na pré-adolescência e adolescência (dos 10 aos 18 anos de idade), a tricomoníase tem maior possibilidade de ser resultante de transmissão sexual. Além disso, a adolescên- cia, especialmente, é caracterizada por alta atividade estrogênica, que acompanha mudanças anatômicas e fisio- lógicas dos órgãos genitais, incluindo um aumento do pH vaginal, que promove um ambiente suscetível ao estabele- cimento do T vaginalis. A taxa de prevalência da infecção em homens é pouco conhecida, mas provavelmente é 50% a 60% menor que em mulheres. A tricomoníase parece ser autolimitada em muitos homens, possivelmente devido a uma ação tricomonicida de secreções prostáticas ou a eliminação mecânica dos proto- zoários que se localizam na uretra, durante a micção. Os re- sultados dos estudos sobre a prevalência de 7: vaginalis em homens são variados. Alguns autores relatam que a fre- qüência da tricomoníase em homens é relacionada com a fie- quência de uretrites inespecíficas; 10% a 20% desses ho- mens estão infectados por 7: vaginalis. Uma incidência de 20 a 30% de infecções por tricomonas foi encontrada em ho- mens cujas parceiras sexuais eram mulheres portadoras do protozoário flagelado. Uma correlação positiva existe entre a presença desse parasito no trato urogenital masculino e in- fertilidade; em tomo de 10% de homens estéreis são infec- tados por i? vaginalis. Incontestavelmente, o mecanismo de contágio da trico- moníase é a relação sexual, portanto o controle da mesma é constituído das mesmas medidas preventivas que são toma- das no combate as outras DSTs. Na abordagem dos pacien- tes com DST são essenciais dados sobre a data do último contato sexual, número de parceiros, hábitos e preferências sexuais, uso recente de antibióticos, métodos anticoncepcio- nais e história pregressa desse tipo de doença. Convém sali- entar que a presença de uma DST é fator de risco para outra. Preconizam-se estratégias de prevenção as DSTs, como: 1) prática do sexo seguro, que inclui aconselhamentos que au- xiliam a população a fazer as escolhas sexuais mais apropria- das para a redução do risco de contaminação com os agen- tes infecciosos; 2) uso de preservativos; 3) abstinência de contatos sexuais com pessoas infectadas e 4) limitação das complicações patológicas mediante a administração de um tratamento imediato e eficaz, tanto para os casos sintomáticos como para os assintomáticos, ou seja, tratamento simultâneo para parceiros sexuais, mesmo que a doença tenha sido diag- nosticada em apenas um dos membros do casal. O 7: vaginalis foi descrito pela primeira vez em 1836, en- tretanto, o parasito ficou conhecido como causa de vaginites somente em 1916, e 50 anos se passaram, antes que uma substância ativa eficiente fosse sintetizada para o tratamento dessa infecção. Em 1954, pela triagem de vários antibióticos, antimaláricos e amebicidas foi descoberta a azomicina (2-nitroimidazol). Através da manipulação da es- trutura química da azomicina, foi sintetizado o metronidazol [l-(2-hidroxieti1)-metil-5-nitroimidazol], um fármaco efetivo contra as infecções pelo tricomonas do trato genitourinário. O 7: vaginalis não é sensível aos antibióticos e atualmente existe uma emergente ameaça de cepas resistentes ao metro- nidazol. Os fármacos usados são o metronidazol (Flagyl), tinidazol (Fasigyn), omidazol (Tiberal), nimorazol (Nagoxin), camidazol e secnidazol. Em gestantes esses medicamentos não devem ser usados via oral, somente pela aplicação lo- cal de cremes, geléias ou óvulos. TRICHOMONAS TENAX O Trichomonas tenax é um protozoário flagelado não- patogênico, com ampla distribuição geográfica, habitando a cavidade bucal do homem. O trofozoíto é elipsóide, ovóide ou piriforme, medindo 4 a 16pm por 2 a 15pm. A estrutura desse parasito é semelhante ao 7: vaginalis, apresentando quatro flagelos anteriores (Fig. 13.1). O 7: tenax não sobre- vive no estômago e não pode ser estabelecido na vagina. Não é conhecida a forma cistica no seu ciclo biológico. A transmissão é direta através da saliva. A transmissão tam- bém se dá também através de escovas de dentes, e de ali- mentos que foram previamente provados pela mães. Apesar dessa espécie ser considerada não-patogênica, pesquisado- res da Europa oriental relataram infecções respiratórias e abcessos toráxicos, atribuídas a esse protozoário. A preva- lência varia de 0% a 25%, dependendo diretamente da higie- ne oral. O diagnóstico é realizado pela pesquisa do organis- : mo no tártaro dos dentes, na goma de mascar ou nas crip- tas das tonsilas. TRICHOMONAS HOMINIS A espécie Trichomonas hominis é um protozoário flagelado, considerado não-patogênico, apesar de ser encon- trado em fezes diarréicas. Apresenta ampla distribuição geo- gráfica e parece apresentar uma maior prevalência nas regiões tropicais e subtropicais do mundo. Como todos os tricomo- nadídeos, não tem a forma cística. Os trofozoítos habitam o intestino grosso (ceco e cólon) da espécie humana. O corpo é piriforme, medindo 8 a 20pn por 3 a 14pn. Essa espécie pos- sui cinco flagelos anteriores, em um arranjo "4+lW, mas alguns organismos podem apresentar quatro e outros, três flagelos. Os quatro flagelos anteriores estão agrupados entre si; o quinto está separado e direcionado para a extremidade pos- terior. O sexto flagelo ocorre ao longo da membrana ondulan- te, exteriorizando-se na porção posterior do protozoário como um flagelo livre. A membrana ondulante corre ao longo de toda a célula. Estão presentes nesse organismo o filarnento acessório, a costa, o blefaroplasto e a pelta. O núcleo é arre- dondado (Fig. 13.1). A multiplicaçâo faz-se por divisão biná- ria longitudinal. Nos espécimes frescos, principalmente nas fezes não-formadas, a motilidade do flagelado é visível. Os movimentos dos flagelos e da membrana ondulante e a pre- sença do axóstilo são observados nas preparações a fresco, quando as amostras fecais são emulsificadas em solução sa- lina isotônica (0,15M) tépida. Esses flagelados são dificilmente corados e podem ser omitidos nas colorações permanentes, especialmente nas colorações tênues. O i? hominis, devido a vasta flora bacteriana intestinal, podeapresentar dificulda- des no estabelecimento direto de culturas axênicas. Esse organismo multiplica-se no meio de Diarnond (TYM), suple- mentado com soro de cavalo inativado (56"-30 min) em pH ajustado em 7,O. Visto que a transmissão dessa espécie in- testinal ocorre através dos alimentos e da água contamina- da com fezes (rota fecal-oral), ela depende, primariamente, dos costumes de higiene e dos hábitos de alimentação dos hospedeiros humanos. Na verdade, os costumes e os hábi- tos prevalentes entre as populações dos países em desen- volvimento em áreas tropicais e subtropicais do globo, as- sociadas ao calor e as condições climáticas úmidas, são fie- quentemente favoráveis para a transmissão desse flagelado intestinal. O 7: hominis não se instala na vagina, hábitat na- tural do 7: vaginalis. Alguns autores afirmam que a maior prevalência é entre crianças, de 2 a 6 anos de idade, e entre os internos de asilos. Capitulo 13
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