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O mecanicismo e o problema mente-corpo O trabalho mais importante de Descartes para o desenvolvimento da Psicologia moderna foi a tentativa de resolver o problema mente- corpo Problema mente-corpo: A questão da distinção entre as qualidades mentais (alma ou espirito) e fisicas (corpo) Antes de Descartes, a teoria predominante afirmava que a interação entre a mente e o corpo era essencialmente unilateral, ou seja, a mente tinha um grande controle sobre o corpo. Na teoria da interação mente- corpo de Descartes, a mente influenciava o corpo, mas a influencia deste sobre a mente era maior do que se acreditava. A relação não era apenas unilateral, era mutua. Acreditava-se que a mente era responsável não apenas pelo pensamento e pela razão, mas também pela reprodução, pela percepção e pelo movimento. Descartes rebatia essa crença com o argumento de que a mente exercia uma única função, a do pensamento. Para ele, todos os demais processos eram funções do corpo. Ao fazer isso, ele redirecionou a atenção dos pesquisadores, que passaram do conceito teológico abstrato da alma para o estudo científico da mente e dos processos mentais. Como consequência, houve a transferência dos métodos de investigação da análise metafísica subjetiva para a observação e a experimentação objetiva. E a psicologia Desse modo, os cientistas acabaram aceitando a mente e o corpo como duas entidades separadas. E possível afirmar que a matéria — a substância material do corpo — é dotada de extensão (ou seja, ocupa espaço) e opera de acordo com os princípios mecânicos. A mente, no entanto, é livre, isto é, não possui extensão nem substância física. A ideia revolucionária de Descartes afirma que a mente e o corpo, embora distintos, são capazes de interagir dentro do organismo humano. A mente é capaz de exercer influência sobre o corpo do mesmo modo que este pode influenciá-la. A natureza do corpo Na visão de Descartes, o corpo é composto de matéria física; portanto, tem características comuns a qualquer matéria, ou seja, extensão no espaço (ele ocupa espaço) e capacidade motora. Sendo o corpo uma matéria, as leis da física e da mecânica que regem o movimento e a ação do universo físico aplicam-se também a ele. Logo, o corpo é semelhante a uma máquina, cuja operação pode ser explicada pelas leis da mecânica que governam o movimento de todos os objetos no espaço. Descartes foi claramente influenciado pelo espírito mecanicista da época, Quando descrevia o corpo humano, fazia referência direta às figuras mecânicas que vira. Comparava os nervos do corpo aos canos dentro dos quais corria a água e os músculos e tendões às engrenagens e molas. Os movimentos do autômato não resultavam da ação voluntária da máquina, mas de ações externas, por exemplo, a pressão da água. A natureza involuntária desse movimento refletia-se na observação de Descartes de que os movimentos corporais, muitas vezes, ocorrem sem a intenção consciente do indivíduo. Seguindo essa linha de raciocínio, ele chegou à ideia do undulatio reflexa, um movimento não comandado ou não determinado pela vontade consciente de se mover. Por conta desse conceito, muitas vezes Descartes é definido como o autor da teoria do ato reflexo. Teoria do ato reflexo: Ideia de que um objeto externo (um estimulo) pode provocar uma resposta involuntaria Essa teoria é precursora da psicologia behaviorista de estímulo-resposta (E-R) cuja ideia consiste na possibilidade de um objeto externo (estímulo) provocar uma resposta involuntária, como a perna que salta quando o médico bate no joelho com um pequeno martelo. O comportamento reflexo não envolve pensamento nem processo cognitivo: parece ser completamente mecânico ou automático. O trabalho de Descartes também serviu de subsídio para a crescente tendência à hipótese científica da previsibilidade do comportamento humano. O modo de operação do corpo mecânico pode ser previsto e calculado, desde que os estímulos sejam conhecidos. A interação mente-corpo De acordo com a teoria de Descartes, a mente é imaterial, ou seja, não tem substância física, mas é provida de capacidade de pensamento e de outros processos cognitivos. Como a mente possui a capacidade do pensamento, da percepção e da vontade, de algum modo ela influencia o corpo e é influenciada por ele. Exemplo: quando a mente decide realizar um movimento de um lado para o outro, essa decisão é executada pelos músculos, tendões e nervos do corpo. Do mesmo modo, quando o corpo recebe um estímulo, como a luz ou o calor, a mente reconhece, interpreta esses dados sensoriais e determina a resposta adequada. Antes de completar essa teoria sobre a interação mente-corpo, Descartes teve de localizar o ponto físico exato do corpo em que a mente e o corpo interagiam mutuamente. Ele concebeu a mente como uma unidade, o que significava que ela deveria interagir com o corpo em apenas um único ponto. Ele acreditava que a interação ocorria em alguma parte dentro do cérebro, porque a pesquisa havia demonstrado que as sensações viajavam até ele, onde também se originava o movimento. Estava claro para Descartes que o cérebro era o ponto central das funções da mente e que a única estrutura cerebral unitária (ou seja, que não era dividida nem duplicada em cada hemisfério cerebral) seria o corpo pineal ou conarium. Descartes usou os conceitos do mecanicismo para descrever como ocorre a interação mente- corpo. Pro-pôs que o movimento do espírito animal nos tubos nervosos provocava uma impressão no conarium e, a partir daí, a mente produzia a sensação. A doutrina das ideias A doutrina das ideias de Descartes também exerceu profunda influência no desenvolvimento da psicologia moderna. Ele afirmava ser a mente produtora de dois tipos de ideias: derivadas e inatas. ideias derivadas: Eram aquelas que surgiam da aplicação direta de estímulos externos, como o som do sino ou a imagem de uma árvore. Assim, as ideias derivadas (a do sino ou da árvore) eram produtos das experiências dos sentidos. ideias inatas: não eram produzidas por objetos do mundo externo que invadiam os sentidos, mas desenvolvidas pela mente ou pela consciência. Embora pudessem existir independentemente das experiências sensoriais, era possível que fossem percebidas na presença das experiências adequadas. a concepção mecanicista do corpo; a teoria do ato reflexo; a interação mente-corpo; a localização das funções mentais no cérebro; a doutrina das ideias inatas. O trabalho de Descartes serviu como catalisador das diversas tendências convergentes da nova psicologia. Entre as contribuições sistemáticas mais importantes, destacam-se:
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