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Indaial – 2020 Produção em Artes VisuAis Prof.a Aline Sabbi Essenburg 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2020 Elaboração: Prof.a Aline Sabbi Essenburg Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: E78p Essenburg, Aline Sabbi Produção em artes visuais. / Aline Sabbi Essenburg. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 220 p.; il. ISBN 978-65-5663-075-5 1. Artes visuais. – Brasil. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 701.1 APresentAção Caro acadêmico! Seja bem-vindo à disciplina Produção em Artes Visuais. O estudo e a pesquisa em torno desta temática almejam proporcionar o conhecimento acerca de aspectos relevantes sobre a prática e a crítica do que é produzido no âmbito artístico contemporâneo. Para produzir ou conhecer em seus pormenores uma obra de arte, bem como seu universo contextual, é importante saber sobre as técnicas. Portanto, nossa primeira unidade versará justamente sobre elas, no que concerne ao desenho e à pintura, bem como seu entendimento na contemporaneidade, ou seja, com ênfase no conceito, o que amplia sua estética. Alguns elementos da linguagem serão visitados, afinal, para um bom compositor ou crítico de arte, conhecê-los é de grande valia para a interpretação da obra e do intento do artista. Outra questão relevante a verificarmos é a relação entre os designers e os artistas visuais, tendo em vista as imbricações das linguagens. A segunda unidade será dedicada à semiótica e ao simbólico, ou seja, como ocorre a simbolização de um trabalho e da sociedade imagética, e aqui enfatizamos Charles Peirce. Para finalizar nossos estudos, propomos um olhar crítico sobre as produções, em um viés político, de gênero, de raça, ético e ambiental, ou melhor, de direitos humanos, tão discutidos em nosso século. Desse modo, a criticidade, tão almejada no mundo atual, se fará presente. Sugerimos ao aluno proativo não olvidar dos textos complementares e as indicações de leitura e pesquisa sugeridas ao longo deste Livro Didático, que auxiliarão com o conteúdo para apontamentos questionadores e embasamentos consistentes, fazendo com que o conhecimento neste campo de estudos aumente progressivamente. Ao trabalho! Prof.a Aline Sabbi Essenburg Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novi- dades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagra- mação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilida- de de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assun- to em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complemen- tares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETE sumário UNIDADE 1 — VISUALIDADE E CRIAÇÃO .................................................................................. 1 TÓPICO 1 — A PRÁTICA DO DESENHO E DA PINTURA......................................................... 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3 2 O UNIVERSO DO DESENHO ......................................................................................................... 5 2.1 MATERIAIS ..................................................................................................................................... 8 2.1.1 Lápis....................................................................................................................................... 10 2.1.2 Carvão ................................................................................................................................... 11 2.1.3 Lápis de cor ........................................................................................................................... 11 2.1.4 Giz pastel............................................................................................................................... 12 2.1.5 Esfuminho ............................................................................................................................. 13 2.1.6 Borracha, apontador e estilete ............................................................................................ 14 2.1.7 Papel ...................................................................................................................................... 14 2.2 O DESENHO NA CONTEMPORANEIDADE: OUTROS SUPORTES ................................. 15 3 O UNIVERSO DA PINTURA.......................................................................................................... 17 3.1 TÉCNICAS E MATERIAIS .......................................................................................................... 20 3.1.1 Pintura mural ....................................................................................................................... 20 3.1.2 Encáustica ............................................................................................................................. 22 3.1.3 Têmpera ................................................................................................................................. 23 3.1.4 Aquarela ................................................................................................................................ 24 3.1.5 Guache ................................................................................................................................... 26 3.1.6 Pintura a óleo ........................................................................................................................ 27 3.1.7 Acrílica ................................................................................................................................... 29 3.2 A PINTURA NA CONTEMPORANEIDADE: A PREDOMINÂNCIA DO CONCEITO .......... 30 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 33 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 34 TÓPICO 2 — A CONSTRUÇÃO DA IMAGEM............................................................................. 35 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................35 2 CULTURA VISUAL ........................................................................................................................... 36 3 ELEMENTOS E COMPONENTES ESTÉTICOS DA LINGUAGEM VISUAL ..................... 40 3.1 PONTO ........................................................................................................................................... 41 3.2 LINHA ............................................................................................................................................ 41 3.3 FORMA .......................................................................................................................................... 42 3.4 DIREÇÃO ....................................................................................................................................... 43 3.5 TOM ................................................................................................................................................ 43 3.6 COR ................................................................................................................................................. 44 3.7 TEXTURA....................................................................................................................................... 46 3.8 ESCALA ......................................................................................................................................... 47 3.9 MOVIMENTO ............................................................................................................................... 47 4 COMPOSIÇÃO ARTÍSTICA........................................................................................................... 47 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 50 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 51 TÓPICO 3 — ARTE E DESIGN .......................................................................................................... 53 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 53 2 PLANEJAMENTO VISUAL GRÁFICO ........................................................................................ 54 2.1 TINTA NANQUIM ....................................................................................................................... 55 2.1.1 Bico de Pena .......................................................................................................................... 55 2.1.2 Caneta Técnica ..................................................................................................................... 55 2.1.3 Caneta Descartável .............................................................................................................. 55 2.1.4 Pincel com Fibra de Nylon com Reservatório de Água ................................................. 56 2.2 ÂNGULO INFERIOR ESQUERDO ............................................................................................ 56 2.3 NIVELAMENTO E AGUÇAMENTO ........................................................................................ 57 3 OS DIVERSOS SUPORTES DA MENSAGEM ........................................................................... 58 4 ARTISTA/DESIGNER: CRIADORES DE IMAGENS ................................................................ 63 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 65 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 68 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 69 UNIDADE 2 — A SOCIEDADE IMAGÉTICA ............................................................................... 71 TÓPICO 1 — SEMIÓTICA E A TEORIA DOS SIGNOS ...........................................................................73 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 73 2 CONCEITOS GERAIS DE SEMIÓTICA ...................................................................................... 74 2.1 PANORAMA HISTÓRICO .......................................................................................................... 75 2.2 SEMIÓTICA AVANT LA LETTRE: SIGNO NA ANTIGUIDADE .......................................... 75 2.3 SEMIÓTICA NA IDADE MÉDIA E MODERNIDADE ........................................................... 77 2.4 A SEMIÓTICA NA CONTEMPORANEIDADE ...................................................................... 79 3 ARTE, INTERPRETAÇÃO E EPISTEMOLOGIA NA SOCIEDADE IMAGÉTICA ............. 80 4 ESTÉTICA, A IDEIA DE REPRESENTAÇÃO E SUA PERSPECTIVA SÓCIO-HISTÓRICA .....84 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 87 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 88 TÓPICO 2 — SEMIÓTICA PEIRCEANA ........................................................................................ 89 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 89 2 ÍCONE, ÍNDICE E SÍMBOLO ......................................................................................................... 90 3 PRIMEIRIDADE, SECUNDIDADE E TERCEIRIDADE ........................................................... 95 4 SIGNO EM PEIRCE........................................................................................................................... 96 4.1 SINAL ............................................................................................................................................. 99 4.1.1 Semelhança ......................................................................................................................... 101 4.1.2 Indicações ............................................................................................................................ 102 4.1.3 Símbolos .............................................................................................................................. 106 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 107 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 108 TÓPICO 3 — IMAGEM DA PALAVRA E SOCIEDADE IMAGÉTICA .................................. 109 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 109 2 PALAVRA, SIGNIFICANTE E SIGNIFICADO......................................................................... 110 3 FENÔMENOS LINGUÍSTICOS, RELAÇÕES SINTAGMÁTICAS E ASSOCIATIVAS ... 113 4 OS ENIGMAS DA IMAGEM: TEATRO, POESIA, RELIGIÃO E ARTE .............................. 118 5 SISTEMAS SIMBÓLICOS, SEMISSIMBÓLICOS E A ARTE NA SOCIEDADE IMAGÉTICA .................................................................................................................................... 122 6 SOCIOSSEMIÓTICA ...................................................................................................................... 123 7 SOCIEDADE LITERÁRIA, CULTURA E SEMIÓTICA ........................................................... 125 7.1 LINGUAGEM E CULTURA ...................................................................................................... 125 7.2 CULTURA E SOCIEDADE........................................................................................................ 129 7.3 CULTURA, ANTROPOLOGIA E SEMIÓTICA ...................................................................... 131 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 141 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 143 UNIDADE 3 — A CRÍTICA DE ARTE NA CONTEMPORANEIDADE ................................. 145 TÓPICO 1 — ARTE COMO POLÍTICA ......................................................................................... 147 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 147 2 LEITURA CRÍTICA DE IMAGEM ............................................................................................... 148 3 ARTE E CONFLITOS ...................................................................................................................... 153 4 QUESTÕES POLÍTICAS ................................................................................................................ 156 5 OS DIREITOS HUMANOS NA ARTE ........................................................................................ 161 5.1 BIENAL DE VENEZA ................................................................................................................ 164 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 167 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 168 TÓPICO 2 — ARTE E CONFLITOS ................................................................................................ 169 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 169 2 GÊNERO E SEXUALIDADE ......................................................................................................... 169 3 DIREITOS DA MULHER ............................................................................................................... 171 4 QUESTÕES DE RAÇA .................................................................................................................... 175 5 A CENSURA NO BRASIL .............................................................................................................. 179 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 184 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 185 TÓPICO 3 — ÉTICA, MEIO AMBIENTE E ARTE ....................................................................... 187 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 187 2 MEIO AMBIENTE E O MUNDO DA ARTE: O INÍCIO DE UM ENCONTRO ................. 188 3 ARTE COMO ATIVISMO AMBIENTAL .................................................................................... 190 4 A APROPRIAÇÃO DOS RESÍDUOS ......................................................................................... 197 5 BIODIVERSIDADE ......................................................................................................................... 201 6 BIOGENÉTICA E ÉTICA ............................................................................................................... 203 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 210 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 211 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 213 1 UNIDADE 1 — VISUALIDADE E CRIAÇÃO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • conhecer o universo do desenho e da pintura, bem como sua prática na contemporaneidade; • refletir sobre a cultura visual, além de saber sobre os elementos e os pre- ceitos da composição de uma imagem; • discutir sobre a atuação do artista e do designer no mundo Pós-Revolu- ção Industrial; • verificar os recursos que a arte utiliza para dialogar no mundo imagético. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – A PRÁTICA DO DESENHO E DA PINTURA TÓPICO 2 – A CONSTRUÇÃO DA IMAGEM TÓPICO 3 – ARTE E DESIGN Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 3 TÓPICO 1 — UNIDADE 1 A PRÁTICA DO DESENHO E DA PINTURA 1 INTRODUÇÃO Desde os primórdios, o homem se manifesta por meio de imagens; de fato, somos seres gráficos e a expressão visual é extremamente significativa, uma vez que abrange um grande número de sujeitos, mesmo os não letrados. O desenho configurava-se como forma de comunicação antes da escrita, assim, possui significados sociais, culturais e históricos. Ele também é a primeira imagem edificada antes de uma pintura figurativa, uma escultura, objetos de design, da arquitetura, ou seja, é a matriz da criação do homem. Somos cercados de imagens, sobretudo nas grandes cidades, e se apurarmos o olhar, inúmeras composições se configuram diante de nós. Um artista tem essa acuidade, e um desenho, por exemplo, se delineia mais pelo olhar do artista do que pela sua habilidade, ou seja, é preciso observar, estar atento às linhas, às formas, às proporções, edificar uma boa composição e se valer dos materiais adequados para o que se deseja elaborar. Uma boa obra passa pela visão, mesmo sendo ela abstrata. Assista ao documentário Janela da Alma, no qual dezenove pessoas discorrem sobre o olhar, dentre elas estão o escritor José Saramago (1922-2010), o cineasta Wim Wenders (1945-), o músico Hermeto Pascoal (1936-), o fotógrafo cego Eugen Bavcar (1946- ), entre outros que possuem alguma deficiência visual. link para o documentário: https:// www.youtube.com/watch?v=4F87sHz6y4s Janela da Alma, 2001. Direção de Walter Carvalho e João Jardim. DICAS Pintura e desenho são linguagens que se aprendem, como qualquer outro afazer, demandam disciplina, persistência, dedicação. Assim vemos agir inúmeras personalidades em seus incansáveis estudos e esboços, como Albrecht Dürer (1471-1528) em Seis Estudos de Travesseiros, de 1493. UNIDADE 1 — VISUALIDADE E CRIAÇÃO 4 FIGURA 1 – ALBRECHT DÜRER. SEIS ESTUDOS DE TRAVESSEIROS, 1493 FONTE: <http://warburg.chaa-unicamp.com.br/img/obras/mini/416_original.jpg>. Acesso em: 28 nov. 2019. É por isso que o filósofo francês Maurice Merleau-Ponty (1908-1961) já afirmava que não existe um gênio criador, o artista é um homem em seu ofício, que se dedica horas a seu trabalho. Só se aprende a admirar depois de ter-se compreendido que não há super-homens, homem algum que não tenha de viver humana vida, que o segredo da amada do escritor ou do pintor não está em alguma transcendência de sua vida empírica, mas tão somente misturado a medíocres experiências suas, tão pudicamente perfuso em sua percepção do mundo que não faria sentido procurar isolá-lo para com ele deslumbrar-se (MERLEAU-PONTY, 1960, p. 72). O artista nos mostra que criamos âmbitos de realidade, de modo a romper a cadeia das causalidades, diferenciando, assim, asobras dos meros objetos, e o faz transfigurando o real justamente para termos acesso a ele: desequilibra o estabelecido e desloca as formas do seu circundante familiar para a conhecermos de outro modo, assim, conhecemos o mundo. A ele não foi concebida uma causa superior, isso seria um determinismo, mas o filósofo sugere que o artista enfatiza que todos podem ser criadores, basta saber a técnica e, principalmente, olhar o mundo. É aqui que Merleau-Ponty dialoga com Nelson Brissac Peixoto (1952-), o qual versa sobre questões relativas à arte e ao urbanismo. O teórico inicia o texto O Olhar do Estrangeiro com a seguinte frase: “Nunca a questão do olhar esteve tão no centro do debate da cultura e das sociedades contemporâneas” (NOVAES, 1988, p. 361). Ele continua seu escrito discorrendo sobre o flaneur (personagem do final do século XIX) e sobre o estrangeiro. TÓPICO 1 — A PRÁTICA DO DESENHO E DA PINTURA 5 Daí o recurso ao olhar do estrangeiro, tão recorrente nas narrativas e filmes americanos recentes: aquele que não é do lugar, que acabou de chegar, é capaz de ver aquilo que os que lá estão não podem mais perceber. Ele resgata o significado que tinha aquela mitologia. Ele é capaz de olhar as coisas como se fosse pela primeira vez e de viver histórias originais. Todo um programa se delineia aí: livrar a paisagem da representação que se faz dela, retratar sem pensar em nada já visto antes. Contar histórias, respeitando os detalhes, deixando as coisas aparecerem como são. O estrangeiro toma tudo como mitologia, como emblema. Reintroduz imaginação e linguagem onde tudo era vazio e mutismo. Para ele estes personagens e histórias ainda são capazes de mobilizar. Ele é o único que consegue ver através desta imagerie. Uma das encarnações mais recentes do estranho, do recém-chegado, é aquele que retorna. O cinema recente fez daquele que volta para casa o seu personagem principal. Depois de fugir deste mundo em que nada mais tem valor, ele volta para resgatar as figuras e paisagens banalizadas do nosso imaginário, para tirar dele uma identidade e um lugar [...] (NOVAES, 1988, p. 363). Destarte, saber ver o mundo e as coisas dele é fundamental para a arte, além de saber sobre os meios, as ferramentas, a linguagem para a produção visual. Aqui está o nosso propósito neste tópico, conhecer um pouco desse universo que nos acompanha desde a nossa existência. 2 O UNIVERSO DO DESENHO “O desenho é fundamento, uma maneira de pensar, e pensar, em arte, é desenhar porque, sem desenho, não há nada. Existem outros escultores que fazem esculturas sem desenhar. Eu não sei fazer nada sem desenhar” (CASTRO, 2000, p. 154). O desenho preconizou a linguagem escrita, a cartografia, a fotografia e tantas representações imagéticas. Ademais, ele acompanha a humanidade, constituindo-se parte da história, seja para comunicar, atestar acontecimentos ou conduzir os navegantes. Os mesopotâmios utilizaram o desenho para representar terras, rotas comerciais e domínios, que se avigoram com a ampliação do império romano. NOTA UNIDADE 1 — VISUALIDADE E CRIAÇÃO 6 Os pré-históricos se valiam dos registros nas paredes das rochas, peles de animais e cascas de árvores com fins ritualísticos relacionados ao cotidiano, ou seja, nesses suportes eles desenhavam o que estava a sua volta e também o que pretendiam caçar e suas futuras vitórias, para que pudessem acontecer. Seus traços simplificados já denotam a observação do meio circundante e a necessidade de expressão e de representação por meio de símbolos. Mesmo após a edificação da escrita, o desenho não perdeu sua importância, a exemplo do Egito, quando retratava a vida dos faraós em pirâmides e construções mortuárias. Cada povo o utilizou com traços peculiares, como a lei da frontalidade (representação frontal dos olhos e do tronco, enquanto perna, pés e cabeça de perfil). Materiais que facilitaram a linguagem do desenho foram os pergaminhos e as folhas de papiro, que possibilitavam uma escrita mais ágil e precisa do que as placas de argila, as quais vigoravam até então. Anteriormente, folhas de palmeira eram utilizadas na Índia, ossos de baleia e dentes de foca eram usados pelos esquimós, conchas e cascos de tartarugas na China e cascas de árvores pelos Maias e Astecas (CAMPOS, 1994). O desenho grego foi muito utilizado como elemento decorativo, sobretudo na cerâmica. Cabe observarmos que os artistas tinham liberdade de expressão e fundiam a racionalidade com o mítico, assim, as imagens surgiam a partir da observação rigorosa da natureza e do homem, mas representadas idealizadas, em busca da perfeição e do belo. Diferentemente dos romanos, que atestaram por meio da imagem os acontecimentos históricos, o cotidiano, naturezas-mortas e as pessoas de todas as classes, com suas reais características. No terceiro milênio a.C., os chineses se valiam do bambu para fabricar seus suportes e no ano de 105 d.C. o papel é por eles inventado, inicialmente utilizando a entrecasca da aroeira e fibras de vegetais. A invenção revolucionou a arte do desenho, mas a técnica ficou em segredo por 500 anos, uma vez que o material se tornara extremamente rentável. Vale destacar que no século XIX os trapos de seda para a sua confecção foram substituídos pela celulose (MANGUEL, 1997). TÓPICO 1 — A PRÁTICA DO DESENHO E DA PINTURA 7 Veja algumas curiosidades: • Atualmente, a produção de papel industrial se dá a partir do pinheiro (Pinus sp.) e do eucalipto (Eucalyptus sp), ambos originários, respectivamente, da Europa e da Austrália. • Algodão e linho são utilizados na fabricação de papéis mais resistentes, como o papel- moeda e alguns papéis para pintura aquarela. • A maioria da produção (95%) é feita a partir do tronco; folhas e ramos raramente são aproveitados. • A deterioração dos papéis modernos decorre do uso dos ácidos, que quebram as fibras da celulose em micropartículas, enfraquecendo, assim, o produto. Isso vem acompanhado da coloração amarela proveniente da cola. IMPORTANT E Carlos Magno (742-814) criou a Academia da Literatura, quando proliferaram os manuscritos ilustrados; na época – arte românica –, Cristo era representado maior do que as outras figuras. Na Idade Média, o desenho foi considerado como “a arte de ilustrar” (MAZZAMATI, 2012, p. 15), tendo em vista o trabalho dos monges copistas, que inseriam nos manuscritos as iluminuras. A perspectiva aparece no Renascimento, acarretando em uma maior fidelidade ao real. É nesse momento que a proporção era respeitada e investigações acerca da anatomia humana se aprofundam, em um diálogo entre arte e ciência. Além de Leonardo da Vinci (1452-1519), Albrecht Dürer foi fiel à realidade em suas representações, conforme veremos no desenho a seguir. Salientamos que a partir de então os artistas passam a assinar os seus trabalhos. FIGURA 2 – ALBRECHT DURER. CABEÇA DE UM HOMEM VELHO, 1521 FONTE: <https://it.wikipedia.org/wiki/File:Durer,_study_of_a_man,_aged_93.jpg>. Acesso em: 28 nov. 2019. UNIDADE 1 — VISUALIDADE E CRIAÇÃO 8 Outra data notória para o desenho foi a prensa de Johannes Gutemberg (1400-1468) em 1445, e, em 1890, a publicação da primeira revista em quadrinhos: a Comic Cuts, por Alfred Harmsworth. Observamos que o Brasil sediou a Primeira Exposição Internacional de Histórias em Quadrinhos, a qual se deu no Centro de Cultura e Progresso de São Paulo, em 18 de junho de 1951. No final do século XIX, a sociedade moderna e tecnológica liberta o artista para expressar-se de acordo com os seus preceitos, sem mais se pautar na realidade, afinal, a máquina fotográfica agora fazia esse papel. Sobretudo, a partir das duas Guerras Mundiais, caricaturas e desenhos se proliferaram em periódicos, também no formato de cartuns, charges, mangás, entre outros. Além de placas de argila, de pergaminhos, papirose papel, o corpo serviu (e ainda serve) de suporte para desenhos, tanto em pinturas corporais de indígenas quanto em tatuagens. Estas foram encontradas em múmias nos Alpes (5300 a.C.) e em corpos femininos no Egito (2160 a.C.). Foi utilizada com fins ritualísticos, identificação de comunidades e prisioneiros, ornamentação e camuflagem; entretanto, o cristianismo não aprovou a prática da tatuagem. NOTA 2.1 MATERIAIS Os primeiros elementos utilizados para o desenho foram o carvão e algumas sementes, seguidos de pedaços de madeira e ossos para a escrita cuneiforme. Após o suporte feito com o papiro, ferramentas foram edificadas, como as hastes molhadas em tinta. Estas passaram a ser fabricadas de metal no século XVIII e, em 1884, Lewis Watterman (1837-1901) fez a patente da caneta tinteira, que se transformaria, em 1938, na caneta esferográfica. Veja a seguir um dos trabalhos do espanhol Juan Francisco Casas (nascido em 1976). TÓPICO 1 — A PRÁTICA DO DESENHO E DA PINTURA 9 FIGURA 3 – JUAN FRANCISCO CASAS FONTE: <http://carlosdamascenodesenhos.com.br/wp-content/uploads/2013/05/ballpoint-pen- -drawings4-550x733.jpg>. Acesso em: 28 nov. 2019. Entre os anos de 1192 e 1600, o desenho prosperou no Japão, afinal, os samurais deveriam saber sobre lutas, mas também sobre arte. É quando a tinta nanquim é criada, feita a partir de um pigmento negro constante em compostos de carbono queimado. Entretanto, a princípio, somente foi divulgada na China. Vemos esse material em trabalhos de Frans Kracjberg (1921-2017), que comunga com os orientais a reverência à natureza. FIGURA 4 – FRANS KRAJCBERG. RAÍZES, 1983 FONTE: <https://www.escritoriodearte.com/quadro/frans-krajcberg-raizes-nanquim-sobre- papel-4956g.jpg>. Acesso em: 28 nov. 2019. UNIDADE 1 — VISUALIDADE E CRIAÇÃO 10 A escolha do material a ser utilizado em um trabalho é fundamental para o resultado pretendido e para a mensagem que se quer dialogar. Assim, recomenda-se primar pela qualidade dos produtos e pela prática do desenho, ou seja, é necessário “fazer” para adquirir a destreza com o manejo das ferramentas. Agora, vamos conhecer os materiais básicos para um desenhista. 2.1.1 Lápis O lápis é composto de grafite moído com argila; dependendo da quantidade desses elementos, o tom será mais intenso ou suave. A classificação varia de H (Hard) até o B (Bland ou Black), este sendo mais macio, portanto, são os mais recomendados para o desenho artístico, uma vez que possibilitam traços escuros, grossos e sombreamentos. Já para o desenho técnico é utilizado um lápis com maior dureza, de modo que permite traços finos, claros e precisos. O tamanho padrão do lápis é 17,5 cm. NOTA Observe a classificação do lápis que você utiliza para a escrita, é provável que ele seja um HB, mediano na grade de classificação de tonalidades, próprio para esta finalidade. Há também o lápis F (Fine), que permite ter a ponta fina por um grande tempo. FIGURA 5 – ESCALA DE CINZA FONTE: <http://4.bp.blogspot.com/-9q1jZdQ1Zec/UUG2gVIDJnI/AAAAAAAADH0/2EZJ9nfEddw/ s640/tipos-de-lapis.jpg>. Acesso em: 28 nov. 2019. Existem ainda os grafites integrais, utilizados para grandes preenchimentos; são feitos somente com grafite e uma fina película protetora, isento da madeira envolta. Outra ferramenta que também pode ser utilizada é a lapiseira, cujas minas (a parte interna) são fabricadas em diferentes graduações. TÓPICO 1 — A PRÁTICA DO DESENHO E DA PINTURA 11 A grafite foi descoberta na mina de Cumberland (noroeste da Inglaterra) e logo obteve alto valor, sendo, inclusive, vendida no mercado negro. Pedaços do material eram envoltos em pele de ovelha para a prática do desenho. Somente com os incentivos de Napoleão (1769-1821), em 1795 Nicolas-Jacques Conté (1755-1805) descobriu o método de misturar em alta temperatura argila com grafite amorfa, que se tornou a base dos lápis que conhecemos hoje (SMITH, 2003). NOTA 2.1.2 Carvão O carvão foi utilizado pelos homens das cavernas; atualmente pode ser encontrado em forma de lápis, barra ou em pó. É feito com madeira carbonizada (usualmente ramos de videira ou salgueiro) e não permite muitos detalhes, assim, é interessante para traços amplos e para grandes superfícies de sombras. Observe que ele não adere firmemente ao suporte, por isso é necessário colocar um spray sobre a imagem, que compreende em uma solução de álcool e goma laca ou goma-arábica. Justamente por essa facilidade de desprendimento, é muito usado para esboços em telas. 2.1.3 Lápis de cor O lápis de cor tem sua fabricação a partir de três variáveis: • À base de goma: são os solúveis em água (aquareláveis). • À base de óleo: conhecidos como giz. • À base de cera: são os tradicionais (escolares). Os lápis aquareláveis soltam mais pigmentos do que os demais, portanto, é recomendável para desenhos que demandam vivas tonalidades. Os gizes marcam por demasiado o papel, assim, é necessário se valer deles sempre na mesma direção e, de preferência, em grandes áreas. Os lápis escolares permitem a mescla de cores, para tanto, é preciso estar atento à pressão sobre o papel. Se bem apontados, possibilitam a dureza para executar detalhes, do contrário, permitem sombreamentos. São viáveis para as sobreposições de cores, mas para o bom êxito deve-se começar pelas mais claras. UNIDADE 1 — VISUALIDADE E CRIAÇÃO 12 2.1.4 Giz pastel O giz pastel é uma ótima alternativa para quem quer se valer de efeitos dos traços de lápis e dos efeitos de cor da pintura, afinal, possui características de ambas as técnicas. Ele nada mais é do que um médio com aglutinante e pigmento, moldado em forma de barras. Há duas variantes desse material: • Pastel seco: é utilizado diretamente sobre o suporte; proporciona uma gradação muito suave e natural entre uma cor e outra. • Pastel a óleo: também denominado de giz de cera, sendo, então, viável para poucos detalhes e grandes superfícies. São macios e não quebram com tanta facilidade, ao contrário do que ocorre com os secos. O traçado tem efeito pastoso e brilhante, sendo ótimo para fazer veladuras. Muitos artistas utilizaram o pastel em seus trabalhos, a exemplo de Eugène Delacroix (1798-1863), Henri de Toulouse-Lautrec (1864-1901) e Pierre- Auguste Renoir (1841-1919). Outro que utilizou com maestria essa ferramenta foi Jean-Baptiste-Siméon Chardin (1699-1779), sobretudo com Autorretrato com Lunetas, feito poucos anos antes de falecer. FIGURA 6 – CHARDIN. AUTORRETRATO COM LUNETAS, 1771 FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Jean-Baptiste-Sim%C3%A9on_Chardin#/media/Ficheiro:- Chardin_pastel_selfportrait.jpg>. Acesso em: 12 dez. 2019. TÓPICO 1 — A PRÁTICA DO DESENHO E DA PINTURA 13 Sanguínea refere-se a um desenho elaborado com giz feito a partir de caulim e hematita, resultando em cor de sangue seco, daí seu nome. É utilizado de maneira semelhante ao carvão e pastel seco, precisando, também, de um verniz fixador. Quando utilizado com carvão vegetal e giz branco, era chamado de Técnica dos Três Gizes (uma transição do desenho para a pintura). Leonardo da Vinci, Rafael Sanzio (1483-1520), Peter Paul Rubens (1577-1640) e Jean Honoré Fragonard (1732-1806) foram exímios. IMPORTANT E FIGURA 7 – RUBENS. NICOLAAS RUBENS USANDO UM COLAR DE PÉROLAS, 1619 FONTE: <http://twixar.me/KxDm>. Acesso em: 28 nov. 2019. 2.1.5 Esfuminho Para intercalar tonalidades ou mesmo fazer um degradê tonal e sombreados, utiliza-se o esfuminho, que consiste em papel jornal enrolado no formato de um lápis. Como o próprio nome diz, serve para fazer esfumados, suavizando traços, tornando sutis as gradações de cor, cobrindo o branco do papel ou mesmo facilitando os volumes. Para utilizá-lo, basta fazer o desenho para, então, esfumar as áreas que se pretende suavizar. Esse procedimento também pode ser feito com o dedo,cotonete ou algodão, entretanto, o esfuminho garante uma maior precisão. A técnica do Sfumato é atribuída a Leonardo da Vinci e se deu a partir de desenhos a carvão e à sanguínea, tornando as imagens bidimensionais mais realistas e com bastante profundidade. Assim como os lápis, ele também tem diversas espessuras, geralmente de 1 a 6 (maior espessura). É preciso estar atento para que esteja limpo antes de passá-lo em uma área clara; para essa limpeza, pode ser usada uma lixa. UNIDADE 1 — VISUALIDADE E CRIAÇÃO 14 FIGURA 8 – DESENHO COM ESFUMINHO FONTE: <https://www.youtube.com/watch?v=ATcvyNHGoDU>. Acesso em: 28 nov. 2019. 2.1.6 Borracha, apontador e estilete Além de apagar riscos indesejados, a borracha também pode proporcionar efeitos interessantes no trabalho, a exemplo de um desenho em negativo (quando o fundo recebe o pigmento e as linhas são feitas com a retirada do material). A mais recomendada é a borracha limpa-tipo, uma vez que não borra e é maleável, absorvendo as menores partículas e traços fortes feitos com 6B. O apontador é utilizado para gerar pontas finas e uniformes, sobretudo nos lápis de cor. Já o estilete é o preferido pelos artistas em trabalhos em preto e branco, uma vez que não quebra a madeira e permite uma ponta alongada no lápis. 2.1.7 Papel O suporte para o desenho é o papel, por isso deve ser cuidadosamente escolhido, primando pelos livres de ácidos, para que não haja rápido amarelamento, conforme salientamos anteriormente. Uma possibilidade é a utilização de papéis de fibras de algodão, que possuem fibras mais longas e duráveis do que a celulose, entretanto, seu valor é muito maior. É importante verificar a gramatura do suporte (quanto mais alta, mais firme) e seu tamanho. Cabe observar que o tamanho A0 tem uma área de 1 metro quadrado. O tamanho dos papéis respeita o resultado obtido a partir da divisão do comprimento pela largura, que deve ser 1,4142, número já utilizado na Idade Média. NOTA TÓPICO 1 — A PRÁTICA DO DESENHO E DA PINTURA 15 FIGURA 9 – TAMANHO DOS PAPÉIS FONTE: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/8/8a/A_size_illustration. svg/800px-A_size_illustration.svg.png>. Acesso em: 27 abr. 2020. 2.2 O DESENHO NA CONTEMPORANEIDADE: OUTROS SUPORTES Se pensarmos que a defi nição de desenho se confi gura em torno de linhas, na contemporaneidade, ela se expande para outros suportes. Tal ideia originou-se a partir da noção de escultura no campo ampliado, de Rosalind Krauss (nascido em 1941). Neste viés, vemos trabalhos como o de Franz Weissmann (1911-2005), o qual afi rma em entrevista ao crítico de arte Frederico Morais (nascido em 1936): FM – Certa vez, defi niu sua escultura como um desenho no espaço. É assim ainda que encara sua escultura? FW – Eu me referia às esculturas lineares, que realizo até hoje. O fi o é o limite do plano espacial, a concretização da linha, que é bidimensional. Por isso, minhas esculturas lineares determinam um espaço virtual, tornando-se como desenho no espaço. FIGURA 10 – FRANZ WEISSMAN. TRÊS CUBOS VIRTUAIS, 1957 FONTE: <https://d3swacfcujrr1g.cloudfront.net/img/uploads/2000/01/000940005013.jpg>. Acesso em: 27 abr. 2019. UNIDADE 1 — VISUALIDADE E CRIAÇÃO 16 No livro A escultura no campo ampliado, Rosalind Krauss criou o termo a partir da junção da não paisagem e da não arquitetura. A autora discorre a respeito do que seria uma escultura, em oposição à crítica historicista e institucionalizante, desconstruindo genealogias categóricas, estendendo-a para o campo ampliado. FONTE: KRAUSS, R. A escultura no campo ampliado. Rio de Janeiro: Gávea, 1984. DICAS Preconizando a tridimensionalidade do desenho está Naum Gabo (1890-1977) com Cabeça de Mulher, em 1917. A partir de então, o desenho ganha espacialidade, a exemplo de Amélia Toledo (1926-2017), que propôs que as linhas estivessem no espaço com Medusa (1969), quando inseriu água, óleo e corantes em tubos de PVC. FIGURA 11 – AMÉLIA TOLEDO. MEDUSA, 1969 FONTE: <https://ameliatoledo.com/obra/escultura/#!lightbox/https://ameliatoledo.com/wp- -content/uploads/medusa-1969.jpg>. Acesso em: 28 nov. 2019. O tom poético aparece no belíssimo trabalho de Mira Schendel (1919- 1988), que desenha com perfurações. TÓPICO 1 — A PRÁTICA DO DESENHO E DA PINTURA 17 FIGURA 12 – MIRA SCHENDEL. PERFURADOS, 1970 FONTE: <https://www.moma.org/collection/works/94752>. Acesso em: 28 nov. 2019. Para finalizar o universo do desenho, veja o que propôs Lygia Clark (1920- 1988) ao espectador em 1966: um desenho na água. Que tal experimentar? FIGURA 13 – LYGIA CLARK. DESENHE COM O DEDO, 1966 FONTE: <https://www.historiadasartes.com/prazer-em-conhecer/lygia-clark/#jp-carousel-10847>. Acesso em: 28 nov. 2019. 3 O UNIVERSO DA PINTURA Os homens expressam-se por meio de imagens desde a era primitiva e a Antiguidade, mesmo após o advento da escrita. Houve inúmeras temáticas de acordo com a sociedade vigente, porém, percebemos uma unificação no cristianismo, quando proliferaram pinturas narrativas e icônicas com o propósito de meditação e oração diante delas. No Renascimento, surgiram os gêneros pictóricos, ou seja, os temas peculiares, a saber: Pintura Histórica, Retrato, Paisagem, Natureza-morta e Pintura de Gênero. Tal tipologia auxiliou no desenvolvimento da prática e do pensamento acerca da arte, de modo que alguns artistas se especializaram em um motivo singular, como os que elaboram grandes quadros representando UNIDADE 1 — VISUALIDADE E CRIAÇÃO 18 feitos notáveis históricos, como batalhas e coroações. Outro exemplo é o retrato, desenvolvido tecnicamente no período em questão, mas já visto na arte egípcia, grega e romana. Sobre ele, Horst Waldemar Janson (1913-1982) indica: “o retrato permite-nos vislumbrar um sem fim de traços de caráter que os dados históricos não nos podem proporcionar. [...] capta não apenas a semelhança física, mas também a alma do retratado” (JANSON, 1998, p. 20). A pintura histórica era tida como a de maior relevância e valor, uma vez que era por ela que a história de um país se assentava. Jean Baptiste Debret (1768-1848) foi notório nesse feito como pintor na corte napoleônica. Constituinte da Missão Francesa, documentou o território e o povo brasileiro. NOTA FIGURA 14 – JEAN BAPTISTE DEBRET. CALCETEIROS, 1824, AQUARELA SOBRE PAPEL FONTE: <https://d3swacfcujrr1g.cloudfront.net/img/uploads/2000/01/006803001013.jpg>. Acesso em: 7 dez. 2019. Foi na era renascentista que alguns pintores se interessaram pelo o que circundava os protagonistas, ou seja, pela paisagem, a exemplo de Giovanni Bellini (1430-1516) e Giorgio Barbarelli da Castelfranco, conhecido como Giorgione (1478-1510). No entanto, ela só ganhou a devida atenção no Romantismo, com William Turner (1775-1851), John Constable (1776-1837) e Caspar David Friedrich (1844-1900), atestando a magnitude da natureza e a pequenez humana. Cabe observar que o quadro era estruturado no ateliê, após a observação da natureza, fato que mudou depois do aparecimento da tinta em bisnaga. Assim, artistas como Paul Cézanne (1839-1906), Oscar-Claude Monet (1840- 1926), Eugène-Henri-Paul Gauguin (1848-1903) e Vincent van Gogh (1853-1890) puderam estudar a luz e o cromatismo ao ar livre, fazendo in loco seus quadros. Deixando de lado os temas mitológicos e históricos, o artista registra o mundo a partir de seu próprio olhar. TÓPICO 1 — A PRÁTICA DO DESENHO E DA PINTURA 19 Outro fator interessante que surge na área da representação é o alinhamento da pintura com a botânica, atribuindo valor artístico à pesquisa investigativa. Coelho (2008, s.p.) ratifica tal questão quando afirma que “a pintura (e a pintura de paisagens) já era uma atividade de síntese propondo a unidade entre as emoções (a estética), os atos (a moral) e o conhecimento (a lógica) – a unificação de todasas coisas”. Com procedência nas cenas religiosas feitas em ambientes populares, a natureza-morta se delineia nas mãos de Pieter Aertsen (1508-1575) e Jacopo Bassano (1510-1592). No entanto, é com Giuseppe Arcimboldo (1527-1593) que o simbólico adentra ao motivo. A seguir está Outono, de 1573, parte da série As Quatro Estações. FIGURA 15 – GIUSEPPE ARCIMBOLDO. OUTONO, 1573, ÓLEO SOBRE TELA FONTE: <https://www.historiadasartes.com/prazer-em-conhecer/giuseppe-arcimboldo/#jp-ca- rousel-4746>. Acesso em: 27 abr. 2020. As naturezas-mortas não tinham valor mercadológico no século XVII, com exceção das pertencentes às regiões da Reforma Protestante, onde registravam os bens das famílias burguesas que prosperavam. Nesse momento surge o termo pintura de gênero, que retratava a vida doméstica e cotidiana, distanciando-se dos temas religiosos (LICHTENSTEIN, 2006). Na primeira metade do século XX, mudanças substanciais na sociedade acarretaram em uma nova configuração no modo de vida e de pensamento dos sujeitos, afinal, duas guerras haviam se passado e um grande avanço tecnológico e científico. Surgiram questionamentos, rupturas e ressignificações também ocorreram na arte; afinal estética e pensamento acompanham o cenário mundial. Modernismo, globalização, arte contemporânea: a expressão dos artistas alavanca o pictórico na arte. Se por décadas vigorou a representação fiel do real (ou do divino), atualmente prima-se pela interpretação e pelo olhar particular, ou seja, pela poética e pelo pensamento. UNIDADE 1 — VISUALIDADE E CRIAÇÃO 20 Percebemos que questões sociais, econômicas, políticas e até religiosas influenciaram a produção pictórica, por isso, para um melhor entendimento acerca das obras, é importante dialogar com a produção artística com o circundante, com a sociedade na qual foi produzida. Além de observar o conceito e o simbólico das pinturas, é válido observarmos os materiais que os artistas dispunham para seus trabalhos, afinal, eles também são comunicantes. 3.1 TÉCNICAS E MATERIAIS A fim de conseguir expressar suas ideias, é preciso que o artista tenha acesso aos materiais e às técnicas mais adequadas para sua poética. São necessários uma boa prática e um constante aprendizado para que as ferramentas sejam facilitadoras do trabalho. O artista estuda seus materiais e métodos com a finalidade de adquirir o maior controle possível em suas manipulações, para que assim obtenha as melhores características da técnica que escolhe, expresse e transmita apropriadamente suas intenções e garanta a permanência de seus resultados. O eventual abandono de métodos já comprovados implicará um sacrifício de um desses objetivos. No entanto, aqueles que alcançam um domínio completo e inteligente dos princípios básicos são capazes de alterar com êxito os procedimentos estabelecidos, adaptando-os as suas necessidades individuais (MAYER, 2006, p. 5). Cada técnica e material possibilita uma gama de resultados, e ao artista se requer esse saber. Tal conhecimento também auxilia na decodificação de como as obras de outrora foram pintadas e quais as dificuldades encontradas no fazer, além de pensarmos em como tal quadro seria se se valesse dos materiais hoje existentes ou como ela seria se tivesse sido pintada com outra técnica. De todo modo, ao investigar e conhecer os materiais e as técnicas de pintura, o artista pode se valer do que melhor dialoga com o seu propósito. Veremos, então, algumas delas e suas principais características. 3.1.1 Pintura mural A pintura mural é tida como a primeira manifestação expressiva. Etruscos e romanos elaboraram inúmeros murais, muitos encontrados em Pompeia do século I d.C. Dos séculos XIII ao XVI, artistas italianos deram-na grande visibilidade, como Ambrogio Lorenzetti (1290-1348), Fra Angelico (1395-1455), Paolo Uccello (1397-1475), Masaccio (1401-1429), Piero dela Francesca (1416-1492), Andrea Mantegna (1431-1506), Sandro Botticelli (1445-1510), Domenico Ghirlandaio (1449-1494), Michelangelo di Lodovico Buonarroti Simoni, o Michelangelo (1475- 1564) e Rafael Sanzio (1483-1520). TÓPICO 1 — A PRÁTICA DO DESENHO E DA PINTURA 21 É a era dos afrescos, técnica que consiste na aplicação de pigmentos (diluídos em água ou água e cal) à argamassa ainda fresca. Dessa maneira, se dá a unificação dos componentes, como se a tinta passasse a integrar a parede, não estando sobreposta a ela. Tal fato garante uma grande durabilidade à pintura. Cabe ressaltar que é recomendável a utilização de pincéis de cerdas naturais para esse trabalho. Pesquise os afrescos a seguir: Capela Scrovegni (1304-1306), de Giotto di Bondone (1267-1337); A Criação de Adão (teto da Capela Sistina – Vaticano – 1508), de Michelangelo; A Representação da Assunção de Nossa Senhora (teto da Igreja Nossa Senhora de Assis – Ouro Preto – 1800-1809), de Manuel da Costa Ataíde (1762-1830); La Trinchera (1926), de José Clemente Orozco (1883-1949); A História do México (1935), de Diego Rivera (1886-1957); Del Porfirismo a la Revolucion (1954), de David Alfaro Siqueiros (1896-1974). DICAS Os muralistas Orozco, Alfaro Siqueiros e Rivera, ao se depararem com a dificuldade dos tradicionais afrescos e da inconstância do óleo, pesquisaram em laboratórios uma solução industrial, ou seja, um material resistente para seus murais, e conseguiram desenvolver o acrílico. Observe como Diego Rivera retratou na imagem do mural a seguir como era o trabalho de construção de um afresco. FIGURA 16 – DIEGO RIVERA. A PINTURA DUM FRESCO, 1931 FONTE: <http://www.sfmuralarts.com/pics/699.jpg>. Acesso em: 12 dez. 2019. UNIDADE 1 — VISUALIDADE E CRIAÇÃO 22 Na pintura mural contemporânea, há o manejo a seco dos materiais, exemplificado pela obra O Espírito do Soho (1991), em que são retratadas várias personalidades históricas. Nele foi usado o mosaico, a cerâmica e o cimento. IMPORTANT E 3.1.2 Encáustica A encáustica foi desenvolvida pelos gregos no século V a.C., quando os pigmentos foram diluídos em cera de abelha derretida e aplicada ainda quente sobre o suporte. Além da Grécia, Roma e Egito também foram locais para trabalhos à encáustica, que aparecem na época medieval e ressurgem na Alemanha do século XIX. A pintura com essa técnica é muito duradoura e com aparência de fresca mesmo depois de séculos, afinal, o material resiste às mudanças atmosféricas (exceto quando exposto à alta temperatura), reflete bem a luz e garante brilho após lustrada. Alguns procedimentos devem ser observados, como manter o recipiente da tinta aquecido durante o processo. Assim que aplicada à superfície, ela seca imediatamente, por isso as pinceladas são mais curtas, mas podem ser retrabalhadas com instrumentos quentes, como espátulas, ou direcionando uma fonte de calor para o suporte, que pode ser uma placa de madeira. Quanto aos pincéis, recomendam-se os de pelo macio e de cerdas naturais. Vale observar que para fazer veladuras, basta agregar pouco pigmento à cera, e para que ela ganhe resistência, convém adicionar 10% de cera de carnaúba. Veja a obra Retrato de uma Menina, encontrada no início da era cristã na necrópole de Fayum. FIGURA 17 – RETRATO DE UMA MENINA. SÉCULO II FONTE: < https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/f/f8/Portrait_du_ Fayoum_02.JPG/220px-Portrait_du_Fayoum_02.JPG>. Acesso em: 12 dez. 2019. TÓPICO 1 — A PRÁTICA DO DESENHO E DA PINTURA 23 Em 1930, Jasper Johns (1930-) embebeu papéis em cera para fazer suas colagens, agregando também a elas a pintura a óleo. Assim, esta técnica tão antiga ganha espaço na contemporaneidade. Outras obras recentes que se valeram da encáustica foram: Napoleon: Shavingat Austerlitz (1996-1998), de Tony Scherman (1950-); Ghost Dance/Pedmarks (1998), de Lynda Benglis (1941-); Cosmos (2000), de Martin Kline (1961-); e The WallStreet 100 (2006), de José Maria Cano (1959-). 3.1.3 Têmpera Muito utilizada até o século XV, a têmpera possui a gema do ovo em sua composição. Além desse elemento, a tinta é composta de água e pigmentos. Teve origem no bizâncio e na arte cristã primitiva, e divulgada massivamente pela Itália. De acordo com Mayer (2006, p. 22), “a têmpera de ovo continuou a ser o médium principal utilizado para pintura de cavalete na Europa até o desenvolvimento da pintura artística a óleo”. Apesar da rápida secagem do produto, todo o processo da pintura é lento, tendo em vista que é preciso dar uma pincelada de cada vez, para que não danifique ou desintegre a anterior. Isso gera um efeito de limpidez e luminosidade. A têmpera requer um suporte rígido, para que não haja rachaduras na tinta após a secagem. O mais indicado é o gesso, que pode ser aplicado sobre a madeira antes de iniciar a pintura. Para intensificar o brilho e dar uma noção de envernizamento, basta polir a superfície, que é impermeável. Recomenda-se a utilização de pincéis com pelo de marta (ou sintéticos) compridos, redondos e pontiagudos. Veja a seguir como Boticelli utiliza com maestria essa tinta. FIGURA 18 – SANDRO BOTICELLI. VIRGEM COM O MENINO E SÃO JOÃO BATISTA CRIANÇA. 1470-1475 FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_pinturas_de_Sandro_Botticelli#/media/Fichei- ro:Botticelli_04_Louvre.jpg>. Acesso em: 27 abr. 2020. UNIDADE 1 — VISUALIDADE E CRIAÇÃO 24 Procure pelas pinturas a seguir, feitas com têmpera: Díptico de Wilton (1395-1399), de um pintor anônimo; Retrato duma Jovem (1490), de Domenico Ghirlandaio (1449-1494); A Deposição de Cristo (1490), de Andrea Mantegna (1431- 1506); A Adoração dos Magos (1485-1486), de Sandro Boticelli; Sagrada Familia (1503), de Michelangelo Buonarroti (1475-1564); Jesus Cristo Crucificado (1515), de Matthias Grünewald (1470-1528); Mercúrio passando atrás do Sol (1914), de Giácomo Balla (1871-1958). DICAS 3.1.4 Aquarela A aquarela surgiu há mais de dois mil anos, na China, entretanto, sua paternidade foi dada ao artista e cartógrafo John White, que dela se valeu para retratar a vida na América do Norte no século XVI. Nesse momento, ela ainda era considerada apenas uma ferramenta para estudos/esboços (SMITH, 2003). A técnica se aflora e se desenvolve com leves pinceladas e com o aproveitamento do fundo branco do papel para áreas claras, gerando muita luminosidade. Podemos ver essas características nos trabalhos de Paul Sandby (1731-1809), John Robert Cozens (1752-1797), Thomas Girtin (1775-1802), Willian Turner (1775-1851), John Constable (1776-1837), John Sell Cotman (1782-1842) e David Cox (1783-1859). Para a pintura em aquarela recomendam-se pincéis macios e de pelo natural, como de marte e de esquilo, além de esponjas, panos e lixas, para as texturas. Para o suporte, os isentos de ácido são os mais adequados. Veja o que Ralph Mayer (1895-1979) fala sobre os papéis: Os manuscritos mais antigos na Europa eram feitos em um papel preparado a partir do papiro egípcio; durante a Idade Média, o pergaminho e o velino o substituíram; e o papel feito de fibras de linho entrou em uso por volta do século XIII. O melhor papel permanente para aquarelas é feito com extremo cuidado a partir de tiras (se possível, sem polpa de madeira) de linho e/ou algodão, [...] não se pode utilizar nenhum produto químico, com exceção do carbonato de cálcio e de tensoativos, dos quais o excesso é destruído e neutralizado por meios que deixem os resíduos menos danosos no papel. Os melhores papéis de aquarela não devem conter alvejantes. [...] Os bons papéis da Renascença italiana não continham alvejantes, eram feitos à mão com o maior cuidado e, segundo escritos póstumos, provavelmente alvejados pela exposição ao Sol e ao ar. A imensa indústria de papel moderna, com todos os seus refinamentos técnicos, é baseada na produção em massa, e mesmo na sua manufatura mais cuidadosa e de qualidade para os mais requintados propósitos comerciais, é completamente diversa da indústria relativamente menos aparatosa que produz papéis para os artistas (MAYER, 2006, p. 360). TÓPICO 1 — A PRÁTICA DO DESENHO E DA PINTURA 25 Os pincéis sintéticos são feitos de monofilamentos de poliéster, que absorvem a tinta e a liberam mais rapidamente do que os naturais. NOTA Procure pelas aquarelas a seguir: Asa de Rolieiro (1512), de Albrecht Dürer; Castelo de Windsor (1760), de Paul Sandby; Lago Albano e Castelo Gandolfo ao Amanhecer (1777), de John Robert Cozens; Erupção do Vesúvio (1817), de Willian Turner; Greta Bridge (1806), de John Sell Cotman; Colhedor de Fruta (1923), de Georgina de Albuquerque. DICAS Dentre os aquarelistas contemporâneos estão Marcos Beccari (nascido em 1987), Joseph Zbukvic (nascido em 1952), Marcelo Daldoce (nascido em 1979), Júlia Barminova (s.d.), Blanca Alvarez (nascida em 1957), Stephanie Boechat (s.d.), Thierry Duval (s.d.), Pedro Varela (nascido em 1974), Ryohei Toyonaga (s.d.) e a têxtil designer Irina Kay (s.d.). Ganham destaque também as pinturas de gênero da estadunidense Mary Whyte (nascida em 1953). FIGURA 19 – MARY WHYTE. WINDOW WASHER, S.D. FONTE: <https://www.cbsnews.com/pictures/mary-whyte-we-the-people-portraits-of-veterans/>. Acesso em: 12 dez. 2019. UNIDADE 1 — VISUALIDADE E CRIAÇÃO 26 Úmido sobre úmido é uma técnica de aquarela que consiste em molhar o papel e secá-lo depois com um papel absorvente para, então, aplicar a tinta. Nesse intento, Emil Nolde (1867-1956) se valeu da neve que caía no inverno para criar efeitos sobre suas aquarelas. NOTA O “Dia Mundial da Aquarela” é comemorado em 23 de novembro, data sugerida pelo aquarelista mexicano Guati Rojo (1918-2003). INTERESSA NTE 3.1.5 Guache Guache provém da palavra italiana guazzo; surgiu no século XIV, no momento em que um monge adicionou branco à tinta aquarela, obtendo maior densidade, opacidade, fluidez e superfície mais lisa em suas iluminuras. Em sua produção, há mais pigmento e glicerina do que na aquarela, deixando-a mais espessa e solúvel (SMITH, 2003). Justamente pelo efeito uniforme, Henri-Émile-Benoît Matisse (1869- 1954) cobria a tela com guache antes de aplicar as colagens. Também pintava previamente papéis e elaborava suas colagens, com suas formas recortadas. A seguir está provavelmente a última produção do artista, em que se representa como rei, negro, com violão na mão, dando adeus à vida. FIGURA 20 – MATISSE. A TRISTEZA DO REI, 1952 FONTE: <https://s3-eu-west-2.amazonaws.com/pontosj/wp-content/uplo- ads/2018/08/31151628/42342-768x548.jpg>. Acesso em: 27 abr. 2020. TÓPICO 1 — A PRÁTICA DO DESENHO E DA PINTURA 27 Uma pintura a guache pode, se a pessoa assim o desejar, ser pintada em campos de cor deliberadamente aplicados, lisos e impecáveis, e com linhas precisas; porém o uso que normalmente se dá ao guache é o de uma pintura com efeitos livres, de fluidez espontânea, ou de pinceladas fortes e vistosas. Uma pintura a guache bem executada deste gênero não deve ter empastamento muito pesado ou espessura anormal de camadas de tinta, pois poderá rachar [...] (MAYER, 2006, p. 369). A pintura pode ser feita sobre madeira, tela ou papel com gramatura superior a 180 g/m², e este pode ser colorido, de modo a realçar tons claros e escuros. Quanto aos pincéis, são os mesmos para aquarela. 3.1.6 Pintura a óleo Apesar de a tinta a óleo ser atribuída aos irmãos Hubert (1366-1426) e Jan (1390-1441) Van Eyck, há registros do preparo de um óleo secante no Manuscrito de Estrasburgo e no Il Libro dell’Arte, de Cennino Cennini (1370-1440). Sua popularidade se deu no século XV, em Veneza, propagando-se por toda a Europa. As tintas para esta técnica são produzidas a partir de pigmentos moídos aglutinados a um óleo, como o de linhaça. Entretanto,para os de coloração branca, utiliza-se o óleo de papoula, girassol ou noz. É recorrente diluir essa mistura à terebintina, aguarrás ou óleo de rosmaninho. Demanda-se o cuidado intenso com a manufatura das tintas, tendo em vista que o excesso de óleo causa amarelamento e enrugamento, e quando escasso, as deixam secas e quebradiças. O que se intenta é um produto maleável e viscoso, que quando seca, mantém a tonalidade das cores. Para as pinturas com tinta a óleo, recomendam-se painéis de madeira ou de alumínio previamente preparados com uma camada de gesso, além de telas também preparadas com uma solução apropriada, geralmente óleo com branco de titânio. Paul Klee (1879-1940) pintou diretamente sobre a juta, mas antes, precisou acrescentar uma camada de goma. Procure pelas pinturas a seguir: Cristo Crucificado com a Virgem Maria, Santos e Anjos (1502-1503), de Rafael Sanzio; Senésio (1922), de Paul Klee; Anjos (1988), de Adriana Varejão (nascida em 1964). DICAS UNIDADE 1 — VISUALIDADE E CRIAÇÃO 28 Além de pincéis, a tinta a óleo permite a utilização da espátula, conferindo o empasto na tela, conforme o quadro de Alan Cotton (nascido em 1938). FIGURA 21 – ALAN COTTON. DEVON – CRAGGY ROCKS NEAR HARTLAND QUAY, 1980 FONTE: <https://wsimag.com/messums-gallery/artworks/51590>. Acesso em: 27 abr. 2020. Para a sua exposição Polvo, Adriana Varejão propôs a criação de tintas a óleo que abrangessem a tonalidade de pele dos brasileiros, saindo das predeterminações. A obra se iniciou a partir de uma pesquisa do IBGE de 1976, cuja pergunta era “qual a sua cor”. Polvo é o nome do conjunto de tintas idealizado e criado por Adriana. O ponto de partida para a criação deste trabalho foi uma pesquisa de campo elaborada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 1976. Normalmente, o censo oficial brasileiro classificaria as pessoas em cinco grupos diferentes de acordo com sua cor de pele: branco, preto, vermelho, amarelo e pardo. Naquele ano, no entanto, a pesquisa domiciliar introduziu uma questão em aberto: “Qual é a sua cor?”. O resultado foi 136 termos, alguns deles inusitados, cujos significados são muito mais figurativos do que literais. A artista selecionou os 33 termos mais exóticos, poéticos ou vinculados a uma interpretação especificamente brasileira de cor como suposto social, e a partir deles criou as suas próprias tintas a óleo baseadas em tons de pele. Assim, surgiram as cores ‘Fogoió’, ‘Enxofrada’, ‘Café com leite’, ‘Branquinha’, ‘Burro quando foge’, ‘Cor firme’, ‘Morenão’, ‘Encerada’, ‘Queimada de sol’, entre outras. O resultado mais imediato desse processo é um objeto de arte – uma caixa com 33 tubos de tinta e cuidadosa tecnologia industrial, em versão bilíngue (múltiplo com tiragem de 200 exemplares). Varejão também apresenta uma série de pinturas, intituladas Polvo Portraits (China Series), elaboradas a partir dessas tintas, montadas formando um grande painel. FONTE: <http://fdag.com.br/exposicoes/polvo/>. Acesso em: 10 abr. 2020. INTERESSA NTE TÓPICO 1 — A PRÁTICA DO DESENHO E DA PINTURA 29 FIGURA 22 – ADRIANA VAREJÃO. TINTAS POLVO, 2013 FONTE: <http://fdag.com.br/app/uploads/exposicoes/61203595_big-380x256.jpg>. Acesso em: 27 abr. 2020. 3.1.7 Acrílica Na procura por uma tinta resistente às intempéries e que secasse com rapidez, os muralistas mexicanos chegaram às tintas de polímero, conhecidas como acrílicas. Ao contrário dos óleos e da aquarela, os acrílicos são recentes, mas sua durabilidade e secagem rápida (aproximadamente 30 minutos), aliadas à possibilidade de simular os efeitos das aguadas e as camadas dos pigmentos a óleo, angariaram muitos adeptos, como David Hockney (nascido em 1937) na cena a seguir, em que não vemos qualquer figura humana no sol californiano, apenas sua indicação sob a água azul. FIGURA 23 – DAVID HOCKNEY. O GRANDE MERGULHO, 1967 FONTE: <https://2.bp.blogspot.com/-Fq2mG1KNTPM/VwFv4ArRuGI/AAAAAAAASPU/WN4IaIm- PMK82sj-f3BaWAyrn20rhZFUawCKgB/s320/3490.BMP>. Acesso em: 27 abr. 2020. A tinta foi divulgada em um curso de David Alfaro Siqueiros nos anos 1930, tendo Jackson Pollock (1912-1956) como um de seus participantes. O acrílico tornou-se ideal para seus drippings. UNIDADE 1 — VISUALIDADE E CRIAÇÃO 30 Muitos pintores estão agora trabalhando em estilos muito diversos daqueles do passado e em circunstâncias radicalmente diferentes daquelas que prevaleciam antigamente, e, para atender as suas novas exigências, procuram materiais novos dentre os inúmeros materiais industriais de revestimento baseados em resinas sintéticas (MAYER, 2006, p. 280). Uma grande vantagem da acrílica é a sua solubilidade em água, entretanto, depois de seca na tela, deixa de ser solúvel, permitindo sobreposições de tinta no mesmo dia, sem craquelar. Há médiuns, espessantes, vernizes, tanto para acelerar quanto para retardar a secagem ou mesmo para dar uma camada protetora à pintura. Para o suporte, pode-se utilizar algodão, linho ou poliéster e sobre o tecido aplica-se uma base acrílica transparente e um gesso acrílico. Veja a obra Campbell’s Soup Cans (1962), de Andy Warhol (1928-1987); Três Cadeiras com uma Sessão de um Mural de Picasso (1970), de David Hockney; e Número 13 (1958), de Mark Rothko (1903-1970), quando o artista une óleo e acrílico. DICAS 3.2 A PINTURA NA CONTEMPORANEIDADE: A PREDOMINÂNCIA DO CONCEITO Se no desenho predominam as linhas, na pintura a predominância é da cor. É a partir desse pensamento que artistas reconfiguram essa linguagem depois do surgimento da arte conceitual, das novas mídias e da arte neoconcreta. Assim, contrariando a morte da pintura, tão divulgada no início do século XX, aparece o pensamento pictórico nas poéticas dos artistas, ganhando nova visualidade, em novos suportes, seguindo as transformações de sua época. A presença da pintura é ressignificada, de modo que o conceito e as problemáticas dessa mídia ainda sobrevivem, conforme afirma Moraes (2005, p. 1): “a pintura é hoje um rico acervo de conceitos que passou a ser exercitado e expandido também em outros materiais e processos”. Ela se manifesta agora para além das tintas e pincéis, fato possível justamente porque há uma rica e calcada história da pintura: da prática e do pensamento acerca da obra de arte e da função do artista. Assim, ela se amplia na contemporaneidade, como no trabalho de Dan Flavin (1933-1996), que usa a luz para pintar. TÓPICO 1 — A PRÁTICA DO DESENHO E DA PINTURA 31 FIGURA 24 – DAN FLAVIN. A PRIMARY PICTURE, 1964 FONTE: <https://uploads3.wikiart.org/images/dan-flavin/a-primary-picture-1964.jpg>. Acesso em: 27 abr. 2020. Abraham Palatnik (nascido em 1928) elabora o “Aparelho Cinecromático”, composto por uma tela de plástico na qual são projetadas cores e formas que se movimentam fluidamente. Isso é possível a partir da condução elétrica feita com 600 metros de fios. FIGURA 25 – ABRAHAM PALATNIK. APARELHO CINECROMÁTICO 2SE-18, 1955 FONTE: <https://i.pinimg.com/236x/c0/10/b8/c010b8736290f2b947ba9dc1053d4ff0--moholy- -nagy-first-time.jpg>. Acesso em: 27 abr. 2020. Dando ênfase à matéria, vemos Elida Tessler (nascida em 1961), que pinta com as marcas de ferrugem na obra Fundo de Rumor mais macio que o silêncio. A paisagem se edifica ao longo da exposição, com a oxidação da palha de aço na altura dos olhos, ou seja, na linha do horizonte. Assim, ela deixa sua memória. UNIDADE 1 — VISUALIDADE E CRIAÇÃO 32 FIGURA 26 – ELIDA TESSLER. FUNDO DE RUMOR MAIS MACIO QUE O SILÊNCIO, 2003/2004 FONTE: <http://1.bp.blogspot.com/-EfMeHbYnk1c/UWNK_F4e0KI/AAAAAAAAChY/Zj9m1vl0R3k/ s320/elida_2.jpg>. Acesso em: 27 abr. 2020. De fato, as questões conceituais da pintura migram para a escultura, instalação, fotografia, vídeo, espaços híbridos. Na arte há uma imbricação de linguagens, sem mais categorizações definidas, surgindo inúmeros meios, recursos e mesmonovas terminologias, acompanhando o mundo circundante. 33 Neste tópico, você aprendeu que: • Vivemos em uma sociedade imagética e antes mesmo da escrita a imagem é um meio de comunicação. • Saber ver os objetos e o mundo é extremamente importante para o criador de imagens. • O desenho é utilizado desde a Antiguidade e não perdeu relevância após o surgimento da escrita. • O papel foi inventado pelos chineses. Deve-se escolher os livres de ácidos como suporte para o desenho. • A lei da perspectiva aparece no Renascimento, período em que os artistas passam a assinar seus trabalhos. • A escolha do material a ser utilizado em um trabalho é fundamental para o resultado pretendido e para a mensagem que se quer dialogar. • O lápis classifica-se entre H (Hard) até o B (Bland ou Black). • Carvão, lápis de cor, giz pastel e sanguínea também são muito utilizados para a expressão artística, além do nanquim e da caneta esferográfica, entre tantos outros materiais. • O esfuminho auxilia os sombreados, a técnica é atribuída a Leonardo da Vinci. • Os gêneros pictóricos são: Pintura Histórica, Retrato, Paisagem, Natureza- morta e Pintura de Gênero. • Pintura mural, encáustica, têmpera, aquarela, guache, óleo e acrílica são técnicas utilizadas até hoje, algumas reconfiguradas. • Na contemporaneidade, podemos ver desenhos e pinturas no campo expandido, ou seja, artistas se valendo de outros materiais, enfatizando o conceito dessas linguagens. RESUMO DO TÓPICO 1 34 1 O desenho nos acompanha desde o surgimento da humanidade. A respeito dele, indique a alternativa INCORRETA: a) ( ) Os Bizantinos foram os precursores na utilização do desenho para a cartografia. b) ( ) O papel era extremamente rentável, por isso a técnica de sua fabricação ficou em segredo por mais de 500 anos. c) ( ) Desenhos a carvão, giz pastel e sanguínea precisam de verniz fixador. d) ( ) Caneta esferográfica também pode ser um material expressivo, a exemplo dos trabalhos de Juan Francisco Casas. 2 A pintura é a grande representante das artes visuais. A respeito dessa linguagem, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Na técnica de encáustica utiliza-se a cera de abelha e ela deve ser posta fria no suporte. b) ( ) O guache foi descoberto diluindo-se a tinta a óleo. c) ( ) A tinta acrílica foi desenvolvida pelos muralistas mexicanos. d) ( ) A morte da pintura foi divulgada e atestada no século XIX. 3 Existem muitas técnicas de desenho, dentre elas a de observação. Para desenvolver esta técnica é necessário, antes de iniciar um desenho, visualizar um objeto. Portanto, ter uma memória visual é muito importante. Antes da fotografia, era ele quem fazia o registro do real e é utilizado até hoje em lugares que as câmeras não são permitidas, como em alguns tribunais. Assim, nosso terceiro exercício é uma proposta de desenho: primeiro, escolha um objeto e o coloque em sua frente. Observe atentamente todos os seus pormenores. Em seguida, vire-se de costas e tente desenhá-lo. É muito mais difícil elaborar um desenho ou uma pintura observando um objeto tridimensional do que uma imagem bidimensional. Para facilitar, tampe um dos olhos, assim, com um olho apenas, temos a visão plana do objeto. AUTOATIVIDADE 35 TÓPICO 2 — UNIDADE 1 A CONSTRUÇÃO DA IMAGEM 1 INTRODUÇÃO Nossa tradição constitui-se de uma estreita relação com o mundo das imagens, em que criamos signos e símbolos, edificando uma cultura visual. O mundo imagético é denso de sentidos, de intencionalidade, possibilitando-nos descortinar hábitos e costumes de seus criadores, por isso tantos profissionais, como os antropólogos, adentram a sua análise. Atentamos para o fato de que após a fixação da palavra escrita, ela não substituiu a imagem, embora firmam um próximo convívio e diálogo, a exemplo dos hieróglifos e de inúmeros registros visuais que aparecem acompanhados dos escritos. Observamos também que a escrita se deu a partir de um domínio especializado, fato este ratificado pela existência dos escribas; assim o é com a leitura. Ambas ainda hoje são restritas socialmente. De todo modo, muitos grupos identificam-se com a expressão visual, sobretudo após o advento da fotografia cotidiana. A imagem, assim, mostra a diversidade social e a pluralidade. O mundo tornou-se imagético, mas não temos o hábito de pensarmos no processo de produção das imagens. Já os artistas se debruçaram por muitos séculos sobre essa questão e elaboraram teorias acerca dos elementos da linguagem visual e compositivos. Eles são larga e amplamente utilizados em várias mídias (até mesmo televisivas e cinematográficas), atestando que uma obra não é constituída somente por inspiração, mas por transpiração, e exige um árduo trabalho. Como nos diz Ernst Gombrich (1993, p. 17), “em última análise, nessas obras, os grandes mestres entregaram-se por inteiro, sofreram por elas, sobre elas suaram sangue e, no mínimo, têm o direito de nos pedir que tentemos compreender o que quiseram realizar”. Justamente para apreendermos melhor a intencionalidade dos criadores de imagem, debruçaremo-nos neste tópico sobre o que consiste a cultura visual e os elementos e preceitos utilizados na criação. Vamos iniciar? 36 UNIDADE 1 — VISUALIDADE E CRIAÇÃO 2 CULTURA VISUAL O que você compreende quando se fala em imagem e em visual? Perceba que quando mencionamos essas palavras, já nos remetemos a tudo que é possível de ser visto, assim, o sentido da visão ganha realce, mesmo sabendo que é possível construir imagens em nosso pensamento. Como a cultura se relaciona com o visual? Historicamente, estamos imersos em uma sociedade, com suas produções culturais inseridas em um espaço e no tempo, assim, cultura e mundo das imagens estão amalgamados. Etimologicamente, o termo cultura vem de culturae, que significa tratar, cultivar tanto a terra quanto a psiché e os conhecimentos. NOTA O termo cultura visual pode englobar uma variedade de formas de representação, desde as artes visuais e o cinema, até a televisão e a propaganda, atingindo ainda áreas em que, em geral, não se tende a pensar em cultura visual – as ciências, a justiça, a medicina, por exemplo. A cultura visual se ocupa da diversidade do universo de imagens (MONTEIRO, 2008, p. 131). Cultura visual refere-se ao conjunto de imagens que participam de nosso cotidiano por meio da linguagem artística, publicitária, científica, tecnológica, criando um universo imagético que vai compondo a cultura. Por isso é interessante saber compreender/ler as imagens, pois elas nos acompanham secularmente e são acessadas por uma gama maior da população do que a linguagem verbal. O crítico de arte britânico John Berger (1926-2017) indica que “só vemos aquilo que olhamos. Olhar é um ato de escolha” (BERGER, 1999, p. 10). Ele é autor do livro Modos de Ver, edificado a partir de uma série televisiva produzida pela BBC, que aborda o diálogo entre a história da arte e a utilização das suas imagens pela sociedade do consumo. Não deixe de assistir: https://www.youtube.com/watch?v=dijaKEzXzD8. DICAS TÓPICO 2 — A CONSTRUÇÃO DA IMAGEM 37 De fato, estamos imersos em imagens em todas as esferas da vida em sociedade, advindas de várias fontes: outdoors, letreiros luminosos, mundo virtual e televisivo, sejam estáticas ou em movimento, de modo que raramente estamos delas desconectados. Preocupamo-nos, inclusive e enfaticamente, com a nossa própria imagem e seus desdobramentos. Muitas vezes, vemos as pessoas mais interessadas em registrar a sua presença com um quadro em um museu do que em ver a própria pintura. Essas questões fazem parte dos questionamentos da cultura visual, que se propõe a contextualizar a vida cotidiana (LAMPERT, 2009). Nesse intento, sobre os conceitos de cultura
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