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Lei de Faraday e Indução Eletromagnética APRESENTAÇÃO A Lei de Faraday e a Lei de Lenz explicam o funcionamento de motores elétricos, transformadores e até de uma guitarra elétrica. Em todos os casos, um campo magnético por meio de um conjunto de espiras varia. A taxa de variação temporal do fluxo magnético produz uma força eletromotriz capaz de criar uma corrente elétrica que pode ser útil para realizar algum tipo de trabalho. Um gerador de energia de uma usina hidrelétrica, um freio magnético e um sistema KERS (Kinetic Energy Recovery System - Sistema de recuperação de energia cinética) também são exemplos que usam os princípios da Lei de Indução Faraday-Lenz para transformar um tipo de energia em outro. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai aprender como a variação de um fluxo magnético produz uma força eletromotriz em uma espira (ou em um conjunto delas, como, por exemplo, uma bobina). A partir de dois experimentos simples que Michel Faraday realizou, você será capaz de compreender a equação da indução eletromagnética, bem como suas implicações e propriedades. O sentido da corrente elétrica induzida também será discutido a partir da Lei de Lenz. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Explicar qualitativamente o conceito de fluxo magnético.• Aplicar a lei de Faraday e as diferentes formas possíveis de gerar uma Força Eletromotriz - FEM induzida. • Enunciar a lei de Lenz.• DESAFIO A Lei de indução de Faraday (vamos tratar sobre ela logo mais) foi intrigante para os cientistas da época. Isso porque a descoberta de que uma carga em movimento gerava um campo magnético em sua volta já foi uma surpresa, e a descoberta de que um campo magnético poderia produzir um campo elétrico, e assim conduzir também corrente, foi mais surpreendente ainda. Existia um link aí, que o cientista Michael Faraday (1791-1867) e outros cientistas da época desvendaram experimentalmente e o quantificaram. Um experimento que auxilia na compreensão do conteúdo é o freio magnético em um tubo metálico condutor. O experimento é bem simples, e você pode fazê-lo em casa muito facilmente. Para tanto, você vai precisar de: - Um imã em formato cilíndrico ou próximo de cilíndrico. - Um outro objeto com o mesmo formato cilíndrico (ou próximo de cilíndrico), que seja igual ou parecido com o imã. Para fins práticos, aqui, usamos um pequeno cilindro de acrílico. - Um tubo metálico com diâmetro um pouco maior que o imã, e o cilindro de acrílico (pode ser um tubo de cobre, daqueles utilizados em algumas residências para encanamento de água). - Um tubo de acrílico (ou PVC), de mesmo diâmetro e comprimento do tubo metálico. Acompanhe o procedimento, nas imagens a seguir, para realizar o experimento. INFOGRÁFICO Nos dias de hoje, as aplicações da Lei de indução de Faraday são inúmeras, como, por exemplo, na produção da energia elétrica a partir do giro da turbina, a utilização de transformadores, guitarras elétricas, trens elétricos e magnéticos, fornos de fundições em metalúrgicas, entre outras tantas. Neste Infográfico, você verá uma explicação do experimento de Faraday, em que a variação do fluxo magnético passando por uma ou mais espiras produz uma força eletromotriz induzida na espira. CONTEÚDO DO LIVRO A variação temporal do fluxo magnético sobre a área de uma espira (ou de várias espiras) causa o aparecimento de uma força eletromotriz na espira. Esse é o princípio de funcionamento de um gerador de energia elétrica em uma usina hidrelétrica. Também tem aplicação em todos os tipos de motores elétricos que, a partir da energia elétrica de uma bateria ou fonte de energia elétrica, é capaz de transformar tal energia em energia mecânica. Os transformadores de energia elétrica também são baseados no princípio da indução eletromagnética. No capítulo Lei de Faraday e indução eletromagética que faz parte do ivro Eletromagnetismo e é base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você verá a Lei de Faraday a partir de um experimento utilizando um imã e uma espira ligada a um amperímetro. Como constatou Faraday, a variação do fluxo magnético com o tempo acaba gerando uma corrente elétrica na espira, que tem o seu sentido indicado pela Lei de Lenz. A junção das duas leis, muitas vezes chamada Lei de Faraday-Lenz, explica a indução eletromagnética que tanto nos é útil no dia a dia. Boa leitura. ELETROMAGNETISMO Ivan Rodrigo Kaufman Lei de Faraday e indução eletromagnética Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Explicar qualitativamente o conceito de fluxo magnético. Aplicar a lei de Faraday e as diferentes formas possíveis de gerar uma força eletromotriz induzida (fem) induzida. Enunciar a Lei de Lenz. Introdução A Lei de Faraday e a Lei de Lenz explicam o funcionamento de moto- res elétricos, transformadores e, até mesmo, uma guitarra elétrica. Em todos os casos, um campo magnético varia através de um conjunto de espiras. A taxa de variação temporal do fluxo magnético produz uma força eletromotriz capaz de criar uma corrente elétrica que pode ser útil para realizar algum tipo de trabalho. Um gerador de energia de uma usina hidrelétrica, um freio magnético e um sistema KERS (kinetic energy recovery system – sistema de recuperação de energia cinética) também são exemplos que usam os princípios da Lei de Indução Faraday-Lenz para transformar um tipo de energia em outro. Neste capítulo, você vai aprender como a variação de um fluxo mag- nético produz uma força eletromotriz em uma espira (ou em um conjunto delas, como, por exemplo, uma bobina). A partir de dois experimentos simples realizados por Michel Faraday, você será capaz de compreender a equação da indução eletromagnética, bem como suas implicações e propriedades. O sentido da corrente elétrica induzida também será discutido a partir da Lei de Lenz. Experimento de Faraday A hidrelétrica de Itaipu, localizada em Foz do Iguaçu/PR, gera energia elétrica a partir da queda da água de um gigante reservatório. A partir da geração da energia elétrica pelas turbinas, a energia é, então, distribuída para todas as casas em um raio próximo de sua localização. Mas grande parte da energia elétrica gerada é também enviada para a cidade de São Paulo/SP, onde a de- manda energética é muito grande. Para viajar distâncias tão grandes, os cabos elétricos, que fazem a ligação entre as duas cidades, conduzem a eletricidade em altas tensões, de modo a diminuir a perda energética por meio do efeito Joule (aquecimento dos fi os condutores). A geração da energia elétrica, bem como a elevação e posterior diminuição da tensão, são baseadas no princípio da Lei de indução de Faraday. A Lei de indução de Faraday (vamos tratar sobre ela logo mais) foi intrigante para os cientistas da época. Isso porque a descoberta de que uma carga em movimento gerava um campo magnético em sua volta já foi uma surpresa, e a de que um campo magnético poderia produzir um campo elétrico, e assim conduzir também corrente, foi mais surpresa ainda. Existia um link aí, que Michael Faraday (1791-1867) e outros cientistas da época desvendaram expe- rimentalmente e quantificaram. Nos dias de hoje, as aplicações são inúmeras, como, por exemplo, na produção da energia elétrica a partir do giro da turbina, a utilização de transformadores, guitarras elétricas, trens elétricos e magnéticos, fornos de fundições em metalúrgicas, entre outras tantas. Para chegarmos à Lei de Faraday propriamente dita, vamos considerar e discutir o experimento que levou Faraday a se perguntar o porquê do fenô- meno observado. Vamos a ele. Caso você tenha um ímã, um fio condutor e um amperímetro (um aparelho multiteste possui a função de amperímetro) ao seu alcance, você pode fazer a verificação experimental daquilo que será abordado em seguida. AFigura 1 ilustra o aparato experimental simples, que consiste em uma espira ligada em série com um amperímetro. Como não existe nenhuma bateria ou outra fonte de força eletromotriz incluída, não há passagem de corrente pela espira. Assim, o amperímetro permanece com seu ponteiro inalterado. Mas, Lei de Faraday e indução eletromagnética2 quando um ímã é aproximado da espira, o amperímetro detecta a passagem de corrente através desta. E quanto mais rápido o ímã passa pela espira, maior é a indicação de passagem de corrente. Se o ímã, ao invés de ser inserido para dentro da espira, é retirado de dentro dela, também surge uma corrente no amperímetro, porém, desta vez, no sentido contrário. Agora, mais interessante que isso, é quando o ímã é inserido para dentro da espira, fazendo a corrente fluir através do amperímetro, e repousa lá dentro. Ou seja, o ímã é colocado dentro da espira e lá permanece em repouso. Nesse caso, nenhuma corrente é detectada no sistema. A corrente é detectada somente quando o ímã se move em relação à espira. Ainda existe mais um resultado interessante a ser discutido. Quando você aproximar o ímã pelo seu lado norte em relação à espira (igual ao representado na Figura 1), a corrente flui no sentido horário. Já, quando você afasta o polo norte do ímã em relação à espira, uma corrente no sentido anti-horário aparece. A situação repete-se quando o ímã aponta o seu lado sul em relação à espira, porém as correntes são no sentido contrário do exemplo com o polo norte. Ou seja, o polo sul, aproximando-se, induz uma corrente no sentido anti-horário e, afastando-se, induz uma corrente no sentido horário. Podemos resumir o que vimos na teoria aqui (porém, experimentalmente, você pode concluir da mesma forma) em três pontos principais: 1. Uma corrente aparece somente quando existe um movimento relativo entre a espira e o ímã (um deve mover-se em relação ao outro); a corrente desaparece quando o movimento relativo cessa. 2. Quanto mais rápido for o movimento relativo, maior é a corrente pro- duzida na espira. 3. Quando o polo norte se aproxima, ou o polo sul do ímã afasta-se da espira, induzem uma corrente no sentido horário. Já, quando o polo sul aproxima-se ou o polo norte afasta-se, produzem uma corrente no sentido anti-horário. 3Lei de Faraday e indução eletromagnética Figura 1. Um ímã com o polo norte sendo aproximado de uma espira induz uma corrente elétrica no sentido horário, detectada pelo amperímetro ligado em série na espira. Fonte: Walker, Halliday e Resnick (2014, p. 865) A corrente gerada a partir do movimento do ímã em relação à espira é o que chamamos de força eletromotriz induzida (fem). Como o nome sugere, é uma força motriz (que faz causar um movimento, no caso dos elétrons) de origem eletromagnética, induzida a partir de um ímã. A fem induzida aparece como uma diferença de tensão ΔVind na espira. Um segundo experimento foi realizado por Faraday, porém, agora, uma espira ligada a uma fonte no lugar do ímã, conforme ilustrado na Figura 2. Essa espira é, então, aproximada de uma segunda espira, ligada ao amperímetro, porém sem tocá-la. Ele notou que, quando a chave S estava aberta e era fechada (fazendo uma corrente fluir na espira ligada em série à fonte), uma corrente era induzida na segunda espira, que estava ligada ao amperímetro. Permanecendo a chave S fechada, após um curto período de tempo, a corrente induzida na segunda espira deixava de existir, mesmo que uma corrente continuava a fluir na primeira espira. Quando a chave S era aberta, interrompendo a passagem de corrente na primeira espira, novamente uma corrente aparecia na segunda espira, indicada pela marcação no amperímetro. Porém, agora, a corrente Lei de Faraday e indução eletromagnética4 era no sentido contrário da que havia fluído na primeira situação (quando a chave era fechada). Novamente, após um curto período de tempo, a corrente induzida na segunda espira deixava de fluir. Nos dois experimentos, parece que uma fem induzida aparece quando temos a variação do campo magnético induzida por um ímã ou, ainda, quando temos a variação da corrente elétrica em uma espira colocada próxima de outra. Mas, afinal, o que de fato está causando o aparecimento de uma fem induzida na espira ligada ao amperímetro? Figura 2. Uma espira ligada a uma fonte e controlada a partir de uma chave S, colocada próxima de uma segunda espira, ligada a um amperímetro. Fonte: Walker, Halliday e Resnick (2014, p. 865) Lei da indução de Faraday Nos dois experimentos apresentados, das Figuras 1 e 2, a quantidade que está variando é o campo magnético. Como mostrado no exemplo da primeira fi gura, no momento em que o polo norte do ímã aproxima-se da espira, cada vez mais linhas de campo magnético atravessam-na. O mesmo vale para quando o ímã tem o seu polo sul direcionado e aproxima-se da espira: as linhas de campo magnético que atravessam a espira aumentam à medida que o ímã aproxima-se. Já, para ambas as situações, quando o ímã permanece interno ou 5Lei de Faraday e indução eletromagnética a uma distância fi xa, ou seja, sem produzir um movimento relativo à espira, a quantidade de linhas de campo magnético permanece inalterada com o tempo. Para essa situação, nenhuma corrente é induzida na segunda espira. Por outro lado, na situação da Figura 2, também temos um campo magnético variando com o tempo, mas, desta vez, é um campo magnético induzido por uma corrente passando por uma espira (primeira espira). Quando a chave sele- tora S da primeira espira encontra-se aberta, não existe passagem de corrente por ela, e, assim, não induz uma fem na segunda espira. No momento que a chave seletora é fechada, fazendo fluir corrente elétrica na primeira espira, um campo magnético é criado em volta da primeira espira. Como a chave estava inicialmente aberta e é, em seguida, fechada, a corrente pela primeira espira varia de zero amperes para um valor não nulo, determinado pela diferença de potencial da fonte e resistência ligada em série. Durante essa variação da corrente, o campo magnético gerado pela primeira espira também varia, e, assim, um campo magnético variável passa pela segunda espira e induz uma fem nela. Após a corrente na primeira espira atingir um valor constante, o campo magnético emanado da primeira espira permanece inalterado no tempo. Nesse caso, a corrente deixa de existir na segunda espira. Podemos concluir, assim, que a corrente elétrica (ou fem) induzida na espira para a Figura 1 e para a segunda espira da Figura 2 é devido à variação do campo magnético com o tempo. Ou seja, quando o número de linhas de campo magnético passando por uma espira varia, uma fem induzida é criada. Essa é a Lei de indução de Faraday. Note que a quantidade de linhas passando pela espira não importa, mas, sim, a taxa com que a quantidade de linhas varia no tempo. Para quantificar a Lei de indução de Faraday, precisamos calcular a quantidade de campo magnético passando por uma determinada área —no nosso exemplo, é área de uma espira. Você deve lembrar que, quando calculamos o campo elétrico para situações gerais (carga pontual, linhas de carga, etc.), determinamos uma superfície gaussiana que englobasse as cargas. Para tanto, precisávamos determinar o fluxo das linhas de campo elétrico emanado das cargas envolvidas pela superfície gaussiana, que foi definida como sendo ΦE = ∫ E ∙ dA . Aqui, podemos definir o fluxo magnético de maneira análoga: suponha uma espira de área A inserida em um campo magnético B. O fluxo magnético através dessa espira pode ser calculado como sendo: ΦB = ∫ B ∙ dA (1) Lei de Faraday e indução eletromagnética6 O vetor dA sempre aponta perpendicularmente ao diferencial de área dA. Os vetores B e dA são multiplicados escalarmente, e, portanto, as linhas de campo magnético que importam para o cálculo do fluxo magnético são aquelas que estão alinhadas com o vetor dA. Um caso especial é quando o campo magnéticoé uniforme e direcionado perpendicularmente à área da espira. Nesse caso, podemos calcular o fluxo magnético como sendo: B · dA · cos0° = BdA. Como o campo magnético é dito uniforme, podemos passar B para fora da integral em (1), e a integral ∫dA nos dá a área total A da espira. E, assim, a equação (1) resume-se a: ΦB = BA, (B paralelo à área A, sendo B uniforme) (2) A unidade para fluxo magnético é T · m2, também definido como 1 T · m2 = 1 Wb (weber). Até aqui, quantificamos o fluxo magnético. Porém, como vimos pelos experimentos de Faraday, um campo magnético variável é que induz uma fem ΔVindinduzida em uma espira. Logo a magnitude da fem induzida em uma espira condutora é igual à taxa com que o fluxo magnético ΦB varia com o tempo. Dessa forma, podemos formalmente escrever a Lei de indução de Faraday como sendo: ∆Vind = – dФB dt (3) O sinal de negativo na equação indica uma diferença de potencial que induz uma corrente elétrica geradora de um campo magnético, que, por sua vez, se opõe à variação do fluxo de campo magnético que a produz. Quando temos uma bobina (conjunto de espiras interligadas e colocadas uma do lado da outra), a fem induzida total é referente à fem induzida por cada uma das espiras. Se uma bobina tem um conjunto de N espiras, a fem ΔVind total será dada pela multiplicação da fem ΔVind gerada por uma espira e o número de espiras: ∆Vind = – N dФB dt (4) A fem induzida pode ser produzida de diversas formas, como, por exemplo: mudar a magnitude de B, mudar a área da espira que se encontra dentro de um campo magnético uniforme e mudar o ângulo formado por B e dA. A seguir, vamos tratar de dois exemplos para calcular a fem induzida em uma 7Lei de Faraday e indução eletromagnética espira, quando o campo magnético é variado e quando temos uma espira em movimento. Diferença de potencial induzida por um campo magnético variado Qual é a fem induzida em uma espira quando temos a área constante e a orientação entre o campo magnético e a área permanece constante? Nesse caso, podemos calcular a fem induzida, utilizando a equação (3) da seguinte forma: ∆Vind = – Acosθ dB dt (5) Vamos aplicar esse conhecimento para resolver um problema físico. O solenoide S da Figura 3 tem 4 cm de diâmetro e é composto por 300 espiras/ cm, conduzindo uma corrente elétrica de i = 2 A. No seu centro, há uma bobina C de 100 voltas, com um diâmetro de 2 cm. A corrente no solenoide é, então, reduzida a zero, a uma taxa constante em 30 ms. Qual é a magnitude da fem induzida na bobina C, enquanto a corrente no solenoide está mudando? Figura 3. Uma bobina C localizada internamente em um solenoide S, que conduz uma corrente i. Fonte: Walker, Halliday e Resnick (2014, p. 867) O solenoide S produz um campo magnético no seu interior, que é dire- cionado da esquerda para a direita (regra da mão direita em um fio condutor passando uma corrente). O campo magnético interno é uniforme e, assim, existe um fluxo magnético pela bobina C. A corrente i vai de 2 A para 0 A em 30 ms, ou seja, existe uma variação do fluxo magnético no interior do Lei de Faraday e indução eletromagnética8 solenoide, que causa uma fem induzida na bobina C. Note, também, que o fluxo magnético no interior do solenoide é dado pelo campo magnético no seu interior, que é perpendicular à área transversal da bobina C. Dessa forma, o fluxo magnético pode ser calculado pela equação (2). Precisamos calcular o campo magnético no interior do solenoide nos dois instantes, quando i = 2 A e quando i = 0 A. A equação que relaciona o campo magnético de um solenoide é dada por B = μ0 . i . n, onde μ0 = 4π . 10 -7 T.m/A = 1,26 . 10-6 T.m/A (constante de permeabilidade) e n é o número de espiras que compõem o solenoide. Quando a corrente é nula (i = 0 A), B = 0 T. Já, quando a corrente é de 2 A, o campo magnético pode ser calculado (n = 300 espiras/cm = 30000 espiras/m): B = μ0 · i · n = 1,26.10 -6 · 2.30000 = 75,6 mT Agora, podemos utilizar a equação (2) para obter o fluxo magnético para cada instante. Quando B = 75,6 mT, ΦB = B · A = 75,6 · 10 -3 · (πr2). O raio do solenoide é de 2 cm = 0,02 m, logo: ΦB = 75,6 · 10 -3 · (3,14.(0,02)2) = 9,5 · 10-5 Wb. Já, quando a corrente deixa de fluir pelo solenoide, o fluxo magnético também deixa de existir, indo a zero. Por fim, podemos calcular o módulo da fem induzida na bobina C, calculada pela equação (4) (sendo N = 100 voltas): ∆Vind = – N dФB dt ΔФB Δt= –N = –100 ∙ 0 – 9,5 ∙ 10–5 25 ∙ 10–3 = 380 mV Se uma resistência ou um componente microeletrônico, por exemplo, fossem ligados à bobina, a fem induzida poderia ser utilizada para realizar um trabalho útil. Como fazer um gerador de energia caseiro com um ímã Aprenda, a partir do link a seguir, a fazer um gerador de energia para iluminar 2 leds, a partir de um tubo de seringa, fio fino esmaltado (que você encontra no interior de qualquer motor quebrado) e um ímã (quanto maior o campo magnético gerado pelo ímã, melhor). https://goo.gl/YGrn8p 9Lei de Faraday e indução eletromagnética Diferença de potencial induzida por uma espira em movimento Outras duas formas de se obter uma fem induzida é variando a área imersa em um campo magnético uniforme ou, ainda, variando a orientação entre o campo magnético e a área. Para o primeiro caso, podemos escrever a equação (3) da seguinte maneira: ∆Vind = – Bcosθ dA dt (6) Para o caso em que tanto B quanto A permanecem constantes, somente variando o ângulo formado entre os dois, podemos reescrever a equação (3) como: ∆Vind = – BAsenθ dθ dt (7) Como dθ/dt = ω (velocidade angular de movimento relativo entre dA e B), a fem induzida calculada em (7) pode, ainda, ser escrita como: ∆Vind = �BAsenθ (8) A velocidade angular pode se dar de duas maneiras: o campo magnético variando sua orientação e a espira estática, ou o campo magnético perma- necendo na mesma orientação e a espira girando. A espira girando frente a um campo magnético uniforme e estático é o caso dos geradores em usinas hidrelétricas. Vamos a um exemplo onde uma espira está em movimento em relação a um campo magnético uniforme. A Figura 4 ilustra essa situação, onde uma espira de lados d0 e w é puxada para fora de um campo magnético uniforme B, gerado pelos dois ímãs acima e abaixo da espira (em cinza). Considere que, inicialmente, a espira encontrava-se com toda a sua extensão imersa no campo magnético. Qual é a expressão algébrica que calcula a fem induzida na espira quando a mesma é puxada com uma velocidade v constante? Lei de Faraday e indução eletromagnética10 Figura 4. Uma espira sendo puxada com uma veloci- dade v para fora de um campo magnético uniforme B. Fonte: Adaptado de Bauer, Westfall e Dias (2012, p. 255) A espira varia a sua área em função do tempo, e, assim, o fluxo magnético passando pela espira também varia, induzindo uma fem nela. A área A varia com o tempo, de modo que A = w . (d0 – vt), uma vez que a área dada por w . vt é referente à área que sai do campo magnético. E agora podemos calcular a fem induzida pela equação (6): ∆Vind = – Bcosθ dA dt = – Bcosθ = – Bcosθ dwd0 dt dw (d0 – vt) dt – wv dt dt( ) Como w e d0 são constantes, a primeira derivada dwd0/dt = 0. Já dt/dt = 1, e podemos resumir a equação acima como sendo: ∆Vind = wvBcosθ Note que a fem induzida independe do comprimento ao longo de d0. Para o caso em que B é perpendicular à área da espira, ∆Vind = wvB. 11Lei de Faraday e indução eletromagnética Lei de Lenz Até aqui, você aprendeu a calcular a fem induzida a partir de um campo magnético variável. Como você deve ter percebido, a fem induzida faz com que uma corrente elétrica apareça em uma espira ou em um circuito elétrico. Ela pode ser no sentido horário ou anti-horário. A direção da corrente em uma espira, por exemplo, depende da orientação das linhas de campo magnético que estão incidindo sobre a área da espira (se é o lado norte ou sul de um ímã, por exemplo) e se o fl uxo estáaumentando ou diminuindo (se aproximando ou afastando de uma espira, por exemplo). A Lei de Lenz é uma relação eletromagnética aprimorada da Lei de Fa- raday. Ela indica a direção da corrente induzida, de modo a criar um campo magnético que se oponha à mudança de fluxo magnético que a induziu no primeiro momento. Para esse entendimento ficar mais fácil, vamos tratar de quatro situações possíveis. 1ª situação: um ímã com o polo norte voltado para uma espira e aproximando-se com uma velocidade constante, conforme ilustrado na Figura 5a. Nessa situação, as linhas de campo do ímã saem do polo norte e entram pelo polo sul. A fem induzida aparece de modo a com- pensar essa mudança de fluxo magnético interno à espira. Você pode pensar como que a espira produzisse seu próprio campo magnético, a fim de conservar seu estado inicial, que era sem fluxo passando pelo seu interior. A partir do momento em que existe um aumento de fluxo magnético no seu interior (produzida pela aproximação do ímã da espira), a espira é induzida por esse campo magnético de modo a criar um campo magnético próprio que se opõe ao movimento das linhas de campo do ímã. Para se opor a esse movimento, a espira produz um campo magnético com um polo magnético na orientação contrária ao ímã, como você pode ver na figura representada pelo ímã fictício na cor cinza. Pela regra da mão direita, fica fácil observar que tal campo magnético, opondo-se ao campo magnético do ímã verdadeiro, produz uma corrente no sentido anti-horário. Lei de Faraday e indução eletromagnética12 2ª situação: um ímã com o polo norte afastando-se de uma espira com uma velocidade constante, conforme ilustrado na Figura 5b. Aqui, as linhas de campo magnético do ímã ainda estão direcionadas para dentro da espira, porém diminuindo a sua densidade de linhas. Como a espira produz um campo magnético que se opõe à variação do fluxo de linhas, um campo magnético na espira é produzido de modo a se opor a essa variação. Dessa forma, um campo magnético interno da espira é produzido com o polo sul orientado na direção do ímã, na tentativa de diminuir a variação no fluxo. Pela regra da mão direita, o campo magnético produzido pelo ímã fictício da espira é resultado de uma fem induzida que produz uma corrente no sentido horário na espira. 3ª situação: um ímã com o polo sul aproximando-se de uma espira, com velocidade constante, conforme ilustrado na Figura 5c. Nessa situação, o polo sul do ímã tem as suas linhas de campo entrando no polo. Como o ímã aproxima-se da espira, esta é induzida por uma fem que faz criar um campo magnético interno a ela, que se opõe ao movimento do ímã. Para tanto, produz um campo magnético interno, com o polo sul orientado para cima, conforme ilustrado pelo ímã fictício em cinza. Utilizando a regra da mão direita, esse campo magnético interno acaba gerando uma corrente elétrica no sentido horário na espira. 4ª situação: um ímã com polo sul afastando-se de uma espira com velocidade constante, conforme ilustrado na Figura 5d. O fluxo de linhas de campo magnético, para esse caso, está diminuindo de densidade internamente à espira. Essa variação no fluxo magnético induz uma fem na espira de modo a criar um campo magnético que atraia o ímã na direção da espira, produzindo uma força magnética que se opõe ao movimento do ímã. Para tanto, um campo magnético interno à espira, com direção norte voltada para cima, é o resultado da fem induzida. Essa orientação magnética, representada pelo ímã em cinza na figura, produz uma corrente que vai ao sentido anti-horário na espira. 13Lei de Faraday e indução eletromagnética Figura 5. Variação do fluxo magnético interno de uma espira, produzida por um ímã aproximando-se ou afastando-se da espira. A variação do fluxo magnético induz uma fem na espira que, por sua vez, produz um campo magnético interno a ela, que se opõe ao movimento do ímã. Para os exemplos da Figura 5, se a velocidade é aumenta ou diminuída, o fluxo magnético é aumentando ou diminuído proporcionalmente, dependendo da orientação da velocidade. A corrente também varia proporcionalmente. A mesma ideia para se determinar a corrente elétrica em uma espira é válida quando o campo magnético que induz uma fem na espira é causado por outra espira, bobina ou outro solenoide, que varia sua corrente no tempo. Nesse caso, precisamos determinar a orientação do campo magnético produzido e como ele varia no tempo. BAUER, W.; WESTFALL, G.; DIAS, H. Física para universitários: eletricidade e magnetismo. Porto Alegre: McGraw-Hill, 2012. MANUAL DO MUNDO. Como fazer um gerador de energia com íma em casa. [201?]. Disponível em: <http://www.manualdomundo.com.br/2014/12/como-fazer-um- -gerador-de-energia-com-ima-em-casa/>. Acesso em: 25 fev. 2018. WALKER, J.; HALLIDAY, D.; RESNICK, R. Fundamentals of physics. New Jersey: Wiley, 2014. Leitura recomendada TIPLER, P. A.; MOSCA, G. Physics for scientists and engineers. W. H. Freeman and Com- pany, 2008. Lei de Faraday e indução eletromagnética14 Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. Conteúdo: DICA DO PROFESSOR A variação do fluxo magnético com o tempo é responsável por induzir uma corrente na espira, que por sua vez é direcionada no sentido de criar um novo campo magnético, que se opõem à variação do fluxo magnético proporcionado pelo imã. Essa é a Lei de Lenz. Nesta Dica do professor, você irá ver como Faraday realizou seus experimentos de modo a constatar a indução eletromagnética em uma espira. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) A indução eletromagnética em uma espira pode acontecer de três formas, quais são elas? A) Quando o campo magnético em que a espira está inserida é alto, quando a área da espira é variada ou ainda quando a orientação entre a espira e o campo magnético variam. B) Quando o campo magnético em que a espira está inserida é baixo, quando a área da espira é variada ou ainda quando a orientação entre a espira e o campo magnético variam. C) Quando o campo magnético em que a espira está inserida é baixo, quando a área da espira se mantém constante ou ainda quando a orientação entre a espira e o campo magnético variam. D) Quando o campo magnético ou a área da espira ou a orientação entre o campo magnético e a área da espira variam. E) Quando o campo magnético ou a área da espira ou a orientação entre o campo magnético e a área da espira permanecem constantes. 2) A imagem a seguir mostra uma espira condutiva consistindo em uma meia-volta, de raio r = 0,1 m e três regiões retas. A metade do círculo encontra-se em meio a um campo magnético uniforme B que é direcionado para fora da página. A magnitude do campo magnético é dada por B = 3t^2 + 4t -2, com B em teslas e t em segundos. Uma bateria ideal com uma força eletromotriz de 1 V é conectada à espira. Considerando a resistência da espira como sendo de R = 2 ohms, qual é a magnitude, a direção da FEM induzida e a corrente total na espira quando B e t = 5 s? A) FEM induzida = 0,53 V, direção da FEM induzida: sentido horário, corrente na espira: 235 mA. B) FEM induzida = 0,53 V, direção da FEM induzida: sentido anti-horário, corrente na espira: 235 mA. C) FEM induzida = 1,53 V, direção da FEM induzida: sentido anti-horário, corrente na espira: 765 mA. D) FEM induzida = 1,53 V, direção da FEM induzida: sentido horário, corrente na espira: 765 mA. E) FEM induzida = 0,47 V, direção da FEM induzida: sentido anti-horário, corrente na espira: 235 mA. 3) Uma bobina com raio de 2 cm e resistência de R = 4 ohms é coaxial com um solenoide com 250 voltas/cm e diâmetro de 3,8 cm. Se a corrente no solenoide cai de 1 A a zero em um intervalo de tempo de 40 ms, qual a corrente induzida na bobina? Considere o campo magnético externo ao solenoide como nulo. A) 2,2.10^-5A. B) 2,2.10^-4 A. C) 22 mA. D) 70 mA. E) 100 mA. 4) Uma espira retangular de lados a = 150 cm e b = 190 cm está imersa em um campo magnético uniforme que sai do plano da página, com intensidade de B = 5x10^-3 T. A espira começa a ser puxada com uma velocidade v = 0,2 m/s para fora do campo magnético, formando um ângulo de 30° com a horizontal, conforme mostra a imagem a seguir. Qual é a FEM induzida após 10 segundos? A) 5,2.10^-4 V. B) 9,4.10^-4 V. C) 5,2 mV. D) 12 mV. E) 20 mV. 5) Um gerador de energia elétrica é constituído por um conjunto de 1000 espiras e gira com uma velocidade angular de 377 rad/s. Se a espira tem uma área de 0,5 m x 0,7 m e está imersa em um campo magnético uniforme de B = 1,7.10-3 T, qual é a FEM induzida e a corrente elétrica i passando pelas espiras quando a espira se encontra alinhada com o campo magnético (ou seja, θ entre B e dA θ = 90°)? Considere uma resistência total do gerador de 10 ohms. A) FEM induzida: 112 V, i = 11,2 A. B) FEM induzida: 160 V, i = 11,2 A. C) FEM induzida: 224 V, i = 22,4 A. D) FEM induzida: 224 V, i = 11,2 A. E) FEM induzida: 300 V, i = 22,4 A. NA PRÁTICA Geradores elétricos em usinas hidrelétricas. Você já parou para pensar em como a energia elétrica da sua casa é criada? Muito provavelmente já deve ter visto aquelas maquetes em feiras de ciências da escola explicando a geração da energia elétrica. O princípio da transformação da energia potencial gravitacional em energia cinética da água, durante a descida da água do reservatório até a turbina, já deve ser bem conhecido por você. A partir daí, a água realiza trabalho sobre as pás da turbina, de modo a aumentar a energia cinética rotacional. Mas como essa energia mecânica é transformada em energia elétrica? Graças ao entendimento da Lei de Faraday-Lenz, a espécie humana foi capaz de desenvolver os geradores elétricos utilizados tanto em motores elétricos como nas turbinas das usinas hidrelétricas. Acompanhe, na imagem a seguir, como funciona o gerador elétrico. SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Sistema de recuperação KERS No link a seguir, você terá acesso a um vídeo que mostra como acontece a recuperação de energia cinética a partir da freada de um carro de F1, para posteriormente ser utilizado para auxiliar na aceleração do mesmo. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Laboratório eletromagnético de Faraday No link a seguir, você terá acesso a um simulador que lhe permitirá interagir com uma barra magnética e bobinas para aprender sobre a Lei de Faraday. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Lei de Faraday No link a seguir, você terá acesso a um simulador que lhe permitirá investigar a Lei de Faraday e como um fluxo magnético variável pode produzir uma corrente elétrica. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
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