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ARTIGO - A VISÃO IDEALIZADA DA MULHER DO SÉCULO XIX NA CONCEPÇÃO DE ALENCAR

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO- UEMA
CENTRO DE ESTUDOS SUPERIORES DE COELHO NETO – CESCN
 DEPARTAMENTO DE LETRAS PORTUGUÊS/INGLÊS
SAMARA DA SILVA SOUSA
GLEYCIANE JORDÂNIA
BARBARA ALINE DA SILVA AMORIM
A VISÃO IDEALIZADA DA MULHER DO SÉCULO XIX NA CONCEPÇÃO DE ALENCAR
COELHO NETO – MA
2019
SAMARA DA SILVA SOUSA
GLEYCIANE JORDÂNIA
BARBARA ALINE DA SILVA AMORIM
A VISÃO IDEALIZADA DA MULHER DO SÉCULO XIX NA CONCEPÇÃO DE ALENCAR
Trabalho apresentado à Universidade Estadual do Maranhão – UEMA, como pré-requisito para obtenção de nota parcial na disciplina Teoria literária. 
Sob orientação da Profa. Esp. Layane Rodrigues dos Santos.
COELHO NETO – MA
2019
A VISÃO IDEALIZADA DA MULHER DO SÉCULO XIX NA CONCEPÇÃO DE ALENCAR
SAMARA DA SILVA SOUSA¹
GLEYCIANE JORDÂNIA²
BARBARA ALINE DA SILVA AMORIM³
LAYANE RODRIGUES DOS SANTOS
RESUMO
O objetivo deste estudo é contribuir para uma melhor compreensão da representação da mulher prostituta na produção literária de José de Alencar, a partir do estudo feito pelo romance Lucíola. O presente projeto se desenvolve a partir da perspectiva moralista e que explora a temática prostituição feminina, o amor romântico que dialoga também com a literatura realista, apresentado no decorrer do romance, como forma crítica ao comportamento das pessoas e os problemas sociais e principalmente o preconceito com as mulheres que existiam na época.
Palavras chave: Lucíola, prostituição e preconceito. 
ABSTRACT 
The aim of this study is to contribute to a better understanding of the representation of women prostitute in literary production of José de Alencar, from the study done by Jenny's romance. This project develops from the moralistic perspective and explores the theme of female prostitution, the romantic love that dialogue also with the realistic literature, presented in the course of the novel as a criticism of the behavior of people and social problems and especially the prejudice against women that existed at the time. 
 Key words: Lucíola, prostitution and prejudice.[footnoteRef:1] [1: Acadêmica do 3º período do Curso de Letras Português/Inglês da Universidade Estadual do Maranhão-UEMA. 
 Acadêmica do 3º período do Curso de Letras Português/Inglês da Universidade Estadual do Maranhão-UEMA. 
 Professora do Curso de Letras Português/ Inglês da Universidade Estadual do Maranhão - UEMA e do Instituto de Ensino Superior Múltiplo -IESM. Mestranda em Literatura e Estudos Culturais pela Universidade Estadual do Piauí – UESPI (2019-2021). Pós Graduada em Docência do Ensino Superior, pelo Instituto de Ensino Superior Múltiplo – IESM, 2017. Pós Graduada em Educação de Jovens, Adultos e Idoso, pela UEMA, 2013 
] 
INTRODUÇÃO
O presente artigo tem como objetivo estudar e analisar o perfil feminino em Lucíola na sociedade do século XIX na perspectiva de José de Alencar, para assim ter uma melhor compreensão da representação da mulher prostituta na produção literária do autor, a partir do estudo feito pelo romance Lucíola. A narrativa de Alencar é caracterizada por romances urbanos, que é o caso de Lucíola que apresenta um olhar para a sociedade sobre as mulheres. O tema que aqui se trata é o estudo do perfil da mulher do século XIX a partir da personagem Lucia (Lucíola) e por meio de sua singularidade buscar identificar a mulher naquela sociedade em particular.
Nosso trabalho se inicia falando um pouco sobre o gênero feminino dentro da literatura moderna, destacando a personagem Lúcia (Lucíola) como figura feminina na sociedade do século XIX. Toda essa temática encontra abrigo na literatura pois é uma forma de manifestação artística que por meio de palavras completas de sentidos e significados, de atos de fala, como recursos de ficção a realidade social.
Em seguida damos ênfase a concepção de Alencar de como ele desenhava e caracterizava os perfis femininos de suas personagens, entre elas destacaremos Lucíola como foco principal da pesquisa, de como a sociedade daquela época idealizava Lucíola como figura feminina e também mostrar o preconceito com as mulheres que existia no século XIX. 
Como enfoque principal da obra Lucíola discutiremos também a prostituição e a visão ideológica de Alencar sobre esse assunto que e bastante falado dentro da obra. A obra Lucíola ao nosso ver é muito mais que um simples romance do século XIX, discutindo meras questões sociais. Há em Alencar, uma proposta clara de aspecto essencial e teórico para a formação da literatura nacional. O nosso objetivo é, pois, mostrar a visão idealizada da mulher no século XIX na concepção do autor e mostrar como sociedade daquela época a rejeitava por ela levar uma vida prostituta, e mostrar a personagem Lucíola como prostituta naquela época. Identificar na obra os perfis de mulher em Lucíola; Compreender os padrões femininos impostos pela sociedade no século XIX; Reconhecer Lucíola como paradoxo da figura feminina “aceita” pela sociedade. Observar à dupla identidade e a mudança de papéis, na personagem de “Lucíola”, que como protagonista revela uma dupla identidade: Lúcia e Maria da Glória
1 LITERATURA E GENERO, ROMANTISMO 
O processo de construção de uma personagem é uma questão antiga. Dentre os teóricos mais conhecidos, pode-se citar Aristóteles como sendo o primeiro a se propor a discutir o tema. Em sua Poética, Aristóteles apresenta a mimesis. “Durante muito tempo, o termo mimesis foi traduzido como sendo ‘imitação do real’” (BRAIT, 1985 p.28). Ou seja, a personagem seria uma cópia exata da realidade.
No que se refere a posição social da mulher e sua presença no universo literário, essa visão deve muito ao feminismo, que pôs a nu as suas circunstancias sócio históricas entendidas como determinantes na produção literária. Do mesmo modo que se fez perceber estereótipos feminino negativo, largamente difundido na literatura e no cinema, constitui-se no considerável obstáculo na luta pelo direito da mulher. Trata-se de tentar romper a tradição nas quais as mulheres são obrigadas pela sociedade a obedecer, e ser submissa ao homem, mas ter um lugar secundário em relação ao lugar ocupado pelo homem, ou seja, a mulher ser reconhecida e vista como do mesmo modo que o homem também é visto pela sociedade. 
A figura feminina não usufruía totalmente de seus direitos no que se refere ao tratamento igualitário entre homens e mulheres e, infelizmente, a mulher era vista como objeto de uso pelo ser masculino, pois tinham seus direitos e liberdades reprimidas. Não recebiam a autonomia necessária para se expressarem e mostrarem o que realmente precisavam para se sentirem satisfeitas, tanto no aspecto social, quanto no pessoal. A esse respeito Bonnici afirma:
Tradicionalmente, as mulheres foram consideradas como inferiores aos homens, não só no meio cultural, mas também no social, histórico e político. Um estado de regras geradas pela política do patriarcalismo, cuja ênfase estava em questionar a inteligência da mulher, inutilizar a cidadania e seu direito de se constituir como sujeito. No campo literário e cultural a experiência feminina sempre vista de forma não valorizada, justifica o surgimento em meados do século XX, de ações no sentido de conscientizar os indivíduos da necessidade de desconstruir a opressão e a marginalização da mulher – construída ao longo da história. Isto é o que se chama de feminismo, um movimento político, social e filosófico que pregava a igualdade social entre os sexos, com a finalidade de eliminar qualquer dominação sexista e de transformar a sociedade (BONNICI, 2007, p. 86).
De acordo com Bonnici as mulheres eram marginalizadas pela sociedade, simplesmente pelo fato de ser mulher, e achar que nós mulheres eram inferiores aos homens e não ter a capacidade de trabalhar e inutilizar a sua cidadania e o seu direito de se constituir como sujeito. Bonnici também explica que com o decorrer do tempo essa ideia foi sendo modificada, pois as mulheres foram ganhando voz e vez no meio cultural, histórico, político e também no social e tenta desconstruir a opressão,marginalização da mesma.
A crítica literária feminista passa a agir no sentido de possibilitar a representação de perspectivas sociais que o princípio literário masculino não foi capaz de evidenciar, patenteando a história tradicional e sexista da representação das mulheres no campo literário de autoria masculina e assim permitindo a inclusão de vozes antes marginalizadas, tanto na produção dos textos, quanto na representação literária, o que contribuiu para que essas vozes fossem incluídas no campo literário portanto, que fossem legitimadas.
1.1 ROMANTISMO
O Romantismo é um estilo de época que está associado à Revolução Francesa, a elevação da burguesia e ao liberalismo. A tradição filosófica em que se apoia o liberalismo valoriza a iniciativa individual e a capacidade criadora de cada um. Nesse contexto, o Romantismo serviu de expressão do mundo burguês, além de ser um meio de ataque à mentalidade aristocrática do período anterior.
 No início do século XIX, após a chegada da família real no Brasil, várias medidas foram tomadas para possibilitar o funcionamento da administração do reino português no país. A abertura dos portos, a inauguração da Biblioteca Real e a fundação do Banco do Brasil são alguns exemplos. Esses fatos contribuíram para que o sentimento anticolonialista do povo brasileiro se intensificasse. Devido às condições exclusivas do país, o Romantismo brasileiro apresenta, além das características comuns ao Romantismo europeu, alguns caracteres próprios, que resultam da adaptação daquele estilo à realidade brasileira da época.
O público que utilizava a produção dos escritores românticos era basicamente urbano, constituído, por uma classe média que se identificava com o padrão de gosto da classe dominante. Este público definiu as preferências e também mostrou muitas vezes como personagem dos romances da época. É importante observar que a imprensa constituiu um fator de padronização do gosto literário, pois muitos romances foram publicados primeiramente em jornais, em forma de folhetim. Entre os autores que mais produziram e que mais marcadamente alinharam-se ao projeto de construção de uma nacionalidade para o Brasil recém tornado independente, encontra-se José de Alencar. Sua obra tematiza, entre outros assuntos, a natureza e o elemento nativo, que lhe concedem a chamada “cor local”; o regionalismo, em que busca estabelecer uma imagem da diversidade que compõe o Brasil e a sociedade carioca, a Corte, em meados dos 1800.
2 A VISÃO IDEALIZADA DA MULHER DO SÉCULO XIX NA CONCEPÇÃO DE ALENCAR
Uma das principais características da obra de José de Alencar são os chamados “Perfis de Mulheres” que se constituem em três livros cujas personagens protagonistas são mulheres: Lucíola, Diva e Senhora, romances urbanos em que o amor figura como tema central. Seria mais exatamente a abordagem da situação social e familiar da mulher frente ao casamento e ao amor tido como foco principal das narrativas. Um amor à feição romântica em que predominam o sublime, a idealização, a capacidade de renúncia, o sacrifício e o heroísmo. Mas o foco principal do artigo é a obra Lucíola pois o autor José de Alencar de acordo com sua concepção, irá mostrar a sua personagem Lúcia (Lucíola), como uma mulher à frente do seu tempo e como a sociedade á idealizava.
Lúcia exibe uma contradição evidente, uma vez que, como prostituta, era conhecida por ser a mais indecente, mas a prostituição era-lhe um tormento constante já que não se entregava totalmente a ela. Sempre, após cometer atos imorais era atormentada pelo sentimento de culpa. Paulo apresenta uma dupla personalidade sobretudo no que se refere aos seus sentimentos e ao comportamento em relação a Lúcia. Em determinados momentos, a ofende para depois pedir-lhe perdão, dá-lhe liberdade para fazer o que quiser, mas depois a quer só para si, despreza-a, entretanto sente um grande ciúme dela. Seus sentimentos por Lúcia são opostos, pois ora deseja violentamente a prostituta Lúcia, ora promete respeitar a pura e cândida Maria da Glória, que são, na verdade, a mesma mulher.
Lúcia evidencia uma visão católica sobre o amor, de que esse sentimento seria capaz de purificá-la tornando-a, assim, uma mulher digna. Uma clara evidência que a sociedade e a Igreja pregavam que apenas o amor conjugal seria aceito por Deus e faria bem a mulher. A sociedade impôs que a mulher só poderia ser respeitada se ela fosse pura ou casa-se com um homem, como manda a tradição tanto da sociedade quanto da religiosa.
Na obra Lucíola percebe-se que ele trava uma luta para si para adaptar seus anseios e vontades com aquilo que a sociedade espera dela. Lucia apesar de querer viver seu amor com Paulo, proíbe-se por não se considerar merecedora dessa relação uma vez que seguiu o caminho da prostituição e um casamento entre ela e Paulo nunca seria aceito pela igreja, nem pela sociedade da época, pois era uma mulher marcada já que não personificava, a figura pura da rainha lar.
Os textos de José de Alencar são uma ferramenta de denúncia da sociedade daquela época. Ao usar o sexo feminino em seus romances, ele identifica os avanços e retrocessos da sociedade, a submissão e a inferioridade feminina nesse contexto.
Aurélia, Emília e Lucíola são personagens que transmitem esse universo feminino, mulheres bonitas, fortes de caráter e de grande personalidade. Alencar retrata a mulher capaz de romper preconceitos e que luta pela própria liberdade. Através desses romances, classificados como urbanos, o autor busca uma construção do perfil de mulher.
3. O PAPEL DA FIGURA PROSTITUTA EM LUCÍOLA 
A prostituta sempre foi uma figura polêmica, que nesta obra o autor a representou como uma contradição do corpo e da alma, da sociedade e do ser humano, construindo sob essa visão a figura da protagonista do romance Lucíola. Com seu perfil de figura feminina idealizado tinha uma beleza extraordinária e uma extrema sedução. Era uma mulher à frente do seu tempo, forte que apesar de passar por preconceitos tentou superá-lo. Podemos destacar essa concepção em um trecho que Paulo fala:
É preciso ter como lúcia a beleza, a sedução e o espirito que enchem uma sala; a mobilidade e a elegância que multiplicam uma mulher, como o prisma reproduz o raio do sol por mil facetas; (...) (ALENCAR, 1998, Pg. 53)
De acordo com o personagem Paulo, Lucíola além ser uma mulher muito sedutora, era uma mulher de beleza elogiável que lutava pelos seus direitos na sociedade que não a aceitava, uma mulher cheia de malícias e desejos que ele gostava nela e admirava a sua beleza e elegância, além disso Paulo a amava e ao seu ver ela era “perfeita”.
Essa obra, Alencar faz uma crítica a rejeição da sociedade para com as prostitutas, que as jugam como mulheres sem valor e moral, mas que delas se aproveitam para o benefício próprio, continuando supri-las. Até mesmo lúcia que sempre teve consciência da vida que levava, também assume os preconceitos sócias contra as prostitutas, quando abandona a sua vida depravada. Nesse contexto, verificamos o papel da mulher. Elas eram destinadas a maternidade, administrar o lar e educar os filhos. De acordo com esse ideais, a mulher assumia seu papel cumpria as tarefas de esposas era vista como força do bem, porem se acontecesse o oposto ela passaria a ser vista como força do mal.
 Na protagonista desse romance, existe ao mesmo tempo duas pessoas: Maria da Glória, uma menina simples, doce, ingênua; e Lúcia, uma prostituta extravagante e sedutora. Esse equívoco na personagem, mostra uma dualidade de caráter, apresentando desse modo a capacidade de coloca-la ora como anjo, ora como demônio. É possível perceber essa ambiguidade num trecho em que Paulo e Lúcia conversam no teatro:
Notei no tom de lúcia durante o resto desta conversa uma diferença extraordinária com o modo singelo e modesto que ela tinha em sua casa; agora era a frase ríspida, incisa e levemente embebida na ironia que destilava de seus lábios, e cujas gotas a maior parte das vezes salpicavam a ela própria. (...) (ALENCAR,1998, Pg. 32)
De acordo com o diálogoentre Lúcia e Paulo, percebe-se a dupla personalidade em Lucíola, pois na visão de Paulo ele percebeu que Lúcia levava uma vida dupla, em casa era uma mulher amorosa e modesta, mas quando estava diante da sociedade era uma mulher empodeirada e atrevida.
 4 A CRÍTICA FEMINISTA DE SIMONE DE BEAUVOIR NA OBRA LUCÍOLA
Simone de Beauvoir é um ícone do pensamento filosófico feminista, e suas ideias estabelecem um profundo diálogo com o existencialismo sartriano. Jean-Paul Sartre defende a liberdade e a autenticidade de cada ser humano como essenciais, não obstante a angústia que tal liberdade pode nos trazer. São as escolhas de cada homem que definirão a sua essência e poderão afetar o próprio mundo. Ou seja, em vez de aceitarmos os valores prontos da Igreja ou de uma tradição qualquer, somos completamente responsáveis por nossos atos, por nossas escolhas, valores e sentidos. Também considerada uma das principais escritoras feminista Beauvoir foi alvo de grande polemica por causa de uma citação dentro de uma obra chamada “O segundo sexo’’ (1949) onde tinha a frase “ninguém nasce mulher: torna-se”. Foi alvo de críticas de políticos, religiosos e outras pessoas que tentaram entrar na discussão de gênero.
Beauvoir afirma que a mulher, como ser social, diferente de ‘fêmea da espécie homo sapiens’, é uma construção social e que o papel da mulher na sociedade não é definido por questões biológicas ou psíquicas, mas sim, como um produto da civilização, uma mulher que foge do estereótipo de “donzela em perigo á espera do príncipe encantado”. Beauvoir (1980) discute a situação da mulher através de uma perspectiva existencialista, numa espécie de resposta ao marxismo, que segundo ela não explicou o sexíssimo a contento; não o tendo feito , tornou-se incapaz de elaborar uma instrução adequada para a libertação das mulheres .De sua ótica, não basta apontar as relações de propriedade como responsáveis pela opressão feminista; é necessário, também, explicar por que as relações de propriedade foram instituídas contra a comunidade e entre os homens. 
Nesse contexto o papel da mulher na sociedade não é definido por questões que a sociedade impõe a ela, mas sim que ela tenha liberdade de fazer o que ela tem direito, e ser libertada dessas antigas tradições mas sem perder o seu valor. No caso de Lucíola não é diferente pois além da sociedade a considera-la sem valor, ela era uma mulher que lutava pelos seus direitos dentro da sociedade daquela época, e que enfrentava esses preconceitos de cabeça erguida.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A literatura alencariana traz, na personagem Lúcia, parte da sociedade brasileira do século XIX, sob forte influência cristã e burguesa, ainda que a burguesia, conforme aconteceu na Europa, não tivesse, aqui, firmado a sua existência.
As figuras femininas em José de Alencar apresentam uma evolução no que se refere à relação de autonomia da mulher em suas escolhas frente à sociedade machista e moralista do século XIX. Em Lucíola, tem-se o preconceito social através do casal protagonista, Lúcia e Paulo, posto que Lúcia era uma cortesã. Logo, eles são condenados, socialmente, a não realizarem esse amor. No decorrer da narrativa, apresentam-se, também, dogmas da Igreja que afetam a interpretação e as conclusões que a personagem Lúcia faz sobre sua vida. A protagonista Lúcia mostra-se suscetível a todos os julgamentos sociais, apenas lamentando-os, mas sempre, aceitando-os resignadamente.
O uso da categoria gênero na análise de um texto ficcional, faz com que ele tenha um significado político, pois, ao lê-lo dentro de uma perspectiva feminista, estamos interpretando-o à luz de ações políticas, que estão estritamente relacionadas com a ideologia e com as relações de poder na sociedade. Talvez esse possa ser um bom exemplo de como as representações de gênero estão estritamente relacionadas a questões sociais, assim como os fatores estéticos. 
Por fim, espera-se que esse artigo, ao ter explicitado os pressupostos da crítica literária feminista e dos estudos de gênero, tenha ajudado a fazer com que eles deixem de ser um “território selvagem”, misterioso e inexplorado, para se tornar um território acessível e explorável, capaz de oferecer contribuições ricas e valiosas para os estudos literários.
REFERÊNCIAS
ALENCAR, José. Lucíola. São Paulo: Martin Claret, 2006
BONNICI, Thomas. Teoria e Crítica Literária feminista: Conceitos e tendência. Maringá, PR: EDUEM, 2007
https://guiadoestudante.abril.com.br/especiais/simone-de-beauvoir 
http://www.opoderosoresumao.com/livros/resenha-o-segundo-sexo

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