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SAYMON COSTA DE ASSUNCAO

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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC 
 
CURSO DE DIREITO 
 
 
 
 
 
 
SAYMON COSTA DE ASSUNÇÃO 
 
 
 
 
 
A (I)LEGITIMIDADE DAS COOPERATIVAS MÉDICAS PARA PROPOSITURA DO 
PEDIDO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL, COM BASE NA LEI Nº 11.101/2005: 
ESTUDO DA DOUTRINA E A JURISPRUDÊNCIA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE 
JUSTIÇA, ENTRE OS ANOS 2015 A 2021 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CRICIÚMA 
2021
 
SAYMON COSTA DE ASSUNÇÃO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A (I)LEGITIMIDADE DAS COOPERATIVAS MÉDICAS PARA PROPOSITURA DO 
PEDIDO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL, COM BASE NA LEI Nº 11.101/2005: 
ESTUDO DA DOUTRINA E A JURISPRUDÊNCIA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE 
JUSTIÇA, ENTRE OS ANOS 2015 A 2021 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado 
para obtenção do grau de bacharel no curso de 
Direito da Universidade do Extremo Sul 
Catarinense, UNESC. 
 
Orientador: Prof. Esp. Artur Bolan Búrigo 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CRICIÚMA 
2021
 
SAYMON COSTA DE ASSUNÇÃO 
 
 
 
 
A (I)LEGITIMIDADE DAS COOPERATIVAS MÉDICAS PARA PROPOSITURA DO 
PEDIDO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL, COM BASE NA LEI Nº 11.101/2005: 
ESTUDO DA DOUTRINA E A JURISPRUDÊNCIA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE 
JUSTIÇA, ENTRE OS ANOS 2015 A 2021 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso aprovado pela 
Banca Examinadora para obtenção do Grau de 
bacharel, no Curso de Direito da Universidade 
do Extremo Sul Catarinense, UNESC. 
 
 
Criciúma, 08 de dezembro de 2021. 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
 
Prof. Artur Bolan Búrigo – Especialista - (UNESC) - Orientador 
 
 
 
Prof. Geraldo Machado Cota Junior - Especialista - (UNESC) 
 
 
 
Prof. Marja Mariane Feuser – Especialista - (UNESC) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este Trabalho de Conclusão de Curso 
ao meu querido pai (in memoriam), que 
desejava muito estar presente neste 
momento e à minha mãe por ser uma pessoa 
muito especial na minha vida. Você deixou 
seus sonhos para que eu sonhasse, 
derramou lágrimas para que eu fosse feliz, 
me amou e me aceitou como sou enquanto o 
mundo dizia o contrário, perdeu noites de 
sono para que eu dormisse tranquilo, 
acreditou em mim apesar dos meus erros e 
não mediu esforços e cuidados para me 
permitir chegar até aqui, nunca esqueça que 
eu sempre levarei um pedaço do seu ser 
dentro do meu ser. 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Ao meu senhor Jesus Cristo de Nazaré, aquele me deu força, paciência e 
sabedoria para alcançar meus objetivos. 
Aos meus pais, Valdir de Assunção e Simone Andreia Esmeraldino da 
Costa, que me ensinaram a ser uma pessoa de caráter e honesta. 
Aos meus irmãos, Simone Assunção, Luciano Assunção, Gisele Assunção, 
Tamires Costa, Taylor Costa, Alex Assunção, Ana Cláudia Assunção, que sempre 
estiveram ao meu lado e em cada etapa da minha vida se fizeram presente. 
Agradeço ao meu professor e orientador, Artur Bolan Búrigo, por sua 
dedicação e PACIÊNCIA e conhecimento, sem sua assistência, envolvimento e 
dedicação este projeto nunca teria se realizado, mestre o qual eu admiro. Ele foi ator 
essencial na escolha do presente tema, após o semestre o qual tive o prazer de ser 
aluno. 
Gostaria de agradecer imensamente aos professores da UNESC e 
UNISUL, com quem tive aula, por todo conhecimento compartilhado. 
Agradeço também a minha amiga Roberta Arminda de Oliveira, se hoje 
termino o curso devo muito a sua amizade. Você é a melhor pessoa que conheci, sou 
muito grato pelos seus conselhos, sua tolerância e inspiração que motivaram a 
superar meus medos, inseguranças e incertezas, e mais ainda por me incentivar a 
fazer a incrível arte da meditação e terapia. 
Enfim, a todos meus familiares, amigos e colegas que de alguma forma 
estiveram ao meu lado durante esse tempo, minha sincera gratidão a cada um de 
vocês. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Costuma-se dizer que ninguém conhece 
verdadeiramente uma nação até que tenha 
estado dentro de suas prisões. Uma nação não 
deve ser julgada pelo modo como trata seus 
cidadãos mais elevados, mas sim pelo modo 
como trata seus cidadãos mais baixos” 
 
Nelson Mandela 
 
 
RESUMO 
 
O presente trabalho tem como objetivo a analisar a (im) possibilidade da aplicação do 
instituto de recuperação judicial das cooperativas médicas. Tem como núcleo central 
a suposta deturpação dos princípios da recuperação judicial. A problemática é 
trabalhada em torno de duas possibilidades: A possibilidade de sua aplicação através 
de uma análise análoga do seu texto legal e seu exercício de atividade empresarial e 
de uma análise apressada no seu texto legal. Contém elementos dedutivos e utiliza 
material qualitativo, optou-se pelo tipo de pesquisa teórico e qualitativo. Os resultados 
alcançados demonstram que a ausência de estudos sobre o tema pode levar ao 
desvio de finalidade da atividade cooperativista. Desse modo, observa-se que a 
Recuperação Judicial não pode ser aplicada às cooperativas por simples disposições 
legais, uma vez que são elencadas como sociedade simples pelo Código Civil e a Lei 
11.101/05 declara a aplicação somente para empresário e sociedade empresária. 
Ocorre que não há previsão de um instituto capaz de proporcionar a manutenção das 
cooperativas, mas estas praticam atividades empresárias como qualquer outra 
empresa, se submetendo aos mesmos riscos de mercado, necessitando de um 
amparo para tanto. Assim o instituto da Recuperação Judicial traria inúmeros 
benefícios para as sociedades cooperativas médicas. Ao final, foram tecidas 
considerações sobre a legitimidade, exploração da atividade empresarial e analise dos 
precedentes, sendo possível vislumbrar um futuro de oportunidades, mas cheio de 
desafios ao caráter peculiar das sociedades cooperativas médicas. 
 
Palavras-chave: Recuperação judicial. Cooperativismo. Cooperativa médicas. 
Atividade empresarial. Instituto de Recuperação judicial, extrajudicial e Falência. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT OU RESUMEN 
 
The present work aims to analyze the (im) possibility of applying the judicial recovery 
institute to medical cooperatives. Its central core is the alleged misrepresentation of 
the principles of judicial reorganization. The issue is worked around two possibilities: 
The possibility of its application through an analogous analysis of its legal text and its 
business activity and a hasty analysis of its legal text. It contains deductive elements 
and uses qualitative material, we opted for the theoretical and qualitative type of 
research. The results achieved demonstrate that the absence of studies on the subject 
can lead to a deviation from the purpose of the cooperative activity. Thus, it is observed 
that the Judicial Reorganization cannot be applied to cooperatives by simple legal 
provisions, since they are listed as a simple society by the Civil Code and Law 
11.101/05 declares the application only for entrepreneurs and business companies. It 
so happens that there is no provision for an institute capable of providing for the 
maintenance of cooperatives, but they practice business activities like any other 
company, subjecting themselves to the same market risks, needing support to do so. 
Thus, the Judicial Reorganization institute would bring countless benefits to medical 
cooperative societies. At the end, considerations were made about the legitimacy, 
exploration of the business activity and analysis of precedents, making it possible to 
glimpse a future of opportunities, but full of challenges to the peculiar character of 
medical cooperative societies. 
 
 
Keywords ou Palabras clave: Judicial recovery. Cooperatives. Medical Cooperative. 
Business activity. Institute of Judicial, Extrajudicial and Bankruptcy Recovery. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
CC Código Civil 
CPCCódigo de Processo Civil 
CRFB Constituição da República Federativa do Brasil 
LRJ Lei de Recuperação Judicial, extrajudicial e Falência 
REsp Recurso Especial 
 
SUMÁRIO 
 .................................................................................................................................... 5 
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 11 
2 A LEI Nº 11.101/2005 E AS DEFINIÇÕES DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL ........ 14 
2.1 PRINCÍPIOS APLICAVEIS A RECUPERAÇÃO JUDICIAL: TRIPARTIÇÃO DE 
PODERES, PRESERVAÇÃO DA EMPRESA, FUNÇÃO SOCIAL E ESTÍMULO A 
ATIVIDADE ECONÔMICA ........................................................................................ 18 
2.1.1 Princípio da preservação da empresa .......................................................... 19 
2.1.2. Princípio da função social ............................................................................ 21 
2.1.3. Princípio do estímulo a atividade econômica ............................................. 23 
2.2 PROCESSAMENTO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL ........................................ 25 
2.3. A LEI 11.101/2005 E A RECUPERAÇÃO JUDICIAL.......................................... 31 
3 COOPERATIVISMO E SEUS ASPECTOS ............................................................ 32 
3.1 ASPECTOS CONCEITUAIS ............................................................................... 32 
3.1.1. Cooperar ........................................................................................................ 32 
3.1.2. Cooperação .................................................................................................... 33 
3.1.3. Cooperativismo ............................................................................................. 33 
3.1.4. Cooperativa .................................................................................................... 33 
3.1.5. Cooperado ..................................................................................................... 34 
3.2. CONCEPÇÃO HISTORICA DO COOPERATIVISMO ........................................ 34 
3.3. REGIME JURÍDICO DAS COOPERATIVAS ...................................................... 37 
3.4. AS COOPERATIVAS MÉDICAS A PARTIR DE UMA VISÃO DE ATIVIDADE 
EMPRESÁRIA PARA APLICABILIDADE DO INSTITUTO DE RECUPERAÇÃO 
JUDICIAL .................................................................................................................. 39 
4 A (IM) POSSIBILIDADE DAS COOPERATIVAS MÉDICAS PARA PEDIDO DE 
RECUPERAÇÃO JUDICIAL ..................................................................................... 43 
4.1 A LEGITIMIDADE DAS COOPERATIVAS MÉDICAS PARA PROPOR 
RECUPERAÇÃO JUDICIAL ...................................................................................... 43 
4.2 POSIÇÃO DOUTRINARIA SOBRE A (IM) POSSIBILIDADE DAS 
COOPERATIVAS PEDIR RECUPERAÇÃO JUDICIAL ............................................. 46 
4.3. ANALISE DOS PRECEDENTES JUDICIAIS SOBRE A (IM) POSSIBILIDADE 
DAS COOPERATIVAS MÉDICAS PARA PEDIDO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL 48 
5 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 53 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 55 
11 
1 INTRODUÇÃO 
 
O presente trabalho tem por objetivo verificar se o instituto da recuperação 
judicial pode ser aplicado às cooperativas médicas, a partir do entendimento 
jurisprudencial do Superior Tribunal de Justiça, o que deu ensejo à seguinte questão-
problema: o instituto da recuperação judicial e falência pode ser aplicados às 
cooperativas médicas, figurando como recuperandas? 
A escolha da temática dá-se em decorrência da relevância que o tema 
possui para o emblemático ordenamento jurídico brasileiro, tendo em vista, as normas 
que versam sobre a ilegitimidade das cooperativas debatendo com os princípios 
constitucionais e infraconstitucionais, bem como, sua aplicação à luz da doutrina e 
jurisprudência. 
Seguindo os parâmetros da lei 11.101/2005, cabe ao Poder Judiciário 
deferir e processar os pedidos de recuperação judicial advindos da necessidade da 
preservação da atividade consideradas empresariais, observando as questões fáticas, 
sua função social, sanitária e econômica. 
O Instituto da Recuperação Judicial e Falência é o mecanismo utilizado 
para tratar de empresas em estado de dificuldade financeiro, trazendo como objetivo 
essencial proteger e dar continuidade a atividade empresarial exercida. 
Assim, a importância deste trabalho consiste em analisar as normativas 
introduzidas na Lei 11.101/2005 (Instituto de Recuperação Judicial e Falência), em 
que traz como ilegítimas as cooperativas em razão da sua forma societária, isto, por 
quê, a lei não considera atividade empresária quem adota tal regime. 
Ainda, será analisado os posicionamentos doutrinários e jurisprudenciais 
do Superior Tribunal de Justiça que envolvem a aplicação do instituto das empresas 
em dificuldades financeira, com base em uma interpretação teleológica, de maneira a 
realizar uma interpretação mais ampla equiparando as cooperativas médicas a 
atividades consideradas empresárias. 
Com isso restará demonstrado a legislação aplicável e seus institutos, com 
ênfase na Lei 11.101/2005, bem como, as limitações interpretativas e a discussão 
jurídica existente, entre a legitimidade das cooperativas médicas para proporem 
pedidos de Recuperação Judicial. Por fim, se constatará a falta de inovação do Poder 
Legislativo, superando a dicotomia histórica de sociedades empresárias e não 
empresárias. 
12 
A partir de uma reflexão preliminar e de certa percepção inicial da 
problemática que envolve o tema, formula-se a (s) hipótese (s) de que a Lei nº 
11.101/2005 poderá ser aplicada para a recuperação judicial e falência das 
cooperativas médicas. 
Isso por quê, em que pese a atividade médica possuir uma natureza 
intelectual, o presente trabalho abordará como ela sendo um elemento de empresa, 
ou seja, sem a questão da pessoalidade. 
Entretanto, sua exclusão expressa, em razão do regime societário adotado 
do cooperativismo, demonstrando que os pressupostos que conceituam as atividades 
empresariais são substancialmente amplos, cabendo ao julgador realizar uma 
interpretação teleológica. 
O legislador traz a conceituação de atividade empresária no art. 9661 e 
parágrafo único do Código Civil, demostrando que aquele que exercer uma atividade, 
de maneira profissional, econômica e organizada se amoldara a referido conceito. Por 
esta razão, caberia ao legislativo redefinir este conceito e incluir parâmetros para 
aplicação do referido instituto, quanto a legitimidade das cooperativas de saúde. 
Respaldando-se no Código Civil e sua teoria da empresa e, também, a luz 
da preservação da empresa e demais princípios empresarias, bem como os 
fundamentos da ordem econômica, elencados na Constituição de República 
Federativa do Brasil de 1988. 
No entanto, observa-se que em muitos casos não há a devida resolução 
em se estender a legitimidade, de forma que o legislador optou por restringir o Instituto 
de falência e recuperação judicial apenas ao empresário, excluindo as cooperativas 
em razão de seu regime societário. Por esta razão, é plenamente questionável o 
motivo pela qual as cooperativas não fazerem parte do rol de legitimados e nem se 
submeterem a Lei 11.101/2005 (instituto de falência e recuperação judicial), muito 
embora se enquadrem nos requisitos de empresa elencados no art. 966 do Código 
Civil e demais imposições previstas na legislação empresarial especial. 
 
1 Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada 
para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. Parágrafo único. Não se considera empresário 
quemexerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de 
auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa. 
 
13 
Além disso, questiona-se a falta de interpretação da atividade empresária 
e a insistência do judiciário no que concerne ao conceito restritivo positivado no 
ordenamento jurídico, afastando-a do conceito de empresa. 
 No mais, sob o prisma metodológico, o trabalho em tela será utilizado o 
método dedutivo, em pesquisa do tipo teórica e qualitativa, com emprego de material 
bibliográfico diversificado em livros, artigos de periódicos, teses e dissertações, e 
principalmente, por ser um assunto muito atual, por via de sites jornalísticos e até 
mesmo por lives. 
No terceiro capítulo, em etapa quantitativa, será realizada a coleta de dados 
jurisprudenciais, por meio dos acórdãos do Superior Tribunal de Justiça entre os anos 
2015 a 2021 e, os termos utilizados na pesquisa serão: cooperativas, Recuperação 
Judicial, cooperativismo, onde se verifica de forma clara o assunto abordado, com a 
finalidade de analisar acerca da legitimidade de propor recuperação judicial de 
cooperativas médicas e suas garantias. 
O percurso para a realização no Capitulo 2, de conhecer o instituto jurídico 
de Recuperação Judicial, regime esse, adotado desde a transição para o Novo Modelo 
de Recuperação Judicial e Falência, com os seus princípios e legislação aplicável, 
pois, como ocorrido no presente caso da empresa, a Recuperação Judicial tem como 
medida genérica, solucionar e superar a crise da qual a empresa passa. 
Em seguida, no Capítulo 3, abordar-se-á acerca da regulamentação legal 
das cooperativas, regime societário esse, adotado como marco teórico da pesquisa 
realizada, com contexto histórico do Cooperativismo, bem como, a equiparação das 
cooperativas médicas a partir de uma visão de sociedades empresariais, e uma visão 
de atividade empresária para aplicabilidade do Instituto de Recuperação Judicial. 
E, adiante, no Capítulo 4, chegar-se-á ao ponto máximo do trabalho, para 
verificarmos a possibilidade e legitimidade de as cooperativas médicas pedirem 
recuperação judicial. 
Ao findar, serão trazidas as considerações finais, elaborando o balanço dos 
objetivos alcançados em face dos propósitos delineados, junto com sugestões de 
novas frentes de investigação para futuros estudos sequenciais. 
 
14 
2 A LEI Nº 11.101/2005 E AS DEFINIÇÕES DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL 
 
Conforme a interpretação literal do art. 1º da LRF2, somente aquela que 
exerce uma atividade empresarial, - empresários -, sociedades empresarias 
individuais ou não, possuem capacidade postulatória para requerer propositura de 
recuperação judicial. 
Segundo CAMPINHO (2020, p. 128). “O Instituto de Recuperação judicial 
tem o propósito de melhorar a aplicabilidade de sobrevivência para superação da crise 
econômica da empresa, tem por interesse a preservação da empresa devedora como 
princípio basilar”. 
O instituto representado pela Lei de Recuperação Judicial, Extrajudicial e 
Falência, Lei n. 11.101/2005, trouxe uma nova abordagem as normativas aplicadas a 
recuperação e superação de elementos que contribuem para estimular, o 
desenvolvimento e a continuidade do mercado, muito embora esse instituto veda a 
aplicação as sociedades cooperativas. (KEMPFER; ARAGOS, 2015, p. 3). 
Em seu art. 2º da LRF, traz de maneira taxativa os rol de legitimados para 
propor o pedido de recuperação judicial, excluindo alguns regimes societários, 
portanto “as empresa pública e sociedade de economia mista, instituição financeira 
pública ou privada, cooperativa de crédito, consórcio, entidade de previdência 
complementar, sociedade operadora de plano de assistência à saúde, sociedade 
seguradora, sociedade de capitalização e outras entidades legalmente equiparadas 
às anteriores não podem pedir recuperação judicial”.3 (BRASIL, 2005). 
A Recuperação Judicial é um instrumento de ajuda na superação da crise 
econômica financeira das empresas. Desta forma, a Lei 11.101/2005, tornou-se o 
mecanismo responsável por regular estes estabelecimentos em situação de crise. 
Com isso, tenta-se recuperar a empresa para evitar o processo falimentar, 
auxiliando o empresário ou a sociedade empresária nas situações de crise econômica, 
conforme previsão expressa do princípio da preservação da atividade econômica, 
 
2 Art. 1º Esta Lei disciplina a recuperação judicial, a recuperação extrajudicial e a falência do empresário 
e da sociedade empresária, doravante referidos simplesmente como devedor”. (BRASIL, 2005). 
3 “Art. 2º Esta Lei não se aplica a: I – empresa pública e sociedade de economia mista; II – instituição 
financeira pública ou privada, cooperativa de crédito, consórcio, entidade de previdência complementar, 
sociedade operadora de plano de assistência à saúde, sociedade seguradora, sociedade de 
capitalização e outras entidades legalmente equiparadas às anteriores”. (BRASIL, 2005). 
 
15 
elencada no art. 47 da LRF “tem por objetivo principal proteger a atividade empresária 
dando continuidade e preservação”. (BRASIL, 2005). 
Se concerne, a diversos atos praticados sob supervisão judicial propostos 
a reestruturar e condicionar em funcionamento as empresas com crises financeiras 
temporárias. Não é de responsabilidade do Poder Judiciário a obrigação de reelaborar 
a atividade do empresário individual ou sociedade empresária que está em crise, 
cumprindo somente ao Poder Judiciário averiguar e executar a aplicação, ao 
“empresário” em crise financeira, de uma cadeia de procedimentos legalmente 
previstos para atingir o soerguimento financeiro desejado. (PIMENTA, 2006, p. 153). 
Sendo assim, existe uma série de requisitos para a propositura de pedidos 
de recuperação judicial, portanto, faz-se necessário comprovar a dificuldade financeira 
temporária e demonstrar que será viável para o reerguimento da empresa através do 
plano de recuperação. 
Desta forma, os regulamentos da recuperação judicial estão elencados no 
art. 47 da Lei 11.101/2005. Vejamos: 
 
A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de 
crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da 
fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos 
credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social 
e o estímulo à atividade econômica. (BRASIL, 2005). 
 
Além disso, no art. 48º da LRF, estão elencados os requisitos que deverão 
atender para que o Juiz autorize o processamento do pedido do devedor na 
propositura da recuperação judicial. Vejamos: 
 
 [...] I – não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por sentença 
transitada em julgado, as responsabilidades daí decorrentes; II – não ter, há 
menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial; III - não 
ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial 
com base no plano especial de que trata a Seção V deste Capítulo; IV – não 
ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio controlador, 
pessoa condenada por qualquer dos crimes previstos nesta Lei. (BRASIL, 
2005). 
 
A legitimidade para propositura da recuperação judicial não basta apenas 
ser considerado empresário, tem que atender os requisitos estabelecidos no art. 48 
LRJ. 
16 
Outrossim, para o devedor legitimar a recuperação judicial deverá 
comprovar que exerça regularmente atividade de empresário por mais de 02 (dois) 
anos. Em certos casos, que não consiga a comprovação do exercício regular da 
atividade empresária por mais de 02 (dois) anos, o processamento da recuperação 
judicial deverá ser indeferido. (AYOUB; CAVALLI, 2016, p. 37) 
Conforme entendimento dos autores, “essa exigência, no entanto, é 
dispensada para empresa que exerce a atividade há menos de dois anos, mas é 
integrante de grupo societário constituído há mais de doisanos”. (AYOUB; CAVALLI, 
2016, p. 37). 
Para o devedor legitimar a recuperação judicial, o art. 48 da LRJ define que 
se for falido não se legitima a recuperação judicial, salvo “se o foi, estejam declaradas 
extintas, por sentença transitada em julgado”. 
No entanto, depois da citação do feito falimentar, o art. 95 da LRJ autoriza 
que dentro do prazo legal de 10 (dez) dias, que o devedor poderá pedir recuperação 
judicial, nesta ocasião o devedor ainda não foi declarado falido e poderá pleitear a 
recuperação judicial. 
 
Art. 95 - Dentro do prazo de contestação, o devedor poderá pleitear sua 
recuperação judicial. (BRASIL, 2005). 
 
Todavia, a entrega do pedido de recuperação judicial pelo devedor no prazo 
da contestação do pedido falimentar, o juiz ficará impedido de decretar a falência, o 
pedido de falência ficará suspenso e será distribuído o pedido de recuperação judicial. 
(AYOUB; CAVALLI, 2016, p. 39). 
Contudo, outro requisito da propositura da recuperação judicial prevista no 
art. 48 da LRJ “não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação 
judicial”. 
Conforme dispõe Ayoub e Cavalli (2016), “a empresa tenha obtido o 
deferimento do processamento da recuperação judicial e, após, tenha ocorrido a 
aprovação da desistência da recuperação judicial, nada obsta que ela venha a 
postular novamente recuperação judicial”. 
E o último requisito estabelecido no art. 48 da LRJ no qual diz “não ter sido 
condenado ou não ter, como administrador ou sócio controlador, pessoa condenada 
por qualquer dos crimes concursais”. 
17 
No entanto, a jurisprudência nos últimos anos, decidiu amenizar as 
consequências das responsabilidades dos administradores, deverá ser verificada 
conforme art. 82 da LRJ. (AYOUB; CAVALLI, 2016, p. 42). 
Portanto, nem toda empresa pode pedir recuperação judicial, o empresário 
que postula deverá por meio de seu sacrifico mostrar que a empresa tem condições 
de se reerguer e se desenvolver no meio da crise econômica. Para Negrão (2019, p. 
153), a recuperação judicial só poderá chegar em seu objetivo basilar se estimular a 
atividade econômica, permitindo que ela cumpra sua função social, seja ela produzir, 
contratar, gerar lucros entre outros fatores. (COELHO, 2011, p. 413). 
Nesse processo, a atividade empresarial será preservada, com isso o 
devedor deverá apresentar um Plano de Recuperação para passar pela crise 
econômica, na qual utilizará meios para a superação dessa situação, com objetivo de 
manter sua atividade. 
Portanto, o devedor deverá comprovar que está exercendo a atividade 
empresarial regularmente, há mais de dois anos, deixando claro que, o devedor que 
estiver irregular não terá direito a recuperação judicial. Essa comprovação é feita 
através da retirada certidões da Junta Comercial Competente que comprove a regular 
atividade empresarial por tempo igual ou superior exigido na legislação. (RAMOS, 
2016, p. 823). 
Outro dos requisitos para propositura da recuperação judicia, seria a 
comprovação de nunca ter decretado a falência, ou se suas obrigações já foram 
declaradas extintas por sentença transitada em julgado, também traz a exigência de 
não tenha ao menos 5 anos obtido a concessão de recuperação judicial. 
Segundo o mesmo autor, o foro competente, nos termos do art. 3º da LRJ 
é o principal estabelecimento do devedor. Entretanto, o conceito de principal 
estabelecimento nem sempre será situada a sede administrativa, mas sim aquele local 
onde há o maior volume de negócios. 
O plano de recuperação será apresentado aos credores que poderão se 
opor ou não a ele, sugerindo alterações ou até mesmo a propositura de um novo 
plano. Ocorrendo quaisquer objeções e havendo rejeição a sociedade empresária 
com pluralidade de sócios ou não poderá ser convolada em falência, sendo assim a 
concessão da recuperação é ato do juiz e encerra-se por sentença, nas palavras de 
Lavoisier, na natureza nada se cria, nada se perde tudo se transforma. 
A seguir analisa-se os processamentos da Recuperação judicial. 
18 
 
2.1 PRINCÍPIOS APLICAVEIS A RECUPERAÇÃO JUDICIAL: TRIPARTIÇÃO DE 
PODERES, PRESERVAÇÃO DA EMPRESA, FUNÇÃO SOCIAL E ESTÍMULO A 
ATIVIDADE ECONÔMICA 
 
A recuperação judicial em seu art. 47 da Lei 11.101/2005 e no texto 
constitucional, estabelece os princípios norteadores da recuperação judicial, 
consagrando os princípios da preservação da empresa, função social e estímulo da 
atividade econômica, entretanto, a recuperação estipulada é dá o qual poderá ser 
administrada por pessoa diversa. 
Entretanto, no Projeto de Lei da Câmara nº 71, de 2003, no qual previa a 
criação da Lei n. 11.101/2005, na época Senador Ramez Tebet (parlamentar por Mato 
Grosso do Sul), no Parecer nº 534/2004, fez refletir sobre os instrumentos suficientes 
que conferisse a necessidade de uma ferramenta que regulasse a 
segurança/agilidade, a um ambiente com melhorias econômicas para amplitude do 
crescimento no país. 
Neste parecer ele justificou a criação dos 12 princípios adotados na análise 
do seu relatório, são eles: 
 
Preservação da empresa; Separação dos conceitos de empresa e de 
empresário; Recuperação das sociedades e empresários recuperáveis; 
Retirada do mercado de sociedades ou empresários não recuperáveis; 
Proteção aos trabalhadores; Redução do custo do crédito no Brasil; 
Celeridade e eficiência dos processos judiciais; Segurança jurídica; 
Participação ativa dos credores; Maximização do valor dos ativos do falido; 
Desburocratização da recuperação de microempresas e empresas de 
pequeno porte; Rigor na punição de crimes relacionados à falência e à 
recuperação judicial. (TEBET, 2007). 
 
Por tanto, tendo como os princípios basilares introduzidos na Lei 
11.101/2005: a preservação da empresa, função social e estímulo da atividade 
econômica. 
Com isso, estes princípios supracitados – preservação da empresa, 
atividade função social e estímulo a atividade econômica - da recuperação judicial são 
instrumentos aptos para conseguir um processo de recuperação judicial ágil e 
eficiente, capaz de influenciar precisamente nas ações, nas garantias, e na vida dos 
indivíduos do devido processo. 
19 
Neste viés, serão abordados os princípios norteadores para propositura do 
pedido de Recuperação judicial lembrados pelos doutrinadores e pesquisadores, e 
mais nitidamente utilizado na execução da recuperação judicial. Vejamos estes 
princípios interligados entre si. 
 
2.1.1 Princípio da preservação da empresa 
 
O princípio da preservação da empresa também chamado de princípio da 
viabilidade da empresa teve seu surgimento na jurisprudência e na doutrina e com o 
passar do tempo se adequou a Carta Magna de 1988 e, também a Lei 11.101/2005, 
ganhando bastante destaque no âmbito jurídico nacional. 
Entretanto, sua definição encontra-se destacado em diversas disposições 
do Código Civil Brasileiro, utilizado tanto para as empresas individuais quanto para as 
sociedades empresariais. 
Para o doutrinador Fabio Ulhoa Coelho (2011): 
 
O princípio da preservação da empresa, construído pelo moderno Direito 
Comercial, o valor básico prestigiado é o da conservação da atividade (e não 
do empresário, do estabelecimento ou de uma sociedade), em virtude da 
imensa gama de interesses que transcendem os dos donos do negócio e 
gravitam em torno da continuidade deste; assim os interesses de empregados 
quanto aos seus postos de trabalho, de consumidores em relação aos bens 
ou serviços de que necessitam, do fisco voltado à arrecadação e outros. 
(COELHO, 2011, p.104). 
 
Destaca-se, que este princípio é um dos basilares para as garantias 
relativas dos instrumentos proficientes da conservação e recuperação da empresa, 
assegurando a sua continuidade. 
Ainda, para corroborar com o exposto, Mamede (2020) informa: 
 
O princípio da preservação da empresa, deve-se frisar, não é absoluto, ou 
seja, não se traduz por um impedimento de que as atividadesempresariais 
sejam encerradas. Pelo contrário, deve-se reconhecer como algo normal, 
correspondente ao comum das relações jurídicas, que a empresa encerre 
suas atividades. Sua percepção e manifestação adequada se dá pela 
consideração, em primeiro lugar, dos impactos do encerramento das 
atividades de uma empresa, a implicar um juízo de valor; dessa forma, a ideia 
de preservação é tributária da constatação de que o encerramento das 
atividades produzirá os pré-falados efeitos deletérios sobre a comunidade, 
recomendando atentar para a possibilidade de sua continuidade. É um 
julgamento de vital importância, pois deve evitar visões simplistas para 
compreender globalmente o quadro que se apresenta. A determinação do 
encerramento das atividades de uma empresa que crie grandes danos para 
20 
o meio ambiente deixa desempregados, reduz negócios etc., mas a 
manutenção de suas atividades tem resultados negativos que superam os 
aspectos positivos de sua manutenção. (MAMEDE, 2020, p. 82) 
 
Ademais, conforme destaca acima, terá casos em que haverá manutenção 
da empresa se tornara inviável podendo se tornar muito onerosa, tanto para o 
comercio, quanto para os credores infrequente liquidação. 
Entretanto, o princípio da preservação da empresa atua como um 
instrumento de proteção para a função social da empresa, sendo o objetivo central a 
preservação da empresa, a atividade econômica, que beneficia milhares de 
envolvidos nessa cadeia produtiva, uma empresa que se mostra viável 
economicamente, geram inúmeros benefícios do que se fosse encerrada. (JUPETIPE; 
MARTINS; MÁRIO; CARVALHO, 2017). 
Neste ponto, o princípio respaldado no art. 47 da Lei 11.101/2005, deixa 
claro a importância do interesse público na preservação e continuidade da atividade 
empresarial, bem como a circulação de bens e prestações de serviços, atendendo não 
somente o interesse do empresário, mas de toda uma coletividade que depende 
diretamente e indiretamente do exercício de sua atividade.4 
No entanto, o princípio de acordo com a doutrina, possui amparo legal 
também no art. 3º, inciso II da Constituição Federal/1988, no qual informam os 
objetivos fundamentais do Brasil, seja, garantir o desenvolvimento nacional, tendo um 
dos instrumentos para alcançar esta finalidade seja a preservação da fonte produtora, 
a atividade economicamente organizada.5 
Mamede (2020) aduz que, “princípio da função social da empresa é 
o princípio da preservação da empresa, metanorma que é diretamente decorrente 
daquela anterior: é preciso preservar a empresa para que ela cumpra a sua função 
social”. 
Ocorre também que o princípio da preservação da empresa não é absoluto, 
devendo ser analisado conjuntamente com o princípio da função social da mesma. 
 
4 “Art. 47. A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise 
econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos 
trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua 
função social e o estímulo à atividade econômica”. (BRASIL, 2005). 
5 “Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: 
II - Garantir o desenvolvimento nacional;”. (BRASIL, 1988). 
21 
Além disso, o art. 5º, inciso XXIII da Constituição Federal/1988, assegura as garantias 
dos direitos e deveres individuais e coletivos ao estabelecer “a propriedade atenderá 
a sua função social”, sendo seu objeto principal.6 
Para Pipolo (2016, p. 85), o princípio da função social da empresa não 
significa modificar a sociedade empresária em uma repartição pública, no qual o 
interesse particular será renegado, apenas buscará um sentido social para o exercício 
da atividade estimulando os fatores de produção. 
Neste viés, pode se dizer que, o princípio da preservação da empresa tem 
como um dos objetivos primordiais, a preservação da atividade econômica 
organizada, atingindo o soerguimento econômico na manutenção da empresa. 
Colhe-se a decisão do Superior Tribunal de Justiça, no qual reconhece o 
princípio da preservação da empresa, julgado do REsp. 1.023.172-SP: 
 
PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE FALÊNCIA 
AJUIZADA SOB A ÉGIDE DO DECRETO-LEI 7.661/1945. 
IMPONTUALIDADE. DÉBITO DE VALOR ÍNFIMO. PRINCÍPIO DA 
PRESERVAÇÃO DA EMPRESA. 1. O princípio da preservação da empresa 
cumpre preceito da norma maior, refletindo, por conseguinte, a vontade do 
poder constituinte originário, de modo que refoge à noção de razoabilidade a 
possibilidade de valores inexpressivos provocarem a quebra da sociedade 
comercial, em detrimento da satisfação de dívida que não ostenta valor 
compatível com a repercussão socioeconômica da decretação da quebra. 2. 
A decretação da falência, ainda que o pedido tenha sido formulado sob a 
sistemática do Decreto-Lei 7.661/45, deve observar o valor mínimo exigido 
pelo art. 94 da Lei 11.101/2005, privilegiando-se o princípio da preservação 
da empresa. Precedentes. (BRASIL, 2012). 
 
Por fim, o princípio da preservação da empresa, quando invocado, 
observará a necessidade de sua preservação, analisando os fatos e ordenamento 
jurídico que o contempla. Assim, a hipossuficiência do empresário é tratada como uma 
medida extrema, e todo o ordenamento jurídico corrobora com a preservação da 
empresa e a função social da atividade econômica organizada. 
 
2.1.2. Princípio da função social 
 
O princípio da função social encontra mencionado no art. 5º da CRFB/88, 
in verbis: “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, 
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade 
 
6 “Art. 5º - XXIII - a propriedade atenderá a sua função social; ”. (BRASIL, 1988). 
22 
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos 
seguintes: (...) XXIII - a propriedade atenderá a sua função social”. (BRASIL, 1988). 
E novamente mencionada quando a Carta Magna de 1988 dispõe sobre os 
princípios gerais da atividade econômica, conforme estipulado no art. 170.7 
Portanto observa-se que o artigo estabelece um dos fundamentos da 
ordem econômica, pautando a estruturação as ideias de liberalismo econômico, 
reduzindo as desigualdades sociais e a busca do pleno emprego, baseada na 
valoração do trabalho, cumprindo a função social. (PEREIRA, 2010, pag. 41). 
Ademais, A empresa e a propriedade empresarial possuem como objetivo 
atender seus interesses, porém, também a função social, estipulada no art. 5ª, 182 e 
186 da CRFB/88. 
Castro (2006, p.141) informa que, “na análise institucional do direito usa-se 
o termo função para designar a finalidade legal de um instituto jurídico, ou seja, o bem 
ou valor em razão do qual existe, segundo a lei, um conjunto estruturado de normas”. 
Verifica-se que a função social, seria basicamente cumprir uma finalidade 
útil a coletividade, não bastando apenas as pessoas envolvidas em seu ciclo, 
determinará uma limitação interna, no qual será legitimo o interesse individual sem 
prejuízos ao interesse social da coletividade. (PEREIRA, 2010, pag. 141). 
No entendimento de Souza: 
 
De forma direta, esta função se perfaz pela geração de empregos e 
consequentemente a geração de rendas que os trabalhadores se utilizam 
para sustentar suas famílias. As empresas produzem e fornecem insumos 
básicos sem os quais as pessoas não podem sobreviver, alimentos, 
vestuário, medicamentos, serviços, elevando a qualidade de vida da 
população. As empresas são as principais responsáveis pela pesquisa de 
novas tecnologias auxiliando no desenvolvimento dos Estados. As empresas, 
sobretudo as privadas, podem desafogar as finanças do Estado a partir das 
chamadas Concessões ou Parcerias Público-Privadas (PPP). Enfim, as 
sociedades empresariais são cruciais para o desenvolvimento de qualquer 
país, existindo sim uma obrigação social que são incumbidas à estas. 
Todavia, é sabido os problemas que tambémsão causados por estas 
pessoas jurídicas e seus sócios, mas para isto existe o Direito e a sua 
 
7 “Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem 
por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os 
seguintes princípios: I - soberania nacional; II - propriedade privada; III - função social da 
propriedade; IV - livre concorrência; V - defesa do consumidor; VI - defesa do meio ambiente; 
VII - redução das desigualdades regionais e sociais; VIII - busca do pleno emprego; IX - tratamento 
favorecido para as empresas brasileiras de capital nacional de pequeno porte. Parágrafo único. É 
assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de 
autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei”. (BRASIL, 1988). 
 
23 
fiscalização, no intuito de coibir atos ilícitos perpetrados neste âmbito. 
(SOUZA, [s.d.], p. 6) 
 
No entanto, conforme o art. 47º da LRJ no qual informa que deverá ser 
preservada a fonte produtora, gerando lucro para a empresa, in verbis: “Art. 47 - A 
recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a separação da crise econômico-
financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego 
dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo assim a preservação 
da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica”. (BRASIL, 
2005). 
Nos dias de hoje, para que a função social seja explorada, será 
necessário a manutenção das sociedades empresariais e o estímulo para a 
fundação de outras, deverá ser possível através de barreiras rígidas entre o 
patrimônio pessoal do sócio e o da pessoa jurídica. (SOUZA, [s.d.], pag. 8). 
Contudo, os credores estariam satisfeitos e privilegiados, os postos de 
trabalhos deverão ser mantidos e preservados, e a clientela mantida, o empresário 
terá seu crescimento econômico e preservado seu capital e investimento. 
(BONOMO; SÁ, 2012, PAG. 6). 
Conforme entendimento de BONOMO e SÁ (2012): 
 
A recuperação judicial visa recuperar o devedor econômica e 
financeiramente, garantindo‐lhe, não somente manter‐se na atividade, mas 
também todos os consectários explanados acima e, assim, atender sua 
função social. [...] Objetivo da recuperação judicial é permitir, ao empresário 
em dificuldade, o fenômeno da superação da crise econômico‐financeira 
mantendo a empresa em todos os seus aspectos, principalmente voltada para 
função social e o estímulo à atividade econômica. (BONOMO; SÁ, 2012, 
PAG. 4). 
 
Por fim, embora a empresa estiver passando por uma crise, deverá sempre 
que possível, preservar a atividade da empresa através do instituto da recuperação 
judicial, sua função social será preservada, protegendo o bem-estar da coletividade 
agindo em diversos institutos do Direito. 
 
2.1.3. Princípio do estímulo a atividade econômica 
 
O princípio do estímulo a atividade econômica significa que será livre desde 
que licita a exploração da atividade econômica para seu sustento. Nas palavras de 
24 
Batista e Lana (2014) “um dos maiores estímulos para assumir o risco da atividade 
econômica se baseia no próprio sustento, ou seja, sustento familiar, bem como ensejo 
de uma qualidade financeira melhor”. 
Conforme mencionado por Raquel Sztajn (2008): 
 
Ao se referir a estímulo à atividade econômica, está implícito o 
reconhecimento de que a empresa é uma das fontes geradoras de bem-estar 
social e que, na cadeia produtiva, o desaparecimento de qualquer dos elos 
pode afetar a oferta de bens e serviços, assim como a de empregos, por conta 
do efeito multiplicador na economia. (SZTAJN, 2008). 
 
Para Batista e Lana (2014, p. 109), pode-se dizer que o empresário buscar 
levar um estímulo a atividade econômica da empresa, levando para as pessoas o que 
elas precisam, em retorno se tem um pagamento. Neste contexto fica claro que o 
maior objetivo é encontrar uma necessidade e supri-la, afim de se obter ganhos sobre 
isso. O maior preocupante sobre isso, contudo, é constatar que o papel fundamental 
é interagir o estímulo a atividade econômica e desse modo criar um processo continuo. 
Não é exagero afirmar que é o papel do Estado é garantir um investimento nesse 
processo em troca da execução, onde deverá ser preciso um estudo sobre a 
necessidade de produção de produtos e serviços que a atendem com o objetivo de 
dar continuidade a empresa em crise. 
Conforme seu entendimento, Daniel Moreira de Patrocínio (2012) afirma 
que: 
 
Empresa, mercado e Direito são realidades que se entrelaçam e se modelam 
para viabilizar a produção econômica, o atendimento das necessidades 
sociais, maximizando a utilização de recursos escassos, alocando-os em 
favor daquelas pessoas que maior valor lhes atribua. A análise acerca dos 
custos e benefícios marginais, decorrentes do incremento quantitativo da 
atividade negocial, não se esgota na ideia de simples conduta gananciosa do 
empresário, mas na convicção de que o crescimento da empresa se constitui 
em fator decisivo para sua sobrevivência, em razão da alta competitividade 
do mercado. Ao Estado, por sua vez, compete constituir instituições capazes 
de assegurar a proteção da propriedade privada, a livre circulação de 
riquezas, o ingresso, continuidade e saída de empresas no mercado, regular 
atividades estratégicas, criando um ambiente institucional propício à livre 
negociação entre os agentes econômicos. (PATROCÍNIO, 2012 p. 81). 
 
Deste modo, a recuperação judicial é o instrumento fundamental para a 
preservação e estímulo da atividade econômica, trazendo objetivos significativos para 
a economia. 
25 
Neste diapasão Santos (2017) informa que “Altos benefícios tanto para 
empresas quanto para a economia em geral e ampliação da utilização desse instituto 
de resolução da insolvência”. A partir da compreensão da tripartição dos princípios e 
da recuperação judicial, passa-se a abordar os processamentos da Recuperação 
judicial. 
 
2.2 PROCESSAMENTO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL 
 
Por ora, estando preenchidos todos dos requisitos para propositura da RJ, 
o devedor deverá protocolar a petição inicial preenchendo os requisitos estabelecidos 
pelo art. 51 da LRJ8 e os estabelecidos no art. 282 do CPC. 
 
Art. 282. A petição inicial indicará: 
I - o juiz ou tribunal, a que é dirigida; 
II - os nomes, prenomes, estado civil, profissão, domicílio e residência do 
autor e do réu; 
III - o fato e os fundamentos jurídicos do pedido; 
IV - o pedido, com as suas especificações; 
V - o valor da causa; 
VI - as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos 
alegados; 
VII - o requerimento para a citação do réu. 
 
Conforme informa Ayoub e Cavalli (2016): 
 
A petição inicial deve ser instruída com as demonstrações contábeis 
referentes aos três últimos exercícios e aquelas levantadas especialmente 
para a recuperação judicial. Conforme aponta a LRF no art. 51, li, essas 
demonstrações contábeis consistem em (a) balanço patrimonial; (h) 
demonstração de resultados acumulados; (c) demonstração de resultado do 
último exercício; e (d) relatório gerencial de fluxo de caixa e projeção de fluxo 
de caixa. A necessidade de instruir a petição inicial com esses documentos é 
decorrente do propósito de reduzir assimetria de informações entre a 
empresa devedora e seus credores, de modo a que estes possam avaliar a 
situação patrimonial da empresa no momento do pedido e, ao mesmo tempo, 
verificar a capacidade da empresa devedora de gerar valor, caso continue a 
operar. (AYOUB; CAVALLI, 2016). 
 
 
8 “Art. 51. A petição inicial de recuperação judicial será instruída com: I – a exposição das causas 
concretas da situação patrimonial do devedor e das razões da crise econômico-financeira; II- as 
demonstrações contábeis relativas aos 3 (três) últimos exercícios sociais e as levantadas 
especialmente para instruir o pedido, confeccionadas com estrita observânciada legislação societária 
aplicável e compostas obrigatoriamente de: a) balanço patrimonial; b) demonstração de resultados 
acumulados; c) demonstração do resultado desde o último exercício social; d) relatório gerencial de 
fluxo de caixa e de sua projeção; [...] (BRASIL, 2005). 
26 
De acordo com o art. 51 da LRJ, a petição inicial será instruída com a 
exposições concretas da situação da patrimonial do devedor e das razões da crise 
econômico-financeira, e também deverá conter as demonstrações contábeis relativas 
aos 3 (três) últimos exercícios sociais e as levantadas especialmente para instruir o 
pedido e acompanhadas dos documentos elencados no artigo. 
 
Art. 51 [...] 
 
a) balanço patrimonial; 
b) demonstração de resultados acumulados; 
c) demonstração do resultado desde o último exercício social; 
d) relatório gerencial de fluxo de caixa e de sua projeção; 
[...] (BRASIL, 2005). 
 
 
E ainda: 
 
 
Art. 51 [...] 
 
III - a relação nominal completa dos credores, sujeitos ou não à recuperação 
judicial, inclusive aqueles por obrigação de fazer ou de dar, com a indicação 
do endereço físico e eletrônico de cada um, a natureza, conforme 
estabelecido nos arts. 83 e 84 desta Lei, e o valor atualizado do crédito, com 
a discriminação de sua origem, e o regime dos vencimentos; 
IV – a relação integral dos empregados, em que constem as respectivas 
funções, salários, indenizações e outras parcelas a que têm direito, com o 
correspondente mês de competência, e a discriminação dos valores 
pendentes de pagamento; 
V – certidão de regularidade do devedor no Registro Público de Empresas, o 
ato constitutivo atualizado e as atas de nomeação dos atuais administradores; 
VI – a relação dos bens particulares dos sócios controladores e dos 
administradores do devedor; 
VII – os extratos atualizados das contas bancárias do devedor e de suas 
eventuais aplicações financeiras de qualquer modalidade, inclusive em 
fundos de investimento ou em bolsas de valores, emitidos pelas respectivas 
instituições financeiras; 
VIII – certidões dos cartórios de protestos situados na comarca do domicílio 
ou sede do devedor e naquelas onde possui filial; 
IX - a relação, subscrita pelo devedor, de todas as ações judiciais e 
procedimentos arbitrais em que este figure como parte, inclusive as de 
natureza trabalhista, com a estimativa dos respectivos valores demandados; 
X - o relatório detalhado do passivo fiscal; e 
XI - a relação de bens e direitos integrantes do ativo não circulante, incluídos 
aqueles não sujeitos à recuperação judicial, acompanhada dos negócios 
jurídicos celebrados com os credores de que trata o § 3º do art. 49 desta Lei. 
§ 1º Os documentos de escrituração contábil e demais relatórios auxiliares, 
na forma e no suporte previstos em lei, permanecerão à disposição do juízo, 
do administrador judicial e, mediante autorização judicial, de qualquer 
interessado. 
§ 2º Com relação à exigência prevista no inciso II do caput deste artigo, as 
microempresas e empresas de pequeno porte poderão apresentar livros e 
escrituração contábil simplificados nos termos da legislação específica. 
§ 3º O juiz poderá determinar o depósito em cartório dos documentos a que 
se referem os §§ 1º e 2º deste artigo ou de cópia destes. 
27 
§ 4º Na hipótese de o ajuizamento da recuperação judicial ocorrer antes da 
data final de entrega do balanço correspondente ao exercício anterior, o 
devedor apresentará balanço prévio e juntará o balanço definitivo no prazo 
da lei societária aplicável. 
§ 5º O valor da causa corresponderá ao montante total dos créditos sujeitos 
à recuperação judicial. 
§ 6º Em relação ao período de que trata o § 3º do art. 48 desta Lei: 
I - a exposição referida no inciso I do caput deste artigo deverá comprovar a 
crise de insolvência, caracterizada pela insuficiência de recursos financeiros 
ou patrimoniais com liquidez suficiente para saldar suas dívidas; 
II - os requisitos do inciso II do caput deste artigo serão substituídos pelos 
documentos mencionados no § 3º do art. 48 desta Lei relativos aos últimos 2 
(dois) anos. (BRASIL, 2005). 
 
Entretanto, após atingir os requisitos mínimos da lei, o juiz estará deferindo 
os processamentos do pedido de recuperação judicial, isso é, não significa que está 
concedendo, mas que preencheu os requisitos para essa possibilidade, o que ocorrerá 
no momento posterior. Neste segundo momento o juiz irá analisar o processamento e 
deverá tomar as medidas estabelecidas no art. 52 da LRF.9 (Ramos, 2016, pag. 792). 
Sendo assim, a assembleia de credores irá deliberar sobre a aprovação, 
rejeição ou modificação do plano de recuperação judicial apresentado pelo devedor, 
nesta hipótese não caberá mais pedido de desistência para a parte do devedor 
formulado após o ato judicial de deferimento do seu processamento, O juiz nomeará 
o gestor judicial e afastado o devedor na execução da condução de seus negócios. 
(CAMPINHO, 2009, pág. 4). 
Entretanto, o processamento de RJ se divide basicamente em três etapas, 
a postulatória, deliberativa e executória, o juiz é peça fundamental em todas as etapas, 
e deverá estar atento na ponderação dos valores, preenchendo e interpretando 
lacunas na lei. (COELHO, 2007, pag. 421). 
O autor mensura que, a etapa postulatória que se inicia na petição inicial e 
encerra-se com o deferimento ou não do seu processamento. A etapa deliberativa que 
se inicia com a decisão que concedeu o seu processamento e com seu termino na 
concessão do seu benefício. A etapa executória em que cabe cumprir todas as 
obrigações exigidas no plano de recuperação em seu devido prazo, o juiz decretará 
na sentença, o encerramento da recuperação judicial, e determinará as legalidades 
previstas no art. 63 da LRJ.10 
 
9 “Art. 52. Estando em termos a documentação exigida no art. 51 desta Lei, o juiz deferirá o 
processamento da recuperação judicial e, no mesmo ato: (BRASIL) 
 
10 Art. 63. Cumpridas as obrigações vencidas no prazo previsto no caput do art. 61 desta Lei, o juiz 
decretará por sentença o encerramento da recuperação judicial e determinará: 
28 
A etapa postulatória é a primeira etapa do processamento, no qual analisa 
o pedido de recuperação judicial através da petição inicial e concedido pelo juiz. 
Para requerer a recuperação judicial a empresa deverá atender uma série 
de requisitos legais estipulados pela lei LRJ, conforme art. 48 deverá estipular uma 
petição inicial e conforme o art. 3º e anexar os documentos comprobatórios e exigidos 
pelo art. 51 da lei LRJ. 
A etapa deliberativa é a segunda etapa do processamento, e a mais 
importante para o estudo deste tema, é onde irá fornecer os elementos de concessão 
da recuperação judicial. 
Nesta fase, será elaborado e apresentado aos credores através de 
discussão e homologação de seu plano de recuperação, com prazo legal conforme 
art. 53 da LRJ, sobe pena de falência, e de acordo com o art. 55 os credores terão 30 
dias para objeção do plano apresentado, o juiz convocará a assembleia geral de 
credores para deliberar sobre seus termos e discursões, se não houver objeção o 
plano será aprovado, conforme prevê o art. 56 da mesma lei.11 
Ramos (2020) informa que: 
 
 
11 “Art. 53 - O plano de recuperação será apresentado pelo devedor em juízo no prazo improrrogável 
de 60 (sessenta) dias da publicação da decisão que deferir o processamento da recuperação judicial, 
sob pena de convolação em falência, e deverá conter: I – discriminação pormenorizada dos meios de 
recuperação a ser empregados, conforme o art. 50 desta Lei, e seu resumo; II – demonstração de sua 
viabilidade econômica; e III – laudo econômico-financeiro e de avaliação dos bens e ativos do devedor, 
subscrito por profissional legalmente habilitado ou empresa especializada. Parágrafo único. O juiz 
ordenará a publicação de edital contendo aviso aos credores sobre o recebimento do plano de 
recuperação e fixando o prazo para a manifestação de eventuais objeções, observadoo art. 55 desta 
Lei”. (BRASIL, 2005). 
“Art. 55. Qualquer credor poderá manifestar ao juiz sua objeção ao plano de recuperação judicial no 
prazo de 30 (trinta) dias contado da publicação da relação de credores de que trata o § 2º do art. 7º 
desta Lei. Parágrafo único. Caso, na data da publicação da relação de que trata o caput deste artigo, 
não tenha sido publicado o aviso previsto no art. 53, parágrafo único, desta Lei, contar-se-á da 
publicação deste o prazo para as objeções”. (BRASIL, 2005). 
“Art. 56. Havendo objeção de qualquer credor ao plano de recuperação judicial, o juiz convocará a 
assembleia-geral de credores para deliberar sobre o plano de recuperação. [... ]§ 1º A data designada 
para realização da assembleia-geral não excederá 150 (cento e cinquenta) dias contados do 
deferimento do processamento da recuperação judicial. § 2º A assembleia-geral que aprovar o plano 
de recuperação judicial poderá indicar os membros do Comitê de Credores, na forma do art. 26 desta 
lei, se já não estiver constituído. § 3º O plano de recuperação judicial poderá sofrer alterações na 
assembleia-geral, desde que haja expressa concordância do devedor e em termos que não impliquem 
diminuição dos credores ausentes. § 4º Rejeitado o plano de recuperação pela assembleia-geral de 
credores, o juiz decretará a falência do devedor”. (BRASIL, 2005). 
 
 
29 
O plano será homologado pelo juiz nos casos de: (i) se aprovado em 
assembleia por todas as classes de credores conforme artigos 45 e 58; (ii) 
quando houver ausência de objeções em relação ao PRJ apresentado; e (iii) 
mesmo que os requisitos do artigo 58 não sejam preenchidos e resulte na 
não aprovação do plano o juiz poderá homologar o plano (Lei n. 11.101, 
2005). (RAMOS, 2020, p. 917). 
 
Para Júnior (2010, p.44), pode-se dizer que o risco da continuidade 
econômica é um fator determinante apresentado aos credores diante da situação 
fática. Neste diapasão, deverá ficar evidente que a opção de continuar com as 
negociações da empresa em crise com a sua retroatividade, seu maior objetivo deverá 
ser a liquidação da empresa devedora, exaurindo os prejuízos que possa apresentar. 
Todo esse desembaraço, contudo, deverá ocorrer dentro da assembleia 
geral, apresentando o plano e sendo debatido e votado junto com a comunidade de 
credores, caso não cheguem em um consenso poderá suspender o processo, para 
que seja debatido, votado e finalizado o plano de recuperação. Enfim, após instalada 
deverá ser concluído o período mesmo que seja suspenso várias demandas. 
Agenor Daufenbach Júnior (2010), faz a seguinte explanação: 
 
O processamento da recuperação, como dito, inaugura o procedimento que 
antecede a concessão da recuperação judicial propriamente dita. Neste 
caminho, é que o mencionado artigo põe a nomeação do administrador 
judicial em primeiro lugar, pois este se colocará ao lado do magistrado para 
analisar os documentos juntados e instruir o processo com os pareceres de 
cunho técnico, pois tal qual na antiga concordata, o profissional nomeado 
exercerá cargo de fiscalização do processo e da empresa, pois, via de regra, 
os administradores da empresa continuam no comando do negócio, salvo 
determinação contrária deliberada na assembleia de credores, ou contida no 
plano de recuperação. (JÚNIOR, 2010, p. 40). 
 
Com isso, após apresentada a decisão que deu provimento ao 
processamento da recuperação judicial, deverá apresentar o plano de recuperação, 
dentro do prazo estabelecido em lei, de 60 dias corridos e improrrogáveis, o não 
cumprimento pode gerar em pena de convolação da recuperação judicial em falência. 
A etapa executória, a última etapa do processamento da recuperação 
judicial, dando sequência aos processamentos apresentados anteriormente, deverá 
apresentar o plano de recuperação judicial. 
Vale apena ressaltar o que o Agenor Daufenbach Júnior (2010) mensura 
sobre: 
 
30 
Trata-se do mais importante instrumento de viabilidade do processo, onde 
mais uma vez chama a atenção para o requisito técnico extraprocessual que 
se mostra atípico à esfera dos conhecimentos técnicos dos operadores do 
direito, estando mais uma vez a cargo do administrador judicial, irrigar o juízo 
com as informações de viabilidade técnica, posto que os credores serão 
assistidos por seus técnicos ou pelo próprio credor 41 interessados. 
(JÚNIOR, 2010, p. 41). 
 
Neste momento, deverá apresentar o plano de recuperação judicial, 
seguindo os requisitos pré-estabelecidos no art. 53 da LRJ, in verbis: “deverá conter: 
I – discriminação pormenorizada dos meios de recuperação a ser empregados, 
conforme o art. 50 desta Lei, e seu resumo; II – demonstração de sua viabilidade 
econômica; e III – laudo econômico-financeiro e de avaliação dos bens e ativos do 
devedor, subscrito por profissional legalmente habilitado ou empresa especializada”. 
(BRASIL, 2005). 
O plano de recuperação judicial é minucioso, e deverá ser realizado por 
profissional habilitado, especializados em administração de empresas ou áreas afins, 
cujo resultado seja, medidas viáveis para adimplir seus compromissos. Essas 
medidas estão expressamente descritas no art. 50 da LRJ, oferecendo um rol 
meramente exemplificativo de possibilidades, possibilitando o devedor escolher ou 
sugerir outro que se adeque melhor. 12(RAMOS, 2016, p. 804). 
Contudo, verifica-se os pressupostos presentes no art. 59 da LRJ, no qual 
“o plano de recuperação judicial implica novação dos créditos anteriores ao pedido, e 
obriga o devedor e todos os credores a ele sujeitos, sem prejuízo das garantias”. 
(BRASIL, 2005). Júnior (2010, p. 46) aduz que “alcançadas pelo plano de recuperação 
 
12 “Art. 50. Constituem meios de recuperação judicial, observada a legislação pertinente a cada caso, 
dentre outros: I – concessão de prazos e condições especiais para pagamento das obrigações vencidas 
ou vincendas; II – cisão, incorporação, fusão ou transformação de sociedade, constituição de 
subsidiária integral, ou cessão de cotas ou ações, respeitados os direitos dos sócios, nos termos da 
legislação vigente; III – alteração do controle societário; IV – substituição total ou parcial dos 
administradores do devedor ou modificação de seus órgãos administrativos; V – concessão aos 
credores de direito de eleição em separado de administradores e de poder de veto em relação às 
matérias que o plano especificar; VI – aumento de capital social; VII – trespasse ou arrendamento de 
estabelecimento, inclusive à sociedade constituída pelos próprios empregados; VIII – redução salarial, 
compensação de horários e redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva; IX – dação 
em pagamento ou novação de dívidas do passivo, com ou sem constituição de garantia própria ou de 
terceiro; X – constituição de sociedade de credores; XI – venda parcial dos bens; XII – equalização de 
encargos financeiros relativos a débitos de qualquer natureza, tendo como termo inicial a data da 
distribuição do pedido de recuperação judicial, aplicando-se inclusive aos contratos de crédito rural, 
sem prejuízo do disposto em legislação específica; XIII – usufruto da empresa; XIV – administração 
compartilhada; XV – emissão de valores mobiliários; XVI – constituição de sociedade de propósito 
específico para adjudicar, em pagamento dos créditos, os ativos do devedor. XVII - conversão de dívida 
em capital social; XVIII - venda integral da devedora, desde que garantidas aos credores não 
submetidos ou não aderentes condições, no mínimo, equivalentes àquelas que teriam na falência, 
hipótese em que será, para todos os fins, considerada unidade produtiva isolada”. (BRASIL, 2005) 
31 
passam a ter chancela judicial, a se revestem de novas obrigações. Constituídas pela 
sentença de deferimento da recuperação judicial, esta, como já dito, de natureza 
predominantemente constitutiva”. 
Enfim, o plano de recuperação judicial deve conter o laudo econômico que 
disponha a viabilidade econômica do empreendimento,além disso, ele apresentará 
como se pretende pagar cada uma das classes dos respectivos credores e quais 
créditos ou não irão se submeter a recuperação judicial. 
 
2.3. A LEI 11.101/2005 E A RECUPERAÇÃO JUDICIAL 
 
Após inúmeros acontecimentos no ano de 2020 decorrente da pandemia 
da covid-19, surgiu a necessidade de alteração da lei 11.101/2005, como seu principal 
objetivo, trazendo mais celeridade nos processos para suprir os soerguimentos das 
empresas em crise. 
A nova lei de recuperação judicial e falência de n. 14.112/2020, publicada 
em 24 de dezembro de 2020, com vocation legis de 30 dias, possibilitou a revisão e 
alteração do artigo, conforme os dizeres de DELGADO (2021, 47) “o direito caminha 
para a valorização de métodos alternativos de resolução de conflitos, inclusive em 
processos de recuperação de empresas”. 
Entretanto, a nova lei traz a mesma visão da lei anterior, que seja, a 
preservação da empresa mediante manutenção em seus polos. A lei trouxe o mesmo 
entendimento e privação da recuperação judicial somente aos empresários e 
sociedades empresarias, debatendo com o poder judiciário, no qual ampliou esse rol 
taxativo para as cooperativas de qualquer natureza, clubes de futebol e produtores 
rurais. 
Suas principais reforma no sistema recuperacional e falimentar são: stay 
period, prevenção do juízo, convenção da arbitragem, distribuição dos lucros e 
dividendos, verificação e habilitação de créditos, conciliação e mediação, atuação do 
administrador judicial, AGC, Voto abusivo, recuperação judicial do produtor rural, 
meios de recuperação judicial, constatação previa, plano alternativo proposto pelos 
credores, créditos trabalhistas, vendas de ativos, credor parceiro ou apoiador, 
recuperação extrajudicial, insolvência transnacional, aplicação do CPC, aspectos 
tributários, possibilidade do fisco requerer a falência da devedora, encerramento da 
recuperação judicial, Fresh start, Extensão dos efeitos da falência, Rol de credores na 
32 
falência, Encerramento rápido da falência ante a ausência de bens, Venda de ativos 
na falência, Extinção das obrigações do falido. 
Silva (2021, p. 11) informa que foram incluídos diversos processamento 
afim de dar continuidade a atividade da fonte produtora, obedecendo o princípio da 
preservação da empresa. Diante disso, a reforma possibilitou a celeridade dos 
procedimentos possibilitando um avanço nas modalidades, obedecendo os critérios 
designados na lei, para a solução dos conflitos financeiros, econômicos e patrimoniais, 
referente aos procedimentos da recuperação judicial, extrajudicial, falência do 
empresário e da sociedade empresária. 
 
3 COOPERATIVISMO E SEUS ASPECTOS 
 
Neste capítulo é abordado um breve histórico do cooperativismo e sua 
evolução histórica para contextualização da sua importância, bem como a sua 
legitimidade ativa para requerer a recuperação judicial, e uma breve analise da 
equiparação das cooperativas as sociedades empresarias. 
 
3.1 ASPECTOS CONCEITUAIS 
 
Existe no ordenamento jurídico conceitos e significados distintos referente 
ao sistema cooperativo. Assim, encontramos os termos “cooperação”, “cooperado”, 
“cooperativo”, “cooperativa”, “cooperativismo” e outras formas de referenciar-se ao ato 
de cooperar, mesmo sem um significado muito preciso. (REISDORFER, 2014). 
Apresenta-se, abaixo, os conceitos das principais categorias utilizadas 
neste tópico, de modo a estabelecer um diálogo claro com o leitor, evitando-se ruídos 
comunicativos. 
 
3.1.1. Cooperar 
 
Para fins deste trabalho, se utilizará a categoria que é empregada pelo 
dicionário13 e sua origem do latim, no qual considera que cooperar vem de trabalhar 
simultaneamente ou coletivamente com outras pessoas na busca por um objeto em 
 
13 DICIO, dicionário online de português. 
33 
comum. Etimologicamente a palavra “cooperar” deriva da palavra latina cooperari, 
formada por cum (com) e operari (trabalhar), ou seja, trabalhar juntos14. 
 
3.1.2. Cooperação 
 
Dentro da sociologia, a cooperação significa estar relacionada com a 
sociedade, faz parte da natureza humana, sentidos de ação e movimentos. Webering 
(2020, p. 561), define cooperação como um sentido que se opõem ao individualismo, 
tomando parte de um empreendimento coletivo, tendo a obrigação de cada indivíduo, 
possibilitando alcançar o que almeja em coletivo. 
 
3.1.3. Cooperativismo 
 
É um movimento que nasce da união das pessoas que querem somar, fazer 
e crescer junto. É pensar e agir de forma coletiva para gerar trabalho, renda e inclusão. 
A OCB define cooperativismo como “pessoas se juntam em torno de um 
mesmo objetivo, em uma organização onde todos são donos do próprio negócio. E 
continua com um ciclo que traz ganhos para as pessoas, para o país e para o planeta. 
Desta forma, de maneira semelhante Costa (2016) esclarece que o 
cooperativismo é um princípio, que tem como modelo de organização as cooperativas, 
onde buscam de maneira democrática e igualitária os mesmos objetivos, através de 
direitos e deveres dos sócios cooperados. 
 
3.1.4. Cooperativa 
 
Para a OCB - Associação de Cooperativas Brasileiras, a definição de 
sociedades cooperativas são: 
 
Uma sociedade de, pelo menos, vinte pessoas físicas, unidas pela 
cooperação e ajuda mútuas, gerida de forma democrática e participativa, com 
objetivos econômicos e sociais comuns, cujos aspectos legais e doutrinários 
são distintos das outras sociedades. (OCB - Associação de Cooperativas 
Brasileiras as cooperativas). 
 
Neste viés, Pontes de Miranda (1965) compreende que: 
 
 
 
34 
A cooperativa atende a necessidade ou necessidades, que podem ser 
satisfeitas ou mais eficientemente satisfeitas com a cooperação. Em princípio, 
a cooperativa supõe que outrem tire proveitos que pesam nos que se juntam, 
em cooperação, para que se pré – eliminem esses proveitos por terceiros 
(intermediários). Há algo de defensivo, de pré – eliminatório dos que teriam 
por fito ganhar, por falta de cooperação entre os sócios da cooperativa. O que 
caracteriza a cooperativa é essa função de evitamento de que outros ganhem 
com o que o sócio da cooperativa paga a mais, ou recebe de menos. Não se 
pode dizer que essa atividade seja extraeconômica, como se tem afirmado. 
Não é só econômico o que se passa em defesa dos que alienam e dos que 
adquirem. O que a cooperativa consegue eliminar é a vantagem para os 
sócios, quer eles paguem o que resultou da atividade cooperativa, isto é, 
preço abaixo do preço corrente do mercado, ou recebam acima do preço 
corrente do mercado; quer eles paguem o preço corrente, ou recebam pelo 
preço corrente, e lhes seja prestado, por divisão do ativo, o que lhes toca 
pelas diferenças. Nada obsta a que se entenda à maior participação 
capitalista do sócio. (MIRANDA, 1965, p. 431-432). 
 
A lei 5.764/1971, intitulada Lei Geral das Cooperativas, define a Política 
Nacional de Cooperativismo, institui o regime jurídico das sociedades cooperativas, e 
dá outras providências.15 
 
3.1.5. Cooperado 
 
Nas palavras de Reisdorfer (2014, p. 17) o cooperado é o “membro parte 
da cooperativa, é o trabalhador rural ou urbano, profissional de qualquer atividade 
socioeconômica, que se associa para participar de um dos segmentos cooperativos, 
assumindo responsabilidades, direitos e deveres”. 
Nas palavras de Berenice, “a relação do cooperado com a cooperativa seria 
similar à de um mandato gratuito, no qual o cooperado outorga poderes à sociedade 
para que atue em seu nome. ” (DELGADO, 2013, p. 3). 
 
3.2. CONCEPÇÃO HISTORICA DO COOPERATIVISMO 
 
Ao decorrer do tempo, burguesia e proletariado tentaram definir o conceito 
de sociedade cooperativa, inicialmente estaria ligado a luta de classes e por ventura, 
uma forma de organização socialista sem fins lucrativos. (DELGADO, 2013, p. 8). 
Historicamente, não se é possível encontrar o marco inicial em que os 
homens perceberam a necessidade de agir emgrupo para multiplicar as riquezas e 
oportunidades. Não se sabe o dia, mês ou ano em que o homem aflorou a 
 
15 [...] “Compreende-se como Política Nacional de Cooperativismo a atividade decorrente das iniciativas 
ligadas ao sistema cooperativo, originárias de setor público ou privado, isoladas ou coordenadas entre 
si, desde que reconhecido seu interesse público”. 
35 
necessidade em que a união é necessária para evolução não apenas econômica, mas 
também social. Existem dados históricos que apontam para o momento em que essa 
necessidade de agir em grupo se tornou um modelo socioeconômico conhecido e 
utilizado até os dias atuais. 
 Em meados do século XIX, a Inglaterra pós revolução industrial, homens 
e mulheres se viram tomados pelo desejo de controlar o mercado, criando a primeira 
cooperativa do qual se tem notícia, as Sociedade dos Probos de Pioneiros Rochdale 
em 1844, tecelões que estavam excluídos da sociedade pela revolução industrial 
“maquinas a vapor”, se organizaram numa cooperativa. (POLONIO, 2004, p. 23) 
No entanto, a partir de uma situação de greve e de demissões em massa, 
os 28 tecelões da cidade de Rochdale, Inglaterra, começaram a desenvolver os 
métodos já aplicados que não possuíam êxito, a partir de sua iniciativa começaram a 
emboçar o modelo conhecido como cooperativa. (SCHNEIDER, 2012, p. 253). 
Para Costas (apud SANTOS; GOUVEIA; VIEIRA, 2012) explicam esses 
movimentos: 
 
Em 1844, o cooperativismo evoluiu, e adquiriu seu espaço em meio à 
sociedade, evidenciando uma nova forma de gerar renda aos que faziam 
parte desta e simultaneamente o bem-estar dos cooperados. Houve a junção 
das economias de 28 tecelões fundando a Sociedade dos Probos Pioneiros 
de Rochdale. Com o intuito de findar a exploração que atingia essas pessoas, 
surge o cooperativismo como alternativa. Decorrente do sucesso alcançado 
pelos tecelões de Rochdale foi formada diversas cooperativas. (SANTOS; 
GOUVEIA; VIEIRA, 2012). 
 
Conforme informa Costa (2016), as abordagens do cooperativismo 
obtiveram seu surgimento através dos problemas e dificuldades econômicas vividos 
naquele período pós revolução industrial. 
Esse marco histórico foi relevante para os trabalhadores de inúmeras 
classes sociais, onde passaram a associar-se em cooperativas com objetivo de 
solucionar seus problemas econômicos e sociais recorrentes há época. 
Entretanto, o movimento do cooperativismo trouxe a inclusão de 
determinados princípios que semeiam o cooperativismo, que são: (i) adesão livre de 
qualquer pessoa; (ii) administração praticada pelos próprios associados; (iii) juros 
módicos do capital social; (iv) divisão das sobras para todos os associados; (v) 
neutralidade política, social e religiosa; (vi) cooperação entre as cooperativas, no 
36 
plano local, nacional e internacional; e (vii) constituição de um fundo de educação 
(POLONIO, 2004, p. 23) 
Desta forma, o cooperativismo que surgiu no século XIX é a união de 
pessoas com objetivos e necessidades em comum afim de produzir algo, prestar 
serviço ou consumir produtos com determinadas vantagens que não teriam se 
estivessem sozinhos. 
Já no Brasil, o surgimento da primeira cooperativa no qual se tem registro 
ocorreu no ano de 1889, a Cooperativa Econômica dos Funcionários Públicos de Ouro 
Preto, seu principal objetivo se constituía no consumo de produtos agrícolas, dando 
inspiração para o surgimento de outras nas regiões de Minas Gerais, Pernambuco, 
Rio de Janeiro, São Paulo e por último Rio Grande do Sul. (OCB, 2016). 
Costas (2016) destaca que: 
 
Percebe-se que o cooperativismo foi ganhando forma gradativamente no 
Brasil, sendo realizadas diversas tentativas, que por meio dessas o sistema 
foi firmado contribuindo para o desenvolvimento econômico do país e dos que 
faziam parte desta. Após efetivação das cooperativas no Brasil, é 
imprescindível citar que no âmbito nacional, as sociedades cooperativas são 
instituídas pela OCB. (COSTAS, 2016, p. 20). 
 
Em 1891 a Constituição Federal, instituiu em seu texto o direito de 
associações dos trabalhadores em sindicatos e cooperativas. 
 
Art. 5o Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, 
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a 
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à 
propriedade, nos termos seguintes: 
(...) 
XVIII – a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas 
independem de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu 
funcionamento. ” (BRASIL, 1988). 
 
Segundo Souza (2009, p. 69), este fato foi crucial para o desenvolvimento 
de várias cooperativas ingressarem no mercado, com seus objetivos semelhantes, 
são elas Cooperativa Militar de Consumo no Rio de Janeiro, Fundação Cooperativa 
de Consumo de Camaragipe no Pernambuco e a Cooperativa de Consumo dos 
Empregados Paulistas em São Paulo. 
Para Costa (apud OCB, 2016, p. 15): 
 
No Brasil as sociedades cooperativistas são divididas em 13 (treze) ramos de 
atuação sendo eles: agropecuário, consumo, crédito, educacional, especial, 
37 
habitacional, infraestrutura, mineral, produção, saúde, trabalho, transporte, 
turismo e lazer. Dentre os ramos de cooperativas existentes no país se 
destacam as Cooperativas de Trabalho ocupando o quarto lugar em número 
de cooperativas, e o sexto lugar em número de cooperados. (OCB, 2016, p. 
15). 
 
Para tanto, as cooperativas evidenciaram vários problemas históricos em 
decorrência de sua constituição, fundadas pelas classes oprimidas para suprir suas 
próprias necessidades. 
As sociedades cooperativas por serem diferentes de outros tipos 
societários elas possuem legislação especifica e princípios basilares, conforme 
estipulados pela Berenice Solfal Delgado, são eles “adesão voluntária e livre; gestão 
democrática e livre; participação econômica dos membros; autonomia e 
independência; educação, formação e informação; prática da intercooperação; 
interesse pela comunidade”. (DELGADO, s.d., p. 14) 
A Lei. 5.764/1971 institui o regime jurídico das sociedades cooperativas, 
trouxe outras providências, e o Código Civil estipula as características e conceituação 
desse modelo societário, vejamos: 
 
3.3. REGIME JURÍDICO DAS COOPERATIVAS 
 
As associações cooperativas são reguladas por legislação especial sob o 
n. 5.764/1971, no qual, instituí o seu regime jurídico, e trata de outras providências, o 
seu art. 3º narra a sua definição: 
 
Art. 3º. Celebram contrato de sociedade cooperativa as pessoas que 
reciprocamente se obrigam a contribuir com bens ou serviços para o exercício 
de uma atividade econômica, de proveito comum, sem fins lucrativos. 
(BRASIL, 1971). 
 
Neste viés, as cooperativas têm como objetivo a prestação de serviços e 
assistências aos seus cooperados, no intuito de melhorar as suas condições de vida, 
no qual não visam a obtenção de capital para lucro de seus cooperados, sendo 
considerados instituições sem fins lucrativos. (TEIXEIRA, 2009, p. 4). 
Na visão de Júnior (2004, p. 42), as cooperativas possuem natureza jurídica 
de sociedade, mesmo não tendo a finalidade de capital para lucro, mas exercem 
38 
atividade econômica para remuneração de seus colaboradores e próprio sustento, 
conforme previsão na Lei das Cooperativas.16 
No entanto, conforme dispõe o art. 1.094, inc. I do CC no qual “Art. 1.094. 
São características da sociedade cooperativa, I - variabilidade, ou dispensa do capital 
social [...]”17 
Desta forma, as cooperativas conforme previsão no art. 1.094, inc. I do CC, 
tem a possibilidade de dispensa de capital, isto é, as suas disponibilizações são 
realizadas por voto de cabeça, as relações e participações de cada cooperado não 
limita o funcionamento das cooperativas. (TEIXEIRA, 2009, p. 5). 
Entretanto, no caráter pessoalidade, as cooperativas são consideradas 
sociedades de pessoas, o elemento “cooperado” serve como elemento principal para 
a sua

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