Buscar

Introdução a linguística

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 132 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 132 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 132 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Introdução
à Linguística
Introdução
à Linguística
Adelaide H. P. SilvaAdelaide H. P. Silva
Código Logístico
58998
Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-6549-3
9 7 8 8 5 3 8 7 6 5 4 9 3
Esta obra traz uma breve apresentação dos 
pressupostos que deram origem a essa ciência, 
expostos por Ferdinand de Saussure em seu 
Curso de Linguística Geral – obra fundadora da 
área – e por Noam Chomsky, considerado o “pai 
da linguística moderna”.
Em Introdução à Linguística, são expostos os 
pressupostos basilares dos dois paradigmas 
mais utilizados na Linguística, desde sua 
fundação como ciência, e as bases de algumas 
de suas disciplinas para, a partir desse 
conhecimento, desenvolver duas questões 
centrais: como atua a Ciência Linguística e 
como ela pode dialogar com outras áreas do 
conhecimento. 
Introdução à Linguística
Adelaide H
. P. Silva
IESDE 
2019
Adelaide H. P. Silva
Introdução à 
Linguística
© 2019 – IESDE BRASIL S/A. 
É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito da autora e do detentor 
dos direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Asier Romero/Ninell/Shutterstock
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO 
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
S578i
Silva, Adelaide H. P.
Introdução à linguística / Adelaide H. P. Silva. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE, 2019.
128 p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-6549-3
1. Linguística. 2. Linguagem e línguas. I. Título.
19-61533 CDD: 410
CDU: 81
Todos os direitos reservados.
IESDE BRASIL S/A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
Adelaide H. P. Silva
Doutora e mestre em Linguística pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e 
graduada em Letras pela mesma instituição. É professora titular na Universidade Federal do Paraná 
(UFPR) e atua na área de Linguística, com ênfase em Fonética e Fonologia.
Sumário
Apresentação 7
1 O que a Linguística explica? 9
1.1 O que é Linguística? 10
1.2 Como falamos? 14
1.3 Um sistema complexo em equilíbrio 17
2 Uso versus norma 27
2.1 Nós falamos errado? 27
2.2 Vamos desfazer outros mitos 31
2.3 A riqueza da variação 35
2.4 A diferença entre uso e norma 40
2.5 A necessidade da norma 42
3 Compreender as partes para entender o todo 49
3.1 O nível sonoro 50
3.2 As palavras 55
3.3 As sentenças 61
3.4 Os textos 66
3.5 O discurso 70
4 A Linguística conversa com o ensino de línguas 77
4.1 Língua materna: o que precisamos saber? 77
4.2 Aquisição de uma língua estrangeira 84
4.3 O que ensinar a um estrangeiro sobre nossa língua? 88
5 A Linguística conversa com outras áreas 99
5.1 Linguística e neurociências: Neurolinguística 99
5.2 Linguística e Psicologia: Psicolinguística 104
5.3 Linguística e Computação: Linguística Computacional 107
5.4 Linguística e tecnologia de fala 111
5.5 Linguística e ciências forenses 115
Gabarito 123
Apresentação
Minha intenção, ao escrever esta Introdução à Linguística, é trazer uma breve apresentação 
dos pressupostos que deram origem a essa ciência, expostos por Ferdinand de Saussure em seu 
Curso de Linguística Geral – obra fundadora da área – e pelas noções básicas da teoria chomskyana.
Venho expor os pressupostos dos dois paradigmas mais utilizados na Linguística, desde sua 
fundação como ciência, e as bases de algumas de suas disciplinas para, a partir desse conhecimento, 
desenvolver duas questões centrais: como atua a Ciência Linguística e como ela pode dialogar com 
outras áreas do conhecimento. 
Para percorrer esse caminho, apresento e analiso dados da língua portuguesa (pelo simples 
fato de esta ser a língua de domínio comum aos leitores desta obra), dando-lhes um tratamento 
descritivo e, por vezes, buscando desconstruir algumas impressões equivocadas disseminadas 
pelo senso comum. Esses dados linguísticos formam a base empírica para exemplificar como a 
Linguística funciona. É claro que, embutidos nessas considerações, estarão elementos inspirados 
em Saussure, Chomsky e outros autores. 
Ainda nesse caminho, apresento a possibilidade de diálogo entre Linguística e outras áreas 
do conhecimento, como o ensino e a aprendizagem de línguas ou a Ciência da Computação. Tal 
preocupação – o cerne desta obra – se justifica pelo fato de que, em um momento em que tanto 
se fala em multidisciplinaridade e transdisciplinaridade, a Linguística presta-se muito bem a essas 
perspectivas, justamente porque a linguagem perpassa todas as atividades humanas. 
Compreender a linguagem pode nos levar, por consequência, à compreensão de muitos fatos 
que nos cercam, e pode levar ao desenvolvimento de novos e melhores métodos para o processo 
de ensino-aprendizagem da nossa língua materna ou de uma língua estrangeira. Esta, aliás, é uma 
questão primordial: o ensino de língua portuguesa nas escolas carece ser melhorado e repensado, 
conforme evidenciam índices educacionais de naturezas diversas. Ao mesmo tempo, ensinar 
português brasileiro a estrangeiros tornou-se um desafio urgente, em razão da onda migratória 
que traz ao país refugiados de várias etnias. 
Por outro lado, o desenvolvimento de aparatos tecnológicos, como sistemas de síntese e 
reconhecimento de fala – base de dispositivos como GPS ou de assistentes pessoais –, se vale das 
descrições de língua e do conhecimento sobre a estrutura de língua que uma abordagem linguística 
proporciona, a fim de obter sistemas cada vez mais sofisticados.
Ao mesmo tempo que busco ressaltar a importância do diálogo entre Linguística e 
outras áreas, como uma estratégia proveitosa para o desenvolvimento de ferramentas variadas 
que envolvem línguas naturais, argumento sobre a pertinência desse diálogo para a própria 
Linguística, na medida em que ele pode fornecer diferentes subsídios para o teste de hipóteses 
sobre funcionamento e processamento de línguas naturais. Isso, ao fim e ao cabo, pode resultar em 
um refinamento de modelos linguísticos e, consequentemente, em uma melhor compreensão do 
objeto de estudo da Linguística.
Como todo manual, este é o início da incursão por uma área específica que, no nosso caso, 
é a Linguística. Por essa razão, procurei oferecer uma farta bibliografia, com vistas a que o leitor 
possa recorrer a outras produções, caso queira enveredar de modo mais aprofundado por uma área 
específica.
Ao percorrer o caminho que esta introdução enseja, espero que o leitor perceba a Linguística 
como um campo de estudos vasto, promissor e fascinante.
Boa leitura!
1
O que a Linguística explica?
Você já parou para pensar que a linguagem está presente em tudo o que fazemos? Desde 
o cumprimento aos colegas quando chegamos ao trabalho até as mensagens que enviamos pelo 
celular aos amigos; do GPS que narra o percurso à interpretação em LIBRAS da fala de uma pessoa 
na TV; dos contratos que assinamos quando fechamos um negócio aos memes na internet. Não é 
exagero afirmar que é impossível um mundo sem linguagem.
A linguagem é um traço característico da espécie humana e, como tal, é objeto de estudos 
há séculos: desde filósofos na Grécia antiga – como Platão, que em seu livro Crátilo tentava 
explicar a motivação dos nomes das coisas –, passando por filósofos franceses do século XVII 
– que, inspirados pelo pensamento do filósofo René Descartes, propuseram a gramática como 
um conjunto de processos mentais, comuns a todos os seres humanos, em uma obra que ficou 
conhecida como a Gramática de Port-Royal (1660) –, até filósofos do século XX, como Ludwig 
Wittgenstein, que tenta explicar a relação entre linguagem e pensamento.
Mas não são só os filósofos que estudam a linguagem. Ainda na Grécia Antiga, Dionísio de 
Trácia (século I a.C.) estuda a estrutura do grego e propõe um sistema de classes de palavras, além 
de uma análise morfológica da língua. A Téchné Grammatiké é, assim, a primeira gramática de que 
se tem notícia, considerada a ancestral das gramáticas que usamos até hoje.
Mais tarde, osfilólogos passaram a se ocupar do estudo de textos seguindo uma perspectiva 
histórica. Recorrendo a obras literárias, por exemplo, e cotejando-as com o período histórico de 
sua produção, os filólogos passaram a estudar a evolução temporal de uma língua.
Finalmente, no começo do século XX, surge uma ciência com o objetivo de estudar a 
linguagem. Essa ciência, a Linguística, tem suas bases propostas por um estudioso com formação 
inicial na filologia, mas que lança um olhar sincrônico sobre a linguagem e, mais propriamente, 
sobre a língua. Esse estudioso é Ferdinand de Saussure, considerado o “pai” da Linguística. A 
consequência de sua proposta é que, ao invés de uma abordagem histórica, a Linguística faz um 
recorte temporal da língua e passa a estudá-la naquele momento do tempo.
De Saussure até a atualidade muita coisa mudou na Linguística. O foco inicialmente estreito 
sobre o objeto de estudo dessa ciência foi-se alargando, a ponto de permitir a intersecção com 
outras disciplinas. Neste capítulo, trataremos das bases da ciência Linguística, buscando esclarecer 
o que é essa disciplina e o que ela pode nos explicar sobre esse fato complexo e fascinante que é a 
linguagem humana. Eu proponho a você o começo de uma viagem incrível por esse mundo sobre 
o qual temos ainda muito a explorar.
Cotejar: comparar, 
analisar.
Introdução à Linguística10
1.1 O que é Linguística?
“Fish swim, birds fly, people talk”1. Essa afirmação, do linguista norte-americano Norbert 
Hornstein (2017), é um bom ponto de partida para nossa viagem pelo mundo da linguagem e para 
respondermos à pergunta que intitula esta seção.
A afirmação de Hornstein pode ser interpretada da seguinte maneira: os peixes, ao 
nascerem, nadam sem que os mais velhos da espécie tenham de ensiná-los a desempenhar essa 
tarefa. Algo parecido se aplica aos pássaros, embora os filhotes necessitem de um tempo para 
emplumarem, já que sem penas eles simplesmente caem do ninho. O “saber nadar” ou o “saber 
voar” é produto de toda uma estrutura biológica específica que se adaptou e se especializou ao 
longo do desenvolvimento dessas espécies.
O “saber falar”, que remete à capacidade humana de usar a linguagem, assume que temos 
estruturas mentais especializadas para o desenvolvimento dessa capacidade, de modo que podemos 
assumi-la inata. Parece contraintuitivo que os seres humanos não tenham de aprender a usar a 
linguagem? Vamos imaginar uma criança de três ou quatro anos, de uma família brasileira, falando 
com alguém, talvez sua mãe. Se a criança quer algo, por exemplo, água, ela provavelmente produzirá 
uma sentença como “bebê quer água” ou, de forma mais sofisticada, particularmente no caso de 
crianças não tão novas, ela produzirá algo como “eu quero água”. Deixando de lado, nesse momento, 
questões relativas à pronúncia das palavras ou a marcas morfológicas de número e pessoa (uma 
criança na faixa etária mencionada pode produzir um enunciado como “eu quer água”), nenhuma 
criança, falante nativa de português brasileiro (PB)2, precisa ser ensinada pelos adultos de que a 
ordem das palavras em uma sentença é “sujeito + verbo + complementos”. Assim como os peixes 
sabem nadar e os pássaros, voar, a criança sabe qual é a ordem canônica de constituintes no PB, se 
essa é a sua língua materna.
Por que a criança sabe a ordem de constituintes de sua língua materna? Essa é uma das 
questões que a Linguística se propõe a responder.
Até que a ciência Linguística chegasse a esse ponto, ela trilhou um longo caminho. 
O primeiro passo foi estabelecer o seu objeto de estudo, isto é, o que ela estudaria. Coube a 
Ferdinand de Saussure, o “pai” da Linguística, fazer isso. Na obra que funda a ciência Linguística, 
intitulada Curso de Linguística Geral (2012), publucada no ano de 1916, Saussure busca 
responder à pergunta: “o que cabe à Linguística estudar e que nenhuma outra ciência estuda?”. 
Isso considerando que várias ciências estudam aspectos diversos da linguagem.
A História, por exemplo, aborda a evolução das línguas ao longo do tempo, por meio da 
observação de registros escritos datados de diferentes momentos e das mudanças que se verificam 
na língua em que são produzidos. Nesse sentido, a tarefa dos filólogos se cruza com a tarefa de um 
historiador que aborde a linguagem.
1 Tradução da autora: “Os peixes nadam, os pássaros voam, as pessoas falam”.
2 Daqui em diante usarei a sigla PB para me referir a “português brasileiro”, como se faz correntemente na literatura 
linguística.
O que a Linguística explica? 11
Um físico pode estudar os sons que uma mensagem transmite em uma determinada língua, 
analisando parâmetros como a frequência das ondas pelas quais se propagam. Um psicólogo, por sua 
vez, pode utilizar a linguagem como um fato comportamental e, assim, depreender características 
– algumas não explícitas – do indivíduo que se submete a um procedimento terapêutico. Já um 
sociólogo pode relacionar as formas da linguagem às características de seus falantes, como lugar 
de origem, idade, sexo.
Ora, se são tantos os aspectos da linguagem que podem ser abordados, e sob diferentes 
perspectivas, o que caberia à Linguística estudar?
Saussure (2012) responde a essa pergunta definindo três fatos: linguagem, língua e fala. Para 
ele, a linguagem é um fato que se constitui de língua e fala. A língua, por sua vez, é o fato “social” 
da linguagem, acordado por uma comunidade. Já a fala é a contraparte individual da linguagem.
O que isso quer dizer? Vamos lá: para Saussure, a língua é um fato acordado por grupos de 
indivíduos. Isso explica por que as coisas têm o nome que têm. Como? Assim como Crátilo de 
Platão, Sausurre considerava que o nome das coisas não tem uma motivação natural. Se chamamos 
“lápis” a um “objeto cilíndrico, comprido e fino, cujo interior contém uma barra de grafite para 
escrever ou desenhar” (LÁPIS..., 2019), por exemplo, é porque os indivíduos de uma determinada 
comunidade concordaram em associar a cadeia sonora que escrevemos “lápis” ao significado 
mencionado. Se houvesse uma motivação natural para o nome das coisas, bastaria olhar um objeto 
que nunca vimos para sabermos o nome dele. Além disso, se houvesse a tal motivação natural para 
o nome das coisas, um objeto receberia o mesmo nome em qualquer lugar do globo terrestre. Logo, 
não haveria línguas diferentes.
Então, para Saussure, a Linguística deveria ocupar-se em investigar e explicar as razões que 
levam uma determinada comunidade a unir um sentido “x” a uma sequência de sons “y” ou, para 
usar a terminologia do autor, que levam uma comunidade linguística a unir um significado “x” a um 
significante “y” para formar os signos linguísticos, isto é, unidades de uma língua qualquer. Logo, 
a união entre significado e significante, como defende Saussure, é arbitrária, pois é estabelecida 
não por um ou dois indivíduos, mas pelo conjunto de indivíduos que constitui uma comunidade 
linguística. Em razão de a língua ser estabelecida por um conjunto de indivíduos, Saussure assume 
que ela é externa aos indivíduos daquela comunidade e, também, invariante. Para uma comunidade 
linguística, portanto, os signos não variarão – em nosso exemplo anterior, “lápis” terá o mesmo 
referente no mundo.
A maneira como significado e significante se unem para formar um signo, nas diferentes 
comunidades linguísticas, não constitui objeto de estudo de nenhuma ciência. Como consequência, 
cabe à Linguística esse estudo, na visão de Saussure.
Importa também compreendermos como Saussure compreende a fala. Para ele, é a 
contraparte individual da linguagem e está internalizada na mente de cada indivíduo. Como 
consequência, ela pode variar de pessoa para pessoa, o que de fato acontece. Preste atenção 
à pronúncia de palavras como “porta”, “título” ou “pasta” por pessoas diferentes, nascidas em 
Introdução à Linguística12
locais também diferentes: a variabilidade da pronúncia ficará bem clara. Por ser a fala um fato 
individual, não compartilhado, necessariamente, portodos os indivíduos de uma comunidade 
linguística, e por ela apresentar variabilidade, como a mencionada, Saussure a coloca fora do 
escopo de estudo da Linguística.
Nesse primeiro momento da ciência Linguística, Saussure faz um foco bastante estreito sobre 
o objeto de estudo da nova ciência. E era preciso que fosse assim; do contrário, se não houvesse 
uma delimitação clara de um objeto que coubesse exclusivamente à Linguística estudar, por que 
propor uma nova ciência?
Então, além de circunscrever o olhar da Linguística à língua, tal como definida por ele, 
Saussure preconiza que a abordagem da língua deve visar um recorte temporal preciso, isto é, que 
devemos estudar a língua em uso, em um lugar específico, por exemplo, durante os anos 1850-1900. 
Ou que devemos estudar, por exemplo, o português brasileiro utilizado por habitantes da Região 
Sul do país entre os anos 1940 e 1990. Esse recorte temporal confere uma abordagem sincrônica 
à língua. Por que Saussure defende essa abordagem? Como a evolução histórica dos fatos de uma 
língua cabia, em alguma medida, aos historiadores, e, em outra medida, aos filólogos abordar, mais 
uma vez, para que a Linguística tivesse um olhar particular sobre a língua, Saussure abandona a 
perspectiva histórica.
Mais um ponto a considerar sobre o tratamento que Saussure oferece à língua no momento 
de fundação da Linguística concerne ao uso do registro falado como base de qualquer tratamento 
linguístico que se dê à língua. É preciso notar que a fala é a materialização da língua. Nesse sentido, 
cabe aos pesquisadores extrair o que é invariante na fala para se chegar à língua propriamente. 
Abandona-se, portanto, a prática dos filólogos de recorrerem a textos escritos com o intuito de 
rastrearem a evolução de uma língua no tempo, passando a privilegiar a língua em uso em um 
dado instante.
Essa perspectiva de Saussure, para além de lançar as bases da ciência Linguística, inaugura 
o estruturalismo, uma corrente de pensamento que vigeu durante a primeira metade do século 
XX e concebe que, em uma língua, um elemento se define pelas relações de oposição com todos 
os outros elementos dessa língua, formando, assim, a estrutura da língua. O estruturalismo 
linguístico teve grande importância para o pensamento ocidental, pois influenciou as Ciências 
Humanas de modo geral e emprestou seu modelo analítico para a antropologia e as ciências 
sociais, por exemplo. É possível dizer, então, que a Linguística impulsionou as Ciências Humanas 
na primeira metade do século XX.
Se voltarmos à pergunta que intitula esta seção, “o que é Linguística?”, podemos respondê-la 
da seguinte maneira, e à luz do que abordamos até então: a Linguística é a ciência que estuda a 
contraparte social da linguagem, isto é, a língua. O caráter social da língua – cabe relembrar – advém 
da previsão de que a união entre um conceito (significado) a uma cadeia sonora (significante), 
para a constituição dos signos linguísticos, é determinada por um “trato” entre os indivíduos de 
uma comunidade linguística. Desse modo, para que algo receba o nome que tem, é preciso que os 
falantes da língua concordem com esse nome.
O que a Linguística explica? 13
Vamos tentar explicar um pouco melhor esta questão do “trato” entre os falantes da língua. 
Em seu livro infantojuvenil intitulado Marcelo, Marmelo, Martelo, Ruth Rocha toca na velha 
questão: “por que as coisas têm o nome que têm?”. O personagem que está no título do livro é um 
menino muito curioso, que coloca seu pai em maus bocados quando tenta obter a resposta para 
essa questão, como vemos no trecho a seguir:
Daí a alguns dias, Marcelo estava jogando futebol com o pai:
— Sabe, papai, eu acho que o tal de latim botou nome errado nas coisas. Por 
exemplo: por que é que bola chama bola?
— Não sei, Marcelo, acho que bola lembra uma coisa redonda, não lembra?
— Lembra, sim, mas... e bolo?
— Bolo também é redondo, não é?
— Ah, essa não! Mamãe vive fazendo bolo quadrado...
O pai de Marcelo ficou atrapalhado. (ROCHA, 1999, p. 11-12)
O que o pai de Marcelo não conseguia responder ao menino é que “bola” é “bola” e “bolo” 
é “bolo” porque os falantes de português decidiram assim. E a decisão não tem de se pautar em 
nenhuma característica inerente à bola ou ao bolo. Simplesmente se decidiu dessa maneira.
Continuando as suas peripécias, e cada vez mais indignado com os nomes sem motivo 
aparente, Marcelo resolve nomear, ele mesmo, as coisas do mundo, atribuindo-lhes designações 
que acreditava terem alguma motivação. Assim, por exemplo, “leite” virou “suco de vaca”, a casinha 
do cachorro virou “moradeira” e “cachorro” virou “latildo”. O problema é que só Marcelo entendia 
a motivação dos nomes que dava às coisas.
Resultado: no dia em que a casinha do cachorro pegou fogo, apesar de ele tentar avisar aos 
adultos, aflitíssimo, ninguém entendeu nada e a casinha foi completamente destruída.
O ponto que nos interessa é: por que ninguém o entendeu? A resposta é simples: porque 
só Marcelo sabia qual significado se unia aos significantes de que ele dispunha, ou seja, não havia 
um “trato” entre os diversos falantes da língua para que “casa” passasse a se chamar “moradeira”, 
por exemplo.
Então, e voltando à questão do “trato” entre os falantes de uma língua, não basta que alguém 
determine o nome de algo se os demais falantes da língua, ou um bom número deles, não concorda 
com a proposta. Daí Saussure argumentar sobre o caráter social – isto é, relativo a uma sociedade, 
a um grupo de pessoas – da língua.
A concepção saussureana de linguagem, língua e fala, porém, não é a única possível. 
À medida que a ciência linguística se desenvolve, essa concepção muda, assim como muda o 
enfoque da linguística sobre seu objeto. E, por isso, uma das preocupações dos linguistas passa a 
ser explicar como falamos, isto é, como, partindo de uma ideia qualquer, conseguimos articular 
uma sequência de sons.
Este é o ponto para o qual nos voltamos a seguir.
Introdução à Linguística14
1.2 Como falamos?
Esta pergunta tornou-se o centro da ciência Linguística em decorrência da mudança do 
paradigma teórico ocorrido em 1957, com o livro Syntactic Structures3, em que Noam Chomsky 
inaugura o gerativismo, corrente que suplanta o estruturalismo e, em alguns anos, torna-se o 
mainstream da área.
A preocupação por explicar como falamos se relaciona à concepção chomskyana de que 
os seres humanos são dotados de uma “faculdade da linguagem”. Para o autor, a “faculdade da 
linguagem” é um sistema cognitivo como outras tantas “faculdades”, a exemplo da “faculdade da 
audição”. Como consequência, o autor assume que existem órgãos dedicados – ou especializados 
– a essa faculdade, razão pela qual é preciso estudá-la à luz de teorias construídas especialmente 
para explicá-la.
A faculdade da linguagem, conforme propõe Chomsky, estaria localizada em um dos 
módulos que constituem a mente humana. O linguista, porém, não explica qual é nem como seria 
o módulo que abriga essa faculdade, tampouco quais seriam os órgãos constitutivos dela. Por 
outro lado, Chomsky preconiza que a faculdade da linguagem nos permite adquirir uma língua e, 
assim, produzir e compreender enunciados. A teoria linguística, para ele, não tem de se ocupar em 
explicar questões anátomo-fisiológicas relacionadas à faculdade da linguagem, devendo descrever 
seu estado inicial e a maneira como ela muda em função da exposição a dados linguísticos.
Segundo Chomsky (1981), o estado inicial da faculdade da linguagem corresponde a uma 
Gramática Universal (GU), uma espécie de algoritmo que nos permite construir enunciados em 
uma língua, combinando elementos dela por meio de relações lógico-formais. A GU é dotada de 
princípios universais, como a sílaba CV4, cuja ocorrência se prevê em todas as línguas do mundo. 
Outro exemplo de princípio universal é o que prevê a existência de sentenças constituídas de 
sujeito, verbo e complemento.
Cada língua, por sua vez, tem um conjunto de parâmetros que atuam para implementaros princípios. Desse modo, uma língua seleciona um conjunto de consoantes e um conjunto de 
vogais que, combinados, constituirão suas sílabas CV. Como o inventário de consoantes e o de 
vogais não é o mesmo para todas as línguas, consequentemente, as sílabas do tipo CV variarão. 
De modo análogo, as línguas selecionam os elementos que podem funcionar como sujeito, verbo 
e complemento, e os parâmetros específicos de cada língua estabelecem a ordem dos constituintes 
em uma sentença. Decorre dessa especificidade dos parâmetros nas diversas línguas o fato de, no 
PB, os constituintes em uma sentença obedecerem à ordem sujeito, verbo e complemento ou objeto 
(SVO), enquanto em uma outra língua, como o japonês, seus constituintes se apresentarem na 
sequência sujeito, objeto e verbo (SOV).
Cabe acrescentar que os parâmetros de uma língua inibem a ocorrência de sentenças 
malformadas. Assim, por exemplo, dizemos que uma sentença como “cinema fui ontem eu” é 
3 Há uma boa tradução desta obra para o português, de autoria de Gabriel Othero e Sérgio Menuzzi, que consta das 
referências ao final deste capítulo.
4 Uma sílaba CV constitui-se de uma consoante seguida por uma vogal. Essa estrutura silábica é o primeiro tipo de 
sílaba que as crianças produzem, durante o processo de aquisição da linguagem.
algoritmo: conjunto 
de procedimentos 
lógicos que, por 
uma sequência 
de etapas, levam 
à solução de um 
problema.
O que a Linguística explica? 15
malformada, ou agramatical, no PB porque seus constituintes violam a ordem estabelecida pelos 
parâmetros da língua.
Em resumo, e voltando à pergunta que inspira a seção “como falamos?”, podemos dizer que, 
segundo a proposta de Chomsky, a linguagem é processada de modo que a Gramática Universal, 
ou um conjunto de relações lógico-formais, atue sobre os elementos de uma língua determinando 
a maneira como se organizam e inibindo combinações que resultem em enunciados malformados. 
Uma decorrência dessa previsão é a de que é possível criarmos infinitos enunciados a partir da 
combinação de um número finito de elementos, porém, essa combinação obedece aos parâmetros 
estabelecidos por línguas distintas. Por sua vez, os parâmetros são selecionados com base nos 
princípios da Gramática Universal.
Um ponto adicional que precisa ser abordado nesse contexto refere-se às relações lógicas 
e sua atuação sobre a combinação entre elementos de uma língua, que resultam na formação 
de sentenças. Entretanto, é preciso prever que as sentenças são faladas, articuladas, por isso a 
fonologia desempenha um papel importante na teoria chomskyana: ela é responsável por atribuir 
fatos como acento e fronteira silábica, além de especificar quais segmentos constituirão a cadeia 
da fala associada a uma determinada sentença5. Em linhas gerais, podemos dizer que a proposta 
chomskyana tenta dar conta do processamento das línguas naturais, considerando que uma forma 
lógica – a GU – é mapeada em uma forma fonológica – que resultará na cadeia da fala. Esse processo 
acontece pela ação de um conjunto de regras de boa formação de enunciados – ou parâmetros – 
que combinam elementos da língua entre si.
Nessa perspectiva, cabe à Linguística descrever adequadamente os princípios 
universais e os parâmetros específicos das línguas. Essa descrição se baseia em dados de uma 
determinada língua produzidos por seus falantes. Cabe também à Linguística desvendar como 
a competência gramatical é alcançada e, nesse aspecto, dados de aquisição da linguagem têm 
muita informação a fornecer.
Chomsky preconiza que o processo de aquisição da linguagem apresenta um problema 
lógico de pobreza de estímulo: as crianças estão expostas a um input linguístico finito, constituído 
frequentemente de sentenças truncadas e, por vezes, mal articuladas pelos adultos. Apesar 
disso, conseguem adquirir uma língua natural em um curto espaço de tempo, de modo que, 
com aproximadamente quatro anos, as crianças produzem um repertório vasto de sentenças 
bem-formadas em sua língua materna. Como elas conseguem essa proeza? Para Chomsky, o 
processo de aquisição é forte evidência da existência de princípios linguísticos inatos e, portanto, 
de uma Gramática Universal que, conforme mencionado, corresponde ao estado inicial da 
faculdade da linguagem. Deve ficar clara, portanto, a importância da aquisição da linguagem 
nessa abordagem.
Feita essa breve exposição sobre a perspectiva chomskyana, com o objetivo de oferecer 
uma resposta possível para a pergunta “como falamos?”, cabem, agora, algumas comparações 
entre essa perspectiva e a perspectiva saussureana, abordada na seção anterior.
5 Não trataremos, aqui, dos modelos de fonologia gerativa, mas você pode recorrer, por exemplo, a Hernandorena 
(1996) para uma introdução a esses modelos.
Introdução à Linguística16
É muito importante começar essa comparação ressaltando que não se trata, em absoluto, de 
afirmar que uma perspectiva está correta e a outra, errada. Ao contrário, cada uma delas tenta dar 
conta de explicar a linguagem sob perspectivas distintas.
Assim, enquanto Saussure diferencia língua de linguagem, essa questão não se coloca 
para Chomsky. Além disso, à medida que Saussure concebe a língua como um fato externo aos 
indivíduos, Chomsky assume uma perspectiva mentalista, isto é, prevê que a língua é internalizada 
na mente dos falantes. Como decorrência, para Saussure, os indivíduos não atuam sobre a língua 
que utilizam; para Chomsky, sim, eles atuam construindo hipóteses sobre seu funcionamento, ao 
fixarem os parâmetros atuantes nela.
Uma outra decorrência da previsão de que os indivíduos não atuam sobre a língua que falam 
é o fato de que a aquisição da linguagem não é diretamente contemplada por Saussure. Por isso, 
uma das pesquisadoras mais eminentes em aquisição de linguagem no Brasil, De Lemos (1992), 
afirma que, sob a perspectiva saussureana, a criança é capturada pela língua, no sentido de que 
seus primeiros enunciados, conforme argumenta, seriam enunciados extraídos do registro dos 
adultos. Por outro lado, assumir – como Chomsky – que os indivíduos atuam sobre a língua que 
utilizam, construindo enunciados em número teoricamente infinito por meio de um número finito 
de constituintes, pode explicar por que uma criança é capaz de produzir um enunciado que nunca 
ouviu antes em sua língua materna.
Outra diferença entre as duas perspectivas refere-se à proposta de Saussure, cuja preocupação 
central é explicar a estrutura de um signo linguístico, resultado da associação arbitrária entre um 
significado e um significante. Cabe, então, ao linguista investigar as relações entre os signos de 
uma língua. Nesse sentido, e considerando que uma das premissas da proposta saussureana é a de 
que os sistemas se fundam na base de oposições, caberá ao linguista depreender quais unidades 
estabelecem oposições e são, portanto, distintivas em uma língua.
Na proposta de Chomsky, por outro lado, a preocupação central é explicar como a forma 
lógica, presente na Gramática Universal, é “traduzida” em forma fonológica. Grosso modo, essa 
perspectiva tenta explicar como uma “ideia” se “traduz” em fala. Para isso, é preciso prever uma 
série de regras, específicas de línguas, que mudam ou “traduzem” uma forma em outra. Além de 
desvendar quais regras atuam em uma língua, o linguista que adota essa perspectiva deverá explicar 
como elas funcionam, porque, como mencionado, esse percurso permite que se chegue, em última 
instância, à própria Gramática Universal e à explicação sobre o modo como ela é constituída.
Apesar dessas diferenças, uma abordagem e outra explicam, de diferentes maneiras, como 
falamos. E, assim, permitem que lancemos um olhar sobre os fatos das línguas que se preocupam, 
essencialmente, em descrever e explicar a língua em uso, isto é, a língua que empregamos 
cotidianamente, na interação com nossos pares.
O foco sobre a língua em uso nos permite compreender, no limite, que há regularidades 
envolvidas em uma série de fatos queregistramos, e que essas regularidades não são aleatórias, ao 
contrário do que muita gente diz com desconhecimento sobre o funcionamento da língua. Então, 
O que a Linguística explica? 17
na seção seguinte abordaremos fatos do PB que ilustram a regularidade de que falo aqui, ao mesmo 
tempo que tentaremos, como consequência, questionar alguns mitos sobre a língua, provenientes 
do senso comum.
1.3 Um sistema complexo em equilíbrio
Quando aprendemos gramática tradicional na escola, somos ensinados que só existe uma 
maneira correta para fatos da língua. Entretanto, para a Linguística, quer assumamos uma visão 
saussureana, quer assumamos uma visão chomskyana – para ficar nos paradigmas teóricos mais 
influentes nessa ciência –, considerando a língua em uso, deixamos de assumir a existência de uma 
forma correta e de outras, erradas. Passamos a tentar explicar as diferenças que observamos no uso 
de um mesmo fato linguístico. E, não raro, notamos que há uma certa regularidade nos fenômenos 
observados, que colocam os sistemas linguísticos em um ponto de equilíbrio.
Por isso, nesta seção, nossa preocupação se voltará a alguns fatos da língua para tentar explicar 
o que acontece com eles e por que não estão “errados”, como nos diria a gramática tradicional, mas, 
ao contrário, nos permitem desvelar todo um raciocínio dos indivíduos sobre a língua que falam.
Por razões óbvias tomaremos fatos do português brasileiro (PB), já que é 
a língua comum à grande maioria dos leitores desta obra, senão a todos.
Vamos lá! Você já deve ter ouvido em uma padaria, por exemplo, um pedido como “me dá 
seis pão”. Ou já deve ter perguntado à sua mãe onde estariam “minhas camiseta branca”. Temos, aí, 
fatos análogos ao que acontece nas duas sentenças a seguir:
“Não pode alimentar os sagui, animais selvagem.”
“Por favor, não abrir os alho embalado.”
(FRANCISCO, 2017, grifos nossos)
Em todos os exemplos citados há um substantivo – pão, camiseta, sagui, alho, respectivamente 
– antecedido de numeral (seis), pronome possessivo (minhas), artigo/determinante (os). Note que 
há, nesses casos, uma regularidade: temos um sintagma nominal, isto é, da sequência formada 
por um nome, ou substantivo, precedido de elementos como artigo ou numeral, e sucedido por 
elementos como adjetivos. Nesse sintagma nominal, o número plural é marcado consistentemente 
no elemento mais à esquerda, que pode ser um artigo ou um numeral, ou um pronome possessivo, 
como nos nossos exemplos.
No sintagma nominal “animais selvagem”, em que não há elemento precedendo o 
substantivo, este é o termo mais à esquerda do sintagma. Note que, nesse caso, também se aplica 
a regularidade apontada: marca-se o número plural no elemento mais à esquerda do sintagma.
Introdução à Linguística18
Por que isso acontece? Uma explicação plausível e largamente aceita é oferecida por Camara 
Jr. (1995): ao marcarem o número no elemento mais à esquerda do sintagma nominal – e não 
em todos os elementos do sintagma, como determina a gramática normativa –, os falantes da 
língua quebram a redundância presente nela. Em linhas gerais, podemos dizer que o raciocínio 
que orienta a quebra de redundância da marcação de número é o de que informar o número no 
primeiro elemento do sintagma é suficiente para que todo o sintagma carregue a informação sobre 
o plural. Ou seja, se temos “os alho embalado”, o sintagma todo está no plural e difere, por isso, do 
sintagma “o alho embalado”.
Cabe notar que a quebra de redundância de marcação de número funciona ao flexionarmos 
no plural o membro mais à esquerda do sintagma. Coisas como “o alhos embalado” ou, ainda, 
“o alho embalados” são agramaticais na língua, quer dizer, os falantes de PB não aceitam essas 
produções como fatos de sua língua materna.
A marca de número no elemento mais à esquerda do sintagma também se observa em 
“animais selvagem”. Aí, o membro mais à esquerda é o próprio núcleo do sintagma, o substantivo, 
que carrega a marca de flexão de número plural. A regularidade que se verifica sobre o enxugamento 
das marcas de número se mantém, portanto.
Mas a norma da língua portuguesa diz que devemos marcar o plural em todos os membros 
do sintagma, ou seja, que o “certo” é dizer “os alhos embalados”. Bem, uma coisa é aquilo que a 
norma prescreve, determina, outra é o que os falantes da língua fazem, a maneira como usam sua 
língua, orientados por seu conhecimento de falante nativo, que consiste, em linhas gerais, nos 
parâmetros que ele fixa com base nos princípios da Gramática Universal. O conhecimento dos 
falantes nativos, nesse caso, pode ser assim resumido: para flexionar um sintagma nominal em 
número, marque o plural no elemento mais à esquerda dele. A marca, ali, é suficiente para veicular 
a informação de flexão de número em todo o sintagma.
Mais um exemplo de regularidade na língua está no gênero gramatical. A língua portuguesa 
tem apenas dois gêneros gramaticais, masculino e feminino, que não se confundem com gênero 
social. É preciso esclarecer que o “gênero gramatical”, para a literatura linguística, se refere a 
conjuntos de palavras nos quais se agrupam diferentes substantivos da língua, de maneira análoga 
aos conjuntos de palavras nos quais se agrupam diferentes verbos e a que chamamos “conjugações”.
Por isso, gênero gramatical não deve ser confundido com gênero social, e nem faria sentido: 
é absolutamente impossível associar um gênero social a palavras como casa, sofá, cadeira. Além 
disso, a diferença de gênero gramatical entre duas palavras correlatas às vezes resulta em distinção 
de significados entre elas. É o caso de “barco” – que remete a uma pequena embarcação – e de 
“barca” – que remete a um navio à vela, com três mastros, maior que um barco, portanto.
Cabe comentar que a confusão entre gênero gramatical e gênero social – muitas vezes 
instaurada pela gramática normativa – é um grande engano, por algumas razões: 1) embora a 
língua portuguesa atribua gênero a todos os substantivos, há os que se referem a seres animados, 
aos quais é possível associar gênero gramatical, e há os que se referem a coisas, para as quais não 
O que a Linguística explica? 19
se pode atribuir gênero; 2) existem substantivos que remetem a pessoas, e que carregam gênero 
gramatical, mas aos quais não se consegue atribuir um gênero social específico – como “criança” 
ou “testemunha”.
Nesse mesmo sentido dos equívocos que se cometem quando o assunto é gênero 
gramatical, é necessário acrescentar que, diferentemente do que o senso comum afirma, “-a” não 
é necessariamente marca de gênero gramatical feminino, nem “-o” é obrigatoriamente marca de 
gênero gramatical masculino. Exemplos? Vamos lá! “Sofá”, como comentamos anteriormente, 
recebe gênero masculino; mesma observação cabe para “califa”, “Papa”, “dogma”. Ao mesmo tempo, 
existem substantivos que recebem gênero gramatical feminino, mas terminam em -o, como “tribo”, 
“libido”, “foto”.
E, se a questão – como quer o senso comum – é atribuir gênero social aos substantivos, em 
razão de sua terminação, o que dizer dos substantivos que terminam em “-e”, como “ponte”, “fonte”, 
“pente”, “peixe”, que podem ter – conforme ilustram esses exemplos – gênero gramatical masculino 
ou feminino? Mais ainda: como ficam os substantivos que, apesar de terminados em consoante, 
também recebem gênero gramatical, como “cônsul”, “calor”, “amor”, “dor”, “sol”?
Diante desse cenário, que regularidade se pode estabelecer sobre o gênero gramatical no 
PB? Podemos dizer que o gênero das palavras é marcado no léxico, isto é, que no nosso “dicionário 
mental” as palavras recebem o gênero gramatical. Isso explica algumas diferenças entre línguas, 
como o fato de a palavra “sol”, em alemão, receber gênero gramatical feminino e a palavra “lua” 
receber gênero gramatical masculino. Explica, também, por que substantivos que contêm o sufixo 
“-agem” recebem gênero feminino em português – como “viagem” – e seus correlatos, em línguas 
aparentadas, como espanhol, italiano e inglês,recebem gênero masculino. Em linhas gerais, então, 
quando selecionamos uma palavra do nosso “dicionário mental” para formar com ela unidades 
maiores, do tamanho das sentenças, as palavras já têm informação sobre seu gênero gramatical.
Além dessa, há uma outra regularidade: a vogal “-o” não é marca de masculino. Na análise 
de Camara Jr. (1995), largamente aceita na literatura linguística, o masculino não tem marca 
morfológica, por isso afirmamos que esse gênero é “não marcado”. A marca de gênero que temos na 
língua portuguesa é “-a”, que marca feminino nos substantivos que admitem flexão. Para Camara Jr. 
(1995), “-o” é uma vogal temática que sinaliza que a palavra que a recebe é um substantivo na língua.
No caso dos substantivos em que o gênero se expressa por marca morfológica, temos, 
então, uma forma não marcada, à qual se associa o gênero gramatical masculino – por exemplo, 
“menino” – e uma forma marcada, isto é, que recebe marca morfológica e à qual se associa o gênero 
gramatical feminino – por exemplo, “menina”. O mesmo acontece com substantivos terminados 
por consoante: em “professor”, por exemplo, não há marca morfológica para gênero masculino, 
mas para obtermos o feminino acrescentamos “-a” à base, obtendo, assim, “professora”.
Uma boa evidência para a ausência de marca morfológica do gênero gramatical masculino 
na língua portuguesa nos chega em textos que, ao tentarem supostamente incluir todos os gêneros 
sociais, começam com um vocativo do tipo “todos e todas”, mas, em seu decorrer, deixam de 
empregar a mesma estratégia. Assim, temos algo análogo ao exemplo:
alici
Realce
alici
Realce
Introdução à Linguística20
Amigas e amigos,
Convidamos vocês para uma festa que realizaremos no próximo mês para 
comemorar nossa formatura. Todos estão convidados, mas pedimos que 
venham sozinhos, porque não teremos muita bebida, então, se trouxerem 
mais gente, vai faltar cerveja.
Como você deve ter observado, os dois gêneros gramaticais só estão presentes nos termos 
que designam os destinatários do convite: “amigos” e “amigas”. Porém, existem momentos no texto 
em que a mesma estratégia poderia ter sido adotada, como em “todos estão convidados” e “venham 
sozinhos”. Por que isso acontece? Porque os falantes do PB sabem, têm o conhecimento implícito, 
decorrente da faculdade da linguagem, que em sua língua materna não há marca morfológica 
para gênero masculino e, por isso, quando fazemos o plural, em casos análogos aos dos exemplos, 
utilizamos a forma com “-o” para incluir todos os gêneros. Essa inclusão dos gêneros resulta 
justamente do fato de o masculino ser o gênero “não marcado” morfologicamente e de nós, como 
falantes nativos do PB, sabermos disso.
Vale a pena comentar, adicionalmente, que o fato que menciono, recorrendo ao exemplo do 
convite, é muito frequente na oralidade também – talvez até mais do que no registro escrito. É que, 
na escrita, podemos monitorar o texto, voltar a pontos dele e corrigir o que julgamos necessário. 
Na fala, que se processa em tempo real, não existe a mesma possibilidade.
Todos esses exemplos, então, nos mostram que a regularidade existente sobre esse aspecto 
gramatical está no fato de que o gênero é marcado no léxico da língua. Também está no fato de que, 
por não haver marca morfológica para gênero masculino, quando fazemos plural, os termos levam 
“-o”, e não “-a”, que é a marca morfológica de feminino.
Uma última observação a respeito do gênero gramatical: para os substantivos terminados em 
vogal, como “dogma”, “foto”, “ponte”, “peixe”, assumindo que o gênero gramatical está marcado no 
léxico, veremos que ele emerge quando outro elemento se conecta aos substantivos na constituição 
de uma unidade maior, como o sintagma nominal. Esse elemento pode ser um artigo, a partir do 
qual obtemos: “o dogma”, “a foto”, “a ponte”, “o peixe”. Temos, desse modo, a informação sobre o 
gênero das palavras em questão.
Outro exemplo de regularidade na língua está na formação de novas palavras. Como parte 
do meu ofício, há anos tento ensinar aos alunos que os neologismos não são tirados da cartola de 
quem os cria. Ao contrário, seguem a estrutura da língua, a mesma que é empregada para formar 
outros tantos itens lexicais de que dispomos.
Nesse sentido, um dos exemplos que gosto de mencionar é “imexível”. Hoje dicionarizada, 
eu me lembro muito bem do surgimento dessa palavra e da celeuma que ela causou. O “pai” dessa 
palavra é Antonio Rogério Magri. Em 1990, o Ministro do Trabalho do então governo Collor, 
durante uma entrevista em que tentava argumentar sobre, ao contrário do que havia acontecido 
com as cadernetas de poupança, os salários estarem garantidos, saiu-se com a observação de que o 
salário dos trabalhadores era imexível.
alici
Realce
O que a Linguística explica? 21
A celeuma, claro, aconteceu porque, afinal, onde se viu um ministro de Estado usar uma 
palavra “errada”? Sim, para o senso comum, palavras que não constam no dicionário estão erradas.
Meu ofício, então, é trazer evidências para o argumento de que o senso comum é que está 
errado, e não a formação da palavra. Ora, temos na língua um verbo como “mover”. Se, a partir 
dele, quero criar um adjetivo, acrescento o sufixo “-vel”. Como resultado, obtenho “móvel”. Se, além 
disso, quero negar a ideia da base, para afirmar que algo não se move, basta colocar um prefixo, 
“in-”, que nesse exemplo específico perde a nasalidade ao se juntar a uma base (“móvel”), que 
começa por nasal. Temos, então, “imóvel”.
Como falantes nativos do português brasileiro, somos capazes de nos lembrar de um vasto 
conjunto de exemplos de palavras que se formam exatamente dessa maneira: ilegível, irreparável, 
irrefutável, imemorável, e assim por diante. “Imexível” não é exceção.
Para compor esse item lexical, Magri tomou o verbo “mexer”, transformando-o em adjetivo 
com o sufixo “-vel”, de onde resultou “mexível”. Para negar a ideia de que “algo pode ser mexido”, 
conectou à nova base o prefixo “i-” . Pronto, temos “imexível”!
É preciso notar também que o sentido dessa palavra é único e expressa “aquilo em que não 
se pode mexer”, ou “aquilo em que não se pode pôr a mão”. É claramente distinto do sentido de 
“imutável” (aquilo que não se pode mudar) ou “imóvel” (aquilo que não se pode mover). Talvez 
por essa razão é que tenha entrado na língua.
Recentemente ouvi a forma “exfiltrar”. Segundo a Infopédia, no jargão da informática, essa 
palavra significa “extrair ilegalmente dados de um determinado sistema informático fechado” 
(EXFILTRAR..., 2019). Ora, também essa palavra nova segue o padrão estrutural da língua 
portuguesa. Temos, por exemplo, o verbo “portar”, que pode significar “levar”.
A essa base podem se conectar dois prefixos, ambos originários do latim, mas com sentido 
oposto: “im-“, “para dentro”; “ex-“, “para fora”. Se quero obter uma palavra com sentido aproximado 
de “levar para dentro”, uno “im-” à base “portar” e, como resultado, tenho “importar”. Se, ao 
contrário, quero obter uma palavra com sentido aproximado de “levar para fora”, conecto o prefixo 
“ex-” à base “portar” e tenho, então, “exportar”.
De modo análogo, temos “filtrar”. Podemos conectar a essa base o prefixo “in-”. Com essa 
operação, obtemos “infiltrar”, ou seja, “penetrar”. Por outro lado, se queremos dar à palavra o 
sentido inverso, algo como “retirar”, utilizamos o prefixo “ex-”.
O sentido de “exfiltrar”, porém, não é o mesmo de “extrair”, já que no caso do neologismo 
não se trata de uma extração qualquer, e sim de uma extração ilegal no contexto específico de um 
banco de dados.
E, mais uma vez, como não temos na língua uma palavra com esse sentido específico, nos 
encarregamos de criar uma, usando os meios que a estrutura da língua nos proporciona. O que 
esses exemplos nos mostram é que, independentemente do momento que tenham entrado na 
língua, todos os processos de formação obedecem a regularidades. Afinal, nenhuma dessas formas 
lança mão de prefixos ou sufixos inexistentes no PB.
Introduçãoà Linguística22
Quer outro exemplo sobre regularidades da língua portuguesa? Vamos, então, à flexão dos 
verbos. Você se lembra dos chamados “verbos irregulares”? Pois também nesse aparente caos há 
equilíbrio, regularidade.
Vejamos: alguns tempos verbais dão origem a outros. Consequentemente, se a forma da qual 
deriva um tempo verbal exibe alguma irregularidade, todo o tempo derivado dela apresentará a 
mesma irregularidade. Quer um exemplo? Considere a Figura 1 a seguir.
Figura 1 – Regularidade na flexão de verbo irregular do português brasileiro
Pedir
1ª pessoa do singular do presente do 
indicativo = Peço
Peço sem marca de número e pessoa "-o"
Peç + marcas de tempo e modo (presente 
do subjuntivo), número e pessoa 
Presente do subjuntivo: peço, peças, peça, 
peçamos, peçais, peçam
Fonte: Elaborada pela autora.
A Figura 1 ilustra a regularidade presente na conjugação de um verbo denominado “irregular”. 
Esse rótulo é conferido ao verbo em razão da alternância da consoante da raiz, que muda de [d] 
para [s], nesse caso grafado <ç>6. Mas observe que a “irregularidade”, isto é, a consoante [s] que 
aparece na primeira pessoa do singular do presente do indicativo (peço) permanece em todas as 
formas do presente do subjuntivo. Se não existe irregularidade noutros tempos a partir dos quais 
derivam outros tempos e modos, obviamente as formas permanecerão como estavam no tempo 
que as originou. Vejamos agora este outro exemplo, na Figura 2.
Figura 2 – Regularidade na flexão de outro verbo irregular do português brasileiro
CABER
1ª pessoa do singular do presente indicativo: Caibo
Caibo sem marca de número e pessoa: Caib-
Caib + marcas de tempo, modo (pres. subjuntivo), 
número, pessoa
Presente do subjuntivo: caiba, caibas, caiba, 
caibamos, caibais, caibam
CABER
1ª pessoa do plural do pretérito do indicativo: Coubemos
Coubemos sem marca de número e pessoa: Coub-
Coub + marcas de tempo, modo (pres. subjuntivo), 
número, pessoa
Imperfeito do subjuntivo: coubesse, coubesses, coubesse, 
coubéssemos, coubésseis, coubessem
Fonte: Elaborada pela autora.
6 Os colchetes são utilizados para a transcrição fonética, o que implica que, dentro deles, temos anotados sons da 
fala. < >, por sua vez, são empregados para anotar letras. Isso significa que <ç> anota uma consoante específica que 
usamos em nosso sistema ortográfico.
O que a Linguística explica? 23
A Figura 2 ilustra outro processo de regularidade na flexão dos chamados verbos 
irregulares do PB: note que tanto o presente do subjuntivo quanto o imperfeito do subjuntivo, 
derivados, respectivamente, da primeira pessoa do singular do presente do indicativo e da 
primeira pessoa do plural do pretérito perfeito do indicativo, têm a vogal da raiz do verbo “caber”, 
<a>, alterada para os ditongos <ai> e <ou>. Essa alteração caracteriza a irregularidade deste 
verbo. Mas note também que ela é levada para os tempos que se originam de uma forma verbal 
específica. E, por isso, conseguimos prever as ditas “irregularidades”. Há, portanto, igualmente 
nesse caso, regularidades no processo.
As regularidades na flexão verbal estão presentes na maior parte dos chamados “verbos 
irregulares”, e permitem até automatizarmos a flexão verbal. Ainda assim, é necessário acrescentar 
que alguns poucos verbos irregulares do PB não exibem regularidade em seu paradigma de flexão. 
Verbos como “ser”, “estar” e “ir” são exemplos disso, porque algumas de suas formas flexionadas 
acabam expressas por itens que não guardam qualquer semelhança com a estrutura sonora da raiz. 
É o caso de “vou”, “vamos”, “era”, “fui”. Aliás, este último exemplo, “fui”, é flexão tanto para o verbo 
“ir” como para o verbo “ser”.
Considerações finais
Do que se disse até aqui, deve ter ficado claro que à Linguística cabe estudar fatos da língua 
em uso. Quer sigamos uma perspectiva saussureana, quer sigamos uma perspectiva chomskyana, 
quer sigamos ainda uma outra, é preciso descrever o que se encontra nas diversas línguas e explicar 
por que os fatos são tais como se apresentam.
Nesse sentido, encontrar o que eu chamo, nesse capítulo, de “regularidades”, ou “padrões”, 
em uma língua ajuda não só a explicar os fatos em si, mas também a responder à pergunta que abre 
a seção 1.2: “Como falamos?”. Os exemplos da seção 1.3 têm o objetivo de elucidar essa questão, 
mostrando que falamos seguindo as estruturas de que nossa língua materna dispõe, porque, como 
falantes nativos de PB, conhecemos tais estruturas, já que a Gramática Universal nos possibilita 
fixar parâmetros da nossa língua a partir de uma série de princípios de que ela dispõe.
Assumir essa perspectiva, também deve ficar claro, nos leva a caminhos muito diferentes de 
simplesmente dizer que “português é difícil porque tem muitos verbos irregulares”, ou “está errado 
dizer ‘quero seis pão’”, ou, ainda, que “a língua é machista” e que, por isso, “precisamos mudá-la 
para que as pessoas mudem sua maneira de ver o mundo”. Esses são mitos equivocados que o senso 
comum cria sobre a língua.
Para encerrar esse capítulo, e considerando os mitos que se criam sobre as línguas, vale a 
pena comentar rapidamente sobre a hipótese de Sapir-Whorf. Edward Sapir e Benjamin Lee Whorf 
foram linguistas norte-americanos que produziram seus trabalhos na primeira metade do século 
XX. A eles é atribuída a “hipótese Sapir-Whorf ”, muito embora os dois nunca tenham trabalhado 
juntos. Questões históricas à parte, essa hipótese tem duas versões: uma versão fraca, que assume a 
existência da relação entre a língua e seus falantes, e uma versão forte, que potencializa essa relação, 
a ponto de preconizar que a mudança na língua pode mudar o mundo.
Introdução à Linguística24
Os linguistas em geral aceitam a versão enfraquecida da hipótese, e assumem a existência 
de uma relação entre a língua e os falantes que a utilizam, de modo que preveem que haja 
questões culturais que podem influenciar o uso da língua por indivíduos de uma determinada 
comunidade. Assim, por exemplo, concebe-se que a existência de elementos formais para dirigir-se 
a interlocutores pode ser resultado de uma sociedade baseada em relações quase que hierárquicas 
entre seus membros. A língua japonesa é um bom exemplo, porque é dotada de partículas para 
uso mais ou menos formal, que se conecta a bases e que são usadas em função do interlocutor: se 
uma pessoa fala com outra hierarquicamente superior, como seu patrão, usará uma determinada 
partícula ligada ao nome dele; se, por outro lado, a mesma pessoa conversar com um colega de 
trabalho, utilizará outra partícula, menos formal, ligada ao nome dele.
A versão forte da hipótese de Sapir-Whorf, porém, não é aceita pelos linguistas, porque leva 
às últimas consequências a relação entre os indivíduos e sua língua, ao prever que mudanças na 
língua mudam a maneira como nós percebemos o mundo. Por isso, nos últimos tempos, tem-se 
tentado mudar aspectos das línguas para deixá-las mais inclusivas, ou menos preconceituosas. Isso 
acontece não só com o PB, mas com várias outras línguas, como o inglês ou o sueco, e se reflete não 
só sobre as questões de gênero, em uma confusão entre gênero gramatical e social, mas também na 
proposta de que alguns itens lexicais devam ser substituídos por outros, menos preconceituosos e 
mais inclusivos.
Ora, nós precisamos mesmo de sociedades mais justas, menos preconceituosas e mais 
inclusivas. Mas para isso é preciso mudar a maneira como as pessoas agem. Pretender que a 
mudança na língua precede e determina a mudança de atitudes é varrer a sujeira para baixo do 
tapete. Uma sociedade menos preconceituosa se constrói com a mudança das atitudes das pessoas. 
E, então, haverá mudanças na língua, decorrentes dessas novas atitudes.
Ampliando seus conhecimentos
• DOSSE, F. História do estruturalismo. Campinas: Ed. Unicamp, 1993. (2 vols.).
Se você quiser saber mais sobre o Estruturalismo, desde seu início, passando pelo seu 
apogeu, até sua queda, leia Dosse. Embora não seja atual, a obrarefaz o percurso histórico 
desse paradigma importantíssimo para as ciências humanas na primeira metade do século 
XX e relaciona as ciências humanas entre si, no que concerne, por exemplo, ao método de 
análise empregado.
• OTHERO, G. D’Á.; KENEDY, E. C. Chomsky: a reinvenção da linguística. São Paulo: 
Contexto, 2019.
Se você quiser saber mais sobre o gerativismo, leia essa obra cujo prefácio foi escrito pelo 
próprio Noam Chomsky. A obra trata da gênese e da evolução dos conceitos que abordamos 
brevemente neste capítulo, possibilitando um conhecimento mais aprofundado deles.
O que a Linguística explica? 25
• A CHEGADA (Arrival). Direção de Denis Villeneuve. EUA: Sony Pictures, 2016 (156 min.).
Para uma excelente ilustração da hipótese de Sapir-Whorf, assista a esse filme. Esse 
longa metragem, baseado no conto “Story of Your Life”, de Ted Chiang, narra a 
história de alienígenas que chegam à Terra e que falam uma língua completamente 
desconhecida. A professora de linguística Louise Banks é chamada pelo exército-norte 
americano para tentar identificar a língua em questão. Trata-se de uma língua até então 
não documentada e, ao aprendê-la, pelo contato com os extraterrestres, a linguista 
passa a perceber o mundo experienciando memórias de eventos futuros, em uma clara 
alusão à versão forte da hipótese de Sapir-Whorf: a língua dos extraterrestres, que tem 
um sistema de escrita não linear, quando aprendida pela humana, proporciona uma 
visão também não linear do tempo.
Atividades
1. Por que Saussure escolhe a língua como objeto de estudo da Linguística?
2. Considerando o que você leu no capítulo, é possível dizer que a Linguística e a gramática 
aprendidas na escola oferecem um mesmo tratamento para os fatos de uma língua? Explique.
3. À luz do que foi apresentado no capítulo, podemos dizer que a palavra “tuitar” está errada? 
Explique.
Referências
CAMARA JR., J. M. Estrutura da Língua Portuguesa. 23. ed. Petrópolis: Vozes, 1995.
CHOMSKY, N. Estruturas Sintáticas. Petrópolis: Vozes, 2015.
CHOMSKY, N. Lectures on government and binding. Dordrecth: Foris, 1981.
DE LEMOS, C. T. G. Los procesos metafóricos y metonímicos como mecanismos de cambio. Substratum, v. 1, 
n. 1, p. 121-135, 1992.
EXFILTRAR. Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa [on-line]. Porto: Porto Editora, 2003-2019. 
Disponível em: https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/exfiltrar. Acesso em: 23 out. 2019.
FRANCISCO, C. N. P. A concordância em cartaz: uma proposta de trabalho na EJA à luz da análise 
linguística. Revista Educação e (Trans)formação, Garanhuns, v. 2, n. 1, nov. 2016/abr. 2017. Disponível em: 
http://www.journals.ufrpe.br/index.php/educacaoetransformacao/article/download/1143/1101. Acesso em: 
14 out. 2019.
HERNANDORENA, C. L. M. Introdução à teoria fonológica. In: L. BISOL (org.). Introdução a estudos de 
fonologia do Português Brasileiro. Porto Alegre: EdiPUCRS, 1996.
Introdução à Linguística26
HORNSTEIN, N. Noam Chomsky. In: E. CRAIG (ed.). Routledge Encyclopedia of Philosophy. 2017. 
Disponível em: https://www.rep.routledge.com/articles/biographical/chomsky-noam-1928/v-2. Acesso em: 
20 ago. 2019.
LÁPIS. Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [on-line]. Disponível em: https://dicionario.priberam.org/
lápis. Acesso em: 11 out. 2019.
ROCHA, R. Marcelo, marmelo, martelo e outras histórias. 2. ed. São Paulo: Salamandra, 1999.
SAUSSURE, F. Curso de Linguística Geral. 27. ed. São Paulo: Cultrix/Edusp 2012.
https://www.rep.routledge.com/articles/biographical/chomsky-noam-1928/v-2
2
Uso versus norma
Você já deve ter ouvido, e até mesmo dito, que uma pessoa qualquer “não sabe falar 
português” ou que “português é muito difícil”. Ou, então, que o português tem muitos empréstimos 
do inglês e, por isso, está empobrecendo. Quem sabe até ele não venha a desaparecer um dia, por 
causa desses empréstimos todos? Você já deve também ter ouvido, ou lido, que francês é a língua 
do amor, e que alemão é a língua dos filósofos. Mas será que é assim mesmo?
Este capítulo vai mostrar a você que afirmações como essas são julgamentos problemáticos 
que se constroem sobre as línguas e vai oferecer as razões pelas quais a Linguística as considera um 
grande equívoco. Além disso, vai mostrar que não existe propriamente um “certo” e um “errado” 
em uma língua, podendo haver variação em diferentes aspectos devido à faixa etária, ao grau de 
instrução ou à proveniência dos falantes.
O objetivo deste capítulo, portanto, é argumentar que muito se diz sobre a nossa língua 
materna, incluindo equívocos. Procurarei mostrar, também, que alguns desses equívocos resultam 
da adoção de uma norma padrão estabelecida com base em um registro escrito da língua portuguesa 
usada no século XIX, sobretudo por escritores. Essa norma padrão, em razão de sua natureza, 
distancia-se muito do uso que fazemos da nossa língua, o que, além de estigmatizar falantes que 
não a dominam, oferece muitos problemas aos aprendizes nas aulas de língua portuguesa.
Se, ao final da leitura deste capítulo, você entender que não há registro melhor que outro, ou 
língua mais difícil que outra, se compreender que todos sabemos falar português, nosso objetivo 
terá sido alcançado!
2.1 Nós falamos errado?
As afirmações de que “falamos errado” ou “não sabemos falar português” são frequentes há 
muito tempo e, inclusive, inspiram expressões artísticas como a música “Meninos e meninas”, da 
banda Legião Urbana (1989): “Eu canto em português errado / Acho que o imperfeito não participa 
do passado / Troco as pessoas / Troco os pronomes”.
Mas será que falamos mesmo errado? O que sabemos e o que não sabemos sobre a nossa 
língua?
Vamos começar a tratar dessa questão considerando os versos que tomamos como exemplo. 
Eles oferecem a interpretação possível de que o eu-lírico da canção acredita falar “português errado” 
porque “troca pessoas e pronomes”, algo como “tu estuda”, “tu vai”, “tu faz”, e assim por diante – 
fatos que a norma da língua, aprendida no ensino formal, afirma taxativamente estarem errados.
Introdução à Linguística28
Consideremos a língua em uso. Temos, no português brasileiro (PB), dialetos que usam “tu” 
como forma de segunda pessoa do singular. E temos outros dialetos em que a forma de segunda 
pessoa do singular utilizada é “você”. Em registros que usam “tu”, como alguns encontrados no Rio 
Grande do Sul, temos “tu estudas”. Nesse caso, consideremos as seguintes informações:
Quadro 1 – Marcas morfológicas de segunda pessoa do singular em “tu estudas”
Tu Estud – a – s
Pronome 2a pessoa do singular Raiz – vogal temática – marca de 2a pessoa do singular
Fonte: Elaborado pela autora.
Note no Quadro 1 que temos veiculada duplamente, na sequência “tu estudas”, a informação 
relativa à segunda pessoa do singular: no pronome “tu” e na desinência <-s> do verbo. Trata-se, 
portanto, de um caso de redundância na expressão de uma mesma informação gramatical.
Não há problema com a redundância, que resulta de um percurso que a língua portuguesa 
escolheu em toda a sua trajetória histórica e coincide com o percurso adotado por outras línguas 
originárias do latim, como o espanhol, o francês ou o italiano. Mas também não há problema que, 
em um determinado momento, as línguas percorram um caminho até uma mudança. Nesse caso 
específico, o caminho que vemos em dados como “tu estuda”, com a supressão da desinência <-s>, 
de segunda pessoa do singular, é a eliminação de uma informação gramatical redundante. Desse 
modo, em “tu estuda”, a informação sobre a segunda pessoa do singular está apenas no pronome, 
conforme ilustra o Quadro 2.
Quadro 2 – Marca morfológica de segunda pessoa do singular no pronome em “tu estuda”
Tu Estud – a
Pronome 2a pessoa do singular Raiz – vogal temática
Fonte: Elaborado pela autora.
Veja que a informação sobre marca de segunda pessoa do singular continua lá, mas em um 
“lugar” apenas. Coincidentemente, em uma sequência como “ele estuda”, o verbo não tem marca 
de terceira pessoa do singular.Assim, quando enxugamos uma marca de pessoa do discurso, nas 
formas verbais, a exemplo do que temos no Quadro 2, é preciso manter a informação em algum 
“lugar”. Nesse caso, o “lugar” é o pronome. Suprimir também o pronome implica uma ambiguidade 
indesejada: “estuda” pode se referir, por exemplo, tanto à segunda quanto à terceira pessoa do 
singular. Por isso, ao mesmo tempo em que tiramos a informação da forma do verbo, é preciso 
manter os pronomes.
Deve ficar claro, então, que no exemplo do Quadro 2 não se trata de “falar errado”, mas 
do resultado da observação de que a língua marca a segunda pessoa do singular em dois lugares, 
sendo que não é preciso repetir essa informação. Disso decorre a possibilidade de “enxugar” a 
redundância, marcando a informação em um lugar apenas.
A forma “tu estuda” é semelhante a “você estuda”, no sentido de que não há marca de pessoa 
do discurso na forma verbal. Em ambas, a informação sobre a segunda pessoa está apenas no 
pronome.
Uso versus norma 29
Isso posto, voltamos à pergunta inicial: “nós falamos errado?”. A resposta é não! Podemos 
não falar exatamente de acordo com o que a norma da língua prescreve e determina, mas isso não é 
um erro, um problema. Considere que os falantes de PB não dizem coisas como “tu estudamos” ou 
“eu estudam”. Esses seriam problemas, porque corresponderiam a formas agramaticais na língua.
Por forma agramatical a Linguística entende o que falante algum da língua faria. Então, “tu 
estudamos” é agramatical porque, aí sim, há troca de pessoas e pronomes. Informa-se, no pronome 
“tu”, a segunda pessoa do singular, mas, na forma verbal “estudamos”, a desinência <-mos> marca a 
primeira pessoa do plural. Há, portanto, informações desencontradas na sequência sujeito + verbo. 
Como falantes nativos do PB, sabemos que a língua não aceita que enunciemos o sujeito sem que o 
verbo esteja em concordância. Consequentemente, como comentamos, os falantes de PB não farão 
“tu estudamos”.
Note que ninguém precisa nos dizer isso. A escola não nos ensina algo parecido. Nem 
parentes ou pessoas de um círculo próximo nos alertam para essa necessidade quando começamos 
o processo de aquisição de linguagem. Afinal, por que não precisamos ser ensinados que, se 
marcarmos a pessoa do discurso no pronome, que funciona como sujeito, e no verbo, é preciso 
fazer coincidir a informação nos dois termos? Ou, ainda, por que não precisamos ser ensinados 
que é possível veicular a informação relativa à pessoa do discurso só em um dos membros da 
expressão – no pronome ou no verbo?
A razão para não precisarem nos ensinar a respeito disso, como afirma Perini (2000), 
refere-se ao fato de sermos dotados do conhecimento implícito da língua. Para o autor, o 
conhecimento implícito resulta do caráter inato da linguagem, tal como defende Chomsky, 
sendo “traduzido” em fatos bem formados de uma língua específica, derivados da Gramática 
Universal, a partir da aplicação de um conjunto de relações lógicas, ou regras, conforme 
abordado no Capítulo 1 desta obra.
O mesmo conhecimento implícito é acionado pelos falantes de uma língua quando criam 
palavras. Assim, por exemplo, em PB, se quisermos formar uma nova palavra, sabemos que 
devemos acrescentar informação à esquerda ou à direita de uma base, tal como aconteceu com 
“imexível”, caso de que tratamos no capítulo anterior.
Outras línguas poderão funcionar de outras maneiras, a ponto de licenciarem a colocação de 
informação no meio da base, ou a ponto de repetirem uma mesma base. É o mesmo conhecimento 
implícito que nos faz recorrer ao afixo <-inho> para criar formas no diminutivo. E graças a esse 
conhecimento inato sobre nossa língua, sabemos que <-inho> sucede a base, ao mesmo tempo 
em que deve anteceder a informação de número. Em consequência, todos produzimos fatos como 
“carrinhos”, em que temos base (“carr”) + diminutivo (“inho”) + número plural (“s”). Nunca 
produziremos “carrsinho”, porque essa forma viola a ordem de constituintes no interior da palavra, 
resultando em um fato agramatical para o PB. A observação vale também, mais uma vez, para 
crianças em fase de aquisição de linguagem, o que significa que não é preciso ir à escola para 
dominar o conhecimento implícito da língua.
Introdução à Linguística30
Como temos o conhecimento implícito da língua materna, que nos leva a não produzir fatos 
agramaticais, isto é, fatos que nenhum falante reconheceria como pertencentes ao PB, podemos 
afirmar seguramente que sabemos falar português! E isso vale, como tentei mostrar, para falantes 
de faixas etárias e graus de instrução variados.
Por outro lado, Perini (2000) observa que existe o conhecimento explícito da língua, que, 
ao contrário do conhecimento implícito, não é inato e, por isso, precisa ser aprendido. Fazem parte 
desse conhecimento explícito saberes como o de que “eu, você, ele, nós, vocês, eles” são pronomes 
pessoais e, no geral, desempenham a função de sujeito da oração.
Fazem igualmente parte do conhecimento explícito da língua saberes como: a) na sentença 
“Nenê quer papá”, o verbo é “quer”, o sujeito da sentença é “nenê” e o complemento objeto direto é 
“papá”; b) na palavra “carrinhos”, “carr-” é a raiz, “-inh” é marca de diminutivo, “-o” é a vogal que 
marca a palavra como pertencente à classe dos substantivos e, finalmente, “-s” é marca de número 
plural; c) em uma forma verbal como “cantávamos”, “-va-” é desinência de tempo, modo e aspecto, 
ou seja, indicativa de que o fato designado pelo verbo começou em um momento temporal anterior 
ao de fala, mas que não se concluiu; d) a forma “-va-” marca tempo, modo e aspecto apenas para o 
conjunto de verbos que pertencem à primeira conjugação.
Essa observação, por sua vez, leva à informação de que existem outros dois conjuntos de 
verbos na língua, a que chamamos conjugações, e que os verbos de segunda e terceira conjugações 
se assemelham entre si, ao mesmo tempo em que diferem da primeira conjugação. Essa conjugação, 
por sua vez, é a mais produtiva de todas as três, ou seja, é a que reúne um maior número de verbos, 
e, como resultado, nela “entram” novos verbos quando criados ou tomados de empréstimo a outras 
línguas.
Os exemplos citados até então certamente lhe evocam outros tantos, análogos. Você já deve 
ter notado que é preciso ir à escola para aprender que “nós” é pronome e, como tal, pode funcionar 
como sujeito de uma sentença. Antes de frequentarmos a escola, não sabemos o que é pronome, 
verbo, sujeito, predicado, concordância, e assim por diante. Precisamos aprender esses artifícios 
criados para falar da própria língua, isto é, a chamada metalinguagem.
Então, quando alguém diz que “não sabe falar português”, talvez o que não saiba seja a 
metalinguagem, que proporciona o conhecimento explícito da língua. Talvez não saiba o que é um 
sujeito, o que é um objeto. Provavelmente, não domine a norma, que requer fazer concordar sujeito 
com verbo, ainda que o sujeito seja posposto, ou seja, colocado após o verbo.
Assim, pela norma culta da língua portuguesa, uma forma como “Existe muitos livros na 
biblioteca” está errada, pois devemos concordar sujeito com verbo em número. Mas o conhecimento 
implícito sugere que, sendo a ordem default do PB sujeito + verbo + complementos, é possível 
interpretar essa sentença com sujeito não preenchido, e “muitos livros” como objeto direto do 
verbo. É muito importante notar que essa interpretação tem o objetivo de levantar hipóteses sobre 
por que falamos e ouvimos sentenças como “Existe muitos livros na biblioteca” frequentemente. 
Não há, na construção dessa explicação, qualquer preocupação em julgar se quem expressa uma 
sentença como essa do nosso exemplo está produzindo um fato certo ou errado na língua.
default: termo 
técnico advindo da 
informática; refere-
-se a um parâmetro 
padrão, a um valor 
pré-determinado.
Uso versus norma 31
É, portanto, uma perspectiva diferente daquela adotada pelas gramáticas normativas, a que 
somos apresentados na escola, e pelo sensocomum, que insiste em uma ignorância que não temos. 
Na seção que segue, ainda trataremos de alguns exemplos ilustrativos da discrepância entre nosso 
conhecimento implícito e nosso conhecimento explícito do PB, aliados ao equívoco do senso 
comum que profissionais de Letras, especialmente, precisam esclarecer e desfazer.
2.2 Vamos desfazer outros mitos
Assim como é equivocada a afirmação de que falamos português errado, ou a de que não 
sabemos falar português, há muitas outras afirmações que lemos ou ouvimos sobre as línguas, mas 
que não têm fundamento linguístico algum.
Nesta seção, abordaremos duas dessas afirmações que são muito correntes: a de que existem 
línguas mais fáceis e línguas mais difíceis e a de que existem línguas “especializadas” para uma 
determinada finalidade. Vamos lá!
Você provavelmente já leu alguma frase semelhante à do jornalista Apparício Torelly, 
também conhecido pelo falso título de nobreza de Barão de Itararé (apud RICARDO 
ORLANDINI, 2019): “O português é uma língua muito difícil. Tanto que calça é uma coisa que 
se bota, e bota é uma coisa que se calça”. Nessa frase, o julgamento da “dificuldade” da língua 
portuguesa se baseia em uma aparente contradição lexical. O “raciocínio” que talvez oriente essa 
afirmação é o de que deveria haver uma correspondência de um para um entre os termos, de 
modo que a língua permitisse dizer que calçamos a calça e botamos a bota, já que o nome “bota” 
e o verbo “botar”, por exemplo, têm uma semelhança sonora que deveria motivar sua semelhança 
de sentido.
Em resumo, seria desejável uma correspondência motivada entre som e sentido, tudo o que 
língua nenhuma exibe, como comentamos no Capítulo 1 a propósito da discussão sobre o caráter 
arbitrário do signo linguístico, defendido por Ferndinand de Saussure como a base de qualquer 
sistema linguístico. A queixa de Torelly, em boa medida, assemelha-se às queixas de Marcelo, o 
personagem de Ruth Rocha que, em Marcelo, marmelo, martelo e outras histórias (1999), tenta 
criar uma língua completamente motivada, na qual existiria, para o menino, uma correspondência 
biunívoca entre som e sentido. Ora, se o signo linguístico é arbitrário, se não existe uma motivação 
para que uma cadeia sonora se una a este ou àquele sentido, o problema que Torelly atribui à língua 
portuguesa não é exclusivo de nossa língua materna, certo?
A internet, aliás, é um meio propício, privilegiado, para encontrarmos afirmações falaciosas 
sobre as línguas. Uma rápida busca nos permite encontrar listas com as cinco, as dez, as vinte 
línguas mais difíceis para se aprender. Da menos para a mais difícil, por exemplo, a Awebic (2018) 
listou vinte e cinco línguas: tagalo (língua filipina); navajo (língua indígena norte-americana); 
norueguês; persa; indonésio; holandês; esloveno; africâner1; dinamarquês; basco; galês; urdu2; 
1 Língua falada na África do Sul e na Namíbia. Resulta do contato entre o holandês e as línguas locais desses países 
e surge durante o período de colonização holandesa na África.
2 Língua oficial do Paquistão, formada pela influência do persa, turco e árabe.
Introdução à Linguística32
hebraico; coreano; sânscrito3; croata; húngaro; gaélico; japonês; albanês; islandês; tailandês; 
vietnamita; árabe e chinês. Infelizmente, julgamentos equivocados a respeito das línguas podem 
levar os leitores de listas semelhantes a se sentirem intimidados ou desmotivados a aprendê-las.
É importante, por exemplo, avaliarmos os critérios que justifiquem o rótulo de “língua 
mais difícil”. Muitas vezes, a “dificuldade” parece ora justificada por textos que, obviamente, não 
conseguimos ler, ora pelo fato de serem línguas “exóticas”, completamente desconhecidas por 
nós. Quem já ouviu falar no urdu ou no africâner, por exemplo? Outro critério para a alegada 
“dificuldade” se refere aos sistemas de escrita, bastante diferentes no caso do japonês, árabe, chinês, 
indonésio e persa. Nessas línguas, não só os símbolos utilizados na escrita são bastante diferentes 
das letras do nosso alfabeto, como, em alguns casos, a exemplo do árabe, do chinês e do japonês, a 
direção da escrita difere da direção em que escrevemos o PB.
O basco, por sua vez, provavelmente é incluído em listas como essa porque não se assemelha 
a nenhuma língua do mundo, enquanto o sânscrito por se tratar de uma língua morta, de uso 
restrito a rituais litúrgicos. O navajo tem a peculiaridade de servir de base à elaboração de um 
código para envio de mensagens secretas, que os alemães não conseguiam decifrar, durante a 
Segunda Guerra Mundial.
Ao fim e ao cabo de tudo o que se disse até aqui, em geral, não há propriamente um critério 
linguístico para justificar a dificuldade atribuída a essas línguas. No máximo, cita-se o húngaro, 
porque é uma língua que marca casos, ao contrário da nossa. A título de esclarecimento, é preciso 
dizer que “casos” são desinências que se conectam a uma base e carregam informação sintática.
Assim, por exemplo, o latim – língua de que se origina o português – marcava o caso 
nominativo, que carrega a função de sujeito; o caso acusativo, que carrega a função de objeto 
direto; o caso vocativo, que carrega a mesma função que temos no português; o caso ablativo, 
correspondente ao adjunto adverbial do português; o caso dativo, que corresponde ao nosso objeto 
indireto; o caso genitivo, correspondente ao possessivo. Na evolução do latim para o português, 
os casos deixaram de existir e passamos a marcar funções sintáticas – como o objeto direto – pela 
ordem das palavras na sentença. Por outro lado, existem línguas atuais que adotam sistemas de 
caso, como o húngaro, o russo e o alemão. Talvez a diferença morfossintática entre essas línguas e 
a nossa seja vista como uma “grande dificuldade” por alguns.
Mas a diferença não implica, necessariamente, dificuldade. Implica aprender fatos que não 
temos em nossa língua ao adquirirmos algumas das línguas da nossa lista.
É preciso notar, igualmente, que ao listar línguas de difícil aprendizagem, vemos muitas dos 
continentes europeu e asiático. No caso da lista citada (AWEBIC, 2018), por exemplo, a exceção é o 
navajo. O afrikâner, ainda que falado em alguns pontos do continente africano, resulta do contato 
com o holandês. Nesses casos, parece não haver línguas originárias de outros continentes ou que 
ninguém queira aprender, por exemplo, uma língua como !Xosa ou Iorubá, ou alguma das línguas 
faladas no território brasileiro, como Guarani ou Juruna.
3 O sânscrito é uma língua morta. Era falado na Índia e no Nepal, usado na liturgia do budismo e do hinduísmo.
Uso versus norma 33
Os argumentos apresentados até então reforçam que não existe uma língua mais difícil do 
que outra. O que existem são línguas de estruturas distintas, algumas mais próximas, outras mais 
distantes das estruturas da nossa língua materna.
Esse juízo sobre as línguas é complementado por um outro, segundo o qual haveria línguas 
“primitivas”, “pouco desenvolvidas”. No geral, esse juízo se confunde com o de que existem 
sociedades primitivas, ao lado de outras, desenvolvidas, o que acarreta o equívoco de se afirmar que 
línguas indígenas, por exemplo, são “menos evoluídas” do que outras. É preciso frisar o equívoco 
dessa afirmação, e, para isso, voltamos ao navajo: se essa língua fosse mesmo primitiva, não teria 
sido utilizada para criar um código que os países do Eixo – supostamente falantes de línguas 
mais “desenvolvidas” – não conseguiram identificar, certo? Mas desenvolvimento linguístico e 
desenvolvimento social não andam juntos, necessariamente.
E este é um ponto muito importante quando fazemos Linguística: reconhecer que não há 
uma língua melhor ou mais desenvolvida que as outras. O primeiro linguista a chamar a atenção 
para isso foi Edward Sapir, na década de 1930, em um texto intitulado “O gramático e a língua”. Sapir 
era um etnolinguista, com formação em Linguística e Antropologia, dedicado ao estudo de línguas 
originárias e faladas no continente norte-americano.

Outros materiais