Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Montes Claros/MG - 2011 Geisa Magela Veloso Rose Mary Ribeiro Fundamentos e Metodologia da Língua Portuguesa II 2011 Proibida a reprodução total ou parcial. Os infratores serão processados na forma da lei. EDITORA UNIMONTES Campus Universitário Professor Darcy Ribeiro s/n - Vila Mauricéia - Montes Claros (MG) Caixa Postal: 126 - CEP: 39.401-089 Correio eletrônico: editora@unimontes.br - Telefone: (38) 3229-8214 Catalogação: Biblioteca Central Professor Antônio Jorge - Unimontes Ficha Catalográfica: Copyright ©: Universidade Estadual de Montes Claros UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS - UNIMONTES REITOR João dos Reis Canela VICE-REITORA Maria Ivete Soares de Almeida DIRETOR DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÕES Huagner Cardoso da Silva CONSELHO EDITORIAL Maria Cleonice Souto de Freitas Rosivaldo Antônio Gonçalves Sílvio Fernando Guimarães de Carvalho Wanderlino Arruda REVISÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA Ângela Heloiza Buxton Arlete Ribeiro Nepomuceno Aurinete Barbosa Tiago Carla Roselma Athayde Moraes Luci Kikuchi Veloso Maria Cristina Ruas de Abreu Maia Maria Lêda Clementino Marques Ubiratan da Silva Meireles REVISÃO TÉCNICA Admilson Eustáquio Prates Cláudia de Jesus Maia Josiane Santos Brant Karen Tôrres Corrêa Lafetá de Almeida Káthia Silva Gomes Marcos Henrique de Oliveira DESIGN EDITORIAL E CONTROLE DE PRODUÇÃO DE CONTEÚDO Andréia Santos Dias Camilla Maria Silva Rodrigues Clésio Robert Almeida Caldeira Fernando Guilherme Veloso Queiroz Francielly Sousa e Silva Hugo Daniel Duarte Silva Marcos Aurélio de Almeida e Maia Patrícia Fernanda Heliodoro dos Santos Sanzio Mendonça Henriques Tatiane Fernandes Pinheiro Tátylla Ap. Pimenta Faria Vinícius Antônio Alencar Batista Wendell Brito Mineiro Zilmar Santos Cardoso Chefe do Departamento de Ciências Biológicas Guilherme Victor Nippes Pereira Chefe do Departamento de Ciências Sociais Maria da Luz Alves Ferreira Chefe do Departamento de Geociências Guilherme Augusto Guimarães Oliveira Chefe do Departamento de História Donizette Lima do Nascimento Chefe do Departamento de Comunicação e Letras Ana Cristina Santos Peixoto Chefe do Departamento de Educação Andréa Lafetá de Melo Franco Coordenadora do Curso a Distância de Artes Visuais Maria Elvira Curty Romero Christoff Coordenador do Curso a Distância de Ciências Biológicas Afrânio Farias de Melo Junior Coordenadora do Curso a Distância de Ciências Sociais Cláudia Regina Santos de Almeida Coordenadora do Curso a Distância de Geografia Janete Aparecida Gomes Zuba Coordenadora do Curso a Distância de História Jonice dos Reis Procópio Coordenadora do Curso a Distância de Letras/Espanhol Orlanda Miranda Santos Coordenadora do Curso a Distância de Letras/Inglês Hejaine de Oliveira Fonseca Coordenadora do Curso a Distância de Letras/Português Ana Cristina Santos Peixoto Coordenadora do Curso a Distância de Pedagogia Maria Narduce da Silva Ministro da Educação Fernando Haddad Presidente Geral da CAPES Jorge Almeida Guimarães Diretor de Educação a Distância da CAPES João Carlos Teatini de Souza Clímaco Governador do Estado de Minas Gerais Antônio Augusto Junho Anastasia Vice-Governador do Estado de Minas Gerais Alberto Pinto Coelho Júnior Secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior Nárcio Rodrigues Reitor da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes João dos Reis Canela Vice-Reitora da Unimontes Maria Ivete Soares de Almeida Pró-Reitora de Ensino Anete Marília Pereira Diretor do Centro de Educação a Distância Jânio Marques Dias Coordenadora da UAB/Unimontes Maria Ângela Lopes Dumont Macedo Coordenadora Adjunta da UAB/Unimontes Betânia Maria Araújo Passos Diretor do Centro de Ciências Humanas - CCH Antônio Wagner Veloso Rocha Diretora do Centro de Ciências Biológicas da Saúde - CCBS Maria das Mercês Borem Correa Machado Diretor do Centro de Ciências Sociais Aplicadas - CCSA Paulo Cesar Mendes Barbosa Chefe do Departamento de Artes Maristela Cardoso Freitas Autoras Geisa Magela Veloso Graduada em Pedagogia, pela FUNM, atual Unimontes (1982-1985). Tem especialização lato sensu em Literatura Infantil e Juvenil pela PUC-MG (1992-1994); é mestre em Educação pela UFMG (2000-2001) e doutora em Educação pela UFMG (2004-2008). Exerceu atividade profissional como supervisora pedagógica na rede municipal de ensino de Montes Claros (1985-2004) e como professora do Curso de Magistério/nível médio (1986, 1992-1997). Desde 1998 é professora da Unimontes, com pesquisa e docência no campo de Educação e Linguagem. Rose Mary Ribeiro Graduada em Pedagogia pela FUNM, atual Unimontes (1982-1986). É mestre em Educação pela Universidade Católica de Brasília (2003- 2004), com ênfase em Gestão e Políticas Públicas. É professora da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes, desde 1999, atuando em Didática, Fundamentos e Metodologia da Educação Infantil, Iniciação Científica, Metodologia da Pesquisa, Fundamentos e Metodologia da Língua Portuguesa. Exerce, desde 1991, o cargo de supervisora pedagógica na rede municipal de ensino de Montes Claros-MG. Sumário Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9 Unidade 1 Estudo crítico dos parâmetros curriculares de língua portuguesa Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11 1.1 O ensino de Língua Portuguesa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .14 1.2 Alfabetização e ensino da Língua. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .15 1.3 A diversidade textual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .17 1.4 Linguagem oral. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .20 1.5 Prática de Leitura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .21 1.6 Prática de produção de textos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .27 1.7 Análise e reflexão sobre a língua . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 1.8 Os recursos didáticos e sua utilização. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .37 1.9 Critérios de avaliação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .37 Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .37 Unidade 2 Conceito, história e importância dos livros didáticos no processo de ensino e aprendizagem Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .39 2.1 Discutindo o conceito e o papel do livro didático no processo de ensino escolar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 2.2 A importância social, econômica, político-ideológica e pedagógica dos livros . . . didáticos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .42 2.3 Aspectos históricos da utilização de livros didáticos no Brasil. . . . . . . . . . . . . . . . . .45 2.4 A produção de conhecimentos e as modificações nos livros didáticos de . . . . . . . . alfabetização no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50 2.5 Ciência pedagógica e renovação dos livros didáticos destinados à alfabetização. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .52 Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .61 Unidade 3 Escolha e utilização de livros didáticos de alfabetização e de língua portuguesa Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .63 3.1 A qualidade dos livros didáticos de Alfabetização e Português no Brasil nas últimas décadas do século XX. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64 3.2 Programa Nacional de Livros didáticos no Brasil - PNLD . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66 3.3 A avaliação de livros didáticos no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .69 3.4 O PNLD – critérios e condições para avaliação de livros didáticos no Brasil . . . . .70 3.5 A qualidade dos livros didáticos de alfabetização e português e o processo de escolha na escola. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .74 Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77 Unidade 4 Análise da qualidade de livros didáticos de português e alfabetização Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .79 4.1 A alfabetização nas cartilhas tradicionais e nos novos livros didáticos. . . . . . . . . 80 4.2 A prática da leitura nos livros didáticos de português . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86 4.3 A prática da escrita nos livros didáticos de português e de alfabetização . . . . . .87 4.4 A prática da oralidade nos livros didáticos de português e de alfabetização . . 90 4.5 A prática da reflexão sobre a língua e o ensino de gramática nos livros didáticos de português e de alfabetização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .92 Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96 Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99 Referências básicas, complementares e suplementares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103 Atividades de aprendizagem – AA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107 9 Pedagogia - Fundamentos e Metodologia da Língua Portuguesa II Apresentação Caro(a) acadêmico(a): Com a disciplina Fundamentos e Metodo- logia do Ensino de Português II você dará con- tinuidade aos estudos relativos ao ensino da língua portuguesa que se iniciaram no 5º pe- ríodo do curso. Consideramos que essa nova disciplina, que se apresenta como acréscimo, aprofundamento e retomada de conceitos e práticas docentes, seja importantíssima para sua formação profissional, por lhe possibilitar a consolidação de conhecimentos acerca do ensino da leitura, escrita, oralidade e conheci- mentos gramaticais nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Na presente disciplina você terá acesso a uma visão reflexiva sobre os Parâmetros Cur- riculares Nacionais/PCN - Língua Portuguesa e compreenderá a importância desse documen- to para o processo de organização das práticas pedagógicas, posto que se constitua como um referencial para as escolas definirem conteú- dos de ensino e as práticas necessárias à am- pliação das competências comunicativas dos alunos. Na disciplina você também será inseri- do no campo de estudos históricos sobre os li- vros didáticos e nas discussões contemporâne- as relativas à sua importância e sua utilização pedagógica como recurso de ensino e apren- dizagem. Dessa forma, você poderá ampliar sua formação e sua capacidade reflexiva sobre o ensino da língua portuguesa, apropriando- -se de conhecimentos que lhe permitirão a construção de uma prática pedagógica consis- tente e produtiva. Nesse caderno, focalizamos as discussões em torno do livro didático, um objeto escolar que apresenta uma dupla destinação, pois se dirige simultaneamente a dois leitores: o pro- fessor e o aluno, e encontra-se envolto em de- bates e ausência de consensos. Nesse sentido, você irá perceber que é difícil conceituar livro didático e definir o seu lugar e sua importân- cia social, político-ideológica, econômica e pedagógica. Muitas críticas foram e ainda têm sido feitas aos livros didáticos. No entan- to, você terá oportunidade de perceber que, apesar das críticas, esse é um objeto escolar que integra a tradição e tem um lugar e um papel ga- rantidos no processo de ensino e aprendizagem. Assim, apresentamos os principais objeti- vos dessa disciplina: • apresentar os Parâmetros Curriculares Na- cionais/PCN como referência para a defi- nição dos conteúdos curriculares e práti- cas pedagógicas para a alfabetização e o ensino de Português no Brasil; • discutir as orientações didáticas que o PCN da Língua Portuguesa apresenta para as práticas de alfabetização, ensino da leitura, da escrita, da oralidade e dos conhecimentos gramaticais; • conceituar livro didático e distingui-lo de outros materiais utilizados pela escola; • discutir a importância social, econômica, político-ideológica e pedagógica dos li- vros didáticos; • discutir a constituição histórica da pro- dução didática brasileira, focalizando o modo como os conhecimentos científicos produzem modificações nos livros didáti- cos de português, sobretudo de alfabeti- zação; • identificar e analisar críticas comuns apre- sentadas contra os livros didáticos de alfa- betização e de português; • apresentar e analisar o Programa Na- cional de Livros Didáticos, mostrando o modo como essa política pública produ- ziu a renovação e a ampliação da qualida- de dos livros didáticos no Brasil; • apresentar e analisar atividades de ensino típicas das cartilhas tradicionais compa- rando-as com atividades propostas nos livros de alfabetização e de português; e • discutir os avanços que os novos livros de alfabetização e português representam para o processo inicial de aprendizagem do sistema de escrita e para o desenvolvi- mento de práticas de letramento. Para atingir os objetivos propostos, os conteúdos de ensino foram distribuídos em quatro unidades de estudo. Na primeira, denominada “Estudos críti- cos dos Parâmetros Curriculares Nacionais da Língua Portuguesa”, discutiremos os conteú- dos curriculares e as orientações didáticas para o ensino de Português, focalizando os eixos propostos: leitura, escrita, oralidade e refle- xões sobre a língua. Na segunda unidade, denominada “Con- ceito, história e importância dos livros didáti- cos no processo de ensino e aprendizagem”, empreendemos a tarefa de definir livro didáti- co e discutir a importância social, econômica, político-ideológica e pedagógica dos livros didáticos. Nessa unidade, apresentamos o livro como uma ferramenta importante no proces- 10 UAB/Unimontes - 6º Período so de alfabetização e de ensino e aprendiza- gem do português, apontando para a neces- sidade de os professores realizarem escolha consciente desse recurso pedagógico. Na terceira unidade, denominada “Esco- lha e utilização de livros didáticos de alfabeti- zação e de língua portuguesa”, discutiremos a qualidade dos livros didáticos no Brasil, apon- tando críticas, mas sinalizando para a cons- trução dos processos de um novo formato de livros, renovados pelos conhecimentos produ- zidos no campo da educação. Também mos- tramos que a qualidade dos livros tem sido im- pulsionada pelo Programa Nacional do Livro Didático/PNLD,que definiu critérios para ava- liação da produção didática distribuída para as escolas públicas brasileiras. Na quarta unidade, denominada “Análise da qualidade de livros didáticos de português e alfabetização” apresentamos atividades típi- cas das cartilhas tradicionais e dos novos livros de alfabetização e português, estabelecendo confrontos que permitem perceber os avan- ços conquistados no campo da educação e da produção didática brasileira. Com esses estudos, esperamos que você possa compreender que o PCN de Língua Por- tuguesa se apresenta como um documento que pode contribuir para a sua compreensão acerca da alfabetização e do ensino da língua portuguesa. Esperamos ainda que possa com- preender o papel social, econômico, político social e pedagógico dos livros didáticos, que se apresentam como ferramentas que podem contribuir para se ensinar português na esco- la e realizar uma prática pedagógica voltada para a alfabetização e letramento dos alunos, contribuindo para a aprendizagem da leitura, es- crita, oralidade e conhecimentos linguísticos. Desejamos sucesso na aprendizagem dos conteúdos previstos para mais essa etapa! Bons estudos! As autoras 11 Pedagogia - Fundamentos e Metodologia da Língua Portuguesa II UNIDADE 1 Estudo crítico dos parâmetros curriculares de língua portuguesa Introdução Caro(a) acadêmico(a); Nessa unidade iremos apresentar e analisar os Parâmetros Curriculares Nacionais/PCN – Lín- gua Portuguesa, documento que visa orientar a definição de conteúdos de ensino e a aborda- gem didática desses conteúdos nas escolas brasileiras. A primeira versão dos PCN foi publicada em 1997, pela Secretaria de Educação do Ensino Fundamental do Ministério da Educação e dos Desportos, que teve início a partir do estudo de propostas curriculares de estados e municípios brasileiros. Apesar de transcorrida mais de uma década de sua publicação, ainda são frequentes as dis- cussões na área de educação envolvendo os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN. Embora não assimilado pela maioria dos professores a quem se dirige e em vários momentos criticado por especialistas, ainda hoje é um texto presente nas escolas e nos cursos de formação de pro- fessores. Daí apresentarmos essa oportunidade para que você possa analisá-lo, explicá-lo, discu- ti-lo e revê-lo. O PCN já foi, de forma geral, assunto abordado na disciplina Didática I, quando foi discutida a pluralidade cultural, conteúdo cultural e a cultura da organização escolar; como, também, na disciplina Didática II, que propôs análise dos Parâmetros Curriculares Nacionais e a compreensão do processo interdisciplinar. Neste caderno, vamos voltar nossas atenções para os Parâmetros Curriculares Nacionais, co- locando foco no documento que apresenta o ensino de Língua Portuguesa para o ensino fun- damental. Sobre a questão, Santos (2008) afirma que o documento vem apresentar propostas de trabalho que valorizam a participação crítica do aluno diante de sua língua e que mostram as variedades e a pluralidade de uso inerente a qualquer língua. Os PCN de Língua Portuguesa estão organizados em três volumes distintos. Um deles des- tina-se às séries iniciais do ensino fundamental, denominadas de primeiro e o segundo ciclos; o outro volume para as séries finais do ensino fundamental, classificadas de terceiro e quarto ci- clos; sendo um terceiro para o ensino médio. DICAS Considerando a especi- ficidade dessa disci- plina, nesta unidade didática iremos tratar apenas do PCN relativo ao 1º e o 2º ciclos do ensino fundamental. Dessa forma, no corpo deste texto, sempre que nos referirmos ao PCN da Língua Por- tuguesa, o conteúdo trabalhado e discutido é relativo a esse docu- mento, cuja referência é BRASIL/MEC, 1997. ◄ Figura 1: PCN de Língua Portuguesa Fonte: http://portal.mec. gov.br , Acesso: 28/02/2011. 12 UAB/Unimontes - 6º Período Você deve lembrar que os PCN organizam o tempo escolar, oito anos em ciclos. Mas, desde 2004, o ensino fundamental foi amplia- do para nove anos, iniciando a escolarização de crianças de seis anos de idade, o que faz considerarmos o primeiro ciclo corresponder aos três anos de alfabetização. O PCN de língua portuguesa para os anos iniciais do ensino fundamental se divide em duas partes. A primeira faz uma breve apre- sentação da área e define as linhas gerais da proposta. Aborda questões relativas à natu- reza e às características da área e seus desdo- bramentos no ensino. Apresenta os objetivos gerais de Língua Portuguesa a partir dos quais são apontados os conteúdos relacionados à língua oral, língua escrita e análise e reflexão sobre a língua. O último tópico dessa parte apresenta e fundamenta os critérios de avalia- ção para o ensino fundamental. A segunda parte detalha a proposta para os anos iniciais do ensino fundamental, em ob- jetivos, conteúdos e critérios de avaliação, de forma a apresentá-los com a articulação ne- cessária para a sua coerência. O PCN para os anos complementares do ensino fundamental, que foi denominado no documento como terceiro e quarto ciclos, e que denominaremos de anos finais do ensino fundamental, também está organizado em duas partes. Na primeira, faz-se a apresenta- ção da área e definem-se as linhas gerais da proposta. Em sua introdução, analisam-se al- guns dos principais problemas do ensino da língua e situa-se a proposta em relação ao mo- vimento de reorientação curricular nos últimos anos. Abordam-se, também, a natureza, as características e a importância da área. Final- mente, indicam-se os objetivos e conteúdos propostos para o ensino fundamental. Na segunda parte caracterizam-se o en- sino e aprendizagem de Língua Portuguesa nestes anos, definem-se objetivos e conte- údos, apresentam-se orientações didáticas, especificam-se relações existentes entre o en- sino de Língua Portuguesa e as tecnologias da comunicação e, por fim, propõem-se critérios de avaliação. Caro(a) acadêmico(a), os PCN descrevem as implicações para a aprendizagem e indi- cam a questão da leitura e da escrita como elemento importante para o fracasso escolar, que tem provocado, desde a década de 1980, discussões acerca da necessidade de melho- rar a qualidade da educação no país. Lê-se no documento que a escola apresenta problemas para ensinar a ler e a escrever como processo de produção de significados, pois tem dificul- dade de alfabetizar nos anos iniciais. Como consequência, a escola não tem sido capaz de garantir o uso eficaz da linguagem, condição para que os alunos possam continuar a pro- gredir até, pelo menos, concluir o ensino fun- damental, para se inserir no mundo da cultura escrita e utilizar a linguagem escrita como ins- trumento para exercício da cidadania. A charge abaixo brinca com essa questão – o aluno formou-se, mas seus professores não garantem a qualidade de sua preparação. Figura 2: PCN e Ensino Médio. Fonte: http://luciano- aferreira.wordpress. com/2008/08/19/ pcn%C2%B4 s-e-o-ensino- -medio, Acesso em 12 de junho de 2011. ► 13 Pedagogia - Fundamentos e Metodologia da Língua Portuguesa II Nesse contexto, se os estudantes que concluem o ensino médio não construíram conheci- mentos e competências suficientes para o uso pleno da língua oral e escrita, essas dificuldades reverberam no ensino superior. Assim, o PCN ainda discute a dificuldade dos universitários em compreender os textos propostos para leitura e organizar ideias por escrito de forma legível. Essa situação levou universidades a mudar os processos de seleção de candidatos e, junto aos testes de múltipla escolha dos exames vestibulares, foram acrescentadas questões dissertativas, aumentando o peso da prova de redação na nota final, como também a dar-lhe um tratamento praticamente eliminatório. O documento aponta, ainda, que essas evidências de fracasso escolar justificam a neces- sidade dareestruturação do ensino de Língua Portuguesa, com o objetivo de encontrar formas que possam, de fato, garantir a aprendizagem da leitura e da escrita. Os Parâmetros Curriculares Nacionais indicam como objetivos do ensino funda- mental que os alunos sejam capazes de: • compreender a cidadania como participação social e política, assim como exercício de direitos e deveres políticos, civis e sociais, adotando, no dia-a-dia, atitudes de solidariedade, cooperação e repúdio às injustiças, respeitando o outro e exigindo para si o mesmo respeito; • posicionar-se de maneira crítica, responsável e construtiva nas diferentes situ- ações sociais, utilizando o diálogo como forma de mediar conflitos e de tomar decisões coletivas; • conhecer características fundamentais do Brasil nas dimensões sociais, mate- riais e culturais como meio para construir progressivamente a noção de identi- dade nacional e pessoal e o sentimento de pertinência ao País; • conhecer e valorizar a pluralidade do patrimônio sociocultural brasileiro, bem como aspectos socioculturais de outros povos e nações, posicionando-se con- tra qualquer discriminação baseada em diferenças culturais, de classe social, de crenças, de sexo, de etnia ou outras características individuais e sociais; • perceber-se integrante, dependente e agente transformador do ambiente, identificando seus elementos e as interações entre eles, contribuindo ativa- mente para a melhoria do meio ambiente; • desenvolver o conhecimento ajustado de si mesmo e o sentimento de con- fiança em suas capacidades afetiva, física, cognitiva, ética, estética, de inter- -relação pessoal e de inserção social, para agir com perseverança na busca de conhecimento e no exercício da cidadania; • conhecer e cuidar do próprio corpo, valorizando e adotando hábitos saudá- veis como um dos aspectos básicos da qualidade de vida e agindo com respon- sabilidade em relação à sua saúde e à saúde coletiva; • utilizar as diferentes linguagens — verbal, matemática, gráfica, plástica e cor- poral — como meio para produzir, expressar e comunicar suas idéias, interpre- tar e usufruir das produções culturais, em contextos públicos e privados, aten- dendo a diferentes intenções e situações de comunicação; • saber utilizar diferentes fontes de informação e recursos tecnológicos para adquirir e construir conhecimentos; • questionar a realidade formulando-se problemas e tratando de resolvê-los, utilizando para isso o pensamento lógico, a criatividade, a intuição, a capacida- de de análise crítica, selecionando procedimentos e verificando sua adequação (BRASIL/MEC, 1997, pp. 7-8). Caro(a) aluno(a), se você analisar esses objetivos irá perceber que a proposta de ensino da língua portuguesa não se funda na memorização de normas gramaticais e na classificação dos fatos linguísticos. Ao contrário, o eixo proposto é a valorização do patrimônio linguístico brasi- leiro, o reconhecimento da diversidade e o uso da linguagem oral e escrita, nas mais diferentes situações, para fazer frente às demandas sociais. Para que os objetivos propostos para o ensino fundamental possam ser alcançados, o do- cumento descreve que a aprendizagem da leitura e da escrita é compreendida como elemento essencial ao desenvolvimento escolar e para acessar o mundo da cultura. Como já apresentamos no Caderno Didático de Fundamentos e Metodologia da Língua Portuguesa I, no ensino de por- tuguês na escola é fundamental tratar a leitura, a produção escrita, a linguagem oral e o ensino da gramática como práticas sociais inseridas no cotidiano das pessoas. Propomos que o estudo desta unidade seja, também, momento de reflexão sobre os conte- údos já estudados, considerando que os PCN de Língua Portuguesa para o ensino fundamental foram pensados a partir de teorizações de autores que estudam a questão e de uma concepção de educação que prioriza o uso pleno da linguagem e a participação crítica do aluno. Assim, entendemos ser necessário o estudo deste documento para compreender a impor- tância do ensino da Língua Portuguesa no desenvolvimento do aluno, garantindo-lhe o acesso 14 UAB/Unimontes - 6º Período aos saberes linguísticos, necessários para o exercício da cidadania. Entendemos ainda “[...] não ser possível pensar na força de um cotidiano escolar que se constrói a despeito das orientações oficiais” (LOPES, 2002, S/P). Daí, também não ser possível entender o fato de muitos professores nas escolas não se interessarem pelos conteúdos dos textos dos parâmetros curriculares, aban- donando seus volumes em gavetas sem conhecê-los, discuti-los ou criticá-los. Nesse contexto, os objetivos de estudo dessa unidade são: • Analisar os Parâmetros Curriculares de Língua Portuguesa para o Ensino Fundamental, para compreender a sua proposta de trabalho; • Compreender as questões sobre a natureza da linguagem, a fim de entender os objetivos e conteúdos propostos para o trabalho a ser desenvolvido no Ensino Fundamental; • Analisar a ordem de apresentação dos conteúdos e da abordagem didática, para entender a sequência das atividades propostas; e • Analisar as orientações sobre as atividades de análises linguísticas, para identificar as estra- tégias de ensino propostas. Para facilitar o estudo proposto nesta unidade, foi necessário apresentar a organização dos Parâmetros Curriculares da Língua Portuguesa para o Ensino Fundamental, como também, fazer uma relação entre os conteúdos do documento com os estudados no 5º período do curso, no ca- derno didático de Fundamentos e Metodologia da Língua Portuguesa I, uma vez que estão orga- nizados no mesmo bloco de conteúdo. Dessa forma, a proposta de trabalho implica em discutir o ensino da língua portuguesa, a diversidade textual, alfabetização e ensino da língua, lingua- gem oral, prática de leitura, prática de produção de textos, análise e reflexão sobre a língua, os recursos didáticos e sua utilização e por fim os critérios de avaliação sugeridos para acompanhar o processo da aprendizagem. 1.1 O ensino de Língua Portuguesa O PCN de Língua Portuguesa considera o aluno como o sujeito da ação de aprender, aquele que age sobre o objeto de conheci- mento, que é a Língua Portuguesa, tal como se fala e se escreve fora da escola, a língua que se fala em instâncias públicas e a que existe nos textos escritos que circulam socialmen- te. Ou seja, são os conhecimentos discursivo- -textuais e linguísticos implicados nas práticas sociais de linguagem; e o ensino, que é a prá- tica educacional do professor e da escola, que organiza a mediação entre sujeito e objeto do conhecimento. Assim, faz-se necessário lembrar que, para que essa mediação aconteça, o profes- sor deverá planejar situações de interação nas quais esses conhecimentos sejam construídos e/ou tematizados; organizar atividades que procurem recriar na sala de aula situações enunciativas de outros espaços que não o es- colar, considerando-se sua especificidade e a inevitável transposição didática que o conte- údo sofrerá, com o objetivo de desencadear, apoiar e orientar o esforço de ação e reflexão do aluno. Ferreira (2001) afirma que as palavras são ditas e entendidas dentro de um contexto, de uma conversa, de um diálogo entre pessoas, e não faladas e escritas de forma solta. A ex- pressão só produz sentidos para aquele que lê porque o leitor contextualiza-a em uma deter- minada situação composta por uma finalidade específica e conhecida/compartilhada pelos usuários da língua de uma determinada comu- nidade. O PCN descreve que a Língua Portuguesa, no Brasil, possui muitas variedades dialetais. Habitualmente, identificamos a variação geo- gráfica, mas por meio da variação social, isto é, pela forma como falam a língua, também se distinguem as pessoas. Mas o PCN lembra que há muitos preconceitos decorrentes do valor social relativo, que é atribuído aos diferentes modos de falar: é muito comum se considera- rem as variedades linguísticas de menorpres- tígio como inferiores ou erradas. Como foi discutido antes, no caderno de Fundamentos e Metodologia de Língua Portu- guesa I, a questão não é falar certo ou errado, mas saber qual forma de fala utilizar, conside- rando as características do contexto de comu- nicação, ou seja, saber adequar o registro às diferentes situações comunicativas; saber co- ordenar satisfatoriamente o que falar e como fazê-lo, considerando a quem e por que se diz determinada coisa. É saber, portanto, quais variedades e registros da língua oral são per- tinentes em função da intenção comunicati- va, do contexto e dos interlocutores a quem o texto se dirige. A questão não é de correção da forma, mas de sua adequação às circuns- tâncias de uso, ou seja, de utilização eficaz da linguagem: falar bem é falar adequadamente, é produzir o efeito pretendido. 15 Pedagogia - Fundamentos e Metodologia da Língua Portuguesa II Ao descrever a linguagem, o PCN afirma que o domínio da língua tem estreita relação com a possibilidade de plena participação social, pois é por meio dela que o homem se comunica, tem acesso à informação, expressa e defende pontos de vista, partilha ou constrói visões de mundo e produz conhecimento. Assim, um projeto educativo comprometido com a democratização social e cultural atribui à escola a função e a responsabilidade de garantir a todos os seus alunos o aces- so aos saberes linguísticos necessários para o exercício da cidadania, direito inalienável de todos. Ferreira (2001) destaca que o PCN faz uma crítica ao ensino de língua portuguesa nas es- colas que tradicionalmente alicerçam o ensino a língua em atividades artificiais de leitura e de escrita, também apresentando uma excessiva escolarização de determinados conteúdos, sobre- tudo os conteúdos gramaticais. Visando superar esses reducionismos, a autora afirma que: (...) o PCN parte do pressuposto que a língua se realiza no uso das práticas so- ciais, no espaço em que os homens (em diferentes momentos, lugares e con- textos) se apropriam dos seus conhecimentos através da ação com e sobre eles, tal como estão postos no mundo, em situações de uso de fato. (FERREIRA, 2001, p.22) A autora destaca que o homem utiliza a língua, tanto oral quanto escrita, dentro de uma concreta e determinada situação comunicativa, com condições e finalidades específicas. Dessa forma produz discurso, que significa dizer alguma coisa a alguém, de uma determinada forma, num determinado contexto histórico e em determinadas circunstâncias de interlocução. 1.2 Alfabetização e ensino da Língua O PCN compreende que a alfabetização não é um processo que tenha como centro a per- cepção e a memória. O documento considera que, para aprender a ler e a escrever, o aluno pre- cisa construir um conhecimento de natureza conceitual: ele precisa compreender não só o que a escrita representa, mas também de que forma ela representa graficamente a linguagem. ◄ Figura 3: O uso da fala Fonte:http://blog.educa- cional.com.br/glaucegra- mvariacoes-linguisticas- -teoria. Acesso: 02/03/2011 16 UAB/Unimontes - 6º Período O PCN tece uma crítica aos métodos tradicionais de alfabetização tão utilizados nas escolas do País. Ao comparar o ensino da Língua Portuguesa a um foguete de dois estágios: o primeiro para se soltar da Terra e o segundo para navegar no espaço, o documento explicita uma con- cepção de ensino. O primeiro é comparado ao estágio de alfabetização, que era previsto para durar em geral um ano, durante o qual o professor deveria ensinar o sistema alfabético de escrita (a correspondência fonográfica) e algumas convenções ortográficas do português — o que ga- rantiria ao aluno a possibilidade de ler e escrever por si mesmo. Por essa lógica, essa seria uma condição básica para disparar o segundo estágio, que se desenvolveria em duas linhas básicas: os exercícios de redação e os treinos ortográficos e gramaticais. (BRASIL/MEC, 1997). Essa metodologia tradicional de alfabetização foi combatida por pesquisadores que re- comendaram sua revisão metodológica e apontaram para a necessidade de repensar teorias e práticas tão difundidas e estabelecidas que, para a maioria dos professores, pareciam as únicas possíveis. No entanto, a conquista da escrita alfabética não garante ao aluno a possibilidade de compreender e produzir textos em linguagem escrita. Essa aprendizagem exige um trabalho pe- dagógico sistemático. Quando são lidas histórias ou notícias de jornal para crianças que ainda não sabem ler e escrever convencionalmente, ensina-se a elas como são organizados, na escrita, estes dois gêneros: desde o vocabulário adequado a cada um, até os recursos coesivos que lhes são característicos. O PNC indica que ensinar a escrever textos torna-se uma tarefa muito difícil fora do convívio com textos verdadeiros, com leitores e escritores verdadeiros e com situações de comunicação que os tornem necessários. Fora da escola escrevem-se textos dirigidos a interlocutores de fato. Todo texto pertence a um determinado gê- nero, com uma forma própria, que se pode aprender. (BRASIL/MEC, 1997, p.34). Você deve saber que os textos que circulam socialmente, quando entram na escola, passam a ser modelos para os alunos, que vão se familiarizando com as características discursivas dos diferentes gêneros e estes passam a servir como fonte de referência, como repertório textual e suporte da atividade intertextual (BRASIL/MEC 1997, p. 28) No PCN “a capacidade de decifrar o escrito é não só condição para a leitura independente como — verdadeiro rito de passagem — um saber de grande valor social” (BRASIL/MEC, 1997, p. 34). O aluno deve ser capaz de ler, interpretar e produzir um texto sobre o assunto lido. O do- cumento lembra a necessidade de se terem claras as propostas didáticas ao enfatizar o papel da ação e reflexão do aluno desde o processo de alfabetização, evitando, assim, uma abordagem espontaneísta da alfabetização escolar. Da forma como está enfocada no PCN (1997) a alfabetização não se limita ao seu sentido restrito de aquisição da escrita alfabética, mas ocorre dentro de um processo mais amplo de aprendizagem da Língua Portuguesa. Assim, a alfabetização exige que o professor dos anos iniciais do ensino funda- mental, necessariamente, assuma um novo papel, o de professor de Língua Portuguesa. Ao tratar do ensino e aprendizado inicial da leitura, o PCN de Língua Portuguesa alerta para a necessidade de superar a concepção de que ler é simplesmente decodificar, converter letras em sons, sendo a compreensão consequência natural dessa ação. Por conta desta concepção equivocada a escola vem produzindo grande quantidade de “leitores” capazes de decodificar qualquer texto, mas com enormes dificuldades para compreender o que tentam ler. Ainda conforme o PCN, todo conhecimento atualmente disponível a respeito do processo de leitura indica que não se deve ensinar a ler por meio de práticas centradas na decodificação. Ao contrário, é preciso oferecer aos alunos inúmeras oportunidades de aprenderem a ler usando os procedimentos que os bons leitores utilizam. É preciso que antecipem a leitura, que façam in- ferências a partir do contexto ou do conhecimento prévio que já possuem, que verifiquem suas suposições — tanto em relação à escrita, propriamente, quanto ao significado. É disso que se está falando quando se diz que é preciso “aprender a ler, lendo”: de adquirir o conhecimento da correspondência fonográfica, de compreender a natureza e o funcionamento do sistema alfabé- tico, dentro de uma prática ampla de leitura (BRASIL/MEC, 1997). Para aprender a ler é preciso que o aluno se defronte com os escritos que utilizaria se soubesse mesmo ler — com os textos de verdade. Portanto, na concepção defendida pelo PCN, os materiais feitos exclusivamente para ensinar a ler (os textos das antigas cartilhas) não são bons para aprender a ler, pois se constituem como um amontoado de frases e têm servido apenas para ensinar a decodifi-car, contribuindo para que o aluno construa uma visão empobrecida da leitura. Por essa concepção explicitada no PCN, de certa forma, é preciso agir como se o aluno já 17 Pedagogia - Fundamentos e Metodologia da Língua Portuguesa II soubesse aquilo que deve aprender. Entre a condição de destinatário de textos escritos e a falta de habilidade temporária para ler autonomamente é que reside a possibilidade de, com a ajuda dos já leitores, aprender a ler pela prática da leitura. Trata-se de uma situação na qual é neces- sário que o aluno ponha em jogo tudo que sabe para descobrir o que não sabe, portanto, uma situação de aprendizagem. Essa circunstância requer do aluno uma atividade reflexiva que, por sua vez, favorece a evolução de suas estratégias de resolução das questões apresentadas pelos textos (BRASIL/MEC, 1997). Para aprender a ler, portanto, é preciso interagir com a diversidade de textos escritos, teste- munhar a utilização que os já leitores fazem deles e participar de atos de leitura de fato; é preciso negociar o conhecimento que já se tem e o que é apresentado pelo texto, o que está atrás e diante dos olhos, recebendo incentivo e ajuda de leitores experientes. 1.3 A diversidade textual Caro(a) estudante, no caderno didático de Fundamentos e Metodologia da Língua Portu- guesa I chamamos a atenção para o PCN de Língua Portuguesa, quando discute a importância de se organizar o ensino a partir da diversidade de textos, e que cabe à escola viabilizar o acesso do aluno ao universo dos textos que circulam socialmente, ensinar a produzi-los e a interpretá- -los com autonomia. Essa orientação do PCN se dá pela razão evidente de que foram ampliadas as demandas por leitura e escrita, sendo que as exigências de hoje são superiores às demandas de bem pouco tempo atrás. E no PCN de Língua Portuguesa está explícita a responsabilidade da escola, como espaço institucional de acesso ao conhecimento, que precisa fazer uma revisão substantiva das práticas de ensino, visando à constituição de práticas que possibilitem ao aluno aprender lingua- gem (BRASIL/MEC, 1997). Toda educação comprometida com o exercício da cidadania precisa criar condições para que o aluno possa desenvolver sua competência discursiva. Dessa forma, o aluno se tornará ca- paz de utilizar textos com diferentes finalidades e diante de diferentes situações. Assim, o aluno poderá compreender conceitos, resolver problemas, comparar diferentes pontos de vista, argu- mentar a favor ou contra uma determinada hipótese ou teoria, acessar informação escrita, de- senvolver a possibilidade de aprender os diferentes conteúdos (BRASIL/MEC, 1997). Assim, para concretizar o ensino de Língua Portuguesa o PCN (1997) propõe que o professor organize suas aulas de forma que os alunos sejam capazes de: • expandir o uso da linguagem em instâncias privadas e utilizá-la com eficácia em instâncias públicas, sabendo assumir a palavra e produzir textos — tanto orais como escritos — coerentes, coesos, adequados a seus destinatários, aos objetivos a que se propõem e aos assuntos tratados; • utilizar diferentes registros, inclusive os mais formais da variedade lingüística valorizada socialmente, sabendo adequá-los às circunstâncias da situação co- municativa de que participam; • conhecer e respeitar as diferentes variedades lingüísticas do português falado; • compreender os textos orais e escritos com os quais se defrontam em diferen- tes situações de participação social, interpretando-os corretamente e inferindo as intenções de quem os produz; • valorizar a leitura como fonte de informação, via de acesso aos mundos cria- dos pela literatura e possibilidade de fruição estética, sendo capazes de recor- rer aos materiais escritos em função de diferentes objetivos; • utilizar a linguagem como instrumento de aprendizagem, sabendo como pro- ceder para ter acesso, compreender e fazer uso de informações contidas nos textos: identificar aspectos relevantes; organizar notas; elaborar roteiros; com- por textos coerentes a partir de trechos oriundos de diferentes fontes; fazer re- sumos, índices, esquemas, etc.; • valer-se da linguagem para melhorar a qualidade de suas relações pessoais, sendo capazes de expressar seus sentimentos, experiências, idéias e opiniões, bem como de acolher, interpretar e considerar os dos outros, contrapondo-os quando necessário; • usar os conhecimentos adquiridos por meio da prática de reflexão sobre a lín- gua para expandirem as possibilidades de uso da linguagem e a capacidade de análise crítica; • conhecer e analisar criticamente os usos da língua como veículo de valores e preconceitos de classe, credo, gênero ou etnia (BRASIL/MEC, 1997, p. 41-42). PARA REFLETIR Para aprender a ler e escrever sabe-se que o professor deve realizar atividade que possi- bilite sua intervenção – que deverá colocar-se na situação de princi- pal parceiro, agrupar seus alunos de forma a favorecer a circulação de informações entre eles, procurar garantir o respeito à heteroge- neidade do grupo. O que fazer para que o professor, sobretudo em classes numerosas, nas quais não é pos- sível atender a todos os alunos da mesma forma e ao mesmo tempo, acredite que a heterogeneidade do grupo, se pedagogica- mente bem explorada, desempenha a função adicional de permitir que o professor não seja o único informante da turma? Tem sido comum que a responsabilidade de ensinar leitura e escrita recaia nos professores de português, que tam- bém são culpabilizados pelas dificuldades dos alunos. Não seria mais produtivo que todos os professores contribuís- sem com essa apren- dizagem na escola? Os professores de diferen- tes disciplinas podem trabalhar a leitura e a escrita na sala de aula? Como você imagina isto acontecer? 18 UAB/Unimontes - 6º Período Para que os objetivos propostos sejam plenamente alcançados pelos alunos em sala de aula, os conteúdos de Língua Portuguesa no Ensino Fundamental foram organizados em torno de dois eixos básicos: o uso da língua oral e escrita e a análise e reflexão sobre a língua. O bloco de conteúdos “Língua escrita: usos e formas” subdivide-se em “Práticas de leitura” e “Prática de produção de texto” como apresentamos no Caderno Didático de Fundamentos e Metodologia de Língua Portuguesa I. O documento indica critérios para a organização de conteúdo que favoreça a aprendiza- gem, mas determina que a sequenciação dos conteúdos de ensino dentro de cada ciclo é res- ponsabilidade da escola. Assim, você deve lembrar que atualmente as escolas do Ensino Funda- mental estão organizadas em nove anos, sendo considerados anos iniciais os do 1º até o 5º ano. Ao discutir a leitura, o PCN da língua portuguesa também considera a importância do aces- so aos textos informativos e aos textos das diferentes disciplinas, com os quais o aluno se defron- ta sistematicamente no cotidiano escolar, destacando alguns problemas, como por exemplo: o fato de, nas aulas de Língua Portuguesa, não se ensinar a trabalhar com tex- tos expositivos como os das áreas de História, Geografia e Ciências Naturais. De forma semelhante, nessas aulas também não se ensina a ler e compreender esse tipo de texto, pois se considera que trabalhar com textos é uma atividade específica da área de Língua Portuguesa. Em conseqüência desse ensino, o alu- no não se torna capaz de utilizar textos cuja finalidade seja compreender um conceito, apresentar uma informação nova, descrever um problema, comparar diferentes pontos de vista, argumentar a favor ou contra uma determinada hi- pótese ou teoria (BRASIL/MEC, 1997, p. 30). Por isso, acreditamos que os professores de todas as disciplinas trabalhadas na escola são res- ponsáveis pela leitura dos textos de que fazem uso, para garantir ao aluno o acesso à informação es- crita com autonomia, sendo essa uma condição para a formação do leitor crítico e autônomo. Ao discutir a questão relativa à formação do leitor crítico na escola, Albergaria (2000) consi- deraque o PCN da língua Portuguesa para o ensino fundamental traz duas recomendações im- portantes. A primeira é relativa à formação do aluno cidadão; a segunda, ao desenvolvimento da capacidade discursiva do aluno, sendo esse um elemento que se encontra ligado à necessidade de se trabalhar com diferentes gêneros textuais. Para o autor, como consequência prática da valorização dos conhecimentos linguísticos dos alunos, houve mudança e ampliação no tipo de texto que circula e é trabalhado na escola, o que tem gerado equívocos em relação ao texto literário. Ou seja, Albergaria (2000) considera que, em decorrência da ampliação dos gêneros textuais na sala de aula, o texto literário perdeu status. Se tradicionalmente o texto literário era o único valorizado para leitura, agora ele concorre com jor- nais, receitas, charges, histórias em quadrinhos, fotografia, pintura, textos publicitários, material informativo e textos orais como debate, exposição, gravação de programa de rádio, dentre mui- tos outros textos que circulam socialmente. Nesse sentido, o autor considera ser necessário recuperar o lugar do texto literário na esco- la, posto que esse tipo de texto contribui para a formação de um leitor mais hábil, mais sensível, que responde a estímulos estéticos e tem sua criatividade e intuição desenvolvidas. Nessa discussão proposta por Albergaria (2000), vale destacar que o PCN não desconside- ra a importância do texto literário. Ao contrário, o documento dedica uma seção especial para discutir esse gênero textual e também aponta equívocos relativos ao trabalho com a literatura, como se vê a seguir: Com isso, é possível afastar uma série de equívocos que costumam estar pre- sentes na escola em relação aos textos literários, ou seja, tratá-los como ex- pedientes para servir ao ensino das boas maneiras, dos hábitos de higiene, dos deveres do cidadão, dos tópicos gramaticais, das receitas desgastadas do “prazer do texto”, etc. Postos de forma descontextualizada, tais procedimentos pouco ou nada contribuem para a formação de leitores capazes de reconhecer as sutilezas, as particularidades, os sentidos, a extensão e a profundidade das construções literárias (BRASIL/MEC, 1997, p.30). Por essa especificidade do texto, Albergaria (2000) é contundente em afirmar a importância de se ampliar o espaço para a leitura de texto literário na escola, posto que o leitor de literatura seja um leitor completo e, portanto, mais apto a se tornar um cidadão. Nesse sentido, é importante destacar que o texto literário ainda possibilita o prazer do lei- tor, seu envolvimento com o texto, a brincadeira com a linguagem, o diálogo intertextual. DICAS Os objetivos de Língua Portuguesa salientam também a necessi- dade de os cidadãos desenvolverem sua capacidade de com- preender textos orais e escritos, de assumir a palavra e produzir textos, em situações de participação social. Ao propor que se ensine aos alunos o uso das diferentes formas de linguagem verbal oral e escrita, busca-se de- senvolver a capacidade de atuação construtiva e transformadora. O domínio do diálogo na explicitação, discus- são, contraposição e argumentação de ideias são fundamen- tais na aprendizagem da cooperação e no desenvolvimento de atitude de autoconfian- ça, de capacidade para interagir e de respeito ao outro. A aprendi- zagem precisa então estar inserida em ações reais de intervenção, a começar pelo âmbito da própria escola. 19 Pedagogia - Fundamentos e Metodologia da Língua Portuguesa II Caro(a) acadêmico(a), você deve se lembrar que a intertextualidade já foi estudada na disci- plina Fundamentos e Metodologia da Língua Portuguesa I, no tópico coesão textual que tratou exclusivamente de intertextualidade. Esse é um fator da textualidade, que implica nas diferentes maneiras pelas quais um texto, oral ou escrito, dialoga com outros textos e é dependente do co- nhecimento de outros previamente existentes para poder ser produzido e compreendido. Box 1 Veja um exemplo, usado por Magda Soares (1999) no Livro Didático “Português - uma pro- posta para o letramento”, do 3º ano do Ensino Fundamental, como sugestão de atividade de leitura e produção de texto, em que a autora utiliza a intertextualidade. Para trabalhar a Unidade “Medo? Todo mundo tem!!!” Soares (1999) inicia a proposta com a leitura da frase: “Você já pensou que todo mundo sente algum medo?” É a primeira frase do texto de Silvinha Meirelles, que será trabalhado. Sugere que o aluno converse com o professor e colegas: Você concorda com essa frase? Conhece alguém que não tem medo de nada? O que as pessoas fazem, quando sentem medo? Veja o que faz a pessoa que aparece neste quadro. Ela grita! Levar os alunos a observar o quadro “O grito”, de Munch (1863-1944), ajudando-o analisá- -lo: que hora do dia será essa em que a cena passa – madrugada, sol nascente? Ou começo da noite, Sol se pondo? Quem serão as pessoas que aparecem atrás daquele que grita? Que lugar será este? (uma rua? Uma ponte?) O que será que representa o azul do lado direito da tela? Um rio? Um mar? A vegetação? Solte a imaginação. Esta pessoa está com medo de quê? Que impressão este quadro cau- sa em você? ◄ Figura 4: O grito de Edvard Munch, Galeria Nacional, Oslo. Fonte: galleryofthesilence. blogspot.com Acesso: 14/07/2011. 20 UAB/Unimontes - 6º Período Em seguida apresenta o texto para ser lido, a interpretação oral e escrita, o estudo do vo- cabulário para finalmente sugerir a produção de texto: Que medos você tem? Texto: Medo? Todo mundo tem!!! Silvinha Meirelles Você já pensou que todo mundo sente algum medo? Pode ser medo de aranha, rato ou cobra, de avião, de polícia ou ladrão. Tem gente que sente medo de ficar sozinho, do fogo, de monstro, da morte ou de trovão. Existe o medo de sentir dor e até o medo de sentir medo. Seja lá qual for o seu medo, ele toma conta da gente, e é único, só nosso e APOVO- RANTE! A reação das pessoas pode ser fechar os olhos ou ficar paralisadas feito estátuas. Às vezes, dá uma tremedeira nelas, e as pessoas riem e falam sem parar, sem pensar. Pode ser também que gritem ou chorem baixinho. À noite, todos os medos crescem e a coragem diminui. Para afastar o medo, você pode cantar, correr, rezar, pensar em outra coisa, assobiar, se esconder, chamar alguém ou che- gar perto do medo e olhar para ele de frente. A verdade é que não existe um jeito certo, ou melhor, de afastar o medo. Tudo depen- de do tamanho do medo, mas também depende de você! O Livro dos medos. Organização Heloisa Prieto. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 1998, p.37. In: Soares, Magda. Português: uma proposta de letramento – ensino fundamental. V. 3. São Paulo: Moderna, 1999. Assim, podemos verificar que a proposta de atividade de Magda Soares (1999) leva o professor a conhecer os caminhos percorridos pelo aluno, favorecendo a intervenção pedagógica, ao permitir o ajuste da informação oferecida às condições de interpretação em cada momento do processo. “Permite também considerar os erros cometidos pelo aluno como pistas para guiar sua prática, para torná-la menos genérica e mais eficaz” (BRASIL/MEC, 1997, p. 35). 1.4 Linguagem oral Caro(a) acadêmico(a), sabemos que não é papel da escola ensinar o aluno a falar, e que ela também não assumiu a tarefa de ensinar quaisquer usos e formas da língua oral. Quando o fez, foi para corrigir a fala “errada” dos alunos, que por coincidência faziam uso da variedade linguís- tica diferente da variação de prestígio social. O PCN de Língua Portuguesa (1997) sugere que na escola a produção oral pode acontecer nas mais diversas circunstâncias, dentro dos mais diversos projetos. Assim, apresenta como su- gestão várias atividades que devem ser desenvolvidas pelos professores em sala de aula, a saber: • atividades em grupo envolvendo o planejamento e realização de pesquisas que requeiram a definição de temas, a tomada de decisões sobre encaminha- mentos, a divisão de tarefas, a apresentaçãode resultados; • atividades de resolução de problemas que exijam estimativa de resultados possíveis, verbalização, comparação e confronto de procedimentos emprega- dos; • atividades de produção oral de planejamento de um texto, de elaboração propriamente e de análise de sua qualidade; • atividades dos mais variados tipos, mas que tenham sempre sentido de comu- nicação de fato: exposição oral, sobre temas estudados apenas por quem ex- põe; descrição do funcionamento de aparelhos e equipamentos em situações onde isso se faça necessário; narração de acontecimentos e fatos conhecidos apenas por quem narra. Esse tipo de tarefa requer preparação prévia, conside- rando o nível de conhecimento do interlocutor e, se feita em grupo, a coorde- nação da fala própria com um dos colegas — dois procedimentos complexos que raramente se aprendem sem ajuda. (BRASIL/MEC, 1997, p. 50-51). O documento ainda lembra que a escola não tem a preocupação de preparar os alunos para expor oralmente em público, sem constrangimento. A boa exposição oral exige a capacidade de falar bem, estudar o texto e preparar a fala, pois o texto expositivo, tanto oral como escrito, apre- senta dificuldades, tanto ao produtor como ao destinatário. 21 Pedagogia - Fundamentos e Metodologia da Língua Portuguesa II O PCN (1997) indica várias atividades significativas, como os seminários, dramatização de textos teatrais, simulação de programas de rádio e televisão, de discursos políticos e de outros usos públicos da língua oral, que devem ser realizadas em sala de aula com o objetivo de dar sentido e função ao trabalho com aspectos como entonação, dicção, gesto e postura que, no caso da linguagem oral, têm papel complementar para conferir sentido aos textos. (BRASIL/MEC, 1997, p. 51-52) Desta forma o documento chama atenção para a necessidade do trabalho com atividades en- volvendo situações contextualizadas de escuta, em que o aluno seja orientado a ouvir atentamente alguma tarefa que se tenha que realizar ou simplesmente porque o conteúdo valha a pena. Propostas desse tipo requerem a explicitação prévia dos seus objetivos, a antecipação de certas dificuldades que podem ocorrer, a apresentação de pistas que possam contribuir para a compreensão, a explicitação das atitudes esperadas pelo professor ao longo da atividade, do tempo aproximado de realização e de outros aspectos que se façam necessários. Para o PCN de Língua Portuguesa é mais do que isso: É preciso, às vezes, criar um ambiente que convide à escuta atenta e mobilize a expectativa: é o caso, por exemplo, dos momentos de contar histórias ou rela- tos (o professor ou os próprios alunos). A escuta e demais regras do intercâm- bio comunicativo devem ser aprendidas em contextos significativos, nos quais ficar quieto, esperar a vez de falar e respeitar a fala do outro tenham função e sentido, e não sejam apenas solicitações ou exigências do professor. (BRASIL/ MEC, 1997, p. 52). 1.5 Prática de Leitura No PCN de Língua Portuguesa (1997, p. 53) está definido que o “trabalho com leitura tem como finalidade a formação de leitores competentes e, conseqüentemente, a formação de es- critores, pois contribui para a constituição de modelos, do como escrever”. Esse posicionamen- to vem reforçar o que já foi estudado em Fundamentos e Metodologia da Língua Portuguesa I, quando lá afirma que a leitura é um processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de cons- trução do significado do texto. Não se trata simplesmente de extrair informação da escrita, de- codificando-a letra por letra, palavra por palavra. Mas, trata-se de uma atividade que implica, ne- cessariamente, compreensão nas quais os sentidos começam a ser constituídos antes da leitura propriamente dita. Sabemos que a leitura fluente envolve várias estratégias como seleção, antecipação, infe- rência e verificação, como possibilidade de realizá-la com rapidez e proficiência. Caso os alunos não tenham contato sistemático com bons materiais de leitura e com adultos leitores, quando não participam de práticas onde ler é indispensável, a escola deve oferecer materiais de qualida- de, modelos de leitores proficientes e práticas de leitura eficazes. Assim, o PCN ainda indica que a escola deve formar o leitor competente, com iniciativa pró- pria, capaz de selecionar, dentre os textos que circulam socialmente, aqueles que podem aten- der a uma necessidade sua. Esse leitor preconizado deve utilizar estratégias de leitura adequadas para abordar esses textos de forma a atender a essa necessidade. Que compreenda o que lê; que possa aprender a ler também o que não está escrito, identificando elementos implícitos; que estabeleça relações entre o texto que lê e outros textos já lidos; que saiba que vários sentidos podem ser atribuídos a um texto; que consiga justificar e validar a sua leitura a partir da localização de elementos discursivos. (BRASIL/MEC, 1997, p. 54). Caro(a) acadêmico(a), se o objetivo do ensino da língua portuguesa é formar cidadãos capa- zes de compreender os diferentes textos com os quais se defrontam, é preciso que a escola, an- tes de organizar qualquer trabalho educativo, incentive os professores a serem modelos de bons leitores para os seus alunos. Acreditamos que essa pode ser a única oportunidade de esses alunos interagirem signifi- cativamente com textos cuja finalidade não seja apenas a resolução de pequenos problemas do cotidiano. DICAS As atividades de linguagem oral devem ter como objetivo desenvolver as habili- dades de ler oralmente um texto, ouvir com atenção a leit, as informações dadas, e confrontá-las com as suas próprias. PARA REFLETIR “Sempre vejo anuncia- dos cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar... Nin- guém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória, mas acho que ninguém vai se matricular. Escutar é complicado e sutil.” (ALVES, 2000, p. 65) Rubem Alves fala da importância da escutatória. Qual a sua opinião? Você concorda com ele? A escola tem favorecido condições para os alunos apren- derem a ouvir o outro? Como a escola pode oferecer materiais de qualidade, modelos de leitores proficientes e práticas de leitura eficazes, quando o próprio professor não tem o hábito da leitura e, muitas vezes, não gosta de lê? Será este o modelo atual, que tanto tem influenciado os alunos a não pratica- rem e até mesmo não gostarem de ler? 22 UAB/Unimontes - 6º Período Como já sabemos, formar leitores é algo que requer condições favoráveis para a prática e o desenvolvimento do gosto pela leitura. Desta forma, o PCN (1997) chama atenção para algu- mas dessas condições, como dispor de uma boa biblioteca na escola, disponibilizando para os anos iniciais, do Ensino Fundamental, um acervo, para cada turma, com livros e variados mate- riais de leitura. Lembra ser fundamental que o professor seja envolvido nos momentos de lei- tura livre, sendo exemplo a ser seguido pelos alunos que não possuem o hábito de ler. Por isto, as atividades diárias devem ser planejadas, garantindo a importância da leitura em relação às demais. Alerta, também, para a necessidade da escola possibilitar aos alunos a escolha de suas leituras. Uma vez que, fora da escola, o autor, a obra ou o gênero são decisões do leitor, atitu- de que deve ser preservada na escola. É importante que os alunos não sejam importunados du- rante os momentos de leitura com perguntas sobre o que estão achando, se estão entendendo e outras questões. A escola deve possibilitar aos alunos o empréstimo de livros. Pois sabemos que bons textos podem ter o poder de provocar momentos de leitura junto com outras pessoas da casa, principalmente quando se trata de histórias tradicionais já conhecidas. Sempre que for possível, sugerir títulos para serem adquiridos pelos alunos, optar pela variedade para garantir que os alunos tenham a opção de ler diferentes livros. O mais importanteé a necessidade de ser “construída na escola uma política de formação de leitores na qual, todos possam contribuir com sugestões para desenvolver uma prática constante de leitura que envolva o conjunto da unidade escolar”. (BRASIL/MEC, 1997, p. 59) São muitas as propostas didáticas, orientadas especificamente no sentido de formar leito- res. Agora serão apresentas algumas sugestões para o trabalho com os alunos, que podem servir de referência para a geração de outras propostas (BRASIL/MEC, 1997). 1.5.1 Leitura diária Conforme (BRASIL/MEC, 1997, p. 60), o trabalho com leitura deve ser diário, pois a leitura pode ser realizada: “de forma silenciosa, individualmente; em voz alta (individualmente ou em grupo) quando fizer sentido dentro da atividade; e pela escuta de alguém que lê”. No entanto, o PCN (1997) descreve alguns cuidados necessários para o bom desempenho dos alunos, como garantir a oportunidade de o aluno sempre poder ler o texto silenciosamente, com antecedência, até se sentir seguro, antes da leitura em voz alta. Quando os alunos divergi- rem nas interpretações para um mesmo texto, ao professor cabe, apenas, orientar as discussões para validar as interpretações, considerando a argumentação dos alunos. Ao professor cabe po- sicionar-se apenas quando necessário. Antes de iniciar as atividades de leitura, convém sempre explicitar os objetivos e preparar os alunos, apresentando o assunto previamente, fazer com que eles levantem hipóteses sobre o tema a partir do título, oferecer informações que situem a lei- tura, criar certo suspense quando for o caso, etc. É necessário refletir com os alunos de todas as idades e séries, variando apenas o grau de aprofundamento em função da capacidade de cada um, as diferentes modalidades de leitura e os procedimentos que elas requerem do leitor, para que os alunos saibam ler em busca de significado, como também, ler em busca de inadequações e erros. Figura 5: Leitura diária Fonte: www.osabetudo. com; www.franciscasales- czs.blogspot.com. Acesso: 04/04/2011. ► 23 Pedagogia - Fundamentos e Metodologia da Língua Portuguesa II ◄ Figura 6: Leitura pelo professor Fonte: http://clubesde- leitura.com.br/barba- lha/2010/10/19/projeto-de- -leitura-escola-bom-jesus/. Acesso em 12 de julho de 2011.. 1.5.2 Leitura colaborativa O PCN (1997) apresenta a leitura colaborativa como uma excelente estratégia didática para o trabalho de formação de leitores. Nesse tipo de prática, o professor lê um texto com a classe e, durante a leitura, questiona os alunos sobre as pistas linguísticas que possibilitam a atribuição de determinados sentidos. É uma atividade de leitura que envolve a tur- ma, dando oportunidade para o aluno explici- tar os procedimentos utilizados para atribuir sentido ao texto: como e por quais pistas lin- guísticas lhes foi possível realizar tais ou quais inferências, antecipar determinados aconteci- mentos, validar antecipações feitas, etc. No box que se segue, foi transcrita uma proposta de leitura apresentada por Solé (1998), em que um texto curto é trabalhado didaticamente para facilitar a leitura pelos alunos. O texto é dividido em duas partes, sendo, ao final da primeira, apresentadas questões que levam o aluno a pensar sobre o texto, a antecipar sentidos, a elaborar hipóte- ses e posteriormente confirmá-las (ou não). Essa proposta é o tipo de atividade que o PCN considera como leitura colaborativa, em que o aluno não é entregue à tarefa solitária de ler e compreender. O texto é lido e discutido pelo aluno, a partir de questões orientadoras, que facilitam o processo de compreensão. 24 UAB/Unimontes - 6º Período Box 2 A velha e os ladrões Era uma vez uma velha que morava nos arredores de um povoado. Uma noite estava se aquecendo junto ao fogo com a única companhia das ardentes chamas, quando, de repente, ouviu ruídos em cima, em seu quarto. Surpresa disse: — Eu diria que há ruídos lá em cima... ou será impressão minha? Depois ouviu claramente passos que iam de um lado para o outro e compreendeu que se tratava de ladrões que tinham ido roubá-la. Como estava sozinha e ninguém podia acudir em sua ajuda, começou a pensar: Ah, já sei! Qual você acha que foi a ideia da velhinha para expulsar os ladrões? Leia bem o texto antes de responder e preste atenção no lugar em que ela mora, no fato de se encontrar sozinha e ser velha. Escreva a sua resposta, acabe a leitura e veja se adivinhou. E, decidida, dirigiu-se para o pé da escada e começou a gritar: — Bernardo, suba para o terraço! Maria, pegue a espingarda! — Juan, cace-o! — E você, Pedro, bata neles! — Ramon, conte quantos são! Ao ouvir os gritos da velha, os ladrões se assustaram muito e disseram: — Olhe que não tem pouca gente nessa casa... É melhor ir embora, porque entre todos, eles vão nos pegar... Mais tarde a velha, sentada diante do fogo, começou a gargalhar... e contam que ainda continua rindo. Onde você acha que estavam Bernardo, Maria, Juan, Pedro e Ramon? Onde é que os la- drões pensaram que eles estavam? Por que a velha ria tanto? (SOLE, 1998, p.122) Veja que, no exemplo, as perguntas apresentadas por Sole (1998) constituem-se como pro- cesso de intervenção do professor no ato da leitura, contribuindo para que os alunos compreen- dam o texto lido. A leitura colaborativa é uma sugestão descrita no PCN de Língua Portuguesa que pode favorecer o desenvolvimento de habilidades de leitura crítica, dada a possibilidade de se trabalhar com alguns procedimentos de leitura. A possibilidade de interrogar o texto, a diferenciação entre realidade e ficção, a identificação de elementos discriminatórios e recursos persuasivos, a inter- pretação de sentido figurado, a inferência sobre a intencionalidade do autor, são alguns dos aspectos dos conteúdos relacionados à compreensão de textos, para os quais a leitura colaborativa tem muito a contribuir. (BRASIL/MEC, 1997, p. 61). É uma atividade que facilita a compreensão do texto e proporciona o trabalho em grupo. 1.5.3 Projetos de leitura Caro(a) acadêmico(a), você já conhece a importância do trabalho realizado com projeto pe- dagógico - além de ter características bem definidas, os seus objetivos são compartilhados “por todos os envolvidos, que se expressa num produto final em função do qual todos trabalham” (BRASIL/MEC, 1997, p. 60). Vale ressaltar também que os projetos se adéquam ao tempo necessário para a sua execu- ção e podem durar dias ou meses. Na escola, é importante que os professores organizem pro- jetos da sala de aula e também participem dos projetos de leitura desenvolvidos coletivamen- te pela escola, de forma a ampliar espaços para ler e descobrir as muitas possibilidades inscritas nessa prática. Esses projetos podem envolver os pais e a comunidade, culminando com apresen- tações, dramatizações ou outra atividade que a criatividade indicar. 25 Pedagogia - Fundamentos e Metodologia da Língua Portuguesa II O PCN (1997) aponta o trabalho com projetos como ideal para trabalhar: Situações em que linguagem oral, escrita, leitura e produção de textos se inter- -relacionam de forma contextualizada, pois quase sempre envolvem tarefas que articulam esses diferentes conteúdos. São situações lingüisticamente sig- nificativas, em que faz sentido, por exemplo, ler para escrever, escrever para ler, ler para decorar, escrever para não esquecer, ler em voz alta em tom adequado. Nos projetos em que é preciso expor ou ler oralmente para uma gravação que se destina a pessoas ausentes, por exemplo, uma circunstância interessante se apresenta: o fato de os interlocutores não estarem fisicamente presentes obri- ga a adequar a fala ou a leitura a fim de favorecer sua compreensão, analisando o tom de voz e a dicção, planejando as pausas, a entonação, etc. (BRASIL/MEC, 1997, p.62). O documento aponta “os projetos de leitura como excelentes situações para contextualizar a ne- cessidade de ler e, em determinados casos, a própria leitura oral e suas convenções” (BRASIL/MEC,1997, p. 62), e cita alguns exemplos de projetos de leitura, que podem ser desenvolvidos na escola: A produção de áudio de contos ou poemas lidos para a biblioteca escolar ou para enviar a outras instituições; produção de vídeos, de curiosidades gerais sobre assuntos estudados ou de interesse; promoção de eventos de leitura numa feira cultural ou exposição de trabalhos. (BRASIL/MEC, 1997, p.62). 1.5.4 Atividades sequenciadas de leitura O PCN (1997) descreve as atividades sequenciadas de leitura como situações didáticas ade- quadas para promover o gosto de ler. Têm a função de desenvolver no leitor atitudes a partir da prática de leitura. As atividades sequenciadas funcionam de forma parecida com os projetos — e podem integrá-los, inclusive —, mas não têm um produto final predetermina- do: neste caso o objetivo explícito é a leitura em si. Nas atividades seqüencia- das de leitura pode-se, temporariamente, eleger um gênero específico, um de- terminado autor ou um tema de interesse. (BRASIL/MEC, 1997, p.63). 1.5.5 Atividades permanentes de leitura O PCN (1997) apresenta atividades permanentes de leitura como situações didáticas propos- tas com regularidade e voltadas para a formação de atitude favorável à leitura. Essas atividades devem ocorrer diariamente ou semanalmente com a finalidade de permitir a convivência fre- quente e intensa com diferentes gêneros de textos, proporcionando aos alunos oportunidades de experimentar variados modos de leitura, desenvolvendo, assim, estratégias diversificadas de leitura. ◄ Figura 7: Projetos de leitura Fonte: http://www.esco- lacdi.com.br/2010/11/21/ culminancia-do-projeto- -de-leitura-1%C 2%BA-ano. Acesso em 12 de julho de 2011. 26 UAB/Unimontes - 6º Período É uma atividade que pode ser desenvolvida dentro da sala de aula, usando histórias, curio- sidades científicas, notícias, etc. A professora disponibiliza o material e os alunos escolhem o que desejam ler. Assim, os alunos: Levam o material para casa por um tempo e se revezam para fazer a leitura em voz alta, na classe. Dependendo da extensão dos textos e do que demandam em termos de preparo, a atividade pode se realizar semanalmente ou quin- zenalmente, por um ou mais alunos a cada vez. Quando for pertinente, pode incluir também uma breve caracterização da obra do autor ou curiosidades so- bre sua vida. (BRASIL/MEC, 1997, p.63). Outro exemplo, apresentado no PCN (1997) é o que se pode chamar “Roda de Leitores”: Periodicamente os alunos tomam emprestado um livro (do acervo de classe ou da biblioteca da escola) para ler em casa. No dia combinado, uma parte deles relata suas impressões, comenta o que gostou ou não, o que pensou, sugere outros títulos do mesmo autor ou conta uma pequena parte da história para “vender” o livro que o entusiasmou aos colegas. (BRASIL/MEC, 1997, p.63). Caro(a) acadêmico(a), Nóbrega (2006) apresenta três sugestões de atividades permanentes de leitura possíveis de serem trabalhadas em sala de aula. 1. Leitura e troca de impressões. Nessa proposta o professor deve selecionar quatro histó- rias: uma para ser lida na segunda-feira; outra, na terça-feira; outra, na quarta-feira, uma última para a quinta-feira. Deve-se proceder à leitura em voz alta da história e, após con- cluí-la, promover uma conversa para que os estudantes troquem impressões a respeito do conto ou relatem experiências pessoais relacionadas ao tema das histórias lidas, como a raiva, a inveja, o medo, a compaixão etc; 2. Entendendo um sumário. Nessa atividade os alunos são desafiados a localizar em que pá- gina está a história que o professor vai ler naquele dia (providencie cópias do sumário do livro para realizar a atividade); e 3. Ficha de apreciação. A cada dia, após a leitura, o professor pede aos estudantes para re- gistrar: o nome do aluno, turma, o título da história ou do livro, o nome do autor, a data da leitura em uma ficha de apreciação, assinalando a coluna correspondente à avaliação que fizeram da história — Não gostei, Gostei ou Gostei muito — ! A sugestão de Nóbrega (2006) é que na sexta-feira proceda à escolha da história preferida da turma para ser lida outra vez. Chame esse dia de “Vale a pena ler de novo”. Ler várias vezes uma mesma história é importante para que os leitores iniciantes aprendam a diferença entre ler e contar uma história: ao ler, as palavras não mudam, são sempre as mesmas; ao contar, acaba- mos usando outras palavras e a história nunca sai exatamente igual. Por fim, percebemos que na escola, uma prática de leitura intensa é necessária por muitas razões. Conforme o PCN, a leitura pode: Figura 8: Atividade permanente de leitura Fonte: http://diariodonor- deste.globo.com/materia. asp?codigo=268818. Disponível: http://alfabe- tizacaoecia.blogspot.com Acesso: 04/04/2011 ► 27 Pedagogia - Fundamentos e Metodologia da Língua Portuguesa II • ampliar a visão de mundo e inserir o leitor na cultura letrada; • estimular o desejo de outras leituras; • possibilitar a vivência de emoções, o exercício da fantasia e da imaginação; • permitir a compreensão do funcionamento comunicativo da escrita: escreve- -se para ser lido; • expandir o conhecimento a respeito da própria leitura; • aproximar o leitor dos textos e os tornar familiares — condição para a leitura fluente e para a produção de textos; • possibilitar produções orais, escritas e em outras linguagens; • informar como escrever e sugerir sobre o que escrever; • ensinar a estudar; • possibilitar ao leitor compreender a relação que existe entre a fala e a escrita; • favorecer a aquisição de velocidade na leitura; • favorecer a estabilização de formas ortográficas. (BRASIL/MEC, 1997, p.64-5). Assim, a escola intensifica a prática de leitura, realizando procedimentos para o desenvolvi- mento dos alunos, porque acreditamos que ler ensina a ler e a escrever. 1.6 Prática de produção de textos Caro(a) Acadêmico(a), você já estudou e aprendeu que o trabalho com produção de textos tem como finalidade formar escritores competentes, capazes de produzir textos coerentes, coe- sos e eficazes. Neste momento, vamos aproveitar o que está posto no PCN (1997) e recordar o que já foi discutido no caderno didático de Fundamentos e Metodologia da Língua Portuguesa I: Um escritor competente é alguém que, ao produzir um discurso, conhecendo possibilidades que estão postas culturalmente, sabe selecionar o gênero no qual seu discurso se realizará escolhendo aquele que for apropriado a seus ob- jetivos e à circunstância enunciativa em questão. Por exemplo: se o que deseja é convencer o leitor, o escritor competente selecionará um gênero que lhe pos- sibilite a aprendizagem dos usos da linguagem escrita. É disso que se está fa- lando quando se diz que é preciso “aprender a escrever, escrevendo” (BRASIL/ MEC, 1997, p.65). Mas sabemos que, para o sujeito aprender a escrever, é necessário que tenha acesso à diver- sidade de textos escritos, que seja capaz de perceber a utilização que se faz da escrita em dife- rentes circunstâncias do cotidiano. Sendo assim, o documento chama atenção para o tratamento que se dá à escrita na escola. Pois é preciso aproximar o aluno ao mundo da escrita. Não pode- mos nos esquecer que esse é o início de um caminho que deverão trilhar para se transformarem em cidadãos da cultura escrita, capazes de utilizá-la com eficácia. O PCN (1997) coloca que, Para formar cidadãos capazes de utilizarem a escrita com eficácia, tenham condições de assumir a palavra — também por escrito — para produzir textos adequados, é preciso organizar o trabalho educativo para que experimentem e aprendam isso na escola. É necessário, portanto, ensinar os alunos a lidar tanto com a escrita da linguagem — os aspectos notacionais relacionados ao sistema alfabético e às restrições ortográficas — como com a linguagem escrita — os aspectos discursivos relacionados à linguagem que se usa para escrever. (BRA- SIL/MEC, 1997, p.68). Assim, o documento descreve algumas situações encontradas
Compartilhar