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Educação Especial: Identidades e Culturas Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Dr.ª Rutinéia Cristina Martins Revisão Textual: Prof. Me. Luciano Vieira Francisco As Culturas Africana, Afro-Brasileira e Indígena e a Pessoa com Deficiência • A Deficiência nas Raízes Brasileiras: Ideias Africanas, Afro-brasileiras e Indígena. • Conhecer aspectos culturais das relações com as pessoas com defi ciência nas culturas africana, afro-brasileira e indígena. OBJETIVO DE APRENDIZADO As Culturas Africana, Afro-Brasileira e Indígena e a Pessoa com Defi ciência Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam- bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE As Culturas Africana, Afro-Brasileira e Indígena e a Pessoa com Deficiência Contextualização Africanizando Quando o meu sonho me ilumina eu escrevo África. África me faz e me rodeia. Eu amo essa gente cheia de África. O chão da África tem cheiro de mim. Na África, todos os caminhos nos levam às fontes da terra e às origens do mundo. E o que me torna africano? É o amor pela terra e pela cultura. A terra me ilumina. A cultura me encanta. Minha alma é atravessada por imensos rios, como rio Nilo, que nasce no meu corpo. Em mim, há quedas de águas, sobre mim, caminham cursos de rios. A maioria dos rios da África nasce no planalto dos olhos. Por isso, eu caminho de mãos dadas com a flora e a fauna. Sou savana africana de mim mesmo. A poesia africana é para se vestir dela e correr poemas pelo mundo [...]. (MORGADO MBALATE) O poema de Mbalate, um jovem poeta moçambicano, traz uma reverência à África, de onde se origina e reforça a sua identidade de homem africano. Os valores e ideias africanas também fazem parte da cultura brasileira. A partir da diáspora e do tráfico negreiro, ocorreram mudanças nos valores culturais brasileiros, dos quais a cultura europeia já fazia parte, por conta da colonização portuguesa, assim como a cultura indígena, dos povos nativos, que já reinava em nosso país. E as pessoas com deficiência? Como eram concebidas nas sociedades africanas, afro-brasileiras e indígenas? 8 9 A Deficiência nas Raízes Brasileiras: Ideias Africanas, Afro-brasileiras e Indígena Aspectos da Concepção de Deficiência na Cultura Africana Uma boa maneira de começar a tratar da cultura africana, que estudaremos de- vido à sua influência na cultura brasileira no momento da diáspora africana, é expor o poema de Mbalate, que trata da identidade do africano. Antes de apontarmos um pouco dessa identidade e das concepções e ações do africano em relação à deficiência, é preciso esclarecer que a África não é um país único, como muitas pessoas pensam. A diáspora africana é o nome dado a um fenômeno histórico e social caracterizado pela imi- gração forçada de homens e mulheres do continente africano para outras regiões do mundo. Esse processo foi marcado pelo fluxo de pessoas e culturas através do Oceano Atlântico e pelo encontro e pelas trocas de diversas sociedades e culturas, seja nos navios negreiros ou nos novos contextos em que os sujeitos escravizados se encontravam – fora da África. Ex pl or Existem muitos equívocos em relação à África. O Continente africano é o tercei- ro do mundo em extensão, composto por 54 países, 48 situados no continente e 6 ilhas (BEZERRA, [20--]). Desses países, o mais antigo é o Egito, datando de mais de 5000 anos antes de Cristo, primeiro país a constituir-se como Estado na África. Contudo, não estudaremos o Egito nesta Unidade, tendo em vista que já analisa- mos alguns aspectos da cultura egípcia em relação à deficiência. Figura 1 Fonte: Getty Images O nosso foco se volta a aspectos culturais de Angola e Moçambique, cujos habi- tantes eram denominados bantos e possuem a língua portuguesa em comum com o Brasil. Esses países forneciam compulsoriamente homens que foram escravizados 9 UNIDADE As Culturas Africana, Afro-Brasileira e Indígena e a Pessoa com Deficiência no Brasil; por isso, acredita-se que haja grande influência desses em nossa cultura. Segundo Bezerra ([20--]), os atuais Sudão – grupo iorubá, igualmente denominado nagô – e Nigéria também tiveram numerosos grupos de habitantes enviados ao Brasil como escravos. Sobre a deficiência em Moçambique, usaremos como exemplo as concepções acerca da deficiência visual que, de acordo com a herança cultural local, o que ex- plica esse mal físico tem relação com causas espirituais. Martins (2013) explica que no entendimento moçambicano [...] normalmente um feitiço perpetrado por um familiar, vizinho ou cole- ga de trabalho –, e em que é conferida inequívoca centralidade ao prati- cante da dita medicina tradicional enquanto agente detentor de poderes e saberes que são a um tempo divinatórios (no identificar da causa socioes- piritual) e curativos (no desfazer do mal físico). Nesse caso, a deficiência não é explicada por causas racionais, mas por questões que envolvem a espiritualidade e poderes sobrenaturais de quem elaborou o feitiço – o feiticeiro – e causou a cegueira, sendo desejada por um familiar ou outra pessoa relacio- nada aos pais da criança que nasce cega ou o indivíduo que adquire a deficiência visual. Quando existe uma causa sobrenatural para o mal em questão, perde força a motivação para a busca de causas racionais e, por conseguinte, a cura. São valori- zados saberes que transcendem a medicina tradicional. Sobre isso, Oliveira (2015, p. 488) argumenta que, na África, “[...] o inseto é mais perigoso do que a fera, e o micróbio mais ainda do que o inseto”. Por isso, devido ao clima e a condições de higiene e saúde, ferimentos simples evoluem para um quadro de gangrena ou infecções de toda sorte, o que, em tempos mais remotos ou lugares mais afastados de áreas centrais ou com menos recursos, costumava resultar em amputações de membros. Nesse caso, prefere-se o curandeiro ao antibiótico, devido ao significado que a doença ou deficiência tem na cultura africana. Outra crença significativa no continente africano também envolve a deficiência visual e se refere aos albinos, que é uma condição genética que se caracteriza pela au- sência total ou parcial de pigmentação na pele. A cor da pele se deve a uma enzima, a tirosinase, envolvida na síntese da melanina, pigmentomarrom-escuro produzido nos melanócitos (VARELLA, [20--]). É essa substância que confere cor à pele, aos cabelos, pelos e olhos. Funciona como agente protetor contra os raios ultravioletas do Sol. Devido à falta de pigmentação, todo albino tem deficiência visual em maior ou menor grau. Os seus olhos são azuis ou castanhos muito claros e um pouco translúci- dos. Como consequência disso, os males mais comuns são estrabismo, astigmatismo, miopia, hipermetropia, fotofobia – sensibilidade ou aversão à luz – e nistagmo. Nistagmo: é o movimento descontrolado dos olhos em várias direções, que dificulta focali- zar a imagem (VARELLA, [20--]).Ex pl or 10 11 Em várias localidades africanas, os albinos são literalmente caçados, porque há um preconceito que associa o albinismo ao retardo mental. Em países como Quênia, Tanzânia e África do Sul, acredita-se que albinos têm poderes sobrenatu- rais e que possuir partes do seu corpo pode garantir o atendimento a pedidos de diversas ordens, tal como neste depoimento de uma sul-africana (DW, [20--]): “Venho de um bairro pobre, onde as pessoas não têm muito acesso à informação e aqui estou, uma criança negra de aparência branca”. Puleng Molebatsi foi para uma escola para crianças cegas e surdas, mas não entendia muito bem porquê, uma vez que podia ver e ouvir. “Acho que os meus pais não sabiam bem o que é o albinismo. Por isso, o primeiro impulso da minha mãe foi levar-me para uma escola especial”. Figura 2 – Família com duas crianças albinas Fonte: Getty Images Outro depoimento ajuda na explicação: “As palavras que usamos são muito degradantes e discriminatórias. Por exemplo, em Zulu, as palavras usadas para se referir aos albinos signi- ficam macaco. Há também uma outra palavra que liga os albinos a um mau presságio. Acredita-se que há algo mau ou demoníaco associado à condição de albino”, explica Mazibuko (outra sul-africana). Outros fatores envolvem a situação dos albinos em vários lugares da África, sendo a deficiência visual apenas uma e mais uma vez as questões culturais se so- brepõem às científicas e racionais. No caso da deficiência física, temos poucos dados sobre as concepções vigentes em épocas mais antigas, do tempo em que africanos eram arrancados de suas ter- ras para serem enviados ao Brasil. Todavia, o tratamento atual dado aos que têm limitações físicas nos dá indícios de um passado de desrespeito e discriminação, 11 UNIDADE As Culturas Africana, Afro-Brasileira e Indígena e a Pessoa com Deficiência visto que é o que se encontra atualmente em manchetes de jornais de Angola, Gana e Moçambique. Sobre Gana, país da África Ocidental, a manchete é: “O país onde deficientes são acorrentados e violentados”. Isso ocorre porque em Gana, é forte a crença de que as deficiências não são um obs- táculo de ordem física ou mental, com causas orgânicas, mas uma doença espiritual ou maldição que pode ser curada por rezas ou confinamento. E, em alguns casos, por violência física. (MORGAN, 2015) Por isso, deficientes – e seus responsáveis – se submetem a rituais em que sofrem diversos tipos de violência, na esperança de serem curados de suas deficiências. Em Angola, país com aproximadamente 25 milhões de habitantes, há 600 mil pessoas com deficiência, das quais 85 mil são deficientes físicos; entre estes, encon- tram-se os remanescentes dos 80 mil mutilados pelas minas explosivas na guerra civil ocorrida entre 1975 e 2002, em razão da Independência de Angola dos domí- nios de Portugal. A manchete encontrada em Angola é: Deficientes queixam-se de discriminação. As queixas contra a discriminação se dão, principalmente, em relação ao mercado de trabalho, que não contrata os deficientes físicos. Nesse caso, é estabelecido um paradoxo, pois essas pessoas perderam a sua integridade física no momento em que lutavam pela independência e autonomia de seu país e, agora, veem-se abandonados pelo qual. Em um jornal de Maputo, capital moçambicana, anuncia-se: “Deficientes de Moçambique queixam-se da falta de atenção da sociedade” (SILVA, 2013). Os de- ficientes em Moçambique lamentam a falta de escolas inclusivas e as inacessibilida- des dos novos edifícios. A reportagem mostra uma mobilização das pessoas com deficiência em torno de melhores condições. Essas reivindicações nos dão indícios de que nessa cultura não há valorização do deficiente, sendo necessário, portanto, muito trabalho para uma mudança de mentalidade. Figura 3 – Criança deficiente em Mogadíscio, na Somália Fonte: nacoesunidas.org 12 13 O quadro começa a se modificar com a elaboração de planos de melhorias para as condições de vida dos deficientes, ou de garantias de direitos feitas por cada país. A União Africana adotou um novo protocolo de direitos das pessoas com deficiên- cia. Essa medida tem caráter histórico e, se bem aplicada, tem potencial para trans- formar a vida de 84 milhões de africanos que vivem com deficiência. A expectativa é que esse protocolo melhore a inclusão e atenda às demandas dessas pessoas na elaboração de leis, políticas e orçamentos públicos. A intenção é gerar maiores cuidados com essas pessoas e também a fiscalização em relação ao cumprimento das legislações. A legislação tem o poder de mudar as atitudes sob pena de receber punições. Entretanto, para haver mudanças de padrões culturais em relação às pessoas com deficiência, é necessário que existam elementos que determinem as mudanças de comportamento; caso contrário, não teremos mudanças culturais a esse respeito e as pessoas continuarão a povoar o imaginário das outras de forma negativa e dificilmente serão plenamente integradas à sociedade, com os direitos respeitados. Cultura Afro-brasileira e Deficiência Eles tinham saído de culturas onde existe forte respeito por si próprio apenas para se encontrarem num mundo transatlântico onde todos pare- ciam desprezá-los. (DAVIDSON, 1978, p. 173) Chamamos de cultura afro-brasileira as manifestações culturais dos africanos trazidos para o Brasil e dos seus descendentes e das suas relações com as culturas aqui já existentes, tais como a indígena e europeia, de nações diversas. O Brasil possui a maior população de origem africana fora da África. Diana (2019) explica que a cultura afro-brasileira remonta ao período colonial, quando o tráfico transa- tlântico de escravos forçou milhões de africanos a virem para o Brasil. Quanto à questão da deficiência na cultura afro-brasileira, o foco se volta para três situações: as mutilações ocorridas por castigos aos escravos, as deficiências nos quilombos e a visão das religiões de matriz africana sobre a deficiência. Trazidos da África à força para o trabalho escravo, os negros africanos e afro- descendentes eram submetidos a jornadas exaustivas e castigados quando não atendiam às expectativas e/ou aos caprichos de seus senhores. Por isso, a defici- ência física, inúmeras vezes, resultava de castigos físicos aos quais os negros eram submetidos desde que estavam nos navios negreiros até o serviço nas fazendas e áreas em urbanização. Segundo Garcia ([20--]), a forma como ocorria o tráfico, em embarcações superlotadas e em condições desumanas, já representava um meio de disseminação de doenças incapacitantes. Essas doenças provocavam sequelas que comumente evoluíam para o quadro permanente de limitações. Os fatos descritos podem ser ilustrados nas duas versões da novela televisi- va Sinhá Moça, baseadas no romance homônimo de Maria Dezonne Pacheco Fernandes e publicado em 1986. As versões da novela foram escritas por Benedito 13 UNIDADE As Culturas Africana, Afro-Brasileira e Indígena e a Pessoa com Deficiência Ruy Barbosa e apresentadas pela Rede Globo de Televisão em 1986 e 2006. A novela – gênero textual muito presente na cultura brasileira e que tem a televisão como o seu principal veículo de difusão – passa-se no século XIX, momentos antes da abolição da escravidão. O nosso foco se volta ao personagem Fulgêncio, repre- sentado pelos atores GésioAmadeu e Sérgio Menezes, respectivamente em 1986 e 2006. A sinopse mostrada pela Redação Arquivo de Novelas, em 31 de janeiro de 2017, apresenta esse personagem: Fulgêncio: irmão de Justino e filho de Pai José. É um escravo altivo, que tenta fugir da senzala e sofre duras conseqüências. Recapturado, responde com atrevimento ao Barão de Araruna e é atacado por este a chicote, sendo, acidentalmente, atingido em um dos olhos. Por causa de uma infecção, perde também a outra vista e fica cego. A bondade e os cuidados de Sinhá Moça fazem abrandar a revolta que nasce após esse triste episódio. Transforma-se num “louco manso” a perambular pela fazenda. Ator Sérgio Menezes, Fulgêncio, em 2006, disponível em: http://bit.ly/2BdnQ4w Ex pl or O exemplo tratado no livro e na novela é uma amostra do ocorrido durante a escravidão, quando castigos como mutilações e a amputação de membros eram comuns. Isso deixaria a pessoa inapta para o trabalho e totalmente dependente em uma sociedade hostil para os escravizados, que culturalmente eram vistos como inúteis, “nego à toa”, como se dizia à época e até os dias atuais. No caso de Fulgên- cio havia um agravante pouco citado, que foi a perda da sanidade mental, muito comum em razão de castigos severos, tais como os estupros que escravas eram submetidas, deixando sequelas físicas e emocionais. Outro aspecto que envolve a cultura afro-brasileira é a vida nos quilombos, que Munanga (1996) esclarece: A palavra kilombo é originária da língua banto umbundo, falada pelo povo ovibundo, que diz respeito a um tipo de instituição sociopolítica militar conhecida na África Central, mais especificamente na área forma- da pela atual República Democrática do Congo (antigo Zaire) e Angola. No Brasil, os quilombos representaram mais que isso. Foram oportunidades criadas pelos escravos para fugir da escravidão e de organizarem uma vida livre, em meio à ordem escravocrata. De acordo com Mantovani (2015, p. 50), os quilombos represen- tavam a esperança de se viver de acordo com as próprias tradições e convicções, sinali- zavam uma possibilidade de vida para além daquela condição em que se encontravam. Há poucos registros sobre a participação de deficientes no processo de formação dos quilombos. Presume-se que, pelo menos, os deficientes físicos tivessem dificulda- des, pois para formar o quilombo era necessário fugir das fazendas em direção a áreas de difícil acesso, o que demandava agilidade física. Todavia, há relatos sobre pessoas com deficiência em comunidades remanescentes dos quilombos nos séculos XX e XXI. 14 15 Tomemos, por exemplo, uma comunidade remanescente de quilombo no Estado de São Paulo, citada na obra de Mantovani (2015). Nessa comunidade não há refe- rências quanto ao seu surgimento e à participação social de pessoas com limitações físicas ou mentais. No entanto, a pesquisa de Mantovani (2015) indica que há número maior de deficientes mentais. Na comunidade há pouca infraestrutura e recursos de acessibilidade, mas aqueles que podem trabalhar, de acordo com as suas condições, fazem-no para integrar-se à sociedade. Aqueles que têm limitações severas são manti- dos pelo grupo e pelo Estado, com os benefícios de prestação continuada. Nessa cul- tura, o trabalho é visto como uma realização pessoal – e não apenas como meio de sustento – e o deficiente como alguém que precisa se realizar enquanto ser humano. Figura 4 – Quilombo da Tapera, em Petrópolis, RJ Fonte: Tribuna de Petrópolis | Bruno Avellar As religiões de matriz africana, representadas pelo candomblé e pela umbanda, trazem também uma concepção mais piedosa de deficiência, ou próxima do que se pode considerar inclusiva. No candomblé, culto surgido na Bahia em meados do século XIX, pode-se afirmar que existe um repúdio às velhas formas de tratar o de- ficiente e as crianças nascidas com deficiência por meio do extermínio, expurgando o passado de morte e perseguição aos deficientes e às suas famílias. Ebomi ([20--]), conta que no reinado de Dahomey (1685-1708), no reino africano de Daomé (1600-1904), atual Benin, o orixá Tohossou Vodum, que após feitos heroicos, foi nomeado como o protetor de deficientes físicos e mentais, propondo mudança de mentalidade em relação às pessoas com limitações. Essa transformação cultural operou-se de tal maneira que as famílias de Benin e Togo que têm crianças nascidas com deficiência constroem um altar em devoção a Tohossou Vodum. Da mesma forma fazem aqueles que adquirem deficiências ao longo da vida. A umbanda não repudia e tem explicações para as deficiências. Kain ([20--]), esclarece que nesse segmento religioso as deficiências são vistas como situações de resgate de dívidas com o passado. Dívidas que podem ter se originado em outras encarnações. As limitações no corpo ou na mente são purgações e servem como oportunidade de aprendizagem e aprimoramento espiritual, uma vez que os corpos têm limites, já os espíritos não. Acreditam ser possível que a Umbanda os ajude. Os deficientes, dependendo da limitação, podem também servir à umbanda. 15 UNIDADE As Culturas Africana, Afro-Brasileira e Indígena e a Pessoa com Deficiência Os indígenas e a Relação com a Deficiência Os índios foram os primeiros habitantes das terras que hoje chamamos brasi- leiras. À época do Descobrimento, em 1500, havia aproximadamente 5 milhões de nativos. Na atualidade, essa população sofreu grande queda, de modo que são 817.963 habitantes, segundo dados do censo de 2010, distribuídos por 305 tribos, que falam 274 línguas diferentes, tal como demonstra o quadro a seguir, com algu- mas etnias e as suas respectivas populações. Figura 5 – Ritual de dança da tribo Dessana, na Amazônia Fonte: picbear.org Veja algumas etnias e as suas populações, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): Tabela 1 – Etnias e suas populações Nome da etnia População Tikúna 46.045 Guarani Kaiowá 43.401 Kaingang 37.470 Macuxí 28.912 Terena 28.845 Tenetehara 24.428 Yanomámi 21.982 Potiguara 20.554 Xavante 19.259 Pataxó 13.588 Fonte: Mundo educação 16 17 Ainda que tenha havido considerável diminuição de seu contingente populacio- nal, é grande a influência sobre a cultura brasileira. Para entender como essas tribos concebem as deficiências em suas culturas, é necessário compreender como se dá a divisão do trabalho nessas sociedades. Devido à existência de várias e numerosas tribos, não se pode generalizar, mas na maioria, desde o período colonial, a divisão de tarefas dependia do sexo e da idade. Conforme Cabral ([20--]), as tarefas dos homens estavam fora dos domínios da aldeia. Aos quais cabia a responsabilidade de guerrear, caçar, derrubar o mato para a criação da roça, estabelecer relações com outras aldeias, entre aquelas que exi- giam vigor físico. Já as mulheres eram as responsáveis pelo cuidado com o interior da aldeia, pela preparação dos alimentos, confecção de artefatos, atividades na roça e cuidado com as crianças e outras atividades internas na aldeia. Havia também atividades comuns a homens e mulheres, tais como a confecção de redes, bancos, casas, ferramentas, canoas, artefatos de cerâmica, arcos, flechas, entre outros, to- dos com o objetivo de colaborar para servir a comunidade. O comando da aldeia era feito pelos anciões, que tomavam importantes decisões em relação ao grupo, visto que eram sociedades em que o idoso estava no topo da hierarquia. Em contrapartida, as crianças aprendiam as tarefas da aldeia no conví- vio com os adultos, sendo comum ver meninos e meninas acompanharem os seus pais e as suas mães nos afazeres cotidianos, aprendendo a desempenhar os papéis exigidos pela sua sociedade. Na organização social indígena também se encontra a religiosidade, que se ma- nifestava de formas diversas nas diferentes tribos, no entanto, possuíam elementos comuns. Entre esses elementos estava o fato de todas as tribos acreditarem nas forças da natureza enquanto manifestações divinas e nos espíritos de antepassados,para os quais faziam festas, rituais e cerimônias. Nas tribos, a figura do pajé – que é um sábio que atua como adivinho, curandeiro e sacerdote – caracteriza-se por ser um intermediário nas relações com as forças da natureza consideradas sagradas. O pajé tem a função de transmitir os conhecimentos espirituais a tribo. As informações anteriores nos dão noção de como funcionam as sociedades indígenas. Analisemos, agora, a seguinte manchete (2014): “Tradição indígena faz pais tirarem a vida de crianças com deficiência física: a prática acontece em pelos menos 13 etnias indígenas do Brasil. Uma tradição comum antes mesmo de o ho- mem branco chegar ao País”. Foi retirada da chamada de um programa de televisão e depois transformada em texto no sítio eletrônico da mesma rede televisiva. Sobre o assunto, constatou-se que (REDE GLOBO DE TELEVISÃO, [20--]): Crianças com deficiência física, gêmeos, filho de mãe solteira ou fruto de adultério podem ser vistos como amaldiçoados dependendo da tribo e acabam sendo envenenadas, enterradas ou abandonadas na selva. Uma tradição comum antes mesmo de o homem branco chegar por lá, mas que fica geralmente escondida no meio da floresta. Essa citação nos indica que havia categorias que não eram aceitas nas tribos por razões que a religiosidade ou a praticidade explicavam. Acredita-se, por exemplo, 17 UNIDADE As Culturas Africana, Afro-Brasileira e Indígena e a Pessoa com Deficiência que gêmeos trazem mau agouro, pois na mitologia tupi os gêmeos mitológicos foram responsáveis por uma série de ações envolvendo possibilidades de fim do mundo como o conhecem (VEJA, [20--]). Na mitologia, um dos gêmeos foi respon- sável pelo cataclismo universal que alagou o mundo. Coincidência ou não, a usina hidrelétrica de Belo Monte, no Município de Altamira, PA, foi construída bem pró- xima às terras indígenas, podendo ser comparada a um cataclismo. Nas comunidades Munduruku localizadas no Pará, Amazonas e Mato Grosso, durante o perí- odo da gestação, enquanto as mulheres engordam e trabalham normalmente, é comum que alguns homens sofram o “abalo de criança”, que causa fraqueza, abatimento, prostração, perda de peso, enjoo e desejo. Isso porque creem que o bebê “puxa” as energias do pai, que é encorajado por todos a não se deixar entregar, mas faz com que muitos passem dias deitados nas redes (FANZIN, 2019). Ex pl or Crianças frutos de estupros ou adultérios também são consideradas amaldiço- adas. Contudo, o infanticídio não é prática geral, ocorrendo principalmente nas tribos mais isoladas como os suruwahas, ianomâmis, kamaiurás, uaiuai, bororo, mehinaco, tapirapé, ticuna, amondaua, urueu-uauuau, deni, jarawara, jaminawa, waurá, kuikuro, parintintin, paracanã e kajabi (PORTELA, 2016, p. 18). Figura 6 Fonte: Maria Ribeiro. Revista Trip Para a mulher indígena, o parto é um episódio absolutamente solitário. No mo- mento de dar à luz, encaminha-se sozinha para a mata, onde tem a criança e 18 19 após o parto, examina-a para verificar se a mesma é perfeita. Se houver alguma deficiência, a mãe retorna sozinha para a aldeia, tendo eliminado o recém-nascido de diferentes maneiras. A cada ano, centenas de crianças indígenas são enterradas vivas, sufocadas com folhas, envenenadas ou abandonadas para morrer na floresta (PORTELA, 2016, p. 18). Quando isso ocorre a mãe sequer amamenta a criança, pois amamentá-la é dar-lhe vida e crédito para que permaneça naquela sociedade. Explica-se a eliminação da criança deficiente por amor ou o que chamamos de praticidade. Mata-se por amor porque a criança não teria condições de sobreviver com as exigências físicas da vida na aldeia, sendo um ato de amor poupá-la das dificuldades a serem enfrentadas, como se explica em depoimento dado a uma rede televisiva (REDE GLOBO, 2014): “Era um ato de amor. Amor e desespero. Porque você não quer que um filho seu continue sofrendo. Você quer que ele sobreviva, mas não há como”. A praticidade está justamente em pensar na rotina e nos poucos recursos da floresta; assim, como carregar crianças que não podem andar em uma sociedade sem carros ou, ao menos, cadeiras de rodas? Outro depoimento exemplifica as dificuldades de sobrevivência para a pessoa com deficiência física e a sua família (REDE GLOBO, 2014): “E aí um dia minha mãe cansou de me carregar e deu para o meu pai. Quando foi na hora de atravessar o rio, meu pai começou a ameaçar que eu não servia para nada, que eu merecia ser morto. A minha mãe escutou isso e gritou que não era para ele fazer isso comigo”, conta Pituko. Essas crianças não teriam condições de sobreviver ou viveriam como estorvos para o grupo. E ainda há o agravante de serem consideradas amaldiçoadas. Mães dedicadas são muitas vezes forçadas pela tradição cultural a desistir de suas crianças. Algumas preferem o suicídio a praticar esse ato, uma vez que a sociedade indígena as pressiona caso a criança deficiente não seja eliminada. O contato com a cultura do homem branco fez com que as crenças indígenas fossem questionadas, gerando conflitos para os pais dessas crianças. Isso ocorre por terem contato com culturas que lidam com a deficiência de outras maneiras menos drásticas, sendo, inclusive, questionados pela própria legislação atual, que criminaliza o infanticídio. O primeiro capítulo do Estatuto da Criança e Adolescente (ECA) é dedicado ao direito à vida da criança (BRASIL, 1990): Art. 7º. A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nas- cimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência. Assim, o século XXI traz, para as comunidades indígenas, um choque entre as suas tradições – que não determinam um lugar para a pessoa com deficiência nas suas comunidades – e os costumes e as legislações vigentes na sociedade brasileira. 19 UNIDADE As Culturas Africana, Afro-Brasileira e Indígena e a Pessoa com Deficiência Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livros Sinhá Moça FERNANDES, M. Sinhá Moça. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1986. Vídeos Indígenas, a luta dos povos esquecidos: caminhos da reportagem https://youtu.be/iOSUYeCD4tw Leitura A Educação Especial em áreas remanescentes de quilombos: a realidade mostrada por indicadores educacionais MANTOVANI, J.; GONÇALVES, T. A Educação Especial em áreas remanescentes de quilombos: a realidade mostrada por indicadores educacionais. Revista Educação e emancipação, v. 10, n. 2, maio/ago. 2017. http://bit.ly/2MjHfqw Tradição indígena faz pais tirarem a vida de crianças com deficiência REDE GLOBO DE TELEVISÃO. Tradição indígena faz pais tirarem a vida de crianças com deficiência. Programa Fantástico. Rio de Janeiro, 7 dez. 2014. https://glo.bo/2qbYTnz Países africanos afirmam direitos das pessoas com deficiência em novo protocolo SOARES, A. Países africanos afirmam direitos das pessoas com deficiência em novo protocolo. ONU News, Nova Iorque, 16 fev. 2018. http://bit.ly/2ozQiLi 20 21 Referências ANDRADE, A. Diáspora africana. [20--]. Disponível em: <https://www.geledes. org.br/diaspora-africana>. Acesso em: 8 jul. 2019. ANGOLA: censo registra mais de 600.000 pessoas com deficiência no país. Agên- cia Angola Express, Luanda, 9 maio 2016. 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