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EPIDEMIOLOGIA-CLÍNICA

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2 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 3 
2 Marcos teóricos da Epidemiologia .............................................................. 4 
3 História Natural e Prevenção das Doenças .............................................. 13 
3.1 Período de pré-patogênese ................................................................ 15 
4 Processo Saúde-Doença .......................................................................... 26 
5 Análise exploratória de dados epidemiológicos ........................................ 30 
5.1 Estudos Ecológicos ............................................................................ 33 
5.2 Estatística Espacial ............................................................................ 35 
6 Medidas de frequência em Saúde Coletiva............................................... 38 
7 Inferência em epidemiologia ..................................................................... 43 
8 Vigilância Epidemiológica ......................................................................... 46 
9 O Processo Endêmico .............................................................................. 56 
10 Integração saúde populacional e políticas públicas ............................... 59 
10.1 Sistema de saúde integrado para atender a população .................. 63 
10.2 Sistema de atendimento único e igual de saúde ............................. 65 
10.3 Direito do cidadão e dever do Estado ............................................. 67 
11 REFERÊNCIAS ..................................................................................... 69 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
1 INTRODUÇÃO 
Prezado aluno! 
 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante 
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um 
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma 
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é 
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a 
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas 
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em 
tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que 
lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
 
 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
2 MARCOS TEÓRICOS DA EPIDEMIOLOGIA 
 
 Fonte: centroredes.org.ar 
Epidemiologia pode ser definida como a ciência que estuda o processo saúde 
doença em coletividades humanas, analisando a distribuição e os fatores 
determinantes das enfermidades, danos à saúde e eventos associados à saúde 
coletiva, propondo medidas específicas de prevenção, controle ou erradicação de 
doenças e fornecendo indicadores que sirvam de suporte ao planejamento, 
administração e avaliação das ações de saúde (ROUQUAYROL; GOLDBAUM; 
SANTANA, 2013). 
Portanto, de forma simplificada, o termo “epidemiologia” significa o estudo 
sobre a população, que direcionado para o campo da saúde pode ser compreendido 
como o estudo sobre o que afeta a população. A epidemiologia congrega métodos e 
técnicas de três áreas principais de conhecimento: estatística, ciências biológicas e 
ciências sociais. A área de atuação da epidemiologia é bastante ampla e compreende 
em linhas gerais (PEREIRA, 2013): 
 O ensino e pesquisa em saúde; 
 A descrição das condições de saúde da população; 
 A investigação dos fatores determinantes da situação de saúde; 
 A avaliação do impacto das ações para alterar a situação de saúde. 
 
 
5 
 
A epidemiologia tem como princípio básico o entendimento de que os eventos 
relacionados à saúde (como doenças, seus determinantes e o uso de serviços de 
saúde) não se distribuem ao acaso entre as pessoas. Há grupos populacionais que 
apresentam mais casos de certo agravo, e há outros que morrem mais por 
determinada doença. Tais diferenças ocorrem porque os fatores que influenciam o 
estado de saúde das pessoas não se distribuem igualmente na população, portanto, 
acometem mais alguns grupos do que outros (PEREIRA, 2013). 
 Em síntese, pode-se afirmar que a distribuição das doenças na população é 
influenciada pelos aspectos biológicos dos indivíduos, pelos aspectos socioculturais e 
econômicos de sua comunidade e pelos aspectos ambientais do seu entorno, fazendo 
com que o processo saúde-doença se manifeste de forma diferenciada entre as 
populações. Analisando-se a evolução da epidemiologia ao longo dos anos, pode-se 
observar que os conceitos descritos acima, e que já estão tão bem consolidados 
dentro do campo científico, precisaram ser reformulados à medida que as descobertas 
científicas avançavam no campo da saúde, principalmente no que se refere ao 
processo saúde-doença (GOMES, 2015). 
Os primeiros registros sobre a concepção da epidemiologia enquanto 
manifestação da doença nos indivíduos e nas populações datam da Grécia Antiga, 
período em que se acreditava que as enfermidades e seus desfechos (cura ou morte) 
eram consequências da punição ou indulgência dos deuses e demônios. 
Contrapondo-se a tal crença, o médico grego Hipócrates, ao analisar o processo de 
adoecimento com base no pensamento racional, afastou-se das teorias sobrenaturais 
vigentes na época e a elas se contrapôs, introduzindo o conceito de doença como 
produto das relações complexas entre o indivíduo e o ambiente que o cerca, o que se 
aproxima muito do modelo ecológico da produção de doenças, vigente até os dias 
atuais (PEREIRA, 2013). 
A teoria de Hipócrates foi perpetuada na Roma Antiga pelo médico Galeno, 
mas perdeu força e foi substituída pela Teoria Miasmática ou Teoria dos Miasmas, 
que perdurou até meados do século XIX. Tal teoria explicava a má qualidade do ar 
como causa das doenças. Durante a segunda metade do século XIX, a epidemiologia 
sofreu uma grande revolução a partir dos estudos pioneiros do médico e sanitarista 
britânico John Snow sobre a epidemia de cólera em Londres (1849-1854) (PEREIRA, 
2013). 
 
6 
 
Com base no mapeamento dos casos, óbitos, do comportamento da 
população (consumo de água) e dos aspectos ambientais da localidade em 
estudo, ele conseguiu incriminar o consumo de água contaminada como 
responsável pela ocorrência da doença. Tal constatação só pode ser 
confirmada 30 anos mais tarde, com o isolamento do agente etiológico da 
doença (SNOW, 1999. Apud PEREIRA, 2013). 
Tal feito rendeu a John Snow o título de “Pai da Epidemiologia”, uma vez que 
conseguiu através de um extensivo e minucioso trabalho de investigação científica – 
considerado um estudo clássico da Epidemiologia de Campo, determinar a fonte de 
infecção de uma doença, mesmo sem conhecer seu agente etiológico. Ao final, relatou 
que as feições clínicas da doença revelavam que “o veneno da cólera entra no canal 
alimentar pela boca, e esse veneno seria um ser vivo, específico, oriundo das 
excreções de um paciente com cólera. [...] Assinalou, afinal, que o esgotamento 
insuficiente permitia que os perigosos refugos dos pacientes com cólera se 
infiltrassem no solo e poluíssem poços” (PEREIRA, 2013). 
 
 
Fonte: enlinea.santotomas.com 
 
Outro cientista marcante do século XIX foi o francês Louis Pasteur (1822-1895), 
considerado o “Pai da Bacteriologia”, pois identificou inúmeras bactérias e tratou 
diversas doenças. Ele influenciou profundamente a história da epidemiologia, pois 
introduziu as bases biológicas para o estudo das doençasinfecciosas (PEREIRA, 
2013), determinando o agente etiológico das doenças e possibilitando o 
estabelecimento futuro de medidas de prevenção e tratamento. 
Sem sombra de dúvidas os séculos XIX e XX foram marcados pela influência 
da microbiologia sobre a epidemiologia, uma vez que permitiu não apenas identificar 
 
7 
 
os principais agentes etiológicos envolvidos na transmissão de doenças 
infectocontagiosas responsáveis por altas taxas de morbimortalidade (tuberculose, 
influenza, varíola, peste, entre outras), mas também possibilitar o desenvolvimento de 
medidas de prevenção e tratamento dessas enfermidades (GOMES, 2015). 
Nesse período, a epidemiologia ganhou destaque científico e acadêmico, com 
a construção de inúmeros institutos de pesquisa no Brasil e no mundo (Fundação 
Oswaldo Cruz, Instituto Pauster, London School of Hygiene & Tropical Medicine, etc.) 
e a ampliação da sua área de atuação, que culminou na subdivisão desta ciência, 
como é o caso da Epidemiologia Nutricional, que, segundo Pereira (2013), elucidou 
as causas de algumas doenças tidas como infecciosas, mas que, na realidade, eram 
de natureza nutricional. Alguns exemplos desses achados são: prevenção do 
escorbuto (doença causada pela deficiência severa de vitamina C), do beribéri 
(deficiência de tiamina – vitamina B1) e da pelagra (deficiência de niacina) (GOMES, 
2015). 
Por fim, pode-se afirmar que, do final do século XX até os dias atuais, a 
epidemiologia se firmou enquanto ciência, baseada em pesquisas e evidências 
científicas que visam à determinação das condições de saúde da população e à busca 
sistemática dos agentes etiológicos das doenças ou dos fatores de risco envolvidos 
no seu aparecimento, através de diferentes tipos de estudos (ex.: estudos de coorte, 
caso-controle) e da avaliação de intervenções em saúde para o efetivo controle das 
doenças que acometem a população. Como observado no tópico anterior, a 
epidemiologia tornou-se ao longo dos anos uma ciência ampla que abriga inúmeras 
áreas do conhecimento e muitas subdivisões, tais como (PEREIRA, 2013): 
No entanto, em linhas gerais, ela apresenta três grandes áreas de atuação 
(PEREIRA, 2013): 
 Epidemiologia clínica; 
 Epidemiologia investigativa; 
 Epidemiologia nutricional; 
 Epidemiologia de campo; 
 Epidemiologia descritiva; etc. 
A partir das primeiras décadas, com a melhoria do nível de vida, especialmente 
nos países desenvolvidos, e com o conseqüente declínio na incidência das doenças 
infecciosas, outras enfermidades de caráter não-transmissível (doenças 
 
8 
 
cardiovasculares, câncer e outras) passaram a ser incluídas como objeto de estudos 
epidemiológicos, além do que, pesquisas mais recentes, sobretudo as que utilizam o 
método de estratificação social, enriqueceram esse campo da ciência, ensejando 
novos debates. Atualmente, além de dispor de instrumental específico para análise do 
perfil de saúde-doença na população, a epidemiologia possibilita aclarar questões 
levantadas pelas rotinas das ações de saúde, gerando novos conhecimentos. Seu fim 
último é contribuir para a melhoria da qualidade de vida e o soerguimento do nível de 
saúde das coletividades humanas (ROUQUAYROL, 2003). 
Uma definição precisa do termo epidemiologia não é fácil: sua temática é 
dinâmica e seu objeto, complexo. Pode-se, de uma maneira simplificada, conceituá-
la como: ciência que estuda o processo saúde-doença em coletividades humanas, 
analisando a distribuição e os fatores determinantes das enfermidades, danos à saúde 
e eventos associados à saúde coletiva, propondo medidas específicas de prevenção, 
controle, ou erradicação de doenças, e fornecendo indicadores que sirvam de suporte 
ao planejamento, administração e avaliação das ações de saúde (ROUQUAYROL, 
2003). 
 
 
 Fonte: fcsanahuac.com 
 
Esta definição pode ser aclarada pelo aprofundamento de algumas concepções 
nela expressas (ROUQUAYROL, 2003): 
 A priori, independentemente de qualquer análise, pode ser dito que a 
atenção da epidemiologia está voltada para as ocorrências, em escala 
massiva de doença e de não-doença envolvendo pessoas agregadas 
 
9 
 
em sociedades, coletividades, comunidades, grupos demográficos, 
classes sociais ou quaisquer outros coletivos formados por seres 
humanos; 
 O universo dos estados particulares de ausência de saúde é estudado 
pela epidemiologia sob a forma de doenças infecciosas (sarampo, 
difteria, malária etc.), não-infecciosas (diabetes, bócio endêmico, 
depressões etc.) e agravos à integridade física (acidentes, homicídios, 
suicídios); 
 Considerando o conjunto de processos sociais interativos que, erigidos 
em sistema, definem a dinâmica dos agregados sociais, um em especial 
constitui o campo sobre o qual trabalha a epidemiologia: é o processo 
saúde-doença. Segundo Laurel (1983), o processo saúde-doença da 
coletividade pode ser entendido como “o modo específico pelo qual 
ocorre, nos grupos, o processo biológico de desgaste e reprodução, 
destacando como momentos particulares à presença de um 
funcionamento biológico diferente, com consequências para o 
desenvolvimento regular das atividades cotidianas, isto é, o surgimento 
da doença” (GOMES, 2015). 
Colocada neste contexto, a expressão saúde-doença é um qualificativo 
empregado para adjetivar genericamente um determinado processo social, qual seja 
o modo específico de passar de um estado de saúde para um estado de doença e o 
modo recíproco, descontextualizada, a expressão saúde-doença refere-se a uma 
ampla gama que vai desde “o estado de completo bem-estar físico, mental e social” 
até o de doença, passando pela coexistência de ambos em proporções diversas. A 
ausência gradativa ou completa de um destes estados corresponde ao espaço do 
outro e vice-versa (GOMES, 2015); 
 Entende-se por distribuição o estudo da variabilidade da frequência das 
doenças de ocorrência em massa, em função de variáveis ambientais e 
populacionais, ligadas ao tempo e ao espaço. 
 A análise dos fatores determinantes envolve a aplicação do método 
epidemiológico ao estudo de possíveis associações entre um ou mais 
fatores suspeitos e um estado característico de ausência de saúde, 
definido como doença; 
 
10 
 
 A prevenção visa empregar medidas de profilaxia a fim de impedir que 
os indivíduos sadios venham a adquirir a doença; o controle visa baixar 
a incidência a níveis mínimos: a erradicação, após implantadas as 
medidas de prevenção consiste na não-ocorrência de doença, mesmo 
em ausência de quaisquer medidas de controle; isto significa 
permanência da incidência zero (a varíola está erradicada desde 1977) 
(ROUQUAYROL, 2003). 
 A Associação Internacional de Epidemiologia (IEA), em seu “Guia de Métodos 
de Ensino” (1973), define epidemiologia como “o estudo dos fatores que determinam 
a frequência e a distribuição das doenças nas coletividades humanas. Enquanto a 
clínica dedica-se ao estudo da doença no indivíduo, analisando caso a caso, a 
epidemiologia debruça-se sobre os problemas de saúde em grupos de pessoas – às 
vezes pequenos grupos – na maioria das vezes envolvendo populações numerosas” 
(ROUQUAYROL, 2003). 
 Descrever a distribuição e a magnitude dos problemas de saúde nas 
populações humanas; 
 Proporcionar dados essenciais para o planejamento, execução e 
avaliação das ações de prevenção, controle e tratamento das doenças, 
bem como para estabelecer prioridades; 
 Identificar fatores etiológicos na gênese das enfermidades. 
 
 
 Fonte: congresos.formacionalcala.es 
 
 
11 
 
Muitas doenças, cujas origens até bem recentemente não encontravam 
explicação, têm tido suas causas esclarecidas pela metodologia epidemiológica, que 
tem por base o método científico aplicado da maneira mais abrangente possível a 
problemas de doençasocorrentes em nível coletivo. Hiroshi Nakajima, diretor da 
Organização Mundial de Saúde, por ocasião da 12ª Reunião Científica Internacional 
da Associação Internacional da Epidemiologia (1990), analisando o alcance da 
epidemiologia e concentrando seus comentários sobre a epidemiologia na AIDS, 
comenta que: “O descobrimento desta enfermidade devemo-lo a epidemiologia! A 
AIDS foi reconhecida pela primeira vez como uma enfermidade em 1981, antes que o 
vírus da imunodeficiência humana, dois anos mais tarde, fosse identificado, ou que se 
suspeitasse que era o agente causador da AIDS (ROUQUAYROL, 2003). 
A observação epidemiológica anotou a prevalência de uma combinação curiosa 
e inexplicável de manifestações clínicas de outros estados patológicos: astenia, perda 
de peso, dermatose, deterioração do sistema imunológico e o sarcoma de Kaposi, 
assim como a presença de “infecções oportunistas”, como a pneumonia por 
Pneumocystis carinii. Ainda hoje em dia, é este complexo de sinais clínicos, em 
combinação com o resultado positivo da prova de HIV, o que define um “caso de AIDS” 
(ROUQUAYROL, 2003). 
 Pode ser o HIV positivo e, ainda assim, não ser portador da AIDS. Ademais, 
foi através da análise epidemiológica que inicialmente a síndrome foi relacionada com 
certos grupos de população e comportamentos de risco conexos. Se enfocamos a 
AIDS como uma epidemia mundial, ela se nos apresenta como algo novo e súbito; 
porém se o nosso ponto de vista é a AIDS como doença, e o vírus como sua causa, 
concluímos que nenhum dos dois são novos; pelo menos datam dos anos 50. Fizeram 
falta as ferramentas de epidemiologia para nos dizer que enfrentávamos uma 
patologia discreta e letal” (ROUQUAYROL, 2003). 
Através da epidemiologia, Gregg, na Austrália, em 1941, descobriu a 
associação existente entre malformações congênitas e rubéola adquirida pela mãe 
durante os primeiros meses de gestação. Leucemia na infância, provocada pela 
exposição aos raios X durante a gestação; trombose venosa relacionada ao uso de 
contraceptivos orais; ingestão de talidomida e o aparecimento de numerosos casos 
de focomelia; hábito de fumar e câncer de pulmão; cegueira em crianças nordestinas 
subnutridas e sua relação com a avitaminose A; mortalidade infantil e classes sociais; 
 
12 
 
são alguns dentre os inúmeros exemplos de associações estudadas pelo método 
epidemiológico (ROUQUAYROL, 2003). 
A epidemiologia é o eixo da saúde pública. Proporciona as bases para 
avaliação das medidas de profilaxia, fornece pistas para diagnose de doenças 
transmissíveis e não transmissíveis e enseja a verificação da consistência de 
hipóteses de causalidade. Além disso, estuda a distribuição da morbidade a fim de 
traçar o perfil de saúde-doença nas coletividades humanas; realiza testes de eficácia 
e de inocuidade de vacinas desenvolve a vigilância epidemiológica; analisa os fatores 
ambientais e socioeconômicos que possam ter alguma influência na eclosão de 
doenças e nas condições de saúde; constitui um dos elos de ligação 
comunidade/governo, estimulando a prática da cidadania através do controle, pela 
sociedade, dos serviços de saúde (ROUQUAYROL, 2003). 
Ainda, segundo Nakajima (1990): “A epidemiologia não se limita a avaliar a 
situação sanitária e socioeconômica existente (ou passada). Se aceitarmos o critério 
mais amplo do prof. Cruiskshank, teremos que insistir na necessidade de avaliação 
das tendências futuras, isto é, uma epidemiologia prospectiva”. A pergunta é: o que 
nos dizem as tendências atuais sobre a provável situação futura para a qual teremos 
que fazer planos e tomar (ou não tomar) medidas corretivas? Qual será o provável 
resultado amanhã? Por conseguinte, estamos presenciando o surgimento de uma 
nova dimensão na ciência da epidemiologia, que será muito importante para o 
planejamento, a dotação dos recursos, o manejo e a avaliação da saúde, e que 
poderia afetar o curso futuro da história humana” (ROUQUAYROL, 2003). 
Autores norte-americanos, europeus e latino-americanos, entre os quais se 
destacam Mac Mahon (1975), Leavel & Clark (1976), Barker (1976), Lilienfeld (1976), 
Forattini (1976), Belda (1976), Mausner & Bahn (1977), Rojas (1978), Colimon (1978), 
Jenicek & Cleroux (1982), definem epidemiologia de modo bastante semelhante, 
tendo como ponto comum “o estudo da distribuição das doenças nas coletividades 
humanas e dos fatores causais responsáveis por essa distribuição”. 
Por outro lado, mostrando ser a epidemiologia uma ciência viva, em fase de 
crescimento e transformação, rica internamente em diversidades criativas, 
alguns autores têm se dedicado à sua crítica sob o ponto de vista 
epistemológico, buscando estabelecer fundamentos e analisar conceitos 
básicos (Gonçalves, 1990. Apud Ayres, 1992). 
 
13 
 
3 HISTÓRIA NATURAL E PREVENÇÃO DAS DOENÇAS 
 
 Fonte: invdes.com.mx 
 
Entre as décadas de 1950-70, nasce uma perspectiva da Saúde Coletiva em 
âmbito mundial. Diante da nova ordem do pós-II Guerra – mais precisamente no 
contexto da criação política supranacional da Organização das Nações Unidas (ONU) 
e da Organização Mundial da Saúde (OMS) – o conceito de saúde ganha nova 
configuração: “saúde é o estado de completo bem-estar físico, mental e social e não 
mera ausência de moléstia ou enfermidade” (WHO, 1948). De modo geral, podemos 
afirmar que o modelo explicativo multicausal delineado por Leavell e Clark privilegia o 
entendimento da saúde como um processo, por meio do conhecimento acumulado do 
campo científico PUTTINI, JUNIOR, OLIVEIRA, 2010). 
Nessa lógica causal, o restabelecimento da normalidade está fundamentado na 
visão positiva da saúde, que é valorizada pela noção de prevenção sobre as doenças. 
Ou seja, procedimentos e ações promotoras de saúde e de prevenção de doenças, 
aplicadas tanto ao indivíduo quanto à coletividade de pessoas acometidas ou não por 
doenças (transmissíveis ou não-transmissíveis), encontram eco no âmbito do 
conhecimento da saúde humana PUTTINI, JUNIOR, OLIVEIRA, 2010). 
"Sob o ponto de vista do bem público, uma das implicações práticas da 
epidemiologia é que o estudo das influências externas torna a prevenção possível, 
mesmo quando a patogênese da doença concernente não é ainda compreendida. 
Mas isto não quer dizer que a epidemiologia seja, de alguma maneira, oposta ao 
 
14 
 
estudo de mecanismos ou, reciprocamente, que o conhecimento do mecanismo não 
seja as vezes crucial para a prevenção”. (ACHESON, 1979). O autor, embora sem se 
referir explicitamente, opina que a prevenção se faz com base no conhecimento da 
história natural da doença (ROUQUAYROL, 2003). 
 História natural da doença é o nome dado ao conjunto de processos 
interativos compreendendo “as inter-relações do agente, do suscetível e do 
meio ambiente que afetam o processo global e seu desenvolvimento, desde 
as primeiras forças que criam o estímulo patológico no meio ambiente, ou em 
qualquer outro lugar, passando pela resposta do homem ao estímulo, até às 
alterações que levam a um defeito, invalidez, recuperação ou morte”. 
(LEAVELL, CLARK, 1976. Apud ROUQUAYROL, 2003). 
A história natural da doença, portando, tem desenvolvimento em dois períodos 
sequenciados: o período epidemiológico e o período patológico. No primeiro, o 
interesse é dirigido para as relações suscetível-ambiente, no segundo, interessam as 
modificações que se passam no organismo vivo. Abrange, portanto, dois domínios 
interagentes, consecutivos e mutuamente exclusivos, que se completam: o meio 
ambiente, onde ocorrem as pré-condições, e o meio interno, lócus da doença, onde 
se processaria, de forma progressiva, uma série de modificações bioquímicas, 
fisiológicas e histológicas, próprias de uma determinada enfermidade 
(ROUQUAYROL, 2003). 
 Alguns fatores são limítrofes. Situam-se, de forma indefinida, entre os 
condicionantes pré-patogênicos e as patologiasexplícitas. São anteriores aos 
primeiros transtornos vinculados a uma doença específica, sem se confundir com a 
mesma e, ao mesmo tempo, são intrínsecos ao organismo do suscetível. Em uma 
situação normal, em ausência de estímulos, jamais se exteriorizariam como doenças. 
Em presença destes fatores intrínsecos preexistentes, os estímulos externos 
transformam-se em estímulos patogênicos. Dentre as pré-condições internas, citam-
se os fatores hereditários, congênitos ou adquiridos em consequência de alterações 
orgânicas resultantes de doenças anteriores (ROUQUAYROL, 2003). 
O homem se faz presente em todas estas etapas. É gerador das condições 
socioeconômicas favorecedoras das anomalias ecológicas predisponentes a alguns 
dos agentes diretamente responsáveis por doenças. Ao mesmo tempo, é a principal 
vítima do contexto de agressão à saúde por ele favorecido. Na expressão história 
natural da doença, o "natural" não pode e não deve ser entendido como uma 
declaração de fé de ordem filosófica, negando o social e privilegiando o natural. Na 
 
15 
 
verdade, não há como se negar que, na história da doença, o social e o natural têm, 
cada qual, sua hora e sua vez (ROUQUAYROL, 2003). 
Ao tratar a história natural de uma doença em particular como sendo uma 
descrição de sua evolução, desde os seus primórdios no ambiente biopsicossocial até 
seu surgimento no suscetível e conseqüente desenvolvimento no doente, deve-se ter 
um esquema básico, de caráter geral, onde ancorar as descrições específicas. Este 
esquema geral, arbitrário, é apenas uma aproximação da realidade, sem pretensão 
de funcionar como uma descrição da mesma. A história natural das doenças, sob este 
ponto de vista, nada mais é do que um quadro esquemático que dá suporte à 
descrição das múltiplas e diferentes enfermidades. Sua utilidade maior é de apontar 
os diferentes métodos de prevenção e controle, servindo de base para a compreensão 
de situações reais e específicas, tornando operacionais as medidas de prevenção 
(ROUQUAYROL, 2003). 
3.1 Período de pré-patogênese 
O primeiro período da história natural (denominado por Leavell & Clark [1976] 
como período pré-patogênese), é a própria evolução das inter-relações dinâmicas, 
que envolvem, de um lado, os condicionantes sociais e ambientais e, do outro, os 
fatores próprios do suscetível, até que chegue a uma configuração favorável à 
instalação da doença. É também a descrição desta evolução. Envolve, como já foi 
referido antes, as inter-relações entre os agentes etiológicos da doença, o suscetível 
e outros fatores ambientais que estimulam o desenvolvimento da enfermidade e as 
condições sócio-econômico-culturais que permitem a existência desses fatores 
(ROUQUAYROL, 2003). 
 
 
16 
 
 
 Fonte: invdes.com.mx 
 
As pré-condições que condicionam a produção de doença, seja em indivíduos, 
seja em coletividades humanas, estão de tal forma interligadas e, na sua tessitura, 
são tão interdependentes, que seu conjunto forma uma estrutura reconhecida pela 
denominação de estrutura epidemiológica. Por estrutura epidemiológica, que tem 
funcionamento sistêmico, entende-se o conjunto formado pelos fatores vinculados ao 
suscetível e ao ambiente, incluindo aí o agente etiológico conjunto este dotado de uma 
organização interna que define as suas interações e também é responsável pela 
produção da doença (ROUQUAYROL, 2003). 
É, na realidade, um sistema epidemiológico. Cada vez que um dos 
componentes sofrer alguma alteração, está repercutirá, e atingirá os demais, num 
processo em que o sistema busca novo equilíbrio. Um novo equilíbrio trará consigo 
uma maior ou menor incidência de doenças, modificações na variação cíclica e no seu 
caráter, epidêmico ou endêmico (ROUQUAYROL, 2003). 
 San Martin (1981), põe em relevo o sistema formado pelo ambiente, 
população, economia e cultura, designando este conjunto de sistema epidemiológico-
social. Segundo esse autor, qualidade e dinâmica do ambiente socioeconômico, 
modos de produção e relações de produção, tipo de desenvolvimento econômico, 
velocidade de industrialização, desigualdades socioeconômicas, concentração de 
riquezas, participação comunitária, responsabilidade individual e coletiva são 
componentes essenciais e determinantes no processo saúde-doença 
(ROUQUAYROL, 2003). 
 
17 
 
Pode-se entender esse sistema a partir do detalhamento dos fatores que o 
compõe: 
 Fatores sociais 
O estudo em nível pré-patogênico da produção da doença em termos coletivos, 
objetivando o estabelecimento de ações de ordem preventiva, deve considerar a 
doença como fluindo, originalmente, de processos sociais, crescendo através de 
relações ambientais e ecológicas desfavoráveis, atingindo o homem pela ação direta 
de agentes físicos, químicos, biológicos e psicológicos, ao se defrontarem, no 
indivíduo suscetível, com pré-condições genéticas ou somáticas desfavoráveis 
(ROUQUAYROL, 2003). 
Moderadamente, os condicionantes sociais da doença considerada em nível 
coletivo têm sido tratados a partir de dois pontos de vista. Segundo uma forma de ver, 
o componente social na pré-patogênese poderia ser definido como uma categoria 
residual: conjunto de todos os fatores que não podem ser classificados como 
componentes genéticos ou agressores físicos, químicos e biológicos. Os fatores que 
constituem esse componente social podem ser agrupados, didaticamente, com vistas 
a uma melhor compreensão, em quatro tipos gerais cujos limites não se pretende que 
sejam claros ou finamente definidos (ROUQUAYROL, 2003): 
 Fatores socioeconômicos; 
 Fatores sócio-políticos; 
 Fatores socioculturais; 
 Fatores psicossociais. 
Segundo outra forma de ver e graças aos esforços dos novos epidemiologistas, 
vem se firmando uma maneira diferente de trabalhar o social. ”Nesses trabalhos, o 
‘social’ já não é apresentado como uma variável ao lado dos outros ‘fatores causais’ 
da doença, mas, antes, como um campo onde a doença adquire um significado 
específico. O social não é mais expresso sob a forma de um indicador de consumo 
(quantidade de renda, nível de instrução, etc.). Ele aparece agora sob a forma de 
relações sociais de produção responsáveis pela posição de segmentos da população 
na estrutura social” (ROUQUAYROL, 2003). 
 
 
 
18 
 
“Na explicação do processo epidêmico, fica mais clara a limitação teórica que 
representa a utilização do ‘social’ como categoria composta por fatores 
relacionados causalmente com a produção de doenças. A perspectiva de 
pensar o ‘social’ sob a forma mais totalizante – uma estrutura social 
particularizada em conjunturas econômicas, políticas e ideológicas – que 
condiciona uma dada situação de vida de grande parcela da população e um 
agravamento crítico do seu estado de saúde, dá ao estudo do processo 
epidêmico na sua real dimensão enquanto fenômeno coletivo”. (Marsiglia et 
al., 1985. Apud ROUQUAYROL, 2003). 
 
 Fonte: onicyt.cl.com 
 
Um dos aportes da ciência moderna foi ter percebido a complexidade em intuir 
totalidades. Com vistas a ultrapassar a deficiência da compreensão humana em 
captar o todo, a ciência passou a fracionar a realidade circunstante em fatores 
componentes, de limites mais ou menos arbitrários, a analisar a contribuição de cada 
um dos fatores artificialmente isolados, e finalmente, a tentar organizar as conclusões 
parciais e incompletas em um todo coerente (ROUQUAYROL, 2003). 
 Na verdade, este processo de se buscar o conhecimento da realidade 
circunstante é dialético: da percepção de uma realidade parte-se para o conhecimento 
de seus componentes, deste volta-se novamente ao todo, buscando a sua 
compreensão. Esta compreensão da totalidade do real percebido, mesmo que 
precariamente explicado, determina um novo conhecimento das partes e daí uma 
nova compreensão do todo, partese todo formando uma unidade dialética 
(ROUQUAYROL, 2003). 
Fatores socioeconômicos 
Existe uma associação inversa, que não é somente de ordem estatística, entre 
capacidade econômica e probabilidade de adquirir doença. Esta percepção não é 
 
19 
 
recente. Já os trabalhos de Villerme (1840), Virchow (1849) e Chadwick (1842) 
apontam diferenças consideráveis entre grupos sociais em termos de morbidade e 
mortalidade. Os grupos sociais economicamente privilegiados estão menos sujeitos à 
ação dos fatores ambientais que ensejam ou que estimulam a ocorrência de certos 
tipos de doenças cuja incidência é acintosamente elevada nos grupos 
economicamente desprivilegiados. Segundo Renaud (1992), os pobres 
(ROUQUAYROL, 2003): 
 São percebidos como mais doentios e mais velhos; 
 São de duas ou três vezes mais propensos a enfermidades graves; 
 Permanecem doentes mais amiúde; 
 Morrem mais jovens 
 Procriam crianças de baixo peso, em maior proporção: 
 Sua taxa de mortalidade infantil é mais elevada. 
A título de exemplo, pode ser lembrado que a desnutrição, as parasitoses 
intestinais, o nanismo e a incapacidade de se prover estão sempre presentes onde a 
miséria se faz presente. Como já deve ter ficado bem claro, modernamente, na 
epidemiologia, o componente socioeconômico é visto segundo duas óticas 
alternativas. Por um lado, fatores socioeconômicos – perfeitamente definíveis e 
metodologicamente isoláveis - são associados aos diferenciais de morbidade e 
mortalidade (ROUQUAYROL, 2003). 
Sob outro ponto de vista, o conceito de classe social, como uma totalidade ao 
mesmo tempo econômica, jurídico-política e ideológica, é o que procura explicar, de 
forma mais abrangente, o processo saúde-doença como processo biopsicossocial. De 
acordo com o primeiro modo de ver, a intervenção com vistas à prevenção se 
consubstanciaria na remoção de fatores sociais prejudiciais ou na introdução de 
fatores percebidos como ausentes, mas necessários. Na segunda abordagem, a 
intervenção preventiva verdadeiramente eficiente seria realizada com modificação das 
estruturas socioeconômicas, com conseqüente alteração de todos os fatores sociais 
contribuintes, conhecidos e desconhecidos (ROUQUAYROL, 2003). 
Victora et alii (1990), estudando a determinação do socioeconômico no 
processo saúde-doença, assim expressam: “Relativamente à utilização de outras 
variáveis socioeconômicas, o uso da inserção de classe em estudos epidemiológicos 
apresenta vantagens e desvantagens. Sua principal vantagem é o fato de ser 
 
20 
 
explicativa, isto é, de – em larga parte – determinar uma série de variáveis 
intermediárias, como renda, escolaridade, nível de consumo etc., por sua vez 
influenciam o processo saúde-doença (ROUQUAYROL, 2003). 
Este mesmo aspecto é uma de suas desvantagens: sendo um determinante 
distal, cuja ação é mediada por uma série de variáveis que possuem certa autonomia, 
as relações estatísticas entre interseção de classe e o processo saúde-doença podem 
ser algo enfraquecidas” (ROUQUAYROL, 2003). 
 
 
 Fonte: colchesterhealth.com 
 
Fatores sócio-políticos 
Identicamente ao que acontecer com os fatores econômicos, os fatores 
políticos são indissociáveis da totalidade que os condiciona. Se em estudos analíticos 
de pré-patogênese, esses fatores, pela própria natureza do proceder científico, são 
isolados e desta forma analisados, isto jamais poderá ser mais interpretado e 
confundido como se tratasse de uma forma de traduzir a realidade, reconhecendo-a 
como resultante da interação dos fatores que serviram à sua análise. As categorias 
de análise não podem ser confundidas com as categorias de realidade 
(ROUQUAYROL, 2003). 
Sob o nosso ponto de vista, são os seguintes alguns dos fatores políticos que 
devem ser fortemente considerados ao se analisarem as condições de pré-
patogênese ao nível do social (ROUQUAYROL, 2003): 
 Instrumentação jurídico-legal; 
 Decisão política; 
 
21 
 
 Higidez política 
 Participação consentida e valorização da cidadania; 
 Participação comunitária efetivamente exercida; 
 Transparência das ações e acesso à informação. 
 
Fatores socioculturais 
No contexto do social, devem ser citados preconceitos e hábitos culturais, 
crendices, comportamentos e valores, valendo como fatores pré-patogênicos 
contribuintes para a difusão e manutenção de doenças. Vale a pena citar como 
exemplo de padrão externo de comportamento, com características pré-patogênicas 
cuja influência se faz sentir quase que diretamente, o proceder das populações rurais 
em regiões subdesenvolvidas da África e do Brasil, que conservam o hábito de defecar 
na superfície do solo, nas proximidades de mananciais. Este traço cultural foi no 
passado e continua sendo, no presente, um dos fatores contribuintes para a 
disseminação da esquistossomose, cuja endemicidade é alimentada pela 
permanência de uma pobreza cronificada (ROUQUAYROL, 2003). 
Um outro exemplo de padrão externo de comportamento, com influência quase 
que direta na difusão de doença, vem da larga expansão que nas últimas décadas 
tiveram as doenças de transmissão sexual entre os jovens, fenômeno que deve ser 
associado às atuais liberdades e promiscuidade sexuais. A par destes e de uma 
infinidade de outros comportamentos externos pré-patológicos do mesmo jaez, bem 
mais aproximados aos agentes ambientais do que à estrutura social, é mister apontar 
fatores culturais de natureza bem diversa, de cuja ação mais distante e mais 
abrangente, os resultados são menos previsíveis (ROUQUAYROL, 2003). 
São os padrões conceptuais de comportamento, que poderíamos imaginar (só 
imaginar!) Sob a forma de um gigantesco superego cultural, determinando o pensar e 
o fazer coletivos. Como fatores na pré-patogênese estes comportamentos estariam 
mais adequadamente inseridos no sistema de valores internalizados de natureza 
cultural/social/econômica/política do que entre os comportamentos externos ou as 
condutas biossociais inconvenientes (ROUQUAYROL, 2003). 
Quer-se referir à: 
 Passividade diante do poder exercido com incompetência ou má fé; 
 Alienação em relação aos direitos e deveres da cidadania; 
 
22 
 
 Transferência irrestrita, para profissionais da política, da 
responsabilidade pessoal pelo social; 
 Participação passiva como beneficiários do paternalismo de estado ou 
oligárquico; 
 Incapacidade de se organizar para reivindicar. 
 
Esta tem sido a essência de nossa cultura política, bem como a de outros povos 
subdesenvolvidos, reforçada através de nossa história pelos estratos político e 
econômico, em benefício de alguns, com prejuízo para o todo. Têm sido pré-
patogênicos na medida em que a sociedade abrangente se vê frustrada em controlar 
e fiscalizar os investimentos públicos. A Constituição de 1988 gerou possibilidades de 
participação da comunidade na gerência das ações e serviços públicos de saúde. 
Agora, há que se lutar por desenvolver, como padrões de comportamento, atitudes de 
comprometimento e participação (ROUQUAYROL, 2003). 
“O sistema público está doente e sua febre é expressa em números vermelhos 
– apenas 5 de cada 10 cruzeiros gastos pelo governo com saúde, chegam ao paciente 
na forma de algum tipo de assistência. A outra metade de se perde em corrupção ou 
desperdício” (ROUQUAYROL, 2003). 
 
 Fonte: medicina.uchile.cl 
 
Fatores psicossociais 
Dentre os fatores psicossociais aos quais pode ser imputada a característica 
de pré-patogênese, encontram-se: marginalidade, ausência de relações parentais 
 
23 
 
estáveis, desconexão em relação à cultura de origem, falta de apoio no contexto social 
em que se vive, condições de trabalho extenuantes ou estressantes, promiscuidade, 
transtornos econômicos, sociais ou pessoais, falta de cuidados maternos na infância, 
carência afetivade ordem geral, competição desenfreada, agressividade vigente nos 
grandes centros urbanos e desemprego. Estes estímulos têm influência direta sobre 
o psiquismo humano, com consequências somáticas e mentais danosas 
(ROUQUAYROL, 2003). 
Fatores ambientais 
Para efeito de análise estrutural epidemiológica, por ambiente deve ser 
entendido o conjunto de todos os fatores que mantém relações interativas com o 
agente etiológico e o suscetível, incluindo-os, sem se confundir com os mesmos. O 
termo tem maior abrangência do que lhe é dado no campo da ecologia. Além de incluir 
o ambiente físico, que abriga e torna possível a vida autotrófica e o ambiente biológico, 
que abrange todos os seres vivos, inclui também a sociedade evolvente sede das 
interações sociais, políticas, econômicas e culturais (ROUQUAYROL, 2003). 
Agressores ambientais são agentes que, de forma imediata, sem mais 
intermediações, podem pôr-se em contato direto com o suscetível. Quanto à sua 
forma de surgimento ou por sua presença, podem ser inseridos em uma das seguintes 
categorias (ROUQUAYROL, 2003): 
 Agentes presentes no ambiente de forma habitual, em convivência 
natural ou tradicional com o homem; 
 Agentes pouco comuns e que, mercê de situações novas, alterações 
impostas por novos hábitos ou por modificações na maneira de viver, 
por má administração ou manipulação inábil de meios e recursos, por 
importação passam a se fazer presentes de forma perceptível, como 
agentes, em algum evento epidemiológico; 
 Agentes que explodem em situações anormais de grande monta como 
são os macros perturbações ecológicas, os desastres naturais e as 
catástrofes. 
São componentes do ambiente físico: situação geográfica, solo, clima, recursos 
hídricos e topografia, agentes químicos e agentes físicos. Em situações ecológicas 
desfavoráveis, algumas produzidas por fatores naturais, outras produzidas 
artificialmente pela ação do homem, algumas permanentes, outros contingentes, têm 
 
24 
 
desenvolvimento os fatores físicos, químicos e biológicos que, por terem acesso à 
organização interna de seres vivos, podem funcionar, para estes, como agentes 
patogênicos (ROUQUAYROL, 2003). 
Modernamente, o estudo da influência exercida pelos fatores naturais do 
ambiente físico na produção de doenças tornou-se menos importante que o 
conhecimento da ação desenvolvida pelos agentes aí agregados artificialmente. O 
progresso e o desenvolvimento industrial criaram problemas epidemiológicos novos, 
resultantes da poluição ambiental. O ambiente físico que envolve o homem moderno 
condiciona o aparecimento de doenças cuja incidência tornou-se crescente a partir da 
urbanização e da industrialização (ROUQUAYROL, 2003). 
As doenças cardiovasculares, as alterações mentais e o câncer pulmonar estão 
também associados a fatores do ambiente físico. Publicação da Organização Pan-
americana da Saúde (OPS, 1976) menciona que, com a industrialização crescente e 
a modificação dos costumes, há um grande número de substâncias carcinogênicas 
que se ingerem, inalam, absorvem por via cutânea ou que se introduzem no organismo 
como medicamentos ou por acidente (ROUQUAYROL, 2003). 
 
 
 Fonte: fundacionannavazquez.wordpress.com 
 
No estudo de fatores agressivos presentes no ambiente físico e aí colocados 
através de atividade do homem, não deve ser esquecido o uso, às vezes exagerado, 
de pesticidas na proteção dos cultivos. Os alimentos, tanto os vegetais quanto os de 
origem animal, veiculam estas substâncias em concentrações mínimas. Teme-se que 
o seu acúmulo gradual no organismo humano, devido à sua relativa estabilidade, 
 
25 
 
possa trazer sérios danos para a saúde dos consumidores. Outro problema bastante 
sério são os aditivos alimentares, sob forma de sabores artificiais, corantes, 
conservantes e até hormônios sintéticos (ROUQUAYROL, 2003). 
Seus efeitos, a longo prazo, por exposição contínua, ainda são desconhecidos. 
Não seria demais lembrar que o ambiente físico dos locais de trabalho pode, pelos 
fatores presentes, estar associado à produção de doenças. No ambiente humano 
(OPS, 1962), o uso de medicamentos é outro fator importante que pode compor a 
estrutura epidemiológica de doenças não infecciosas. As características normais do 
feto poderão sofrer alterações se uma nova droga passar a ser comercializada sem 
provas suficientes de sua inocuidade. Tal fato aconteceu (ROUQUAYROL, 2003). 
A partir de 1959, observou-se que, repetidas vezes, em vários consultórios 
pediátricos, uma síndrome fora do comum, a focomelia, anteriormente um 
fato raro, passou a ser notificada de modo inusitado: 30 a 70 vezes a mais. 
Em um estudo com 46 mães chegou-se à certeza de que 41 delas havia feito 
uso de talidomida nos primeiros meses de gestação. Estudos em animais 
confirmaram a ação teratogênica da talidomida nos primeiros meses de 
gestação (MELLIN, KATZENSTEIN, 1962. Apud ROUQUAYROL, 2003). 
Fatores genéticos 
Os fatores genéticos provavelmente determinam a maior ou menor 
suscetibilidade das pessoas quanto à aquisição de doenças, embora isto permaneça 
ainda na fronteira de pesquisa genética. O fato é que, em relação à incidência de 
doenças, percebe-se que, quando ocorre uma exposição a um fator patogênico 
externo, alguns dos expostos são acometidos e outros permanecem isentos. 
 
26 
 
4 PROCESSO SAÚDE-DOENÇA 
 
 Fonte: biospectrumasia.com 
 
Muito se tem escrito sobre o Processo Saúde-Doença, no entanto um novo 
instrumento intelectual para a apreensão da saúde e da doença deve levar em conta 
a distinção entre a doença, tal como definida pelo sistema da assistência à saúde – e 
a saúde, tal como percebida pelos indivíduos. Também, deve incluir a dimensão do 
bem-estar, um conceito maior, no qual a contribuição da saúde não é a única e nem 
a mais importante. O sofrimento experimentado pelas pessoas, suas famílias e grupos 
sociais não corresponde necessariamente à concepção de doença que orienta os 
provedores da assistência, como os profissionais da Estratégia Saúde da Família 
(VIANNA, 2011). 
Por outro lado, como alternativa para a superação dos modelos causais 
clássicos, centrados em ações individuais, como os métodos diagnósticos e 
terapêuticos, a vacinação, a educação em saúde, ainda que dirigidos aos 
denominados grupos de risco, haveria que privilegiar a dimensão coletiva do 
fenômeno saúde-doença, por meio de modelos interativos que 
incorporassem ações individuais e coletivas. Uma nova maneira de pensar a 
saúde e a doença deve incluir explicações para os achados universais de que 
a mortalidade e a morbidade obedecem a um gradiente, que atravessa as 
classes socioeconômicas, de modo que menores rendas ou status social 
estão associados a uma pior condição em termos de saúde. Tal evidência 
constitui-se em um indicativo de que os determinantes da saúde estão 
localizados fora do sistema de assistência à saúde (SCHRAIBER, MENDES-
GONÇALVES, 1996. Apud OLIVEIRA, EGRY, 2000). 
Conceito de prevenção 
 
27 
 
O conceito de prevenção é definido como “ação antecipada, baseada no 
conhecimento da história natural a fim de tornar improvável o progresso posterior da 
doença”. A prevenção apresenta-se em três fases. A prevenção primária é a realizada 
no período de pré-patogênese. O conceito de promoção da saúde aparece como um 
dos níveis da prevenção primária, definido como “medidas destinadas a desenvolver 
uma saúde ótima”. Um segundo nível da prevenção primária seria a proteção 
específica “contra agentes patológicos ou pelo estabelecimento de barreiras contra os 
agentes do meio ambiente” (VIANNA, 2011). 
A fase da prevenção secundária também se apresenta em dois níveis: o 
primeiro, diagnóstico e tratamento precoce e o segundo, limitação da invalidez. Por 
fim, a prevenção terciária que diz respeito a ações de reabilitação. Com o passar dos 
anos,as mudanças nas sociedades levaram à necessidade de uma ampliação do 
entendimento sobre saúde: é quando após a II Guerra Mundial, a Organização das 
Nações Unidas (ONU) cria a Organização Mundial de Saúde (OMS), composta por 
técnicos de vários países, com o objetivo de estudar e sugerir alternativas para 
melhorar a saúde mundial (VIANNA, 2011). 
 Entre 6 e 12 de setembro de 1978, a OMS e a Fundação das Nações Unidas 
para a Infância (UNICEF) promoveram em Alma-Ata, ex-União Soviética, uma 
Conferência Internacional sobre cuidados primários de saúde. Nesta conferência a 
OMS desenvolveu o conceito de saúde, sendo assim divulgado na carta de princípios 
de 7 de abril de 1948 (desde então o Dia Mundial da Saúde), implicando o 
reconhecimento do direito à saúde e da obrigação do Estado na promoção e proteção 
da saúde, diz que (VIANNA, 2011): 
“Saúde – estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não 
simplesmente à ausência de doença ou enfermidade – é um direito fundamental, e 
que a consecução do mais alto nível de saúde é a mais importante meta social 
mundial, cuja realização requer a ação de muitos outros setores sociais e econômicos, 
além do setor saúde” (OMS, 1976). 
 
 
28 
 
 
 Fonte: healthism.com 
 
Esta conferência ressaltou o íntimo inter-relacionamento e independência da 
saúde com o desenvolvimento econômico e social, sendo a primeira causa e 
consequência da progressiva melhoria das condições e da qualidade de vida. A chave 
do plano da Conferência de Alma-Ata está na prevenção, no desenvolvimento social 
e nos cuidados de saúde. Já no Brasil, em 1986, foi desenvolvida a VII Conferência 
Nacional de Saúde, na qual foram discutidos os temas: saúde como direito; 
reformulação do Sistema Nacional de Saúde (SUS) e financiamento setorial. Nesta 
conferência adotou-se o seguinte conceito sobre saúde (VIANNA, 2011): 
“... em seu sentido mais abrangente, a saúde é resultante das condições de 
alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, emprego, lazer, 
liberdade, acesso e posse da terra e acesso a serviços de saúde. É assim, antes de 
tudo, o resultado das formas de organização social da produção, as quais podem gerar 
grandes desigualdades nos níveis de vida” (BRASIL, 1986). 
Deve-se também considerar o recente e acelerado avanço que se observa no 
campo da Engenharia Genética e da Biologia Molecular, com suas implicações tanto 
na perspectiva da ocorrência como da terapêutica de muitos agravos. Desse modo, 
surgiram vários modelos de explicação e compreensão da saúde, da doença e do 
processo saúde-doença, como o modelo epidemiológico baseado nos três 
componentes – agente, hospedeiro e meio, considerados como fatores causais, que 
evoluiu para modelos mais abrangentes, como o do campo de saúde, com o 
envolvimento do ambiente (não apenas o ambiente físico), estilo de vida, biologia 
 
29 
 
humana e sistema-serviços de saúde, numa permanente inter-relação e 
interdependência (GAMBA e TADINI, 2010). 
Desta maneira, o Processo Saúde-Doença está diretamente atrelado à forma 
como o ser humano, no decorrer de sua existência, foi se apropriando da natureza 
para transformá-la, buscando o atendimento às suas necessidades. Fica claro que tal 
processo representa o conjunto de relações e variáveis que produz e condiciona o 
estado de saúde e doença de uma população, que se modifica nos diversos momentos 
históricos e do desenvolvimento científico da humanidade. Portanto, não é um 
conceito abstrato. Define-se no contexto histórico de determinada sociedade e num 
dado momento de seu desenvolvimento, devendo ser conquistada pela população em 
suas lutas cotidianas – sendo que o conceito de saúde varia segundo a época em que 
vivemos, assim como os interesses dos diversos grupos sociais GUALDA e 
BERGAMASCO, 2004). 
Assim, vários autores afirmam que “a saúde deve ser entendida em sentido 
mais amplo, como componente da qualidade de vida e, assim, não é um bem de troca, 
mas um bem comum, um bem e um direito social, no sentido de que cada um e todos 
possam ter assegurado o exercício e a prática deste direito à saúde, a partir da 
aplicação e utilização de toda a riqueza disponível, conhecimento e tecnologia que a 
sociedade desenvolveu e vem desenvolvendo neste campo, adequados as suas 
necessidades, envolvendo promoção e proteção da saúde, prevenção, diagnóstico, 
tratamento e reabilitação de doenças. Ou seja, deve-se considerar este bem e este 
direito como componente e exercício da cidadania, compreensão esta que é um 
referencial e um valor básico a ser assimilado pelo poder público para o balizamento 
e orientação de sua conduta, decisões, estratégias e ações (VIANNA, 2011). 
 
30 
 
5 ANÁLISE EXPLORATÓRIA DE DADOS EPIDEMIOLÓGICOS 
 
 Fonte: cafabo.org.ar 
 
Desde finais da década de 80 que na área da saúde vem se discutindo, e 
experimentando, diversas abordagens onde a localização espacial e os Sistemas de 
Informações Geográficas (SIG) têm papel destacado. Ainda que nos momentos 
iniciais estes estudos estivessem na contramão dos modelos analíticos vigentes na 
epidemiologia, baseado em abordagens estritamente individuais na busca por fatores 
de risco para doenças crônicas, em poucos anos operou-se um importante resgate do 
papel do ambiente sociocultural na determinação das doenças e, relacionado a isso, 
no acesso aos recursos e equipamentos de saúde: “o epidemiologista, ao gerar dados, 
não tem outra opção que ser um agente com influência social. A única questão é que 
tipo de influência” (CARVALHO, SOUZA-SANTOS, 2005). 
Os denominados estudos ecológicos, definidos como estudos onde se focaliza 
a comparação de grupos, ao invés de indivíduos, teriam como razão subjacente o fato 
de que dados em nível individual da distribuição conjunta de duas (ou talvez todas) 
variáveis não estariam disponíveis internamente nos grupos. Assim, o estudo 
ecológico seria um desenho incompleto. Esta ainda é uma visão dominante, 
particularmente no contexto mais acadêmico. Nos países periféricos, entretanto, a 
pesquisa em epidemiologia sempre teve forte associação com a prática dos serviços 
de saúde pública, possivelmente por ter nestes parceiros, financiadores importantes, 
cumprindo um papel essencial no que se definiu como “informação para ação” 
(CARVALHO, SOUZA-SANTOS, 2005). 
 
31 
 
O papel dos tipos clássicos de investigação – os diagnósticos de saúde – em 
epidemiologia está na ênfase que se dá às doenças da população em oposição às 
doenças do indivíduo. A pergunta que se deseja responder neste caso, não é sobre 
as causas dos casos de doença, mas sobre as causas da incidência da doença em 
grupos populacionais, comparando diferentes populações, em geral definidas como 
moradores de uma mesma área. O interesse focaliza-se não na doença em 
populações, mas na doença de populações, o objetivo é ver a “floresta e não as 
árvores”. A visão centralizada no indivíduo leva ao uso do risco-relativo como a 
representação básica da força etiológica: ou seja, o risco em indivíduos expostos 
relativo aos não-expostos. Embora esta seja a melhor medida de força etiológica, não 
é a de maior importância em saúde pública (CARVALHO, SOUZA-SANTOS, 2005). 
A fim de compreender como um contexto afeta a saúde de grupos 
populacionais por meio de seleção, distribuição, interação, adaptação e outras 
respostas, torna-se necessário medir efeitos em nível de grupo, uma vez que medidas 
em nível individual não podem dar conta destes processos. Recentes avanços 
metodológicos no campo da estatística, particularmente os denominados modelos de 
efeitos aleatórios, trazem perspectivas inovadoras para a análise, superando o fato de 
que “grande parte da pesquisa atual em epidemiologia está baseada no individualismo 
metodológico: a noção que a distribuição dasaúde e doença em populações pode ser 
explicada exclusivamente em termos das características dos indivíduos” 
(CARVALHO, SOUZA-SANTOS, 2005). 
Neste mesmo campo, investigações de efeitos denominados de vizinhança 
apontam para os “riscos associados com a estrutura social e ecológica de vizinhança, 
enseja-se possíveis intervenções inovadoras no nível da comunidade”. Padrões de 
mortalidade ou morbidade, propagação de epidemias, transmissão sexual de doenças 
ou a transferência de comportamentos ou valores não podem ser explicados sem uma 
abordagem que além de considerar os grupos estude o espaço e o tempo 
(CARVALHO, SOUZA-SANTOS, 2005). 
Por outro lado, na área relacionada à prestação de serviços em saúde diversas 
aplicações permitem estudar aspectos geográficos no uso dos serviços de saúde, 
trazendo novas informações para a discussão da equidade, ao analisar o acesso 
geográfico, as diferenças no uso segundo aspectos socioeconômicos. Além disso, 
novos ramos se desenvolvem, ganhando importância cada vez maior os estudos 
 
32 
 
ambientais. Em resumo, os métodos de análise espacial na saúde coletiva vêm sendo 
usados principalmente em estudos ecológicos, na detecção de aglomerados espaciais 
ou espaço-temporais, na avaliação e monitoramento ambiental e aplicados ao 
planejamento e avaliação de uso de serviços de saúde (CARVALHO, SOUZA-
SANTOS, 2005). 
Recente revisão sobre o uso de SIGs e ferramentas de análise espacial em 
saúde pública aponta para o desenvolvimento de ferramentas que integrem funções 
de processamento e análise de informações georreferenciadas, cuja implantação 
dependerá, entretanto, da demanda de métodos de análise espacial, pela comunidade 
da área da saúde pública. Entretanto, embora bastante extenso, e talvez por causa 
disso, a modelagem estatística espacial e a integração entre SIG e estatística não são 
aprofundadas. Alguns livros excelentes publicados nos últimos anos procuram fazer a 
ponte entre métodos estatísticos espaciais e aplicações em saúde pública e 
praticamente ignoram os aspectos ligados ao gerenciamento da informação 
geocodificada em SIGs. Por outro lado, livros voltados para os SIGs pouco 
desenvolvem as questões estatísticas e de modelagem dos processos (CARVALHO, 
SOUZA-SANTOS, 2005). 
 
 
 Fonte: brzk.com.br 
 
Um aspecto deve ser considerado: esta é uma área de investigação onde a 
inter (ou trans) disciplinariedade mais do que desejável é imprescindível. Além de 
conhecer profundamente o problema em questão, os métodos necessários à 
incorporação nos estudos da dimensão espacial, ou espaço-temporal, envolvem, no 
 
33 
 
mínimo, conhecimentos de SIGs e técnicas estatísticas bastante sofisticadas. Isso 
porque a existência de padrões espaciais implica a incorporação aos modelos 
estatísticos de estruturas de correlação entre as observações (CARVALHO, SOUZA-
SANTOS, 2005). 
Os modelos mais complexos frequentemente só podem ser estimados usando-
se inferência bayesiana, ainda pouco empregada no contexto da epidemiologia e da 
saúde pública em geral. Mesmo considerando que o custo da aquisição da informação 
ainda seja elevado (vem caindo dramaticamente nos últimos anos); que o treinamento 
formal na área ainda seja escasso (apesar da oferta de diversos cursos de 
atualização); e que os programas de computador não sejam muito amistosos, 
acreditamos que o reconhecimento do potencial desses métodos na área da saúde 
coletiva permitirá ampliar seu uso e estimular a criação de redes cooperativas 
interdisciplinares (CARVALHO, SOUZA-SANTOS, 2005). 
5.1 Estudos Ecológicos 
O estudo dos padrões de distribuição geográfica das doenças e suas relações 
com fatores socioambientais constitui-se no objeto do que hoje chamamos de 
Epidemiologia Geográfica, que tem se constituído em campo de aplicação e 
desenvolvimento de novos métodos de análise. Esse desenvolvimento tem sido 
viabilizado pela crescente disponibilidade e desenvolvimento de técnicas e recursos 
de computação eletrônica, que também tornou possível o desenvolvimento de 
Sistemas de Informações Geográficas com base na cartografia digital, que vêm sendo 
utilizados em análise de dados espaciais em saúde (CARVALHO et al., 2007). 
As técnicas de análise espacial se adequam às necessidades dos estudos 
ecológicos, que utilizam áreas geográficas como unidade usual de observação. No 
caso particular da análise espacial da ocorrência de doenças, onde se dispõe de 
dados referidos a uma área geográfica, deve-se dar atenção especial ao pressuposto 
básico de que taxas e indicadores epidemiológicos de uma doença, calculados para 
um determinado período, são uma única realização de um processo que é 
probabilístico e que se procura identificar. A opção por estudos epidemiológicos do 
tipo ecológico pode ser logicamente adequada para o entendimento da variação do 
risco de adoecer entre diferentes grupos populacionais (CARVALHO et al., 2007). 
 
34 
 
 A correta compreensão das dimensões envolvidas nos estudos de nível 
ecológico e de nível individual, além das relações entre eles, possibilita explorar o 
potencial da abordagem ecológica em saúde pública, mediante o emprego de 
ferramentas de análise apropriadas que permitam controlar possíveis fatores de 
confusão e evitar vieses de análise, principalmente os clássicos, como os de produzir 
inferências cruzadas, ou seja, de um nível para outro. Inferências enviesadas serão 
produzidas não só quando se extrapolam resultados do nível ecológico para o 
individual (falácia ecológica), mas também quando ocorre o oposto, do nível individual 
para o ecológico (falácia atomística), desconsiderando-se os efeitos de grupo 
(CARVALHO et al., 2007). 
 Apesar de não se dever considerar essas duas abordagens como antagônicas, 
a análise da variabilidade do risco no nível ecológico é fundamental para a 
compreensão dos determinantes sociais e ambientais do processo saúde-doença, 
onde, particularmente, a condição socioeconômica dos grupos populacionais 
desempenha papel preponderante na explicação das condições de saúde desses 
grupos. Nesse sentido, uma importante abordagem do ponto de vista ecológico é 
considerar o espaço como fator multidimensional de estratificação de populações, o 
que permite visualizar espacialmente, de forma articulada, as distribuições da doença 
e do risco, entendido como situação coletiva e definido sob diferentes abordagens. 
Além disso, pode propiciar ao Sistema de Vigilância em Saúde Pública compreender 
a dinâmica e identificar diferenças e “causas” das diferenças na ocorrência das 
doenças nos diversos subconjuntos da população (CARVALHO et al., 2007). 
 
 
 Fonte: noetic-labs.com 
 
35 
 
 
Essa abordagem possibilita não só a vigilância dos indivíduos de risco, mas 
também uma visão antecipada do risco coletivo, coerentemente com o entendimento 
de que as consequências dos processos endêmicos e das intervenções de saúde 
pública nos vários grupos sociais devem ser analisadas a partir de uma perspectiva 
ecológica. Tal perspectiva deve considerar a dinâmica evolutiva dos processos sociais 
e buscar identificar causas da incidência das doenças em grupos populacionais e não 
as causas da doença no indivíduo. Cada vez mais, trabalhos vêm sendo 
desenvolvidos utilizando uma abordagem espacial e produzindo análises integradas 
da associação dos eventos de saúde com indicadores e/ou variáveis socioambientais, 
com vistas a suprir as necessidades de um Sistema de Vigilância em Saúde 
(CARVALHO et al., 2007). 
 As fontes de informação para essas variáveis e as abordagens para 
construção desses indicadores, principalmente aqueles capazes de medir índices de 
carência social, variam e vêm sendo objeto de estudos e debates que podem contribuir 
para superar desigualdades e iniquidades em saúde. Emmuitos casos essas 
informações são provenientes dos censos demográficos, disponibilizadas no nível dos 
setores censitários, possibilitando análises para este nível ou níveis mais agregados, 
como bairros, distritos e municípios. No caso dos indicadores ambientais 
especificamente, as informações são obtidas junto a institutos municipais ou estaduais 
de meio ambiente ou planejamento urbano, oriundas de levantamentos de campo, 
levantamentos aéreos ou de imagens de satélite (CARVALHO et al., 2007). 
5.2 Estatística Espacial 
Denomina-se estatística espacial o ramo da estatística que permite analisar a 
localização espacial de eventos. Ou seja, além de identificar, localizar e visualizar a 
ocorrência de fenômenos que se materializam no espaço, tarefas possibilitadas pelo 
uso dos SIG, utilizando-se a estatística espacial é possível modelar a ocorrência 
destes fenômenos, incorporando, por exemplo, os fatores determinantes, a estrutura 
de distribuição espacial ou a identificação de padrões (CARVALHO et al., 2007). 
Usamos a estatística nos estudos em saúde para modelar a realidade. Modelos 
são simplificações da realidade usadas para entender um sistema, estudar seu 
funcionamento, buscar causas de fenômenos, avaliar intervenções, prever desfechos. 
 
36 
 
Segundo Box (1979) “todos os modelos estão errados, alguns modelos são úteis”, ou 
seja, não existe modelo certo, mas modelos que servem a algum propósito. Quando 
então são úteis os modelos estatísticos na análise espacial? Quando queremos 
estudar a saúde e os fatores relacionados à saúde no contexto ambiental. A idéia é 
entender, estimar e modelar como esse contexto afeta a saúde das pessoas, seja o 
contexto derivado de fatores socioeconômicos, da oferta de serviços de saúde, do 
ambiente físico ou cultural. Sem medir esses contextos, nem padrão de mortalidade e 
morbidade, nem o espalhamento epidêmico, ou o risco de uma fonte de contaminação 
ambiental podem ser explicados e ter seu efeito estimado (CARVALHO et al., 2007). 
A denominação estatística espacial surge em oposição às técnicas estatísticas 
comuns nos estudos em saúde – testes do tipo chi-quadrado, regressão múltipla, 
análise de aglomerados, por exemplo – quando se necessita focalizar explicitamente 
a localização espacial, quando é necessário considerar a possível importância de seu 
arranjo espacial na análise e interpretação de resultados. Isso porque um dos 
pressupostos mais gerais na estatística, que permite estimar diversas estatísticas é o 
da independência entre as observações: o que se mede em um indivíduo não está 
associado ao medido em outro indivíduo, exceto pelos possíveis fatores comuns que 
desejamos exatamente descobrir (CARVALHO et al., 2007). 
 
 Fonte: pngimage.net.com 
 
Entretanto, quando olhamos para o espaço, esse pressuposto é pouco 
realístico, pois “todas as coisas são parecidas, mas coisas mais próximas se parecem 
mais que coisas mais distantes”. Esse simples fato, que todos conhecemos, tem 
implicações diretas para abordagem quantitativa baseada na teoria e técnicas 
 
37 
 
estatísticas que aplicamos usualmente sobre nossas observações. Por uma razão 
muito simples, e que às vezes esquecemos: as técnicas de análise estatística não-
espaciais que utilizamos para nossos dados têm como pressuposto fundamental que 
as observações em análise representam pedaços de evidência independentes sobre 
as associações que estamos descrevendo e modelando (CARVALHO et al., 2007). 
 Ou, generalizando, a maior parte das ocorrências, sejam estas naturais ou 
sociais, se relacionam, seja em sinergia ou antagonismo, e esta relação se enfraquece 
com a distância. E é esta a especificidade deste ramo da estatística: técnicas que 
permitem modelar os fenômenos cuja distribuição é afetada pela sua localização 
geográfica e pela sua relação com seus vizinhos (CARVALHO et al., 2007). 
Principais Aplicações 
doenças, os estudos ecológicos, a identificação de aglomerados espaciais 
(cluster) e o monitoramento de problemas ambientais. O mapeamento de doenças 
consiste na descrição do processo de distribuição espacial, visando a avaliar a 
variação geográfica na sua ocorrência para identificar diferenciais de risco, orientar a 
alocação de recursos e levantar hipóteses etiológicas. Os métodos têm como objetivo 
produzir um mapa “limpo”, sem o “ruído” gerado pela flutuação aleatória dos pequenos 
números, e controlando as diferenças na estrutura demográfica. Os estudos 
ecológicos visam a estudar a relação entre incidência de doenças e potenciais fatores 
etiológicos, que expliquem as diferenças na incidência de determinado evento de 
saúde (CARVALHO et al., 2007). 
Do ponto de vista estatístico, esses estudos consistem, essencialmente, em 
modelos de regressão, onde se busca explicar a variação na incidência da doença por 
meio de outras variáveis. O modelo estatístico se complica pela necessidade de 
controlar, simultaneamente, o processo espacial, variáveis explicativas e variáveis de 
confusão. Um “cluster” espacial é: qualquer agregado de eventos que não seja 
meramente casual, cuja identificação é foco de pesquisas na área de estatística 
espacial. Estes aglomerados podem ser causados por diferentes fatores, tais como 
agentes infecciosos, contaminação ambiental localizada, efeitos colaterais de 
tratamentos, cada problema destes com peculiaridades e técnicas particulares 
(CARVALHO et al., 2007). 
A avaliação e monitoramento ambiental visam a estimar a distribuição espacial 
de fatores ambientais relevantes para a saúde, acompanhando potenciais fontes 
 
38 
 
ambientais de problemas de saúde, tais como poluentes químicos, insolação (Raios 
UV), vegetação, clima, entre outros. Nesse caso, em geral, os modelos estatísticos 
têm por objetivos fazer a predição espacial ou espaço-temporal de processos com 
forte correlação espacial e temporal (CARVALHO et al., 2007). 
 
6 MEDIDAS DE FREQUÊNCIA EM SAÚDE COLETIVA 
 
 Fonte: estudandocomchicoxavier.wordpress.com 
 
Existem diversas formas de medir a saúde, dependendo de qual é a sua 
definição; uma definição ampla mediria o nível de saúde e bem-estar, a capacidade 
funcional, a presença e causas de doenças e óbito e a expectativa de vida das 
populações (DONALDSON, 1989). Existem diferentes medidas e indicadores de bem-
estar (social e econômico) na saúde e foram desenvolvidos certos índices de “saúde 
positiva” (ALLEYNE, 1998), tanto com fins operacionais, como para a investigação e 
promoção de condições saudáveis, em dimensões tais como a saúde mental, 
autoestima, satisfação com o trabalho, exercício físico, etc. 
A coleta de dados e a estimativa de indicadores têm como finalidade gerar, de 
forma sistemática, evidências que permitam identificar padrões e tendências que 
ajudem a empreender ações de proteção e promoção da saúde e de prevenção e 
controle de doenças na população. Entre as formas mais úteis e comuns de medir as 
condições gerais de saúde da população, destacam-se os sensos nacionais, que são 
 
39 
 
feitos a cada década em vários países. Os sensos proporcionam a contagem periódica 
da população e a descrição de várias das suas características, cuja análise permite 
fazer estimativas e projeções (ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE, 2010). 
Para permitir as comparações ao longo do tempo numa mesma população ou 
entre populações diferentes, são necessários procedimentos de medição 
padronizados. A medição do estado de saúde requer sistemas harmonizadores e 
unificados como a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas 
Relacionados à Saúde (CID), na sua Décima Revisão, cujos XXII capítulos iniciam 
com certas doenças infecciosas e parasitárias (A00-B99) e terminam com o capítulo 
referente aos códigos para propósitos especiais (U00-U99). 
Os indicadores de saúde medem napopulação diferentes aspectos 
relacionados com a função ou incapacidade, a ocorrência de doença ou óbito, bem 
como os aspectos relacionados com os recursos e desempenho dos serviços de 
saúde. Os indicadores de saúde funcional tratam de medir o impacto dos problemas 
de saúde na vida diária, por exemplo, a capacidade para realizar atividades cotidianas, 
lesões e acidentes domésticos e no local do trabalho, e anos de vida livres de 
incapacidade. Os dados são obtidos geralmente através de inquéritos e registros de 
incapacidade. Os índices de qualidade de vida incluem variáveis de função como a 
atividade física, a presença de dor, o nível do sono, de energia e o isolamento social 
(ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE, 2010). 
Os indicadores de morbidade medem a frequência de problemas de saúde 
específicos como infecções, cânceres, acidentes de trabalho, etc. As fontes 
de dados costumam ser registros de hospitais e serviços de saúde, 
notificação de doenças sob vigilância e inquéritos de soro prevalência e de 
autorrelato de doenças, entre outros. É necessário mencionar que as 
doenças crônicas, pela sua longa duração, requerem o monitoramento das 
etapas clínicas, pelo que é preferível contar com os registros de doença (ex: 
câncer, defeito congênito etc) (NEWCOMER, 1992. Apud ORGANIZAÇÃO 
PAN-AMERICANA DA SAÚDE, 2010). 
Os indicadores de mortalidade geral ou por causas específicas permitem 
comparar o nível geral de saúde e identificar causas de mortalidade relevantes como 
acidentes, tabagismo, etc. O registro da mortalidade requer o atestado de óbito, para 
o qual é usado a Declaração de Óbito. A mortalidade se apresenta geralmente como 
números absolutos, proporções, ou taxas por idade, sexo e causas específicas. Além 
da medição do estado de saúde, também é necessário medir o desempenho dos 
serviços de saúde. Tradicionalmente, essa medição é focada para os insumos e 
 
40 
 
serviços; atualmente, considera-se preferível medir os processos e funções dos 
serviços de saúde (TURNOCK, 1997). 
Conjuntamente com os indicadores mencionados, a mensuração na saúde 
requer a disponibilidade de dados sobre características relevantes da população 
(variáveis), tais como seu tamanho, composição, estilos de vida, classes sociais, 
eventos de doenças, nascimentos e óbitos. Os dados para a medição da saúde 
provêm de diversas fontes, motivo pelo qual devem ser considerados os aspectos 
relacionados com a invalidez, qualidade, integridade e cobertura dos próprios dados 
e suas fontes. Os dados, quantitativos ou qualitativos, que se obtêm e se registram 
dos serviços de saúde e das estatísticas vitais representam a “matéria prima” para o 
trabalho epidemiológico (ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE, 2010). 
Quando os dados são incompletos ou inconsistentes, serão obtidas medidas 
enviesadas ou inexatas, sem importar a sofisticação da análise epidemiológica, e as 
intervenções derivadas do seu uso não serão efetivas. A deficiente cobertura dos 
serviços, em amplos setores da população de vários países, limita a geração de 
informação útil e necessária para resolver os problemas de saúde que atingem de 
forma específica as suas comunidades. Ainda quando os dados estiverem disponíveis 
e sejam confiáveis, sua utilização para a gestão em saúde pode ser insuficiente 
(ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE, 2010). 
 
 
 Fonte: iadb.org.com 
 
Com o propósito de responder às necessidades de contar com um conjunto de 
dados válidos, padronizados e consistentes dos países das Américas, a Organização 
 
41 
 
Pan-Americana da Saúde (OPAS) trabalha desde 1995 na Iniciativa Regional de 
Dados Básicos de Saúde. Está incluída nessa fonte uma série histórica de 117 
indicadores demográficos, socioeconômicos, de morbidade, mortalidade, de recursos, 
acesso e cobertura de serviços de saúde, dos 48 países e territórios da região 
(ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE, 2010). 
Uma vez contados os dados e calculados os indicadores de saúde, uma das 
dificuldades apresentada nos serviços de saúde está relacionada com as limitações 
do manuseio correto da informação numérica, sua análise e interpretação, funções 
que requerem o uso dos princípios da epidemiologia e da bioestatística. No entanto, 
no âmbito em que ocorrem os problemas e onde eles são solucionados, os 
procedimentos e técnicas para obtenção, medição, processamento, análise, 
interpretação dos dados e uso das informações ainda não estão plenamente 
desenvolvidas (ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE, 2010). 
Para a correta tomada de decisões em todos os níveis dos serviços de saúde, 
baseada na informação pertinente, é necessária a capacitação permanente da equipe 
local de saúde e das suas redes na coleta, manuseio, análise e interpretação de dados 
epidemiológicos. A quantificação dos problemas de saúde na população requer 
procedimentos e técnicas estatísticas diversas, algumas delas de relativa 
complexidade. Dadas as características de múltiplos fatores dos problemas de saúde, 
as técnicas qualitativas são também valiosas para aproximar-se do conhecimento dos 
determinantes da saúde. É por isso que existe a necessidade de incorporar, de forma 
dialética, métodos e técnicas quantitativas e qualitativas que permitam estudar os 
diversos componentes dos objetos de estudo (ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA 
SAÚDE, 2010). 
Na análise quantitativa o uso de programas informatizados facilita o manuseio 
e a análise de dados, mas não se deve superestimar seu alcance e aplicações. Sua 
utilidade é maior quando são estabelecidas redes de colaboração e sistemas de 
informação em saúde, que permitem o manuseio eficiente de grandes bases de dados 
e geram informação oportuna e útil para a tomada de decisões. Um programa 
informatizado reduz notavelmente o tempo de cálculo, processamento e análise dos 
dados, mas é o trabalho humano o que aporta resultados racionais e válidos para o 
desenvolvimento dos objetivos de saúde pública (ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA 
DA SAÚDE, 2010). 
 
42 
 
Existem dois pacotes de programas de cálculo desenhados especificamente 
para a saúde que facilitam o armazenamento, processamento e análise de informação 
epidemiológica: Epi-Info, produzido pelo Centro de Prevenção e Controle de Doenças 
dos Estados Unidos (CDC) e a Organização Mundial da Saúde (OMS), e o Epi-Dat, 
desenvolvido pela OPAS e a Xunta de Galicia, Espanha. Longe de competir entre si, 
os pacotes de programas, de grande uso e de livre distribuição, oferecem processos 
e rotinas de manuseio e análise epidemiológica de dados que são complementares 
(ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE, 2010). 
 Em um sentido amplo, podemos considerar que o trabalho da saúde pública 
parte da constatação de uma realidade de saúde não desejável em uma população e 
aponta para conseguir mudanças sociais, deliberadas e sustentáveis nessa 
população. Nesse sentido, e do ponto de vista metodológico, a epidemiologia como 
toda ciência tem exigência de método, desde uma perspectiva estatística. O foco 
epidemiológico consiste basicamente em: i) a observação dos fenômenos de saúde e 
doença na população; ii) a quantificação dos mesmos em frequências e distribuições; 
iii) a análise das frequências e distribuições de saúde e de seus determinantes; e iv) 
a definição de cursos de ação apropriados (ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA 
SAÚDE, 2010). 
Esse processo de observar-quantificar-comparar-propor serve também para 
avaliar a efetividade e o impacto das intervenções em saúde, para construir novos 
modelos que descrevam e expliquem as observações e para utilizá-los na predição 
de novos fenômenos. Em resumo, em todo esse processo, os procedimentos e 
técnicas de quantificação são de grande relevância, e a capacitação da equipe local 
de saúde nestes aspectos do enfoque epidemiológico é, consequentemente, 
fundamental (ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE,

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