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^ c a p Í T U L O 13 J Personalidade D urante toda a sua angustiante jornada, Frodo Baggins, 0 herói hobbit da saga O Senhor dos Aneis, sabia que havia uma pessoa que jamais iria desapontá- lo: seu fiel e sempre alegre com p a nheiro Sam Gamgee. M esmo antes de deixa rem a am ada cidade natal, Frodo avisou a Sam que a jornada não seria fácil: “Vai ser muito perigoso, Sam. Já é perigoso agora. É bem provável que nenhum de nós dois volte.” “Se o senhor não voltar, então é certo que eu não voltarei”, disse Sam. “[Os elfos me dis seram] ‘Não o abandone!’ Abandoná-lo?, eu respondi. Isso nunca passou pela minha cabeça. Se ele subir até a Lua, eu vou com ele; e se quais quer daqueles cavaleiros negros tentar impedi- lo, terão que enfrentar Sam Gamgee.” (Tolkien, A Sociedade do Anel, p. 96). E assim foi! Mais tarde na história, quando ficou claro que Frodo teria que se aventurar pela pavorosa terra de M ordor sem 0 restante da sociedade do anel, foi Sam quem insistiu em acom p an h ar Frodo, acon tecesse 0 que acontecesse. Foi Sam quem levantou o espí rito de Frodo com can ções e h istórias da infância de ambos, e foi em Sam que Frodo se apoiou quando quase n ão podia m ais andar. Q uando Frodo foi tom ado pelo poder maléfico do anel que carregava, foi Sam quem impediu Frodo de sucumbir com pletam ente. E, no final, foi Sam quem possibilitou que Frodo chegasse com êxito ao fim da jornada. Sam Gamgee — o alegre, otim ista e em ocio nalm en te estável — n un ca vacilou em sua lealdade ou crença de que eles podiam supe rar a escuridão am eaçadora. O personagem Sam Gam gee de J. R. R. Tolkien, à medida que aparece e reaparece durante toda a trilogia, exibe a distinção e a coerência que definem a personalidade — padrão característico de pensar, sentir e agir de cada indivíduo. Segundo Dan McAdams e Jennifer Pais (2 0 0 6 ) , trata-se da “variação individual única do desenho evolucionário u niversal da n atu reza h u m a n a ” , que se expressa nos traços e na situação cultural de cada um . Os capítulos anteriores enfatizaram nossa sem elhança — com o todos nós evoluí mos, percebemos, aprendem os, lembramos, pensam os e sentim os. Este capítulo enfatiza nossa individualidade. Grande parte deste livro trata da persona lidade. Em capítulos anteriores, consideramos as influências biológicas sobre a personali dade, 0 desenvolvimento da personalidade ao longo da vida e os aspectos relacionados à personalidade com o aprendizagem, m otiva ção, em oção e saúde. Nos capítulos posterio res, estudaremos os transtornos de persona lidade e as influências sociais sobre ela. Neste capítulo, vamos com eçar com duas grandes teorias que se to rn aram parte do nosso legado. Essas duas perspectivas histo ricam ente significativas ajudaram a estabele cer o cam po da psicologia da personalidade e apresentaram algum as questões centrais para a pesquisa e o trabalho clínico atuais. • A teoria psicanalítica de Freud propôs que a sexualidade infantil e as m otivações inconscientes influenciam a personalidade. • A abordagem hum anista enfocou em nossa capacidade interior para o crescim ento e a autorrealização. Essas teorias clássicas, que oferecem pers pectivas m uito interessantes sobre a natureza h u m an a, são com p lem entadas pelo outro aspecto a ser abordado neste capítulo: novas pesquisas científicas mais focadas e realistas sobre aspectos específicos da personalidade. Os pesquisadores de hoje que investigam a personalidade estudam as dimensões básicas da personalidade, as raízes biológicas dessas d im en sões e a in te ra çã o en tre pessoa e ambiente. Também estudam a autoestima, 0 viés em proveito próprio (self-serving bias) ten dencioso e as influências culturais na percep ção do self. Estudam também a mente incons ciente — com descobertas que provavelmente deixariam o próprio Freud surpreso. personalidade padrão característico individual de pensar, sentir e agir. associação livre em psicanálise, um método de explorar o inconsciente em que a pessoa relaxa e diz o que lhe vem à mente, por mais triv ia l ou constrangedor que seja. A PERSPECTIVA PSICANALÍTICA Explorando o Inconsciente O s Teóricos Neofreudianos e Psicodinâmicos Avaliando os Processos Inconscientes Avaliando a Perspectiva Psicanalítica A PERSPECTIVA HUMANISTA Abraham Maslow e a Pessoa Autorrealizada Carl Rogers e a Perspectiva Centrada na Pessoa Avaliando o Self Avaliando a Perspectiva Humanista A PERSPECTIVA DO TRAÇO Explorando os Traços Avaliando os Traços O s Cinco Grandes Fatores Avaliando a Perspectiva do Traço Pensando Criticamente Sobre: Como Ser um Astrólogo ou Quiromante de “Sucesso” A PERSPECTIVA SOCIAL- COGNITIVA Influências Recíprocas Controle Pessoal Em Foco: Rumo a uma Psicologia Mais Positiva Avaliando o Comportamento em Situações Avaliando a Perspectiva Social-Cognitiva EXPLORANDO O SELF O s Benefícios da Autoestima Viés em Proveito Próprio (Self-Serving Bias) Sigmwid Freud. 1856-1939 "Eu era o único trabalhador em um novo campo." psicanálise a teoria da personalidade de Freud que atribui pensamentos e ações a motivos e conflitos inconscientes; técnicas utilizadas no tratamento de transtornos psicológicos procurando expor e interpretar tensões inconscientes. inconsciente de acordo com Freud, um reservatório de pensamentos, desejos, sentimentos e memórias inaceitáveis, na maioria dos casos. De acordo com psicólogos contemporâneos, processamento de informações sobre as quais não temos consciência. A Perspectiva Psicanalítica 1: Qual era a visão de Freud sobre a personalidade e seu desenvolvimento? AMADO OU ODIADO, SIGMUND Freud influenciou pro fundam ente a cultura ocidental. Pergunte a 100 pessoas na rua o nom e de um notável psicólogo falecido, sugere Keith Stanovich (1 9 9 6 , p. 1 ), e “Sigmund Freud será o mais citado”. Na m ente popular, Freud é para a história da psicologia o que Elvis Presley é para a história do rock. A influência de Freud se estende pelas interpretações de livros e de filmes, na psi quiatria e na psicologia clínica. Então, quem foi Freud, e quais foram seus ensinam entos? Muito antes de entrar para a University of Viena em 1873, o jovem Sigmund Freud mostrou sinais de independência e bri lhantismo. Tinha um a mem ória prodigiosa e gostava tanto de ler peças teatrais, poesia e filosofia que certa vez contraiu em um a livraria um a dívida além de suas posses. Na adolescência, quase sempre fazia a refeição n otu rn a em seu pequenino quarto, para não perder tempo de estudo. Freud frequentou a escola de medicina e, depois de formado, m ontou um a clínica particular, especializando-se em transtornos nervosos. Logo, porém, deparou-se com pacientes cujos transtornos não faziam sentido do ponto de vista neurológico. Por exem plo, um paciente perdera todas as sensações em um a das mãos — con tudo, não há nervo sensitivo que, danificado, deixaria a mão inteira dormente e nada mais. A busca de Freud por um a causa para tais transtornos levou sua mente a um a direção destinada a m udar o entendimento hum ano sobre si mesmo. Explorando o Inconsciente Será que alguns transtornos neurológicos podem ter causas psicológicas em vez de fisiológicas? Essa pergunta levou Freud à “descoberta” do inconsciente. A partir dos relatos pessoais de seus pacientes, ele concluiu que a perda de sensibilidade na mão de um a pessoa poderia ser causada pelo medo de tocar os órgãos genitais; que a cegueira ou a surdez inexplicáveis poderiam ser causadas por não desejar ver ou ouvir algo que despertasse intensa angústia. Inicialmente, Freud pensou que o método da hipnose poderia abrir a porta para o inconsciente, mas os pacientes apresentaram uma capacidade desigual para a hipnose. Voltou-se então para a associação livre, simples m ente solicitando ao paciente para relaxar e dizer o que lhe viesse à mente, não im portandoo quanto fosse constrange dor ou trivial. Freud supôs que um a fileira de dominós m en tais havia caído desde o passado distante de seus pacientes até o inquietante presente deles. A associação livre, acreditava, permitia-lhe seguir essa fileira de volta, produzindo um a linha de pensam ento que levaria ao inconsciente do paciente, recu perando e libertando lem branças inconscientes dolorosas, quase sempre da infância. Freud denom inou essa teoria e as técnicas associadas de psicanálise. Um elemento básico na concepção de Freud era o de que a m ente fica, na m aioria dos casos, escondida (FIGURA 1 3 .1 ). Nossa percepção consciente seria a parte do iceberg que flutua acima da superfície. Abaixo da superfície, ficaria a região inconsciente, bem maior, contendo pensam entos, desejos, sentim entos e lem branças. Armazenamos tem porariam ente alguns desses pensam entos em um a área pré-consciente, da qual podemos recuperá-los para a percepção consciente. Um dos maiores interesses de Freud era a grande quantidade de paixões e pensam entos que, segundo ele, nós recalcamos, ou bloqueamos de modo enérgico da nossa consciência, porque seriam por demais perturbadores para serem admitidos. Freud acreditava que, embora não estejamos conscientes deles, esses sentim entos e ideias inquietantes exercem sobre nós um a influência poderosa. Para ele, nossos impulsos não reconhe cidos se autoexpressam em formas disfarçadas — o trabalho que escolhemos, as crenças que alim entam os, nossos hábitos diários, nossos sintom as perturbadores. Mente consciente Pré-consciência (fora da consciência, mas acessível) Mente inconsciente > F IG U R A 13.1 A ideia de Freud sobre a estrutura da mente Os psicólogos adotaram a imagem de um iceberg para ilustrar a ideia freudiana de que a mente está quase que totalmente oculta sob a superfície da consciência. Note que o id é totalmente inconsciente, mas o ego e o superego operam tanto consciente quanto inconscientemente. Diferentemente das partes de um iceberg congelado, no entanto, o id, o ego e o superego interagem. Para o determinista Freud, nada era acidental. Ele defendia que podia vislumbrar o inconsciente infiltrando-se não só atra vés das associações livres, crenças, hábitos e sintomas das pes soas, mas tam bém de seus sonhos e seus atos falhos, falados e escritos. Ele exemplificou com o caso de um paciente com problemas financeiros que, não querendo tom ar pílulas (pills), disse: “Por favor, não me dê contas (bilis), porque não posso engoli-las.” Da m esm a form a, Freud considerava as piadas expressões das tendências sexuais e agressivas recalcadas, e o sonho, a “estrada real para o inconsciente”. O conteúdo lem brado dos sonhos (seu conteúdo m anifesto) era a expressão censurada de desejos inconscientes de quem sonha (o conteúdo latente dos sonhos). Ao analisar os sonhos das pessoas, Freud buscava os conflitos interiores de seus pacientes. Estrutura da Personalidade Na perspectiva de Freud, a personalidade hum ana — incluindo suas emoções e seus esforços — origina-se de um conflito entre moção (impulse) e restrição — entre nossos impulsos biológicos agressivos em busca do prazer e nossos controles sociais inter nalizados sobre esses impulsos. Freud sustentava que a perso nalidade era o resultado de nossos esforços no sentido de resol ver esse conflito básico — para expressar essas moções ( impulses) de modo a produzir satisfação sem trazer também culpa e puni ção. Freud teorizou que os conflitos estão centrados em três sis temas que interagem: id, ego e superego (FIGURA 13.1). O id é um reservatório de energia psíquica inconsciente em luta constante para satisfazer os impulsos básicos para sobreviver, reproduzir e atacar. O id opera sobre o princípio do prazer: busca gratificação imediata. Para entender um a pessoa dominada pelo id, pense nos recém -nascidos que berram por satisfação no m om ento em que sentem necessidade, nem um pouco preocupados com as condições e demandas do mundo lá fora. O u pense nas pessoas que têm um a perspectiva de tempo presente em vez de futuro — aquelas que preferem se divertir agora a sacrificar o prazer de hoje pelo sucesso e feli cidade futuros. Tais pessoas com mais frequência fazem uso de tabaco, álcool e outras drogas (Keough et al., 1 9 9 9 ). À m edida que o ego se desenvolve, a crian ça pequena aprende a enfrentar o m undo real. O ego, operando sobre o princípio da realidade, busca satisfazer os impulsos do id de maneiras realistas que trarão prazer a longo prazo. (Imagine o que aconteceria se, desprovidos de ego, expressássemos nos sos impulsos agressivos ou sexuais não recalcados sempre que os sentíssem os.) O ego con tém nossas percepções, nossos pensam entos, nossos julgam entos e nossas m em órias par cialm ente conscientes. C om eçando a atuar por volta dos 4 ou 5 anos, teorizou Freud, o ego de um a criança reconhece as demandas do supe rego recém -em ergido, a voz de nossa bússola m oral (a cons ciên cia) que força o ego a considerar não só o real m as o ideal. O superego se con centra som ente em com o a pessoa deve se com portar. Luta pela perfeição, julgando as ações e produzindo sentim entos positivos de orgulho ou sentim en tos negativos de culpa. Alguém que tenha um superego extre mam ente forte pode ser virtuoso, porém, ironicam ente, opri mido pela culpa; outra pessoa que tenha um superego fraco pode ser autoindulgente e impiedosa. id contém um reservatório de energia psíquica inconsciente que, de acordo com Freud, luta para satisfazer impulsos sexuais e agressivos básicos. O id opera com base no princíp io d o prazer, exigindo gratificação imediata. ego a parte “executiva” e consciente da personalidade que, de acordo com Freud, serve de mediadora entre as exigências do id, do superego e da realidade. O ego opera com base no princíp io d a rea lid ad e , satisfazendo os desejos do id de maneira a obter o prazer de maneira realista, em vez de dor. superego a parte da personalidade que, de acordo com Freud, representa ideais internalizados e fornece padrões para julgamento (a consciência) e futuras aspirações. Com o as demandas do superego quase sempre são opos tas às do id, o ego luta para reconciliar os dois. É o “execu tivo” da personalidade, mediando as dem andas impulsivas do id, as demandas restritivas do superego e as demandas da vida real do m undo exterior. Se a casta Jane se sentir atraída por John, ela pode satisfazer tan to o id quanto o superego com o, por exemplo, entrando para um a organização volun tária da qual John participa regularmente. Desenvolvimento da Personalidade A análise das histórias de seus pacientes convenceu Freud de que a personalidade se forma durante os primeiros anos de vida. Ele concluiu que as crianças passam por um a série de fases psi cossexuais, durante as quais as energias do id que buscam o prazer ficam concentradas em áreas distintas do corpo sensíveis ao prazer denominadas zonas erógenas (TABELA 13.1). Freud acreditava que, durante a fa se fá lica , os m eninos buscam a estim ulação genital e desenvolvem tan to desejo sexual inconsciente pela m ãe quanto ciúm e e ódio pelo pai, a quem consideram rivais. Devido a esses sentim entos, os m eninos supostam ente tam bém sentem culpa e um medo oculto da punição, talvez por castração, de parte do pai. Freud deu a esse conjunto de sentim entos a denom inação com plexo de Édipo — segundo a lenda grega de Édipo, que, sem saber, m atou o pai e casou-se com a mãe. Alguns psicanalis tas acreditam que as meninas sofrem de um com plexo para lelo cham ado complexo de Electra. As Fases Psicossexuais de Freud Fase Foco Oral (0-18 meses) Prazer centralizado na boca - sugar, morder, mastigar Anal (18-36 meses) Prazer voltado para aliviar os intestinos e a bexiga; enfrentamento de demandas pelo controle Fálica (3-6 anos) Zona de prazer nos genitais; lidando comsentimentos sexuais incestuosos Latência Sentimentos sexuais latentes (6 anos - puberdade)"Sei como é difícil para você botar comida na sua família." Genital Maturação dos interesses sexuais (puberdade em diante) As crianças acabam por enfrentar esses sentimentos am ea çadores, disse Freud, reprim indo-os e tentando se identificar (tentando ser parecidas) com o genitor rival. É com o se algo dentro da criança decidisse: “Se você não pode vencê-lo (o genitor do m esm o sexo), junte-se a ele.” Por esse processo de identificação, o superego das crianças ganha força, à medida que elas incorporam m uitos dos valores dos pais. Freud acre ditava que a identificação com o genitor do m esm o sexo for necia o que os psicólogos hoje cham am de identidade degen ero — nosso senso de ser m acho ou fêmea. Freud supôs que as relações que estabelecemos na prim eira infância — especial m ente com pais e cuidadores — influenciam o desenvolvi m ento de nossa identidade, personalidade e fragilidades. Na perspectiva de Freud, os conflitos não resolvidos durante as fases iniciais da psicossexualidade podem vir à ton a na form a de com portam ento desadaptado no adulto. Em qual quer ponto das fases oral, anal ou fálica, o conflito forte pode bloquear, ou fixar, as energias da pessoa na busca do prazer naquela fase. Por exemplo, Freud acreditava que as pessoas supersatisfeitas ou privadas oralm ente (por desmame precoce ou abrupto) podem se fixar na fase oral. Os adultos com fixa ção na fase oral podem, segundo ele, exibir ou um a depen dência passiva (com o a de um bebê em am am entação) ou u m a negação exagerada dessa dependência — agindo com dureza ou exibindo um sarcasm o mordaz. O u podem ainda continuar buscando gratificação oral no fum ar ou com er em excesso. Dessa m aneira, sugeriu Freud, a personalidade se form a em tenra idade. fases psicossexuais as fases de desenvo lv im ento in fan til (oral, anal, fálica, la tência, gen ita l) durante as quais, de acordo com Freud, as energias que buscam satisfazer o prazer do id concentram -se em zonas erógenas distintas. com plexo de Édipo de acordo com Freud, o desejo sexual do filh o pela mãe e os sentim entos de ciúmes e ó d io pe lo pai rival. id en tificação o processo segundo o qual, de acordo com Freud, as crianças incorporam os valores dos pais no desenvo lv im ento de superegos. fixação de acordo com Freud, foco constante de energias que buscam o prazer em uma fase psicossexual anterior, na qual os con flito s não foram resolvidos. Mecanismos de Defesa 2 : Como Freud achava que as pessoas se defendiam contra a angústia? Freud afirm ou que a angústia é o preço que pagam os pela entrada na civilização. Na condição de membros de grupos sociais, devemos controlar nossos impulsos sexuais agressi vos e não os realizar. Mas às vezes o ego tem e perder o con trole dessa guerra interna entre as demandas do id e as do superego, e o resultado é a nuvem escura da ansiedade des focada, que nos deixa inquietos m as sem saber o porquê. Freud propôs que o ego se protege com mecanismos de defesa. Essas táticas reduzem ou redirecionam a angústia de várias formas, mas sempre distorcendo a realidade. Eis aqui sete exemplos. • O recalque expulsa da consciência os pensam entos e os sentim entos que despertam angústia. Segundo Freud, o recalque é a base de todos os outros m ecan ism os de defesa, cada um dos quais disfarça os impulsos am eaçadores e os impede de alcançar a consciência. Freud acreditava que o recalque explica por que não nos lem bramos do desejo que sentíam os na infância pelo genitor do outro sexo. Contudo, tam bém defendia que o recalque é com frequência incom pleto, que os impulsos recalcados transbordam pela simbologia dos sonhos e pelo ato falho. • A regressão nos permite retroceder a um a fase de desenvolvimento anterior e mais infantil. Assim, quando enfrenta os angustiantes primeiros dias de escola, um a criança pode regredir ao conforto oral de chupar o dedo. Os m acacos jovens, quando ansiosos, retrocedem à fase infantil de se agarrarem à m ãe ou uns aos outros (Suom i, 1 9 8 7 ). M esmo os calouros universitário podem ansiar pela segurança e pelo conforto de casa. • Na form ação reativa, o ego inconscientem ente faz os impulsos inaceitáveis parecerem seus opostos. A cam inho da consciência, a proposição inaceitável “Eu o odeio” torna-se “Eu o am o”. A timidez torna-se ousadia. Os sentim entos de inadequação tornam -se fanfarronices. • A projeção disfarça os impulsos ameaçadores, atribuindo-os aos outros. Assim, “Ele não confia em m im ” pode ser a projeção do verdadeiro sentim ento “Eu não confio nele” ou “Eu não confio em m im m esm o”. Um ditado salvadorenho capta a ideia: “O ladrão acha que todo m undo é ladrão.” • A racionalização ocorre quando inconscientem ente geramos explicações autojustificadas para esconder de nós mesm os os verdadeiros motivos de nossas ações. Assim, os bebedores habituais podem dizer que bebem com os amigos “apenas para serem sociáveis”. Estudantes que não conseguem estudar podem racionalizar: “Só o trabalho sem lazer torna João [ou Joana] um a pessoa sem graça.” m ecanism os de defesa na teoria psicanalítica, os m étodos de p ro teção ao ego que reduzem a angústia d is to rcendo inconscientem ente a realidade. recalque na teo ria psicanalítica, o m ecanism o de defesa básico que tira da consciência pensamentos, sentim entos e m em órias que geram angústia. regressão m ecanism o de defesa psicanalítica em que um ind ivíduo, d ian te de situações angustiantes, regride para uma fase psicossexual mais in fantil, em que parte da energia psíquica perm anece fixada. fo rm ação reativa m ecanism o de defesa psicanalítica em que o ego inconscien tem ente transform a im pulsos inaceitáveis em seus opostos. Assim, as pessoas podem expressar sentim entos que são opostos aos sentim entos inconscientes que geram a angústia. p ro jeção m ecanism o de defesa psicanalítica em que as pessoas disfarçam seus p róprios im pulsos am eaçadores a tribu indo -os a terceiros. rac ionalização m ecanism o de defesa que oferece explicações au to justificadas em lugar dos verdadeiros m otivos inconscientes e mais am eaçadores das nossas ações. "A dama protesta demais, penso eu.” William Shakespeare, Hamlet, 160G • O deslocamento, de acordo com Freud, desvia os impulsos sexuais ou agressivos da pessoa para um objeto ou pessoa que é psicologicamente mais aceitável do que aquela que despertou os sentim entos. Crianças que tem em expressar raiva contra os pais podem deslocar essa raiva chutando o anim al de estim ação da família. Estudantes contrariados com o resultado de um a prova podem descontar no colega. • A negação protege a pessoa contra eventos reais excessivamente dolorosos para serem aceitos, pela rejeição de determinado fato ou de sua gravidade. Pacientes à beira da m orte podem negar a gravidade da própria doença. Os pais podem negar o com portam ento desviante do filho. Cônjuges podem negar provas de que estão sendo traídos. Observe que todos esses m ecanism os de defesa funcionam indiretam ente e inconscientem ente, reduzindo a angústia ao disfarçar nossos impulsos ameaçadores. Assim com o o corpo inconscientem ente se defende contra as doenças, da mesm a m an eira , acred itava Freud, o ego in co n scien tem en te se defende contra a angústia. des locam ento m ecanism o de defesa psicanalítica que transform a im pulsos sexuais ou agressivos em relação a um ob je to ou pessoa mais aceitáveis ou menos ameaçadores, com o acontece quando red irecionam os a raiva para um canal mais seguro. negação m ecanismo de defesa no qual as pessoas se recusam a acred ita r ou mesmo a perceber realidades dolorosas. inconscien te co le tivo conce ito de Carl Jung de reservatório com partilhado e he red itá rio de traços de m em ória dah istória da nossa espécie. teste p ro je tiv o teste de personalidade, com o o de Rorschach ou TAT, que fornece estím ulos am bíguos criados para gerar pro jeções da dinâm ica in terna do indivíduo. Teste de Apercepção Tem ática (TAT) Teste p ro je tivo em que as pessoas expressam seus sentim entos e interesses pessoais por m eio das h istórias que criam sobre cenas ambíguas. “A m u lh er... reconhece □ fato de sua castração e, com isso, a superioridade do homem e sua própria inferioridade; mas ela se rebela contra essa situação indesejada." Sigmund Freud, Sexualidade Feminina, 1931 ANTES DE PROSSEGUIR... >- P ergunte a Si M esmo Como você descreveria a sua personalidade? Que características formam padrões típicos que refletem sua forma de pensar, sentir e agir? > Teste a Sí Mesm o 1 Quais são alguns mecanismos de defesa importantes, de acordo com Freud, e contra o que eles atuam? As respostas às questões Teste a Si Mesmo podem ser encontradas no Apêndice B, no final do livro. Os Teóricos Neofreudianos e Psicodinâmicos 3 : Quais das ideias de Freud foram aceitas ou rejeitadas por seus seguidores? Os escritos de Freud eram controversos, mas logo atraíram seguidores, em sua m aioria médicos jovens e ambiciosos que form aram um círculo em torn o do seu líder voluntarista. Esses psicanalistas pioneiros e outros, a quem agora ch am a mos neofreudianos, aceitavam as ideias básicas de Freud: as estruturas do id, ego e superego da personalidade; a im por tân cia do in con scien te; a form ação da personalidade na infância; e a dinâm ica da angústia e dos m ecanism os de defesa. Mas se afastavam das ideias de Freud em duas ques tões im portantes. Em primeiro lugar, davam m aior ênfase ao papel da m ente consciente quanto à interpretação da expe riência e à relação com o ambiente. Em segundo, questiona vam se o sexo e a agressão seriam m otivações monopoliza- doras. Em vez disso, destacavam m otivações mais nobres e as interações sociais. Os exemplos a seguir ilustram essas tendências. Alfred Adler e Karen Horney concordavam com Freud que a infância é im portante. Mas acreditavam que as tensões sociais, e não as tensões sexuais, da infância são cruciais para a form ação da personalidade (Ferguson, 2 0 0 3 ) . O próprio Adler (que propôs a ideia ainda popular de complexo de infe rioridade) lutou para vencer as doenças e os seus acidentes da infância, e afirmava que m uito do nosso com portam ento é induzido por esforços para superar os sentim entos de infe rioridade da infância, sentimentos que acionam nossos esfor ços em busca de superioridade e poder. Horney afirmou que a angústia da infância, causada pelo senso de desam paro, provoca nosso desejo de am or e segurança. Karen H orney opôs-se às suposições de Freud de que as mulheres têm supe rego fraco e sofrem “inveja do pênis”, e ten tou equilibrar o viés que detectou nessa visão m asculina da psicologia. D iferentem ente de outros neofreudianos, Carl Jung — o discípulo de Freud que se tornou dissidente — atribuiu m enor ênfase aos fatores sociais e con cord ou com Freud que o inconsciente exerce um a influência poderosa. Mas, para Jung, o inconsciente contém mais do que nossos pensam entos e sentim entos recalcados. Ele sustentava que éram os, tam bém , dotados de um inconsciente coletivo, um reservatório com um de imagens derivadas das experiências universais da nossa espécie. Jung afirmou que o inconsciente coletivo expli cava por que, para muitas pessoas, as preocupações espiritu ais são profundam ente arraigadas e por que pessoas em dife rentes culturas com partilham certos m itos e im agens, tal com o a m ãe com o símbolo de nutrição. (O s psicólogos atu ais rejeitam a ideia de experiências herdadas. M uitos acredi tam , porém, que nossa história evolucionista com partilhada m oldou algumas disposições universais.) Freud m orreu em 1 9 3 9 . Desde en tão, algumas de suas ideias foram incorporadas à teoria psicodinâm ica. “A m aioria dos teóricos e terapeutas contem porâneos não com partilha a ideia de que o sexo é a base da personalidade”, observa Drew W esten (1 9 9 6 ) . Eles “não falam sobre ids e egos, e não andam por aí classificando seus pacientes com o personalidades orais, anais ou fálicas”. O que adm item , tal com o Freud, é que m uito de nossa vida m ental é inconsciente, que, com fre quência, lutam os com conflitos internos entre nossos dese jos, nossos medos e nossos valores e que a infância molda nossa personalidade e nossos modos de nos ligarmos às outras pessoas. Avaliando os Processos Inconscientes 4 : O que são testes projetivos, e como são usados? As ferram entas de avaliação da personalidade são úteis para os estudiosos da personalidade ou terapeutas. Essas ferra m entas diferem porque são adaptadas a teorias específicas. Com o os clínicos que trabalham segundo a tradição freudiana tentam avaliar as características da personalidade? A primeira exigência seria ter um a espécie de estrada para o inconsciente, para identificar rem iniscências de experiên cias da primeira infância — algo que vai além da superfície e revela conflitos e impulsos ocultos. (Lembre-se de que Freud acreditava que a associação livre e a interpretação de sonhos podiam revelar o inconsciente.) Os psicanalistas descartam as ferram entas de avaliação objetiva, tais com o questionários do tipo concordo-discordo ou falso-verdadeiro, pois consi deram que elas m eram ente tocam a superfície consciente. Os testes projetivos visam a fornecer esse “raio-X psico lógico” ao apresentar um estímulo ambíguo e, depois, soli citar aos participantes que o descrevam ou que contem um a história sobre ele. Henry M urray introduziu o Teste de Aper- cepção Temática (TAT), no qual as pessoas viam quadros com figuras ambíguas e depois construíam histórias sobre elas (FIGURA 1 3 .2 ). Um uso da narração de histórias tem sido avaliar a m otivação de realização. Ao observar um jovem em devaneio, aqueles que im aginam o que ele está fan ta siando sobre um a realização é visto com o projetando seus próprios objetivos. Teste de Rorschach O teste projetivo mais amplamente utilizado — um conjunto de 10 pranchas com borrões de tin ta criado por Hermann Rorschach; busca identificar os sentimentos das pessoas por meio da análise de suas interpretações desses borrões. “0 Teste de Rorschach está totalm ente desacreditado... Eu o chamo de 'Drácula' dos testes psicológicos, porque ninguém conseguiu ainda cravar uma estaca no coração dessa maldição.” Carol Travis, "Mind Games: Psychological Warfare Between Therapists and Scientists", 2003 O teste mais usado e mais conhecido é o teste Rorschach, em que as pessoas descrevem o que veem em um a série de pranchas com borrões de tinta (FIGURA 1 3 .3 ). O psiquia tra suíço H erm ann Rorschach elaborou-o a partir de um jogo infantil em que ele e os colegas jogavam tinta sobre o papel, dobravam-no e depois contavam o que viam na m ancha resul tante (Sdorow, 2 0 0 5 ) . Você vê animais predadores ou armas? O exam inador pode deduzir que tem os tendências à agressi vidade. Mas será essa suposição razoável? As respostas dos clínicos e críticos diferem. Alguns clíni cos apreciam o Rorschach, oferecendo até m esm o avaliações nele baseadas a juizes sobre o potencial de violência de cri m inosos. O utros o consideram um a ferram enta de diagnós tico, um a fonte de orientações sugestivas, um meio de que brar o gelo inicial de um tratam ento ou ainda um a técnica de entrevista reveladora. A Sociedade de Avaliação da Perso nalidade (2 0 0 5 ) recom enda o “uso responsável” do teste (que não incluiria inferir abuso sexual infantil no passado). E, em resposta às críticas passadas de resultados e interpretações dos testes (Sechrest et al., 1 9 9 8 ), foi desenvolvida um a fer ram enta de codificação e interpretação, assistida por com pu tador e baseadaem pesquisa, que almeja m elhorar a con cor dância entre os avaliadores e aum entar a validade do teste (Erdberg, 1 990 ; Exner, 2 0 0 3 ) . Mas a evidência é insuficiente para os críticos, que insis tem que o teste de Rorschach não é um a ressonância m agné tica em ocional. Eles argum entam que som ente poucas das muitas avaliações derivadas do teste, tais com o as de hostili "Nós não vemos as coisas como elas são; vemos as coisas como somos." □ Talmude > F IG U R A 13.2 Teste TAT O psicólogo pressupõe que as esperanças, os medos e os interesses expressos por este menino nas descrições de uma série de quadros com imagens ambíguas no Teste de Apercepção Temática (TAT) são projeções de seus sentimentos mais íntimos. > F IG U R A 13.3 O Teste de Rorschach Nesse teste projetivo, as pessoas dizem o que veem em uma série de pranchas com borrões de tinta simétricos. Alguns que usam esse teste confiam que a interpretação de estímulos ambíguos revelará aspectos inconscientes da personalidade do participante. Outros o usam para quebrar o gelo inicial de uma terapia ou para completar outras informações. dade e ansiedade, dem onstraram ser válidas (W ood, 2 0 0 6 ) . Além disso, esses críticos afirmam que os testes não são con fiáveis. As avaliações de borrões de tinta diagnosticam muitos adultos normais com o patológicos (W ood et al., 2 0 0 3 , 2 0 0 6 ) . Técnicas alternativas de avaliação projetiva têm resultados pouco melhores. “Mesmo os profissionais mais experientes”, alertaram Scott Lilienfeld, James Wood e Howard Garb (2 0 0 1 ) , “podem ser enganados pela intuição e confiança em ferra m en tas que n ão ap resen tam forte evidência de eficácia. Quando um substancial corpo de pesquisa dem onstra que as velhas intuições estão erradas, está na hora de adotar novas maneiras de pensar”. O próprio Freud provavelmente se sen tiria desconfortável em tentar diagnosticar pacientes com base em testes e se m ostraria mais interessado nas interações tera- peuta-paciente que acontecem durante a aplicação do teste. Avaliando a Perspectiva Psicanalítica Evidências Contraditórias das Pesquisas Modernas 5.* Qual a visão dos psicólogos contemporâneos sobre Freud e o inconsciente? Criticam os Freud a partir de um a perspectiva do início do século XXI, um a perspectiva que por si só está sujeita a revi são. Freud não tinha acesso às pesquisas sobre neurotrans missores ou DNA, ou a tudo que aprendem os desde então sobre o desenvolvimento, o pensam ento e as em oções das pessoas. Assim, dizem os admiradores de Freud, criticar suas teorias com parando-as com os conceitos atuais é com o co m parar o Modelo T, de Henry Ford, com os carros híbridos atu ais. (C om o é tentador julgar as pessoas no passado a partir de nossa perspectiva no presente.) Mas tanto os admiradores quanto os críticos de Freud con cordam que a pesquisa recente contradiz m uitas de suas ideias específicas. Os psicólogos do desenvolvimento consideram nosso desenvolvimento contínuo, não fixado na infância. Eles duvidam que as redes neurais dos bebês estejam am adureci das o suficiente para sustentar o traum a em ocional previsto por Freud. Alguns pensam que Freud superestimou a influência parental e subestim ou a influência (e o abuso) dos pares. Também questionam a ideia de Freud de que a consciência e a identidade de gênero se form am enquanto a criança resolve o complexo de Edipo aos 5 ou 6 anos. Form am os nossa iden tidade sexual mais cedo e nos tornam os fortem ente m asculi nos ou femininos mesmo sem a presença do genitor do mesmo sexo. As ideias de Freud sobre a sexualidade infantil originam- se de seu ceticism o em relação às histórias de abuso sexual infantil contadas por suas pacientes — histórias que alguns estudiosos acreditam que ele atribuiu aos seus próprios dese jos sexuais infantis e conflitos (Esterson, 2 0 0 1 ; Powell e Boer, 1 9 9 4 ). Hoje, entendemos com o o questionamento de Freud pode ter criado falsas m em órias, e tam bém sabemos que o abuso sexual na infância de fato ocorre. C om o vim os no Capítulo 3, novas explicações para os sonhos disputam com a crença de Freud de que eles disfar çam e realizam os desejos. E os atos falhos podem ser expli cados com o com petição entre escolhas verbais semelhantes em nossa rede de m em ória. Alguém que diz “N ão quero fazer isso — é muito am orrecido” pode estar simplesmente m istu rando am olação com aborrecido (Foss e Hakes, 1 9 7 8 ). Os pes quisadores encontram pouco apoio para a ideia de Freud de que os m ecanism os de defesa disfarçam a agressividade e os impulsos sexuais (em bora nossa ginástica cognitiva realmente trabalhe para proteger nossa autoestim a). A história não apoia outra das ideias de Freud — a ideia de que o recalque dos con teúdos sexuais causa transtornos psicológicos. Desde o tempo de Freud até o nosso, a repressão sexual diminuiu; os trans tornos psicológicos não. “Muitos aspectos da teoria freudiana estão de fato desatualizados, e deveriam estar: Freud faleceu em 1939, e resistiu à realização de revisões m ais abrangentes.” Drew Westen, psicólogo (1998) “Por sete anos e meio, trabalhei junto com o Presidente Reagan. Fizemos avanços. Cometemos erros. Tivemos sexo... ops... retrocessos." George W. Bush, 190B “Lembro perfeitam ente do seu nome, mas não consigo lem brar do seu rosto." W.A. Spooner, 1044-1930, professor de Oxford, famoso por seus lapsos lingüísticos (spoonerismosj O Recalque É um Mito? Toda a teoria psicanalítica baseia-se na suposição de Freud de que a m ente hum ana com frequência recalca as experiências dolorosas, banindo-as para o inconsciente, até que ressurjam, com o livros há muito esquecidos em um sótão empoeirado. Se recuperarm os e resolvermos as lem branças dolorosamente recalcadas de nossa infância, a cura emocional virá em seguida. Sob a influência de Freud, o recalque tornou-se um conceito am plam ente aceito, usado para explicar fenômenos hipnóti cos e os transtornos psicológicos. Os seguidores de Freud se valem do recalque para explicar lem branças aparentem ente perdidas e recuperadas de traum as de infância (Boag, 2 0 0 6 ; Cheit, 1998 ; Erdelyi, 2 0 0 6 ) . Em uma pesquisa, 88% dos estu dantes universitários acreditavam que as experiências dolo rosas eram com um ente empurradas para fora da consciência e para dentro do inconsciente (G arry et al., 1 9 9 4 ). Os pesquisadores contemporâneos reconhecem que às vezes poupamos nossos egos negligenciando informações am eaça doras (G reen et al., 2 0 0 8 ) . Ainda assim, muitos argum entam que o recalque, se vier a ocorrer, é um a resposta m ental rara a um traum a terrível. Elizabeth Loftus (1 9 9 5 ) afirma que “O folclore do recalque é [...] em parte refutado, em parte não testado e, em parte não testável”. Mesmo quem testem unhou o assassinato de um dos pais ou sobreviveu aos cam pos de concentração nazistas guarda as lembranças intactas do hor ror (Helmreich, 1992 , 1994 ; Malmquist, 1986 ; Pennebaker, 1 9 9 0 ). “Dezenas de estudos formais não geraram um único caso convincente de recalque em toda a literatura sobre trau m as”, conclui o pesquisador em personalidade John Kihlstrom (2 0 0 6 ) . O m esm o se aplica à literatura mundial, relata uma equipe de Harvard que ofereceu mil dólares a quem fornecesse um exemplo médico ou m esm o ficcional p ré -1800 de uma pessoa saudável que tenha bloqueado um evento traum ático específico e recuperado-o um ano depois ou mais (Pope et al., 2 0 0 7 ) . Certam ente, se isso ocorresse com m uita frequência, alguém teria percebido. Apesar da grande divulgação, nenhum caso desses foi relatado. (Após a publicação deste trabalho, um a pessoa apresentou um a ópera de 1 7 8 6 em que um a m ulher aparentem ente esquece ter en contrad o o am ante m orto após um duelo [Pettus, 2 0 0 8 ] .) Alguns pesquisadores acreditam que o estresse extrem o e prolongado, tal como o estresse vivido por um a criança que sofreu um a grave agressão, pode prejudicar a m em ória dani ficando o hipocampo (Schacter, 1 9 9 6 ). Mas a realidade bem mais com um é que o alto nível de estresse e os horm ônios associados ao estresse realçam a m em ória (veja o Capítulo 8 ). Na verdade, estupro, tortura e outros eventos traum áti cos perseguem os sobreviventes, que os recordam sem querer. Eles ficam m arcados na alm a. “Você vê os bebês”, disse Sally H. (1 9 7 9 ) , sobrevivente do Holocausto. “Você vê mães gri tando. Vê pessoas enforcadas. Você para e vê aquele rosto lá. É algo que não se esquece.” "As descobertas gerais,., desafiam seriamente a noção psicanalítica clássica do recalque." Yacov Rofé, psicólogo. “Does Repression Exist?" 2000 "Durante o Holocausto, muitas crianças... foram forçadas a suportar o insuportável. Para aqueles que continuam a sofrer a dor ainda está presente, muitos anos depois, tão real quanto no dia em que ocorreu." Eric Zillm er, M olly Harrower, B a rry R itz le r e Robert Archer. The Ouest lo r the N azi Personality, 1995 A Mente Inconsciente Moderna Freud estava certo em pelo m enos um ponto: nós realm ente tem os acesso limitado a tudo que acontece em nossa m ente (Erdelyi, 1 9 8 5 , 1 9 8 8 , 2 0 0 6 ; Kihlstrom, 1 9 9 0 ) . Em experi mentos, as pessoas aprenderam a antecipar em que quadrante na tela do com putador determ inado caractere apareceria, m esm o antes de conseguirem articu lar a regra subjacente (Lewicki, 1 992 , 1 9 9 7 ). Pesquisas confirm am a realidade do ap ren d izad o im p líc ito in con scien te (F letch er et al., 2 0 0 6 ; Fresch e Rünger, 2 0 0 3 ) . Nossa m ente de duas vias ( tw o-track m in d ) abarca um vasto domínio não visível. No entanto, a noção de “iceberg” que os psicólogos pes quisadores têm hoje em dia difere da visão de Freud — tanto que, argum enta Anthony Greenwald (1 9 9 2 ) , chegou a hora de abandonar a visão freudiana do inconsciente. Conform e vimos em capítulos anteriores, m uitos pesquisadores agora consideram o inconsciente não um fom entador de paixões e crítico repressivo, m as um a modalidade do processam ento de inform ação que ocorre sem o nosso conhecim ento. Para esses pesquisadores, o inconsciente envolve • os esquemas que controlam autom aticam ente nossa percepção e nossas interpretações (Capítulo 6 ). • a pré-ativação (prim in g ) por meio de estímulos para os quais não atentam os conscientem ente (Capítulos 6 e 8 ) . • a atividade do hemisfério direito que possibilita à m ão esquerda do paciente que sofreu cisão cerebral executar um a instrução que o paciente não consegue verbalizar (Capítulo 2 ) . • o processam ento paralelo de diferentes aspectos da visão e do pensam ento (Capítulos 6 e 9 ). • as recordações implícitas que operam sem lem brança consciente, m esm o entre aqueles que têm amnésia (Capítulo 8 ). • as em oções que se intensificam instantaneam ente, antes de um a análise consciente (Capítulo 1 2 ). • o autoconceito e os estereótipos que autom ática e inconscientem ente influenciam o m odo com o processamos as inform ações sobre nós mesm os e sobre os outros (Capítulo 1 6 ). Mais do que nos damos conta, voamos no piloto autom á tico. N ossas vidas são conduzidas pelo processam ento da inform ação de form a inconsciente e não visível. Essa com preensão do processam ento inconsciente da inform ação é m ais parecida com a visão pré-freudiana de um a corrente subterrânea de pensam entos da qual as ideias criativas em er gem espontaneam ente (Bargh e Morsella, 2 0 0 8 ) . Pesquisas recentes tam bém fornecem algum apoio para a ideia freudiana dos m ecanism os de defesa (m esm o que não funcione exatam ente com o Freud supôs). Por exemplo, Roy Baumeister e colegas (1 9 9 8 ) descobriram que as pessoas ten dem a ver suas fraquezas e atitudes nos outros, fenôm eno que Freud cham ou de projeção e que os m odernos pesquisa dores cham am de efeito do fa lso consenso, isto é, a tendência a superestim ar a extensão em que os outros com partilham nossas crenças e nossos com p ortam en tos. As pessoas que sonegam impostos ou ultrapassam o limite de velocidade ten dem a achar que muitas outras pessoas fazem o m esm o. As evidências, no entanto, são escassas para outras defesas, tais com o o deslocam ento, que são ligadas à energia instintiva. Existe mais evidência para defesas, tais com o a form ação rea tiva, que defendem a autoestim a. Os m ecanism os de defesa, conclui Baumeister, são m enos motivados pelos impulsos em ebulição que Freud supôs do que pela necessidade de prote ger nossa autoim agem. teoria do gerenciamento do terror teoria da angústia relacionada com a morte; explora as respostas emocionais e comportamentais das pessoas a fatores que lembram sua morte iminente. Finalm ente, a história recente apoia a ideia de Freud de que nós nos defendem os co n tra a angústia. N ovam ente, porém , a ideia contem porânea difere da de Freud. Jeff Gre enberg, Sheldon Solomon e Tom Pyszczynski (1 9 9 7 ) acredi tam que uma fonte de angústia é “o terror resultante da cons ciência que tem os da vulnerabilidade e da m orte”. Mais de 2 0 0 experim entos que testaram sua teoria do gerencia m ento do terror m ostraram que pensar sobre a mortalidade — por exem plo, escrevendo um texto cu rto sobre o ato de m orrer e as emoções associadas — provoca várias defesas para gerenciar o terror. Por exem plo, a angústia com a m orte aum enta o preconceito — desprezo pelos outros e estim a por si m esm o (Koole et al., 2 0 0 6 ) . Diante de um m undo am eaçador, as pessoas agem não só para m elhorar sua própria autoestim a, m as tam bém para aderir m ais fortem ente a um a visão geral que responda a questões sobre o significado da vida. A perspectiva da morte promove sentim entos religiosos, e convicções religiosas pro fundas perm item que as pessoas sejam m enos defensivas — tendam a defender com m enos ênfase suas visões de mundo — quando são lembradas da m orte (Jonas e Fischer, 2 0 0 6 ; Norenzayan e Hansen, 2 0 0 6 ) . Além disso, elas se apegam aos relacionam entos íntimos (M ikulincer et al., 2 0 0 3 ) . Os even tos do 11 de Setembro nos Estados Unidos — um a terrível experiência do terror da m orte — fizeram com que as pessoas que ficaram presas no W orld Trade C enter gastassem seus últimos m om entos ligando para seus entes queridos, e leva ram a m aioria dos n orte-am erican os a en trar em con tato com familiares e amigos. As Ideias de Freud como Teoria Científica Os psicólogos tam bém criticam a teoria de Freud por suas lim itações científicas. Lembre-se, do Capítulo 1, de que boas teorias científicas explicam as observações e oferecem hipó teses que podem ser testadas. As teorias de Freud repousam sobre poucas observações objetivas e oferecem poucas hipó teses para se verificar ou rejeitar. (Para Freud, suas próprias lem branças e interpretações das livres associações, sonhos e atos falhos dos pacientes eram evidências suficientes.) Qual é o problema mais sério com a teoria de Freud? Ela oferece explicações a p osteriori a respeito de qualquer carac terística (do hábito de fum ar em um a pessoa, do medo de cavalos em outra, da orientação sexual em ou tra), porém não pred iz tal com p ortam en to ou tais traços. Se você fica com raiva pela a m orte de sua m ãe, você ilustra a teoria freudiana, porque “as suas necessidades não resolvidas de dependência na infância são am eaçadas”. Se você não fica com raiva, tam bém ilustra a teoria, porque “você está reprimindo sua raiva”. Isso, com o disseram Calvin Hall e Gardner Lindzey (1 9 7 8 , p. 6 8 ) , “é com o apostar em um cavalo depois da corrid a”. Uma boa teoria faz previsões que podem ser testadas. Por tais razões, alguns pesquisadores fazem duras críticas a Freud. Veem Freud e sua teoria com o um edifício em decom posição, construído nosp ântanos de sexualidade infantil, recalque, análise de sonhos e especulação a posteriori. “Quando nos colocam os no lugar de Freud, descobrimos que estam os olhando cada vez mais para a direção errada”, diz John Kihls- trom (1 9 9 7 ) . Para o mais m arcante crítico de Freud, Frede- rick Crews (1 9 9 8 ) , o original sobre as ideias de Freud não é bom, e o que é bom não é original (a m ente inconsciente é uma ideia que rem onta aos tempos de Platão). “Não quero a lc a n ç a r a im ortalid ad e por m eio do meu trab a lh o ; quero s e r im o rta l sem p re c isa r m orrer." Woody Allen “B u squ ei ao Senhor, e Ele m e respondeu, e de todos os m eus tem ores m e livrou." Salmo 34:4 "N ossos arg u m en to s são como os de um hom em que diz: 'Se h o u vesse um gato in v isív e l n a poltrona, esta p a re ce ria v azia ; m as a p o ltron a p arece de fato vazia; p ortanto , tem um gato in v is ív e l nela." C.S. Lewis, FourLoves, 1958 Então, será que a psicologia deve afixar a ordem “Não Res suscitar” sobre essa antiga teoria? Os defensores de Freud con testam. Criticar a teoria freudiana por não fazer predições que possam ser testadas é, dizem eles, com o criticar o beisebol por não ser um esporte aeróbico. É justo culpar algo por não ser aquilo que nunca pretendeu ser? Ao contrário de muitos psi canalistas que o sucederam, Freud nunca declarou que a psi canálise era um a ciência profética. Ele simplesmente declarou que, olhando para trás, os psicanalistas poderiam encontrar significado em nosso estado de espírito (Rieff, 197 9 ). Os defensores de Freud tam bém n otaram que algumas de suas ideias são duradouras. Foi Freud quem cham ou nossa atenção para o inconsciente e para o irracional, para nossas defesas contra a angústia, para a im portância da sexualidade hum ana e para a tensão entre nossos impulsos biológicos e nosso bem -estar social. Foi Freud quem desafiou nossas auto- justificativas, quem puncionou nossas pretensões e nos lem brou do nosso potencial para o mal. N a ciência, o legado de Darwin persiste, e o de Freud vai expirando (Bornstein, 2 0 0 1 ) . Praticam ente 9 entre 10 cursos universitários norte-am ericanos que abordam a psicanálise estão, de acordo com um a pesquisa de âmbito nacional, fora dos departam entos de psicologia (C ohen, 2 0 0 7 ) . Na cultura popular, o legado de Freud continua vivo. Algumas ideias que m uitas pessoas julgam ser verdadeiras — a de que as experi ências na in fân cia m oldam a personalidade, a de que os sonhos têm significados, a de que m uitos com portam entos têm motivações disfarçadas — fazem parte desse legado. Seus conceitos do início do século XX penetraram em nossa lin guagem no século XXL Sem com preender suas fontes, pode mos falar de ego, recalque, projeção, com plexo (com o em “com plexo de inferioridade”), rivalidade entre irm ãos, lapsos de lin guagem e fixação . “As premissas de Freud podem ter passado por um declínio constante de aceitação no m undo acadêmico por m uitos an o s”, notou M artin Seligm an (1 9 9 4 ) , “m as Hollywood, os program as de entrevistas, m uitos terapeutas e o público em geral ainda as apreciam ”. ANTES DE PROSSEGUIR... > Pergunte a Si Mesmo Antes de ler este capítulo, o que você sabia sobre Freud, e quais eram suas impressões sobre ele? Elas mudaram de alguma maneira depois de ler as informações aqui apresentadas? >- Teste a Si M esmo 2 Como a ciência da psicologia atual avalia a teoria de Freud? As respostas às questões Teste a Si Mesmo podem ser encontradas no Apêndice B, no final do livro. A Perspectiva Humanista 6: Como os psicólogos humanistas veem a personalidade, e qual era seu objetivo ao estudar a personalidade? NA DÉCADA DE 1960 , ALGUNS PSICÓLOGOS DA PERSO NALIDADE m ostraram -se insatisfeitos com a negatividade da teoria freudiana e a psicologia m ecanicista do behavio- rism o de B.F. Skinner. Indo em direção contrária à do estudo de Freud sobre motivações básicas de pessoas “doentes”, os psicólogos hum anistas voltaram sua atenção para o modo com o as pessoas “saudáveis” se esforçam por obter autodeterminação e autorrealizacão. Em contraste com a objetividade científica do behaviorismo, eles estudaram as pessoas por meio de suas experiências e sentim entos relatados por elas mesmas. Dois teóricos pioneiros — Abraham Maslow (1 9 0 8 -1 9 7 0 ) e Carl Rogers (1 9 0 2 -1 9 8 7 ) — propuseram a perspectiva de um a terceira fo rça com ênfase no potencial hum ano. autorrealização de acordo com Maslow, uma das necessidades psicológicas essenciais que surge após as necessidades físicas e psicológicas básicas terem sido atendidas e a autoestima ser alcançada; a motivação para realizar o potencial do indivíduo. aceitação positiva incondicional de acordo com Rogers, uma atitude de aceitação total em relação ao outro. Abraham Maslow e a Pessoa Autorrealizada Maslow propôs que somos motivados por um a hierarquia de necessidades (Capítulo 11). Se nossas necessidades fisiológicas são atendidas, ficamos preocupados com segurança pessoal; se atingimos um senso de segurança, buscamos então amar, ser amados e am ar a nós mesmos; com nossas necessidades de am or satisfeitas, buscamos autoestima. Tendo alcançado a autoestima, finalmente buscamos a autorrealização (o pro cesso de realizar nosso potencial) e de autotranscendência (sig nificado, propósito e com unhão para além do eu). Maslow (1 9 7 0 ) desenvolveu suas ideias estudando pessoas saudáveis e criativas em vez de casos clínicos complicados. Ele baseou sua descrição de autorrealização em um estudo de pessoas que pareciam notáveis por terem levado um a vida rica e produtiva — entre eles Abraham Lincoln, Thomas Jeffer- son e Eleanor Roosevelt. M aslow relatou que essas pessoas tinh am em com um certas características: aceitavam -se tal com o eram e tinham consciência de si mesm as; eram fran cas e espontâneas, afetuosas e solícitas e não se deixavam afetar pela opinião dos outros. Seguras por saberem quem eram , seus interesses eram centrados nos problemas, e não em si m esm as. Elas con cen travam suas energias em um a determ inada tarefa, a qual viam com o sua missão na vida. A m aioria desfrutava de poucos relacionam entos íntim os em vez de m uitos relacionam entos superficiais. M uitas foram movidas por grandes experiências pessoais ou espirituais que vão além da consciência com um . Essas, segundo Maslow, são qualidades adultas maduras, qualidades que se encontram nas pessoas que aprenderam o suficiente sobre a vida para serem compassivas, para terem superado seus sentimentos confusos em relação aos pais, para terem descoberto sua vocação, para terem “adquirido cora gem bastante para serem impopulares, para não se envergo nharem de serem abertam ente virtuosas etc.". O trabalho de M aslow com estudantes universitários o levou a especular que aqueles propensos a se torn ar adultos autorrealizados eram simpáticos, solícitos, “particularm ente afetuosos com os mais idosos que m erecem seu afeto” e “preocupados com a crueldade, a malvadeza e o espírito de gangue encontrados com tan ta frequência entre as pessoas jovens”. Carl Rogers e a Perspectiva Centrada na Pessoa O psicólogo hum anista Carl Rogers estava de acordo com mui tos dos pensamentos de Maslow. Rogers acreditava que as pes soas são basicamente boas e dotadas de tendências para a autor realização. A não ser que estejamos em um ambiente que iniba o crescimento, cada um de nós é com o um broto pequenino, pronto para o crescim ento e para a realização. Rogers (1 9 8 0 ) acreditava que um clima favorável ao crescimento exigia três condições: autenticidade, aceitação e empatia. Segundo Rogers, as pessoas nutrem nosso crescimento com auten ticidade - sendo francas em seus sentim entos, retirando as m áscaras e sendo transparentes e reveladoras. As pessoas tam bém nutrem o crescimento com aceitação — oferecendo-nos o que Rogers cham ou de aceitação posi tiva incondicional. Essa é um a atitude de benevolência, uma atitude que nos valoriza m esm o tendo con hecim en to dos nossos defeitos. É um alívio profundo deixar nossos disfarces caírem , confessar nossos piores sentim entos e descobrir que ainda somos aceitos. Esperamos desfrutar dessa experiência gratificante em um bom casam ento, em um a família unida ou em um a amizade ín tim a na qual não sentim os m ais a necessidade de nos explicar. No m elhor dos relacionam en tos, estam os livres para ser espontâneos sem receio de perder a estima do outro. Finalmente, as pessoas nutrem o crescim ento com em pa tia — com partilhando e espelhando nossos sentim entos e refletindo nossos significados. “R aram ente ouvim os com compreensão sincera e verdadeira empatia”, disse Rogers. “No en tan to , ouvir, nessa condição especial, é um a das forças mais potentes para a m udança que eu con heço.” Para Rogers, autenticidade, aceitação e empatia são a água, o sol e os nutrientes que possibilitam às pessoas crescerem com o vigorosos carvalhos, pois, “na medida em que são acei tas e valorizadas, as pessoas tendem a desenvolver um a ati tude mais favorável em relação a si m esm as” (Rogers, 1980 , p. 116). Na medida em que as pessoas são ouvidas com empa tia, “torna-se possível para elas escutar com mais precisão o fluxo das experiências interiores”. O escritor Calvin Trillin (2 0 0 6 ) recorda um exemplo de autenticidade e aceitação parental em um acam pam ento para crianças com transtornos graves, onde sua esposa, Alice, tra balhava. L., um a “criança m ágica”, sofria de um transtorno genético que a obrigava a se alim entar através de um tubo e a cam inhar com m uita dificuldade. Alice recorda, Um dia, quando estávamos brincando de lenço atrás, eu estava sentada atrás dela e ela me pediu para segurar sua correspondên cia enquanto era a vez dela de ser perseguida em torno do círculo. Levou algum tempo para que ela completasse o circuito e eu pude ver que por cima da pilha de correspondência estava uma bilhete de sua mãe. Então, fiz um a coisa terrível... Sim plesmente não resisti, tinha que saber o que os pais dessa criança poderiam ter feito para que ela fosse tão espetacular, para que se tornasse o ser hum ano mais entusiasmado, otim ista e esperançoso que eu já tinha visto. Dei uma olhada no bilhete e meus olhos caíram na seguinte frase: “Se Deus nos tivesse oferecido todas as crianças do mundo para escolher, L., nós escolheríam os apenas você.” Antes de L. voltar ao lugar dela no círculo, mostrei o bilhete para Bud, que estava sentado do meu lado. “Rápido, leia isto”, eu sus surrei, “é o segredo da vida”. Maslow e Rogers teriam sorrido sabiamente. Para eles, a característica central da personalidade é o autoconceito — todos os pensam entos e sentim entos que tem os em resposta à pergunta “Q uem sou eu?”. Se nosso autoconceito for posi tivo, tendem os a agir e a ver o m undo positivamente. Se for negativo — se aos nossos olhos estivermos m uito longe do nosso eu ideal —, disse Rogers, sentim o-nos insatisfeitos e infelizes. Um objetivo valioso para terapeutas, pais, profes sores e amigos é, portanto, segundo ele, ajudar os outros a se conhecer, a se aceitar e a ser verdadeiros consigo mesmos. Avaliando o Self 7 : Como os psicólogos humanistas avaliaram o sentido do self? Os psicólogos hum anistas algumas vezes investigaram a per sonalidade pedindo às pessoas que respondessem a questio nários para avaliar seu autoconceito. Um questionário, ins pirado por Carl Rogers, pedia que elas se descrevessem com o realm ente eram e com o gostariam de ser. Q uando o self ideal e o self real são muito parecidos, disse Rogers, o autoconceito é positivo. Q uando avaliava o crescim ento pessoal de seus pacientes durante a terapia, ele procurava classificações suces sivamente mais próxim as entre o self real e o self ideal. Alguns psicólogos hum anistas acreditavam que qualquer avaliação padronizada da personalidade até um questionário, é “despersonalizante”. Em vez de forçar a pessoa a responder a categorias restritas, esses psicólogos consideram que entre vistas e conversas íntim as possibilitam um a com preensão m elhor das experiências únicas de cada pessoa. Avaliando a Perspectiva Humanista 8 : Como a perspectiva humanista influenciou a psicologia? Que críticas ela enfrentou? Algo que se diz a respeito de Freud tam bém pode ser dito sobre os psicólogos hum anistas: seu impacto tem sido generalizado. As ideias de Maslow e de Rogers influenciaram o aconselha m ento, a educação, a criação das crianças e a administração. au toconce ito todos os nossos pensam entos e sentim entos, em resposta à pergunta: “ quem sou eu?” Eles tam bém influenciaram — às vezes de modo não inten cional — m uito da psicologia popular de hoje. Um autocon ceito positivo é a chave para a felicidade e o sucesso? A acei tação e a empatia ajudam a nutrir sentimentos positivos sobre si m esm o? As pessoas são basicam ente boas e capazes de se aperfeiçoar? Muitas pessoas respondem sim, sim e sim. Res pondendo a um a pesquisa de opinião do Instituto Gallup e da N ewsweek feita em 1992 , 9 em 10 norte-am ericanos clas sificaram a autoestima com o um fator muito im portante para “m otivar um a pessoa a trabalhar com afinco e ser bem -suce dida". A mensagem da psicologia hum anista foi ouvida. A proem inência da perspectiva hum anista desencadeou um a onda de críticas. Prim eiro, disseram os críticos, seus conceitos são vagos e subjetivos. Considere a descrição de Maslow de pessoas autorrealizadas com o francas, espontâ neas, afetuosas, com autoaceitação e produtivas. Essa é um a descrição científica? Não será apenas um a descrição dos ide ais e valores pessoais de Maslow? Maslow, observou M. Brews- ter Smith (1 9 7 8 ) , ofereceu impressões de seus heróis pesso ais. Imagine outro teórico que tivesse um grupo diferente de heróis — talvez N apoleão, John D. Rockefeller e o ex-vice- presidente dos EUA Dick Cheney. Esse teórico provavelmente descreveria as pessoas autorrealizadas com o “não coibidas pelas necessidades dos outros”, “motivadas pela realização” e “obcecadas pelo poder”. Os críticos tam bém se opuseram à ideia de Carl Rogers de que “a única pergunta que im porta é: ‘Estou vivendo de um modo que é profundam ente gratificante para m im e que real m ente m e expressa?’” (citado por W allach e W allach, 1 9 8 5 ). O individualismo incentivado pela psicologia hum anista — confiar e agir de acordo com os próprios sentim entos, ser verdadeiro consigo mesmo, satisfazer a si mesmo — pode levar à satisfação excessiva dos próprios desejos, ao egoísmo e à erosão das restrições m orais (C am pbell e Specht, 1 9 8 5 ; W allach e W allach, 1 9 8 3 ). De fato, são aqueles que olham para além de si m esm os que estão mais propensos a vivenciar o apoio social, a desfrutar da vida e a enfrentar o estresse do m odo eficaz (Crandall, 1 9 8 4 ). Os psicólogos hum anistas co n tra-argu m en taram que o prim eiro passo para am ar os outros é, na verdade, um a auto aceitação segura e não defensiva. De fato, pessoas que se sen tem intrinsecam ente amadas e aceitas — pelo que são, e não apenas por suas realizações — exibem atitudes m enos defen sivas (Schimel et al., 2 0 0 1 ) . Um a derradeira acusação feita contra a psicologia hum a nista é que ela não leva em con ta a realidade da nossa capa cidade hum ana para o mal. Diante do aquecim ento global, da superpopulação do planeta e da expansão das arm as nucle ares, podemos ficar apáticos diante de duas possibilidades: o otim ism o ingênuo que nega a am eaça ( “As pessoas são basi cam ente boas; tudo será resolvido” ) e o desespero sombrio ( “N ão há esperança; por que ten tar?”). A ação requer rea lismo suficiente para fom entar preocupação e otimismo sufi ciente parafornecer esperança. A psicologia hum anista, dizem os críticos, incentiva a esperança necessária, mas não o rea lismo igualmente necessário acerca do mal. ANTES DE PROSSEGUIR... > Pergunte a Si Mesmo Você já teve aiguém na vida que o aceitou incondicionalmente? Você acha que essa pessoa o ajudou a se conhecer melhor e a desenvolver uma imagem melhor de si mesmo? > Teste a Si Mesmo 3 O que significa ter “empatia”? Ser “autorrealizado"? As respostas às questões Teste a Si Mesmo podem ser encontradas no Apêndice B, no final do livro. A Perspectiva do Traço 9 : Como os psicólogos utilizam os traços para descrever a personalidade? Em vez de se concentrar em forças inconscientes e em opor tunidades de crescim ento frustradas, alguns pesquisadores tentam definir a personalidade em term os de padrões de com portam ento estáveis e duradouros, tais com o a lealdade e o otimismo de Sam Gamgee. Essa perspectiva rem onta, em parte, a um encontro extraordinário ocorrido em 1919, quando Gor- don Allport, um curioso estudante de psicologia de 22 anos, entrevistou Freud em Viena. Allport logo descobriu quanto o fundador da psicanálise estava querendo encontrar motivos ocultos, até m esm o em seu com portam ento durante a entre vista. Essa experiência por fim levou Allport a fazer o que Freud não fez: descrever a personalidade em term os de traços fun dam entais — os com portam entos e os motivos conscientes característicos das pessoas (tal com o a curiosidade profissio nal que motivou Allport a ir ao encontro de Freud). Encontrar Freud, disse Allport, "ensinou-m e que ela [a psicanálise], por todos os seus méritos, pode mergulhar muito fundo, e que os psicólogos fariam bem em dar total reconhecim ento aos m oti vos m anifestos antes de sondarem o inconsciente”. Allport veio a definir a personalidade em term os de padrões de com portam ento identificáveis. Ele estava menos preocupado em explicar os traços individuais do que em descrevê-los. C om o Allport, Isabel Briggs Myers (1 9 8 7 ) e sua m ãe, Katharine Briggs, queriam descrever diferenças de persona lidade im portantes. Elas ten taram classificar as pessoas de acordo com os tipos de personalidade propostos por Carl jung, baseados em suas respostas a 12 6 perguntas. O Indica dor de Tipo M yers-Briggs (M BTI), disponível em 21 idiomas, é aplicado a mais de 2 milhões de pessoas por ano, princi palmente para fins de aconselham ento, treinam ento em lide rança e desenvolvimento de equipes de trabalho (CPP, 2 0 0 8 ) . Esse indicador oferece escolhas, tais com o “Você costum a dar mais valor ao sentim ento do que à lógica, ou à lógica mais do que ao sen tim ento?”. Depois con ta as preferências dos participantes e as rotula com o indicando, digamos, um tipo “sentim ental” ou “racional” e as devolve à pessoa em term os acolhedores. Aos tipos sentim entais, por exemplo, é dito que são sensíveis aos valores e “empáticos, apreciativos e gentis”; aos tipos racionais diz-se que “preferem um padrão objetivo da verdade” e que são “bons em análise”. (Todos os tipos têm seus pontos fortes, por isso todo m undo se afirm a.) A m aioria das pessoas concorda com o perfil anunciado do seu tipo. Afinal, ele reflete suas preferências declaradas. Também podem aceitar seus rótulos com o base para parce rias com colegas de trabalho e para a designação de tarefas supostam ente adequadas a seus tem peram entos. Um relató rio am ericano do N ational Research Council, no entanto, observou que, apesar da popularidade do teste nos negócios e orientações de carreira, seu uso inicial ultrapassou as pes quisas por seu valor de previsão de desempenho profissional, e que “a popularidade desse instrum ento na ausência de vali dade científica com provada é problem ática” (D ru ckm an e Bjork, 1991 , p. 101 ; ver tam bém Pittenger, 1 9 9 3 ) . Apesar de as pesquisas sobre o MBTI se acum ularem a p artir dessas advertências, o teste se m antém principalm ente com o um instrum ento de aconselham ento e orientação profissional ( coach in g ), e não de pesquisa. traço um padrão característico de com portam ento ou uma disposição para sentir e agir, con form e avaliado por relatos pessoais e re la tórios de pares. Explorando os Traços Classificar as pessoas com o tendo um ou outro tipo distinto de personalidade não capta plenam ente a individualidade delas. Então, de que outro modo podemos descrever suas per sonalidades? Podem os descrever um a m açã considerando várias dim ensões de traço s — relativam en te grande ou pequena, verm elha ou verde, doce ou ácida. Ao colocar pes soas em várias dimensões de traços sim ultaneam ente, os psi cólogos podem descrever incontáveis variações individuais de personalidade. (Lembre-se, do Capítulo 6, de que varia ções em apenas três dimensões de cores — matiz, saturação e luminosidade — criam muitos milhares de cores.) Quais dimensões de traços descrevem a personalidade? Se você tivesse um encontro m arcado com um desconhecido do sexo oposto, que traços de personalidade poderiam lhe dar um a impressão precisa da pessoa? Allport e seu colega H. S. Odbert (1 9 3 6 ) con taram literalm ente todas as palavras em um dicionário não resumido com as quais se poderia descre ver as pessoas. Q uantas palavras havia no dicionário? Quase 1 8 .0 0 0 ! Com o, então, os terapeutas podem condensar a lista de traços básicos em um núm ero manejável? Ansioso Rigoroso Sóbrio Pessimista Reservado Não social Calado INTROVERTIDO Passivo Cuidadoso Pensativo Pacífico Controlado Confiável INSTÁVEL Temperamental Bem-humorado Calmo ESTÁVEL Sensível Inquieto Agressivo Excitável Volúvel Impulsivo Otimista Ativo ------------EXTROVERTIDO Sociável Despachado Falante Reativo Fácil de lidar Alegre Despreocupado Líder > F IG U R A 13.4 Duas dimensões da personalidade Os cartógrafos podem nos dizer muito sobre o uso de duas coordenadas (norte-sul e leste- oeste). Hans Eysenck e Sybil Eysenck usaram dois fatores primários de personalidade - extroversão-introversão e estabilidade-instabilidade — como coordenadas para descrever a variação de personalidade. As combinações variadas definem outros traços mais específicos. (De Eysenck e Eysenck, 1963.) Análise Fatorial Um m étodo tem sido propor traços, tais com o ansiedade, que algumas teorias consideram básicos. Uma técnica mais recente é a an álise fa to r ia l, o procedim ento estatístico des crito no Capítulo 10 para identificar conjuntos de itens de testes que indicam com ponentes básicos de inteligência (tais com o habilidade espacial ou habilidade verbal). Imagine que pessoas que se descrevem com o sociáveis tam bém tendam a dizer que gostam de agitação, de pregar peças nos outros e que não gostam de ficar lendo em silêncio. Tal conjunto de com portam entos estatisticamente correlacionados reflete um traço, ou fator básico — neste caso, um traço denom inado extroversão. Os psicólogos britânicos Hans Eysenck e Sybil Eysenck acreditam que podemos reduzir muitas de nossas variações individuais norm ais a duas ou três dim ensões, incluindo ex troversão-in troversão e estab ilidade-in stab ilidade em ocional (F IG U R A 1 3 .4 ). O Q uestionário de P ersonalidade de Eysenck foi respondido por pessoas em 35 países em todo o mundo, desde a China até Uganda e Rússia. Quando as respostas das pessoas são analisadas, os fatores extroversão e emotividade inevitavelmente emergem com o dimensões básicas da perso nalidade (Eysenck, 1 990 , 1 9 9 2 ) . Os Eysencks acreditavam que esses fatores são geneticam ente influenciados, e as pes quisas apoiam essa crença. Biologia e Personalidade Exames da atividade cerebral dos extrovertidos som am -se à lista crescente de traços e estados m entais que foram explo rados com procedim entos de im agens do cérebro. (A lista inclui inteligência, impulsividade, vícios, m entira, atração sexual, agressividade,em patia, experiência espiritual e até m esm o atitudes racistas ou políticas [O lson, 2 0 0 5 ] .) Tais estudos indicam que os extrovertidos buscam estímulos por que sua excitação cerebral norm al é relativamente baixa. Exa mes feitos por PET m ostram que um a área do lobo frontal envolvida na inibição do com portam ento é m enos ativa em extrovertidos do que em introvertidos (Johnson et al., 1 9 9 9 ). A dopam ina e a atividade neural ligada à dopam ina tendem a ser mais altas nos extrovertidos (W acker et al., 2 0 0 6 ) . A biologia influencia nossa personalidade tam bém de outras m aneiras. Com o você deve lem brar dos estudos sobre adoção e gêmeos no Capítulo 4, nossos genes têm m uito a dizer sobre o tem peram ento e o estilo de com portam ento que ajudam a definir nossa personalidade. Jerom e Kagan, por exem plo, atribuiu as diferenças de timidez e inibição nas crianças à reatividade do sistem a nervoso au tôn om o delas. Dado um sistem a nervoso au tôn o m o reativo, respondem os ao estresse com m aior ansiedade e inibição. A criança destemida e curiosa pode se tornar um alpinista ou um m otorista que gosta de dirigir em alta velocidade. Samuel Gosling e seus colegas (2 0 0 3 ; Jones e Gosling, 2 0 0 5 ) relatam que as diferenças de personalidade entre cães (em term os de energia, afeto, reatividade e inteligência) são tão evidentes e tão consistentem ente avaliadas quanto as dife renças de personalidade hum anas. M acacos, chim panzés, orangotangos e até m esm o pássaros têm personalidades está veis (W eiss et al., 2 0 0 6 ) . Entre os parídeos (um parente euro peu do chapim n orte-am ericano), pássaros ousados inspecio nam m ais rapidam ente novos objetos e exploram árvores (G roothuis e Carere, 2 0 0 5 ; Verbeek et al., 1 9 9 4 ). Por meio da reprodução seletiva, os pesquisadores podem produzir aves mais ousadas ou mais tímidas. Os dois tipos têm seu lugar na história natural. Nos anos mais difíceis, os pássaros ousados provavelmente encontrarão alimento; nos anos de fartura, os pássaros mais tímidos se alim entarão com menos riscos. Avaliando os Traços 10: O que são inventários de personalidade, e quais são seus pontos fracos e fortes como instrumentos de avaliação de traços? Se traços estáveis e duradouros guiam nossas ações, seria pos sível criar testes válidos e confiáveis desses traços? Existem várias técnicas de avaliação derivadas dos conceitos de traço — algumas mais válidas do que outras (veja a seguir a seção “C om o Ser um Astrólogo ou Q u irom an te de ‘Sucesso’” ). Algumas traçam o perfil dos padrões de com portam ento de um a pessoa quase sempre oferecendo avaliações rápidas de um único traço, tal com o extroversão, ansiedade ou autoes tim a. Os inventários de personalidade — questionários mais longos nos quais as pessoas respondem a itens que abrangem um a vasta gama de sentim entos e com portam en tos — foram criados para avaliar vários traços de um a vez. O inventário clássico de personalidade é o Inventário Multifásico de Personalidade de M innesota (M M PI). Embora avalie tendências “anorm ais” e não os traços nor mais de personalidade, o MMPI ilustra um a boa m aneira de com o desenvolver um inventário de personalidade. Um de seus criadores, Starke H athaw ay ( 1 9 6 0 ) , co m p arou seu esforço ao de Alfred Binet. Binet, com o você deve se lembrar do Capítulo 10, desenvolveu o primeiro teste de inteligência selecionando itens que discrim inavam crianças que teriam problemas em progredir norm alm ente em escolas francesas. Os itens do MMPI tam bém foram obtidos empiricamente. Ou seja, a partir de um amplo conjunto de itens, Hathaway e seus colegas selecionaram aqueles nos quais determinados grupos de diagnósticos diferiam. Depois eles agruparam as perguntas em 10 escalas clínicas, incluindo escalas que ava liavam tendências depressivas, masculinidade-feminilidade e introversão-extroversão. Inicialmente, Hathaway e seus colegas apresentaram cen tenas de declarações do tipo “falso” ou “verdadeiro” ( “N in guém me en ten d e”; “Eu ten h o tod a a com p reen são que m ereço”; “Eu gosto de poesia” ) a grupos de pacientes psico logicam ente perturbados e a pessoas “n orm ais”. Eles retive ram toda e qualquer declaração — por mais tola que pudesse parecer — cuja resposta do grupo de pacientes diferisse das respostas do grupo norm al. “Nada no jornal me interessa, exceto as histórias em quadrinhos” pode parecer insensato, mas acontece que as pessoas deprimidas estavam mais incli nadas a responder “verdadeiro”. (N ão obstante, há quem se divirta ao zombar do MMPI propondo itens com o: “C horar me deixa com lágrim as nos olhos” , “G ritos frenéticos me deixam nervoso” e “Eu fico na banheira até parecer um a uva- passa” [Frankel et al., 1 9 8 3 ] .) O M M PI-2 atual contém tam bém escalas clínicas para avaliar, por exemplo, atitudes no trabalho, problemas familiares e raiva. Em contraste com o caráter subjetivo da m aioria dos tes tes projetivos, preferidos pelos psicanalistas, os inventários de personalidade são pontuados objetivamente — a tal ponto que um com putador pode aplicá-los e corrigi-los. (O co m p utador tam bém pode fornecer descrições de pessoas que deram respostas semelhantes anteriorm ente.) A objetividade, entretanto, não garante a validade. Por exemplo, aqueles que se subm etem ao MMPI com o propósito de conseguir um emprego podem dar respostas socialm ente desejáveis para causar boa impressão. Mas, ao fazer isso, essas pessoas tam bém podem m arcar muitos pontos na escala de m entira , que avalia até que ponto um a pessoa está fingindo para causar boa impressão (ao responder “falso” a afirmativas universal m ente verdadeiras do tipo “Às vezes fico com raiva”). A obje tividade do MMPI contribui para que ele encontre grande aceitação e tenha sido traduzido para mais de cem línguas. inven tá rio de pe rsona lidade um questioná rio (em gerai com opções do t ip o verdadeiro-falso ou concordo- discordo ) em que as pessoas respondem a perguntas criadas para avaliar uma am pla gama de sentim entos e com portam entos; u tilizad o para avaliar traços de personalidade selecionados. Inven tá rio M ultifás ico de Personalidade de M innesota (MMPI) o teste de personalidade mais am plam ente pesquisado e u tilizado na prá tica clínica. O rig ina lm ente desenvolv ido para id en tifica r transto rnos em ocionais (a inda considerado seu uso mais ap rop riado), este teste agora é u tilizado para m uitas outras fina lidades de seleção. teste o b tid o em piricam ente um teste (com o o MMPI) desenvolvido testando-se diversos itens e depois selecionando aqueles que m elhor caracterizam os grupos. Os Cinco Grandes Fatores 11: Que traços parecem fornecer informações mais úteis sobre a variação de personalidade? Os atuais pesquisadores do traço supõem que as primeiras dimensões de traço , tais com o as dim ensões in trovertido/ extrovertido e instável/estável elaboradas por Eysenck, são im portantes, m as não representam todas as dim ensões da personalidade. Um conjunto de fatores levemente ampliado — denom inado os Cinco G randes (B ig Five) — apresenta um resultado mais preciso (C osta e M cCrae, 1 999 ; John e Sri- vastava, 1 9 9 9 ) . Se um teste especifica onde você está nas TABELA 13.2 Os " C inco G randes" Fatores da P ersonalidade Dimensão de Traço Extremos da dimensão Realização ou Organizado ■*----------- ----------- >- Desorganizado conscienciosidade Cuidadoso < ----------- ----------- ► Descuidado Disciplinado < ----------- ----------- *- Impulsivo Socialização Amável —----------- ----------- i- Cruel Confiável ■*----------- ----------- ► Suspeito Prestativo -í----------- ; Egoísta Neuroticismo (estabilidade vs Calmo ■*------- >■ Ansioso instabilidade emocional) Seguro ^ ► Inseguro Autossatisfação -<-►- Autopiedade Abertura para a experiência Imaginativo Preferência
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