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Psicologia David Mayers | Capítulo 13 - Personalidades

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^ c a p Í T U L O 13 J
Personalidade
D urante toda a sua angustiante jornada, Frodo Baggins, 0 herói hobbit da saga O Senhor dos Aneis, sabia que havia uma pessoa que jamais iria desapontá- lo: seu fiel e sempre alegre com p a­
nheiro Sam Gamgee. M esmo antes de deixa­
rem a am ada cidade natal, Frodo avisou a 
Sam que a jornada não seria fácil:
“Vai ser muito perigoso, Sam. Já é perigoso 
agora. É bem provável que nenhum de nós dois 
volte.”
“Se o senhor não voltar, então é certo que 
eu não voltarei”, disse Sam. “[Os elfos me dis­
seram] ‘Não o abandone!’ Abandoná-lo?, eu 
respondi. Isso nunca passou pela minha cabeça. 
Se ele subir até a Lua, eu vou com ele; e se quais­
quer daqueles cavaleiros negros tentar impedi-
lo, terão que enfrentar Sam Gamgee.” (Tolkien, 
A Sociedade do Anel, p. 96).
E assim foi! Mais tarde na história, quando 
ficou claro que Frodo teria que se aventurar 
pela pavorosa terra de M ordor sem 0 restante 
da sociedade do anel, foi Sam quem insistiu 
em acom p an h ar Frodo, acon tecesse 0 que 
acontecesse. Foi Sam quem levantou o espí­
rito de Frodo com can ções e h istórias da 
infância de ambos, e foi em Sam que Frodo 
se apoiou quando quase n ão podia m ais 
andar. Q uando Frodo foi tom ado pelo poder 
maléfico do anel que carregava, foi Sam quem 
impediu Frodo de sucumbir com pletam ente. 
E, no final, foi Sam quem possibilitou que 
Frodo chegasse com êxito ao fim da jornada. 
Sam Gamgee — o alegre, otim ista e em ocio­
nalm en te estável — n un ca vacilou em sua 
lealdade ou crença de que eles podiam supe­
rar a escuridão am eaçadora.
O personagem Sam Gam gee de J. R. R. 
Tolkien, à medida que aparece e reaparece 
durante toda a trilogia, exibe a distinção e a 
coerência que definem a personalidade — 
padrão característico de pensar, sentir e agir 
de cada indivíduo. Segundo Dan McAdams e 
Jennifer Pais (2 0 0 6 ) , trata-se da “variação 
individual única do desenho evolucionário 
u niversal da n atu reza h u m a n a ” , que se 
expressa nos traços e na situação cultural de 
cada um . Os capítulos anteriores enfatizaram 
nossa sem elhança — com o todos nós evoluí­
mos, percebemos, aprendem os, lembramos,
pensam os e sentim os. Este capítulo enfatiza 
nossa individualidade.
Grande parte deste livro trata da persona­
lidade. Em capítulos anteriores, consideramos 
as influências biológicas sobre a personali­
dade, 0 desenvolvimento da personalidade ao 
longo da vida e os aspectos relacionados à 
personalidade com o aprendizagem, m otiva­
ção, em oção e saúde. Nos capítulos posterio­
res, estudaremos os transtornos de persona­
lidade e as influências sociais sobre ela.
Neste capítulo, vamos com eçar com duas 
grandes teorias que se to rn aram parte do 
nosso legado. Essas duas perspectivas histo­
ricam ente significativas ajudaram a estabele­
cer o cam po da psicologia da personalidade 
e apresentaram algum as questões centrais 
para a pesquisa e o trabalho clínico atuais.
• A teoria psicanalítica de Freud propôs que 
a sexualidade infantil e as m otivações 
inconscientes influenciam a 
personalidade.
• A abordagem hum anista enfocou em 
nossa capacidade interior para o 
crescim ento e a autorrealização.
Essas teorias clássicas, que oferecem pers­
pectivas m uito interessantes sobre a natureza 
h u m an a, são com p lem entadas pelo outro 
aspecto a ser abordado neste capítulo: novas 
pesquisas científicas mais focadas e realistas 
sobre aspectos específicos da personalidade.
Os pesquisadores de hoje que investigam a 
personalidade estudam as dimensões básicas 
da personalidade, as raízes biológicas dessas 
d im en sões e a in te ra çã o en tre pessoa e 
ambiente. Também estudam a autoestima, 0 
viés em proveito próprio (self-serving bias) ten­
dencioso e as influências culturais na percep­
ção do self. Estudam também a mente incons­
ciente — com descobertas que provavelmente 
deixariam o próprio Freud surpreso.
personalidade padrão característico 
individual de pensar, sentir e agir.
associação livre em psicanálise, um 
método de explorar o inconsciente em 
que a pessoa relaxa e diz o que lhe vem 
à mente, por mais triv ia l ou 
constrangedor que seja.
A PERSPECTIVA 
PSICANALÍTICA
Explorando o Inconsciente 
O s Teóricos Neofreudianos 
e Psicodinâmicos 
Avaliando os Processos 
Inconscientes 
Avaliando a Perspectiva 
Psicanalítica
A PERSPECTIVA 
HUMANISTA
Abraham Maslow e a 
Pessoa Autorrealizada 
Carl Rogers e a Perspectiva 
Centrada na Pessoa 
Avaliando o Self 
Avaliando a Perspectiva 
Humanista 
A PERSPECTIVA DO TRAÇO 
Explorando os Traços 
Avaliando os Traços 
O s Cinco Grandes Fatores 
Avaliando a Perspectiva 
do Traço 
Pensando Criticamente 
Sobre: Como Ser um 
Astrólogo ou Quiromante 
de “Sucesso”
A PERSPECTIVA SOCIAL- 
COGNITIVA
Influências Recíprocas 
Controle Pessoal 
Em Foco: Rumo a uma 
Psicologia Mais Positiva 
Avaliando o Comportamento 
em Situações 
Avaliando a Perspectiva 
Social-Cognitiva 
EXPLORANDO O SELF 
O s Benefícios da Autoestima 
Viés em Proveito Próprio 
(Self-Serving Bias)
Sigmwid Freud. 1856-1939
"Eu era o único trabalhador 
em um novo campo."
psicanálise a teoria da personalidade de Freud que 
atribui pensamentos e ações a motivos e conflitos 
inconscientes; técnicas utilizadas no tratamento de 
transtornos psicológicos procurando expor e interpretar 
tensões inconscientes.
inconsciente de acordo com Freud, um reservatório 
de pensamentos, desejos, sentimentos e memórias 
inaceitáveis, na maioria dos casos. De acordo com 
psicólogos contemporâneos, processamento de 
informações sobre as quais não temos consciência.
A Perspectiva Psicanalítica
1: Qual era a visão de Freud sobre a 
personalidade e seu desenvolvimento?
AMADO OU ODIADO, SIGMUND Freud influenciou pro­
fundam ente a cultura ocidental. Pergunte a 100 pessoas na 
rua o nom e de um notável psicólogo falecido, sugere Keith 
Stanovich (1 9 9 6 , p. 1 ), e “Sigmund Freud será o mais citado”. 
Na m ente popular, Freud é para a história da psicologia o que 
Elvis Presley é para a história do rock. A influência de Freud 
se estende pelas interpretações de livros e de filmes, na psi­
quiatria e na psicologia clínica. Então, quem foi Freud, e quais 
foram seus ensinam entos?
Muito antes de entrar para a University of Viena em 1873, o 
jovem Sigmund Freud mostrou sinais de independência e bri­
lhantismo. Tinha um a mem ória prodigiosa e gostava tanto de 
ler peças teatrais, poesia e filosofia que certa vez contraiu em 
um a livraria um a dívida além de suas posses. Na adolescência, 
quase sempre fazia a refeição n otu rn a em seu pequenino 
quarto, para não perder tempo de estudo. Freud frequentou a 
escola de medicina e, depois de formado, m ontou um a clínica 
particular, especializando-se em transtornos nervosos. Logo, 
porém, deparou-se com pacientes cujos transtornos não faziam 
sentido do ponto de vista neurológico. Por exem plo, um 
paciente perdera todas as sensações em um a das mãos — con­
tudo, não há nervo sensitivo que, danificado, deixaria a mão 
inteira dormente e nada mais. A busca de Freud por um a causa 
para tais transtornos levou sua mente a um a direção destinada 
a m udar o entendimento hum ano sobre si mesmo.
Explorando o Inconsciente
Será que alguns transtornos neurológicos podem ter causas 
psicológicas em vez de fisiológicas? Essa pergunta levou Freud 
à “descoberta” do inconsciente. A partir dos relatos pessoais 
de seus pacientes, ele concluiu que a perda de sensibilidade
na mão de um a pessoa poderia ser causada pelo medo de tocar 
os órgãos genitais; que a cegueira ou a surdez inexplicáveis 
poderiam ser causadas por não desejar ver ou ouvir algo que 
despertasse intensa angústia. Inicialmente, Freud pensou que 
o método da hipnose poderia abrir a porta para o inconsciente, 
mas os pacientes apresentaram uma capacidade desigual para 
a hipnose. Voltou-se então para a associação livre, simples­
m ente solicitando ao paciente para relaxar e dizer o que lhe 
viesse à mente, não im portandoo quanto fosse constrange­
dor ou trivial. Freud supôs que um a fileira de dominós m en­
tais havia caído desde o passado distante de seus pacientes até 
o inquietante presente deles. A associação livre, acreditava, 
permitia-lhe seguir essa fileira de volta, produzindo um a linha 
de pensam ento que levaria ao inconsciente do paciente, recu­
perando e libertando lem branças inconscientes dolorosas, 
quase sempre da infância. Freud denom inou essa teoria e as 
técnicas associadas de psicanálise.
Um elemento básico na concepção de Freud era o de que 
a m ente fica, na m aioria dos casos, escondida (FIGURA 
1 3 .1 ). Nossa percepção consciente seria a parte do iceberg que 
flutua acima da superfície. Abaixo da superfície, ficaria a região 
inconsciente, bem maior, contendo pensam entos, desejos, 
sentim entos e lem branças. Armazenamos tem porariam ente 
alguns desses pensam entos em um a área pré-consciente, da 
qual podemos recuperá-los para a percepção consciente. Um 
dos maiores interesses de Freud era a grande quantidade de 
paixões e pensam entos que, segundo ele, nós recalcamos, ou 
bloqueamos de modo enérgico da nossa consciência, porque 
seriam por demais perturbadores para serem admitidos. Freud 
acreditava que, embora não estejamos conscientes deles, esses 
sentim entos e ideias inquietantes exercem sobre nós um a 
influência poderosa. Para ele, nossos impulsos não reconhe­
cidos se autoexpressam em formas disfarçadas — o trabalho 
que escolhemos, as crenças que alim entam os, nossos hábitos 
diários, nossos sintom as perturbadores.
Mente
consciente
Pré-consciência 
(fora da 
consciência, 
mas acessível)
Mente
inconsciente
> F IG U R A 13.1
A ideia de Freud sobre a estrutura da mente Os psicólogos 
adotaram a imagem de um iceberg para ilustrar a ideia freudiana de 
que a mente está quase que totalmente oculta sob a superfície da 
consciência. Note que o id é totalmente inconsciente, mas o ego e o 
superego operam tanto consciente quanto inconscientemente. 
Diferentemente das partes de um iceberg congelado, no entanto, o id, 
o ego e o superego interagem.
Para o determinista Freud, nada era acidental. Ele defendia 
que podia vislumbrar o inconsciente infiltrando-se não só atra­
vés das associações livres, crenças, hábitos e sintomas das pes­
soas, mas tam bém de seus sonhos e seus atos falhos, falados 
e escritos. Ele exemplificou com o caso de um paciente com 
problemas financeiros que, não querendo tom ar pílulas (pills), 
disse: “Por favor, não me dê contas (bilis), porque não posso 
engoli-las.” Da m esm a form a, Freud considerava as piadas 
expressões das tendências sexuais e agressivas recalcadas, e o 
sonho, a “estrada real para o inconsciente”. O conteúdo lem­
brado dos sonhos (seu conteúdo m anifesto) era a expressão 
censurada de desejos inconscientes de quem sonha (o conteúdo 
latente dos sonhos). Ao analisar os sonhos das pessoas, Freud 
buscava os conflitos interiores de seus pacientes.
Estrutura da Personalidade
Na perspectiva de Freud, a personalidade hum ana — incluindo 
suas emoções e seus esforços — origina-se de um conflito entre 
moção (impulse) e restrição — entre nossos impulsos biológicos 
agressivos em busca do prazer e nossos controles sociais inter­
nalizados sobre esses impulsos. Freud sustentava que a perso­
nalidade era o resultado de nossos esforços no sentido de resol­
ver esse conflito básico — para expressar essas moções ( impulses) 
de modo a produzir satisfação sem trazer também culpa e puni­
ção. Freud teorizou que os conflitos estão centrados em três sis­
temas que interagem: id, ego e superego (FIGURA 13.1).
O id é um reservatório de energia psíquica inconsciente 
em luta constante para satisfazer os impulsos básicos para 
sobreviver, reproduzir e atacar. O id opera sobre o princípio do 
prazer: busca gratificação imediata. Para entender um a pessoa 
dominada pelo id, pense nos recém -nascidos que berram por 
satisfação no m om ento em que sentem necessidade, nem um 
pouco preocupados com as condições e demandas do mundo 
lá fora. O u pense nas pessoas que têm um a perspectiva de 
tempo presente em vez de futuro — aquelas que preferem se 
divertir agora a sacrificar o prazer de hoje pelo sucesso e feli­
cidade futuros. Tais pessoas com mais frequência fazem uso 
de tabaco, álcool e outras drogas (Keough et al., 1 9 9 9 ).
À m edida que o ego se desenvolve, a crian ça pequena 
aprende a enfrentar o m undo real. O ego, operando sobre o 
princípio da realidade, busca satisfazer os impulsos do id de 
maneiras realistas que trarão prazer a longo prazo. (Imagine 
o que aconteceria se, desprovidos de ego, expressássemos nos­
sos impulsos agressivos ou sexuais não recalcados sempre que 
os sentíssem os.) O ego con tém nossas percepções, nossos 
pensam entos, nossos julgam entos e nossas m em órias par­
cialm ente conscientes.
C om eçando a atuar por volta dos 4 ou 5 anos, teorizou 
Freud, o ego de um a criança reconhece as demandas do supe­
rego recém -em ergido, a voz de nossa bússola m oral (a cons­
ciên cia) que força o ego a considerar não só o real m as o 
ideal. O superego se con centra som ente em com o a pessoa 
deve se com portar. Luta pela perfeição, julgando as ações e 
produzindo sentim entos positivos de orgulho ou sentim en­
tos negativos de culpa. Alguém que tenha um superego extre­
mam ente forte pode ser virtuoso, porém, ironicam ente, opri­
mido pela culpa; outra pessoa que tenha um superego fraco 
pode ser autoindulgente e impiedosa.
id contém um reservatório de energia psíquica 
inconsciente que, de acordo com Freud, luta para 
satisfazer impulsos sexuais e agressivos básicos. O id 
opera com base no princíp io d o prazer, exigindo 
gratificação imediata.
ego a parte “executiva” e consciente da personalidade 
que, de acordo com Freud, serve de mediadora entre as 
exigências do id, do superego e da realidade. O ego 
opera com base no princíp io d a rea lid ad e , satisfazendo 
os desejos do id de maneira a obter o prazer de maneira 
realista, em vez de dor.
superego a parte da personalidade que, de acordo 
com Freud, representa ideais internalizados e fornece 
padrões para julgamento (a consciência) e futuras 
aspirações.
Com o as demandas do superego quase sempre são opos­
tas às do id, o ego luta para reconciliar os dois. É o “execu­
tivo” da personalidade, mediando as dem andas impulsivas 
do id, as demandas restritivas do superego e as demandas da 
vida real do m undo exterior. Se a casta Jane se sentir atraída 
por John, ela pode satisfazer tan to o id quanto o superego 
com o, por exemplo, entrando para um a organização volun­
tária da qual John participa regularmente.
Desenvolvimento da Personalidade
A análise das histórias de seus pacientes convenceu Freud de 
que a personalidade se forma durante os primeiros anos de vida. 
Ele concluiu que as crianças passam por um a série de fases psi­
cossexuais, durante as quais as energias do id que buscam o 
prazer ficam concentradas em áreas distintas do corpo sensíveis 
ao prazer denominadas zonas erógenas (TABELA 13.1).
Freud acreditava que, durante a fa se fá lica , os m eninos 
buscam a estim ulação genital e desenvolvem tan to desejo 
sexual inconsciente pela m ãe quanto ciúm e e ódio pelo pai, 
a quem consideram rivais. Devido a esses sentim entos, os 
m eninos supostam ente tam bém sentem culpa e um medo 
oculto da punição, talvez por castração, de parte do pai. Freud 
deu a esse conjunto de sentim entos a denom inação com ­
plexo de Édipo — segundo a lenda grega de Édipo, que, sem 
saber, m atou o pai e casou-se com a mãe. Alguns psicanalis­
tas acreditam que as meninas sofrem de um com plexo para­
lelo cham ado complexo de Electra.
As Fases Psicossexuais de Freud
Fase Foco
Oral
(0-18 meses)
Prazer centralizado na boca - sugar, 
morder, mastigar
Anal
(18-36 meses)
Prazer voltado para aliviar os intestinos 
e a bexiga; enfrentamento de 
demandas pelo controle
Fálica 
(3-6 anos)
Zona de prazer nos genitais; lidando 
comsentimentos sexuais incestuosos
Latência Sentimentos sexuais latentes
(6 anos - puberdade)"Sei como é difícil para você botar comida na sua 
família."
Genital Maturação dos interesses sexuais
(puberdade em diante)
As crianças acabam por enfrentar esses sentimentos am ea­
çadores, disse Freud, reprim indo-os e tentando se identificar 
(tentando ser parecidas) com o genitor rival. É com o se algo 
dentro da criança decidisse: “Se você não pode vencê-lo (o 
genitor do m esm o sexo), junte-se a ele.” Por esse processo de 
identificação, o superego das crianças ganha força, à medida 
que elas incorporam m uitos dos valores dos pais. Freud acre­
ditava que a identificação com o genitor do m esm o sexo for­
necia o que os psicólogos hoje cham am de identidade degen ero
— nosso senso de ser m acho ou fêmea. Freud supôs que as 
relações que estabelecemos na prim eira infância — especial­
m ente com pais e cuidadores — influenciam o desenvolvi­
m ento de nossa identidade, personalidade e fragilidades.
Na perspectiva de Freud, os conflitos não resolvidos durante 
as fases iniciais da psicossexualidade podem vir à ton a na 
form a de com portam ento desadaptado no adulto. Em qual­
quer ponto das fases oral, anal ou fálica, o conflito forte pode 
bloquear, ou fixar, as energias da pessoa na busca do prazer 
naquela fase. Por exemplo, Freud acreditava que as pessoas 
supersatisfeitas ou privadas oralm ente (por desmame precoce 
ou abrupto) podem se fixar na fase oral. Os adultos com fixa­
ção na fase oral podem, segundo ele, exibir ou um a depen­
dência passiva (com o a de um bebê em am am entação) ou 
u m a negação exagerada dessa dependência — agindo com 
dureza ou exibindo um sarcasm o mordaz. O u podem ainda 
continuar buscando gratificação oral no fum ar ou com er em 
excesso. Dessa m aneira, sugeriu Freud, a personalidade se 
form a em tenra idade.
fases psicossexuais as fases de desenvo lv im ento 
in fan til (oral, anal, fálica, la tência, gen ita l) durante as 
quais, de acordo com Freud, as energias que buscam 
satisfazer o prazer do id concentram -se em zonas 
erógenas distintas.
com plexo de Édipo de acordo com Freud, o desejo 
sexual do filh o pela mãe e os sentim entos de ciúmes e 
ó d io pe lo pai rival.
id en tificação o processo segundo o qual, de acordo 
com Freud, as crianças incorporam os valores dos pais 
no desenvo lv im ento de superegos.
fixação de acordo com Freud, foco constante de 
energias que buscam o prazer em uma fase psicossexual 
anterior, na qual os con flito s não foram resolvidos.
Mecanismos de Defesa
2 : Como Freud achava que as pessoas se 
defendiam contra a angústia?
Freud afirm ou que a angústia é o preço que pagam os pela 
entrada na civilização. Na condição de membros de grupos 
sociais, devemos controlar nossos impulsos sexuais agressi­
vos e não os realizar. Mas às vezes o ego tem e perder o con ­
trole dessa guerra interna entre as demandas do id e as do 
superego, e o resultado é a nuvem escura da ansiedade des­
focada, que nos deixa inquietos m as sem saber o porquê.
Freud propôs que o ego se protege com mecanismos de 
defesa. Essas táticas reduzem ou redirecionam a angústia de 
várias formas, mas sempre distorcendo a realidade. Eis aqui 
sete exemplos.
• O recalque expulsa da consciência os pensam entos e os 
sentim entos que despertam angústia. Segundo Freud, o 
recalque é a base de todos os outros m ecan ism os de defesa, 
cada um dos quais disfarça os impulsos am eaçadores e 
os impede de alcançar a consciência. Freud acreditava
que o recalque explica por que não nos lem bramos do 
desejo que sentíam os na infância pelo genitor do outro 
sexo. Contudo, tam bém defendia que o recalque é com 
frequência incom pleto, que os impulsos recalcados 
transbordam pela simbologia dos sonhos e pelo ato 
falho.
• A regressão nos permite retroceder a um a fase de 
desenvolvimento anterior e mais infantil. Assim, 
quando enfrenta os angustiantes primeiros dias de 
escola, um a criança pode regredir ao conforto oral de 
chupar o dedo. Os m acacos jovens, quando ansiosos, 
retrocedem à fase infantil de se agarrarem à m ãe ou uns 
aos outros (Suom i, 1 9 8 7 ). M esmo os calouros 
universitário podem ansiar pela segurança e pelo 
conforto de casa.
• Na form ação reativa, o ego inconscientem ente faz os 
impulsos inaceitáveis parecerem seus opostos. A 
cam inho da consciência, a proposição inaceitável “Eu o 
odeio” torna-se “Eu o am o”. A timidez torna-se ousadia. 
Os sentim entos de inadequação tornam -se 
fanfarronices.
• A projeção disfarça os impulsos ameaçadores, 
atribuindo-os aos outros. Assim, “Ele não confia em 
m im ” pode ser a projeção do verdadeiro sentim ento “Eu 
não confio nele” ou “Eu não confio em m im m esm o”. 
Um ditado salvadorenho capta a ideia: “O ladrão acha 
que todo m undo é ladrão.”
• A racionalização ocorre quando inconscientem ente 
geramos explicações autojustificadas para esconder de 
nós mesm os os verdadeiros motivos de nossas ações. 
Assim, os bebedores habituais podem dizer que bebem 
com os amigos “apenas para serem sociáveis”. 
Estudantes que não conseguem estudar podem 
racionalizar: “Só o trabalho sem lazer torna João [ou 
Joana] um a pessoa sem graça.”
m ecanism os de defesa na teoria psicanalítica, os 
m étodos de p ro teção ao ego que reduzem a angústia 
d is to rcendo inconscientem ente a realidade.
recalque na teo ria psicanalítica, o m ecanism o de 
defesa básico que tira da consciência pensamentos, 
sentim entos e m em órias que geram angústia.
regressão m ecanism o de defesa psicanalítica em que 
um ind ivíduo, d ian te de situações angustiantes, regride 
para uma fase psicossexual mais in fantil, em que parte 
da energia psíquica perm anece fixada.
fo rm ação reativa m ecanism o de defesa psicanalítica 
em que o ego inconscien tem ente transform a im pulsos 
inaceitáveis em seus opostos. Assim, as pessoas podem 
expressar sentim entos que são opostos aos sentim entos 
inconscientes que geram a angústia.
p ro jeção m ecanism o de defesa psicanalítica em que 
as pessoas disfarçam seus p róprios im pulsos 
am eaçadores a tribu indo -os a terceiros.
rac ionalização m ecanism o de defesa que oferece 
explicações au to justificadas em lugar dos verdadeiros 
m otivos inconscientes e mais am eaçadores das nossas 
ações.
"A dama protesta demais, penso eu.”
William Shakespeare, Hamlet, 160G
• O deslocamento, de acordo com Freud, desvia os 
impulsos sexuais ou agressivos da pessoa para um objeto 
ou pessoa que é psicologicamente mais aceitável do que 
aquela que despertou os sentim entos. Crianças que 
tem em expressar raiva contra os pais podem deslocar 
essa raiva chutando o anim al de estim ação da família. 
Estudantes contrariados com o resultado de um a prova 
podem descontar no colega.
• A negação protege a pessoa contra eventos reais 
excessivamente dolorosos para serem aceitos, pela rejeição 
de determinado fato ou de sua gravidade. Pacientes à beira 
da m orte podem negar a gravidade da própria doença. Os 
pais podem negar o com portam ento desviante do filho. 
Cônjuges podem negar provas de que estão sendo traídos.
Observe que todos esses m ecanism os de defesa funcionam 
indiretam ente e inconscientem ente, reduzindo a angústia ao 
disfarçar nossos impulsos ameaçadores. Assim com o o corpo 
inconscientem ente se defende contra as doenças, da mesm a 
m an eira , acred itava Freud, o ego in co n scien tem en te se 
defende contra a angústia.
des locam ento m ecanism o de defesa psicanalítica que 
transform a im pulsos sexuais ou agressivos em relação a 
um ob je to ou pessoa mais aceitáveis ou menos 
ameaçadores, com o acontece quando red irecionam os a 
raiva para um canal mais seguro.
negação m ecanismo de defesa no qual as pessoas se 
recusam a acred ita r ou mesmo a perceber realidades 
dolorosas.
inconscien te co le tivo conce ito de Carl Jung de 
reservatório com partilhado e he red itá rio de traços de 
m em ória dah istória da nossa espécie.
teste p ro je tiv o teste de personalidade, com o o de 
Rorschach ou TAT, que fornece estím ulos am bíguos 
criados para gerar pro jeções da dinâm ica in terna do 
indivíduo.
Teste de Apercepção Tem ática (TAT) Teste p ro je tivo 
em que as pessoas expressam seus sentim entos e 
interesses pessoais por m eio das h istórias que criam 
sobre cenas ambíguas.
“A m u lh er... reconhece □ fato de sua castração e, com 
isso, a superioridade do homem e sua própria 
inferioridade; mas ela se rebela contra essa situação 
indesejada."
Sigmund Freud, Sexualidade Feminina, 1931
ANTES DE PROSSEGUIR...
>- P ergunte a Si M esmo
Como você descreveria a sua personalidade? Que 
características formam padrões típicos que refletem sua forma 
de pensar, sentir e agir?
> Teste a Sí Mesm o 1
Quais são alguns mecanismos de defesa importantes, de 
acordo com Freud, e contra o que eles atuam?
As respostas às questões Teste a Si Mesmo podem ser encontradas no 
Apêndice B, no final do livro.
Os Teóricos Neofreudianos 
e Psicodinâmicos
3 : Quais das ideias de Freud foram aceitas ou 
rejeitadas por seus seguidores?
Os escritos de Freud eram controversos, mas logo atraíram 
seguidores, em sua m aioria médicos jovens e ambiciosos que 
form aram um círculo em torn o do seu líder voluntarista. 
Esses psicanalistas pioneiros e outros, a quem agora ch am a­
mos neofreudianos, aceitavam as ideias básicas de Freud: as 
estruturas do id, ego e superego da personalidade; a im por­
tân cia do in con scien te; a form ação da personalidade na 
infância; e a dinâm ica da angústia e dos m ecanism os de 
defesa. Mas se afastavam das ideias de Freud em duas ques­
tões im portantes. Em primeiro lugar, davam m aior ênfase ao 
papel da m ente consciente quanto à interpretação da expe­
riência e à relação com o ambiente. Em segundo, questiona­
vam se o sexo e a agressão seriam m otivações monopoliza- 
doras. Em vez disso, destacavam m otivações mais nobres e 
as interações sociais. Os exemplos a seguir ilustram essas 
tendências.
Alfred Adler e Karen Horney concordavam com Freud que 
a infância é im portante. Mas acreditavam que as tensões 
sociais, e não as tensões sexuais, da infância são cruciais para 
a form ação da personalidade (Ferguson, 2 0 0 3 ) . O próprio 
Adler (que propôs a ideia ainda popular de complexo de infe­
rioridade) lutou para vencer as doenças e os seus acidentes 
da infância, e afirmava que m uito do nosso com portam ento 
é induzido por esforços para superar os sentim entos de infe­
rioridade da infância, sentimentos que acionam nossos esfor­
ços em busca de superioridade e poder. Horney afirmou que 
a angústia da infância, causada pelo senso de desam paro, 
provoca nosso desejo de am or e segurança. Karen H orney 
opôs-se às suposições de Freud de que as mulheres têm supe­
rego fraco e sofrem “inveja do pênis”, e ten tou equilibrar 
o viés que detectou nessa visão m asculina da psicologia.
D iferentem ente de outros neofreudianos, Carl Jung — o 
discípulo de Freud que se tornou dissidente — atribuiu m enor 
ênfase aos fatores sociais e con cord ou com Freud que o 
inconsciente exerce um a influência poderosa. Mas, para Jung, 
o inconsciente contém mais do que nossos pensam entos e 
sentim entos recalcados. Ele sustentava que éram os, tam bém , 
dotados de um inconsciente coletivo, um reservatório 
com um de imagens derivadas das experiências universais da 
nossa espécie. Jung afirmou que o inconsciente coletivo expli­
cava por que, para muitas pessoas, as preocupações espiritu­
ais são profundam ente arraigadas e por que pessoas em dife­
rentes culturas com partilham certos m itos e im agens, tal 
com o a m ãe com o símbolo de nutrição. (O s psicólogos atu­
ais rejeitam a ideia de experiências herdadas. M uitos acredi­
tam , porém, que nossa história evolucionista com partilhada 
m oldou algumas disposições universais.)
Freud m orreu em 1 9 3 9 . Desde en tão, algumas de suas 
ideias foram incorporadas à teoria psicodinâm ica. “A m aioria 
dos teóricos e terapeutas contem porâneos não com partilha 
a ideia de que o sexo é a base da personalidade”, observa Drew 
W esten (1 9 9 6 ) . Eles “não falam sobre ids e egos, e não andam 
por aí classificando seus pacientes com o personalidades orais, 
anais ou fálicas”. O que adm item , tal com o Freud, é que 
m uito de nossa vida m ental é inconsciente, que, com fre­
quência, lutam os com conflitos internos entre nossos dese­
jos, nossos medos e nossos valores e que a infância molda 
nossa personalidade e nossos modos de nos ligarmos às outras 
pessoas.
Avaliando os Processos Inconscientes
4 : O que são testes projetivos, e como são usados?
As ferram entas de avaliação da personalidade são úteis para 
os estudiosos da personalidade ou terapeutas. Essas ferra­
m entas diferem porque são adaptadas a teorias específicas. 
Com o os clínicos que trabalham segundo a tradição freudiana 
tentam avaliar as características da personalidade?
A primeira exigência seria ter um a espécie de estrada para 
o inconsciente, para identificar rem iniscências de experiên­
cias da primeira infância — algo que vai além da superfície e 
revela conflitos e impulsos ocultos. (Lembre-se de que Freud 
acreditava que a associação livre e a interpretação de sonhos 
podiam revelar o inconsciente.) Os psicanalistas descartam 
as ferram entas de avaliação objetiva, tais com o questionários 
do tipo concordo-discordo ou falso-verdadeiro, pois consi­
deram que elas m eram ente tocam a superfície consciente.
Os testes projetivos visam a fornecer esse “raio-X psico­
lógico” ao apresentar um estímulo ambíguo e, depois, soli­
citar aos participantes que o descrevam ou que contem um a 
história sobre ele. Henry M urray introduziu o Teste de Aper- 
cepção Temática (TAT), no qual as pessoas viam quadros 
com figuras ambíguas e depois construíam histórias sobre 
elas (FIGURA 1 3 .2 ). Um uso da narração de histórias tem 
sido avaliar a m otivação de realização. Ao observar um jovem 
em devaneio, aqueles que im aginam o que ele está fan ta­
siando sobre um a realização é visto com o projetando seus 
próprios objetivos.
Teste de Rorschach O teste projetivo mais 
amplamente utilizado — um conjunto de 10 pranchas 
com borrões de tin ta criado por Hermann Rorschach; 
busca identificar os sentimentos das pessoas por meio 
da análise de suas interpretações desses borrões.
“0 Teste de Rorschach está totalm ente desacreditado... Eu 
o chamo de 'Drácula' dos testes psicológicos, porque 
ninguém conseguiu ainda cravar uma estaca no coração 
dessa maldição.”
Carol Travis, "Mind Games: 
Psychological Warfare Between 
Therapists and Scientists", 2003
O teste mais usado e mais conhecido é o teste Rorschach, 
em que as pessoas descrevem o que veem em um a série de 
pranchas com borrões de tinta (FIGURA 1 3 .3 ). O psiquia­
tra suíço H erm ann Rorschach elaborou-o a partir de um jogo 
infantil em que ele e os colegas jogavam tinta sobre o papel, 
dobravam-no e depois contavam o que viam na m ancha resul­
tante (Sdorow, 2 0 0 5 ) . Você vê animais predadores ou armas? 
O exam inador pode deduzir que tem os tendências à agressi­
vidade. Mas será essa suposição razoável?
As respostas dos clínicos e críticos diferem. Alguns clíni­
cos apreciam o Rorschach, oferecendo até m esm o avaliações 
nele baseadas a juizes sobre o potencial de violência de cri­
m inosos. O utros o consideram um a ferram enta de diagnós­
tico, um a fonte de orientações sugestivas, um meio de que­
brar o gelo inicial de um tratam ento ou ainda um a técnica 
de entrevista reveladora. A Sociedade de Avaliação da Perso­
nalidade (2 0 0 5 ) recom enda o “uso responsável” do teste (que 
não incluiria inferir abuso sexual infantil no passado). E, em 
resposta às críticas passadas de resultados e interpretações 
dos testes (Sechrest et al., 1 9 9 8 ), foi desenvolvida um a fer­
ram enta de codificação e interpretação, assistida por com pu­
tador e baseadaem pesquisa, que almeja m elhorar a con cor­
dância entre os avaliadores e aum entar a validade do teste 
(Erdberg, 1 990 ; Exner, 2 0 0 3 ) .
Mas a evidência é insuficiente para os críticos, que insis­
tem que o teste de Rorschach não é um a ressonância m agné­
tica em ocional. Eles argum entam que som ente poucas das 
muitas avaliações derivadas do teste, tais com o as de hostili­
"Nós não vemos as coisas como elas são; vemos as coisas 
como somos."
□ Talmude
> F IG U R A 13.2
Teste TAT O psicólogo pressupõe que as esperanças, os medos e os 
interesses expressos por este menino nas descrições de uma série de 
quadros com imagens ambíguas no Teste de Apercepção Temática 
(TAT) são projeções de seus sentimentos mais íntimos.
> F IG U R A 13.3
O Teste de Rorschach Nesse teste projetivo, as pessoas dizem o 
que veem em uma série de pranchas com borrões de tinta simétricos. 
Alguns que usam esse teste confiam que a interpretação de estímulos 
ambíguos revelará aspectos inconscientes da personalidade do 
participante. Outros o usam para quebrar o gelo inicial de uma terapia 
ou para completar outras informações.
dade e ansiedade, dem onstraram ser válidas (W ood, 2 0 0 6 ) . 
Além disso, esses críticos afirmam que os testes não são con ­
fiáveis. As avaliações de borrões de tinta diagnosticam muitos 
adultos normais com o patológicos (W ood et al., 2 0 0 3 , 2 0 0 6 ) . 
Técnicas alternativas de avaliação projetiva têm resultados 
pouco melhores. “Mesmo os profissionais mais experientes”, 
alertaram Scott Lilienfeld, James Wood e Howard Garb (2 0 0 1 ) , 
“podem ser enganados pela intuição e confiança em ferra­
m en tas que n ão ap resen tam forte evidência de eficácia. 
Quando um substancial corpo de pesquisa dem onstra que as 
velhas intuições estão erradas, está na hora de adotar novas 
maneiras de pensar”. O próprio Freud provavelmente se sen­
tiria desconfortável em tentar diagnosticar pacientes com base 
em testes e se m ostraria mais interessado nas interações tera- 
peuta-paciente que acontecem durante a aplicação do teste.
Avaliando a Perspectiva Psicanalítica
Evidências Contraditórias das 
Pesquisas Modernas
5.* Qual a visão dos psicólogos contemporâneos 
sobre Freud e o inconsciente?
Criticam os Freud a partir de um a perspectiva do início do 
século XXI, um a perspectiva que por si só está sujeita a revi­
são. Freud não tinha acesso às pesquisas sobre neurotrans­
missores ou DNA, ou a tudo que aprendem os desde então 
sobre o desenvolvimento, o pensam ento e as em oções das 
pessoas. Assim, dizem os admiradores de Freud, criticar suas 
teorias com parando-as com os conceitos atuais é com o co m ­
parar o Modelo T, de Henry Ford, com os carros híbridos atu­
ais. (C om o é tentador julgar as pessoas no passado a partir 
de nossa perspectiva no presente.)
Mas tanto os admiradores quanto os críticos de Freud con ­
cordam que a pesquisa recente contradiz m uitas de suas ideias 
específicas. Os psicólogos do desenvolvimento consideram 
nosso desenvolvimento contínuo, não fixado na infância. Eles 
duvidam que as redes neurais dos bebês estejam am adureci­
das o suficiente para sustentar o traum a em ocional previsto 
por Freud. Alguns pensam que Freud superestimou a influência 
parental e subestim ou a influência (e o abuso) dos pares. 
Também questionam a ideia de Freud de que a consciência e 
a identidade de gênero se form am enquanto a criança resolve 
o complexo de Edipo aos 5 ou 6 anos. Form am os nossa iden­
tidade sexual mais cedo e nos tornam os fortem ente m asculi­
nos ou femininos mesmo sem a presença do genitor do mesmo 
sexo. As ideias de Freud sobre a sexualidade infantil originam- 
se de seu ceticism o em relação às histórias de abuso sexual 
infantil contadas por suas pacientes — histórias que alguns 
estudiosos acreditam que ele atribuiu aos seus próprios dese­
jos sexuais infantis e conflitos (Esterson, 2 0 0 1 ; Powell e Boer, 
1 9 9 4 ). Hoje, entendemos com o o questionamento de Freud 
pode ter criado falsas m em órias, e tam bém sabemos que o 
abuso sexual na infância de fato ocorre.
C om o vim os no Capítulo 3, novas explicações para os 
sonhos disputam com a crença de Freud de que eles disfar­
çam e realizam os desejos. E os atos falhos podem ser expli­
cados com o com petição entre escolhas verbais semelhantes 
em nossa rede de m em ória. Alguém que diz “N ão quero fazer 
isso — é muito am orrecido” pode estar simplesmente m istu­
rando am olação com aborrecido (Foss e Hakes, 1 9 7 8 ). Os pes­
quisadores encontram pouco apoio para a ideia de Freud de 
que os m ecanism os de defesa disfarçam a agressividade e os 
impulsos sexuais (em bora nossa ginástica cognitiva realmente
trabalhe para proteger nossa autoestim a). A história não apoia 
outra das ideias de Freud — a ideia de que o recalque dos con ­
teúdos sexuais causa transtornos psicológicos. Desde o tempo 
de Freud até o nosso, a repressão sexual diminuiu; os trans­
tornos psicológicos não.
“Muitos aspectos da teoria freudiana estão de fato 
desatualizados, e deveriam estar: Freud faleceu em 1939, 
e resistiu à realização de revisões m ais abrangentes.”
Drew Westen, psicólogo (1998)
“Por sete anos e meio, trabalhei junto com o Presidente 
Reagan. Fizemos avanços. Cometemos erros. Tivemos 
sexo... ops... retrocessos."
George W. Bush, 190B
“Lembro perfeitam ente do seu nome, mas não consigo 
lem brar do seu rosto."
W.A. Spooner, 1044-1930, professor de Oxford, famoso 
por seus lapsos lingüísticos (spoonerismosj
O Recalque É um Mito?
Toda a teoria psicanalítica baseia-se na suposição de Freud de 
que a m ente hum ana com frequência recalca as experiências 
dolorosas, banindo-as para o inconsciente, até que ressurjam, 
com o livros há muito esquecidos em um sótão empoeirado. 
Se recuperarm os e resolvermos as lem branças dolorosamente 
recalcadas de nossa infância, a cura emocional virá em seguida. 
Sob a influência de Freud, o recalque tornou-se um conceito 
am plam ente aceito, usado para explicar fenômenos hipnóti­
cos e os transtornos psicológicos. Os seguidores de Freud se 
valem do recalque para explicar lem branças aparentem ente 
perdidas e recuperadas de traum as de infância (Boag, 2 0 0 6 ; 
Cheit, 1998 ; Erdelyi, 2 0 0 6 ) . Em uma pesquisa, 88% dos estu­
dantes universitários acreditavam que as experiências dolo­
rosas eram com um ente empurradas para fora da consciência 
e para dentro do inconsciente (G arry et al., 1 9 9 4 ).
Os pesquisadores contemporâneos reconhecem que às vezes 
poupamos nossos egos negligenciando informações am eaça­
doras (G reen et al., 2 0 0 8 ) . Ainda assim, muitos argum entam 
que o recalque, se vier a ocorrer, é um a resposta m ental rara 
a um traum a terrível. Elizabeth Loftus (1 9 9 5 ) afirma que “O 
folclore do recalque é [...] em parte refutado, em parte não 
testado e, em parte não testável”. Mesmo quem testem unhou 
o assassinato de um dos pais ou sobreviveu aos cam pos de 
concentração nazistas guarda as lembranças intactas do hor­
ror (Helmreich, 1992 , 1994 ; Malmquist, 1986 ; Pennebaker,
1 9 9 0 ). “Dezenas de estudos formais não geraram um único 
caso convincente de recalque em toda a literatura sobre trau­
m as”, conclui o pesquisador em personalidade John Kihlstrom 
(2 0 0 6 ) . O m esm o se aplica à literatura mundial, relata uma 
equipe de Harvard que ofereceu mil dólares a quem fornecesse 
um exemplo médico ou m esm o ficcional p ré -1800 de uma 
pessoa saudável que tenha bloqueado um evento traum ático
específico e recuperado-o um ano depois ou mais (Pope et al.,
2 0 0 7 ) . Certam ente, se isso ocorresse com m uita frequência, 
alguém teria percebido. Apesar da grande divulgação, nenhum 
caso desses foi relatado. (Após a publicação deste trabalho, 
um a pessoa apresentou um a ópera de 1 7 8 6 em que um a 
m ulher aparentem ente esquece ter en contrad o o am ante 
m orto após um duelo [Pettus, 2 0 0 8 ] .)
Alguns pesquisadores acreditam que o estresse extrem o e 
prolongado, tal como o estresse vivido por um a criança que 
sofreu um a grave agressão, pode prejudicar a m em ória dani­
ficando o hipocampo (Schacter, 1 9 9 6 ). Mas a realidade bem 
mais com um é que o alto nível de estresse e os horm ônios 
associados ao estresse realçam a m em ória (veja o Capítulo 
8 ). Na verdade, estupro, tortura e outros eventos traum áti­
cos perseguem os sobreviventes, que os recordam sem querer. 
Eles ficam m arcados na alm a. “Você vê os bebês”, disse Sally 
H. (1 9 7 9 ) , sobrevivente do Holocausto. “Você vê mães gri­
tando. Vê pessoas enforcadas. Você para e vê aquele rosto lá. 
É algo que não se esquece.”
"As descobertas gerais,., desafiam seriamente a noção 
psicanalítica clássica do recalque."
Yacov Rofé, psicólogo. “Does Repression Exist?" 2000
"Durante o Holocausto, muitas crianças... foram forçadas 
a suportar o insuportável. Para aqueles que continuam a 
sofrer a dor ainda está presente, muitos anos depois, tão 
real quanto no dia em que ocorreu."
Eric Zillm er, M olly Harrower, B a rry R itz le r e Robert 
Archer. The Ouest lo r the N azi Personality, 1995
A Mente Inconsciente Moderna
Freud estava certo em pelo m enos um ponto: nós realm ente 
tem os acesso limitado a tudo que acontece em nossa m ente 
(Erdelyi, 1 9 8 5 , 1 9 8 8 , 2 0 0 6 ; Kihlstrom, 1 9 9 0 ) . Em experi­
mentos, as pessoas aprenderam a antecipar em que quadrante 
na tela do com putador determ inado caractere apareceria, 
m esm o antes de conseguirem articu lar a regra subjacente 
(Lewicki, 1 992 , 1 9 9 7 ). Pesquisas confirm am a realidade do 
ap ren d izad o im p líc ito in con scien te (F letch er et al., 2 0 0 6 ; 
Fresch e Rünger, 2 0 0 3 ) . Nossa m ente de duas vias ( tw o-track 
m in d ) abarca um vasto domínio não visível.
No entanto, a noção de “iceberg” que os psicólogos pes­
quisadores têm hoje em dia difere da visão de Freud — tanto 
que, argum enta Anthony Greenwald (1 9 9 2 ) , chegou a hora 
de abandonar a visão freudiana do inconsciente. Conform e 
vimos em capítulos anteriores, m uitos pesquisadores agora 
consideram o inconsciente não um fom entador de paixões e 
crítico repressivo, m as um a modalidade do processam ento 
de inform ação que ocorre sem o nosso conhecim ento. Para 
esses pesquisadores, o inconsciente envolve
• os esquemas que controlam autom aticam ente nossa 
percepção e nossas interpretações (Capítulo 6 ).
• a pré-ativação (prim in g ) por meio de estímulos para os 
quais não atentam os conscientem ente (Capítulos 6 e 8 ) .
• a atividade do hemisfério direito que possibilita à m ão 
esquerda do paciente que sofreu cisão cerebral executar
um a instrução que o paciente não consegue verbalizar 
(Capítulo 2 ) .
• o processam ento paralelo de diferentes aspectos da visão 
e do pensam ento (Capítulos 6 e 9 ).
• as recordações implícitas que operam sem lem brança 
consciente, m esm o entre aqueles que têm amnésia 
(Capítulo 8 ).
• as em oções que se intensificam instantaneam ente, antes 
de um a análise consciente (Capítulo 1 2 ).
• o autoconceito e os estereótipos que autom ática e 
inconscientem ente influenciam o m odo com o 
processamos as inform ações sobre nós mesm os e sobre 
os outros (Capítulo 1 6 ).
Mais do que nos damos conta, voamos no piloto autom á­
tico. N ossas vidas são conduzidas pelo processam ento da 
inform ação de form a inconsciente e não visível. Essa com ­
preensão do processam ento inconsciente da inform ação é 
m ais parecida com a visão pré-freudiana de um a corrente 
subterrânea de pensam entos da qual as ideias criativas em er­
gem espontaneam ente (Bargh e Morsella, 2 0 0 8 ) .
Pesquisas recentes tam bém fornecem algum apoio para a 
ideia freudiana dos m ecanism os de defesa (m esm o que não 
funcione exatam ente com o Freud supôs). Por exemplo, Roy 
Baumeister e colegas (1 9 9 8 ) descobriram que as pessoas ten ­
dem a ver suas fraquezas e atitudes nos outros, fenôm eno 
que Freud cham ou de projeção e que os m odernos pesquisa­
dores cham am de efeito do fa lso consenso, isto é, a tendência 
a superestim ar a extensão em que os outros com partilham 
nossas crenças e nossos com p ortam en tos. As pessoas que 
sonegam impostos ou ultrapassam o limite de velocidade ten ­
dem a achar que muitas outras pessoas fazem o m esm o. As 
evidências, no entanto, são escassas para outras defesas, tais 
com o o deslocam ento, que são ligadas à energia instintiva. 
Existe mais evidência para defesas, tais com o a form ação rea­
tiva, que defendem a autoestim a. Os m ecanism os de defesa, 
conclui Baumeister, são m enos motivados pelos impulsos em 
ebulição que Freud supôs do que pela necessidade de prote­
ger nossa autoim agem.
teoria do gerenciamento do terror teoria da angústia 
relacionada com a morte; explora as respostas 
emocionais e comportamentais das pessoas a fatores 
que lembram sua morte iminente.
Finalm ente, a história recente apoia a ideia de Freud de 
que nós nos defendem os co n tra a angústia. N ovam ente, 
porém , a ideia contem porânea difere da de Freud. Jeff Gre­
enberg, Sheldon Solomon e Tom Pyszczynski (1 9 9 7 ) acredi­
tam que uma fonte de angústia é “o terror resultante da cons­
ciência que tem os da vulnerabilidade e da m orte”. Mais de 
2 0 0 experim entos que testaram sua teoria do gerencia­
m ento do terror m ostraram que pensar sobre a mortalidade
— por exem plo, escrevendo um texto cu rto sobre o ato de 
m orrer e as emoções associadas — provoca várias defesas para 
gerenciar o terror. Por exem plo, a angústia com a m orte 
aum enta o preconceito — desprezo pelos outros e estim a por 
si m esm o (Koole et al., 2 0 0 6 ) .
Diante de um m undo am eaçador, as pessoas agem não só 
para m elhorar sua própria autoestim a, m as tam bém para 
aderir m ais fortem ente a um a visão geral que responda a 
questões sobre o significado da vida. A perspectiva da morte 
promove sentim entos religiosos, e convicções religiosas pro­
fundas perm item que as pessoas sejam m enos defensivas — 
tendam a defender com m enos ênfase suas visões de mundo
— quando são lembradas da m orte (Jonas e Fischer, 2 0 0 6 ; 
Norenzayan e Hansen, 2 0 0 6 ) . Além disso, elas se apegam aos 
relacionam entos íntimos (M ikulincer et al., 2 0 0 3 ) . Os even­
tos do 11 de Setembro nos Estados Unidos — um a terrível 
experiência do terror da m orte — fizeram com que as pessoas 
que ficaram presas no W orld Trade C enter gastassem seus 
últimos m om entos ligando para seus entes queridos, e leva­
ram a m aioria dos n orte-am erican os a en trar em con tato 
com familiares e amigos.
As Ideias de Freud como 
Teoria Científica
Os psicólogos tam bém criticam a teoria de Freud por suas 
lim itações científicas. Lembre-se, do Capítulo 1, de que boas 
teorias científicas explicam as observações e oferecem hipó­
teses que podem ser testadas. As teorias de Freud repousam 
sobre poucas observações objetivas e oferecem poucas hipó­
teses para se verificar ou rejeitar. (Para Freud, suas próprias 
lem branças e interpretações das livres associações, sonhos e 
atos falhos dos pacientes eram evidências suficientes.)
Qual é o problema mais sério com a teoria de Freud? Ela 
oferece explicações a p osteriori a respeito de qualquer carac­
terística (do hábito de fum ar em um a pessoa, do medo de 
cavalos em outra, da orientação sexual em ou tra), porém não 
pred iz tal com p ortam en to ou tais traços. Se você fica com 
raiva pela a m orte de sua m ãe, você ilustra a teoria freudiana, 
porque “as suas necessidades não resolvidas de dependência 
na infância são am eaçadas”. Se você não fica com raiva, tam ­
bém ilustra a teoria, porque “você está reprimindo sua raiva”. 
Isso, com o disseram Calvin Hall e Gardner Lindzey (1 9 7 8 , 
p. 6 8 ) , “é com o apostar em um cavalo depois da corrid a”. 
Uma boa teoria faz previsões que podem ser testadas.
Por tais razões, alguns pesquisadores fazem duras críticas 
a Freud. Veem Freud e sua teoria com o um edifício em decom ­
posição, construído nosp ântanos de sexualidade infantil, 
recalque, análise de sonhos e especulação a posteriori. “Quando 
nos colocam os no lugar de Freud, descobrimos que estam os 
olhando cada vez mais para a direção errada”, diz John Kihls- 
trom (1 9 9 7 ) . Para o mais m arcante crítico de Freud, Frede- 
rick Crews (1 9 9 8 ) , o original sobre as ideias de Freud não é 
bom, e o que é bom não é original (a m ente inconsciente é 
uma ideia que rem onta aos tempos de Platão).
“Não quero a lc a n ç a r a im ortalid ad e por m eio do meu 
trab a lh o ; quero s e r im o rta l sem p re c isa r m orrer."
Woody Allen
“B u squ ei ao Senhor, e Ele m e respondeu, e de todos os 
m eus tem ores m e livrou."
Salmo 34:4
"N ossos arg u m en to s são como os de um hom em que diz: 
'Se h o u vesse um gato in v isív e l n a poltrona, esta 
p a re ce ria v azia ; m as a p o ltron a p arece de fato vazia; 
p ortanto , tem um gato in v is ív e l nela."
C.S. Lewis, FourLoves, 1958
Então, será que a psicologia deve afixar a ordem “Não Res­
suscitar” sobre essa antiga teoria? Os defensores de Freud con ­
testam. Criticar a teoria freudiana por não fazer predições que 
possam ser testadas é, dizem eles, com o criticar o beisebol por 
não ser um esporte aeróbico. É justo culpar algo por não ser 
aquilo que nunca pretendeu ser? Ao contrário de muitos psi­
canalistas que o sucederam, Freud nunca declarou que a psi­
canálise era um a ciência profética. Ele simplesmente declarou 
que, olhando para trás, os psicanalistas poderiam encontrar 
significado em nosso estado de espírito (Rieff, 197 9 ).
Os defensores de Freud tam bém n otaram que algumas de 
suas ideias são duradouras. Foi Freud quem cham ou nossa 
atenção para o inconsciente e para o irracional, para nossas 
defesas contra a angústia, para a im portância da sexualidade 
hum ana e para a tensão entre nossos impulsos biológicos e 
nosso bem -estar social. Foi Freud quem desafiou nossas auto- 
justificativas, quem puncionou nossas pretensões e nos lem ­
brou do nosso potencial para o mal.
N a ciência, o legado de Darwin persiste, e o de Freud vai 
expirando (Bornstein, 2 0 0 1 ) . Praticam ente 9 entre 10 cursos 
universitários norte-am ericanos que abordam a psicanálise 
estão, de acordo com um a pesquisa de âmbito nacional, fora 
dos departam entos de psicologia (C ohen, 2 0 0 7 ) . Na cultura 
popular, o legado de Freud continua vivo. Algumas ideias que 
m uitas pessoas julgam ser verdadeiras — a de que as experi­
ências na in fân cia m oldam a personalidade, a de que os 
sonhos têm significados, a de que m uitos com portam entos 
têm motivações disfarçadas — fazem parte desse legado. Seus 
conceitos do início do século XX penetraram em nossa lin­
guagem no século XXL Sem com preender suas fontes, pode­
mos falar de ego, recalque, projeção, com plexo (com o em “com ­
plexo de inferioridade”), rivalidade entre irm ãos, lapsos de lin ­
guagem e fixação . “As premissas de Freud podem ter passado 
por um declínio constante de aceitação no m undo acadêmico 
por m uitos an o s”, notou M artin Seligm an (1 9 9 4 ) , “m as 
Hollywood, os program as de entrevistas, m uitos terapeutas 
e o público em geral ainda as apreciam ”.
ANTES DE PROSSEGUIR...
> Pergunte a Si Mesmo
Antes de ler este capítulo, o que você sabia sobre Freud, e quais 
eram suas impressões sobre ele? Elas mudaram de alguma 
maneira depois de ler as informações aqui apresentadas?
>- Teste a Si M esmo 2
Como a ciência da psicologia atual avalia a teoria de Freud?
As respostas às questões Teste a Si Mesmo podem ser encontradas no 
Apêndice B, no final do livro.
A Perspectiva Humanista
6: Como os psicólogos humanistas veem a 
personalidade, e qual era seu objetivo ao 
estudar a personalidade?
NA DÉCADA DE 1960 , ALGUNS PSICÓLOGOS DA PERSO­
NALIDADE m ostraram -se insatisfeitos com a negatividade 
da teoria freudiana e a psicologia m ecanicista do behavio- 
rism o de B.F. Skinner. Indo em direção contrária à do estudo 
de Freud sobre motivações básicas de pessoas “doentes”, os
psicólogos hum anistas voltaram sua atenção para o modo com o 
as pessoas “saudáveis” se esforçam por obter autodeterminação 
e autorrealizacão. Em contraste com a objetividade científica 
do behaviorismo, eles estudaram as pessoas por meio de suas 
experiências e sentim entos relatados por elas mesmas.
Dois teóricos pioneiros — Abraham Maslow (1 9 0 8 -1 9 7 0 ) 
e Carl Rogers (1 9 0 2 -1 9 8 7 ) — propuseram a perspectiva de um a 
terceira fo rça com ênfase no potencial hum ano.
autorrealização de acordo com Maslow, uma das 
necessidades psicológicas essenciais que surge após as 
necessidades físicas e psicológicas básicas terem sido 
atendidas e a autoestima ser alcançada; a motivação 
para realizar o potencial do indivíduo.
aceitação positiva incondicional de acordo com Rogers, 
uma atitude de aceitação total em relação ao outro.
Abraham Maslow e a Pessoa Autorrealizada
Maslow propôs que somos motivados por um a hierarquia de 
necessidades (Capítulo 11). Se nossas necessidades fisiológicas 
são atendidas, ficamos preocupados com segurança pessoal; 
se atingimos um senso de segurança, buscamos então amar, 
ser amados e am ar a nós mesmos; com nossas necessidades 
de am or satisfeitas, buscamos autoestima. Tendo alcançado a 
autoestima, finalmente buscamos a autorrealização (o pro­
cesso de realizar nosso potencial) e de autotranscendência (sig­
nificado, propósito e com unhão para além do eu).
Maslow (1 9 7 0 ) desenvolveu suas ideias estudando pessoas 
saudáveis e criativas em vez de casos clínicos complicados. 
Ele baseou sua descrição de autorrealização em um estudo de 
pessoas que pareciam notáveis por terem levado um a vida 
rica e produtiva — entre eles Abraham Lincoln, Thomas Jeffer- 
son e Eleanor Roosevelt. M aslow relatou que essas pessoas 
tinh am em com um certas características: aceitavam -se tal 
com o eram e tinham consciência de si mesm as; eram fran­
cas e espontâneas, afetuosas e solícitas e não se deixavam 
afetar pela opinião dos outros. Seguras por saberem quem 
eram , seus interesses eram centrados nos problemas, e não 
em si m esm as. Elas con cen travam suas energias em um a 
determ inada tarefa, a qual viam com o sua missão na vida. A 
m aioria desfrutava de poucos relacionam entos íntim os em 
vez de m uitos relacionam entos superficiais. M uitas foram 
movidas por grandes experiências pessoais ou espirituais que 
vão além da consciência com um .
Essas, segundo Maslow, são qualidades adultas maduras, 
qualidades que se encontram nas pessoas que aprenderam o 
suficiente sobre a vida para serem compassivas, para terem 
superado seus sentimentos confusos em relação aos pais, para 
terem descoberto sua vocação, para terem “adquirido cora­
gem bastante para serem impopulares, para não se envergo­
nharem de serem abertam ente virtuosas etc.". O trabalho de 
M aslow com estudantes universitários o levou a especular 
que aqueles propensos a se torn ar adultos autorrealizados 
eram simpáticos, solícitos, “particularm ente afetuosos com 
os mais idosos que m erecem seu afeto” e “preocupados com 
a crueldade, a malvadeza e o espírito de gangue encontrados 
com tan ta frequência entre as pessoas jovens”.
Carl Rogers e a Perspectiva 
Centrada na Pessoa
O psicólogo hum anista Carl Rogers estava de acordo com mui­
tos dos pensamentos de Maslow. Rogers acreditava que as pes­
soas são basicamente boas e dotadas de tendências para a autor­
realização. A não ser que estejamos em um ambiente que iniba 
o crescimento, cada um de nós é com o um broto pequenino, 
pronto para o crescim ento e para a realização. Rogers (1 9 8 0 ) 
acreditava que um clima favorável ao crescimento exigia três 
condições: autenticidade, aceitação e empatia.
Segundo Rogers, as pessoas nutrem nosso crescimento com 
auten ticidade - sendo francas em seus sentim entos, retirando 
as m áscaras e sendo transparentes e reveladoras.
As pessoas tam bém nutrem o crescimento com aceitação
— oferecendo-nos o que Rogers cham ou de aceitação posi­
tiva incondicional. Essa é um a atitude de benevolência, uma 
atitude que nos valoriza m esm o tendo con hecim en to dos 
nossos defeitos. É um alívio profundo deixar nossos disfarces 
caírem , confessar nossos piores sentim entos e descobrir que 
ainda somos aceitos. Esperamos desfrutar dessa experiência 
gratificante em um bom casam ento, em um a família unida 
ou em um a amizade ín tim a na qual não sentim os m ais a 
necessidade de nos explicar. No m elhor dos relacionam en­
tos, estam os livres para ser espontâneos sem receio de perder 
a estima do outro.
Finalmente, as pessoas nutrem o crescim ento com em pa­
tia — com partilhando e espelhando nossos sentim entos e 
refletindo nossos significados. “R aram ente ouvim os com 
compreensão sincera e verdadeira empatia”, disse Rogers. “No 
en tan to , ouvir, nessa condição especial, é um a das forças 
mais potentes para a m udança que eu con heço.”
Para Rogers, autenticidade, aceitação e empatia são a água, 
o sol e os nutrientes que possibilitam às pessoas crescerem 
com o vigorosos carvalhos, pois, “na medida em que são acei­
tas e valorizadas, as pessoas tendem a desenvolver um a ati­
tude mais favorável em relação a si m esm as” (Rogers, 1980 , 
p. 116). Na medida em que as pessoas são ouvidas com empa­
tia, “torna-se possível para elas escutar com mais precisão o 
fluxo das experiências interiores”.
O escritor Calvin Trillin (2 0 0 6 ) recorda um exemplo de 
autenticidade e aceitação parental em um acam pam ento para 
crianças com transtornos graves, onde sua esposa, Alice, tra­
balhava. L., um a “criança m ágica”, sofria de um transtorno 
genético que a obrigava a se alim entar através de um tubo e 
a cam inhar com m uita dificuldade. Alice recorda,
Um dia, quando estávamos brincando de lenço atrás, eu estava 
sentada atrás dela e ela me pediu para segurar sua correspondên­
cia enquanto era a vez dela de ser perseguida em torno do círculo. 
Levou algum tempo para que ela completasse o circuito e eu pude 
ver que por cima da pilha de correspondência estava uma bilhete 
de sua mãe. Então, fiz um a coisa terrível... Sim plesmente não 
resisti, tinha que saber o que os pais dessa criança poderiam ter 
feito para que ela fosse tão espetacular, para que se tornasse o ser 
hum ano mais entusiasmado, otim ista e esperançoso que eu já 
tinha visto. Dei uma olhada no bilhete e meus olhos caíram na 
seguinte frase: “Se Deus nos tivesse oferecido todas as crianças 
do mundo para escolher, L., nós escolheríam os apenas você.” 
Antes de L. voltar ao lugar dela no círculo, mostrei o bilhete para 
Bud, que estava sentado do meu lado. “Rápido, leia isto”, eu sus­
surrei, “é o segredo da vida”.
Maslow e Rogers teriam sorrido sabiamente. Para eles, a 
característica central da personalidade é o autoconceito — 
todos os pensam entos e sentim entos que tem os em resposta 
à pergunta “Q uem sou eu?”. Se nosso autoconceito for posi­
tivo, tendem os a agir e a ver o m undo positivamente. Se for 
negativo — se aos nossos olhos estivermos m uito longe do 
nosso eu ideal —, disse Rogers, sentim o-nos insatisfeitos e 
infelizes. Um objetivo valioso para terapeutas, pais, profes­
sores e amigos é, portanto, segundo ele, ajudar os outros a se 
conhecer, a se aceitar e a ser verdadeiros consigo mesmos.
Avaliando o Self
7 : Como os psicólogos humanistas avaliaram o 
sentido do self?
Os psicólogos hum anistas algumas vezes investigaram a per­
sonalidade pedindo às pessoas que respondessem a questio­
nários para avaliar seu autoconceito. Um questionário, ins­
pirado por Carl Rogers, pedia que elas se descrevessem com o 
realm ente eram e com o gostariam de ser. Q uando o self ideal 
e o self real são muito parecidos, disse Rogers, o autoconceito 
é positivo. Q uando avaliava o crescim ento pessoal de seus 
pacientes durante a terapia, ele procurava classificações suces­
sivamente mais próxim as entre o self real e o self ideal.
Alguns psicólogos hum anistas acreditavam que qualquer 
avaliação padronizada da personalidade até um questionário, 
é “despersonalizante”. Em vez de forçar a pessoa a responder 
a categorias restritas, esses psicólogos consideram que entre­
vistas e conversas íntim as possibilitam um a com preensão 
m elhor das experiências únicas de cada pessoa.
Avaliando a Perspectiva Humanista
8 : Como a perspectiva humanista influenciou a 
psicologia? Que críticas ela enfrentou?
Algo que se diz a respeito de Freud tam bém pode ser dito sobre 
os psicólogos hum anistas: seu impacto tem sido generalizado. 
As ideias de Maslow e de Rogers influenciaram o aconselha­
m ento, a educação, a criação das crianças e a administração.
au toconce ito todos os nossos pensam entos e 
sentim entos, em resposta à pergunta: “ quem sou eu?”
Eles tam bém influenciaram — às vezes de modo não inten­
cional — m uito da psicologia popular de hoje. Um autocon­
ceito positivo é a chave para a felicidade e o sucesso? A acei­
tação e a empatia ajudam a nutrir sentimentos positivos sobre 
si m esm o? As pessoas são basicam ente boas e capazes de se 
aperfeiçoar? Muitas pessoas respondem sim, sim e sim. Res­
pondendo a um a pesquisa de opinião do Instituto Gallup e 
da N ewsweek feita em 1992 , 9 em 10 norte-am ericanos clas­
sificaram a autoestima com o um fator muito im portante para 
“m otivar um a pessoa a trabalhar com afinco e ser bem -suce­
dida". A mensagem da psicologia hum anista foi ouvida.
A proem inência da perspectiva hum anista desencadeou 
um a onda de críticas. Prim eiro, disseram os críticos, seus 
conceitos são vagos e subjetivos. Considere a descrição de 
Maslow de pessoas autorrealizadas com o francas, espontâ­
neas, afetuosas, com autoaceitação e produtivas. Essa é um a 
descrição científica? Não será apenas um a descrição dos ide­
ais e valores pessoais de Maslow? Maslow, observou M. Brews- 
ter Smith (1 9 7 8 ) , ofereceu impressões de seus heróis pesso­
ais. Imagine outro teórico que tivesse um grupo diferente de 
heróis — talvez N apoleão, John D. Rockefeller e o ex-vice- 
presidente dos EUA Dick Cheney. Esse teórico provavelmente 
descreveria as pessoas autorrealizadas com o “não coibidas 
pelas necessidades dos outros”, “motivadas pela realização” 
e “obcecadas pelo poder”.
Os críticos tam bém se opuseram à ideia de Carl Rogers de 
que “a única pergunta que im porta é: ‘Estou vivendo de um 
modo que é profundam ente gratificante para m im e que real­
m ente m e expressa?’” (citado por W allach e W allach, 1 9 8 5 ). 
O individualismo incentivado pela psicologia hum anista — 
confiar e agir de acordo com os próprios sentim entos, ser
verdadeiro consigo mesmo, satisfazer a si mesmo — pode levar 
à satisfação excessiva dos próprios desejos, ao egoísmo e à 
erosão das restrições m orais (C am pbell e Specht, 1 9 8 5 ; 
W allach e W allach, 1 9 8 3 ). De fato, são aqueles que olham 
para além de si m esm os que estão mais propensos a vivenciar 
o apoio social, a desfrutar da vida e a enfrentar o estresse do 
m odo eficaz (Crandall, 1 9 8 4 ).
Os psicólogos hum anistas co n tra-argu m en taram que o 
prim eiro passo para am ar os outros é, na verdade, um a auto­
aceitação segura e não defensiva. De fato, pessoas que se sen­
tem intrinsecam ente amadas e aceitas — pelo que são, e não 
apenas por suas realizações — exibem atitudes m enos defen­
sivas (Schimel et al., 2 0 0 1 ) .
Um a derradeira acusação feita contra a psicologia hum a­
nista é que ela não leva em con ta a realidade da nossa capa­
cidade hum ana para o mal. Diante do aquecim ento global, 
da superpopulação do planeta e da expansão das arm as nucle­
ares, podemos ficar apáticos diante de duas possibilidades: o 
otim ism o ingênuo que nega a am eaça ( “As pessoas são basi­
cam ente boas; tudo será resolvido” ) e o desespero sombrio 
( “N ão há esperança; por que ten tar?”). A ação requer rea­
lismo suficiente para fom entar preocupação e otimismo sufi­
ciente parafornecer esperança. A psicologia hum anista, dizem 
os críticos, incentiva a esperança necessária, mas não o rea­
lismo igualmente necessário acerca do mal.
ANTES DE PROSSEGUIR...
> Pergunte a Si Mesmo
Você já teve aiguém na vida que o aceitou 
incondicionalmente? Você acha que essa pessoa o ajudou a 
se conhecer melhor e a desenvolver uma imagem melhor de si 
mesmo?
> Teste a Si Mesmo 3
O que significa ter “empatia”? Ser “autorrealizado"?
As respostas às questões Teste a Si Mesmo podem ser encontradas no 
Apêndice B, no final do livro.
A Perspectiva do Traço
9 : Como os psicólogos utilizam os traços para 
descrever a personalidade?
Em vez de se concentrar em forças inconscientes e em opor­
tunidades de crescim ento frustradas, alguns pesquisadores 
tentam definir a personalidade em term os de padrões de com ­
portam ento estáveis e duradouros, tais com o a lealdade e o 
otimismo de Sam Gamgee. Essa perspectiva rem onta, em parte, 
a um encontro extraordinário ocorrido em 1919, quando Gor- 
don Allport, um curioso estudante de psicologia de 22 anos, 
entrevistou Freud em Viena. Allport logo descobriu quanto o 
fundador da psicanálise estava querendo encontrar motivos 
ocultos, até m esm o em seu com portam ento durante a entre­
vista. Essa experiência por fim levou Allport a fazer o que Freud 
não fez: descrever a personalidade em term os de traços fun­
dam entais — os com portam entos e os motivos conscientes 
característicos das pessoas (tal com o a curiosidade profissio­
nal que motivou Allport a ir ao encontro de Freud). Encontrar 
Freud, disse Allport, "ensinou-m e que ela [a psicanálise], por 
todos os seus méritos, pode mergulhar muito fundo, e que os 
psicólogos fariam bem em dar total reconhecim ento aos m oti­
vos m anifestos antes de sondarem o inconsciente”. Allport 
veio a definir a personalidade em term os de padrões de com ­
portam ento identificáveis. Ele estava menos preocupado em 
explicar os traços individuais do que em descrevê-los.
C om o Allport, Isabel Briggs Myers (1 9 8 7 ) e sua m ãe, 
Katharine Briggs, queriam descrever diferenças de persona­
lidade im portantes. Elas ten taram classificar as pessoas de 
acordo com os tipos de personalidade propostos por Carl 
jung, baseados em suas respostas a 12 6 perguntas. O Indica­
dor de Tipo M yers-Briggs (M BTI), disponível em 21 idiomas, 
é aplicado a mais de 2 milhões de pessoas por ano, princi­
palmente para fins de aconselham ento, treinam ento em lide­
rança e desenvolvimento de equipes de trabalho (CPP, 2 0 0 8 ) . 
Esse indicador oferece escolhas, tais com o “Você costum a dar 
mais valor ao sentim ento do que à lógica, ou à lógica mais 
do que ao sen tim ento?”. Depois con ta as preferências dos 
participantes e as rotula com o indicando, digamos, um tipo 
“sentim ental” ou “racional” e as devolve à pessoa em term os 
acolhedores. Aos tipos sentim entais, por exemplo, é dito que 
são sensíveis aos valores e “empáticos, apreciativos e gentis”; 
aos tipos racionais diz-se que “preferem um padrão objetivo 
da verdade” e que são “bons em análise”. (Todos os tipos têm 
seus pontos fortes, por isso todo m undo se afirm a.)
A m aioria das pessoas concorda com o perfil anunciado 
do seu tipo. Afinal, ele reflete suas preferências declaradas. 
Também podem aceitar seus rótulos com o base para parce­
rias com colegas de trabalho e para a designação de tarefas 
supostam ente adequadas a seus tem peram entos. Um relató­
rio am ericano do N ational Research Council, no entanto, 
observou que, apesar da popularidade do teste nos negócios 
e orientações de carreira, seu uso inicial ultrapassou as pes­
quisas por seu valor de previsão de desempenho profissional, 
e que “a popularidade desse instrum ento na ausência de vali­
dade científica com provada é problem ática” (D ru ckm an e 
Bjork, 1991 , p. 101 ; ver tam bém Pittenger, 1 9 9 3 ) . Apesar de 
as pesquisas sobre o MBTI se acum ularem a p artir dessas 
advertências, o teste se m antém principalm ente com o um 
instrum ento de aconselham ento e orientação profissional 
( coach in g ), e não de pesquisa.
traço um padrão característico de com portam ento ou 
uma disposição para sentir e agir, con form e avaliado por 
relatos pessoais e re la tórios de pares.
Explorando os Traços
Classificar as pessoas com o tendo um ou outro tipo distinto 
de personalidade não capta plenam ente a individualidade 
delas. Então, de que outro modo podemos descrever suas per­
sonalidades? Podem os descrever um a m açã considerando 
várias dim ensões de traço s — relativam en te grande ou 
pequena, verm elha ou verde, doce ou ácida. Ao colocar pes­
soas em várias dimensões de traços sim ultaneam ente, os psi­
cólogos podem descrever incontáveis variações individuais 
de personalidade. (Lembre-se, do Capítulo 6, de que varia­
ções em apenas três dimensões de cores — matiz, saturação 
e luminosidade — criam muitos milhares de cores.)
Quais dimensões de traços descrevem a personalidade? Se 
você tivesse um encontro m arcado com um desconhecido do 
sexo oposto, que traços de personalidade poderiam lhe dar 
um a impressão precisa da pessoa? Allport e seu colega H. S. 
Odbert (1 9 3 6 ) con taram literalm ente todas as palavras em 
um dicionário não resumido com as quais se poderia descre­
ver as pessoas. Q uantas palavras havia no dicionário? Quase 
1 8 .0 0 0 ! Com o, então, os terapeutas podem condensar a lista 
de traços básicos em um núm ero manejável?
Ansioso 
Rigoroso 
Sóbrio 
Pessimista 
Reservado 
Não social 
Calado
INTROVERTIDO
Passivo
Cuidadoso
Pensativo
Pacífico
Controlado
Confiável
INSTÁVEL
Temperamental
Bem-humorado 
Calmo
ESTÁVEL
Sensível
Inquieto
Agressivo
Excitável
Volúvel
Impulsivo
Otimista
Ativo
------------EXTROVERTIDO
Sociável 
Despachado 
Falante 
Reativo 
Fácil de lidar 
Alegre 
Despreocupado 
Líder
> F IG U R A 13.4
Duas dimensões da personalidade Os cartógrafos podem nos 
dizer muito sobre o uso de duas coordenadas (norte-sul e leste- 
oeste). Hans Eysenck e Sybil Eysenck usaram dois fatores primários de 
personalidade - extroversão-introversão e estabilidade-instabilidade — 
como coordenadas para descrever a variação de personalidade. As 
combinações variadas definem outros traços mais específicos. (De 
Eysenck e Eysenck, 1963.)
Análise Fatorial
Um m étodo tem sido propor traços, tais com o ansiedade, 
que algumas teorias consideram básicos. Uma técnica mais 
recente é a an álise fa to r ia l, o procedim ento estatístico des­
crito no Capítulo 10 para identificar conjuntos de itens de 
testes que indicam com ponentes básicos de inteligência (tais 
com o habilidade espacial ou habilidade verbal). Imagine que 
pessoas que se descrevem com o sociáveis tam bém tendam a 
dizer que gostam de agitação, de pregar peças nos outros e 
que não gostam de ficar lendo em silêncio. Tal conjunto de 
com portam entos estatisticamente correlacionados reflete um 
traço, ou fator básico — neste caso, um traço denom inado 
extroversão.
Os psicólogos britânicos Hans Eysenck e Sybil Eysenck 
acreditam que podemos reduzir muitas de nossas variações 
individuais norm ais a duas ou três dim ensões, incluindo 
ex troversão-in troversão e estab ilidade-in stab ilidade em ocional 
(F IG U R A 1 3 .4 ). O Q uestionário de P ersonalidade de Eysenck 
foi respondido por pessoas em 35 países em todo o mundo, 
desde a China até Uganda e Rússia. Quando as respostas das 
pessoas são analisadas, os fatores extroversão e emotividade 
inevitavelmente emergem com o dimensões básicas da perso­
nalidade (Eysenck, 1 990 , 1 9 9 2 ) . Os Eysencks acreditavam 
que esses fatores são geneticam ente influenciados, e as pes­
quisas apoiam essa crença.
Biologia e Personalidade
Exames da atividade cerebral dos extrovertidos som am -se à 
lista crescente de traços e estados m entais que foram explo­
rados com procedim entos de im agens do cérebro. (A lista 
inclui inteligência, impulsividade, vícios, m entira, atração 
sexual, agressividade,em patia, experiência espiritual e até 
m esm o atitudes racistas ou políticas [O lson, 2 0 0 5 ] .) Tais 
estudos indicam que os extrovertidos buscam estímulos por­
que sua excitação cerebral norm al é relativamente baixa. Exa­
mes feitos por PET m ostram que um a área do lobo frontal 
envolvida na inibição do com portam ento é m enos ativa em 
extrovertidos do que em introvertidos (Johnson et al., 1 9 9 9 ). 
A dopam ina e a atividade neural ligada à dopam ina tendem 
a ser mais altas nos extrovertidos (W acker et al., 2 0 0 6 ) .
A biologia influencia nossa personalidade tam bém de 
outras m aneiras. Com o você deve lem brar dos estudos sobre 
adoção e gêmeos no Capítulo 4, nossos genes têm m uito a 
dizer sobre o tem peram ento e o estilo de com portam ento que 
ajudam a definir nossa personalidade. Jerom e Kagan, por 
exem plo, atribuiu as diferenças de timidez e inibição nas 
crianças à reatividade do sistem a nervoso au tôn om o delas. Dado 
um sistem a nervoso au tôn o m o reativo, respondem os ao 
estresse com m aior ansiedade e inibição. A criança destemida 
e curiosa pode se tornar um alpinista ou um m otorista que 
gosta de dirigir em alta velocidade.
Samuel Gosling e seus colegas (2 0 0 3 ; Jones e Gosling,
2 0 0 5 ) relatam que as diferenças de personalidade entre cães 
(em term os de energia, afeto, reatividade e inteligência) são 
tão evidentes e tão consistentem ente avaliadas quanto as dife­
renças de personalidade hum anas. M acacos, chim panzés, 
orangotangos e até m esm o pássaros têm personalidades está­
veis (W eiss et al., 2 0 0 6 ) . Entre os parídeos (um parente euro­
peu do chapim n orte-am ericano), pássaros ousados inspecio­
nam m ais rapidam ente novos objetos e exploram árvores 
(G roothuis e Carere, 2 0 0 5 ; Verbeek et al., 1 9 9 4 ). Por meio 
da reprodução seletiva, os pesquisadores podem produzir aves 
mais ousadas ou mais tímidas. Os dois tipos têm seu lugar na 
história natural. Nos anos mais difíceis, os pássaros ousados 
provavelmente encontrarão alimento; nos anos de fartura, os 
pássaros mais tímidos se alim entarão com menos riscos.
Avaliando os Traços
10: O que são inventários de personalidade, e 
quais são seus pontos fracos e fortes como 
instrumentos de avaliação de traços?
Se traços estáveis e duradouros guiam nossas ações, seria pos­
sível criar testes válidos e confiáveis desses traços? Existem 
várias técnicas de avaliação derivadas dos conceitos de traço
— algumas mais válidas do que outras (veja a seguir a seção 
“C om o Ser um Astrólogo ou Q u irom an te de ‘Sucesso’” ). 
Algumas traçam o perfil dos padrões de com portam ento de 
um a pessoa quase sempre oferecendo avaliações rápidas de 
um único traço, tal com o extroversão, ansiedade ou autoes­
tim a. Os inventários de personalidade — questionários 
mais longos nos quais as pessoas respondem a itens que 
abrangem um a vasta gama de sentim entos e com portam en­
tos — foram criados para avaliar vários traços de um a vez.
O inventário clássico de personalidade é o Inventário 
Multifásico de Personalidade de M innesota (M M PI). 
Embora avalie tendências “anorm ais” e não os traços nor­
mais de personalidade, o MMPI ilustra um a boa m aneira de 
com o desenvolver um inventário de personalidade. Um de 
seus criadores, Starke H athaw ay ( 1 9 6 0 ) , co m p arou seu 
esforço ao de Alfred Binet. Binet, com o você deve se lembrar 
do Capítulo 10, desenvolveu o primeiro teste de inteligência 
selecionando itens que discrim inavam crianças que teriam 
problemas em progredir norm alm ente em escolas francesas. 
Os itens do MMPI tam bém foram obtidos empiricamente. 
Ou seja, a partir de um amplo conjunto de itens, Hathaway 
e seus colegas selecionaram aqueles nos quais determinados 
grupos de diagnósticos diferiam. Depois eles agruparam as 
perguntas em 10 escalas clínicas, incluindo escalas que ava­
liavam tendências depressivas, masculinidade-feminilidade 
e introversão-extroversão.
Inicialmente, Hathaway e seus colegas apresentaram cen­
tenas de declarações do tipo “falso” ou “verdadeiro” ( “N in­
guém me en ten d e”; “Eu ten h o tod a a com p reen são que 
m ereço”; “Eu gosto de poesia” ) a grupos de pacientes psico­
logicam ente perturbados e a pessoas “n orm ais”. Eles retive­
ram toda e qualquer declaração — por mais tola que pudesse 
parecer — cuja resposta do grupo de pacientes diferisse das 
respostas do grupo norm al. “Nada no jornal me interessa, 
exceto as histórias em quadrinhos” pode parecer insensato, 
mas acontece que as pessoas deprimidas estavam mais incli­
nadas a responder “verdadeiro”. (N ão obstante, há quem se 
divirta ao zombar do MMPI propondo itens com o: “C horar 
me deixa com lágrim as nos olhos” , “G ritos frenéticos me 
deixam nervoso” e “Eu fico na banheira até parecer um a uva- 
passa” [Frankel et al., 1 9 8 3 ] .) O M M PI-2 atual contém tam ­
bém escalas clínicas para avaliar, por exemplo, atitudes no 
trabalho, problemas familiares e raiva.
Em contraste com o caráter subjetivo da m aioria dos tes­
tes projetivos, preferidos pelos psicanalistas, os inventários 
de personalidade são pontuados objetivamente — a tal ponto 
que um com putador pode aplicá-los e corrigi-los. (O co m ­
p utador tam bém pode fornecer descrições de pessoas que 
deram respostas semelhantes anteriorm ente.) A objetividade, 
entretanto, não garante a validade. Por exemplo, aqueles que 
se subm etem ao MMPI com o propósito de conseguir um 
emprego podem dar respostas socialm ente desejáveis para 
causar boa impressão. Mas, ao fazer isso, essas pessoas tam ­
bém podem m arcar muitos pontos na escala de m entira , que 
avalia até que ponto um a pessoa está fingindo para causar 
boa impressão (ao responder “falso” a afirmativas universal­
m ente verdadeiras do tipo “Às vezes fico com raiva”). A obje­
tividade do MMPI contribui para que ele encontre grande 
aceitação e tenha sido traduzido para mais de cem línguas.
inven tá rio de pe rsona lidade um questioná rio (em 
gerai com opções do t ip o verdadeiro-falso ou concordo- 
discordo ) em que as pessoas respondem a perguntas 
criadas para avaliar uma am pla gama de sentim entos e 
com portam entos; u tilizad o para avaliar traços de 
personalidade selecionados.
Inven tá rio M ultifás ico de Personalidade de M innesota 
(MMPI) o teste de personalidade mais am plam ente 
pesquisado e u tilizado na prá tica clínica. O rig ina lm ente 
desenvolv ido para id en tifica r transto rnos em ocionais 
(a inda considerado seu uso mais ap rop riado), este teste 
agora é u tilizado para m uitas outras fina lidades de 
seleção.
teste o b tid o em piricam ente um teste (com o o MMPI) 
desenvolvido testando-se diversos itens e depois 
selecionando aqueles que m elhor caracterizam os grupos.
Os Cinco Grandes Fatores
11: Que traços parecem fornecer informações 
mais úteis sobre a variação de personalidade?
Os atuais pesquisadores do traço supõem que as primeiras 
dimensões de traço , tais com o as dim ensões in trovertido/ 
extrovertido e instável/estável elaboradas por Eysenck, são 
im portantes, m as não representam todas as dim ensões da 
personalidade. Um conjunto de fatores levemente ampliado
— denom inado os Cinco G randes (B ig Five) — apresenta um 
resultado mais preciso (C osta e M cCrae, 1 999 ; John e Sri- 
vastava, 1 9 9 9 ) . Se um teste especifica onde você está nas
TABELA 13.2
Os " C inco G randes" Fatores da P ersonalidade
Dimensão de Traço Extremos da dimensão
Realização ou Organizado ■*----------- ----------- >- Desorganizado
conscienciosidade Cuidadoso < ----------- ----------- ► Descuidado
Disciplinado < ----------- ----------- *- Impulsivo
Socialização Amável —----------- ----------- i- Cruel
Confiável ■*----------- ----------- ► Suspeito
Prestativo -í----------- ; Egoísta
Neuroticismo (estabilidade vs Calmo ■*------- >■ Ansioso
instabilidade emocional) Seguro ^ ► Inseguro
Autossatisfação -<-►- Autopiedade
Abertura para a experiência Imaginativo
Preferência

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