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Fundamentos Básicos das grupoterapias - Zimerman (1)

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2 7 I f Zimerman, David Epelbaum
Fundam entos Básicos das Grupoterapias / David Epelbaum 
Zimerman. Porto Alegre — Artes Médicas Sul. 1993
1 .Terapia de Grupo I .Título
CDU 364.044.2
Bibliotecária responsável: Monica Ballejo Canto — CRB provisório 10/91
David Epelbaum Zimerman
Psicanalista
FUNDAMENTOS
BÁSICOS
I I I GSIF0TE1APIÄS
/ S 0 . % O ' t
PORTO ALEGRE / 1993
0 de EDITORA ARTES MÉDICAS SUL LTDA.
S A B / 2
Capa: Í 5 9 . 9 . 0 Í B / Z
Mário Rõhnelt f t l~ S o g O A i c f ö
L O C - B I ΠM 
Supea'isöo editorial: O G R A - 5 E 0 G Ö G & S 6 9 4
Delmar Paulsen
Editoração:
GRAFUNE — Assessoria Gráfica e Editorial Ltda. 
Fone: (051)341-1100
BIBUOTECAßlCEN 68694
UFS clas3ificaçío1 5 9 9 018/Z71F
TtnjL0 Fundam entos b ásicos das grupoterapias / David Epelbaum _
9806158 iiiiiiiiiiiiiiiiiiini
Reservados todos os direitos de publicação era língua portuguesa à 
EDITORA ARTES MÉDICAS SUL LTDA.
Av Jerònimo de Omelas, 670 — Foniêi (051) 330-3444 e 331-8244 
FAX (051) 330-2378 - 90040-340 Porto Alegre, RS, Brasil
LOJA-CENTRO
Rua General Vitorino, 277 — Fone (051) 225-8143 
90020-171 Porto Alegre, RS, Brasil
IMPRESSO NO BRASIL 
PRINTED IN BRAZIL
0 que se espera de um prefaciador é que elogie o autor, exalte as qualidades 
de sua obra e minimize seus defeitos. Há de pensar-se que nada é m ais fácil do 
que fazer isto quando o au to r não é apenas o colega que se destaca por seus 
méritos profissionais, m as sobretudo o amigo e com panheiro de ta n ta s jo rnadas 
pela vida afora. E, no entanto, quão difícil se to rna a tarefa pela necessidade de 
conter sentim entos e ser o mais isento e im parcial possível na su a execução.
Da obra o autor já nos apresenta, com su a habitual capacidade de síntese, 
um a excelente sinopse no capítulo introdutório, onde com enta su a s motivações 
pessoais e razões circunstanciais para escrevê-la. J á que ninguém poderá falar 
com mais autoridade sobre sua obra do que seu criador, os leitores certam ente 
me relevarão a intenção de neste prefácio falar an tes do autor do que de seu livro.
Disse alguém que o amigo é o irmão que se escolhe. Entre tan to s desses 
amigos-irmãos que a vida foi pródiga em me proporcionar, David é hoje aquele 
com quem há mais tempo convivo. Conheci-o ainda estudante de Medicina, q uan ­
do fui estagiar n a Clinica Pinei e lá o tive como m eu primeiro supervisor, travando 
logo contato com aquelas qualidades su a s que depois soube reconhecer não só 
como raras, m as também preciosas. Ele era cima de tudo o continente adequado 
para com nossas falhas e paciente com nossas inquietações. Coerente com suas 
preferências, fundadas n a etimologia, por educar em lugar de ensinar, sab ía dei­
xar espaço para que aflorasse o conhecim ento nascente do supervisionado, não 
impondo apripristicam ente seus pontos de vista, e — talvez su a característica 
mais m arcadam ente pessoal — sem pre extraindo algo de positivo do m ais caótico 
e inadequado de nossos procedimentos.
Anos mais tarde, acom panhando-o n a condução de um grupo F no Labora­
tório de Relações H um anas a que faz referência n a introdução deste livro, pude 
constatar “ao vivo” suas qualidades para a tarefa de lidar com grupos, os quais 
conduz invariavelmente de um modo suave, tranqüilo e afável, m as ao mesmo
V
• 
• 
• 
• 
• 
«
■
vi / David E. Zimerman
tempo firme e objetivo, sabendo como poucos fazer a síntese dos movimentos do 
grupo para integrar seus componentes no desempenho da tarefa proposta.
Desde então tenho acompanhado David em inúm eras outras atividades em 
grupos e não cesso de com ele apreender a como exercer com discrição e sereni­
dade a coordenação dos mesmos. É ele o que se poderia cognominar um “grupo- 
te rapeu ta nato”!
Além de seu invulgar talento como coordenador de grupos, David tem sido 
um incansável batalhador pela grupoterapia em nosso meio, quer na direção de 
entidades associativas como principalmente no treinam ento de novos profissio­
nais. E, como corolário deste seu renovado interesse em revitalizar a grupoterapia 
entre nós e de sua profícua e continuada atividade de professor e supervisor de 
grupoterapeutas, vem a lume agora este seu “Fundam entos Básicos das Grupo- 
terap ias”, que não só preenche um a importante lacuna em nossa escassa biblio­
grafia nacional sobre a m atéria como assegura desde já um a posição ímpar como 
livro texto n a formação de futuros grupoterapeutas no país e como obra de refe­
rência obrigatória p ara os trabalhos que vierem a ser publicados doravante sobre 
este ram o das psicoterapias.
Para que não se diga que este prefácio limitou-se aos encómios ao autor, 
façamos agora algum as breves considerações sobre sua obra.
O au to r é psicanalista e como tal é deste ponto de vista teórico que aborda 
os tem as grupais; não obstante, eclético e aberto ao diálogo, m ostra-se ele natu ­
ralm ente receptivo às demais correntes teóricas que influenciam o campo das 
grupoterapias. Como seria de esperar, contudo, por sua maior familiaridade com
o referencial analítico é ao utilizá-lo na abordagem dos fenômenos do campo 
grupai que nos traz suas mais fecundas contribuições à matéria. Esses fenôme­
nos são aqui abordados com uma riqueza conceituai e um a simplicidade didática 
raram ente encontradas, mesmo nos textos dos mais renomados especialistas. O 
estudo desses fenômenos são indubitavelmente o’ponto alto do livro.
Nos capítulos que tratam m ais especificamente de aspectos técnicos pode­
mos acom panhar as transformações por que passaram no pensam ento do autor 
certas formulações que identificaram a grupoterapia analítica em suas origens. 
Assim, por exemplo, questiona ele a atitude outrora preconizada de dirigir inter­
pretações sistem aticam ente ao grupo como um todo no pressuposto de que só 
assim se estaria conduzindo analiticamente um grupo. Da m esm a forma rediscu­
te, à luz dos novos aportes à teoria da técnica analítica e sustentando-se em sua 
experiência clínica de vários lusfros com a grupoterapia analítica, outras questões 
tidas como polêmicas e controVertidas, tais como a valorização da contratransfe- 
rência como instrum ento comunicacional, o emprego das interpretações extra- 
transferenciais, a discriminação das individualidades no contexto grupai, o uso 
da matriz interativa do grupo como agente terapêutico (através da função inter- 
pretativa dos próprios componentes do grupo) e assim por diante.
Destaque-se, ainda, o mérito do autor de expor-se e revelar su a maneira de 
trabalhar nas várias ilustrações clínicas que dão sustentação às digressões teóri-
Gnipoterapias I vii
cas. Esta é um a qualidade que só é evidenciada por quem tem su a práxis bem 
sintonizada com seu posicionamento teórico.
Contudo, o mérito essencial da obra talvez escape aos leitores que não 
conheçam ou convivam com o autor: é a extraordinária coerência en tre os conteú­
dos do texto e a personalidade de quem o redigiu. Ai encontram os o David com 
seu espirito conciliador e democrático, procurando valorizar em cada detalhe os 
aspectos hum anísticos e éticos do métier profissional a que se dedica, conduzindo 
seu raciocínio com a m esm a e invejável dose de bom senso com que conduz seus 
grupos.
Como disse de inicio, é extremamente difícil não se deixar levar pelo apreço 
que se tem ao amigo a quem se prefacia, m as ainda assim creio que os leitores 
concordarão, após transitarem pelo texto,que estam os diante de um a obra que 
chega no "timing" preciso e com qualidades suficientes para tom á-la um "livro de 
cabeceira" para todos nós que nos dedicamos às diversas m odalidades de grupo­
terapia em nosso meio.
De parabéns, portanto, o autor, a editora que acolheu su a obra e nós outros, 
leitores, que a usufruím os e com ela increm entam os nosso cabedal de conheci­
mentos sobre a matéria.
Luiz Carlos Osório
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Minha gratidão e homenagem:
À m inha esposa, Guite.
Aos m eus filhos, Leandro, Idete e Alexandre.Aos pacientes, m eus verdadeiros m estres.
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PREFÁCIO — Luís Carlos Osório, 
PRÓLOGO,1
PRIMEIRA PARTE
Princípios Gerais de Psicodinâm ica
C apítu lo 1 — Uma revisão sobre o desenvolvimento da personalidade, 9 
C apítu lo 2 — O Grupo familiar, 24
C a p í t u l o \ — Breve revisão sobre as principais síndromes clínicas, 30 
SEGUNDA PARTE
Princípios Gerais das Grupoterapias
C ap ítu loX ^ — Uma revisão histórico-evolutiva das grupoterapias 
Principais referenciais teórico-técnicos, 45 
C a p í tu lo * ^ — Importância e conceituação de grupo, 51 
C ap ítu lo N ^ — Modalidades grupais, 55 "■
C apítu lo 7 — Formação de um grupo terapêutico de base analítica, 64 
C apítu lo 8 — Início de um a grupoterapia analítica. Uma primeira sessão,
TERCEIRA PARTE 
Fenôm enos do Campo Grupai
C apítu lo — Campo grupai. Ansiedades. Defesas. Identificações, 79
Capítulo Yq. — Papéis. Lideranças, 86
Capítulo r t — Enquadre (setting) grupai, 93
C ap itu lo n s, — Resistência, 101
Capítulo Contra-Resistência, 106
Capítulo 14 — Transferência, 109
Capítulo 15 — Contratransferência, 114
Capítulo 16 . — Comunicação, 119
Capítulo 17 — Interpretação, 125
Capítulo 18 — Actings, 133
Capítulo 19 — Insight Elaboração. Cura, 139
Capítulo 20 — Perfil e função do grupoterapeuta, 148
QUARTA PARTE 
Outras Grupoterapias
0 Capítulo 21 — Grupos com crianças, púberes, adolescentes, casais, famílias, 
psicossomáticos, psicóticos, depressivos, 155 
Capítulo 22 — Grupos Operativos. Grupo de Reflexão aplicado ao 
ensino médico, 168 
Capítulo 23 — Estado atual das grupoterapias, 173
ÍNDICE BIBLIOGRÁFICO GERAL, 177 
ÍNDICE REMISSIVO, 179
PRÓLOGO
Ä motivação para escrever este livro sobre os fenômenos do campo grupai 
provém de três fontes. A primeira decorre da constatação de que no Brasil h á um a 
inequívoca necessidade de expansão das atividades grupoterápicas e de formação 
de técnicos especializados na área. De fato, h á no Brasil um profundo abismo 
entre o núm ero de pessoas que necessita — e certam ente poderia beneficiar-se de 
um a psicoterapia sistem ática — e a capacidade assistencial em atender a essa 
dem anda, sendo de lam entar que não esteja ocorrendo melhor aproveitamento de 
um recurso que tem um significativo potência] terapêutico, como é, sem dúvida,
o das grupoterapias.
A segunda razão é a evidência da necessidade de um livro de leitura básica, 
e isso pode ser medido pelo expressivo núm ero de grupoterapeutas em formação, 
assim como pelo reclamo de um grande volume de in teressados em grupoterapia 
que se tem manifestado neste sentido. Ju n to aos dem ais professores desta área, 
posso testem unhar a nossa dificuldade quanto a indicação de bibliografia relativa 
aos conceitos básicos, sem cair no inconveniente de ter que pinçar textos de 
autores diversos em diferentes obras.
O m eu terceiro motivo para escrever este m anual é o de que me pareceu 
adequado partilhar com colegas m ais jovens um a experiência intensiva e diversi­
ficada no trabalho com distintas modalidades grupais que venho acum ulando há 
mais de 30 anos.
E sta experiência teve início na Clínica Pinei de Porto Alegre — RS, onde 
desenvolvíamos, de forma sistemática, três tipos de atividades em grupos: as de 
ordem administrativo-reflexiva (intra e interequipes técnicas), as com unitárias 
(com a totalidade dos técnicos de todos níveis hierárquicos, alguns funcionários,
1
2 I David E. Zimerman
pacientes e familiares) e a grupoterapia de finalidade terapêutica (com pacientes 
psicóticos, internados ou em regime de hospital-dia).
Posteriormente, com o incentivo do Dr. Fernando Guedes, então diretor do 
Hospital Psiquiátrico São Pedro de Porto Alegre, introduzi e desenvolvemos um 
trabalho similar nesse hospital.
No Centro Médico da Vila Sâo José do Murialdo, também n esta capital, onde 
a assistência médica se processa em moldes comunitários, além das costum eiras 
reuniões com as equipes técnicas multidisciplinares e os grupos de finalidade 
reflexiva com os alunos dos cursos de especialização, coordenei grupos com crian­
ças, adolescentes e de promoção de saúde, em particular com gestantes.
Por outro lado, participei do “Laboratório das Relações H um anas" programa 
intensivo de reciclagem de ensino-aprendizagem, destinado aos professores da 
área biomédica, promovido pela Faculdade de Medicina, em conjunto com a Fa­
culdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, de Porto 
Alegre — onde eu coordenava um grupo do tipo “F" (free) realizado com docentes 
universitários em reuniões diárias. No mesmo programa, eram desenvolvidas a ti­
vidades baseadas em dramatizações, visando à vivência de role-playings.
Considero que a m inha experiência enriqueceu muito com o trabalho de 
grupo desenvolvido ju n to ao PEC (Programa de Educação Médica Continuada), no 
qual, juntam ente com colegas de outras especialidades médicas, básicas, com pú­
nham os equipes polivalentes e nos deslocávamos para cidades do interior do 
Estado onde trabalhávam os com a comunidade médica de cada um a dessas re­
giões. Faziamos um trabalho ao vivo, nos respectivos hospitais de cada regional, 
sendo que a m inha função era a de, através de um a sistem ática atividade grupai 
reflexiva, desenvolver nos colegas um a m udança psicológica em relação à sua 
atitude médica, assim como a de consolidar o seu sentimento de identidade pro­
fissional, sempre dentro do clássico tripé: conhecim entos-habilidades-atitudes. 
Participei desse gratificante programa de educação médica duran te exatos dez 
anos, não só como psiquiatra da equipe de ensino, mas, também, n a condição de 
um dos fundadores e responsável, duran te alguns anos, atuando na sua coorde­
nação geral.
Como decorrência dessa experiência, vim a desenvolver, a convite, um a 
atividade sistem ática de "grupos de reflexão”, com duração minima de um ano 
cada, com médicos-residentes no Hospital Independência de Porto Alegre (espe­
cializada em traumatologia) e no Hospital Nossa Senhora da Conceição, também 
desta cidade, com médicos residentes em Medicina Interna e Medicina Comunitária.
Outro fruto direto do PECÍoi o de, jun to com os colegas Luís Carlos Osório 
e Geraldina Viçosa, am bos psicanalistas e grupoterapeutas, term os criado o CE- 
PEC (Centro de Programas de Educação Continuada). Nos diversos cursos que 
são desenvolvidos pelo CEPEC, os módulos de ensino sempre se desenvolvem em 
três tempos: a discussão teórica do tem a programado, a complementação da 
teoria através da discussão prática do m aterial clinico trazido pelos alunos e o 
grupo de reflexão, o qual é baseado no livre aporte de qualquer assunto , cuja m eta
Grupoterapias I 3
é a integração entre a reflexão da experiência afetiva grupai e o aprendizado 
teórico-prático anterior.
Paralelamente, desde 1960, a partir da m inha formação psicanalitica, de­
senvolvi, em m inha clinica privada, um a in in terrupta atividade de psicoterapia 
analítica de grupo com pacientes de organização neurótica da personalidade. Com
o correr do tempo, a partir do aporte de novos conhecimentos teórico-téenicos 
provindos de diferentes correntes da psicanálise e da grupoanálise, assim como 
da abertura das fronteiras destas últimas com as ou tras áreas grupoterápicas e, 
sobretudo, a partir das vivências que só a cotidiana experiência pessoal propicia, 
acrescida das que são vividas n a supervisão de colegas mais jovens, fui sofrendo 
modificações na maneira de compreender e traba lhar com grupos em geral e com 
a grupoterapia analítica, em particular.
Este livro pretende, justam ente, condensar os conhecimentos básicos que 
se encontram esparsos na Mteratura especializada e integrá-los com os proceden­
tes da m inha própria formação e experiência.
Em forma esquemática, a s atividades grupais podem se r reduzidas a dois 
grandes tipos: Grupos Operativos e Grupos Terapêuticos. É preciso fazer a ressal­
va de que o termo "operativo” refere-se mais genericamente a um esquem a con- 
ceitual-referencial,sendo que os seus princípios básicos também estão sempre 
presentes nos demais grupos terapêuticos.
Os grupos operativos propriamente ditos são m ais utilizados em tarefas 
específicas de ensino-aprendizagem e em program as organizacionais.
Os grupos de finalidade terapêutica, por sua vez, podem ser subdivididos em 
dois tipos: 1) os que têm um âmbito mais abrangente n a área da Medicina e não 
são essencialmente psicoterápicos e 2) os grupos psicoterápicos primordialmente 
dirigidos ao insight e às m udanças na estruturação psíquica.
Os grupos terapêuticos não essencialmente psicoterápicos estão sendo m ui­
to utilizados em diversos program as de saúde m ental (Medicina prim ária, preven­
tiva); em múltiplas aplicações de grupos de au to-ajuda (Medicina secundária, 
curativa) e em programas de reabilitação (Medicina terciária).
As grupoterapias propriamente ditas, por su a vez, podem estar fundam en­
tadas em postulados provindos de distintas correntes, tais como: psicanalitica, 
psicodramática, sistêmica, cognitivo-comportamental, ou podem es tar baseadas 
em um a abordagem mista, holística, em que há um a certa combinação das cor­
rentes anteriores.
Este livro pretende fazer um a revisão generalizada sobre todas as modalida­
des expostas, porém objetiva dar um maior realce às grupoterapias, mais particu­
larm ente às de fundam entação psicanalitica. Os capítulos que o compõem partem 
da prem issa de que um grupo se constitui como um a entidade nova e singular, 
sendo que isso não exclui que cada um de seus membros continue sendo um 
indivíduo com identidade própria e sujeito às m esm as vivências psicológicas que 
caracterizam todo e qualquer vínculo terapêutico bipessoal, como é o da interação 
analista-paciente, própria de um a psicanálise individual.
4 I David E. Zimerman
Por esta razão, a exposição que é feita dos fenômenos grupais será sempre 
precedida por um a breve revisão atualizada desses mesmos fenômenos, vistos sob 
a ótica da psicanálise clássica.
Assim, este m anual está sistematizado em quatro partes. Na primeira parte, 
são abordados os Princípios Gerais de Psicodinãmica, desdobrados em três capí­
tulos: o primeiro consta de um a breve revisão de como se processa o desenvolvi­
mento psíquico de todo indivíduo, em um a trajetória que vai de um estado de 
indiferenciação com a mãe e em absoluta dependência desta até o de um estado 
adulto e emancipado. Nesse processo de estruturação da personalidade é de fun­
dam enta] im portância a influência exercida pelo entorno familiar original, espe­
cialm ente pela transm issão de um código de valores, assim como na determ ina­
ção dos processos identificatórios e pela atribuição de papéis a serem desempe­
nhados ao longo da vida.
Uma grupoterapia propicia, com mais transparência, a reprodução dessas 
tão im portantes vivências do grupo familiar original. Assim, o Capítulo 2 revisa a 
influência da família, muito mais particularm ente o papel da mãe.
O Capítulo 3 se propõe a fazer um a sumarização das diversas formas de 
como a estru turação psíquica se configura em cada indivíduo separadamente, 
tanto do ponto de vista caracterológico como de síndromes psiquiátricas.
A segunda parte intitulada Princípios Gerais da Grupoterapia, objetiva traçar 
um painel abrangente das condições básicas que fundamentam as grupoterapias, 
tanto do ponto de vista histórico-evolutivo (Capítulo 4) e conceituai (Capítulo 5), 
como o relativo às múltiplas e variadas modalidades grupoterápicas (Capítulo 6).
O Capítulo 7 aborda, mais especificamente, o importante aspecto da formação de 
um grupo terapêutico de base analítica, em especial quanto aos aspectos de 
encam inham ento, seleção e composição, assim como o das respectivas indicações 
e contra-indicações. Em continuação, o Capítulo 8 descreve, na íntegra, um a 
primeira sessão de um a grupoterapia, com os respectivos comentários relativos às 
leis da dinâm ica grupai presentes na sessão, às ansiedades emergentes, aos m e­
canism os defensivos utilizados por cada um e todos do grupo incipiente, a ativi­
dade interpretativa do grupoterapeuta, etc.
A terceira parte deste livro estuda mais particularm ente os Fenômenos do 
Campo Grupai isto é, aqueles aspectos que surgem de forma espontânea e inevi­
tável em qualquer grupo, independentemente da sua natureza. O que, de fato, 
varia de um tipo de grupo para outro é fundamentalmente o objetivo precípuo 
para o qual cada um deles foi formado: se de ensino ou se psicoterápico e, neste 
caso, se de apoio, ou para insigfit, etc. Conforme o objetivo de um grupo, caberá 
ao seu coordenador o emprego'de táticas e de técnicas diferenciadas que propicia­
rão, ou não, a emergência é o manejo dos referidos fenômenos do campo grupai. 
Assim, o Capítulo 9 aborda, com maior especificidade, o surgimento de ansieda­
des, os mecanismos defensivos e o complexo jogo de identificações que estão 
sem pre presentes em qualquer situação de dinâmica grupai. Da mesma forma, há 
um a imperativa tendência em todo tipo de grupo para uma distribuição de posi­
Grupoterapias I 5
ções e de papéis, notadam ente o das lideranças, tal como é estudado no Capitulo
10. Mais particularm ente, em relação aos grupos terapêuticos com vistas ao in­
sigh t seguem -se os capítulos que tratam da im portância do setting (Capítulo 11), 
da resistência (Capítulo 12) e contra-resístência (Capítulo 13), da transferência 
(Capítulo 14), da contratransferência (Capítulo 15), dos aspectos da linguagem e 
da com unicação (Capítulo 16), da interpretação (Capítulo 17), dos actings (Capí­
tulo 18), assim como dos fatores terapêuticos e antiterapêuticos que concorrem 
para a aquisição do insight e dai para a elaboração e a cura (Capítulo 19). Nesse 
contexto — e dele indissociável —, cresce de importância a figura do grupotera- 
peuta, cujo perfil e funções são estudados no Capítulo 20.
A quarta parte dedica um espaço particular para a abordagem de Outras 
Grupoterapias, tal como é o Capítulo 21, no qual são feitas abreviadas considera­
ções sobre os grupos com crianças, com púberes, com adolescentes, casais, famí­
lias, psicossom áticos, psicóticos, depressivos. Dentre os outros tipos de grupos 
que não os analíticos, o Capítulo 22 é dedicado a um a forma especial de grupos 
operativos, que consiste n a utilização da técnica do Grupo de Reflexão, aplicada 
ao ensino médico. Finalm ente, o ciclo da temática grupai é encerrado no Capítulo 
23, onde são d iscutidas as condições atuais, assim como as perspectivas futuras 
das grupoterapias.
Cada Capítulo será seguido por um a indicação de fontes bibliográficas, de 
distin tas orientações, que foram por mim consultadas, e que podem servir como 
um roteiro para o leitor que quiser ampliar a sua leitura sobre um determinado 
assunto.
Primeira Parte 
PRINCÍPIOS GERAIS DE PSICODINÄMICA
BREVE REVISÃO SOBRE O 
DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE
D esde Freud conhecemos o principio básico de que o grupo e as individua- 
lidades são indissociados e que se encontram em um perm anente jogo dialético 
entre si. Este postulado justifica a necessidade de revisarm os os principais movi­
mentos que processam a normalidade, ou a patologia, da formação da personali­
dade dos indivíduos.
As considerações que seguem não visam mais do que a um a tentativa de 
sistem atizar os conceitos evolutivos, que são am plam ente conhecidos, m as que 
comumente vêm acom panhados de um a certa imprecisão conceituai e de um a 
falta de ordenamento claro, o que se deve ao fato de as contribuições dos pesqui­
sadores procederem de múltiplas escolas do pensam ento psicanalítico, com diver­
sos vértices teóricos, os quais, sob diferentes denominações, m uitas vezes se 
superpõem, convergem, ou divergem, num complexo jogo combinatório.
Por esta razão, a sumarização que se apresen ta a seguir resu lta de um a livre 
utilização dos conhecimentos adquiridos, a p artir dos autores mais representati­
vos das diversas correntes psicanalíticas, sem privilegiarnenhum a, m as, sim, 
pelo critério de como eles estão elaborados em nós.
1. Interação biopsicossocial. Sempre há, de acordo com a equação etioló- 
gica de Freud, um a constante interação entre os-inatos-fatores biológicos, em 
nível neurofisiológico, e os estímulos provenientes do m undo exterior. A evolução 
dos primeiros caracteriza o processo de m aturação, sendo que o crescim ento do 
indivíduo como um todo, especialmente o lado psicológico, é considerado como 
sendo o desenvolvimento.
Certos autores, como Melanie Klein e seguidores, por exemplo, privilegiam. 
os fatores inatos, pulsionais, enquanto outros (Winnicott, Kohut, M argareth
9
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H
H
H
10 / David E. Zimerman
M,Ihier e Lacan , entre outros) enfatizam a importância estru tu ran te do meio 
: 1111 biente. sobretudo o da màe.
2. Pulsões. O s ja tores inatos compreendem a presença de pulsões [gujm - 
) h iI‘.os) c o de um ego arcaico, Q_qual já traz embutido em si toda um a ja m a de 
poli'iidalidades-a^eiem m aturadas._£jiea£nyolvidas. Tais pulsões (o termo “pul- 
híío" ó a melhor tradução para tneb, do original alemão, em Freud, e deve ser 
' crenclado de instinkt, cuja tradução literal designa os instintos irreversíveis e 
i-.peciflcos para cada espécie do reino animal), são binárias, isto ê, se constituem
d.r. forças coesivas e desagregadoras (cLisrupüuas).
Conforme Freud, as pulsões têm quatro características: um a fonte, um a 
lliiiilldade, um a força e se dirigem a um objeto [exterior e /ou ao próprio corpo).
As denominações que qualificam as pulsões têm variado conforme o p ara­
digma conceituai, em seus distintos lugares e épocas; no entanto, sempre é con- 
M i v;ida uma dualidade. Assim, Freud inicialmente os denominou pulsões do ego 
(d i '.nil(i[)i eservação) e sexuais (preservação da espér.iel Posteriormente, os clas- 
•illlcoii cm pulsões libidinais e agressivas, sendo que, a partir de 1920, passou a 
denomina las como sendo de vida (eros) e de morte (tânatos). Em sua concepção 
' - IIn lihalisla. cie reuniu todas as pulsões na instância “Id” (termo latino que
I iirrr.ponde ao das es alemão).
Mel.mii' Klein, por sua vez, inspirada em Freud, construiu toda a sua teoria
I I>.iiIir do conceito de “instinto de morte", sendo importante registrar que essa
I ti In ill tv. I vivência interna de morte é sem antizada pelo ego arcaico como um a 
.m ir.iça di' um a total destruição interna (ansiedade de aniquilamento).
incip iente. A crença na existência ou inexistência de um ego desde 
" h.im im nilo tem dividido os autores. Aqueles que utilizam o referencial dos 
li Ih Ini% da-, relações obietais (Fairbaim: M. Klein e seguidores) impõe-se a obri- 
f'.ilin ia I niivicçào de que existe no recém-nascido um ego rudim entar, encarrega-
1,11 llr os indispensáveis, contatos com o m undoj£xt£DPii-CPm..a ta refa de
iilentes tanto de dentro como de fora do nascituro . O conceito da existência inata 
d' um ego rudim entar fica mais claro a partir da seguinte analogia: o nascituro 
|a ic .p lra bem antes de que o seu aparelho respiratório já esteje plenamente 
cntmllttiido.
( ):> referidos estímulos sobre o bebê podem ser prazerosos ou desprazerosos, 
'.( lido que estes últimos decorrem sobrem aneira dos estados de sede, fome, frio, 
dura- desam paro.
l-orma-se um arranjo de combinação entre as pulsões originais e os referi- 
ilir. ( '.limulos dolorosos, sendo que ambos provêm de distintas zonas corporais e,
I ni in I d ego incipiente não tem condições neurobiológicas para discriminá-las, o 
In In- en tra em um estado de “confusão" generalizada. Em outras palavras, por 
(alia de m aturação mielínica, há um a óbvia incapacidade em fazer a discrimina-
Grupoterapias 1 1 1
ção entre o eu e o outro, entre o que é de dentro e o que vem de fora, entre m ente 
e corpo, entre a s fontes, objetos e conteúdos pulsionais, entre as partes e o todo 
corporal, ausência da noção de espaço, de tempo, etc.
Esse primitivo estado de indiferenciacão. do. bebê com o m undo exterior, 
(mãe) tem recebido distintas denominações, Assim, em momentos diferentes, Freud
o designou de auto-erotismo. narcisismo primário, estado de Nirvana, ego do 
prazer pu ro . Winnicott descreve o “estado de ilusão e onipotência". KôïïürdîFqïïe 
se tra ta do “estado narcisista perene". Conforme Edith Jacobson corresponde ao 
"se lf psicofisiológico primário". Segundo M. Mahler, trata-se de um estado de 
“autism o norm al” (seguido de um a condição de simbiose com a mãe). Para J . 
Bleger é uln~“nucIeo aglutinado” enquanto que Pacheco Prado o denominou “es­
tado de en tran h am ento”, ë assim por diante.
O lm põrtan te aconsidera r 6que todas essas vivências de não-integração (ou 
de “desintegração”, se o vértice conceituai for o da existência prim ária do instinto 
de morte) provocam um estado de ansiedade, com a conseqüehte mobilização de 
primitivos recursos defensivos do ego. Mais adiante, esses dois aspectos — ansie­
dades e defesas — serão considerados mais detalhadam ente.
4. R epresentações no ego. De alguma forma, as sensações indiscrim ina­
das, acim a referidas,>ão sendo r egistradas (como que “fotografadas") no ego, sob 
T lõ rm ã H é representações (inicialmente o estado é o de “presentações”, ou seja, o 
registro das vivências ainda não têm uma nomeação, e elas se confundem como 
se estivessem, de fato, concretam ente presentes).
As representações se constituem da combinação de um a série de elementos 
que interagem entre s ii.P.ulsõ£S,-.seosacõ.e.s^afetQS^obietQs.Jant.asias^memóaa .e 
significações.
~ E ú tif le m b ra r que todas as representações são revestidas de um a ra rga, 
afetiva, sendo que os primeiros objetos introjetados são considerados como odia­
dos, um a vez que eles foram os frustradores, responsáveis, portanto, pela neces­
sidade de suas ausências serem substituídas por representações. Nos casos em 
que houver um nítido predomínio do ódio, estará aberto o caminho para a insta­
lação de fu tu ras somatizações e quadros psiçopatológicos em geral.
Não é dem ais repetir a importância exercida pelas frustrações im postas à 
onipotência da criancinha, como sendo o meio indispensável para a transição do 
princípio do prazer para o da realidade, desde que tais frustrações sejam adequa­
das e coerentes para não despertarem um ódio excessivo.
5. Evolução ^ funções do ego. Em Freud, as prim eiras etanas da e s tru tu ­
ração do ego estão alicerçadas nos Princípios do Prazer e da Realidade, ejseguem 
a seguinte escalada evolutiva: a) ausência de ego, b) ego do prazer puro. cTegÕ~da 
realidade primitiva e d) ego da realidade definitiva.
Ê uTiFTemBrár que, para Freud, o ego é. antes de tudo, cornoral! Dessa 
forma, assim como o corpo, com as respectivas fantasias e significações contidas
1 2 I David E. Zimerman
nas d istin tas zonas corporais, es tá representado no ego, também é verdade que 
in>'.. distúrbios psicossomáticos é o ego am eaçado que está representado. no corpo.
A medida que o ego vai sofrendo um processo neurofisiológico de m aturação, 
r ir vai encontrando as necessárias condições de fazer a necessária adaptação do 
|n iucipio do prazer ao da realidade, assim como a transição de um funcionamento 
ii.isrado em um processo prim ário para o de um processo secundário, até alcan­
çai a possibilidade de atingir o pleno uso das funções mais nobres.
0 egopode ser definido como um conjunto de funções, as quais, em linhas 
priais, são as seguintes:
a) Mediador entre o ld, o Superego e a realidade exterior,
li) Mecanismos de defesa.
r) Funções m entais (sensoriais e m otoras, além das de atenção, memória, 
Inteligência, pensam ento, juízo crítico, capacidade de antecipação e pos­
tergação, etc.)
( I) Formação de sím bolos.
r) processa e sedia a formação da angústia-sinal.
II F. a sede das representações e significações.
1 ') I ïn cessa a formação das identificações e do sentimento de identidade,
li) Keeonliccc as emoções e processa o seu destino.
I ■ P.ípcldo grupo fam iliar. Desde que nasce, até o pleno amadurecimento
I ie H11 ill-.li líógleo",' a evolução biológica segue um mesmo processo linear e imutável
■ in im li im o-, indivíduos da espécie hum ana. Assim, o bebê sente frio e calor desde
......... « liiienlo. Começa a ouvir a partir das prim eiras semanas e a ver por volta do
|n lu h ii o m e. Do sexto ao oitavo mês, começa a reconhecer o corpo do outro e, só
■ ui m. I.ml« i.i se reconhecer, em espelho, como um a unidade corporal. Desenvol-
VI um,! m al1, organizada m otricidade do primeiro ao quarto ano, e a lateralidade 
|i> 1 1iiilieeln len lo de direita e esquerda, etc.) em tom o do quinto ao sexto ano. Da 
ne »ma Im ma, ,e, noções de espaço, tempo, discriminação, causalidade, etc., obe- 
............. a um a definida seqüência tem poral, sendo interessante assinalar, tendo
* ui % I aã o que se reedita na relação terapêutica, que a criança apresenta condi- 
MM m ile iiiili/ar■ o "nâo" an tes do “sim".
A qualidade do desenvolvimento das funções egòicas vai depender, intrinse- 
! 11,1 lllln relação àa criânanB ircom o seu meio ambiente, mais precisa-
im nie ile como se processa o se^f inato apego (attachmená com a m ãe. Justam en- 
li I•<o I .-.a I a/ao, o proximo capitulo estuda mais detalhadam ente quais são os 
|i i|m Im ile-,ein|ienhados pela m ãe dentro de um contexto com as demais pessoas 
d' «IhI c.inpo lamlliar.
l i u p.e. evolu tivas.Jndo além da clássica concepção da evolução psíquica
• oi heu . liem delim itadas (oral, anal, fálica...), pode-se dizer que a progrès-
Grupoterapias 1 1 3
siva formação da personalidade é entendida, n a atualidade, como um longo pro­
cesso de separacão-individuação.
Assim, nos primórdios, o bebê não existe sem a mãe e. durante alguns 
meses, am bos compõem um a diade inseparável. E a prim eira etapa evolutiva e se 
define por um estado de indiferenciaçào, onde prevalece um a condição de “espe^ 
lhamento" com a m ãe.
"~ ÃTãse oral propriam ente dita não se restringe às gratificações e frustrações 
pela viiTexclusiva da boca, como a etimologia pode sugerir (o étimo latino os, oris 
quer dizer boca). Ela abrange a todos os órgãos dos sentidos, sendo que a pele 
merece um destaque especial porque comporta-se como um meio de contato e de 
com unicação entre o m undo interior e o exterior.
Da m esm a forma, a fase anal não se limita à v icissitudes da evacuaçào e da 
micção. O desenvolvimento da capacidade m uscular-m otora, especialmente a m ar­
cha, assim como a articulação da fala e o exercício do uso do "não", como oposição 
às exigências das pessoas do seu meio ambiente, definem as principais linhas de 
representações no ego dessa fase evolutiva.
Seguem -se as fases fálica (e toda a constelação edípica), a puberdade, a 
adolescência e as demais etapas críticas da evolução do indivíduo, cada um a delas 
com as suas, bem conhecidas, características específicas. O que importa ressal­
tar, no entanto, são as seguintes particularidades:
— Tais fases não correspondem a um a realidade biológica ou psicológica 
constante e imutável, antes, elas apenas assinalam a prevalência de 
certos üpos de com unicação com o m undo, os quais guardam as pecu­
liaridades típicas das respectivas épocas de vida.
— Elas não são estanques; pelo contrário, há um a interpenetração das 
fases (e as respectivas fantasias e ansiedades) entre si. Por exemplo: nas 
crianças de 2 a 5 anos é muito comum a ocorrência de sonhos e pesa­
delos com nítidas fantasias orais canibalísticas impregnadas de um 
simbolismo fálico.
— Um aspecto im portante em relação ao esquem a de "fases” é o referente 
aos fenómenos de Fixação, ao de Regressão, e ao c
8. Fixação. Regressão. Compulsão à Repetição. Fixação: .devido a um a 
hiperestim ulaçào que se forma a partir de um excesso de gratificações, ou de 
frustrações, ou ainda, de incoerência entre am bas, o ego "fixa" certas representa: 
ço ê srê lâ fiv ã ili aspictöTHodesenvolvim ento da personalidade, em determinada 
iase. Se a fixação for p ar cíãTTõ^qTTê^õ^nãIs^ÕTOum)terern o s um aJnterrupcào n o, 
Ï Ï^ n v o lv im 5 ïïô ^ F c M S 7 u n ç 5 ê s ^ 'H p â c i9 ^ e s , sem prejuízo de outros aspec-_ 
. tÕ ^ jê T fiH p o W ^ ^ ^ e r a um g ^ e te ncãO dacy_olu.cãQ_psíquica.
A Regressão corresponde ao fato de que, diante de estados de ansiedade, 
excessiva, o indivíduo abandona algumas capacidades adquiridas e retom a às 
estacões em que fez as fixações, ou seja, aos m odos de funcionamento mais
1 4 / David E. Zimerman
primitivos. Este fenômeno adquire um a especial im portância nos grupos hum a­
nos: a história está repleta de exemplos em que as m assas podem regredir a níveis 
arcaicos, quando, fascinadas, elas estão sendo com andadas por líderes carism á­
ticos e patogênicos.
A Compulsão à Repetição é um acontecimento de m áxim a im portância para
o entendimento da conduta hum ana. Freud a estudou a partir dos fenômenos da 
transferência, da elaboração repetitiva dos fatos traum áticos e, sobrem aneira, do 
masoquismo. Baseado neste último, formulou o “instinto de m orte” como sendo 
um a compulsão do indivíduo a retom ar ao estado inanim ado. Hoje em dia, a^ 
compulsão à repetição é entendida como decorrente de um a neçpssidÏÏffelrrefreà-
vcl de "buscar1' algo"que laÏÏôïTno passado, m uitas vezes em um nível que iis a .a
li ui retomo ao “áp eg cú a jM n ârcôm a maiTmdSpenHën f i ^ n t e se esse foi bom e , 
firatificante ou se foi frustran te e, até mesmo, se foi de natu reza sádica pór parteQ . . . . .................................»
9. JDeseii7flMmmtxijJa_S£ZuaJidad£u Sabemos todos o quanto Freud valo­
rizou a sexualidade como o principal eixo da construção do edifício psicanalítico. 
No entanto, deve ficar bem claro que ele não conceituou sexualidade como sinô­
nimo de genitalidade, como m uitos detratores ainda hoje teimam em confundir.
Freud concebeu e valorizou as zonas corporais erógenas de onde partem as 
■ 11 isfaçóes das necessidades básicas, acrescendo-se. um prazer extra à gratifica- 
i;m destas ú ltim as. A este plus de prazer, denominou como sendo “sexual'’; assim,
0 bebê mama no seio da mãe p ara saciar a su a fome é sede, porém o tempo extra 
que ele, já saciado do alimento leite, se demora em contato com o mamilo, foi 
considerado por Freud como a expressão de um a sexualidade, inerente ao prazer 
obtido através da mucosa de su a boca.
Em outras palavras, para Freud, todas as experiências de excitação corpo­
ra l Inclusive as dolorosas, podem se tom ar umãTfõhte dé um prazer “sexual”. 
Portanto, o conceito de sexualidade deve ser entendido em um sentido m ais amplo
1 01110 t°d a experiênciajje-PrazF F d a â ü ir p S ^ p ã í f f a o W é s m õ l e m po, o corpo.e.a.
m eule . .
Freud comprovou que a criança constrói diversas “teorias sexuais”, a fim de 
encontrar explicações para os intrigantes mistérios relativos à concepção, nasci­
mento, diferença de sexos, doença e morte. As distintas etãpas evolutivas se 
Interpenetram e se interiníluenciam , porém cada um a delas guarda um a certa 
especificidade n a formação d as fantasias pertinentes às teorias sexuais de cada 
criança, cujo destino, em combiftação com as angústias form adas e os m ecanis­
mos defensivos mobilizados pelo ego irão determ inar a norm alidade ou a psicopa- 
tologia.
Tendo como base a triangularidade edípica, os modelos sexuais da mãe e do 
pai exercerão um a categórica definição na determinação do gênero da criança. 
Cabe, aqui, traçar um a im portante diferença entre sexo e gênero. Spyo desjgna a 
condicão-biológica. isto é. se a criança nasce com pênis ou com vagina. Gênero,
Grupoterapias 1 1 5
por sua vez, se refere a u m _tiPO de com portamento se masculino nu femininn 
dentro dos padrões convencionais de um a determ inada cu ltu ra — e depende 
~3iretâmëntê dos modeios identificatórios. Destes últimos, os m ais im portantes 
consistem nas expectativas provindas dos pais d a crianca íe, por tabela, dos pais, 
intem alizàâos,"destespãísrquanto à determinação de um a conduta a ser seguida 
pelo filho: se m ais ou menos viril; se com maior ou m enor valorização de atributos 
tais como agressividade, passividade, delicadeza, triunfo, donjuanismo; se o gêne­
ro da criança vai ser o de preencher o “sexo” que não foi conseguido nos outros 
filhos e assim por diante. Um outro aspecto que tam bém deve ser considerado ng 
determinação do género é o que se 
e pela c u l tu a vigente-
10. Ansiedade, É de consenso entre os psicanalistas o princípio de que o 
bebê soffTB êãnsiêdades desde o seu nascim ento (segundo m uitos autores, desde 
a gestação). Apesar de a ciência psicanalítica ainda não dispor de um método 
cientifico de registro e de m ensuração das aludidas ansiedades, é inegável que a 
su a presença é confirmada por fatos objetivos. Assim, a sim ples observação de 
qualquer bebê m ostra-nos o quanto ele oscila entre um a serena expressão de um 
completo bem -estar e um intenso sofrimento, o qual fica traduzido, entre outros 
sinais, por um indiscutível rito doloroso.
As ansiedades podem ser descritas a partir de distintos referenciais. Assim, 
ao longo de su a obra, Freud descreveu dois tipos de ansiedade: a angústia au to­
m ática e a angústia-sinal. A primeira corresponde a um excesso de estimulos que
o ego não tem condições de processar e, por isso, os reprime: daí o surgimento da 
ansiedade por represamento. A conhecida “angústia-sinal” (descrita a partir de 
1926, em Inibição, Sintoma e'Ängustia), ao contrário da anterior, é concebida 
como um sinal que o ego emite diante de um a am eaça, e só então é que _se 
processa a repressão.
Para M. Klein, a ansiedade se manifesta por três m odalidades: a) persecutó­
ria (corresponde à posição esQuizoparanóidel. b) depressiva (corresponde à posi­
ção depressiva), c) confusional (entre as duas anteriores).
Do ponto de vista genHico^ëvoluüvo.. a partir do fato de que cada etapa da 
vida cF individuo determina um a certa especificidade n a configuração das ansie­
dades, pode-se traçar o seguinte esquem a conceituai:
1) A nsiedade de Aniquilamento (também conhecida como desintegração, 
' desm antelam ento, despedaçamento, catastrófica, etc.) — Está nresente
desde o nascimento e corresponde à in tensa presença no interior do 
bebê das pulsões agressivas (instinto de morte, n a teoria kleiniana) e 
dos estímulos desprazerosos. Assim, as prim eiras frustrações são se- 
m antizadas como um a am eaça de morte, como um aniquilamento da vida.
2) A nsiedade de Enaolfamento — Corresponde a um a fixação na etapa 
evolutiva em que h á um a indiferenciacâo entre o eu e o outro, tal como 
ocorre na díade fusionai mãe-filho, de natureza simbiótica-narcisistica.
1 6 1 David E. Zimerman
3} Ansiedade de Separação — Forma-se durante a primeira infância e é 
dêvid(rã~aiíãrcondicões básicas: um a é o medo da perda Ho objeto 
necessitado e a outra, a da perda do amor deste objeto, E claro que estes 
medos tanto podem estar justificados por um a realidade exterior desfa­
vorável como ela pode ser conseqüente de fantasias inconscientes, sen­
do o mais comum um a combinação de ambas.
4) Ansiedade de Castração — Está intrinsecam ente ligada às conhecidas 
vicissitudes que cercam o conflito edínico. Não é demais ressaltar que, 
em grau moderado, esse tipo de ansiedade é muito importan te para a 
estruturação psíquica, porquanto é ela que in troduz a presença e a “lei” 
áâ4?âi para desfazer a díade simbiótica com a mãe, assim permitindo a
5) Ánsiedade decorrente do Superego — E sta forma de ansiedade fo n n a^e 
a partir" dos m ããdãm êntõs. proibições, valores e expectat&as jf o s ja is . 
bem como dos naradigm as socioculturais de um a determ inada geogra­
fia e época, estendendo-se até o período de latência.
É ütil enfatizar os três aspectos seguintes relativos ao fenômeno da ansie­
dade: a) comumente, os diversos tipos de angústias, acima descritas, não são 
estanques entre si; antes, elas se tangenciam e interpenetram, b) os derivados 
clínicos da ansiedade costumam m anifestar-se por somatizações, por actings, ou 
por sentimentos de culpa, vergonha, medo e humilhação, c) podem m anifestar-se 
por um estado de angústia livre, traduzida por concomitantes equivalentes fisio­
lógicos, tais como um a opressão pré-cordial, dispnéia suspirosa, sudorese e sen ­
sação de cabeça inchando, entre outros.
11. Mecanismos de Defesa. Sob este título designam-se os distintos tipos 
cie operações m entais que têm ooriínalidade a ,redução das tensões psíquicas 
Internas, ou seia. das ansiedades.
Os mecanismos de defesa se processam pelo ego e são, praticam ente sem- 
pre. Inconscientes, Se admitirmos a hipótese de que a ansiedade está presente 
(Ir.sde o nascimento, como postula à escola kleiniana (além do que, é útil lem brar
o "traum a do nascim ento” de Otto Rank), teremos que aceitar a crença de que o 
ego, rudimentar, do recém-nascido está lutando para se livrar dessas angústias 
penosas e obscuras. É óbvio que quanto mais imaturo e m enos desenvolvido 
esl Ivcr o ego; mais primitivas e carreffiu!ãsde magia serão as defesas.
' |i ht forma — através dà~ ïïtiliz^ îôdas m últiplas fõnm asde Negarão"— a vivência 
r o conhecimento de tais vivências ansiogênicas.
’AsTormàs mais primitivas de Negação, alicerçadas em uma onipotência 
magica, são as seguintes:
a) Neaacão em n íu á m á aíccL A forma extrema, própria dos estados psicóti­
cos. ê denom inada “Forclusâo” (ou “Repúdio”) e consiste em fazer um a
Grupoterapias 1 1 7
um a outra realidade ficcional (o melhor modelo está contido no fenôme­
no que Freud descreveu como a "gratificação alucinatória do seio”, q uan ­
do o bebê está desprovido do mesmo). Uma outra forma de negação em 
nível de magia, porém de menor gravidade do que a forclusão psicótica, 
por ser mais parcial e estar encapsulada no ego, é a que conhecemos 
como “Denegação” (ou “Renegação”; “Recusa"; “Desm entida”). Tal defe­
sa é típica das estru tu ras perversas e consiste em um mecanismo no 
qual o indivíduo nega o conhecimento de um a verdade, que bem n o 
'lïïnHô'eîêsâBê'que existe*(o melhor modelo é o que ocorre no fetichismo, 
tal como Freud descreveu tal perversão: o sujeito sabe que a m ulher não 
tem pênis; no entanto, para negar a sua ansiedade b aseada na fantasia 
de que esta falta se deve a um a castração que, de fato, tenha ocorrido, 
ele denega a verdade com um pensamento tipo “não, não é verdade que 
a m ulher não tem pênis”, e reforça essa falsa convicção com a criação 
de um fetiche).
b) Dissociação (das pulsões, dos objetos, dos afetos e do ego).
c) Projeção (nos primórdios da vida, é um a forma de se livrar de tudo 
aquilo que for desprazeroso).
d) Introjeção (é um a forma de incorporar tudo o que puder contra-arrestar
o~mâü que a criança sente como estando dentro de si).
e) Idealização (de si próprio ou de outros como um a forma de evitar sentir
um a sensação de impotência e de desamparo).
À m edida que o ego for evoluindo.e-ainaáu ]£cen iia jam a± áobg ican im t£^ l£ . 
começa .a empregar defesas menos arcaicas, tais como o uso de deslocamento, 
anulação, isolamento, regressão e transformação ao contrário. Tais defesas são 
tB T ^s'dos q i ^ r o r ^ se s s iv â < ç ^ u Í s iy p .s e fóbiC.0S, o que não quer dizer, é claro, 
que não estejam presentes em outras situações caracterológicas e psicopatológicas.
Por su a vez, um ego mais amadurecido, tem condições de utilizar defesas 
m ais es tru tu ra d as, como são a repressão, a racionalização. a jo rm ação reativa e 
a sublim ação.
É preciso deixar bem claro que, em su a ausência, todos esses mecanismos 
defensivos são es tru tu ran tes para a época de seu surgimento. No entanto, todos 
eles, se indevida ou excessivamente utilizados pelo ego, podem funcionar de um a 
forma desestru turan te. Um exemplo é a utilização da identificação projetiva: ela 
tanto pode servir como um meio de se colocar no lugar de um outro (empatia), 
como pode ser a responsável pelas distorçõespsicóticas do campo das percepções.
Por outro lado, a importância dos mecanismos de defesa pode ser medida 
pelo fato de que a modalidade e o grau de seu emprego diante das ansiedades é 
que vai determ inar a natureza da formação — e normalidade ou patologia — das 
d istin tas estru turações psíquicas.
Ill I David E. Zitnerman
12. Funções da Mente. A finalidade prim eira do ser hum ano é a de adaptar- 
M -jeiiirfrfenS n rnqfnndirjcotp "aconiQdar:Se,’l ao m eio ambiente queo cerca, às 
iiessoas e aos grupos hum ano_s_çpm_o_sjQuais .convive e partilha experiências. A 
função de adaptação é feita através de capacidades do ego consciente, como são, 
m lic (antas outras, as de: percepção, pensamento, juízo crítico, conhecimento, 
llujjuagem, comunicação e ação.
A função de percepção diz respeito ao tipo de ótica, com que o indivídúo 
percebe os demais, ou seja, de como pensam, sentem e intencionam. Os distúr­
bios da percepção, desde os discretos — inerentes ao cotidiano de qualquer pes- 
Mu até aos mais graves, sob a forma de alucinações ou delírios psicóticos, são 
I« '.Iillantes de um dem asiado e inapropriado uso de identificações projetivas e 
lulm |etlvas. Por outro lado, os traços caracterológicos predominantes em cada 
Indivíduo é que irão se constituir como as lentes desta ótica perceptual: assim, 
uma mesma pessoa, ou acontecimento, ê percebido de forma diferente, se o ob- 
seivador for um paranoide, ou depressivo, ou narcisista, e assim por diante... A 
loi ma como se processa a percepção influencia e é influenciada pelas demais 
limçncs do ego, a saber:
( ) i>aisamento, atributo, exclusivo do ser hum ano, apresenta em seu desen­
volvimento evolutivo um a escala crescente de complexidade e sofisticação, de 
.li ui do com um a ordenação cronológica e segundo as leis da m aturação neurobio- 
l' H'li ,i especificas da espécie hum ana. Assim, desde um a forma primitiva, em que
0 io h.i um a obediência aos princípios da lógica, mas, sim, aos da magia e concre- 
iinlr. o pensam ento pode evoluir até o nível abstrativfr-simbólico, que possibilite 
.1 Mia iillll/ação para fins dedutivos-científicos. Os estudos de Piaget, epistemólo- 
f o si uri I, silo de fundam ental importância para um melhor entendimento das 
mu rsslv.is clapas que caracterizam a estruturação da função do pensamento.
Hlon, a partir de referenciais psicanalíticos, foi um profundo estudioso dos 
pinrcssiis iio pensamento, tendo postulado que^a gênese dos mesmos depende
1 v.rni lalmente de um a maior ou m enor capacidade do ego em to le raras frustra- 
i,oi .. o (|iir se deve ao m ontante de ódio que pode resultar das situações frustran­
tes r (|iie pode vir a impossibilitar o aprendizado que todo indivíduo deve extrair 
il.is rxpci lenclas da vida, sendo que esse aprendizado, nos casos em que o ódio 
Im ext rsslvo, fica substituído pela onipotência e a onisciência. Bion vai mais 
Ioiijt ele considera que o ato de pensar pode estar composto por elementos a
I ill i) (permitem a elaboração dos sonhos, a comunicação, a abstração, etc.), ou 
|n.i elementos ß (beta), os quais não têm um a função elaborativa, m as sim eva- 
1 1 imIIva, como é o caso dos actvfgs.
K ul II estabelecer um a'd istinção entre pensamento, juízo e raciocínio. 0 
1111 .* o ci illeo supõe um a capacidade do ego em articular e discriminar os diversos 
I" 11 i. 111 ie li tos que estão separados entre si. A função de raciocínio, por sua vez, 
iniplii.i I ui um a articulação dos vários juízos.
A função de conhecimento está ganhando um a crescente importância em 
lod.r, as coi rcntes psicanalíticas, sendo que alguns autores, como M. Klein, ehe-
Grupoterapias 1 1 9
garam a postu lar a existência de um impulso epistemofilico. As evidências da 
relevância do conhecim ento podem ser encontradas desde a Bíblia, passando pela 
Mitologia, Filosofia, Literatura, Ciência e Psicanálise.
Assim, a Bíblia enfatiza os castigos que Deus impôs a Adão e Eva por estes 
terem transgredido a su a proibição de não comerem os "frutos da árvore do 
conhecimento". No campo da Filosofia, basta m encionar Sócrates, o qual pode ser 
considerado um legítimo p recursor da ideologia psicanalitica, pelo fato de que 
ensinava seus discípulos a “fugirem das verdades acabadas”, insistia com eles 
que “a verdade é difícil porque dói”, e os estimulava ao exercício da indagação e 
da reflexão para um autoconhecim ento, único caminho, segundo ele, “para atin ­
gir a felicidade”. Por isso mesmo, Sócrates foi considerado perigoso, julgado e 
condenado... Na Literatura, vam os nos limitar ao clássico dram a shakespereano 
de Hamlet, debatendo-se entre a cruel dúvida do “ser ou não ser” (na verdade, 
“saber ou não saber”). Da m esm a forma, Sófocles nos dâ um relato dramático do 
mitológico Édipo, penando entre as dúvidas entre conhecer ou não conhecer a 
terrível verdade que, ao ser revelada, lhe custou o cruel castigo da cegueira que 
ele se impôs a si próprio. No campo das Ciências Físicas, sabemos todos do 
terrível castigo que foi imposto, pelo establishm ent da época, ao físico Copêmico 
e, mais tarde, a Giordano Bruno, pelo “crime” de am bos terem revelado ao mundo 
um conhecimento que o narcisism o hum ano se recusava a aceitar: de que Terra 
não era o centro do universo, como ensinava Ptolomeu, e que não passava de um 
simples satélite do sistem a solar. Da mesma forma, Freud amargou, durante 
muito tempo, impiedosa hostilização e desprezo por ter ousado desvelar o conhe­
cimento, denegado, de que as p u ras e ingênuas criancinhas não só eram porta­
doras de um a sexualidade, m as, ainda, a constatação de que as evidências dela 
eram transparen tes a quem tivesse a coragem de ver e conhecer.
Entre os au tores psicanalíticos que têm estudado com profundidade a nor­
malidade e a patologia do conhecimento, é justo destacar a Bion, que estuda a 
função do “não-conhecim ento” (-K, sendo que K é a inicial de Knowledge: conhe­
cimento), como um a forma que o ego utiliza quando não quer, ou não pode, tomar 
ciência da existência de verdades penosas, tanto as externas quanto as internas. 
Para esse propósito, segundo Bion, o ego chega a se autom utilar, pois lança mão 
de um “ataque aos vínculos” que perm itiriam a percepção e a correlação de tais 
verdades intoleráveis. Como referimos antes, o grau máximo dessa negação da 
tom ada de conhecim ento é denom inado “forclusão” (termo de Lacan), fenômeno 
muito estudado para um a m elhor com preensão das es tru tu ras psicóticas.
O uso exitoso do conhecimento implica, necessariam ente, em um a boa ca­
pacidade de discrim inação por parte do ego, ressaltando-se que a ênfase dada a 
essa função se deve ao fato de que o “saber” é o caminho que leva o indivíduo a “ser”.
Linguagem e Comunicação. Da boa ou má resolução das funções do pensa­
mento e do conhecim ento resu lta rá a qualidade da es tru tu ra lingüística e comu- 
nicacional. Nos prim eiros tem pos da vida, o bebê com unica-se com o mundo
; ’ v ' í ’ '.'
através de um a linguagem corporal (choro, careta, vômito, diarréia, etc.). Se a mãe 
consegue descodificar as m ensagens emitidas por essa linguagem primitiva, vai 
se formando um clima de entendim ento recíproco, o qual propicia a formação de 
núcleos de confiança básica no se lf da criancinha. Respaldada nessa confiança 
básica, a criança vai poder tolerar a frustração de vivenciar as perdas temporárias 
<l;i mãe, em função das inevitáveis separações físicas com ela. A possibilidade da 
criança em fazer a substitu ição de um objeto ausente (inicialmente a mãe) por 
um a representação deste constitui o início de um a importantíssima função egói- 
ca: o da formação de símbolos. É im portante destacar que a aquisição da palavra, 
cuja relevância é desnecessário ressaltar, se constitui como um símbolo, portanto 
um a via de acesso ao campo das abstrações, das conceituações e o da comunica­
ção verbal.
No entanto, nos indivíduos em que a capacidade de formação de símbolos 
Irnlia ficado seriamente prejudicada, a palavra pode estar sendo utilizada a ser­
viço das "equações sim bólicas”. E sta expressão designa um a condição na qual o 
pensamento, e daí as palavras, adquire um a concretude mágica e se confunde 
como se, de fato, fossem as coisas que apenas deveriam representar.
1’or outro lado, não é dem ais repetir que a linguagem própria do discurso 
dos pals (conteúdo, forma, significação, estilo, etc.) vai assumindo um a decisiva 
iinpni liúicla na estru turação, não som ente na modalidade de linguagem e de 
......iniilcaçào do filho, m as tam bém na do seu próprio inconsciente.
A função de ação, do ego corresponde ao plano comportamental, ou seja, da
....... li iia <lo Indivíduo. É preciso considerar que o ser humano tem um a caracte-
i hllc.i única que o distingue de qualquer outro ser da escala animal: há um longo 
|in lodo de tempo em que ele fica inerte, sem condições motoras, e totalmente 
ru licf,ue aos cuidados de quem está à su a volta. Desde o nascimento há um 
I-ikii me a fluxo de sensações e informações, vindp do exterior e do organismo da 
ci i.tnça. provocado um aum ento da tensão interna, o qual ela não tem condições 
« h ili sc .iiiegar através da motricidade e da ação. A existência de um a enorme 
ile|,r,.ij'em entre a m aturação sensória e a motora, assim como a que hã entre o 
desenvolvimento das gônadas e a capacidade genital para a reprodução são ex­
clusivas da espécie hum ana.
Tudo isso prolonga e intensifica a dependência da criança e estabelece pro- 
lt h H Lis conexões entre as su as sensações e fantasias e a sua capacidade motora, 
snbietudo a da m archa. Se não houver um a suficiente harmonia entre a conduta 
e as lunçóes do pensam ento t ß o conhecimento, o indivíduo reproduzirá as mes-
III,is vivências de sua im potência infantil e descarregará as suas ansiedades não 
ali aves de atividades sublim adas, m as, sim, em atos e condutas sintomáticos. 
( ■onslltiKMii exemplos disso a conduta inibida em demasia (própria dos obsessi­
vo-,), a sedutora (como nas es tru tu ras histéricas), a psicopática e a perversa, entre 
m ill,is, sendo que cada um a delas estará expressando um a configuração especí- 
llea de personalidade, assim como traduzindo um a forma arcaica de comunicação.
20 I David E. Zimerman
Não são todos os estudiosos do com portam ento hum ano que privilegiam o 
seu entendim ento como devendo partir sem pre da e s tru tu ra psíquica do mundo 
interior do indivíduo. Há um a expressiva corrente — denom inada comportamen- 
ta lista (ou behaviorista) — que preconiza um cam inho inverso, ou seja, o de que 
um a m udança psíquica deve se p rocessar a partir de estím ulos — tanto os 
positivos como os inibitórios — provindos de um treinam ento da conduta exterior.
13. Aquisição do senso de identidade. A m eta m aior do desenvolvimento 
de todo indivíduo é a aquisição de um a plena identidade. Isso significa que ele, 
após a inevitável passagem pelas e tapas sim biótico-narcisistas, nas quais esteve 
indiferenciado da m ãe e do am biente, vai gradativam ente adquirindo condições 
de m aturação e desenvolvimento em direção a um a progressiva diferenciação até 
atingir a s condições de um a constânc ia objetai e de um a coesão do se lf que lhe 
perm ita te r vida própria e vir a ser alguém, autônom o e autêntico.
O sentim ento de identidade se processa em vários planos - sexual, social, 
profissional, etc. — e se forma a partir das identificações. Em relação à es tru tu ­
ração das identificações e da formação das diversas formas de identidade, os 
seguintes fatores devem ser levados em conta:
a) Os valores socioculturais, com as suas normas, hábitos, leis e preconceitos.
b) As pessoas que, em seu jeito de ser, são tom ados como modelos de 
identificação (no início, os pais e dem ais familiares; m ais tarde, os 
professores, colegas, etc.).
c) O discurso dos pais, que veiculam “enunciados identificatórios", ou 
seja, impregnam a criança de rótulos (“este m enino é um a peste, um 
preguiçoso...”) e de predições (“este menino, quando crescer, será um 
médico famoso” ou “um vagabundo", etc.). A im putação destes rótulos, 
e predições podem determ inar qye a criança identifique-se com a iden­
tidade que lhe é im posta, sendo que a conseqüência m ais comum é a 
de que a conduta da criança irá confirmar o “aviso” dos pais e, assim, 
formando-se um círculo vicioso que pode adquirir um a natureza maligna.
d) As identificações que estão previam ente presentes no m undo interior 
de cada um dos pais d a criança, com os respectivos conflitos, valores, 
expectativas e proibições, sendo que, como todos sabem os, tudo isso 
tende a ser reproduzido nos filhos.
e) A form a como o pai es tá representado dentro da m ãe (e vice-versa) e, 
portanto, de como a su a figura será transm itida ao filho, e assim intro- 
je tad a por este. Tal representação tem especial im portância n a deter­
m inação da identidade de gênero e a profissional.
f) Os significados que os educadores conferem aos fatos, atos, sentim en­
tos e palavras que constituem as experiências da vida cotidiana da 
criança. Por exemplo: um a mãe fobígena em prestará um significado de
_________________________________________________________________ Grupoterapias I 2 1
2 2 I David E. Zimerman
perigo-pânico, a qualquer acontecimento natural da vida de cada um 
(um a tempestade, um a doença, etc.)
g) Os papéis que devem se desem penhados no. contexto familiar e social, 
sendo adjudicados pelos pais aos filhos.
O senso de identidade, como já ressaltam os, não se constitui como um bloco 
monolítico; pelo contrário, um indivíduo pode estar identificado, total ou parcial­
m ente, com várias figuras diferentes, sendo que, em relação a cada um a delas, 
pode estar havendo um a identificação com aspectos contraditórios de um a m es­
m a pessoa. Assim, por exemplo, um indivíduo pode estar identificado, ao mesmo 
tempo, com o lado tirânico e com o lado bondoso de um mesmo pai e assim por 
diante, em um a complexa rede de combinações. Assim, a identidade de um indi­
víduo tanto pode ser estável como instável, harm ônica ou desarmônica, autêntica 
ou falsa, de natureza narcisista ou social-ista, etc.
Em term os grupais, é útil registrar pelo menos dois tipos de formação do 
senso de identidade. Um se refere ao tipo de identidade que é erigida em tom o do 
que conhecemos como um “falso s e l f , ou seja, o indivíduo adquire um a persona­
lidade camaleônica, procurando ostentar um a conduta e valores que lhe garan­
tam a aprovação e a admiração dos demais, nem que para tanto apele para algum 
tipo de im postura. Um segundo tipo de identidade a ser destacado é o de natureza 
fortemente narcisista. Neste caso, o indivíduo se comportará em grupos sociais de 
um a forma que lhe garanta, a qualquer custo, a m anutenção de sua auto-estima, 
a qual é forte unicam ente n a aparência, porquanto ela é frágil na essência. O 
paciente portador de um a identidade narcisística utilizará as pessoas dos grupos, 
com quem convive, de um a forma a envolver aqueles que se prestam a lhe devotar 
um a adm iração e um a sujeição incondicionais. Sabemos que os indivíduos predo­
m inantem ente narcisistas, em sua desesperada lu ta para que a sua auto-estim a 
não despenque, necessitam: a) Eleger aígum atributo que funcione como um 
fetiche representativo de um grande valor (beleza, poder, prestígio, riqueza), b) A 
este atributo, o narcisista em presta um a escala de valorização binária, ou seja, ou 
ele é o melhor ou é o pior, etc. c) Da m esm a forma, a identidade narcisística se 
caracteriza pelo fato de que a parte costum a ser significada como se fosse o todo. 
Assim, diante da evidência de um a parte do corpo considerada feia (nariz, excesso 
de peso, etc.), a identidade desse indivíduo pode tom ar um a configuração baseada 
em um a convicção de que ele é totalm ente horroroso. Resulta daí que, com facili­
dade, o seu sentimento de identidade se transm udapara o de um a intensa des­
valia, possivelmente acompanhado de um quadro clínico depressivo.
As m últiplas e variadas vicissitudes que acompanham o desenvolvimento 
dos indivíduos determinam um a maior ou m enor patologia da estruturação carac- 
terológica, assim como a formação de detenções evolutivas, de pontos parciais de 
fixação para fu turas regressões, de inibições, sintomas, estereótipos e os mais
Gnipoterapias / 23
diversos quadros clínicos que se formam a partir do tipo e grau de ansiedades e 
dos m ecanism os de defesa que o ego lança mão para contra-arrestá-las.
O Capítulo 3 objetiva, ju stam en te , sum ariar como ta is e s tru tu ra s se m ani­
festam n a clínica.
Orientação Bibliográfica
1. BLEICHMAR, N. e BLEICHMAR, C. L. A Psicanálise depois de Freud — Artes Médicas. 1992.
2. BION, W. R. Volviendo a Pensar. 1985.
3. FREUD, S. Obras Completas. Ed. Standard Brasileira. 1982.
4. LAPLANCHE, J. e PONTALIS, J. B. Vocabulário da Psicanálise. 1970.
0 GRUPO FAMILIAR
A conceituação de “grupo familiar" vai muito além de um simples som ató­
rio de pessoas, com características próprias de cada um separadamente. A família 
se constitui em um campo dinâmico, no qual agem tanto os fatores conscientes 
como os inconscientes, sendo que a criança, desde o nascimento, náo apenas 
sofre passivamente a influência dos outros, como, reciprocamente, é também um 
poderoso agente ativo de modificação nos demais e na estru tura da totalidade familiar.
Em relação aos fatores acim a referidos, que participam da dinâmica do 
grupo familiar e que definem a estru turação psíquica da criança, os seguintes 
devem ser considerados:
a) As características pessoais da mãe, do pai, e, especialmente, da quali­
dade da relação entre ambos, sendo que é muito relevante a imagem e 
a valoração que cada um deles tem em relação ao outro.
Esta família nuclear (mãe-pai-filho) se completa com a presença 
participativa e interativa de avós, irmãos, tios, eventualmente as em pre­
gadas, etc.
b) É útil fazer um a distinção conceituai entre as expressões “familia” e 
“Família". A primeira designa o clássico grupo familiar como o que foi 
referido no item acima. O conceito de Família (com F maiúsculo) tem 
um a extensão mais ampla: abrange todo um sistema de valores que 
cada um dos pais dçye cultuar e passar adiante, um sobrenome a zelar 
que, m uitas vezes, carrega o peso de um a tradição de m uitas gerações, 
e um a intemalizaçâo de objetos, relações objetais, acom panhada dos 
respectivos conflitos, e que podem se constituir como a m arca registra­
da de um a Família, tal é a su a especificidade caracterológica. (Essa
Gnipoterapias I 2 5
distinção comumente pode ser observada em brigas de determ inados 
casais, em que a acusação mais freqüente é na base de "... a tu a Família 
é que é louca; são todos grudados uns nos ou tros”, etc. etc.)
c) Cada um dos genitores da criança m antém a intem alização de su as 
respectivas famílias originais, com os correspondentes valores, estereó­
tipos e conflitos. Há um a forte tendência no sentido de que os conflitos 
não resolvidos pelos pais da criança, com os seus respectivos pais origi­
nais, interiorizados (como, por exemplo, os conflitos edipicos de cada 
um deles) sejam reeditados nas pessoas dos filhos. Isso se processa 
através de um a troca de papéis, que se efetiva por meio de um incons­
ciente jogo de reprojeções.
d) Não são somente os conflitos neuróticos (ou psicóticos, psicopáticos, 
perversos ...) das gerações precedentes da Família que se reeditam nos 
próprios pais, e dentre eles, e, daí, para os filhos. Tam bém há a tran s­
m issão de valores e de significados, tanto os de natureza pulsional (por 
exemplo: o estímulo excessivo ou o bloqueio da sexualidade ou da agres­
são), como os egóicos (identificação com certos atribu tos e capacidades, 
por exemplo); os provindos do superego (m andam entos e proibições) e 
do ideal do ego (ambições e expectativas).
e) Assim, o grupo familiar vai se unindo através da interiorização recíproca 
das intemalizações prévias de cada um, de tal m aneira que a família, 
além de sua condição real e concreta, tam bém se configura como sendo 
um a entidade abstrata.
Essa abstração “família" pode constituir para a criança um a es­
tru tu ra intem a mais importante do que, separadam ente, a mãe ou o 
pai, sendo que, ao mesmo tempo, ela se com porta como um continente 
e como um vínculo entre os seus membros. Creio ser válida a denom i­
nação de “objeto família”, o qual, como qualquer outro objeto, es tá 
sujeito a sucessivas introjeções e reprojeções.
É comum que cada membro exerça um a exigência para que os 
outros conservem um a mesma imagem da família, e isso dá origem ao 
fato de que a Identidade de cada pessoa se apóia na família com partida 
que os outros têm em si. Assim, faz m uita diferença n a evolução psíqui­
ca de um indivíduo, se a sua família com partida o orgulha ou envergo­
nha, se tem um a tradição a cumprir, ou não, e assim por diante.
f) O grupo familiar nunca é estático, antes, ele com porta-se como um 
campo grupai dinâmico, onde circulam em todos os níveis, um a rede de 
necessidades, desejos, relações objetais, ansiedades, mecanism os de­
fensivos, mal-entendidos, afetos contraditórios, etc., sendo necessário 
destacar dois aspectos essenciais: a estru turação das identificações e a 
definição de papéis a serem desem penhados dentro da família, e fora 
dela. A combinação estru turan te das identificações e d a assunção de
-V’:
26 I David E. Zimerman
papéis concorrem para a formação da identidade, tanto a individual, 
como a social.
PAPEIS DA M AE
Devido à razão de que es tru tu ra de um grupo terapêutico lembra muito a de 
um grupo familiar, sendo que a relação do terapeuta com os seus pacientes, 
especialmente com os m ais regressivos, guarda m uita semelhança com o de um a 
Interação mãe-filhos, impõe-se a necessidade de nos alongarmos em relação aos 
ptinclpais atributos que caracterizam um a adequada matemagem fWinnicott de- 
nnmina como “suficientemente boa" aquela mãe que não frustra.nem gratifica de 
h li ni.i excessiva) que possibilite um sadio crescimento do se lf da criança. '
Assim, um a mãe suficientem ente boa, através de suas aptidões, fisicas e 
menials, deve preencher as seguintes funções:
a) Provedora das necessidade básicas (de sobrevivência fisica e psíquica: 
alimentos, agasalhos, amor, contato físico, etc).
*’) 1'ropicia um “senso de continuidade” ao filho (contra-arresta as ansie­
dades de não-integração do bebeTãõm esm o'tem po lhe confere a certe­
za de que ele “continua a existir”).
< ) Saber estar ausente (e. com isso, promover um a necessária desilusão 
progressiva)
Tolerar a — indispensável — ambivalência de seu filho em relação a ela 
(e assim propiciar as tão im portantes experiências de separação).
r) Ser Continente (das angústias da criança).
I) ílm patla (uma forma de comunicação primitiva, baseada em um a sin to­
nia afetiva entre a mãe o bebê).
e.l lYira-excitacäo.fa exemplo de um pára-raios, a mãe não deve incremen-
íã r a s excitações, eróticas por exemplo, de seu filho, pelo contrário, ela 
.r. deve m anter em um nível compatível com o estado evolutivo do ego 
da criança).
li) lv.lahilidadei (a mãe deve sobreviver aos ataques destrutivos e às de­
m andas vorazes do filho, sem um revide retaliador e, muito menos, sem 
sucum bir a um estado de exaustão e de depressão).
I) Importância da palavra da m ãe (ela dá nomes e significados aos senti­
mentos, de toda o r^ m T q ü e ainda são desconhecidos pela criança e 
que, por isso mesmo, são muito atemorizantes).
II “Emprestar" as su a s funções de ego (a capacidade de perceber e de
pensar, por exemplo, enquanto as de seu filho ainda não estão desen­
volvidas).
I') O u'anizar um código de valores e de significações (éticos, morais, esté­
ticos e ideológicos).
Grupoterapias I 2 7
1) Facilitar um a lenta e gradual dessimbiotização (e, assim , abrir um ca­m inho para a en trada em cena de~um pai, respeitado e valorizado. A 
partir daí, a m ãe es ta rá promovendo a seu filho a passagem de um 
estado de narcisism o para o de um social-ismo).
m) Servir como um im portantíssim o modelo.de identificação.
n) ^Determ inar as inevitáveis frustrações (tão necessárias para um bom 
desenvolvimento do psiquismo dâ criança). Sabemos todos que são as 
adequadas frustrações que promovem a vigência do princípio da reali­
dade, com a indispensável colocação de limites e o reconhecimento de 
limitações. Da m esm a forma, as frustrações promovem um estímulo às 
funções do ego, especialm ente a formação da capacidade de pensar.
0 bom ou o m au uso das atribuições da mãe, associado às condições inatas 
da criança, como, por exemplo, o seu limiar de tolerância às frustrações, é que irá 
determ inar se o crescim ento da criança será sadio ou patológico.
Assim, o estudo da patologia da matemagem mereceria um capítulo à parte, 
tan tas são as modalidades de como pode ficar pervertido o vínculo mãe-filho. Os 
casos m ais frequentes são aqueles em que a mãe toma a criança como sendo um a 
extensão sua, tanto de natureza sexual como narcisistica. No primeiro caso, ela 
irá propiciar um a precoce e excessiva estimulação erótica, enquanto que, no 
segundo, a m ãe depositará no seu filho as exageradas expectativas narcisistas 
dela própria, tentando realizar-se através desse filho. Outro tipo de patologia, 
nada ínfreqüente, é quando a mãe procura prolongar indefinidamente um a liga­
ção in tensam ente sim biotizada com a criança, sendo que isto é mais comum em 
mães que padecem de um a fobia às separações.
PA PEL DO PAI
Em relação ao papel do pai, a primeira consideração que deve ser feita é a 
de que a maioria das atribuições da mãe são partilhadas pelo pai moderno desde
o nascim ento do filho, sendo igualmente importante a segurança e a estabilidade 
que ele dá, ou não, à mãe. No entanto, a ênfase a ser dada ao papel do pai incide 
no fato de que a su a presença — física e afetiva — é de fundam ental importância 
no processo de separação-individuação referente à díade mãe-filho. Em outras 
palavras, é o pai que, no papel de terceiro, interpondo-se como um a cunha nor­
mativa e delim itadora entre a mãe e o bebê, irá propiciar a necessária passagem 
de Narciso para Édipo.
Um pai excessivamente ausente, ou déspota, ou desvalorizado (neste caso, 
em grande núm ero de vezes, isso ocorre devido ao discurso denegridor da mãe) 
impedirá que a criancinha se volte para ele e o inclua no campo afetivo triangular. 
Uma decorrência direta da qualidade desta triangulação edípica é a importância 
do pai como figura de identificação sexual, tanto para o menino, como para menina.
28 I David E. Zimerman
As fantasias inconscientes que se formam em tom o da cena prim ária, e que 
vèm a desem penhar um a decisiva im portância n a tào importante resolução do 
complexo edípico, dependem diretam ente do com portamento dos pais e de como 
cada um desses, por su a vez, resolveu em si próprio os mesmos conflitos. Uma 
vez u ltrapassada a ligação simbiótica com a m ãe (devido à necessária presença 
eastratória do pai), e resolvido o conflito edípico, a criança, mais assegurada em 
sua identidade, pode renunciar à m ãe como seu interesse exclusivo, e abrir-se 
para um a socialização com o pai, irm ãos e am izades.
SRMÃOS
A literatura especializada nem sem pre costum a valorizar a influência recí­
proca entre os irmãos. No entanto, ela é de capital im portância na estruturação 
dos indivíduos e do grupo familiar.
Pode-se dizer que os irmãos funcionam como objetos de um duplo investi­
mento: o primeiro é o que diz respeito às conhecidas reações afetivas do amor e 
.imlzaclc, m escladas com sentim entos de inveja, ciúmes, rivalidade, etc. O segun­
do Investimento consiste em um — defensivo — deslocamento nos irmãos de 
pul1,och libidinosas que prim ariam ente seriam dirigidas aos seus pais. Assim, é 
comum observar situações em que os irm ãos criam cam ufladas brincadeiras eró- 
l’rii.r. en tre si; ou quando um irmão tom a-se um zeloso e enciumado guardião 
ilir, nam oros de sua irmã mais velha; ou quando adota um a postura m aternal em
i i I.m .í o ,i um irmão (ou irmã) mais moça; ou n a situação ein que se manifesta 
iiiiM acen tuada regressão a níveis das necessidades que estão sendo gratificadas 
I» l.i ui,ic para um irmãozinho caçula, ou doente, e assim por diante.
Por outro lado, não é raro observar que a um irmão é dado substitu ir um 
oiilm, j.i falecido (ou abortado), de quem deve herdar tudo o que os pais espera- 
v.tm daquele, como, por exemplo, nome, gênero sexual, expectativas, etc. Da 
in« .iii.i forma, pode-se observar o fato de que um, dentre os irmãos, desempenhe 
{uniu .1 um outro, o papel de um “duplo”, assim com plem entando para este irmão
I vice versa — tudo o que este não consegue fazer ou ter, como é o caso da 
illli icnça dos sexos, por exemplo. Por vezes, essa condição de duplo adquire tal 
In lm sklade que am bos não conseguem se separar, e se envolvem em um a típica 
fui Ir a deux, sendo que a ru p tu ra dessa ligação simbiótica, especialmente na 
oilolficcneia, pode trazer conseqüências graves p ara um dos dois.
Uma outra situação bastarffe com um é a encontrada nos indivíduos que se 
Hiljtil.mi ou se deprimem diante de seus sucessos n a vida adulta, nos casos em
1111 r r i r ; leiiham irmãos malsucedidos, o que se deve às culpas inconscientes por 
11"i nu concretizado o triunfo de um a velha rivalidade, na qual provavelmente 
Im lia prevalecido a inveja e o ódio.
Hftu muitos os mitos bíblicos que se referem diretam ente aos conflitos entre 
lltnflos - - como, por exemplo, entre outros, os de Caim e Abel, de Esaú e Jacob,
Grupoterapias I 29
e de José e seus irmãos — sendo que todos eles se constituem em um rico 
m anancial p a ra o entendim ento da im portância da patologia entre irmãos, dentro 
de um contexto de grupo familiar.
ORIENTAÇÃO BIBLIOGRÁFICA
1. JEAMMET, P. e outros. Manual de Psicologia Médica. 1989.
2. MAHLER, M. e outros. O nascimento psicológico da criança. 1975.
3. MELLO FILHO, J. O Sere o Viver. Uma visão da obra de Winnicott. 1989.
4. WINNICOTT, D. Da Pediatria à Psicanálise. 1978.
. jj ,• V--
UMA REVISAI SOBRE 
AS PRINCIPAIS SÍNDROMES CLÍNICAS
A s estruturas caracterológicas, as inibições e os sintomas que configuram 
siiidrumes clínicas resultam de um jogo dialético entre as relações objetais, as 
■ur.ledadcs e. para contra-arrestá-las. o tipo de mecanismos de defesa que sâo 
ntlTl/aiins pelo ego. Pode-se dizer que fazer um diagnóstico clínico implica em 
Ia/l i uma análise sintática de como se articulam entre si as diferentes partes e 
uiveis das várias subestruturas psíquicas, sendo que, de inicio, é necessário 
I -i it" ■!(■rer uma distinção entre sintoma, inibição e caráter.
(Jiiaiido falamosiem sintoma, estamos nos referindo a um estado de sofri- 
III' Min i|ih- o paciente acusa, e do qual está querendo se ver livre, porquanto ele o 
••ente I Olim mil corpo estranho a s iJ
<) lei ino(cflráterdesigna um estado, organizado, da mente e da conduta oue. 
I»'i m.us '.ofrimentos que possa estar causando a‘os outros, on de prejnizn.s para 
■•I iiii-auo. é vivido pelo próprio indivíduo, como sendo sinfônico com a sua pessoa: 
j»>i lauto, M‘m sofrimento 1 ■
A iiiibicão é um estado que tanto pode ser a preliminar de um sintoma que 
e .i.i • (iii’aiiizando como pode já estar constituído como um permanente traco 
<]e eiinitcr. | • "
Uma das tarefas mais importantes de um terapeuta, quando o objetivo do 
liat.mieiito visa à obtenção de mudanças caracterológicas. consiste em transfor­
mai a maneira de como o pacieptes sente o que se passa consigo, ou seja, a de 
que um 11 aço caracterológico igossintônico, passe a ser sentido de uma forma 
r/'oili',tunica. Exemplificando: um paciente diz que não participa de grupos sociais 
.iui|ile.Miucnte porque “não gosta de estar com gente". Enquanto

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