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2 7 I f Zimerman, David Epelbaum Fundam entos Básicos das Grupoterapias / David Epelbaum Zimerman. Porto Alegre — Artes Médicas Sul. 1993 1 .Terapia de Grupo I .Título CDU 364.044.2 Bibliotecária responsável: Monica Ballejo Canto — CRB provisório 10/91 David Epelbaum Zimerman Psicanalista FUNDAMENTOS BÁSICOS I I I GSIF0TE1APIÄS / S 0 . % O ' t PORTO ALEGRE / 1993 0 de EDITORA ARTES MÉDICAS SUL LTDA. S A B / 2 Capa: Í 5 9 . 9 . 0 Í B / Z Mário Rõhnelt f t l~ S o g O A i c f ö L O C - B I Œ M Supea'isöo editorial: O G R A - 5 E 0 G Ö G & S 6 9 4 Delmar Paulsen Editoração: GRAFUNE — Assessoria Gráfica e Editorial Ltda. Fone: (051)341-1100 BIBUOTECAßlCEN 68694 UFS clas3ificaçío1 5 9 9 018/Z71F TtnjL0 Fundam entos b ásicos das grupoterapias / David Epelbaum _ 9806158 iiiiiiiiiiiiiiiiiiini Reservados todos os direitos de publicação era língua portuguesa à EDITORA ARTES MÉDICAS SUL LTDA. Av Jerònimo de Omelas, 670 — Foniêi (051) 330-3444 e 331-8244 FAX (051) 330-2378 - 90040-340 Porto Alegre, RS, Brasil LOJA-CENTRO Rua General Vitorino, 277 — Fone (051) 225-8143 90020-171 Porto Alegre, RS, Brasil IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL 0 que se espera de um prefaciador é que elogie o autor, exalte as qualidades de sua obra e minimize seus defeitos. Há de pensar-se que nada é m ais fácil do que fazer isto quando o au to r não é apenas o colega que se destaca por seus méritos profissionais, m as sobretudo o amigo e com panheiro de ta n ta s jo rnadas pela vida afora. E, no entanto, quão difícil se to rna a tarefa pela necessidade de conter sentim entos e ser o mais isento e im parcial possível na su a execução. Da obra o autor já nos apresenta, com su a habitual capacidade de síntese, um a excelente sinopse no capítulo introdutório, onde com enta su a s motivações pessoais e razões circunstanciais para escrevê-la. J á que ninguém poderá falar com mais autoridade sobre sua obra do que seu criador, os leitores certam ente me relevarão a intenção de neste prefácio falar an tes do autor do que de seu livro. Disse alguém que o amigo é o irmão que se escolhe. Entre tan to s desses amigos-irmãos que a vida foi pródiga em me proporcionar, David é hoje aquele com quem há mais tempo convivo. Conheci-o ainda estudante de Medicina, q uan do fui estagiar n a Clinica Pinei e lá o tive como m eu primeiro supervisor, travando logo contato com aquelas qualidades su a s que depois soube reconhecer não só como raras, m as também preciosas. Ele era cima de tudo o continente adequado para com nossas falhas e paciente com nossas inquietações. Coerente com suas preferências, fundadas n a etimologia, por educar em lugar de ensinar, sab ía dei xar espaço para que aflorasse o conhecim ento nascente do supervisionado, não impondo apripristicam ente seus pontos de vista, e — talvez su a característica mais m arcadam ente pessoal — sem pre extraindo algo de positivo do m ais caótico e inadequado de nossos procedimentos. Anos mais tarde, acom panhando-o n a condução de um grupo F no Labora tório de Relações H um anas a que faz referência n a introdução deste livro, pude constatar “ao vivo” suas qualidades para a tarefa de lidar com grupos, os quais conduz invariavelmente de um modo suave, tranqüilo e afável, m as ao mesmo V • • • • • « ■ vi / David E. Zimerman tempo firme e objetivo, sabendo como poucos fazer a síntese dos movimentos do grupo para integrar seus componentes no desempenho da tarefa proposta. Desde então tenho acompanhado David em inúm eras outras atividades em grupos e não cesso de com ele apreender a como exercer com discrição e sereni dade a coordenação dos mesmos. É ele o que se poderia cognominar um “grupo- te rapeu ta nato”! Além de seu invulgar talento como coordenador de grupos, David tem sido um incansável batalhador pela grupoterapia em nosso meio, quer na direção de entidades associativas como principalmente no treinam ento de novos profissio nais. E, como corolário deste seu renovado interesse em revitalizar a grupoterapia entre nós e de sua profícua e continuada atividade de professor e supervisor de grupoterapeutas, vem a lume agora este seu “Fundam entos Básicos das Grupo- terap ias”, que não só preenche um a importante lacuna em nossa escassa biblio grafia nacional sobre a m atéria como assegura desde já um a posição ímpar como livro texto n a formação de futuros grupoterapeutas no país e como obra de refe rência obrigatória p ara os trabalhos que vierem a ser publicados doravante sobre este ram o das psicoterapias. Para que não se diga que este prefácio limitou-se aos encómios ao autor, façamos agora algum as breves considerações sobre sua obra. O au to r é psicanalista e como tal é deste ponto de vista teórico que aborda os tem as grupais; não obstante, eclético e aberto ao diálogo, m ostra-se ele natu ralm ente receptivo às demais correntes teóricas que influenciam o campo das grupoterapias. Como seria de esperar, contudo, por sua maior familiaridade com o referencial analítico é ao utilizá-lo na abordagem dos fenômenos do campo grupai que nos traz suas mais fecundas contribuições à matéria. Esses fenôme nos são aqui abordados com uma riqueza conceituai e um a simplicidade didática raram ente encontradas, mesmo nos textos dos mais renomados especialistas. O estudo desses fenômenos são indubitavelmente o’ponto alto do livro. Nos capítulos que tratam m ais especificamente de aspectos técnicos pode mos acom panhar as transformações por que passaram no pensam ento do autor certas formulações que identificaram a grupoterapia analítica em suas origens. Assim, por exemplo, questiona ele a atitude outrora preconizada de dirigir inter pretações sistem aticam ente ao grupo como um todo no pressuposto de que só assim se estaria conduzindo analiticamente um grupo. Da m esm a forma rediscu te, à luz dos novos aportes à teoria da técnica analítica e sustentando-se em sua experiência clínica de vários lusfros com a grupoterapia analítica, outras questões tidas como polêmicas e controVertidas, tais como a valorização da contratransfe- rência como instrum ento comunicacional, o emprego das interpretações extra- transferenciais, a discriminação das individualidades no contexto grupai, o uso da matriz interativa do grupo como agente terapêutico (através da função inter- pretativa dos próprios componentes do grupo) e assim por diante. Destaque-se, ainda, o mérito do autor de expor-se e revelar su a maneira de trabalhar nas várias ilustrações clínicas que dão sustentação às digressões teóri- Gnipoterapias I vii cas. Esta é um a qualidade que só é evidenciada por quem tem su a práxis bem sintonizada com seu posicionamento teórico. Contudo, o mérito essencial da obra talvez escape aos leitores que não conheçam ou convivam com o autor: é a extraordinária coerência en tre os conteú dos do texto e a personalidade de quem o redigiu. Ai encontram os o David com seu espirito conciliador e democrático, procurando valorizar em cada detalhe os aspectos hum anísticos e éticos do métier profissional a que se dedica, conduzindo seu raciocínio com a m esm a e invejável dose de bom senso com que conduz seus grupos. Como disse de inicio, é extremamente difícil não se deixar levar pelo apreço que se tem ao amigo a quem se prefacia, m as ainda assim creio que os leitores concordarão, após transitarem pelo texto,que estam os diante de um a obra que chega no "timing" preciso e com qualidades suficientes para tom á-la um "livro de cabeceira" para todos nós que nos dedicamos às diversas m odalidades de grupo terapia em nosso meio. De parabéns, portanto, o autor, a editora que acolheu su a obra e nós outros, leitores, que a usufruím os e com ela increm entam os nosso cabedal de conheci mentos sobre a matéria. Luiz Carlos Osório I ( I 1 1 fill t ! J Minha gratidão e homenagem: À m inha esposa, Guite. Aos m eus filhos, Leandro, Idete e Alexandre.Aos pacientes, m eus verdadeiros m estres. •L PREFÁCIO — Luís Carlos Osório, PRÓLOGO,1 PRIMEIRA PARTE Princípios Gerais de Psicodinâm ica C apítu lo 1 — Uma revisão sobre o desenvolvimento da personalidade, 9 C apítu lo 2 — O Grupo familiar, 24 C a p í t u l o \ — Breve revisão sobre as principais síndromes clínicas, 30 SEGUNDA PARTE Princípios Gerais das Grupoterapias C ap ítu loX ^ — Uma revisão histórico-evolutiva das grupoterapias Principais referenciais teórico-técnicos, 45 C a p í tu lo * ^ — Importância e conceituação de grupo, 51 C ap ítu lo N ^ — Modalidades grupais, 55 "■ C apítu lo 7 — Formação de um grupo terapêutico de base analítica, 64 C apítu lo 8 — Início de um a grupoterapia analítica. Uma primeira sessão, TERCEIRA PARTE Fenôm enos do Campo Grupai C apítu lo — Campo grupai. Ansiedades. Defesas. Identificações, 79 Capítulo Yq. — Papéis. Lideranças, 86 Capítulo r t — Enquadre (setting) grupai, 93 C ap itu lo n s, — Resistência, 101 Capítulo Contra-Resistência, 106 Capítulo 14 — Transferência, 109 Capítulo 15 — Contratransferência, 114 Capítulo 16 . — Comunicação, 119 Capítulo 17 — Interpretação, 125 Capítulo 18 — Actings, 133 Capítulo 19 — Insight Elaboração. Cura, 139 Capítulo 20 — Perfil e função do grupoterapeuta, 148 QUARTA PARTE Outras Grupoterapias 0 Capítulo 21 — Grupos com crianças, púberes, adolescentes, casais, famílias, psicossomáticos, psicóticos, depressivos, 155 Capítulo 22 — Grupos Operativos. Grupo de Reflexão aplicado ao ensino médico, 168 Capítulo 23 — Estado atual das grupoterapias, 173 ÍNDICE BIBLIOGRÁFICO GERAL, 177 ÍNDICE REMISSIVO, 179 PRÓLOGO Ä motivação para escrever este livro sobre os fenômenos do campo grupai provém de três fontes. A primeira decorre da constatação de que no Brasil h á um a inequívoca necessidade de expansão das atividades grupoterápicas e de formação de técnicos especializados na área. De fato, h á no Brasil um profundo abismo entre o núm ero de pessoas que necessita — e certam ente poderia beneficiar-se de um a psicoterapia sistem ática — e a capacidade assistencial em atender a essa dem anda, sendo de lam entar que não esteja ocorrendo melhor aproveitamento de um recurso que tem um significativo potência] terapêutico, como é, sem dúvida, o das grupoterapias. A segunda razão é a evidência da necessidade de um livro de leitura básica, e isso pode ser medido pelo expressivo núm ero de grupoterapeutas em formação, assim como pelo reclamo de um grande volume de in teressados em grupoterapia que se tem manifestado neste sentido. Ju n to aos dem ais professores desta área, posso testem unhar a nossa dificuldade quanto a indicação de bibliografia relativa aos conceitos básicos, sem cair no inconveniente de ter que pinçar textos de autores diversos em diferentes obras. O m eu terceiro motivo para escrever este m anual é o de que me pareceu adequado partilhar com colegas m ais jovens um a experiência intensiva e diversi ficada no trabalho com distintas modalidades grupais que venho acum ulando há mais de 30 anos. E sta experiência teve início na Clínica Pinei de Porto Alegre — RS, onde desenvolvíamos, de forma sistemática, três tipos de atividades em grupos: as de ordem administrativo-reflexiva (intra e interequipes técnicas), as com unitárias (com a totalidade dos técnicos de todos níveis hierárquicos, alguns funcionários, 1 2 I David E. Zimerman pacientes e familiares) e a grupoterapia de finalidade terapêutica (com pacientes psicóticos, internados ou em regime de hospital-dia). Posteriormente, com o incentivo do Dr. Fernando Guedes, então diretor do Hospital Psiquiátrico São Pedro de Porto Alegre, introduzi e desenvolvemos um trabalho similar nesse hospital. No Centro Médico da Vila Sâo José do Murialdo, também n esta capital, onde a assistência médica se processa em moldes comunitários, além das costum eiras reuniões com as equipes técnicas multidisciplinares e os grupos de finalidade reflexiva com os alunos dos cursos de especialização, coordenei grupos com crian ças, adolescentes e de promoção de saúde, em particular com gestantes. Por outro lado, participei do “Laboratório das Relações H um anas" programa intensivo de reciclagem de ensino-aprendizagem, destinado aos professores da área biomédica, promovido pela Faculdade de Medicina, em conjunto com a Fa culdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, de Porto Alegre — onde eu coordenava um grupo do tipo “F" (free) realizado com docentes universitários em reuniões diárias. No mesmo programa, eram desenvolvidas a ti vidades baseadas em dramatizações, visando à vivência de role-playings. Considero que a m inha experiência enriqueceu muito com o trabalho de grupo desenvolvido ju n to ao PEC (Programa de Educação Médica Continuada), no qual, juntam ente com colegas de outras especialidades médicas, básicas, com pú nham os equipes polivalentes e nos deslocávamos para cidades do interior do Estado onde trabalhávam os com a comunidade médica de cada um a dessas re giões. Faziamos um trabalho ao vivo, nos respectivos hospitais de cada regional, sendo que a m inha função era a de, através de um a sistem ática atividade grupai reflexiva, desenvolver nos colegas um a m udança psicológica em relação à sua atitude médica, assim como a de consolidar o seu sentimento de identidade pro fissional, sempre dentro do clássico tripé: conhecim entos-habilidades-atitudes. Participei desse gratificante programa de educação médica duran te exatos dez anos, não só como psiquiatra da equipe de ensino, mas, também, n a condição de um dos fundadores e responsável, duran te alguns anos, atuando na sua coorde nação geral. Como decorrência dessa experiência, vim a desenvolver, a convite, um a atividade sistem ática de "grupos de reflexão”, com duração minima de um ano cada, com médicos-residentes no Hospital Independência de Porto Alegre (espe cializada em traumatologia) e no Hospital Nossa Senhora da Conceição, também desta cidade, com médicos residentes em Medicina Interna e Medicina Comunitária. Outro fruto direto do PECÍoi o de, jun to com os colegas Luís Carlos Osório e Geraldina Viçosa, am bos psicanalistas e grupoterapeutas, term os criado o CE- PEC (Centro de Programas de Educação Continuada). Nos diversos cursos que são desenvolvidos pelo CEPEC, os módulos de ensino sempre se desenvolvem em três tempos: a discussão teórica do tem a programado, a complementação da teoria através da discussão prática do m aterial clinico trazido pelos alunos e o grupo de reflexão, o qual é baseado no livre aporte de qualquer assunto , cuja m eta Grupoterapias I 3 é a integração entre a reflexão da experiência afetiva grupai e o aprendizado teórico-prático anterior. Paralelamente, desde 1960, a partir da m inha formação psicanalitica, de senvolvi, em m inha clinica privada, um a in in terrupta atividade de psicoterapia analítica de grupo com pacientes de organização neurótica da personalidade. Com o correr do tempo, a partir do aporte de novos conhecimentos teórico-téenicos provindos de diferentes correntes da psicanálise e da grupoanálise, assim como da abertura das fronteiras destas últimas com as ou tras áreas grupoterápicas e, sobretudo, a partir das vivências que só a cotidiana experiência pessoal propicia, acrescida das que são vividas n a supervisão de colegas mais jovens, fui sofrendo modificações na maneira de compreender e traba lhar com grupos em geral e com a grupoterapia analítica, em particular. Este livro pretende, justam ente, condensar os conhecimentos básicos que se encontram esparsos na Mteratura especializada e integrá-los com os proceden tes da m inha própria formação e experiência. Em forma esquemática, a s atividades grupais podem se r reduzidas a dois grandes tipos: Grupos Operativos e Grupos Terapêuticos. É preciso fazer a ressal va de que o termo "operativo” refere-se mais genericamente a um esquem a con- ceitual-referencial,sendo que os seus princípios básicos também estão sempre presentes nos demais grupos terapêuticos. Os grupos operativos propriamente ditos são m ais utilizados em tarefas específicas de ensino-aprendizagem e em program as organizacionais. Os grupos de finalidade terapêutica, por sua vez, podem ser subdivididos em dois tipos: 1) os que têm um âmbito mais abrangente n a área da Medicina e não são essencialmente psicoterápicos e 2) os grupos psicoterápicos primordialmente dirigidos ao insight e às m udanças na estruturação psíquica. Os grupos terapêuticos não essencialmente psicoterápicos estão sendo m ui to utilizados em diversos program as de saúde m ental (Medicina prim ária, preven tiva); em múltiplas aplicações de grupos de au to-ajuda (Medicina secundária, curativa) e em programas de reabilitação (Medicina terciária). As grupoterapias propriamente ditas, por su a vez, podem estar fundam en tadas em postulados provindos de distintas correntes, tais como: psicanalitica, psicodramática, sistêmica, cognitivo-comportamental, ou podem es tar baseadas em um a abordagem mista, holística, em que há um a certa combinação das cor rentes anteriores. Este livro pretende fazer um a revisão generalizada sobre todas as modalida des expostas, porém objetiva dar um maior realce às grupoterapias, mais particu larm ente às de fundam entação psicanalitica. Os capítulos que o compõem partem da prem issa de que um grupo se constitui como um a entidade nova e singular, sendo que isso não exclui que cada um de seus membros continue sendo um indivíduo com identidade própria e sujeito às m esm as vivências psicológicas que caracterizam todo e qualquer vínculo terapêutico bipessoal, como é o da interação analista-paciente, própria de um a psicanálise individual. 4 I David E. Zimerman Por esta razão, a exposição que é feita dos fenômenos grupais será sempre precedida por um a breve revisão atualizada desses mesmos fenômenos, vistos sob a ótica da psicanálise clássica. Assim, este m anual está sistematizado em quatro partes. Na primeira parte, são abordados os Princípios Gerais de Psicodinãmica, desdobrados em três capí tulos: o primeiro consta de um a breve revisão de como se processa o desenvolvi mento psíquico de todo indivíduo, em um a trajetória que vai de um estado de indiferenciação com a mãe e em absoluta dependência desta até o de um estado adulto e emancipado. Nesse processo de estruturação da personalidade é de fun dam enta] im portância a influência exercida pelo entorno familiar original, espe cialm ente pela transm issão de um código de valores, assim como na determ ina ção dos processos identificatórios e pela atribuição de papéis a serem desempe nhados ao longo da vida. Uma grupoterapia propicia, com mais transparência, a reprodução dessas tão im portantes vivências do grupo familiar original. Assim, o Capítulo 2 revisa a influência da família, muito mais particularm ente o papel da mãe. O Capítulo 3 se propõe a fazer um a sumarização das diversas formas de como a estru turação psíquica se configura em cada indivíduo separadamente, tanto do ponto de vista caracterológico como de síndromes psiquiátricas. A segunda parte intitulada Princípios Gerais da Grupoterapia, objetiva traçar um painel abrangente das condições básicas que fundamentam as grupoterapias, tanto do ponto de vista histórico-evolutivo (Capítulo 4) e conceituai (Capítulo 5), como o relativo às múltiplas e variadas modalidades grupoterápicas (Capítulo 6). O Capítulo 7 aborda, mais especificamente, o importante aspecto da formação de um grupo terapêutico de base analítica, em especial quanto aos aspectos de encam inham ento, seleção e composição, assim como o das respectivas indicações e contra-indicações. Em continuação, o Capítulo 8 descreve, na íntegra, um a primeira sessão de um a grupoterapia, com os respectivos comentários relativos às leis da dinâm ica grupai presentes na sessão, às ansiedades emergentes, aos m e canism os defensivos utilizados por cada um e todos do grupo incipiente, a ativi dade interpretativa do grupoterapeuta, etc. A terceira parte deste livro estuda mais particularm ente os Fenômenos do Campo Grupai isto é, aqueles aspectos que surgem de forma espontânea e inevi tável em qualquer grupo, independentemente da sua natureza. O que, de fato, varia de um tipo de grupo para outro é fundamentalmente o objetivo precípuo para o qual cada um deles foi formado: se de ensino ou se psicoterápico e, neste caso, se de apoio, ou para insigfit, etc. Conforme o objetivo de um grupo, caberá ao seu coordenador o emprego'de táticas e de técnicas diferenciadas que propicia rão, ou não, a emergência é o manejo dos referidos fenômenos do campo grupai. Assim, o Capítulo 9 aborda, com maior especificidade, o surgimento de ansieda des, os mecanismos defensivos e o complexo jogo de identificações que estão sem pre presentes em qualquer situação de dinâmica grupai. Da mesma forma, há um a imperativa tendência em todo tipo de grupo para uma distribuição de posi Grupoterapias I 5 ções e de papéis, notadam ente o das lideranças, tal como é estudado no Capitulo 10. Mais particularm ente, em relação aos grupos terapêuticos com vistas ao in sigh t seguem -se os capítulos que tratam da im portância do setting (Capítulo 11), da resistência (Capítulo 12) e contra-resístência (Capítulo 13), da transferência (Capítulo 14), da contratransferência (Capítulo 15), dos aspectos da linguagem e da com unicação (Capítulo 16), da interpretação (Capítulo 17), dos actings (Capí tulo 18), assim como dos fatores terapêuticos e antiterapêuticos que concorrem para a aquisição do insight e dai para a elaboração e a cura (Capítulo 19). Nesse contexto — e dele indissociável —, cresce de importância a figura do grupotera- peuta, cujo perfil e funções são estudados no Capítulo 20. A quarta parte dedica um espaço particular para a abordagem de Outras Grupoterapias, tal como é o Capítulo 21, no qual são feitas abreviadas considera ções sobre os grupos com crianças, com púberes, com adolescentes, casais, famí lias, psicossom áticos, psicóticos, depressivos. Dentre os outros tipos de grupos que não os analíticos, o Capítulo 22 é dedicado a um a forma especial de grupos operativos, que consiste n a utilização da técnica do Grupo de Reflexão, aplicada ao ensino médico. Finalm ente, o ciclo da temática grupai é encerrado no Capítulo 23, onde são d iscutidas as condições atuais, assim como as perspectivas futuras das grupoterapias. Cada Capítulo será seguido por um a indicação de fontes bibliográficas, de distin tas orientações, que foram por mim consultadas, e que podem servir como um roteiro para o leitor que quiser ampliar a sua leitura sobre um determinado assunto. Primeira Parte PRINCÍPIOS GERAIS DE PSICODINÄMICA BREVE REVISÃO SOBRE O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE D esde Freud conhecemos o principio básico de que o grupo e as individua- lidades são indissociados e que se encontram em um perm anente jogo dialético entre si. Este postulado justifica a necessidade de revisarm os os principais movi mentos que processam a normalidade, ou a patologia, da formação da personali dade dos indivíduos. As considerações que seguem não visam mais do que a um a tentativa de sistem atizar os conceitos evolutivos, que são am plam ente conhecidos, m as que comumente vêm acom panhados de um a certa imprecisão conceituai e de um a falta de ordenamento claro, o que se deve ao fato de as contribuições dos pesqui sadores procederem de múltiplas escolas do pensam ento psicanalítico, com diver sos vértices teóricos, os quais, sob diferentes denominações, m uitas vezes se superpõem, convergem, ou divergem, num complexo jogo combinatório. Por esta razão, a sumarização que se apresen ta a seguir resu lta de um a livre utilização dos conhecimentos adquiridos, a p artir dos autores mais representati vos das diversas correntes psicanalíticas, sem privilegiarnenhum a, m as, sim, pelo critério de como eles estão elaborados em nós. 1. Interação biopsicossocial. Sempre há, de acordo com a equação etioló- gica de Freud, um a constante interação entre os-inatos-fatores biológicos, em nível neurofisiológico, e os estímulos provenientes do m undo exterior. A evolução dos primeiros caracteriza o processo de m aturação, sendo que o crescim ento do indivíduo como um todo, especialmente o lado psicológico, é considerado como sendo o desenvolvimento. Certos autores, como Melanie Klein e seguidores, por exemplo, privilegiam. os fatores inatos, pulsionais, enquanto outros (Winnicott, Kohut, M argareth 9 V i t l l l l V ll k l» W I H H H 10 / David E. Zimerman M,Ihier e Lacan , entre outros) enfatizam a importância estru tu ran te do meio : 1111 biente. sobretudo o da màe. 2. Pulsões. O s ja tores inatos compreendem a presença de pulsões [gujm - ) h iI‘.os) c o de um ego arcaico, Q_qual já traz embutido em si toda um a ja m a de poli'iidalidades-a^eiem m aturadas._£jiea£nyolvidas. Tais pulsões (o termo “pul- híío" ó a melhor tradução para tneb, do original alemão, em Freud, e deve ser ' crenclado de instinkt, cuja tradução literal designa os instintos irreversíveis e i-.peciflcos para cada espécie do reino animal), são binárias, isto ê, se constituem d.r. forças coesivas e desagregadoras (cLisrupüuas). Conforme Freud, as pulsões têm quatro características: um a fonte, um a lliiiilldade, um a força e se dirigem a um objeto [exterior e /ou ao próprio corpo). As denominações que qualificam as pulsões têm variado conforme o p ara digma conceituai, em seus distintos lugares e épocas; no entanto, sempre é con- M i v;ida uma dualidade. Assim, Freud inicialmente os denominou pulsões do ego (d i '.nil(i[)i eservação) e sexuais (preservação da espér.iel Posteriormente, os clas- •illlcoii cm pulsões libidinais e agressivas, sendo que, a partir de 1920, passou a denomina las como sendo de vida (eros) e de morte (tânatos). Em sua concepção ' - IIn lihalisla. cie reuniu todas as pulsões na instância “Id” (termo latino que I iirrr.ponde ao das es alemão). Mel.mii' Klein, por sua vez, inspirada em Freud, construiu toda a sua teoria I I>.iiIir do conceito de “instinto de morte", sendo importante registrar que essa I ti In ill tv. I vivência interna de morte é sem antizada pelo ego arcaico como um a .m ir.iça di' um a total destruição interna (ansiedade de aniquilamento). incip iente. A crença na existência ou inexistência de um ego desde " h.im im nilo tem dividido os autores. Aqueles que utilizam o referencial dos li Ih Ini% da-, relações obietais (Fairbaim: M. Klein e seguidores) impõe-se a obri- f'.ilin ia I niivicçào de que existe no recém-nascido um ego rudim entar, encarrega- 1,11 llr os indispensáveis, contatos com o m undoj£xt£DPii-CPm..a ta refa de iilentes tanto de dentro como de fora do nascituro . O conceito da existência inata d' um ego rudim entar fica mais claro a partir da seguinte analogia: o nascituro |a ic .p lra bem antes de que o seu aparelho respiratório já esteje plenamente cntmllttiido. ( ):> referidos estímulos sobre o bebê podem ser prazerosos ou desprazerosos, '.( lido que estes últimos decorrem sobrem aneira dos estados de sede, fome, frio, dura- desam paro. l-orma-se um arranjo de combinação entre as pulsões originais e os referi- ilir. ( '.limulos dolorosos, sendo que ambos provêm de distintas zonas corporais e, I ni in I d ego incipiente não tem condições neurobiológicas para discriminá-las, o In In- en tra em um estado de “confusão" generalizada. Em outras palavras, por (alia de m aturação mielínica, há um a óbvia incapacidade em fazer a discrimina- Grupoterapias 1 1 1 ção entre o eu e o outro, entre o que é de dentro e o que vem de fora, entre m ente e corpo, entre a s fontes, objetos e conteúdos pulsionais, entre as partes e o todo corporal, ausência da noção de espaço, de tempo, etc. Esse primitivo estado de indiferenciacão. do. bebê com o m undo exterior, (mãe) tem recebido distintas denominações, Assim, em momentos diferentes, Freud o designou de auto-erotismo. narcisismo primário, estado de Nirvana, ego do prazer pu ro . Winnicott descreve o “estado de ilusão e onipotência". KôïïürdîFqïïe se tra ta do “estado narcisista perene". Conforme Edith Jacobson corresponde ao "se lf psicofisiológico primário". Segundo M. Mahler, trata-se de um estado de “autism o norm al” (seguido de um a condição de simbiose com a mãe). Para J . Bleger é uln~“nucIeo aglutinado” enquanto que Pacheco Prado o denominou “es tado de en tran h am ento”, ë assim por diante. O lm põrtan te aconsidera r 6que todas essas vivências de não-integração (ou de “desintegração”, se o vértice conceituai for o da existência prim ária do instinto de morte) provocam um estado de ansiedade, com a conseqüehte mobilização de primitivos recursos defensivos do ego. Mais adiante, esses dois aspectos — ansie dades e defesas — serão considerados mais detalhadam ente. 4. R epresentações no ego. De alguma forma, as sensações indiscrim ina das, acim a referidas,>ão sendo r egistradas (como que “fotografadas") no ego, sob T lõ rm ã H é representações (inicialmente o estado é o de “presentações”, ou seja, o registro das vivências ainda não têm uma nomeação, e elas se confundem como se estivessem, de fato, concretam ente presentes). As representações se constituem da combinação de um a série de elementos que interagem entre s ii.P.ulsõ£S,-.seosacõ.e.s^afetQS^obietQs.Jant.asias^memóaa .e significações. ~ E ú tif le m b ra r que todas as representações são revestidas de um a ra rga, afetiva, sendo que os primeiros objetos introjetados são considerados como odia dos, um a vez que eles foram os frustradores, responsáveis, portanto, pela neces sidade de suas ausências serem substituídas por representações. Nos casos em que houver um nítido predomínio do ódio, estará aberto o caminho para a insta lação de fu tu ras somatizações e quadros psiçopatológicos em geral. Não é dem ais repetir a importância exercida pelas frustrações im postas à onipotência da criancinha, como sendo o meio indispensável para a transição do princípio do prazer para o da realidade, desde que tais frustrações sejam adequa das e coerentes para não despertarem um ódio excessivo. 5. Evolução ^ funções do ego. Em Freud, as prim eiras etanas da e s tru tu ração do ego estão alicerçadas nos Princípios do Prazer e da Realidade, ejseguem a seguinte escalada evolutiva: a) ausência de ego, b) ego do prazer puro. cTegÕ~da realidade primitiva e d) ego da realidade definitiva. Ê uTiFTemBrár que, para Freud, o ego é. antes de tudo, cornoral! Dessa forma, assim como o corpo, com as respectivas fantasias e significações contidas 1 2 I David E. Zimerman nas d istin tas zonas corporais, es tá representado no ego, também é verdade que in>'.. distúrbios psicossomáticos é o ego am eaçado que está representado. no corpo. A medida que o ego vai sofrendo um processo neurofisiológico de m aturação, r ir vai encontrando as necessárias condições de fazer a necessária adaptação do |n iucipio do prazer ao da realidade, assim como a transição de um funcionamento ii.isrado em um processo prim ário para o de um processo secundário, até alcan çai a possibilidade de atingir o pleno uso das funções mais nobres. 0 egopode ser definido como um conjunto de funções, as quais, em linhas priais, são as seguintes: a) Mediador entre o ld, o Superego e a realidade exterior, li) Mecanismos de defesa. r) Funções m entais (sensoriais e m otoras, além das de atenção, memória, Inteligência, pensam ento, juízo crítico, capacidade de antecipação e pos tergação, etc.) ( I) Formação de sím bolos. r) processa e sedia a formação da angústia-sinal. II F. a sede das representações e significações. 1 ') I ïn cessa a formação das identificações e do sentimento de identidade, li) Keeonliccc as emoções e processa o seu destino. I ■ P.ípcldo grupo fam iliar. Desde que nasce, até o pleno amadurecimento I ie H11 ill-.li líógleo",' a evolução biológica segue um mesmo processo linear e imutável ■ in im li im o-, indivíduos da espécie hum ana. Assim, o bebê sente frio e calor desde ......... « liiienlo. Começa a ouvir a partir das prim eiras semanas e a ver por volta do |n lu h ii o m e. Do sexto ao oitavo mês, começa a reconhecer o corpo do outro e, só ■ ui m. I.ml« i.i se reconhecer, em espelho, como um a unidade corporal. Desenvol- VI um,! m al1, organizada m otricidade do primeiro ao quarto ano, e a lateralidade |i> 1 1iiilieeln len lo de direita e esquerda, etc.) em tom o do quinto ao sexto ano. Da ne »ma Im ma, ,e, noções de espaço, tempo, discriminação, causalidade, etc., obe- ............. a um a definida seqüência tem poral, sendo interessante assinalar, tendo * ui % I aã o que se reedita na relação terapêutica, que a criança apresenta condi- MM m ile iiiili/ar■ o "nâo" an tes do “sim". A qualidade do desenvolvimento das funções egòicas vai depender, intrinse- ! 11,1 lllln relação àa criânanB ircom o seu meio ambiente, mais precisa- im nie ile como se processa o se^f inato apego (attachmená com a m ãe. Justam en- li I•<o I .-.a I a/ao, o proximo capitulo estuda mais detalhadam ente quais são os |i i|m Im ile-,ein|ienhados pela m ãe dentro de um contexto com as demais pessoas d' «IhI c.inpo lamlliar. l i u p.e. evolu tivas.Jndo além da clássica concepção da evolução psíquica • oi heu . liem delim itadas (oral, anal, fálica...), pode-se dizer que a progrès- Grupoterapias 1 1 3 siva formação da personalidade é entendida, n a atualidade, como um longo pro cesso de separacão-individuação. Assim, nos primórdios, o bebê não existe sem a mãe e. durante alguns meses, am bos compõem um a diade inseparável. E a prim eira etapa evolutiva e se define por um estado de indiferenciaçào, onde prevalece um a condição de “espe^ lhamento" com a m ãe. "~ ÃTãse oral propriam ente dita não se restringe às gratificações e frustrações pela viiTexclusiva da boca, como a etimologia pode sugerir (o étimo latino os, oris quer dizer boca). Ela abrange a todos os órgãos dos sentidos, sendo que a pele merece um destaque especial porque comporta-se como um meio de contato e de com unicação entre o m undo interior e o exterior. Da m esm a forma, a fase anal não se limita à v icissitudes da evacuaçào e da micção. O desenvolvimento da capacidade m uscular-m otora, especialmente a m ar cha, assim como a articulação da fala e o exercício do uso do "não", como oposição às exigências das pessoas do seu meio ambiente, definem as principais linhas de representações no ego dessa fase evolutiva. Seguem -se as fases fálica (e toda a constelação edípica), a puberdade, a adolescência e as demais etapas críticas da evolução do indivíduo, cada um a delas com as suas, bem conhecidas, características específicas. O que importa ressal tar, no entanto, são as seguintes particularidades: — Tais fases não correspondem a um a realidade biológica ou psicológica constante e imutável, antes, elas apenas assinalam a prevalência de certos üpos de com unicação com o m undo, os quais guardam as pecu liaridades típicas das respectivas épocas de vida. — Elas não são estanques; pelo contrário, há um a interpenetração das fases (e as respectivas fantasias e ansiedades) entre si. Por exemplo: nas crianças de 2 a 5 anos é muito comum a ocorrência de sonhos e pesa delos com nítidas fantasias orais canibalísticas impregnadas de um simbolismo fálico. — Um aspecto im portante em relação ao esquem a de "fases” é o referente aos fenómenos de Fixação, ao de Regressão, e ao c 8. Fixação. Regressão. Compulsão à Repetição. Fixação: .devido a um a hiperestim ulaçào que se forma a partir de um excesso de gratificações, ou de frustrações, ou ainda, de incoerência entre am bas, o ego "fixa" certas representa: ço ê srê lâ fiv ã ili aspictöTHodesenvolvim ento da personalidade, em determinada iase. Se a fixação for p ar cíãTTõ^qTTê^õ^nãIs^ÕTOum)terern o s um aJnterrupcào n o, Ï Ï^ n v o lv im 5 ïïô ^ F c M S 7 u n ç 5 ê s ^ 'H p â c i9 ^ e s , sem prejuízo de outros aspec-_ . tÕ ^ jê T fiH p o W ^ ^ ^ e r a um g ^ e te ncãO dacy_olu.cãQ_psíquica. A Regressão corresponde ao fato de que, diante de estados de ansiedade, excessiva, o indivíduo abandona algumas capacidades adquiridas e retom a às estacões em que fez as fixações, ou seja, aos m odos de funcionamento mais 1 4 / David E. Zimerman primitivos. Este fenômeno adquire um a especial im portância nos grupos hum a nos: a história está repleta de exemplos em que as m assas podem regredir a níveis arcaicos, quando, fascinadas, elas estão sendo com andadas por líderes carism á ticos e patogênicos. A Compulsão à Repetição é um acontecimento de m áxim a im portância para o entendimento da conduta hum ana. Freud a estudou a partir dos fenômenos da transferência, da elaboração repetitiva dos fatos traum áticos e, sobrem aneira, do masoquismo. Baseado neste último, formulou o “instinto de m orte” como sendo um a compulsão do indivíduo a retom ar ao estado inanim ado. Hoje em dia, a^ compulsão à repetição é entendida como decorrente de um a neçpssidÏÏffelrrefreà- vcl de "buscar1' algo"que laÏÏôïTno passado, m uitas vezes em um nível que iis a .a li ui retomo ao “áp eg cú a jM n ârcôm a maiTmdSpenHën f i ^ n t e se esse foi bom e , firatificante ou se foi frustran te e, até mesmo, se foi de natu reza sádica pór parteQ . . . . .................................» 9. JDeseii7flMmmtxijJa_S£ZuaJidad£u Sabemos todos o quanto Freud valo rizou a sexualidade como o principal eixo da construção do edifício psicanalítico. No entanto, deve ficar bem claro que ele não conceituou sexualidade como sinô nimo de genitalidade, como m uitos detratores ainda hoje teimam em confundir. Freud concebeu e valorizou as zonas corporais erógenas de onde partem as ■ 11 isfaçóes das necessidades básicas, acrescendo-se. um prazer extra à gratifica- i;m destas ú ltim as. A este plus de prazer, denominou como sendo “sexual'’; assim, 0 bebê mama no seio da mãe p ara saciar a su a fome é sede, porém o tempo extra que ele, já saciado do alimento leite, se demora em contato com o mamilo, foi considerado por Freud como a expressão de um a sexualidade, inerente ao prazer obtido através da mucosa de su a boca. Em outras palavras, para Freud, todas as experiências de excitação corpo ra l Inclusive as dolorosas, podem se tom ar umãTfõhte dé um prazer “sexual”. Portanto, o conceito de sexualidade deve ser entendido em um sentido m ais amplo 1 01110 t°d a experiênciajje-PrazF F d a â ü ir p S ^ p ã í f f a o W é s m õ l e m po, o corpo.e.a. m eule . . Freud comprovou que a criança constrói diversas “teorias sexuais”, a fim de encontrar explicações para os intrigantes mistérios relativos à concepção, nasci mento, diferença de sexos, doença e morte. As distintas etãpas evolutivas se Interpenetram e se interiníluenciam , porém cada um a delas guarda um a certa especificidade n a formação d as fantasias pertinentes às teorias sexuais de cada criança, cujo destino, em combiftação com as angústias form adas e os m ecanis mos defensivos mobilizados pelo ego irão determ inar a norm alidade ou a psicopa- tologia. Tendo como base a triangularidade edípica, os modelos sexuais da mãe e do pai exercerão um a categórica definição na determinação do gênero da criança. Cabe, aqui, traçar um a im portante diferença entre sexo e gênero. Spyo desjgna a condicão-biológica. isto é. se a criança nasce com pênis ou com vagina. Gênero, Grupoterapias 1 1 5 por sua vez, se refere a u m _tiPO de com portamento se masculino nu femininn dentro dos padrões convencionais de um a determ inada cu ltu ra — e depende ~3iretâmëntê dos modeios identificatórios. Destes últimos, os m ais im portantes consistem nas expectativas provindas dos pais d a crianca íe, por tabela, dos pais, intem alizàâos,"destespãísrquanto à determinação de um a conduta a ser seguida pelo filho: se m ais ou menos viril; se com maior ou m enor valorização de atributos tais como agressividade, passividade, delicadeza, triunfo, donjuanismo; se o gêne ro da criança vai ser o de preencher o “sexo” que não foi conseguido nos outros filhos e assim por diante. Um outro aspecto que tam bém deve ser considerado ng determinação do género é o que se e pela c u l tu a vigente- 10. Ansiedade, É de consenso entre os psicanalistas o princípio de que o bebê soffTB êãnsiêdades desde o seu nascim ento (segundo m uitos autores, desde a gestação). Apesar de a ciência psicanalítica ainda não dispor de um método cientifico de registro e de m ensuração das aludidas ansiedades, é inegável que a su a presença é confirmada por fatos objetivos. Assim, a sim ples observação de qualquer bebê m ostra-nos o quanto ele oscila entre um a serena expressão de um completo bem -estar e um intenso sofrimento, o qual fica traduzido, entre outros sinais, por um indiscutível rito doloroso. As ansiedades podem ser descritas a partir de distintos referenciais. Assim, ao longo de su a obra, Freud descreveu dois tipos de ansiedade: a angústia au to m ática e a angústia-sinal. A primeira corresponde a um excesso de estimulos que o ego não tem condições de processar e, por isso, os reprime: daí o surgimento da ansiedade por represamento. A conhecida “angústia-sinal” (descrita a partir de 1926, em Inibição, Sintoma e'Ängustia), ao contrário da anterior, é concebida como um sinal que o ego emite diante de um a am eaça, e só então é que _se processa a repressão. Para M. Klein, a ansiedade se manifesta por três m odalidades: a) persecutó ria (corresponde à posição esQuizoparanóidel. b) depressiva (corresponde à posi ção depressiva), c) confusional (entre as duas anteriores). Do ponto de vista genHico^ëvoluüvo.. a partir do fato de que cada etapa da vida cF individuo determina um a certa especificidade n a configuração das ansie dades, pode-se traçar o seguinte esquem a conceituai: 1) A nsiedade de Aniquilamento (também conhecida como desintegração, ' desm antelam ento, despedaçamento, catastrófica, etc.) — Está nresente desde o nascimento e corresponde à in tensa presença no interior do bebê das pulsões agressivas (instinto de morte, n a teoria kleiniana) e dos estímulos desprazerosos. Assim, as prim eiras frustrações são se- m antizadas como um a am eaça de morte, como um aniquilamento da vida. 2) A nsiedade de Enaolfamento — Corresponde a um a fixação na etapa evolutiva em que h á um a indiferenciacâo entre o eu e o outro, tal como ocorre na díade fusionai mãe-filho, de natureza simbiótica-narcisistica. 1 6 1 David E. Zimerman 3} Ansiedade de Separação — Forma-se durante a primeira infância e é dêvid(rã~aiíãrcondicões básicas: um a é o medo da perda Ho objeto necessitado e a outra, a da perda do amor deste objeto, E claro que estes medos tanto podem estar justificados por um a realidade exterior desfa vorável como ela pode ser conseqüente de fantasias inconscientes, sen do o mais comum um a combinação de ambas. 4) Ansiedade de Castração — Está intrinsecam ente ligada às conhecidas vicissitudes que cercam o conflito edínico. Não é demais ressaltar que, em grau moderado, esse tipo de ansiedade é muito importan te para a estruturação psíquica, porquanto é ela que in troduz a presença e a “lei” áâ4?âi para desfazer a díade simbiótica com a mãe, assim permitindo a 5) Ánsiedade decorrente do Superego — E sta forma de ansiedade fo n n a^e a partir" dos m ããdãm êntõs. proibições, valores e expectat&as jf o s ja is . bem como dos naradigm as socioculturais de um a determ inada geogra fia e época, estendendo-se até o período de latência. É ütil enfatizar os três aspectos seguintes relativos ao fenômeno da ansie dade: a) comumente, os diversos tipos de angústias, acima descritas, não são estanques entre si; antes, elas se tangenciam e interpenetram, b) os derivados clínicos da ansiedade costumam m anifestar-se por somatizações, por actings, ou por sentimentos de culpa, vergonha, medo e humilhação, c) podem m anifestar-se por um estado de angústia livre, traduzida por concomitantes equivalentes fisio lógicos, tais como um a opressão pré-cordial, dispnéia suspirosa, sudorese e sen sação de cabeça inchando, entre outros. 11. Mecanismos de Defesa. Sob este título designam-se os distintos tipos cie operações m entais que têm ooriínalidade a ,redução das tensões psíquicas Internas, ou seia. das ansiedades. Os mecanismos de defesa se processam pelo ego e são, praticam ente sem- pre. Inconscientes, Se admitirmos a hipótese de que a ansiedade está presente (Ir.sde o nascimento, como postula à escola kleiniana (além do que, é útil lem brar o "traum a do nascim ento” de Otto Rank), teremos que aceitar a crença de que o ego, rudimentar, do recém-nascido está lutando para se livrar dessas angústias penosas e obscuras. É óbvio que quanto mais imaturo e m enos desenvolvido esl Ivcr o ego; mais primitivas e carreffiu!ãsde magia serão as defesas. ' |i ht forma — através dà~ ïïtiliz^ îôdas m últiplas fõnm asde Negarão"— a vivência r o conhecimento de tais vivências ansiogênicas. ’AsTormàs mais primitivas de Negação, alicerçadas em uma onipotência magica, são as seguintes: a) Neaacão em n íu á m á aíccL A forma extrema, própria dos estados psicóti cos. ê denom inada “Forclusâo” (ou “Repúdio”) e consiste em fazer um a Grupoterapias 1 1 7 um a outra realidade ficcional (o melhor modelo está contido no fenôme no que Freud descreveu como a "gratificação alucinatória do seio”, q uan do o bebê está desprovido do mesmo). Uma outra forma de negação em nível de magia, porém de menor gravidade do que a forclusão psicótica, por ser mais parcial e estar encapsulada no ego, é a que conhecemos como “Denegação” (ou “Renegação”; “Recusa"; “Desm entida”). Tal defe sa é típica das estru tu ras perversas e consiste em um mecanismo no qual o indivíduo nega o conhecimento de um a verdade, que bem n o 'lïïnHô'eîêsâBê'que existe*(o melhor modelo é o que ocorre no fetichismo, tal como Freud descreveu tal perversão: o sujeito sabe que a m ulher não tem pênis; no entanto, para negar a sua ansiedade b aseada na fantasia de que esta falta se deve a um a castração que, de fato, tenha ocorrido, ele denega a verdade com um pensamento tipo “não, não é verdade que a m ulher não tem pênis”, e reforça essa falsa convicção com a criação de um fetiche). b) Dissociação (das pulsões, dos objetos, dos afetos e do ego). c) Projeção (nos primórdios da vida, é um a forma de se livrar de tudo aquilo que for desprazeroso). d) Introjeção (é um a forma de incorporar tudo o que puder contra-arrestar o~mâü que a criança sente como estando dentro de si). e) Idealização (de si próprio ou de outros como um a forma de evitar sentir um a sensação de impotência e de desamparo). À m edida que o ego for evoluindo.e-ainaáu ]£cen iia jam a± áobg ican im t£^ l£ . começa .a empregar defesas menos arcaicas, tais como o uso de deslocamento, anulação, isolamento, regressão e transformação ao contrário. Tais defesas são tB T ^s'dos q i ^ r o r ^ se s s iv â < ç ^ u Í s iy p .s e fóbiC.0S, o que não quer dizer, é claro, que não estejam presentes em outras situações caracterológicas e psicopatológicas. Por su a vez, um ego mais amadurecido, tem condições de utilizar defesas m ais es tru tu ra d as, como são a repressão, a racionalização. a jo rm ação reativa e a sublim ação. É preciso deixar bem claro que, em su a ausência, todos esses mecanismos defensivos são es tru tu ran tes para a época de seu surgimento. No entanto, todos eles, se indevida ou excessivamente utilizados pelo ego, podem funcionar de um a forma desestru turan te. Um exemplo é a utilização da identificação projetiva: ela tanto pode servir como um meio de se colocar no lugar de um outro (empatia), como pode ser a responsável pelas distorçõespsicóticas do campo das percepções. Por outro lado, a importância dos mecanismos de defesa pode ser medida pelo fato de que a modalidade e o grau de seu emprego diante das ansiedades é que vai determ inar a natureza da formação — e normalidade ou patologia — das d istin tas estru turações psíquicas. Ill I David E. Zitnerman 12. Funções da Mente. A finalidade prim eira do ser hum ano é a de adaptar- M -jeiiirfrfenS n rnqfnndirjcotp "aconiQdar:Se,’l ao m eio ambiente queo cerca, às iiessoas e aos grupos hum ano_s_çpm_o_sjQuais .convive e partilha experiências. A função de adaptação é feita através de capacidades do ego consciente, como são, m lic (antas outras, as de: percepção, pensamento, juízo crítico, conhecimento, llujjuagem, comunicação e ação. A função de percepção diz respeito ao tipo de ótica, com que o indivídúo percebe os demais, ou seja, de como pensam, sentem e intencionam. Os distúr bios da percepção, desde os discretos — inerentes ao cotidiano de qualquer pes- Mu até aos mais graves, sob a forma de alucinações ou delírios psicóticos, são I« '.Iillantes de um dem asiado e inapropriado uso de identificações projetivas e lulm |etlvas. Por outro lado, os traços caracterológicos predominantes em cada Indivíduo é que irão se constituir como as lentes desta ótica perceptual: assim, uma mesma pessoa, ou acontecimento, ê percebido de forma diferente, se o ob- seivador for um paranoide, ou depressivo, ou narcisista, e assim por diante... A loi ma como se processa a percepção influencia e é influenciada pelas demais limçncs do ego, a saber: ( ) i>aisamento, atributo, exclusivo do ser hum ano, apresenta em seu desen volvimento evolutivo um a escala crescente de complexidade e sofisticação, de .li ui do com um a ordenação cronológica e segundo as leis da m aturação neurobio- l' H'li ,i especificas da espécie hum ana. Assim, desde um a forma primitiva, em que 0 io h.i um a obediência aos princípios da lógica, mas, sim, aos da magia e concre- iinlr. o pensam ento pode evoluir até o nível abstrativfr-simbólico, que possibilite .1 Mia iillll/ação para fins dedutivos-científicos. Os estudos de Piaget, epistemólo- f o si uri I, silo de fundam ental importância para um melhor entendimento das mu rsslv.is clapas que caracterizam a estruturação da função do pensamento. Hlon, a partir de referenciais psicanalíticos, foi um profundo estudioso dos pinrcssiis iio pensamento, tendo postulado que^a gênese dos mesmos depende 1 v.rni lalmente de um a maior ou m enor capacidade do ego em to le raras frustra- i,oi .. o (|iir se deve ao m ontante de ódio que pode resultar das situações frustran tes r (|iie pode vir a impossibilitar o aprendizado que todo indivíduo deve extrair il.is rxpci lenclas da vida, sendo que esse aprendizado, nos casos em que o ódio Im ext rsslvo, fica substituído pela onipotência e a onisciência. Bion vai mais Ioiijt ele considera que o ato de pensar pode estar composto por elementos a I ill i) (permitem a elaboração dos sonhos, a comunicação, a abstração, etc.), ou |n.i elementos ß (beta), os quais não têm um a função elaborativa, m as sim eva- 1 1 imIIva, como é o caso dos actvfgs. K ul II estabelecer um a'd istinção entre pensamento, juízo e raciocínio. 0 1111 .* o ci illeo supõe um a capacidade do ego em articular e discriminar os diversos I" 11 i. 111 ie li tos que estão separados entre si. A função de raciocínio, por sua vez, iniplii.i I ui um a articulação dos vários juízos. A função de conhecimento está ganhando um a crescente importância em lod.r, as coi rcntes psicanalíticas, sendo que alguns autores, como M. Klein, ehe- Grupoterapias 1 1 9 garam a postu lar a existência de um impulso epistemofilico. As evidências da relevância do conhecim ento podem ser encontradas desde a Bíblia, passando pela Mitologia, Filosofia, Literatura, Ciência e Psicanálise. Assim, a Bíblia enfatiza os castigos que Deus impôs a Adão e Eva por estes terem transgredido a su a proibição de não comerem os "frutos da árvore do conhecimento". No campo da Filosofia, basta m encionar Sócrates, o qual pode ser considerado um legítimo p recursor da ideologia psicanalitica, pelo fato de que ensinava seus discípulos a “fugirem das verdades acabadas”, insistia com eles que “a verdade é difícil porque dói”, e os estimulava ao exercício da indagação e da reflexão para um autoconhecim ento, único caminho, segundo ele, “para atin gir a felicidade”. Por isso mesmo, Sócrates foi considerado perigoso, julgado e condenado... Na Literatura, vam os nos limitar ao clássico dram a shakespereano de Hamlet, debatendo-se entre a cruel dúvida do “ser ou não ser” (na verdade, “saber ou não saber”). Da m esm a forma, Sófocles nos dâ um relato dramático do mitológico Édipo, penando entre as dúvidas entre conhecer ou não conhecer a terrível verdade que, ao ser revelada, lhe custou o cruel castigo da cegueira que ele se impôs a si próprio. No campo das Ciências Físicas, sabemos todos do terrível castigo que foi imposto, pelo establishm ent da época, ao físico Copêmico e, mais tarde, a Giordano Bruno, pelo “crime” de am bos terem revelado ao mundo um conhecimento que o narcisism o hum ano se recusava a aceitar: de que Terra não era o centro do universo, como ensinava Ptolomeu, e que não passava de um simples satélite do sistem a solar. Da mesma forma, Freud amargou, durante muito tempo, impiedosa hostilização e desprezo por ter ousado desvelar o conhe cimento, denegado, de que as p u ras e ingênuas criancinhas não só eram porta doras de um a sexualidade, m as, ainda, a constatação de que as evidências dela eram transparen tes a quem tivesse a coragem de ver e conhecer. Entre os au tores psicanalíticos que têm estudado com profundidade a nor malidade e a patologia do conhecimento, é justo destacar a Bion, que estuda a função do “não-conhecim ento” (-K, sendo que K é a inicial de Knowledge: conhe cimento), como um a forma que o ego utiliza quando não quer, ou não pode, tomar ciência da existência de verdades penosas, tanto as externas quanto as internas. Para esse propósito, segundo Bion, o ego chega a se autom utilar, pois lança mão de um “ataque aos vínculos” que perm itiriam a percepção e a correlação de tais verdades intoleráveis. Como referimos antes, o grau máximo dessa negação da tom ada de conhecim ento é denom inado “forclusão” (termo de Lacan), fenômeno muito estudado para um a m elhor com preensão das es tru tu ras psicóticas. O uso exitoso do conhecimento implica, necessariam ente, em um a boa ca pacidade de discrim inação por parte do ego, ressaltando-se que a ênfase dada a essa função se deve ao fato de que o “saber” é o caminho que leva o indivíduo a “ser”. Linguagem e Comunicação. Da boa ou má resolução das funções do pensa mento e do conhecim ento resu lta rá a qualidade da es tru tu ra lingüística e comu- nicacional. Nos prim eiros tem pos da vida, o bebê com unica-se com o mundo ; ’ v ' í ’ '.' através de um a linguagem corporal (choro, careta, vômito, diarréia, etc.). Se a mãe consegue descodificar as m ensagens emitidas por essa linguagem primitiva, vai se formando um clima de entendim ento recíproco, o qual propicia a formação de núcleos de confiança básica no se lf da criancinha. Respaldada nessa confiança básica, a criança vai poder tolerar a frustração de vivenciar as perdas temporárias <l;i mãe, em função das inevitáveis separações físicas com ela. A possibilidade da criança em fazer a substitu ição de um objeto ausente (inicialmente a mãe) por um a representação deste constitui o início de um a importantíssima função egói- ca: o da formação de símbolos. É im portante destacar que a aquisição da palavra, cuja relevância é desnecessário ressaltar, se constitui como um símbolo, portanto um a via de acesso ao campo das abstrações, das conceituações e o da comunica ção verbal. No entanto, nos indivíduos em que a capacidade de formação de símbolos Irnlia ficado seriamente prejudicada, a palavra pode estar sendo utilizada a ser viço das "equações sim bólicas”. E sta expressão designa um a condição na qual o pensamento, e daí as palavras, adquire um a concretude mágica e se confunde como se, de fato, fossem as coisas que apenas deveriam representar. 1’or outro lado, não é dem ais repetir que a linguagem própria do discurso dos pals (conteúdo, forma, significação, estilo, etc.) vai assumindo um a decisiva iinpni liúicla na estru turação, não som ente na modalidade de linguagem e de ......iniilcaçào do filho, m as tam bém na do seu próprio inconsciente. A função de ação, do ego corresponde ao plano comportamental, ou seja, da ....... li iia <lo Indivíduo. É preciso considerar que o ser humano tem um a caracte- i hllc.i única que o distingue de qualquer outro ser da escala animal: há um longo |in lodo de tempo em que ele fica inerte, sem condições motoras, e totalmente ru licf,ue aos cuidados de quem está à su a volta. Desde o nascimento há um I-ikii me a fluxo de sensações e informações, vindp do exterior e do organismo da ci i.tnça. provocado um aum ento da tensão interna, o qual ela não tem condições « h ili sc .iiiegar através da motricidade e da ação. A existência de um a enorme ile|,r,.ij'em entre a m aturação sensória e a motora, assim como a que hã entre o desenvolvimento das gônadas e a capacidade genital para a reprodução são ex clusivas da espécie hum ana. Tudo isso prolonga e intensifica a dependência da criança e estabelece pro- lt h H Lis conexões entre as su as sensações e fantasias e a sua capacidade motora, snbietudo a da m archa. Se não houver um a suficiente harmonia entre a conduta e as lunçóes do pensam ento t ß o conhecimento, o indivíduo reproduzirá as mes- III,is vivências de sua im potência infantil e descarregará as suas ansiedades não ali aves de atividades sublim adas, m as, sim, em atos e condutas sintomáticos. ( ■onslltiKMii exemplos disso a conduta inibida em demasia (própria dos obsessi vo-,), a sedutora (como nas es tru tu ras histéricas), a psicopática e a perversa, entre m ill,is, sendo que cada um a delas estará expressando um a configuração especí- llea de personalidade, assim como traduzindo um a forma arcaica de comunicação. 20 I David E. Zimerman Não são todos os estudiosos do com portam ento hum ano que privilegiam o seu entendim ento como devendo partir sem pre da e s tru tu ra psíquica do mundo interior do indivíduo. Há um a expressiva corrente — denom inada comportamen- ta lista (ou behaviorista) — que preconiza um cam inho inverso, ou seja, o de que um a m udança psíquica deve se p rocessar a partir de estím ulos — tanto os positivos como os inibitórios — provindos de um treinam ento da conduta exterior. 13. Aquisição do senso de identidade. A m eta m aior do desenvolvimento de todo indivíduo é a aquisição de um a plena identidade. Isso significa que ele, após a inevitável passagem pelas e tapas sim biótico-narcisistas, nas quais esteve indiferenciado da m ãe e do am biente, vai gradativam ente adquirindo condições de m aturação e desenvolvimento em direção a um a progressiva diferenciação até atingir a s condições de um a constânc ia objetai e de um a coesão do se lf que lhe perm ita te r vida própria e vir a ser alguém, autônom o e autêntico. O sentim ento de identidade se processa em vários planos - sexual, social, profissional, etc. — e se forma a partir das identificações. Em relação à es tru tu ração das identificações e da formação das diversas formas de identidade, os seguintes fatores devem ser levados em conta: a) Os valores socioculturais, com as suas normas, hábitos, leis e preconceitos. b) As pessoas que, em seu jeito de ser, são tom ados como modelos de identificação (no início, os pais e dem ais familiares; m ais tarde, os professores, colegas, etc.). c) O discurso dos pais, que veiculam “enunciados identificatórios", ou seja, impregnam a criança de rótulos (“este m enino é um a peste, um preguiçoso...”) e de predições (“este menino, quando crescer, será um médico famoso” ou “um vagabundo", etc.). A im putação destes rótulos, e predições podem determ inar qye a criança identifique-se com a iden tidade que lhe é im posta, sendo que a conseqüência m ais comum é a de que a conduta da criança irá confirmar o “aviso” dos pais e, assim, formando-se um círculo vicioso que pode adquirir um a natureza maligna. d) As identificações que estão previam ente presentes no m undo interior de cada um dos pais d a criança, com os respectivos conflitos, valores, expectativas e proibições, sendo que, como todos sabem os, tudo isso tende a ser reproduzido nos filhos. e) A form a como o pai es tá representado dentro da m ãe (e vice-versa) e, portanto, de como a su a figura será transm itida ao filho, e assim intro- je tad a por este. Tal representação tem especial im portância n a deter m inação da identidade de gênero e a profissional. f) Os significados que os educadores conferem aos fatos, atos, sentim en tos e palavras que constituem as experiências da vida cotidiana da criança. Por exemplo: um a mãe fobígena em prestará um significado de _________________________________________________________________ Grupoterapias I 2 1 2 2 I David E. Zimerman perigo-pânico, a qualquer acontecimento natural da vida de cada um (um a tempestade, um a doença, etc.) g) Os papéis que devem se desem penhados no. contexto familiar e social, sendo adjudicados pelos pais aos filhos. O senso de identidade, como já ressaltam os, não se constitui como um bloco monolítico; pelo contrário, um indivíduo pode estar identificado, total ou parcial m ente, com várias figuras diferentes, sendo que, em relação a cada um a delas, pode estar havendo um a identificação com aspectos contraditórios de um a m es m a pessoa. Assim, por exemplo, um indivíduo pode estar identificado, ao mesmo tempo, com o lado tirânico e com o lado bondoso de um mesmo pai e assim por diante, em um a complexa rede de combinações. Assim, a identidade de um indi víduo tanto pode ser estável como instável, harm ônica ou desarmônica, autêntica ou falsa, de natureza narcisista ou social-ista, etc. Em term os grupais, é útil registrar pelo menos dois tipos de formação do senso de identidade. Um se refere ao tipo de identidade que é erigida em tom o do que conhecemos como um “falso s e l f , ou seja, o indivíduo adquire um a persona lidade camaleônica, procurando ostentar um a conduta e valores que lhe garan tam a aprovação e a admiração dos demais, nem que para tanto apele para algum tipo de im postura. Um segundo tipo de identidade a ser destacado é o de natureza fortemente narcisista. Neste caso, o indivíduo se comportará em grupos sociais de um a forma que lhe garanta, a qualquer custo, a m anutenção de sua auto-estima, a qual é forte unicam ente n a aparência, porquanto ela é frágil na essência. O paciente portador de um a identidade narcisística utilizará as pessoas dos grupos, com quem convive, de um a forma a envolver aqueles que se prestam a lhe devotar um a adm iração e um a sujeição incondicionais. Sabemos que os indivíduos predo m inantem ente narcisistas, em sua desesperada lu ta para que a sua auto-estim a não despenque, necessitam: a) Eleger aígum atributo que funcione como um fetiche representativo de um grande valor (beleza, poder, prestígio, riqueza), b) A este atributo, o narcisista em presta um a escala de valorização binária, ou seja, ou ele é o melhor ou é o pior, etc. c) Da m esm a forma, a identidade narcisística se caracteriza pelo fato de que a parte costum a ser significada como se fosse o todo. Assim, diante da evidência de um a parte do corpo considerada feia (nariz, excesso de peso, etc.), a identidade desse indivíduo pode tom ar um a configuração baseada em um a convicção de que ele é totalm ente horroroso. Resulta daí que, com facili dade, o seu sentimento de identidade se transm udapara o de um a intensa des valia, possivelmente acompanhado de um quadro clínico depressivo. As m últiplas e variadas vicissitudes que acompanham o desenvolvimento dos indivíduos determinam um a maior ou m enor patologia da estruturação carac- terológica, assim como a formação de detenções evolutivas, de pontos parciais de fixação para fu turas regressões, de inibições, sintomas, estereótipos e os mais Gnipoterapias / 23 diversos quadros clínicos que se formam a partir do tipo e grau de ansiedades e dos m ecanism os de defesa que o ego lança mão para contra-arrestá-las. O Capítulo 3 objetiva, ju stam en te , sum ariar como ta is e s tru tu ra s se m ani festam n a clínica. Orientação Bibliográfica 1. BLEICHMAR, N. e BLEICHMAR, C. L. A Psicanálise depois de Freud — Artes Médicas. 1992. 2. BION, W. R. Volviendo a Pensar. 1985. 3. FREUD, S. Obras Completas. Ed. Standard Brasileira. 1982. 4. LAPLANCHE, J. e PONTALIS, J. B. Vocabulário da Psicanálise. 1970. 0 GRUPO FAMILIAR A conceituação de “grupo familiar" vai muito além de um simples som ató rio de pessoas, com características próprias de cada um separadamente. A família se constitui em um campo dinâmico, no qual agem tanto os fatores conscientes como os inconscientes, sendo que a criança, desde o nascimento, náo apenas sofre passivamente a influência dos outros, como, reciprocamente, é também um poderoso agente ativo de modificação nos demais e na estru tura da totalidade familiar. Em relação aos fatores acim a referidos, que participam da dinâmica do grupo familiar e que definem a estru turação psíquica da criança, os seguintes devem ser considerados: a) As características pessoais da mãe, do pai, e, especialmente, da quali dade da relação entre ambos, sendo que é muito relevante a imagem e a valoração que cada um deles tem em relação ao outro. Esta família nuclear (mãe-pai-filho) se completa com a presença participativa e interativa de avós, irmãos, tios, eventualmente as em pre gadas, etc. b) É útil fazer um a distinção conceituai entre as expressões “familia” e “Família". A primeira designa o clássico grupo familiar como o que foi referido no item acima. O conceito de Família (com F maiúsculo) tem um a extensão mais ampla: abrange todo um sistema de valores que cada um dos pais dçye cultuar e passar adiante, um sobrenome a zelar que, m uitas vezes, carrega o peso de um a tradição de m uitas gerações, e um a intemalizaçâo de objetos, relações objetais, acom panhada dos respectivos conflitos, e que podem se constituir como a m arca registra da de um a Família, tal é a su a especificidade caracterológica. (Essa Gnipoterapias I 2 5 distinção comumente pode ser observada em brigas de determ inados casais, em que a acusação mais freqüente é na base de "... a tu a Família é que é louca; são todos grudados uns nos ou tros”, etc. etc.) c) Cada um dos genitores da criança m antém a intem alização de su as respectivas famílias originais, com os correspondentes valores, estereó tipos e conflitos. Há um a forte tendência no sentido de que os conflitos não resolvidos pelos pais da criança, com os seus respectivos pais origi nais, interiorizados (como, por exemplo, os conflitos edipicos de cada um deles) sejam reeditados nas pessoas dos filhos. Isso se processa através de um a troca de papéis, que se efetiva por meio de um incons ciente jogo de reprojeções. d) Não são somente os conflitos neuróticos (ou psicóticos, psicopáticos, perversos ...) das gerações precedentes da Família que se reeditam nos próprios pais, e dentre eles, e, daí, para os filhos. Tam bém há a tran s m issão de valores e de significados, tanto os de natureza pulsional (por exemplo: o estímulo excessivo ou o bloqueio da sexualidade ou da agres são), como os egóicos (identificação com certos atribu tos e capacidades, por exemplo); os provindos do superego (m andam entos e proibições) e do ideal do ego (ambições e expectativas). e) Assim, o grupo familiar vai se unindo através da interiorização recíproca das intemalizações prévias de cada um, de tal m aneira que a família, além de sua condição real e concreta, tam bém se configura como sendo um a entidade abstrata. Essa abstração “família" pode constituir para a criança um a es tru tu ra intem a mais importante do que, separadam ente, a mãe ou o pai, sendo que, ao mesmo tempo, ela se com porta como um continente e como um vínculo entre os seus membros. Creio ser válida a denom i nação de “objeto família”, o qual, como qualquer outro objeto, es tá sujeito a sucessivas introjeções e reprojeções. É comum que cada membro exerça um a exigência para que os outros conservem um a mesma imagem da família, e isso dá origem ao fato de que a Identidade de cada pessoa se apóia na família com partida que os outros têm em si. Assim, faz m uita diferença n a evolução psíqui ca de um indivíduo, se a sua família com partida o orgulha ou envergo nha, se tem um a tradição a cumprir, ou não, e assim por diante. f) O grupo familiar nunca é estático, antes, ele com porta-se como um campo grupai dinâmico, onde circulam em todos os níveis, um a rede de necessidades, desejos, relações objetais, ansiedades, mecanism os de fensivos, mal-entendidos, afetos contraditórios, etc., sendo necessário destacar dois aspectos essenciais: a estru turação das identificações e a definição de papéis a serem desem penhados dentro da família, e fora dela. A combinação estru turan te das identificações e d a assunção de -V’: 26 I David E. Zimerman papéis concorrem para a formação da identidade, tanto a individual, como a social. PAPEIS DA M AE Devido à razão de que es tru tu ra de um grupo terapêutico lembra muito a de um grupo familiar, sendo que a relação do terapeuta com os seus pacientes, especialmente com os m ais regressivos, guarda m uita semelhança com o de um a Interação mãe-filhos, impõe-se a necessidade de nos alongarmos em relação aos ptinclpais atributos que caracterizam um a adequada matemagem fWinnicott de- nnmina como “suficientemente boa" aquela mãe que não frustra.nem gratifica de h li ni.i excessiva) que possibilite um sadio crescimento do se lf da criança. ' Assim, um a mãe suficientem ente boa, através de suas aptidões, fisicas e menials, deve preencher as seguintes funções: a) Provedora das necessidade básicas (de sobrevivência fisica e psíquica: alimentos, agasalhos, amor, contato físico, etc). *’) 1'ropicia um “senso de continuidade” ao filho (contra-arresta as ansie dades de não-integração do bebeTãõm esm o'tem po lhe confere a certe za de que ele “continua a existir”). < ) Saber estar ausente (e. com isso, promover um a necessária desilusão progressiva) Tolerar a — indispensável — ambivalência de seu filho em relação a ela (e assim propiciar as tão im portantes experiências de separação). r) Ser Continente (das angústias da criança). I) ílm patla (uma forma de comunicação primitiva, baseada em um a sin to nia afetiva entre a mãe o bebê). e.l lYira-excitacäo.fa exemplo de um pára-raios, a mãe não deve incremen- íã r a s excitações, eróticas por exemplo, de seu filho, pelo contrário, ela .r. deve m anter em um nível compatível com o estado evolutivo do ego da criança). li) lv.lahilidadei (a mãe deve sobreviver aos ataques destrutivos e às de m andas vorazes do filho, sem um revide retaliador e, muito menos, sem sucum bir a um estado de exaustão e de depressão). I) Importância da palavra da m ãe (ela dá nomes e significados aos senti mentos, de toda o r^ m T q ü e ainda são desconhecidos pela criança e que, por isso mesmo, são muito atemorizantes). II “Emprestar" as su a s funções de ego (a capacidade de perceber e de pensar, por exemplo, enquanto as de seu filho ainda não estão desen volvidas). I') O u'anizar um código de valores e de significações (éticos, morais, esté ticos e ideológicos). Grupoterapias I 2 7 1) Facilitar um a lenta e gradual dessimbiotização (e, assim , abrir um cam inho para a en trada em cena de~um pai, respeitado e valorizado. A partir daí, a m ãe es ta rá promovendo a seu filho a passagem de um estado de narcisism o para o de um social-ismo). m) Servir como um im portantíssim o modelo.de identificação. n) ^Determ inar as inevitáveis frustrações (tão necessárias para um bom desenvolvimento do psiquismo dâ criança). Sabemos todos que são as adequadas frustrações que promovem a vigência do princípio da reali dade, com a indispensável colocação de limites e o reconhecimento de limitações. Da m esm a forma, as frustrações promovem um estímulo às funções do ego, especialm ente a formação da capacidade de pensar. 0 bom ou o m au uso das atribuições da mãe, associado às condições inatas da criança, como, por exemplo, o seu limiar de tolerância às frustrações, é que irá determ inar se o crescim ento da criança será sadio ou patológico. Assim, o estudo da patologia da matemagem mereceria um capítulo à parte, tan tas são as modalidades de como pode ficar pervertido o vínculo mãe-filho. Os casos m ais frequentes são aqueles em que a mãe toma a criança como sendo um a extensão sua, tanto de natureza sexual como narcisistica. No primeiro caso, ela irá propiciar um a precoce e excessiva estimulação erótica, enquanto que, no segundo, a m ãe depositará no seu filho as exageradas expectativas narcisistas dela própria, tentando realizar-se através desse filho. Outro tipo de patologia, nada ínfreqüente, é quando a mãe procura prolongar indefinidamente um a liga ção in tensam ente sim biotizada com a criança, sendo que isto é mais comum em mães que padecem de um a fobia às separações. PA PEL DO PAI Em relação ao papel do pai, a primeira consideração que deve ser feita é a de que a maioria das atribuições da mãe são partilhadas pelo pai moderno desde o nascim ento do filho, sendo igualmente importante a segurança e a estabilidade que ele dá, ou não, à mãe. No entanto, a ênfase a ser dada ao papel do pai incide no fato de que a su a presença — física e afetiva — é de fundam ental importância no processo de separação-individuação referente à díade mãe-filho. Em outras palavras, é o pai que, no papel de terceiro, interpondo-se como um a cunha nor mativa e delim itadora entre a mãe e o bebê, irá propiciar a necessária passagem de Narciso para Édipo. Um pai excessivamente ausente, ou déspota, ou desvalorizado (neste caso, em grande núm ero de vezes, isso ocorre devido ao discurso denegridor da mãe) impedirá que a criancinha se volte para ele e o inclua no campo afetivo triangular. Uma decorrência direta da qualidade desta triangulação edípica é a importância do pai como figura de identificação sexual, tanto para o menino, como para menina. 28 I David E. Zimerman As fantasias inconscientes que se formam em tom o da cena prim ária, e que vèm a desem penhar um a decisiva im portância n a tào importante resolução do complexo edípico, dependem diretam ente do com portamento dos pais e de como cada um desses, por su a vez, resolveu em si próprio os mesmos conflitos. Uma vez u ltrapassada a ligação simbiótica com a m ãe (devido à necessária presença eastratória do pai), e resolvido o conflito edípico, a criança, mais assegurada em sua identidade, pode renunciar à m ãe como seu interesse exclusivo, e abrir-se para um a socialização com o pai, irm ãos e am izades. SRMÃOS A literatura especializada nem sem pre costum a valorizar a influência recí proca entre os irmãos. No entanto, ela é de capital im portância na estruturação dos indivíduos e do grupo familiar. Pode-se dizer que os irmãos funcionam como objetos de um duplo investi mento: o primeiro é o que diz respeito às conhecidas reações afetivas do amor e .imlzaclc, m escladas com sentim entos de inveja, ciúmes, rivalidade, etc. O segun do Investimento consiste em um — defensivo — deslocamento nos irmãos de pul1,och libidinosas que prim ariam ente seriam dirigidas aos seus pais. Assim, é comum observar situações em que os irm ãos criam cam ufladas brincadeiras eró- l’rii.r. en tre si; ou quando um irmão tom a-se um zeloso e enciumado guardião ilir, nam oros de sua irmã mais velha; ou quando adota um a postura m aternal em i i I.m .í o ,i um irmão (ou irmã) mais moça; ou n a situação ein que se manifesta iiiiM acen tuada regressão a níveis das necessidades que estão sendo gratificadas I» l.i ui,ic para um irmãozinho caçula, ou doente, e assim por diante. Por outro lado, não é raro observar que a um irmão é dado substitu ir um oiilm, j.i falecido (ou abortado), de quem deve herdar tudo o que os pais espera- v.tm daquele, como, por exemplo, nome, gênero sexual, expectativas, etc. Da in« .iii.i forma, pode-se observar o fato de que um, dentre os irmãos, desempenhe {uniu .1 um outro, o papel de um “duplo”, assim com plem entando para este irmão I vice versa — tudo o que este não consegue fazer ou ter, como é o caso da illli icnça dos sexos, por exemplo. Por vezes, essa condição de duplo adquire tal In lm sklade que am bos não conseguem se separar, e se envolvem em um a típica fui Ir a deux, sendo que a ru p tu ra dessa ligação simbiótica, especialmente na oilolficcneia, pode trazer conseqüências graves p ara um dos dois. Uma outra situação bastarffe com um é a encontrada nos indivíduos que se Hiljtil.mi ou se deprimem diante de seus sucessos n a vida adulta, nos casos em 1111 r r i r ; leiiham irmãos malsucedidos, o que se deve às culpas inconscientes por 11"i nu concretizado o triunfo de um a velha rivalidade, na qual provavelmente Im lia prevalecido a inveja e o ódio. Hftu muitos os mitos bíblicos que se referem diretam ente aos conflitos entre lltnflos - - como, por exemplo, entre outros, os de Caim e Abel, de Esaú e Jacob, Grupoterapias I 29 e de José e seus irmãos — sendo que todos eles se constituem em um rico m anancial p a ra o entendim ento da im portância da patologia entre irmãos, dentro de um contexto de grupo familiar. ORIENTAÇÃO BIBLIOGRÁFICA 1. JEAMMET, P. e outros. Manual de Psicologia Médica. 1989. 2. MAHLER, M. e outros. O nascimento psicológico da criança. 1975. 3. MELLO FILHO, J. O Sere o Viver. Uma visão da obra de Winnicott. 1989. 4. WINNICOTT, D. Da Pediatria à Psicanálise. 1978. . jj ,• V-- UMA REVISAI SOBRE AS PRINCIPAIS SÍNDROMES CLÍNICAS A s estruturas caracterológicas, as inibições e os sintomas que configuram siiidrumes clínicas resultam de um jogo dialético entre as relações objetais, as ■ur.ledadcs e. para contra-arrestá-las. o tipo de mecanismos de defesa que sâo ntlTl/aiins pelo ego. Pode-se dizer que fazer um diagnóstico clínico implica em Ia/l i uma análise sintática de como se articulam entre si as diferentes partes e uiveis das várias subestruturas psíquicas, sendo que, de inicio, é necessário I -i it" ■!(■rer uma distinção entre sintoma, inibição e caráter. (Jiiaiido falamosiem sintoma, estamos nos referindo a um estado de sofri- III' Min i|ih- o paciente acusa, e do qual está querendo se ver livre, porquanto ele o ••ente I Olim mil corpo estranho a s iJ <) lei ino(cflráterdesigna um estado, organizado, da mente e da conduta oue. I»'i m.us '.ofrimentos que possa estar causando a‘os outros, on de prejnizn.s para ■•I iiii-auo. é vivido pelo próprio indivíduo, como sendo sinfônico com a sua pessoa: j»>i lauto, M‘m sofrimento 1 ■ A iiiibicão é um estado que tanto pode ser a preliminar de um sintoma que e .i.i • (iii’aiiizando como pode já estar constituído como um permanente traco <]e eiinitcr. | • " Uma das tarefas mais importantes de um terapeuta, quando o objetivo do liat.mieiito visa à obtenção de mudanças caracterológicas. consiste em transfor mai a maneira de como o pacieptes sente o que se passa consigo, ou seja, a de que um 11 aço caracterológico igossintônico, passe a ser sentido de uma forma r/'oili',tunica. Exemplificando: um paciente diz que não participa de grupos sociais .iui|ile.Miucnte porque “não gosta de estar com gente". Enquanto
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