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A Descolonização Afro-Asiática e o Apartheid na África do Sul Antecedentes: Desde o século XV, com o início do capitalismo comercial, os continentes da África e Ásia se tornaram alvo de disputa entre os países do continente Europeu. No século XIX, com a Segunda Revolução Industrial, a Europa optou por implantar nos países afro-asiáticos o chamado imperialismo, ou neocolonialismo. Isso também pode ser explicado com a independência das colônias americanas, fazendo com que os países europeus não tivessem mais poder sobre outra nação. Os povos que sofreram com o neocolonialismo europeu não aceitaram passivamente a dominação, rebatendo com movimentos de rebeldia e luta. As disputas entre as potências europeias pelos territórios afro-asiáticos resultaram na conhecida Primeira Guerra Mundial. Após o conflito, a Europa saiu enfraquecida e perdeu sua hegemonia para os Estados Unidos. Os efeitos da crise que ocorreu na Europa após a guerra, acabaram afetando as áreas coloniais e, consequentemente, as condições de vida dos colonos. Insatisfeitos com as condições às quais eram submetidos, os colonos começaram a realizar greves e revoltas contra as metrópoles europeias, que foram contidos à força pelos europeus. Esses movimentos acabaram resultando no nascimento de um forte sentimento nacionalista evidenciado pelo desejo pela independência. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, o continente europeu caiu cada vez mais, e, seu enfraquecimento significou o fortalecimento do nacionalismo e do desejo de independência. Causas: - Declínio das potências coloniais depois da Segunda Guerra Mundial, em especial Inglaterra e França; - Apoio das duas superpotências, Estados Unidos e União Soviética, aos processos de descolonização, com o objetivo de conquistar influência sobre os novos regimes que seriam formados; - A Carta da ONU, que reconheceu o direito à autodeterminação dos povos, ou seja, o direito dos povos de exercerem o autogoverno, assim como o de decidirem livremente a sua situação política, e defenderem a sua existência e condição de independente; - O crescimento de movimentos nacionalistas, que defendiam seu direito à autodeterminação e a ruptura com a antiga ordem colonial; - A diversificação da sociedade, permitiu a formação de grupos que desenvolveram projetos autônomos de libertação, como os que tinham acesso à educação universitária. Independência da Ásia: A descolonização asiática ficou marcada por dois caminhos distintos nesse processo: A resistência pacífica, onde se observou que as elites locais receberam o poder e deixaram seus países submetidos às antigas metrópoles; e a Guerra de independência, onde os países passavam por processos de transformação inspirados no socialismo (cujo melhor exemplo é a Indochina). A Índia foi o primeiro país asiático a iniciar a luta pela independência. No final do século XIX, aconteceram manifestações nacionalistas contra a dominação inglesa, onde o líder era Mohandas Gandhi, o Mahatma (Grande Alma). Em 1919, ele iniciou um amplo movimento de resistência pacífica, pregando boicotes aos produtos da metrópole inglesa e não pagando impostos. O movimento ficou conhecido como Satyagraha. Gandhi se tornou um grande nome. É importante dizer que o movimento nem sempre foi pacífico, tendo prisões, mortes e violência, mas a população foi aderindo a pacificação até 1947, quando o Reino Unido, já abalado pela II Guerra, se viu na obrigação de conceder a independência à Índia. Como os hindus e muçulmanos viviam divididos e em conflito na região, a ex-colônia foi dividida na União Indiana (hindus) e no Paquistão (muçulmanos). Essa separação causou um intenso clima violento entre os grupos religiosos, que, mais tarde, deixou milhões de mortos. Em 1948, no local onde predominava o Budismo, conhecido como Ilha do Ceilão, se formou o Estado que hoje conhecemos como Sri Lanka. Em 1971, o Paquistão Oriental se separou do Paquistão Ocidental, constituindo a República de Bangladesh. A Indochina era uma colônia francesa formada pelo Vietnã, Laos e Camboja. Em 1941 foi invadida pelo Japão, desencadeando na formação de um exército para combater as pretensões japonesas. Isso despertou um sentimento nacionalista no povo Vietnamita, que acabou formando a Liga Revolucionária para a Independência do Vietnã, conhecida como Viet Minh. A Liga era liderada pelo comunista comunisa Ho Chi Minh. Com a derrota do Japão na Guerra, em 1945 foi proclamada a independência do Vietnã, que ficou dividido em Vietnã do Norte (uma república comunista liderada por Ho Chi Minh) e Vietnã do Sul (um governo pró-ocidente governado pelo imperador Bao-Dai). Os franceses não reconheceram o governo de Ho Chi Minh e em 1946, tentaram recolonizar a Indochina ocupando as regiões do Laos, Camboja e Vietnã do Sul. Essa tentativa resultou na Guerra da Indochina, que se iniciou em 1946 e se estendeu até 1954, quando os franceses foram derrotados. Assim, no mesmo ano, aconteceu a Conferência de Genebra, onde os franceses reconheceram a independência da Indochina. Com a Guerra Fria, surge um novo conflito causado pela oposição por parte do Vietnã do Sul a unificação vietnamita. A Guerra do Vietnã iniciou em 1959 e contou com a interferência direta dos norte-americanos, marcada pela imensa violação dos direitos humanos por parte dos EUA. Com o fim da guerra em 1975, o Vietnã do Norte e o Vietnã do Sul passaram por um processo de unificação e se uniram novamente em 1976. A Indonésia é um arquipélago formado por mais de dezessete mil ilhas, das quais seis mil são habitáveis, onde se destacam as de Java e Sumatra. Desde o século XVII o país esteve sob domínio da Holanda e, em 1941, teve seu território invadido pelos japoneses. Essa invasão desencadeou na formação de um movimento nacionalista de resistência, que foi liderado por Alimed Sukarno. Após a Guerra, com a derrota do Japão em 1945, os indonésios criaram a República da Indonésia. A Holanda não aceitou a independência e iniciou uma tentativa de recolonização. Sukarno reuniu os nacionalistas e liderou uma guerrilha contra os holandeses. Assim, em 1949, com a mediação da ONU e dos EUA, os holandeses foram obrigados a reconhecerem a independência indonésia. Em 1955, o país sediou a Conferência de Bandung, que foi um grande marco da descolonização Afro-Asiática. A Conferência de Bandung: Alguns anos depois dos acontecimentos na Índia, em 1955, ocorreu a Conferência de Bandung, que reuniu 29 países do que chamamos hoje de Terceiro Mundo. Contando com 23 países africanos e 6 asiáticos, a conferência tinha como objetivo discutir a posição dos novos Estados na ordem mundial bipolar, característica da Guerra Fria. O evento foi uma forma de expressar o crescente sentimento de frustração e alienação entre as nações ali presentes, estas que preferiram se manter neutras durante a Guerra Fria, desencadeando na formação do Movimento dos Países Não-Alinhados. Além disso, os países afirmaram o seu direito à independência e o repúdio a todas as formas de colonialismo e imperialismo, desencadeando na explosão de movimentos de independência no continente africano. Alguns desses movimentos causaram conflitos militares contra as metrópoles, como as antigas colônias da Argélia contra a França, mas em outros, apenas negociações diplomáticas, onde os interesses econômicos das metrópoles prevaleceram, como algumas colônias portuguesas. Países como Egito, Índia, Indonésia, Iraque, Iugoslávia e República Popular da China, se reuniram para analisar questões mais urgentes, aconteceram vários discursos de condenação ao colonialismo e ao racismo, dando ênfase ao sistema de Apartheid da África do Sul. Além disso, o fim da corrida de armas nucleares e a eliminação das armas atômicas também foram pauta na conferência. A conferência terminou com a elaboração de dez princípios que figuravam o respeito aos direitos do homem, a igualdade de todos os povos, o respeito à Carta das Nações Unidas e a priorização da resolução dos conflitos de maneira pacífica. Independência da África: Na África, em meadosdo século XX, o processo de descolonização foi se iniciando. As colônias, que a maioria delas pertenciam à Inglaterra e à França, foram obtendo sua liberdade, como é o caso do Egito que consegue sua independência em 1922, mas vai ser só na década de 50 que vários estados conseguem sua autonomia como a Líbia em (1951), Marrocos e a Tunísia em (1956) e Gana em (1957). A Argélia até o término da Segunda Guerra foi dominada pela França. Mas, a França saiu enfraquecida do conflito, e a participação colonial favoreceu o fortalecimento do nacionalismo na população da Argélia. Então, com a opressão francesa, a intensa desigualdade social e o desejo que eles tinham de construir uma nação, fez com que surgisse o movimento de libertação. Em 1954, se formou a FLN (Frente de Libertação Nacional), que iniciou a Guerra de Independência contra os colonizadores. Os ataques iniciais foram reprimidos de forma bem dura pelo governo francês, que já havia sofrido perdas significativas. Então, com o uso da tortura e de uma forte perseguição, os militares franceses conseguiram prender, em 1956, alguns dos principais líderes da FLN. Além disso, a França mostrava a brutalidade dos que lutavam pela libertação enquanto censurava grande parte da crueldade francesa. Mas, o movimento revolucionário não foi unânime em torno da FLN. Apesar de também querer a independência, o Movimento Nacional Argelino discordava acerca do projeto político da FLN. Então, ao mesmo tempo em que combatia as investidas francesas, os dois principais grupos armados também duelavam entre si. Entre 1956 e 1957 teve a Batalha de Argel, um conjunto de combates e atentados que chamou a atenção da opinião pública do mundo todo, fazendo com que a FLN ganhasse o apoio de diversos países que condenavam a ação brutal por parte da França. Ao total o conflito deixou mais de 1 milhão de mortos e resultou em uma crise política na França, que culminou com a queda do governo e a tomada da presidência por Charles de Gaulle, em 1958. O reconhecimento da independência veio só em 1962, quando o governo francês e a Frente de Libertação firmaram os Acordos de Evian, reconhecendo a independência argelina. O Congo, colonizado pela Bélgica, conseguiu a sua independência no início dos anos 60, em um contexto de radicalização das manifestações sociais. Patrice Lumumba pode ser considerado um dos grandes líderes do processo de independência do ex-Congo Belga, que atualmente chamamos de República Democrática do Congo. Ele fundou o Movimento Nacional Congolês. Foi inaugurado o Estado Livre do Congo, tendo como presidente Joseph Kasavubu e o Lumumba no cargo de primeiro-ministro. Mas, essa conquista foi logo ameaçada pelo movimento de independência que ocorreu na província de Katanga, em que soldados e mercenários belgas fizeram um conflito bem violento. Nesse contexto, Lumumba foi deposto do cargo, preso e assassinado. Então, essa Guerra Civil chegou a provocar a intervenção da ONU, mas só que em 1965, um golpe militar colocou Mobutu Sese Seko a frente do país, e esse regime ditatorial perdurou até 1997. E até os dias atuais o Congo enfrenta sérios problemas relacionados tanto à fragilidade de suas instituições políticas, quanto às disputas étnicas e de facções rivais. Colônias Portuguesas: Os movimentos revolucionários nas colônias portuguesas tiveram início em 1953. Com medo que esses movimentos se estendessem, o governo de Lisboa iniciou uma perseguição em colônias como Moçambique, Angola e Guiné-Bissau a todo africano suspeito de “atividades anti-portuguesas”. Essa ação repressiva acabou acelerando a formação de movimentos armados de libertação nacional. Na Angola, que foi o movimento mais sangrento, em 1961 surgiu a União dos Povos Angolanos, que se dividiu em três grupos: Movimento Popular de Libertação de Angola, de orientação marxista e apoiado pela URSS; a Frente de Nacional de Libertação de Angola, a anticomunista e patrocinada pelos EUA; e a União Nacional para a Independência Total de Angola, que inicialmente era de orientação marxista-maoísta, mas que se tornaria anticomunista posteriormente. Em abril de 1974, ocorreu em Portugal a Revolução dos Cravos, que derrubou a Ditadura Salazarista. O novo governo assumiu então, com os três grupos, um acordo prevendo a formação de um governo de transição em Angola. Mas, o acordo desencadeou uma guerra civil entre os três grupos que passaram a disputar o poder. Em 1975, com a independência, a Angola passou a ser governada pelo Movimento Popular de Libertação de Angola. A guerra civil, entretanto, continuou. No fim dos anos de 1970, a Frente Nacional de Libertação de Angola foi extinta e o conflito ficou polarizado entre o Movimento Popular de Libertação de Angola auxiliado por tropas cubanas, e a União Nacional para a Independência Total de Angola apoiada por forças da África do Sul. Com algumas interrupções, o conflito foi finalizado em 2002 com cerca de 1 milhão de mortos. África do Sul e o Apartheid: Ao contrário do que aconteceu com outros países do continente africano, a independência da África do Sul consolidou o poder da minoria branca, que impôs uma política racista e discriminatória contra os negros. Em 1948, essa política foi oficializada com o nome de Apartheid, que quer dizer “estado de separação” em africâner. Por ela, os negros ficavam proibidos de ter acesso à propriedade da terra e eram obrigados a viver em lugares segregados dos brancos. Durante a década de 1950, o Congresso Nacional Africano, partido criado por lideranças negras, lançou sucessivas campanhas em prol dos direitos civis e políticos, mobilizando a população negra contra o apartheid. Em represália, o governo de minoria branca iniciou uma violenta repressão. Em 1962, um dos líderes do Congresso Nacional Africano, Nelson Mandela, foi condenado à prisão perpétua. Quase trinta anos depois, em 1990, a pressão internacional forçou o governo da África do Sul a acabar com a segregação dos Negros e libertar Mandela, que havia se tornado símbolo internacional na luta por direitos democráticos e sobretudo contra o racismo. Em 1992, o apartheid foi extinto e Nelson Mandela se elegeu presidente da África do Sul em 1994. Consequências: Podemos dizer que a principal consequência do processo de independência afro-asiática foi a criação de um novo bloco de países. Estes países tiveram suas recentes independências, juntamente até com a América Latina, passaram a fazer parte do chamado Terceiro Mundo. Essa denominação se deve ao fato de que os países originados desses processos acabaram por manter vínculos de dependência econômica. Os países desenvolvidos e capitalistas formavam o Primeiro Mundo e os países desenvolvidos e socialistas o Segundo Mundo. Mas, lembrando que ao longo do tempo essas denominações foram deixando de se falar. Apesar de representar o fim de uma era, a descolonização abriu a porta para outros desafios que ainda promovem guerras e conflitos nesses continentes. Miséria, fome e corrupção são alguns dos problemas que ainda atingem essas nações pós-coloniais.
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