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TÉCNICAS DE MAQUIAGEM Jessica Gabriele da Silva Marques História da beleza e da maquiagem Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Definir os conceitos de beleza e estética. � Identificar os fundamentos históricos da beleza e da maquiagem. � Descrever a evolução da maquiagem ao longo das décadas. Introdução Os padrões de beleza variaram muito no decorrer dos anos, se rela- cionando com a cultura e a evolução humana e da sociedade. Nesse contexto, a maquiagem tem sido utilizada com o objetivo de realçar a beleza, estabelecer níveis sociais e hierárquicos e até mesmo como forma de expressão da arte. Assim como os padrões de beleza, os padrões de maquiagem foram alterados e progrediram ao longo dos anos. Para o profissional maquiador, entender essa evolução é muito importante para compreender a influência cultural e apreciar completamente as tendências da atualidade. Neste capítulo, você vai identificar os fundamentos históricos da be- leza e da maquiagem, além de conhecer os conceitos de beleza e estética e a evolução da maquiagem ao longo das décadas. Conceitos de estética e beleza Conceitualmente, estética é a admiração ou contemplação da beleza, ou a combinação de qualidades que promovem intenso prazer aos sentidos. Em relação à filosofia, a estética é a reflexão a respeito da beleza sensível e do fenômeno artístico. No dicionário atual, a definição de estética é “beleza e harmonia de formas e cores”. Além disso, a palavra tem origem grega aisthesis, que significa sensação ou percepção (TRINDADE, 2010). A estética não é necessariamente o prazer da contemplação do belo, mas também do feio. Diversas áreas do conhecimento, como psicologia, filosofia e antropologia, têm suas definições de beleza e estética. Até a edição de 1971, o significado de beleza no Dicionário da Língua Portuguesa de Aurélio Buarque de Hollanda (apud VILHENA; MEDEIROS; NOVAES, 2005, p. 119) era “qualidade do que é belo; da coisa bela ou agradável; da mulher bela”. Atualmente, o Dicionário Aurélio, em sua versão on-line, define beleza como “perfeição agradável à vista e que cativa o espírito; mulher formosa” (BELEZA, 2018, documento on-line). Falar sobre beleza é muito amplo, visto que é um conceito subjetivo que pode ter vários pontos de vista diferentes e cuja identificação está relacionada a uma sensação de prazer diante da visualização. Por ser uma sensação prazerosa e um processo cognitivo e mental, o conceito de beleza é próprio e singular de cada indivíduo, variando a partir de valores individuais relacionados ao gênero, à raça, à educação e às experiências pessoais, além da mídia. Podemos relacionar a beleza com a arte, visto que ambas sempre cami- nharam juntas. Porém, a arte não apresenta qualquer ligação necessária com a beleza, uma vez que não é o belo visual que caracteriza a obra de arte — dessa forma, uma obra de arte pode também ser feia. A concepção clássica de beleza está profundamente ligada ao que os antigos pensavam sobre a arte, pois deveria representar a perfeição. Essa perfeição seria conquistada por meio de ritmo e harmonia, e o que não estivesse dentro dessas características não seria belo. A idealização de arte e beleza valia também para a forma humana, que deveria ser representada seguindo esses padrões. Historicamente, Platão, filósofo grego do século V a.C., suscitava que a reflexão sobre o belo está ligada a uma essência universal e não depende de quem observa, pois está contida no próprio objeto, na criação. Aristóteles, outro filósofo importante, defendia que o belo está na proporção, no equilíbrio, na simetria e na harmonia das coisas. Já um dos três principais pensadores da Grécia Antiga, Sócrates, acreditava que o belo era uma con- cordância observada pelos olhos e ouvidos, ou seja, o belo é permissível por meio dos sentidos sensoriais. Hoje, falar sobre beleza é discorrer sobre padrões estéticos culturais. Gombrich (2000, p. 2) destaca que “o problema com a beleza é que gostos e padrões do que é belo variam imensamente”. Esses padrões de beleza se alteram ao longo do tempo, além de variarem de acordo com a cultura de cada sociedade. Assim, o que é belo para um povo pode não ter o mesmo olhar em História da beleza e da maquiagem2 outra sociedade, e os padrões do passado são muito diferentes dos atuais. Para atingir o padrão, as pessoas utilizam artifícios e técnicas de estética, como o uso de cosméticos, que também se modificaram ao longo do tempo. Padrões históricos de beleza e evolução dos cosméticos Existem relatos de que os povos primitivos já utilizavam cosméticos e pro- dutos de higiene pessoal, demonstrando preocupação com a aparência. Na pré-história, criou-se uma hierarquia em que os homens estavam no topo e o corpo era considerado uma arma de sobrevivência. Eles carregavam itens como garras e dentes de animais para se diferenciarem dos demais. Enquanto isso, o ideal da mulher era a obesidade, sinal de disponibilidade de recursos e fertilidade. O povo egípcio foi o primeiro a cultivar a beleza de forma extravagante. Desde 3000 a.C. os egípcios usavam cosméticos, como pó de malaquita verde e ocre (pedra), minério de cobre verde escuro e kohl — produto feito de minérios de chumbo e cobre, amêndoas queimadas, cinzas e outros ingredientes —, que, com consistência de pó, servia como delineador para os olhos e era aplicado em formato de amêndoa, aumentando o tamanho e acentuando o formato dos olhos. O uso de maquiagem nos olhos fazia parte dos seus hábitos diários de embelezamento pessoal e estava associado a aspectos espirituais, pois acreditavam que afastava o mal. Tinha a utilidade para celebrar cerimônias religiosas e preparar os mortos para o enterro, além de ser uma maneira de se distinguir das classes inferiores. O ideal de beleza dos egípcios era corpos esbeltos e traços finos, vistos como sinal de juventude. Apesar de ser o padrão de ambos os sexos, um exemplo dessa beleza é a rainha Nefertiti (Figura 1). Seu rosto, com olhos delineados e aumentados com carvão e as pálpebras com toques de azul e esfumadas com sombra colorida feita de malaquita moída, indicava beleza, poder e dom divino. 3História da beleza e da maquiagem Figura 1. Rainha Nefertiti representa o ideal de beleza egípcio. Fonte: Vladimir Wrangel/Shutterstock.com. Para os gregos, a beleza era qualidade apenas do corpo masculino, prin- cipalmente dos ricos. Naquela sociedade, somente os homens tinham direito à democracia e isso era atribuído ao belo. Os corpos nus dos gregos eram expostos em ginásios, enquanto a mulher cobria o corpo com túnica até os joelhos dentro de casa e até os tornozelos para sair à rua (O CORPO, 2014). Embora utilizassem os egípcios e seus cosméticos como inspiração, a motivação do embelezamento era a estética, e não o espiritual. O padrão estético grego foi mantido pelos romanos: mulheres ainda usavam palla (uma espécie de xale comprido, de lã ou linho) para sair à rua e as que usavam maquiagens exageradas eram consideradas adúlteras ou prostitutas. A pele branca era ressaltada com pó de giz e fezes de crocodilo moídas, além de disfarçarem sardas e manchas solares com cinzas de caramujo. Além de cosméticos e cores extravagantes, os romanos adoravam fazer o embelezamento do corpo inteiro, com banhos luxuosos e formulações cosméticas que tinham sangue e gordura de ovelha aquecidos como base. Alguns registros relatam que Cleópatra difundiu entre os romanos hábi- tos como banho de leite de jumenta, uso de argilas e óleos aromáticos, pois acreditava que a beleza era importante para a imortalidade. Além disso, as romanas mais ricas usavam muitas joias, como anéis, braceletes, brincos, colares e tiaras, e homens e mulheres abusavam dos cabelos postiços altos. História da beleza e da maquiagem4 Os romanos também ficaram famosos pelas suas casas de banho, construções exuberantes que ofereciam tratamentos como massagense outras terapias. Depois dos banhos, os romanos aplicavam óleos e outros preparos da pele para mantê-la hidratada e atraente. Os povos asiáticos costumavam usar pó de arroz para deixar seus rostos brancos. As sobrancelhas eram raspadas, os dentes eram pintados e a hena era usada no tingimento dos cabelos e do rosto. Na China, uma prática cruel de beleza era amarrar os pés das meninas a partir dos três anos de idade para que não crescessem naturalmente, a fim de ficarem pequenos — símbolo de beleza, graciosidade e feminilidade na época. Mulheres com pés pequenos tinham mais chance de conseguir um bom casamento, mesmo que isso custasse ossos quebrados. Do contrário, mulheres com pés grandes eram sinônimo de masculinidade e feiura, e se tornavam desinteressantes para os homens daquela época. Somente no início do século passado isso deixou de ser um padrão de beleza nessa sociedade. Neste link, você encontrará uma reportagem (CHINA, [2015]) sobre os pés pequenos das chinesas. https://goo.gl/ym4pLT Na Idade Média, líderes religiosos condenavam a vaidade e qualquer uso de cosméticos, acreditando que essa prática era imoral e pecaminosa. Os costumes herdados dos gregos e romanos foram sendo esquecidos. Apesar disso, a aparência pálida era desejada e mulheres utilizavam sanguessugas para fazer sangrias e obterem a pele esbranquiçada. Cosméticos continuavam sendo muito utilizados e popularizados durante esse período. O Renascimento resgatou os padrões de beleza da Antiguidade e trouxe à tona valores mais artísticos. Ainda com a palidez em evidência, homens e mulheres utilizavam pinturas a base de chumbo e pó feito de arsênio para empalidecer a fisionomia, como sinal de riqueza e status social (D’ALLAIRD et al., 2016). Além disso, batom rosa claro acentuava a aparência pálida e as 5História da beleza e da maquiagem mulheres exibiam cabelos longos e formas roliças, estando o corpo totalmente ligado ao dinheiro — mulheres ricas tinham mais acesso à alimentação farta, consequentemente se tornando mais gordas. Durante o período renascentista, no século XIV, surgiu a moda da testa grande, em que as mulheres arrancavam seus cabelos ou usavam soluções químicas arriscadas para remover os fios, provocando uma testa maior. Mona Lisa é uma das artes mais populares do artista renascentista Leonardo da Vinci, retratada entre os anos 1503 e 1506. Essa obra representa o padrão de beleza da mulher da época, apresentado em um retrato que se tornou pa- drão para os demais retratos desse período. Mona Lisa se tornou símbolo de beleza pela harmonia e simetria de seu rosto. Outra obra de arte que retrata os padrões de beleza daquela época é O nascimento de Vênus (1482-1485), de Sandro Botticelli. Nessa obra, é possível observar a pele alva e os contornos curvilíneos, preocupações evidentes da sociedade na época. No século XV, o aumento dos mercados de comércio financiava o aumento de expedições para descobrir novas rotas comerciais. Em 1492, em uma dessas expedições, Cristóvão Colombo descobriu os nativos que viviam nos conti- nentes americanos. Os índios americanos tinham a cultura de cobrir seus corpos com padrões e cores para comunicar status e intenções. A aplicação de cosméticos era feita em todas as cerimônias religiosas e declarações de guerra. Cada tribo indígena tinha um padrão de pintura exclusivo e seguia um ritual de acordo com a tradição de seus ancestrais. Os materiais utilizados para a coloração eram naturais e incluíam plantas, polpas de frutas, argila e até mesmo fezes de patos. Durante o século XVI, a moda europeia era ter curvas acentuadas e cintura muito fina. Para isso, as mulheres utilizavam espartilhos e corpetes por baixo dos vestidos, que eram muito apertados e causavam até desmaios em razão da falta de oxigênio. Essa peça-chave foi indispensável por muito tempo, até o século XIX. Enquanto se descobriam novas culturas nas Américas, a Europa continuava a evoluir os padrões de beleza. Durante o reinado de Carlos II, na Era Stuart, a palidez é deixada de lado, dando lugar a maquiagens mais pesadas, como cosméticos e bases mais escuras. A aparência mais carregada e as bochechas coradas se tornaram populares nessa época, sendo sinais de saúde. No século XVIII, muitos cosméticos utilizados eram feitos de ingredientes tóxicos como chumbo e carbonita, trazendo sérias doenças e problemas de pele, o que dividia as opiniões sobre a maquiagem. Nesse período surgiu o ruge e o batom em tons avermelhados, mas as mulheres que usavam eram consideradas por muitas pessoas símbolos de prostituição e devassidão (D’ALLAIRD et al., 2016). História da beleza e da maquiagem6 No Japão, artistas e artesãs da sociedade se tornaram gueixas, figuras históricas que se destacavam por sua maquiagem e aparência complexas. Para conseguirem a aparência ideal, dedicavam horas aplicando maquiagem e se preparando. Antes da maquiagem, removiam suas sobrancelhas e se vestiam com quimonos. As gueixas aplicavam na face e na nuca preparos de pós à base de arroz ou chumbo misturados com água para que a consistência ficasse uma pasta, ficando brancas como porcelana. Após esse processo, seus traços dramáticos se realçavam. Além disso, pintavam sobrancelhas pretas no alto da testa. A boca com o centro vermelho forte feito com suco de cártamo se destacava. Ainda, delineavam os olhos com carvão e usavam um penteado típico chamado Shimada, uma espécie de coque alto (Figura 2). Figuras 2. Típica gueixa japonesa. Fonte: Juri Pozzi/Shutterstock.com. Por volta de 1800 surgiram os boticários, como eram chamados os farma- cêuticos que desenvolviam cosméticos para a população. Apesar de também serem responsáveis por produzir remédios, utilizavam ingredientes muito perigosos em suas criações, como mercúrio e ácido nítrico, o que causava muitas doenças. 7História da beleza e da maquiagem No século XIX, no período chamado Romantismo, as mulheres adotaram um estilo mais simples e a maquiagem foi ainda mais feminizada. Com o início da contemporaneidade e a Revolução Industrial, os cosméticos ficaram mais acessíveis à população, sendo produzidos em larga escala, não mais se restringindo às classes mais altas. O desejo de ter uma aparência jovem e saudável continuava, o que levou a população a aumentar a procura pelos cuidados pessoais. Evolução da beleza e da maquiagem no século XX Com a virada do século XX, ocorreu a verdadeira revolução da maquiagem, que se tornou moda na Europa e nos Estados Unidos, principalmente com o surgimento de estrelas do teatro e do cinema. As mulheres se inspiravam nas maquiagens das estrelas de Hollywood e as peles bronzeadas eram desejadas, pois significavam riqueza e prosperidade (D’ALLAIRD et al., 2016). No início desse século, ocorreram muitos avanços nas aplicações de cosméticos e foram surgindo aparelhos e outras técnicas estéticas que são usadas até os dias de hoje. Foi nesse período que os batons se popularizaram ainda mais e começaram a ser produzidos em estojos de metal. Também foram lançados os primeiros pós compactos com espelho e aplicador, como são utilizados até hoje. Os cosméticos não eram mais vendidos secretamente em salões particulares e lares. As mulheres, então, os usavam abertamente. Em 1909 surgiu a Selfridges, primeira loja e salão de beleza londrino a exibir abertamente e vender cosméticos no varejo, de maneira com que as pessoas pudessem manusear e ver as opções. Antes disso, os produtos só eram expostos atrás dos balcões e geralmente dentro de gavetas, impossi- bilitando o consumidor de visualizar todas as possibilidades de compra. O formato de comercialização aberta é o praticado nos dias atuais, pois facilita o acesso dos clientes aos novos produtos cosméticos e instiga o desejo de compra. História da beleza e da maquiagem8 O salão de beleza Selfridges, aberto por Harry Gordon Selfridges, existe até hoje e se tornou uma loja de departamentos. Nela, é possível encontrar de tudo:produtos cosméticos para uso particular e de salão, roupas, sapatos, brinquedos, mobílias e até joias, em mais de 50 mil m2 de loja em Oxford Street. É possível entender mais sobre esse empreendimento secular e seu fundador em Secrets of Selfridges, documentário da Netflix, e neste link (QUINTELA, 2018): https://goo.gl/YQL5Qk A década de 1910 No início do século XX, a mulher passou a explorar mais o seu corpo. 1910 foi o ano do fim do uso do espartilho, dando espaço à beleza natural do corpo. O padrão estético dos corpos mais roliços começou a dar lugar ao padrão de magreza, que segue até hoje, incentivado pela mídia. Nessa época, surgiu a popularização da máscara de cílios, antes substituída por vaselina ou cera. As mudanças na moda, na época, estavam em evidência. A década de 1920 Em 1920, as mulheres, com um pouco mais de liberdade e influenciadas por Coco Chanel — famosa designer da época — aderem ao corte de cabelo curtinho e liso. Ainda motivadas por Chanel, a pele bronzeada ficou ainda mais desejada pelas mulheres, pois ela criou a crença de que representava grande sofisticação. Por isso, muitos cosméticos de bronzeamento artificial foram desenvolvidos e utilizados entre a elite. Os batons vermelhos e os olhos negros eram típicos dessa década. Além disso, outras cores de batons foram surgindo e dando às mulheres mais pos- sibilidades. O batom também ganhou outra forma de uso: a técnica do “arco do cupido” ou coração. Nessa técnica, o batom era utilizado com formato arqueado, com inspiração na atriz Clara Bow (Figura 3). Nessa época também foi introduzido o primeiro curvador de cílios, que tinha um preço alto e poucos clientes podiam comprar. 9História da beleza e da maquiagem Figura 3. Clara Bow, famosa atriz dos anos 20. Fonte: Sauceda ([2018]). A década de 1930 A maquiagem dessa época era escultórica e, por vezes, as sobrancelhas eram depiladas e marcadas com lápis (Figura 4). O fácil acesso e a ampla quan- tidade de cores de batons tornaram o produto um símbolo de sexualidade e maturidade femininas. A Revista Vogue, considerada um manual de moda e beleza, apresentava em 1935 mulheres turcas com delineados em hena, com cor intensa e formato amendoado, parecido com a cultura egípcia antiga (D’ALLAIRD et al., 2016). História da beleza e da maquiagem10 Figura 4. Maquiagem típica dos anos 30. Fonte: Luchiiiya/Shutterstock.com. Segundo D’ Allaird et al. (2016), na década de 30, em Hollywood, surgiu a carreira de maquiador profissional. Profissionais começaram a ser contratados especificamente para aplicar maquiagem nas atrizes. A década de 1940 Essa época é marcada pela Segunda Guerra Mundial, quando houve racio- namento de roupas e cosméticos. As mulheres começaram a trabalhar em universos até então dominados por homens, tais como engenharias e pesquisa científica. Em 1940, portanto, foi criado o primeiro batom de longa duração, idealizado pela especialista em química orgânica Hazel Bishop. As estrelas de cinema continuavam ditando tendências. Uma delas se tornou símbolo de beleza e sensualidade da época, a atriz Marilyn Monroe, popular por sempre usar lábios vermelhos intensos, por suas formas voluptuosas e pelas ondas loiras e curtas do cabelo. 11História da beleza e da maquiagem A década de 1950 Ainda inspirada em estrelas de Hollywood, o foco das maquiagens dessa época mudou da boca para os olhos. A famosa atriz francesa Brigitte Bardot chamava atenção pelos seus olhos sensuais e escuros e seus lábios pálidos. Enquanto isso, Audrey Hepburn (Figura 5) exibia olhos de gato, técnica que ficou famosa na época. Para evidenciar ainda mais os olhos, o marrom e o preto davam lugar às maquiagens azul, verde e púrpura e as sobrancelhas ficaram mais claras. Figura 5. Audrey Hepburn, atriz que popularizou os olhos de gato. Fonte: Lucian Milasan/Shutterstock.com. A década de 1960 Década inclinada para a juventude, os anos 60 foram marcados pela variedade de padrões de maquiagem populares. De forma geral, a luta pela liberação História da beleza e da maquiagem12 social e o amor livre era representada pela maquiagem mais clara, seguindo tons rosados e verde água. Os hippies aderiam a aparência mais natural, en- quanto a aplicação de cores vibrantes e imagens pintadas no rosto continuava sendo usada, também como forma de expressão. As maquiagens de aplicação rápida, como o pó de arroz e as bases em tubo, eram as favoritas. Twiggy (Figura 6), adolescente conhecida como a primeira supermodelo, popularizou a maquiagem que utilizava cílios falsos ou máscara de cílios intensa, para que parecesse artificial, chamando a atenção para os olhos. Durante essa década foi inventada a máscara de cílios com aplicador, como é utilizada nos dias atuais. Figura 6. Twiggy, a it girl dos anos 60. Fonte: Ekaterina Jurkova/Shutterstock.com. 13História da beleza e da maquiagem A década de 1970 Nos anos 70, a maquiagem era muito semelhante aos anos 60, a diferença é que as cores ficaram mais neutras, ainda condizendo com a temática natural do mundo hippie. Excessos eram evitados, o rosto era levemente corado e os lábios eram brilhantes. As maquiagens, que antes eram em sua maioria dirigidas a peles claras, passaram a ser fabricadas também para tons de pele mais escuros. Dessa forma, as pessoas com pele escura ou negra não ficavam mais com seus rostos com tons acinzentados ou pálidos. Em contrapartida, no fim dessa década popularizaram-se as cores e o glitter, que conversavam com a moda da alta costura, onde havia na maioria das vezes uma combinação da sombra com a cor da roupa. O estilo punk e disco entraram em cena mais para o final do século. O estilo punk explorava olhos mais escuros, e o disco dava início à tendência multicolorida, muito explorada ao longo da década de 80. A década de 1980 É inaugurada a era das top models, quando mulheres altas e magras se tornaram padrão de beleza. Foi um momento em que a mulher se libertou e o poder feminino ficou em alta, marcado pelo exagero. A maquiagem forte trazia batons de cores vivas, como rosa pink e vermelho, e blushes bem rosados. Os cílios, por sua vez, eram alongados com máscaras coloridas, azuis e verdes. A década de 1990 Após as expressões exageradas e coloridas dos anos 80, foi uma década mais discreta para a maquiagem, que se tornou totalmente normal. Tons claros, cores sóbrias e pouco rímel davam um toque de frieza nas escolhas femininas na época. O minimalismo toma espaço e as sombras neutras tomaram o lugar das cores extravagantes; olhos esfumados marrons e cores mais comportadas faziam parte da nova tendência dos anos 90 (Figura 7). História da beleza e da maquiagem14 Figura 7. Maquiagem mais sóbria dos anos 90. Fonte: Oleg Gekman/Shutterstock.com. Século XXI A partir do século XXI, a maquiagem se mantém entre os produtos que mais se modificam rapidamente. Nos dias atuais, a maquiagem é um item básico para a maioria das mulheres e para alguns homens. Muitas aplicações históricas e ritualísticas ainda acontecem, como por gueixas e índios, que continuam mantendo as tradições. Mesmo nessas culturas, a maioria das maquiagens utilizadas não é mais de origem natural, e sim sintética. Com a tecnologia e as redes sociais, a maquiagem tem a capacidade única de passar por evoluções e desenvolvimentos praticamente diariamente (D’ALLAIRD et al., 2016). As tendências não seguem mais as celebridades, mas estão ligadas à au- toexpressão. Aplicada para modificar características indesejáveis e favorecer as atrativas, a maquiagem não segue mais um roteiro único, e sim é feita a partir das particularidades de cada indivíduo. O mercado da beleza apresenta elevado crescimento histórico no Brasil e no mundo. Piatti (2016) complementa que o Brasil está entre os três maiores consumidores de cosméticos, com faturamento de dezenas de bilhões de reais ao ano, e os centros estéticos estão entre os negócios mais rentáveis. 15História da beleza e da maquiagemBELEZA. In: DICIONÁRIO do Aurélio. [S. l.]: [s. n.], 2018. Disponível em: <https://diciona- riodoaurelio.com/beleza>. Acesso em: 18 set. 2018. CHINA exótica. Repórter: Marcus Reis. Produção: Baboon Filmes. In: Jornal da Record. [S. l.], [2015]. 1 vídeo (15min24s). Disponível em: <https://goo.gl/ym4pLT>. Acesso em: 18 set. 2018. D’ALLAIRD, M. et al. Milady maquiagem. São Paulo: Cengage Learning, 2016. GOMBRICH, E. H. História da Arte. Rio de Janeiro, Ltc, 2000. O CORPO perfeito. Beleza sem padrões, [s. l.], 2014. Disponível em: <https://belezasem- padroes.wordpress.com/>. Acesso em: 18 set. 2018. PIATTI, I. L. Biossegurança estética e imagem pessoal: formalização do ambiente, exigências da Vigilância Sanitária em biossegurança. 2. ed. Curitiba: Buona Vita, 2016. QUINTELA, G. Pioneiro da experiência do consumidor, dono da Selfridges morreu pobre, mas deixou legado no varejo. Linkedin, [S. l.], 2 abr. 2018. Disponível em: <ht- tps://pt.linkedin.com/pulse/pioneiro-da-experi%C3%AAncia-do-consumidor-dono- -selfridges-quintela>. Acesso em: 18 set. 2018. SAUCEDA, A. Amoebas Amoebas Everywhere. In: Pinterest, [S. l.], [2018]. Disponível em: <https://br.pinterest.com/pin/312718767848556181/>. Acesso em: 18 set. 2018. TRINDADE, J. R. Estudo da beleza através dos tempos. Canoas: Ulbra, 2010. VILHENA, J. de; MEDEIROS, S.; NOVAES, J. de V. A violência da imagem: estética, femi- nino e contemporaneidade. Rev. Mal-Estar Subj., Fortaleza, v. 5, n. 1, p. 109-144, mar. 2005. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/pdf/malestar/v5n1/06.pdf>. Acesso em: 18 set. 2018. História da beleza e da maquiagem16 Conteúdo:
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