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O espaço social, assim como toda realidade social, é definido metodologicamente e teoricamente por três conceitos gerais: a forma, a estrutura e a função. Milton Santos 7 ESTUDO DE CASO DE IMPACTO AMBIENTAL: MINERAÇÃO 124 Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso 7.1. Introdução As atividades humanas como a agricultura, barragens, mineração, entre outras, de uma maneira geral, afetam todos os componentes do ambiente, na medida em que eles estão interligados e os limites e alcances das ações, com raras exceções, são bastante difusos. Em empreendimentos onde a exploração dos recursos naturais é feita sem qualquer planejamento ou ordenação, observam-se claramente, dependendo do tipo de atividade, os prejuízos na perda de produtividade do solo, decréscimo na qualidade da água, interferência no ciclo biológico, perda de produtos valiosos como a madeira, poluição das águas e do ar, assoreamento de bacias, invasão de plantas exóticas de difícil erradicação, dentre outros problemas. Todo empreendimento minerário, seja ele, a céu aberto ou subterrâneo, modifica o terreno no processo de extração e na deposição de rejeitos. O bem mineral extraído não retorna mais ao local, fica em circulação, servindo ao homem e às suas necessidades. Esse aspecto traz consigo uma dúbia questão, pois se, de certa maneira, a mineração degrada o terreno, é verdade também que estes ambientes podem retornar a uma forma aceitável, limitando o impacto negativo, por meio de medidas mitigadoras eficazes em um dado período de tempo. A recuperação é um dos elementos que deve ser objeto de preocupação e de ações efetivas desde o início da etapa de planejamento, durante a exploração da jazida, até um período após o término da atividade minerária local. A Resolução CONAMA nº 01 de 23 de janeiro de 1986, estabeleceu a necessidade de elaboração do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e do Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) para o licenciamento de atividades modificadoras do meio ambiente, bem como o conteúdo mínimo do EIA/RIMA, sua forma de abordagem e apresentação. Assim, de acordo com as exigências legais vigentes, este estudo tem como objetivo efetuar o EIA/RIMA do empreendimento de exploração de cascalho e aterro do “Morro Redondo”, localizado no município de Lavras - MG. 7.2. Informações Gerais 7.2.1. Descrição do Empreendimento O empreendimento refere-se à lavra de cascalho, cuja finalidade é a obtenção de matéria- prima para construção civil em geral e aterramento de estradas, localizadas próximas ao município de Lavras. Esta reserva mineral é uma das principais fornecedoras desses produtos para o município. A atividade de exploração de cascalho apresenta um impacto ambiental importante, podendo ser feito um estudo de RCA/PCA ou EIA/RIMA, dependendo de suas dimensões, em função das modificações físicas e bióticas provocadas nas áreas de influência direta e indireta do empreendimento. Portanto, faz-se necessário um planejamento da mina a ser explorada, visando 125 Capítulo 7 - Estudo de caso de Impacto Ambiental: Mineração a sua posterior revegetação e mitigação dos impactos ambientais provocados pela atividade. Entretanto, neste estudo de caso, a título de execício acadêmico, será realizado o EIA/RIMA. 7.2.2. Localização e Acesso O empreendimento localiza-se na Microbacia do Ribeirão Santa Cruz, mais precisamente no Morro Redondo, município de Lavras, zona fisiográfica Sul de Minas, microrregião Alto Rio Grande. O acesso ao local do empreendimento, partindo de Lavras, pode ser feito de duas maneiras: em direção à BR 265, no sentido Lavras - São João Del Rei, passando pelo trevo do Distrito Industrial e seguindo a estrada que liga o bairro Vista Alegre à Estação Itirapuã ou pelo caminho que liga ao Parque Ecológico Quedas do Rio Bonito, popularmente conhecido por “Poço Bonito” (Figura 7.1). Figura 7.1 - Croqui de localização e acesso da área de estudo. 126 Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso Área de Influência do Empreendimento A área de exploração - área de influência direta (Figura 7.2) corresponde a 19,74 ha, que está delimitada por um polígono irregular, cuja atividade afeta diretamente uma porção da Bacia do Ribeirão Santa Cruz, que ocupa uma área de 776,00 ha. A área de influência indireta afetada pelo empreendimento é o município de Lavras - MG, que abrange uma área de 559,20 km2 com perímetro urbano de aproximadamente 117,84 km e uma área urbana de 14,16 km2. Figura 7.2 - Delimitação da área diretamente afetada pelo empreendimento. 127 Capítulo 7 - Estudo de caso de Impacto Ambiental: Mineração 7.2.3. Dados do Empreendedor Vide item 6 – Roteiro Básico para elaboração de Estudo de Impacto Ambiental. 7.2.4. Relação da Equipe Técnica Responsável pela Elaboração e Atualização do EIA/RIMA • Coordenação Geral Prof. José Aldo Alves Pereira • Consultores: alunos da Universidade Federal de Lavras, Departamento de Ciências Florestais da Universidade Federal de Lavras, cursando a Disciplina de Pós-graduação Estudos de Impactos Ambientais – Código PCF 517. Os alunos foram responsáveis pela elaboração deste EIA/RIMA. • Meio Físico: Engº Florestal Antônio de Arruda Tsukamoto Filho Enga Florestal Maria Floriana Esteves de Abreu Engº Florestal Marco Aurélio Mathias de Souza Engº Florestal Rubens Marques Rondon Neto • Meio Biótico: Engº Florestal Rubens Marques Rondon Neto Biólogo Frederico Augusto G. Guilherme Engº Florestal Sebastião Osvaldo Ferreira • Meio Sócioeconômico: Engª Florestal Michelliny Gama Engª Florestal Regiane Vilas Boas Faria Engª Florestal Sybelle Barreira • Equipe de atualização: Engº Florestal Dalmo Arantes de Barros Engº Florestal Rossi Allan Silva Obs: A multidisciplinaridade da equipe técnica foi parcial devido à formação básica do quadro de alunos. 128 Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso 7.3. Enfoque Conceitual A lavra de cascalho da área de estudo tem a finalidade de prover o município de Lavras de matéria-prima para construção civil em geral e aterramento de estradas. Assim sendo, há uma necessidade de redução de impactos a serem gerados, tanto naqueles de natureza física e biótica como, principalmente, nos de natureza sócio-econômica. A concepção básica do Estudo de Impacto Ambiental fundamentou-se em focalizar o empreendimento e áreas adjacentes, situados em uma área de influência descrita através de fatores ambientais. Buscou-se, então, uma visão integrada do homem, da vegetação, da fauna bem como do meio físico, que lhes dá suporte para se obter uma avaliação consistente da viabilidade ambiental do empreendimento. 7.3.1. Atividades a serem Desenvolvidas no Empreendimento A exploração de cascalho provoca impactos à biota, ao meio físico e ao meio sócio- econômico, fazendo-se necessário realizar o planejamento adequado de exploração, com foco à sua posterior revegetação. A recuperação não é um evento que ocorre em uma determinada época, mas sim um processo que se inicia antes da mineração e termina após seu exaurimento. A recuperação envolve operações de redução dos impactos ambientais antes e após a exploração mineral tais como a retirada e estocagem da camada superficial do solo, o reafeiçoamento do terreno e a recolocação da camada fértil. Operações bem planejadas são fundamentais para o sucesso da recuperação, além de ser menos onerosas. Fase 01 - Preparo da área para a Lavra A fase 01 compreende as seguintes operações: • Implantação do sistema de drenagem provisório: É necessário, antes de qualquer operação, construir um sistema de drenagem provisório, objetivando desviar as águas superficiais para evitar a ocorrência de processos erosivos, que possam culminar no assoreamento e contaminações físicas e químicas dos cursos d’água. Para se estabelecer uma rede de drenagem provisória, podem-se adotar várias práticas, tais como: o uso de valetas, canaletas, tanques de decantação, canaletas de contenção, sumps,bueiros e outras. 129 Capítulo 7 - Estudo de caso de Impacto Ambiental: Mineração • Remoção da cobertura vegetal: Na mineração de superfície é necessária a retirada da vegetação existente sobre o material a ser explorado. Essa atividade deve ser dimensionada de acordo com o tipo e os padrões vegetacionais encontrados sobre as jazidas. • Remoção da camada superficial Na camada superficial do solo (horizonte A), de aproximadamente 20 cm de espessura, encontram-se grande parte da matéria orgânica, nutrientes minerais, propágulos vegetativos, banco de sementes, micro e mesofauna. A remoção da camada fértil do solo pode ser feita com trator de esteiras com lâmina, evitando a mistura com o subsolo (horizonte B), o qual pode comprometer a qualidade da camada fértil do solo. Na área a ser minerada deve-se minimizar o decapeamento, removendo somente o necessário para que não haja perda desses elementos, que são de suma importância para a recuperação do ambiente degradado. A madeira proveniente do desmatamento poderá ser utilizada como fonte de energia ou para deposição dentro do corte ou cava da lavra. • Estocagem da camada superficial O armazenamento do solo superficial tem como objetivo o posterior fornecimento de microorganismos adaptados às condições locais, adição de minerais prontamente assimiláveis às plantas e sementes / propágulos de espécies vegetais nativas, utilizados durante as etapas de recuperação ambiental das jazidas. Esse armazenamento pode ser feito em leiras com altura de 1,5 m, aproximadamente, e de 3 a 4 m de largura, com pilhas individuais de 5 a 8 m3, também com a mesma altura das leiras. O local de estocagem preferencialmente deve ser plano e protegido da enxurrada e da erosão, a fim de evitar perdas de solo e nutrientes. O solo estocado deve ser coberto com vegetação morta, serrapilheira ou plantio de gramíneas e leguminosas, a fim de proteger, assim, o material dos raios solares que podem alterar as características químicas e biológicas do solo estocado. Não é recomendado armazenar solos muito úmidos encontrados em época de chuva. Deve-se evitar a compactação das pilhas da camada do solo estocado e quanto mais curto for o período de estocagem, melhor será a sua função na restauração do ecossistema degradado. Fase 02 – Lavra A fase 02 consiste de apenas uma operação: • Desmonte e manuseio do cascalho para estocagem O desmonte é a operação que consiste na ruptura das camadas estruturais do solo, através 130 Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso do trabalho de tratores de esteiras ou de pneus dotados de lâmina do tipo angular. O material originário do desmonte deve ser movimentado de um local para outro, na tentativa de formar pilhas de estocagem à espera de serem carregados. Fase 03 – Beneficiamento A fase 03 compreende as seguintes operações: • Separação física Esta etapa consiste em retirar do cascalho as rochas de maiores dimensões, partes de vegetais e outros rejeitos sem interesse para a construção civil e estradas. Essa operação de separação pode ser realizada através do uso de tratores de esteiras ou de pneus, com pá carregadeira e/ou lâmina do tipo angular. • Carregamento e transporte Após o beneficiamento, o material estocado é carregado através do uso de tratores de pneus com pá carregadeira até os caminhões do tipo caçamba, os quais possuem uma capacidade de transporte de 5 a 6 m3. Fase 04 - Desativação Esta fase consiste na paralisação das atividades referentes ao processo de mineração do cascalho, seguido da retirada de todas as estruturas e das máquinas que foram utilizadas durante a fase exploratória do recurso mineral em questão. Nesta fase será realizado o reafeiçoamento do terreno, bem como serão executados os planos de recuperação ambiental, com a deposição da camada de solo estocada e plantio de espécies conforme estratégia de uso da superfície do terreno, podendo ser para a produção (pastagem, reflorestamento, culturas, etc.) ou conservação (retornar a funcionalidade ambiental original). 7.4. Diagnóstico Ambiental 7.4.1. Diagnóstico do meio físico Clima A região em estudo localiza-se nas terras altas do sul do Estado de Minas Gerais, com altitude de aproximadamente 800 metros. O clima é considerado subtropical moderado úmido, com temperatura média anual variando de 18 a 20°C. A temperatura média no mês mais frio está entre 13° e 16°C e a do mês mais quente entre 21° e 23°C. As geadas são raras, com 131 Capítulo 7 - Estudo de caso de Impacto Ambiental: Mineração temperaturas mínimas absolutas de até 3,3°C. A precipitação média anual varia entre 1300 e 1700 mm, com regime de distribuição periódica predominando no semestre mais quente. O inverno tem de 2 a 4 meses secos, com um déficit hídrico pequeno entre 10 e 30 mm anuais. A evapotranspiração potencial anual varia entre 800 e 850 mm. A insolação média anual é de aproximadamente 2.483 horas, com ventos predominantes de Leste, com velocidade média de 1,9 m/s. O município de Lavras-MG, goza de excelente clima, com temperatura amena mesmo durante o verão. As chuvas são concentradas entre janeiro e março, e a estiagem se dá de julho a agosto. O índice médio pluviométrico anual é de 1.473 mm. Qualidade do ar A exploração do Morro Redondo para retirada do cascalho pouco influenciará em possíveis mudanças climáticas que venham a ocorrer. No entanto, a retirada da cobertura vegetal e a remoção do cascalho podem criar locais de concentração de poluentes, formando um microclima diferente do anterior à exploração. A qualidade do ar na área diretamente afetada pode ficar prejudicada pela emissão de poluentes na atmosfera, caracterizada por muitos contaminantes, advindos de várias fontes, como a poeira de possíveis detonações, escavações, solos expostos, tráfego de veículos pesados nas estradas de terra, locais de beneficiamento, estocagem e carregamento do cascalho. A erosão eólica pode também contribuir para a poluição do ar, colocando em suspensão as partículas de solo. As possíveis detonações emitem NOx, CO e uma concentração menor de dióxido de enxofre. É possível que essas partículas em suspensão possam causar irritação no sistema respiratório dos trabalhadores e da comunidade rural adjacente ao empreendimento, assim como também podem afetar moderadamente o desenvolvimento das plantas e a vida dos animais silvestres. Ruídos A poluição sonora no empreendimento é causada principalmente pelas máquinas que trabalham no local, pelas possíveis detonações e pelo tráfego intenso de máquinas pesadas pelas estradas. O efeito desta poluição concentra-se nos trabalhadores da lavra, uma vez que as propriedades da comunidade rural do local estão localizadas em sua maioria, distantes do morro a ser explorado. Por outro lado, os animais da região devido ao barulho, serão afugentados para outras áreas, o que ecologicamente considera-se como possível desequilíbrio, tanto para a vegetação local como para o próprio animal em adaptação no novo ambiente, como também para os animais e a vegetação onde os animais estão se refugiando. O ouvido humano é muito sensível e, dependendo do tempo de exposição ao barulho, quando acima de 85 decibeis, pode vir a sofrer danos considerados irreversíveis. 132 Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso Geologia e Geomorfologia A região em estudo situa-se sobre uma das formações geológicas mais antigas, conhecida como Complexo Cristalino do Pré-Cambriano. Esse complexo abrange gnaisses, mica xistos, quartzitos, mármores, dolomitos, itabiritos e abundantes intrusões de granitos, dioritos, gabros, piroxitos e outras rochas básicas com frequência transformadas em metabasitos, anfibólitos e agalmatólitos (Oliveira e Leonardo, 1943). De acordo com o mapa geológico do Ministério de Minas e Energia, na região predomina o complexo granito-gnáissico indiviso, do Pré-Cambriano. O grupo Andrelândia, também do Pré-Cambriano, aparece em menor proporçãona parte sul da região, formando as serras que limitam Lavras-MG com Ingaí-MG (Serra do Campestre) e com Carmo da Cachoeira - MG (Serra da Bocaina), atingindo a Serra do Faria. Este grupo é caracterizado pela predominância de quartzitos sobre micaxistos e por micaxistos sobre quartzitos. A região em estudo se caracteriza por apresentar rochas de alto grau de cristalinidade, geralmente alojando corpos metabasíticos. Tectonicamente, trata-se de um megabloco estrutural, ao qual se impuseram transformações petrogenéticas do ciclo Brasiliano, sendo os falhamentos os elementos fundamentais desse conjunto litólico. Sobre o Domínio Leptito-migmatito-metabasítico predominam as rochas gnáissicas de totalidade cinza-clara quando inalteradas, e esbranquiçadas e amareladas quando meteriorizadas. A granulação é média a fina, sendo comuns os veios e diques quartzo-feldspáticos. Existe nesse Domínio uma grande incidência de corpos metabásicos, os quais geralmente mostram-se alterados na forma de blocos arredondados de coloração amarelada. O domínio migmatítico apresenta uma maior regularidade petrográfica, marcada por rochas porfiroblásticas e granitóides recortadas por massas aplíticas, distribuindo-se desde o norte da cidade de Nepomuceno–MG, até os arredores de Lavras-MG. Os tipos litólicos característicos são os que mantêm a série de morros a oeste de Lavras, os quais exibem certo bandamento, com os facóides feldspáticos mostrando dimensões centimétricas. Geomorfologicamente, a região em estudo localiza-se no chamado Planalto Atlântico (Almeida, 1966), ocorrendo várias subdivisões morfológicas, sendo que a região se assenta na superfície do Alto Rio Grande, que se caracteriza pelo relevo ondulado, com altitudes variando em torno de 900 metros, onde se salientam cristas de cotas superiores a 1.000 metros. É talhada essencialmente em rochas de médio a alto grau metamórfico, apresentando-se também em áreas onde aparecem tipos litólicos de caráter metabásico. 133 Capítulo 7 - Estudo de caso de Impacto Ambiental: Mineração Solos Classificação dos solos Os solos se distinguem regionalmente por causa de diferenças em materiais de origem, condições bioclimáticas e idade, que é controlada basicamente pela evolução do relevo. Isso acarreta variações na composição mineralógica, granulométrica, profundidade, riqueza em nutrientes, capacidade de retenção de água, porosidade, etc. A classificação do solo de uma região constitui um instrumento de definição de seu possível aproveitamento, por isso, o levantamento de solos é fundamental para o planejamento do uso da terra, uma vez que ele permite mapear as diversas classes de solo de uma área, diferenciadas pelas características morfológicas, físicas, químicas e mineralógicas. Esses fatores são os que determinam a utilização adequada do recurso e permitem avaliar a aptidão agrícola das terras. Na região da microbacia hidrográfica sobre influência do Morro Redondo, onde se realizam os Estudos de Impactos Ambientais, foram classificados cinco tipos de solo. Essa classificação foi realizada de acordo com as unidades do mapeamento da vegetação, onde também foram coletadas as amostras de solo e levantados os seus respectivos perfis para a classificação. No estabelecimento das classes de solo utilizaram-se os critérios propostos pela EMBRAPA (2006). As classes de solos encontradas na microbacia hidrográfica do ribeirão Santa Cruz (Figura 7.3) sob influência do Morro Redondo são as seguintes: a) Latossolo Vermelho-Amarelo Distrófico (LVAd); b) Cambissolo Háplico Tb Distrófico (CXbd); c) Gleissolo Háplico Tb Distrófico (GXbd); d) Latossolo Vermelho Distrófico (LVd); e) Latossolo Vermelho Eutrófico (LVe). 134 Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso Figura 7.3 - Distribuição das classes de solo na microbacia hidrográfica do ribeirão Santa Cruz, sob influência do Morro Redondo. Características Gerais dos Solos Mapeados Para este estudo foram coletadas amostras de solo na camada de 0-20 cm de profundidade, em 8 (oito) locais pré-determinados da microbacia (os mesmos locais onde foram feitos os perfis para a determinação das classes de solo), sobre influência do Morro Redondo. Essas amostras foram encaminhadas ao Departamento de Ciência dos Solos da Universidade Federal de Lavras, onde foram efetuadas as análises granulométricas e de fertilidade. A partir destas informações sobre a fertilidade dos solos da microbacia, pode-se antever algumas restrições quanto ao uso do solo, e indicar o seu melhor aproveitamento, uma vez que a fertilidade se constitui em um dos elementos de limitação para a determinação da aptidão agrícola dos solos. Na região estudada há uma predominância de Latossolo Vermelho, com 143,81 ha ou 54,19% 135 Capítulo 7 - Estudo de caso de Impacto Ambiental: Mineração da área total mapeada. Os Latossolos Vermelho-Amarelos cobrem 69,41 ha ou 26,15% do total mapeado, enquanto os Cambissolos estão representados com 46 ha ou 17,33% e, ainda com menor expressão os Gleissolos, com 6,18 ha ou 2,33% da área total em estudo sobre a microbacia hidrográfica do rio Santa Cruz. Avaliação da Aptidão Agrícola das Terras e Uso Atual do Solo A interpretação de levantamentos de solos é uma tarefa da mais alta relevância para utilização racional desse recurso natural na agricultura e em outros setores que utilizam o solo como elemento integrante de suas atividades. Assim, podem ser realizadas interpretações para atividades agrícolas, onde se classificam as terras de acordo com sua aptidão para diversas culturas, sob diferentes condições de manejo e viabilidade de melhoramento através de novas tecnologias. Neste estudo, para avaliação da aptidão agrícola dos solos, seguiu-se a metodologia do Sistema de Interpretação desenvolvido pela Divisão de Pedologia e Fertilidade do Solo - Ministério da Agricultura (Bennema et al., 1965), atualmente, Centro Nacional de Pesquisa de Solos (CNPS/EMBRAPA), ampliada por Ramalho Filho et al. (1983). A avaliação da aptidão agrícola consistiu no posicionamento das terras dentro de seis grupos, visando a mostrar as alternativas de uso de uma determinada extensão de terra, em função da viabilidade de melhoramento das cinco qualidades básicas e da intensidade de limitação que persistir após a utilização de práticas agrícolas inerentes aos sistemas de manejo A (baixo nível tecnológico), B (médio nível tecnológico) e C (alto nível tecnológico). Condições Agrícolas das Terras Para a análise das condições agrícolas das terras, tomou-se hipoteticamente como referência, um solo que não apresente problemas de fertilidade, deficiência de água e oxigênio, não seja suscetível à erosão e nem ofereça impedimentos à mecanização. Como normalmente as condições das terras fogem a um ou vários desses aspectos, foram estabelecidos diferentes graus de limitação em relação ao solo de referência, para indicar a intensidade dessa variação. De modo geral, a avaliação das condições agrícolas das terras é feita em relação a vários fatores, muito embora alguns desses fatores atuem de maneira mais determinante em certas situações. Os cinco fatores tomados para avaliar as condições agrícolas das terras foram: a) Deficiência de fertilidade; b) Deficiência de água; c) Excesso de água ou deficiência de oxigênio; d) Susceptibilidade à erosão; e) Impedimentos à mecanização. 136 Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso Avaliação das Classes de Aptidão Agrícola das Terras A avaliação das classes de aptidão agrícola das terras e, por conseguinte dos grupos e subgrupos, foi feita por meio do estudo comparativo entre os graus de limitação atribuídos às terras e aos estipulados na tabela-guia de avaliação agrícola das terras referentes à região tropical úmida. A tabela-guia é conhecida como quadro de conversão, constituindo em uma orientação geral para a classificação da aptidão agrícola das terras, em função de seus graus de limitação, relacionadoscom os níveis de manejo A, B e C. Assim, a classe de aptidão agrícola das terras através dos diferentes níveis de manejo, foi obtida em função do grau limitativo mais forte, referente a qualquer um dos fatores que influenciam a sua utilização agrícola. Nesta avaliação objetivou-se diagnosticar o comportamento das terras para lavouras nos níveis de manejo A, B e C; sendo para pastagem plantada e silvicultura no nível de manejo B, e para pastagem natural no nível de manejo A. A simbologia adotada para as classes determinadas foi definida por Ramalho- Filho et aI. (1983) (Tabela 7.1). Tabela 7.1 - Simbologia correspondente as classes de aptidão agrícola das terras Classes de Aptidão Agrícola Lavouras Silvicultura Pastagem Plantada Pastagem Natural Nível de Manejo A B C B B A Boa A B C P S N Regular a b C P S N Restrita (a) (b) (c) (p) (s) (n) Inapta - - - - - - A, B e C referem-se à lavoura; P à pastagem plantada; N à pastagem natural. Subgrupos: maiúsculas - classe de aptidão boa; minúsculas: classe de aptidão regular; minúsculas entre parênteses - classe de aptidão restrita. Fonte: Ramalho-Filho et al. (1983). • Nível de Manejo NíveI A: Baseado em práticas agrícolas que refletem um baixo nível tecnológico. Praticamente não há aplicação de capital para manejo, melhoramento e conservação das condições do solo e das lavouras. As práticas agrícolas dependem do trabalho braçal, podendo ser utilizada alguma tração animal com implementos agrícolas simples. Nível B: Baseado em práticas agrícolas que refletem um nível tecnológico médio. Caracteriza-se pela aplicação modesta de capital e de resultados de pesquisa para manejo, melhoramento e conservação das condições do solo e das lavouras. As práticas agrícolas estão condicionadas principalmente ao trabalho braçal e à tração animal. 137 Capítulo 7 - Estudo de caso de Impacto Ambiental: Mineração Nível C: Baseado em práticas agrícolas que refletem um alto nível tecnológico. Caracteriza- se pela aplicação intensiva de capital e de resultados de pesquisa para manejo, melhoramento e conservação das condições do solo e das lavouras. A motomecanização está presente nas diversas fases da operação agrícola. Uso Atual das Terras O uso atual de uma determinada área muitas vezes não é compatível com sua real aptidão agrícola, que é determinada por um conjunto de fatores pedológicos, climáticos e biológicos, e que se interagem naturalmente, resultando em um menor ou maior grau de limitação, quanto aos aspectos de deficiência de fertilidade, de água, de oxigênio, suscetibilidade à erosão, impedimentos a mecanização e outros. A relação do uso atual do solo com a sua aptidão agrícola é fundamental dentro de um processo produtivo e de conservação dos recursos naturais. Assim, quando se visa direcionar o uso das terras de acordo com sua vocação, é necessário determinar o uso atual das terras, estratificando os ambientes através de suas características e propriedades, que por sua vez, permitirá determinar a avaliação do seu potencial e de suas limitações. Para se determinar o uso atual das terras, utilizou-se como material básico a carta topográfica de ltumirim (SF-23-X-C-I-3) na escala 1:50.000. As interpretações da ortofotocarta de ltumirim (Faixa 2108 - E) (fotos 400 a 402) na escala 1:10.000, foram ainda, apoiadas, nas observações realizadas no campo, obtendo-se então, a determinação dos padrões e das formas de ocupação no período atual. A Tabela 7.2 apresenta as classes de uso atual dos solos, simbolizadas por números, correspondentes àqueles representados no mapa de uso e ocupação das terras (Figura 5). Tabela 7.2 - Classes de uso e ocupação dos solos, sua simbologia e sua expressão geográfica. Classe de uso atual Área (ha) % Floresta hidrófila pluvial 58,45 22,02 Cultura agrícola 76,65 28,88 Pastagem 55,68 20,98 Campo limpo 5,94 2,24 Campo rupestre 26,26 9,89 Áreas degradadas 19,74 7,44 Capoeira 17,00 6,41 Campo de várzea 5,26 1,98 Represa 0,42 0,16 TOTAL 265,4 100,00 138 Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso Observa-se o domínio das culturas agrícolas, na porção mais centro-oeste da área, perfazendo 76,65 ha, correspondendo a 28,88% da área mapeada. A vegetação encontrada na área, na sua maioria matas ciliares, está protegida por Lei. As matas ciliares são do tipo floresta hidrófila pluvial e praticamente ocorrem distribuídas por toda a microbacia em estudo, perfazendo 58,45 ha. As áreas de pastagem estão distribuídas pela área no sentido Ieste-oeste, na parte central da microbacia sobre influência do Morro Redondo, equivalendo a 20,98% da área mapeada. A vegetação considerada como campo rupestre e as áreas degradadas, está basicamente localizada sobre Cambissolos, contornando a face norte-oeste do Morro Redondo, totalizando uma área de 46 ha, correspondendo a 17,33% da área em estudo. As vegetações campo limpo, campo de várzea e capoeira, estão Iocalizadas na porção norte-Ieste da área, com pouca expressão em área quando observadas isoladamente, em conjunto formam 10,63% da área total mapeada. Recursos Hidricos e Qualidade da Água O homem tem produzido obras que degradam o meio ambiente ou modificam o ciclo natural das águas, tais como as barragens, as obras de capacitação, de drenagem, irrigação e inúmeras outras, observando-se, em grande parte do nosso planeta a deterioração da qualidade das águas. Esta situação é ainda mais preocupante quando se considera a forte limitação dos recursos hídricos disponíveis para utilização pelo homem. A água da chuva, ao cair, é quase pura, ao atingir o solo, seu grande poder de dissolver e carrear substâncias altera suas qualidades. Dentre o material dissolvido encontram-se as mais variadas substâncias como, por exemplo, substâncias calcárias e magnesianas que a tornam dura; substâncias ferruginosas que dão cor e sabor diferentes à mesma; substâncias resultantes das atividades humanas, tais coma produtos industriais, que tornam a água imprópria ao consumo. Por sua vez, a água pode carrear substâncias em suspensão, tais como partículas finas dos terrenos e que dão turbidez à mesma; pode também carrear outras substâncias decorrentes da atividade humana que modificam o seu sabor, ou ainda, organismos patogênicos. Em consequência da sua grande atividade, a água quimicamente pura não é encontrada na natureza. Apesar de existirem diversos setores da sociedade preocupados com a conservação dos recursos naturais renováveis, pelo que se sabe, são poucos os métodos desenvolvidos na maioria dos estados brasileiros, que visam detectar os graus de degradação de uma microbacia através de valores numéricos. Com a evolução das técnicas de detecção e medidas de poluentes, foram estabelecidos padrões de qualidade para a água, isto é, a máxima concentração de elementos ou compostos que poderiam estar presentes na água, de modo a apresentar compatibilidade com a sua utilização para determinadas finalidades. No Brasil, o Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA), através de legislação 139 Capítulo 7 - Estudo de caso de Impacto Ambiental: Mineração específica, classifica as águas do território nacional em doce, salobra e salinas, em conformidade com os usos predominantes, definidos pela Resolução CONAMA nº 357 de 2005. Localização da Microbacia O município de Lavras pertence à Bacia do Rio Grande, tendo o Ribeirão Água Limpa e o Ribeirão Vermelho como os principais rios. A área de estudo está inserida na microbacia do Ribeirão Santa Cruz, influenciada diretamente pelo empreendimento em estudo, que ocupa uma área de 776,00 ha, cujas coordenadas geográficas são 21º17’32” a 21º19’l8” de latitude Sul e 44º56’42” a 44º 53’42” de longitude Oeste. Para a realização do estudo de qualidade da água, foi considerada uma área de 265,40 ha, enquanto que a caracterização física da microbacia influenciada pelo empreendimento abrange a área total dessa microbacia. Coleta de Material para Análises Foram determinados três pontos doribeirão Santa Cruz (Figura 7.4), respeitando o espaço entre um ponto e outro, para a coleta de amostras de água. A primeira coleta (Ponto 1), foi feita na fazenda Santo Antônio do Morro Redondo, próximo à estrada que Iiga Lavras a Ingaí. A segunda amostra (Ponto 2), foi coletada em frente à entrada da fazenda Santa Cruz, localizada à esquerda da estrada que Iiga Lavras a Ingaí, enquanto que a terceira amostra (Ponto 3), foi coletada no final da microbacia, junto à estrada que liga Lavras ao Morro Redondo, próximo ao bairro Pipoca. Para a coleta foram considerados o horário, temperatura, pH e fixação de oxigênio, de acordo com as normas vigentes estabelecidas, e retiradas amostras representativas para ensaios de laboratório. Os parâmetros analisados em Iaboratório foram os seguintes: DBO – Demanda Bioquímica de Oxigênio, OD – Oxigênio Dissolvido, Sólidos Totais, Sólidos Suspensos, sendo que a Análise Bacteriológica e a Turbidez foram realizadas no laboratório de Proteção Ambiental do Departamento de Engenharia Agrícola da UFLA. 140 Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso Figura 7.4 - Localização dos pontos de coleta das amostras de água para as análises, no Ribeirão Santa Cruz, Lavras, MG. Interpretação das Análises Observa-se na Tabela 7.3, que o valor de coliformes totais e fecais foi alto, portanto, conclui-se que a água em estudo encontra-se fora dos padrões bacteriológicos de potabilidade. 141 Capítulo 7 - Estudo de caso de Impacto Ambiental: Mineração Tabela 7.3 - Resultado dos parâmetros físicos, químicos e biológicos da água do Ribeirão Santa Cruz, em Lavras, MG em três pontos amostrados. Análises Unidade Concentração Ponto 01 Ponto 02 Ponto 03 1ª Análise 2ª Análise 1ª Análise 2ª Análise 1ª Análise 2ª Análise Físicas Temperatura 0C 24 22 23 22 23 23,5 pH - 6,38 6,43 6,73 6,72 6,80 6,63 Turbidez UNT Sólidos Totais mg/l 40 70 40 40 412 124 Sólidos Suspensos mg/l 18 49 21 30 175 62 Químicas DBO5 mg/l 2,0 1,9 3,5 2,3 4,0 0,6 OD mg/l 6,1 5,2 6,5 8,6 5,4 4,9 Biológicas Coliformes Totais NMP/100ml - 2,0 x 103 - - - 1,1 x 104 Coliformes Fecais NMP/100ml - 2,0 x 103 - - - 1,1 x 104 Analisando-se a DBO pode-se verificar que nas amostras dos pontos 02 e 03, os valores encontrados estavam fora do índice limite. Em relação ao oxigênio dissolvido, somente a amostra do ponto 03 apresentou valores abaixo do índice limite. Os valores de temperatura, pH, sólidos totais e sólidos suspensos encontravam-se dentro dos limites estabelecidos pela Resolução CONAMA N° 357/2005. 7.4.2. Diagnóstico do Meio Biótico: Flora e Fauna Flora Os biomas do Estado de Minas Gerais, a exemplo do que ocorre com o restante do país, têm sido seriamente alterados pela ação antrópica, principalmente por atividades agropecuárias, fragmentando e modificando a composição da flora e da fauna, provocando em algumas situações perdas irreversíveis de suas riquezas naturais. A cobertura vegetal original da área em estudo encontrava-se extremamente devastada, restando das formações florestais, somente capões esparsos na cumeeira das elevações e, estreitas matas ciliares, fragmentadas ao longo dos cursos d’água. As formações campestres e de Cerrado encontravam-se mais alteradas, enquanto que os Campos de Várzea foram geralmente substituídos por culturas agrícolas e/ou pastagens. Os Campos Rupestres e os Campos Limpos, embora submetidos à ação antrópica, ainda mantém os seus Iimites originais 142 Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso (Gavilanes e Brandão, 1991a). Para a identificação do material botânico e possíveis comparações, foram utilizados alguns trabalhos de levantamentos florísticos já realizados em locais próximos à área de estudos, principalmente aqueles efetuados na Reserva Biológica Municipal do Poço Bonito, que se localiza a cerca de 1.200 m da área de estudo, em linha reta, e cuja fitofisionomia predominante é muito semelhante a da área de estudo (Gavilanes et al.,1992; Gavilanes e Brandão, 1991a,b, e Gavilanes, Brandão e Pereira,1990). Após a identificação, as espécies foram listadas em ordem alfabética de acordo com as famílias, gêneros, espécies e nome vernacular a que pertencem, em cada formação florestal ocorrente. Formações Florestais Conforme Gavilanes e Brandão (1991), a cobertura vegetal do município de Lavras - MG é constituída por duas formações distintas: a florestal e a campestre, cuja classificação fitogeográfica foi baseada em Rizzini (1963). A florestal é representada pela Mata de Galeria ou Mata Ciliar, constituída por prolongamentos da Floresta Atlântica através do Planalto Central, apresentando-se sob a forma de capões esparsos, Floresta Tropical Latifoliada Baixo Montana, Floresta Mesófila Estacional Semidecídua e Decídua (afloramentos de rocha) e pela Floresta Esclerófila (Cerradão) em pequenas manchas. A campestre é representada pelo Cerrado e suas gradações (Cerrado strictu sensu e Campo Cerrado), além de Campos de Várzeas, Campos Limpos e Campos Rupestres. Como formações antrópicas, existem as Capoeiras e Capoeirões, assim como os Campos Antrópicos (Figura 7.5). Já na área de influência do empreendimento as formações florestais predominantes, são as seguintes: • Floresta Hidrófila Pluvial ou Mata Ciliar; • Campo Limpo; • Campo Rupestre; • Campo de Várzea; • Capoeira. 143 Capítulo 7 - Estudo de caso de Impacto Ambiental: Mineração Figura 7.5 - Mapa da uso e ocupação na Bacia Hidrográfica de Influência do Morro Redondo - Lavras, MG. A listagem caracterizada abaixo (Tabela 04) é um exemplo da florística de uma das formações florestais existentes na área estudada. Levantamentos florísticos foram desenvolvidos também para as demais fitofisionomias. Tabela 4 - Listagem florística das espécies presentes na Floresta Tropical Pluvial ou Mata de Galeria da Bacia Hidrográfica de influência do Morro Redondo - Lavras, MG. FAMÍLIA/ESPÉCIE NOME VULGAR Anacardiaceae Lithraea molleoides (Vell.) Engl. Aroeira-branca Tapirira guianensis Aubl. Pau-pombo Tapirira obtusa (Benth.) J.D.Mitch. Pau-pombo Annonaceae Annona cacans Warm. Araticum-cagão Duguetia lanceolata A.St.-Hil. Biribá Guatteria nigrescens Mart. Pindaíba-preta Xylopia brasiliensis Spreng. Pindaíba Xylopia emarginata Mart. Pindaíba-do-brejo Continua... 144 Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso FAMÍLIA/ESPÉCIE NOME VULGAR Araliaceae Dendropanax cuneatus (DC.) Decne. & Planch. Maria-mole Didymopanax calvum (Cham.) Decne. & Planch. Mandiocão Bignoniaceae Jacaranda macrantha Cham. Caroba-do-mato Tabebuia vellosoi Toledo Ipê-amarelo-da-serra Boraginaceae Cordia ecalyculata Vell. Louro-mole Cordia rufescens A.DC. Grão-de-galo Cordia sellowiana Cham. Chá-de-bugre Burseraceae Protium almecega L. Marchand Almecegueira Protium heptaphyllum (Aubl.) Marchand Almecegueira Leguminosae Bauhinia longifolia (Bong.) Steud. Unha-de-vaca Bauhinia holophylla (Bong.) Steud. Unha-de-vaca Copaifera langsdorffii Desf. Copaíba Senna spp. Fedegoso Senna macranthera (Collad.) H.S.Irwin & Barneby Amarelinho Sclerolobium rugosum Benth. Angá Andira anthelmia (Vell.) J.F.Macbr. Angelim-amargo Bowdichia virgilioides Kunth Sucupira-preta Dalbergia villosa (Benth.) Benth. Caviúna Dalbergia variabilis Vogel Assapuva Machaerium angustifolium Vogel Adolfo Machaerium brasiliense Vogel Jacarandá Machaerium nictitans (Vell.) Benth. Bico-de-pato Machaerium villosum Vogel Jacarandá-mineiro Machaerium condensatum Kuhlm. & Hoehne Jacarandá Myroxylon peruiferum L.f. Bálsamo Ormosia arborea (Vell.) Harms Tento Platypodium elegans Vogel Faveiro Zollernia ilicifolia (Brongn.) Vogel Azevinho Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan Angico Anadenanthera peregrina (L.) Speg. Angico-vermelho Enterolobium contortisiliquum (Vell.) Morong Orelha-de-negro Continua... Tabela 4 - Continuação 145 Capítulo 7 - Estudo de caso de Impacto Ambiental: Mineração FAMÍLIA/ESPÉCIE NOME VULGAR Inga spp. Ingá Piptadenia gonoacantha(Mart.) J.F.Macbr. Pau-jacaré Calophyllaceae Calophyllum brasiliense Cambess Guanandi Kielmeyera corymbosa Mart. Pau-santo Cannabaceae Celtis iguanaea (Jacq.) Sarg. Grão-de-galo Celastraceae Maytenus glazioviana Loes. ex Taub. Cafezinho Maytenus salicifolia Reissek Fruta-de-pomba Salacia elliptica (Mart.) G.Don Bacupari Clusiaceae Rheedia gardneriana Planch. & Triana Bacupari-miúdo Combretaceae Terminalia argentea Mart. Capitão-do-campo Terminalia glabrescens Mart. Mirindiba Compositae Eremanthus incanus (Less.) Less. Pau-de-candeia Vanillosmopsis erythropappa (DC.) Sch.Bip. Candeia Vernonia discolor (Spreng.) Less. Vassourão-preto Erythroxylaceae Erythroxylum cuneifolium (Mart.) O.E.Schulz Fruta-de-pomba Euphorbiaceae Actinostemon communis (Müll.Arg.) Pax Laranjeira-brava Alchornea triplinervia (Spreng.) Müll.Arg. Tanheiro Alchornea iricurana Casar. Tapiá Croton celtidifolius Baill. Capichingui Croton floribundus Spreng. Capichingui Croton urucurana Baill. Sangra-d’água Hyperacaceae Vismia brasiliensis Choisy Pau-de-laerte Lamiaceae Aegiphila sellowiana Cham. Pau-de-tamanco Vitex polygama Cham. Maria-preta Lauraceae Aniba firmula (Nees & Mart.) Mez Canela-sassafrás Continua... Tabela 4 - Continuação 146 Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso FAMÍLIA/ESPÉCIE NOME VULGAR Beilschmiedia emarginata (Meisn.) Kosterm. Canela-ameixa Endlicheria paniculata (Spreng.) J.F.Macbr. Canela-peluda Nectandra grandiflora Nees & Mart. Canela-sassafrás Nectandra mollis (Kunth) Nees Canela-amarela Ocotea spp. Canela Magnoliaceae Talauma ovata A.St.-Hil. Pinha-do-brejo Malpighiaceae Byrsonima perseifolia Griseb. Murici-da-mata Malvaceae Helicteres ovata Lam. Guaxima Guazuma ulmifolia Lam. Mutamba Luehea spp. Açoita-cavalo Melastomataceae Leandra lancifolia Cogn. Leandra pectinata Cogn. Aperta-mão Leandra scabra DC. Pixirica Miconia spp. Tibouchina candolleana Cogn. Quaresmeira Tibouchina stenocarpa (DC.) Cogn. Meliaceae Cabralea cangerana Saldanha Canjerana Cabralea polytricha A.Juss. Canjerana-do-campo Cedrela fissilis Vell. Cedro Guarea guidonia (L.) Sleumer Piorra Trichilia emarginata (Turcz.) C. DC. Catiguá Monimiaceae Mollinedia argyrogyna Perkins Negramina Mollinedia triflora (Spreng.) Tul. Capixim Moraceae Ficus mexiae Standl. Figueira Pseudolmedia laevigata Trécul Muiratinga Sorocea bonplandii (Baill.) W.C.Burger, Lanj. & de Boer Myrtaceae Calycorectes acutatus (Miq.) Toledo Amarelinho Calyptranthes brasiliensis Spreng. Guamirim Continua... Tabela 4 - Continuação 147 Capítulo 7 - Estudo de caso de Impacto Ambiental: Mineração FAMÍLIA/ESPÉCIE NOME VULGAR Calyptranthes clusiifolia O.Berg Jaborandi Eugenia spp. Gomidesia affinis (Cambess.) D.Legrand Guamirim Gomidesia eriocalyx (DC.) O.Berg Guamirim Gomidesia velutiflora Mattos & D.Legrand Guamirim Myrcia rostrata DC. Folha-miúda Myrcia velutina O.Berg Piúna Psidium sp. Nyctaginaceae Guapira noxia (Netto) Lundell João-mole-maria-mole Ochnaceae Ouratea semiserrata (Mart. & Nees) Engl. Farinha seca Opilaceae Agonandra engleri Hoehne Cerveja-de-pobre Pentaphylacaceae Ternstroemia brasiliensis Cambess. Peraceae Pera obovata (Klotzsch) Baill. Pau-de-sapateiro Phyllanthaceae Hieronyma ferruginea (Tul.) Tul. Sangue-de-boi Picramniaceae Picramnia glazioviana Engl. Pau-amargo Piperaceae Ottonia leptostachya Kunth Jaborandi Piper spp. Pothomorphe umbellata (L.) Miq. Caapeba-do-norte Poaceae Chusquea capituliflora Trin. Bambuzinho Chusquea pinifolia (Nees) Nees Bambuzinho Olyra micrantha Kunth Capim-de-sombra Merostachys neesii Rupr. Taquara-poca Polygonaceae Coccoloba warmingii Meisn. Cabuçu Primulaceae Rapanea spp. Capororoca Cybianthus brasiliensis (Mez) G.Agostini Continua... Tabela 4 - Continuação 148 Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso FAMÍLIA/ESPÉCIE NOME VULGAR Proteaceae Roupala brasiliensis Klotzsch Carne-de-vaca Roupala longipetiolata Klotzsch ex Meisn. Carne-de-vaca Putranjivaceae Drypetes sessiliflora Allemão Folha-de-serra Rubiaceae Alibertia sessilis (Vell.) K.Schum. Marmelinho-do-campo Amaioua guianensis Aubl. Marmelada Bathysa australis (A.St.-Hil.) K.Schum. Folha-larga Coccocypselum hasslerianum Chodat Cabuçu Faramea cyanea Müll.Arg. Cafezinho Faramea multiflora A.Rich. Café-do-mato Ixora gardneriana Benth. Ixora-do-mato Ladenbergia hexandra (Pohl) Klotzsch Pau-de-colher Palicourea longipedunculata Gardner Erva-de-rato Psychotria spp. Rutaceae Dictyoloma incanescens DC. Mil-folhas Esenbeckia grandiflora Mart. Mamoninha Zanthoxylum sp. Mamica-de-porca Sabiaceae Meliosma sellowii Urb. Congonha-folha-larga Salicaceae Casearia arborea (Rich.) Cascaria Casearia decandra Jacq. Pituma Casearia lasiophylla Eichler Espeto Casearia obliqua Spreng. Guaçatonga Sapindaceae Cupania racemosa (Vell.) Radlk. Camboatã Matayba elaeagnoides Radlk. Pau-crioulo Siparunaceae Siparuna apiosyce (Mart. ex Tul.) A. DC. Limoeiro-bravo Siparuna guianensis Aubl. Negramina Solanaceae Brunfelsia brasiliensis (Spreng.) L.B.Sm. & Downs Manacá Sessea regnellii Taub. Continua... Tabela 4 - Continuação 149 Capítulo 7 - Estudo de caso de Impacto Ambiental: Mineração FAMÍLIA/ESPÉCIE NOME VULGAR Solanum celsum Standl. & C.V. Morton Panancéia Styracaceae Styrax pohlii A. DC. Benjoim Symplocaceae Symplocos lanceolata A. DC. Chá-de-cabloco Thymelaeaceae Daphnopsis fasciculata (Meisn.) Nevling Imbira Urticaceae Cecropia spp. Embaúba Verbenaceae Lippia candicans Hayek Viuvinha-branca Vochysiaceae Callisthene minor Mart. Itapiúna Qualea glauca Warm. Pau-terra-branco Qualea multiflora Mart. Pau-terra Vochysia tucanorum Mart. Pau-de-tucano, Caixeta Winteraceae Drimys brasiliensis Miers Casca-de-anta Tabela 4 - Continuação 150 Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso Fauna A fauna é o conjunto de todas as espécies animais de certa região que se interrelacionam com o meio físico e biológico do ecossistema, formando as comunidades animais. A fauna silvestre desempenha um importante papel ecológico no meio natural, uma vez que é através de seus componentes consumidores, que a energia fixada pelas plantas pode ser transferida para todos os níveis da cadeia trófica promovendo, dessa forma, a existência de interações ecológicas vitais para o equilíbrio dinâmico de todo o ecossistema, tais como a polinização, a dispersão, a predação e a decomposição. A diversidade da fauna do cerrado reflete a adaptação aos diversos tipos de vegetação encontrados no bioma cerrado. Algumas espécies são restritas a determinadas formações vegetais, enquanto que outras têm distribuição mais ampla podendo habitar diversas fitocenoses. Além desta diversificação, a fauna silvestre é na maioria das vezes, constituída por organismos que possuem elevada capacidade de movimentar-se no seu meio, ocorrendo, portanto uma grande variação sazonal, sendo que a maioria dos animais é mais ativa na estação chuvosa. Em virtude destas características, o levantamento direto da diversidade de certos grupos da fauna pode tornar-se uma tarefa exaustiva, pois envolve gastos expressivos e longos períodos de tempo para sua execução. A utilização de metodologias que permitam a avaliação indireta da diversidade faunística pode auxiliar no trabalho de levantamentos da fauna e no próprio manejo da área. Tais métodos identificam o local com maior probabilidade de se encontrar elevada diversidade faunística. Para a identificação da fauna local foram utilizadas as seguintes técnicas: observação direta a olho nu e / ou com auxílio de binóculos para possível identificação; avaliação de sons típicos das espécies; verificação de restos mortais; sinais como restos alimentares, marcas deixadas no solo (rastros, deposição de fezes, corte ou sinais na vegetação por ocasião do pastoreio ou hábitos da espécie), abrigos (tocas, ninhos ou túneis); além da obtenção de informações junto aos moradores locais, por meio de questionários. No entanto, o intervalo de tempo disponívelnesse estudo não foi suficiente para um Ievantamento faunístico adequado. Por isso a literatura disponível serviu de grande auxilio para a complementação dos dados levantados. De acordo com um questionário realizado com 16 moradores da região ao redor do empreendimento, no ano de 1995, obtiveram-se várias informações a respeito da mastofauna, avifauna e herpetofauna local. Apesar de muito eficiente em determinadas situações, as informações obtidas através dos moradores locais devem ser utilizadas com cautela, principalmente nos grupos taxonômicos mais complexos, tais como os ofídios, onde os leigos normalmente podem confundir as espécies. 151 Capítulo 7 - Estudo de caso de Impacto Ambiental: Mineração Os mamíferos mais citados pelas pessoas foram: cachorro-do-mato, Iobo-guará, macaco- sauá, mico-estrela, tatu, paca e veado. As aves mais comuns de acordo com os moradores são: codorna, jacú, siriema e tucano. As cobras na região são bem frequentes, sendo que a cascavel foi a mais citada pelos moradores. O lagarto-teiú também é comumente observado nessas localidades. Alguns mamíferos foram identificados ainda através de restos mortais, tipo de abrigo e conteúdo fecal. Várias aves foram identificadas no campo por meio de observação direta, características dos ninhos e emissão de sons. Para a complementação da listagem da avifauna local usou-se o trabalho de D’Angelo Neto (1996). Enquanto que para a listagem de anfíbios e peixes usou-se essencialmente as referências bibliográficas. Para o estudo dos invertebrados, principalmente dos artrópodes e em especial a classe Insecta, não se tem conhecimento de trabalhos de listagem das espécies existentes para estas localidades, mesmo porque são de difícil qualificação e quantificação, exigindo tempo e recursos financeiros para a obtenção de dados precisos e confiáveis. Outros Phyla provavelmente existentes na área de influência e entorno são Protozoa, Porifera, Coelenterata, Nematoda, Plathelminthes, Mollusca, Annelida. Ecossistemas aquáticos Um ambiente aquático deve apresentar certas características físicas, químicas e biológicas, que Ihe conferem uma água boa não só para o consumo, como também para o desenvolvimento de plantas aquáticas e de invertebrados, como fases larvais de adultos e insetos, microcrustáceos, moluscos e peixes, o que determina o equilíbrio das cadeias alimentares nestes ambientes. De acordo com a composição físico-química e biológica de um corpo d’água é possível classificá-lo em oligotrófico, mesotrófico e eutrófico. Os ambientes oligotróficos são pobres em nutrientes, apresentando grande diversidade de algas, principalmente as algas verdes (clorofíceas). Os ambientes eutróficos são ricos em nutrientes (principalmente nitratos e fosfatos), resultantes da decomposição de material orgânico nos sedimentos o que favorece o crescimento em grande escala de algas. Já os ambientes mesotróficos apresentam características intermediárias a esses dois. Ambientes lóticos De maneira geral, esses ambientes inseridos na área de influência e entorno apresentam-se cobertos por uma mata de galeria, o que dificulta a entrada de raios solares, reduzindo a sua produtividade primária, tendo em vista a ausência de plantas aquáticas flutuantes ou submersas. A falta de luz, associada à corrente fluvial, impede o desenvolvimento do fitoplâncton (algas) e zooplâncton (microcrustáceos, rotíferos, protozoários, etc.), influenciando diretamente na diversidade de peixes. 152 Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso Entretanto, a mata de galeria apresenta outras vantagens que justificam a sua presença: evita o aquecimento excessivo da água, fornece energia ao sistema através das folhas, frutos e sementes que caem nos cursos d’água, proporcionam cobertura (sombra) protetora aos peixes, evita a erosão das margens, e dificulta que os agrotóxicos atinjam a água, dentre outras vantagens. Os insetos e restos vegetais que caem na água compõem parte da alimentação dos peixes. A ictiofauna desses ambientes é representada por uma diversidade considerável de espécies de peixes de pequeno porte (muitas das quais ainda não identificadas). Dentre os invertebrados aquáticos, os ribeirões da região de entorno, provavelmente, apresentam os insetos que normalmente habitam esses ambientes, tais como as Iarvas de Tricoptera, Ephemeroptera, Plecoptera, Díptera, Neuroptera e Coleóptera, além de adultos das ordens Hemiptera e Coleoptera. Muitas destas Iarvas, particularmente as Dípteras, são componentes essenciais na dieta dos peixes. Ambientes lênticos Os ambientes lênticos da área de influência e entorno do Morro Redondo são representados por pequenas represas e apresentam características Iimnológicas diferentes daquelas dos ambientes Ióticos. Um desses aspectos é o fato de que geralmente são ambientes abertos, que recebem muita luz e pouca influência das correntes. Assim sendo, a comunidade planctônica é muito desenvolvida, dependendo da Iuz solar e composição química da água. Essas represas encontram-se em áreas bastante alteradas, já que ao seu redor existe uma grande exploração agrícola. O fitoplâncton é, possivelmente, representado por um grande número de espécies, tais como algas azuis (Cyanophyceae) e algas verdes (Chlorophyta). O zooplâncton é provavelmente representado por microcrustáceos copépodos e cladóceros. A fauna bentônica com certeza é muito diversificada, destacando-se principalmente larvas de insetos (Díptera, Odonata e Ephemeroptera). A fauna de vertebrados é constituída por girinos de várias espécies de anfíbios e alguns peixes, tanto nativos, quanto introduzidos pelos produtores rurais da região. 7.4.3. Diagnóstico do meio sócio-econômico A história demonstra que as atividades econômicas Ievam à degradação ambiental, visto que os recursos naturais como a água, o ar e o solo, são livres de custos monetários diretos, em sua maioria, ainda sem a existência de mecanismos de controle da atividade de seus usuários, numa sociedade onde a procura pelo uso dos recursos naturais muitas vezes se faz no sentido de maximizar a posição financeira de cada um (Pinheiro, 1990). Os solos e os cursos d’água são os principais componentes afetados durante a deterioração ambiental de qualquer natureza. As consequências dos processos de degradação são refletidas 153 Capítulo 7 - Estudo de caso de Impacto Ambiental: Mineração também nos recursos naturais que possam estar ligados direta ou indiretamente aos solos e a água. O solo, base para a implementação das diversas atividades humanas (Pereira, 1995), é considerado o recurso básico de uma nação, renovável desde que usado dentro de sua capacidade. Entretanto, quando de sua má utilização, reflexos negativos como erosões e assoreamentos passam a ser fatores comuns e também passíveis de preocupação. A modernização da sociedade tem contribuído assustadoramente para o aumento do uso e degradação do ambiente, que em muitos casos superam a capacidade de regeneração dos ecossistemas e a reciclagem dos recursos renováveis, conduzindo ao depauperamento destes recursos. Uma vez degradado, a preocupação se faz presente, não somente na tentativa de recompor o ambiente, mas principalmente para restabelecer o equilíbrio e permitir a sobrevivência e reprodução das espécies no ambiente. Qualquer que seja a implantação de um empreendimento, projeto ou plano, há geração de efeitos no sistema biótico e sócio-econômico em certo período de tempo, porém, tradicionalmente, na avaliação de projetos, a análise convencional custo-benefício é a que primeiro se considera. Em se tratando de impactos ambientais e sociais, efeitos secundários e consequências, um número limitado de informações encontram-se disponíveis (Pinheiro, 1990). Embora não seja possível frear o desenvolvimento econômico, já que ele é consequência do próprio desenvolvimento social e do crescimento populacional, é possível, porém, inferir até que ponto pode-se permitiruma degradação ambiental socialmente aceitável, e que assegure um desenvolvimento sustentável para futuras gerações. Os Estudos de Impactos Ambientais tornam- se imprescindíveis no processo de licenciamento ambiental, pois visam a elencar as principais medidas mitigadoras dos impactos gerados pelos empreendimentos. A obrigação de recuperar áreas degradadas pela exploração de recursos minerais está prevista na Constituição Brasileira. O Decreto 97.632 de 10 de abril de 1989 regulamentou a Lei 6.938 prevê que novos empreendimentos no setor mineral, deverão apresentar ao órgão ambiental competente Estudo de Impacto Ambiental e respectivo Relatório de Impacto Ambiental - EIA/ RIMA, juntamente com o Plano de Recuperação da Área Degradada. A recuperação ambiental de uma área degradada pela mineração envolve diversos aspectos importantes para a obtenção do resultado final. Deve prever o controle da qualidade dos recursos hídricos superficiais e subterrâneos e da qualidade do ar. O tratamento previsto do solo deve considerar seus aspectos físicos e bióticos. O processo de revegetação dependerá da obtenção dos resultados de recuperação do solo. O controle ambiental se dá por meio da implementação de programas e ações que reduzam o impacto negativo sobre os meios físicos (água, solo e ar), biológicos (fauna e flora) e sócioeconômico, melhorando a qualidade de vida das pessoas. Um dos instrumentos previstos na 154 Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso Política Nacional de Meio Ambiente para o controle das atividades potencialmente poluidoras e/ ou utilizadoras dos recursos naturais é o Licenciamento Ambiental. Área de influência do empreendimento O município de Lavras é influenciado de maneira indireta pelas atividades realizadas na área de estudo. O município situa-se na Zona Fisiográfica SuI de Minas Gerais, a noroeste da microrregião Polarizada Alto Rio Grande, que possui 21 cidades e população de 412.629 habitantes. Esta área engloba as regiões dos Campos das Vertentes e parte do Sul de Minas, constituindo uma das regiões de maior densidade demográfica do Estado e intensa ocupação do solo com agropecuária e indústrias, além de várias usinas hidrelétricas. Confronta-se ao norte com os municípios de Ribeirão Vermelho e Perdões, à leste com Ijaci e Itumirim, à oeste com Nepomuceno e ao sul com os municípios de Ingaí e Carmo da Cachoeira. O município de Lavras goza de excelente clima, com temperatura amena mesmo durante o verão. As chuvas têm maior distribuição de janeiro a março e a estiagem ocorre entre os meses de julho e agosto. O levantamento do meio sócioeconômico no estudo de impacto ambiental abrangeu e descreveu com detalhes, à época, os seguintes itens: 1) Histórico do município de Lavras - MG 2) Estrutura fundiária 3) População 4) Recursos econômicos: a) Setor primário: • Agropecuária; • Atividade leiteira; • Suinocultura e outros rebanhos; • Avicultura; • Cafeicultura e outros produtos; • Culturas temporárias e permanentes. b) Setor secundário: • Indústria. c) Setor terciário: • Comércio; 155 Capítulo 7 - Estudo de caso de Impacto Ambiental: Mineração • Comércio varejista; • Comércio atacadista; • Serviços e transportes. d) Finanças e) Reservas minerais 5) Saúde a) Assistência médica • Hospitais; • Postos de atendimento; • Pronto socorro, serviço odontológico e clínicas; • Laboratórios. 6) Infra-estrutura a) Educação • Maternal, pré-primário, 1º e 2º grau; • Graduação e pós-graduação; • Cursos específicos. 7) Comunicação/ Informação • Telefonia: serviços de DDD e DDI; • Correios e Telegráfos: EBCT; • Telex: 20 aparelhos (1994); • Emissoras de rádio: 3 (1992); • Jornais: 4 (1992); • Televisão/retrasmissão: Três torres retransmissoras, captando oito emissoras; • Bibliotecas: a cidade possui oito bibliotecas entre federais, estaduais, municipais e particulares. 8) Vias de acesso • Rodovias e ferrovias: A cidade é servida por duas rodovias federais, além de ser entroncamento ferroviário da Ferrovia Centro Atlântica (FCA). 9) Transportes a) Rodoviário: rodovias BR-265 e BR-381; b) Ferroviário; c) Aéreo: possui um aeroporto com pista asfáltica e infra-estrutura para operar aviões de pequeno porte em linhas comerciais; 156 Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso d) Transporte Coletivo: • Transporte interurbano e interestadual – operado por 12 empresas; • Transporte urbano. 10) Energia elétrica e água: CEMIG e COPASA 11) Esgoto e coleta de lixo 12) Rede bancária 13) Correios 14) Drogarias e farmácias 15) Segurança pública: a) Polícia militar b) Polícia civil 16) Organização judiciária • Cartórios e tabelionatos 17) Logradouros públicos 18) Edificações 19) Assistência social: • Conselhos 20) Grupos sócio-culturais: • Banda de música 21) Outras estruturas de apoio: • Hotéis • Terminal rodoviário • Aeroporto • Empresas de turismo e transporte • Clubes sociais e de lazer 22) Patrimônio regional: 157 Capítulo 7 - Estudo de caso de Impacto Ambiental: Mineração a) Natural • Parque Ecológico Quedas do Rio Bonito • Serra da Bocaina Coleta de informações nas propriedades rurais Para a realização do trabalho, utilizaram-se questionários estruturados, visando obter informações para uma análise da situação social, econômica e tecnológica dos produtores mais afetados pelas atividades de exploração da cascalheira, com a realização de entrevistas aos produtores rurais (Figura 7.6) e proprietários de terras próximas à área do empreendimento. Efetuou-se também a busca de informações em fontes primárias, tais como trabalhos e relatórios elaborados pela COPASA, IBAMA e IBGE, referentes à área objeto deste estudo. Figura 7.6 - Localização de algumas propriedades rurais utilizadas para o estudo do meio antrópico. 158 Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso 7.5. Avaliação dos Impactos Ambientais 7.5.1. Impactos Ambientais No presente estudo, a ocorrência dos possíveis impactos provocados pelo empreendimento ao ambiente, e suas respectivas fases (atividades), foram simplificados da seguinte maneira: a) Fase 01- preparo para lavra b) Fase 02 - lavra c) Fase 03 - beneficiamento d) Fase 04 - desativação Meio Físico Solos - Impactos negativos a) Perda da camada superficial do solo • A retirada da camada superficial do solo que viabilizará a exploração do cascalho acarretará várias consequências, tais como: alteração das propriedades químicas e físicas do solo, perda da matéria orgânica, destruição da população microbiana do solo, da mesofauna e do banco de sementes. (Fase: 01). b) Desafeiçoamento da área • Com a exploração do cascalho no Morro ocorrerá o desafeiçoamento total ou parcial das características morfológicas e das propriedades concernentes à beleza cênica do local. Com isso, modifica-se a interação natural existente do Morro com todos os outros aspectos naturais que compõem a paisagem da bacia onde o empreendimento está inserido (Fases: 02 e 03). c) Compactação do solo • O tráfego constante de tratores e caminhões para a exploração do Morro, certamente causará a compactação no solo, que será caracterizado por um aumento da densidade do solo e uma diminuição da porosidade total, quando comparadas às camadas adjacentes (Fases: 01, 02 e 03). • A compactação do solo provocará alterações em seu interior, modificando boa parte do seu ambiente físico. O processo de compactação desenvolve a formação de crostas (encrostamento superficial), empoçamento de água, zonas endurecidas abaixo da superfície, erosão pluvial excessiva, baixo índice de emergência de plantas, sistema radicular pouco profundo e raízes mal formadas (Fases: 01, 02 e 03). 159 Capítulo 7 - Estudo de caso de Impacto Ambiental: Mineração d) Erosão do solo • A exploração do cascalho no Morro promoverá a retirada da vegetação, deixandoo solo descoberto, sujeito ao impacto direto das gotas da chuva e escoamento superficial da água sobre o solo. Dessa forma, o solo ficará extremamente suscetível aos processos erosivos e as consequências muitas vezes são de caráter devastador, com danos irreversíveis. Os impactos causados pela erosão estão associados a muitos fatores, todos eles de real importância e magnitude. A Equação Universal de Perda de Solo, que avalia a perda de solos pelos processos erosivos, determinou que a perda anual de solos na microbacia é de 0,112 toneladas de solo/ha/ano para os Latossolos, os quais são predominantes na microbacia, e cujo valor é considerado baixo. No entanto, espera-se que com a efetivação e operação do empreendimento, as perdas de solo por erosão, desde que medidas preventivas não sejam aplicadas, aumentem em relação a esse valor (Fases: 02, 03 e 04). e) Perda de nutrientes do solo • Em geral, os nutrientes estão concentrados na camada superficial do solo, que desprotegido devido a ausência de vegetação, possibilita o desencadeamento dos processos erosivos e a lixiviação de nutrientes decorrentes da ação dos impactos das gotas de chuva sobre o solo. A perda de nutrientes pelo solo interfere de maneira negativa na produção agrícola e florestal. Como muitos dos nutrientes do solo estão associados com a fração fina do solo, eles são, portanto, facilmente carreados pela erosão (Fases: 01, 02, 03 e 04). f ) Redução na capacidade de infiltração e retenção de água no solo • A desestruturação dos agregados do solo altera a porosidade, afetando a porcentagem de matéria orgânica e, consequentemente, a população de microrganismos, cujos resultados afetarão principalmente a capacidade do solo em absorver e reter água. (Fases: 01, 02 e 03). g) Formação de sulcos e voçorocas • Os sulcos e voçorocas são formas de erosão hídrica, que se intensificam em solos desnudos, principalmente aqueles que se encontram em processo intensivo de exploração (Fases: 01, 02, 03 e 04). 160 Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso h) Destruição das culturas • As culturas podem ser incompatíveis ou fortemente prejudicadas em função da ativação e operação do empreendimento. A maioria dos impactos desencadeados interfere diretamente na agricultura através dos processos erosivos que causam a destruição das lavouras e redução da produtividade. Esta realidade aumenta os custos do produtor para efetuar os ajustes e correções advindas dos impactos da exploração (Fases: 02, 03 e 04). i) Degradação do perfil do solo • A degradação do perfil do solo promove a lixiviação de nutrientes, gerando um desequilíbrio para a mesofauna, tornando os solos mais suscetíveis aos processos erosívos (Fases: 01, 02, 03 e 04). j) Degradação da qualidade de água causada pela erosão do solo • A erosão provocada em função da exploração do cascalho no Morro tende a levar as partículas do solo através do escoamento superficial ou através das voçorocas na direção da declividade para os leitos dos rios, lagos e para locais mais baixos (menor energia). Esse processo causa mudanças no regime hídrico dos rios e aumenta consideravelmente a quantidade de partículas sólidas em suspensão, deixando a água com a cor escura e com uso limitado, além de promover a redução na qualidade da água (Fases: 01, 02, 03 e 04). l) Aumento no custo do tratamento da água em função da sedimentação e assoreamento causados pela erosão • Associado ao transporte de sedimentos pode-se encontrar vários elementos ou partículas oriundas das adubações, fertilizações e controle químico de pragas e doenças. A utilização desta água pelo ser humano requer tratamento para torná- la apta para consumo. Quando isso ocorre, aumentam os custos com tratamento, com reflexos diretos para a própria população (Fases: 01, 02, 03 e 04). m) Alteração no formato dos leitos dos rios pela deposição de sedimentos do solo • A deposição de sedimentos nos leitos dos rios pode alterar o seu curso, prejudicando o fluxo normal da corrente hídrica. Em alguns casos, pode ocorrer a interrupção do fluxo d’água ou o desvio para outras calhas (Fases: 01, 02, 03 e 04). 161 Capítulo 7 - Estudo de caso de Impacto Ambiental: Mineração n) Interrupção do fluxo d’água de pequenos canais de drenagem, quando da implantação da malha viária para transporte do cascalho • A construção de estradas pode interromper os canais de drenagem, os pequenos cursos d’água e destruir mananciais. As barreiras físicas causadas pelas estradas, em certos casos, tende a provocar o represamento da água na época das chuvas, vindo a provocar sérias alterações na vida microbiana e na micro e mesofauna (Fase: 01). o) Aumento do nível de turbidez e assoreamento dos cursos d’água pela interferência direta do solo • O processo erosivo deposita partículas de solo no leito dos rios. Dependendo do tamanho d partículas, elas podem ficar em suspensão se locomovendo com a corrente d’água. Isso provoca o aumento da turbidez, afetando diretamente a vida da ictiofauna e dos animais, tanto aquáticos como terrestres, e, de maneira indireta, também a vida humana (Fases: 01, 02, 03 e 04). p) Perturbação das nascentes de rios e mananciais pela exploração do solo • Está associada a todo o processo de exploração do morro, uma vez que a construção de estradas, o trânsito de máquinas, a deposição de sedimentos, a retirada da vegetação, a extração de cascalho, a compactação do solo, o desafeiçoamento do terreno e a erosão, irão interferir diretamente na degradação das nascentes e mananciais existentes (Fases: 01, 02 e 03). q) Alterações do lençol freático causadas pela retirada do cascalho • As atividades de exploração do cascalho que ocorrerão no morro, não só trarão consequências às águas de superfície como também afetarão o lençol freático, alterando o seu nível. Este fato implica em modificações no regime natural do escoamento das águas de superfície e nas fundações estruturais implantadas no solo (Fases: 01, 02, 03 e 04). r) Degradação do banco de sementes e da regeneração natural pela erosão do solo • Dependendo da intensidade da erosão do solo e das formas como ela se apresenta, o banco de sementes do solo e a regeneração natural serão fortemente prejudicados. Isso ocorrerá próximo à área explorada, principalmente no sentido da declividade, uma vez que a área de exploração terá toda sua vegetação retirada (Fases: 01, 02 e 03). 162 Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso s) Poluição do ar causada pelas partículas do solo • A constante movimentação de máquinas carregando e transportando cascalho, e a retirada do cascalho do seu ambiente, podem provocar uma cortina de poeira no entorno da área de exploração, prejudicando e afugentando os animais e danificando a saúde dos trabalhadores nas áreas de lavra. Acredita-se que os moradores da região pouco sofrerão com a poeira originada da lavra, pois as residências localizam-se distantes do local de exploração. (Fases: 01, 02 e 03). Recursos Hídricos – Impactos negativos a) Assoreamento e sedimentação • Existe a possibilidades do aumento de deslizamentos de solo em alguns pontos do Morro Redondo, em direção às nascentes Iocalizadas na Fazenda Santo Antônio do Morro Redondo e Santa Cruz, e que podem provocar o assoreamento das calhas dos cursos d’água (Fases: 01, 02, 03 e 04). • O assoreamento dos cursos d’água em consequência da deposição de sedimentos provoca a diminuição do volume e velocidade da água (Fases: 01, 02 e 03). b) Qualidade da água • Os cursos de drenagem analisados encontram-se bastante poluídos por lixo doméstico, além de fezes e urinas de bovinos, uma vez que estes transitam nos ribeirões que se localizam nas microbacias da área afetada pelo empreendimento. Portanto, essa água não deve ter uso doméstico, servindo apenas para a Iimpeza dos currais e dessedentação animal. • Após chuvas prolongadas na microbacia,pode ocorrer um aumento da turbidez, provocada pela presença de sólidos suspensos oriundos do empreendimento através do carreamento desses até os cursos d’água (Fases: 01, 02 e 03). • A eliminação da vegetação deixa o solo susceptível a ocorrência de fenômenos erosivos, consequentemente, há o carreamento de partículas sólidas para o leito dos recursos hídricos, aumentando a sua turbidez (Fases: 01, 02, 03 e 04). c) Vazão • A construção de pequenos canais de drenagem provoca a interrupção do fluxo d’água (Fase: 01). • A ocorrência de queda natural de árvores nas nascentes, provocada pelo desbarrancamento, pode causar erosões e obstruções dos cursos d’água (Fases: 01, 02 e 03). 163 Capítulo 7 - Estudo de caso de Impacto Ambiental: Mineração d) Lençol freático • Com a retirada da vegetação nativa há o favorecimento para o escoamento da água no perfil do solo, além de causar sua compactação pela operação do desmatamento. Consequentemente a infiltração e percolação da água para o abastecimento do lençol freático ficam comprometidas (Fases: 01, 02 e 03). Meio biótico Vegetação - Impactos negativos a) Regeneração natural • A deposição de sedimentos nas encostas em alguns pontos provoca a eliminação da vegetação herbácea e das espécies arbóreas e arbustivas, além de dificultar a regeneração natural (Fases: 01, 02 e 03). • O manuseio da camada superficial do solo pode danificar mecanicamente os propágulos vegetais remanescente, bem como o banco de sementes encontrado nesse material (Fases: 01, 02 e 03). b) Proteção • Os riscos de incêndios florestais aumentam devido à presença de máquinas e de pessoas na área de influência do empreendimento, o que pode provocar a eliminação de espécies vegetais de vários estratos (Fases: 01, 02, 03 e 04). • As operações de retirada e transporte do material mineral podem causar injúrias à vegetação, com maior frequência para as árvores de maior porte, abrindo caminho para a ocorrência de doenças ou ataque de pragas (Fases: 02 e 03). • A alteração na vegetação, devido à exploração do recurso mineral, pode causar alterações na composição florística, extinção de espécies e estreitamento da base genética das populações que compõem a formação florestal (Fase: 01). Fauna Terrestre e ornitofauna a) Impactos positivos • O revolvimento das camadas superficiais do solo expõe inúmeros tipos de organismos, que servem como fonte de alimento para um grande número de vertebrados, especialmente a ornitofauna. 164 Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso b) Impactos negativos • Os distúrbios devido à instalação do empreendimento minerário e as operações relacionadas, como construção da infra-estrutura, movimentação de maquinas e veículos, e a geração de ruídos perturbam a fauna, provocam o seu deslocamento, também a mudança na composição e estrutura, bem como o afugentamento dos indivíduos. Pode haver mortalidade de animais causada pelo trânsito de veículos (Fases: 01, 02, 03 e 04). • Diminuição dos habitats naturais em consequência da utilização / desmonte da fonte de cascalho, gerando perda constante de ambientes para reprodução, abrigo, locomoção e disponibilidade de alimentos para a fauna silvestre (Fases: 01 e 02). • Queimadas nas áreas de pastagem natural e demais formações florestais, devido à presença de máquinas e pessoas na área de influência direta do empreendimento. Destruição de ninhos, abrigos, habitats e fontes de alimento para a fauna (Fases: 01, 02, 03 e 04). • A erradicação da vegetação causa uma diminuição da capacidade de suporte do meio para a fauna terrestre (Fases: 01, 02 e 03). Fauna aquática a) Impactos Negativos • A qualidade da água afeta diretamente a fauna aquática e a ictiofauna, sendo que as principais consequências da baixa qualidade da água são: redução no tamanho da população e na saúde dos peixes, ocorrendo com maior intensidade em cursos d’água com baixo volume de água (Fases: 01, 02 e 03). • O aumento da turbidez provocada pela presença de substâncias sólidas, as quais podem ser oriundas dos processos erosívos, podem interferir na qualidade e quantidade de luz que penetra o corpo líquido, causando alteração na produtividade do sistema aquático (Fases: 01, 02, 03 e 04). • O assoreamento dos cursos d’água em consequência da deposição de sedimentos pode afetar o habitat da fauna aquática e da ictiofauna (Fases: 01, 02, 03 e 04). Meio Sócio-Econômico Impactos positivos a) Arrecadação de impostos 165 Capítulo 7 - Estudo de caso de Impacto Ambiental: Mineração • A arrecadação de impostos provenientes da comercialização dos produtos retirados do empreendimento gera um impacto positivo. b) Oferta de produto • O empreendimento fornece aterro para a construção e recuperação de estradas Iocalizadas nas proximidades do município de Lavras (Fase: 03). c) Oferta de emprego • Nas fases de planejamento, de lavra e de beneficiamento haverá uma oferta de trabalho pouco considerável em função do porte do empreendimento (Fases: 01, 02 e 03). Impactos negativos a) Produção agrícola e animal • As técnicas de manejo das Iavouras quanto ao uso de produtos químicos, tem potencializado ainda mais a capacidade poluidora que prejudica a qualidade do ambiente. A criação de bovinos é caracterizada como semi-extensiva (0,75 animais/hectare), não havendo problemas importantes relacionados com o superpastoreio. Destaca-se, entretanto, a relação entre a criação de bovinos e o carreamento de esterco dos currais para os mananciais (Fases: 01, 02, 03 e 04). • De uma forma geral, a produção agropecuária apresenta certa dificuldade, no que tange à irrigação das lavouras e fornecimento de água para a dessedentação animal (Fases: 01, 02 e 03). d) Saúde • Através dos Ievantamentos realizados, foi verificado que a água consumida não é filtrada em 12% das propriedades. Entretanto, o saneamento básico merece ser destacado, tendo em vista a prática comum de Iançamento dos esgotos sanitários brutos em valas de escoamento e cursos de água, podendo torná-los impróprios para o consumo doméstico. • Não existem postos para a prestação de serviços de saúde e de educação no local. Estes serviços a cargo da administração pública são concentrados na zona urbana do municipio de Lavras. 166 Fundamentos da Avaliação de Impactos Ambientais com estudo de caso e) Desativação • Com a desativação do empreendimento haverá a paralisação da arrecadação de impostos oriundos da exploração do produto e da sua comercialização (Fase: 04). • Nesta fase ocorrerá a dispensa dos funcionários ou o seu aproveitamento em outras atividades (Fase: 04). 7.5.2. Matriz Ambiental das Interacões dos Impactos Ambientais A matriz de interação utilizada para a qualificação e quantificação dos impactos gerados ou previsíveis pelo projeto (Tabela 5), contemplou inúmeras possibilidade de impactos ambientais, dos quais 247 se revelaram efetivos. Desses impactos, 59 ou 23,9% são de caráter benéfico, 159 ou 64,4% são de caráter adverso e 29 ou 11,7% são indefinidos, ou seja, seu caráter depende de fatores ainda desconhecidos, ou aqueles cuja ocorrência não pode ser prevista com exatidão. Deve-se ressaltar que do total dos impactos identificados ou previstos, em relação ao atributo importância, 76 ou 30,8% apresentam grande importância 81,0 ou 32,8% importância moderada e 90 ou 36,4% não apresentaram grau de importância significativa. Quanto ao atributo magnitude, observa-se que 26 ou 10,5% dos impactos estudados apresentaram magnitude muito alta; 37 atributos ou 15% que apresentaram alta magnitude; 36 ou 14,6% apresentaram magnitude média; 62 atributos correspondendo a 25,1% apresentaram magnitude baixa e, finalmente 86 do total ou 34,8% dos impactos estudados apresentaram-se insignificantes. Com relação ao atributo duração, observa-se que 135 impactos ou 54,9% são de Ionga duração, 34 ou 14,2% de média duração e 62 ou 24,8% representam impactos
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