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O Conselho Tutelar como Instrumento garantidor e protetor dos Direitos das Crianças e Adolescentes.

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CAPÍTULO 3: O Conselho Tutelar como Instrumento garantidor e protetor dos
Direitos das Crianças e Adolescentes.
Neste capítulo será apresentado desde os aspectos gerais relativos à concepção do
Conselho Tutelar dentro do Estatuto da Criança e do Adolescente, bem como a sua
história e desenvolvimento no Brasil até os desafios enfrentados no dia a dia
durante o exercício de suas atividades na busca incessante pela garantia da
proteção integral de crianças e adolescentes.
3.1 Noções Gerais sobre o conselho tutelar.
De acordo com Cury, 2006:“O Conselho Tutelar tornou-se uma das primeiras
instituições da democracia representativa, ou seja, um órgão garantista da
exigibilidade dos direitos assegurados nas normas internacionais, na Constituição e
nas leis voltadas à população infanto-juvenil.”
Como mencionado anteriormente, antes do Estatuto da Criança e do Adolescente
não se falava em garantias dos direitos fundamentais da criança e do adolescente,
sendo estes, totalmente negligenciados pelos legisladores, o que se tinha era o
Código de Menores, que atendia tão somente a criança em situação irregular.
Todavia, com a promulgação da Constituição Federal de 1988, e com a adoção da
teoria da proteção integral, foram reconhecidos tais direitos, acarretando a inclusão
de princípios fundamentais voltados à democracia, e a elaboração de políticas
públicas para garanti-los.
Desse modo, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) , Lei nº 8.069/90,
como instrumento e órgão público cujo objetivo é garantir o cumprimento dos
direitos das crianças e adolescentes, instituiu órgãos como o conselho tutelar para a
efetivação e fiscalização desses direitos, que em face da sua função zeladora, faz
parte do sistema integral de proteção.
Para que possamos compreender esse fundamental órgão, bem como a sua
atuação , faz-se necessário o entendimento dos direitos humanos em face da
proteção integral destinados a esses jovens, sendo o Conselho Tutelar um
instrumento para sua garantia. Nesse sentido a Constituição Federal de 1988,
dispõe:
“Art. 127º É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança,
ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à
saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão. (Redação dada Pela Emenda
Constitucional nº 65, de 2010)”
Sendo assim, entende-se que o papel do Conselho Tutelar é, como já mencionado,
garantir, acompanhar e promover o acesso aos direitos básicos às crianças e
adolescentes, em observância à doutrina de proteção integral, em conjunto com às
famílias e à sociedade, uma vez que a responsabilidade e o dever é de todos.
Todavia, a atuação do conselho tutelar sempre será cabível nas hipóteses
elencadas pelo Artigo 98º do ECA, o qual dispõe:
“As medidas de proteção à criança e ao adolescente são aplicáveis sempre
que os direitos reconhecidos nesta Lei, forem ameaçados ou violados:
I – por ação ou omissão da sociedade ou do Estado;
II – por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável;
III – em razão de sua conduta.”
Ou seja, este órgão dispõe de ferramentas e instrumentos os quais em observância
ao Estatuto da Criança e do Adolescente, poderão ser aplicadas, ou cumpridas por
recomendações de outros órgãos, nos casos em que houver ameaça ou violação de
direitos desses jovens, mediante as medidas de proteção que estão previstas no
referido estatuto.
Destaque-se que a sua atuação poderá ser de ofício, aplicando as medidas
protetivas de imediato, tornando eficaz o Sistema de Garantias, fazendo cumprir
direitos e deveres elencadas no ECA, como veremos adiante, de modo a facilitar o
seu trabalho, dispensando a consulta prévia ao judiciário nas decisões em caráter
emergencial, pois estaria na linha de frente, uma vez que é o órgão que se encontra
em primeiro contato com a criança.
3.2 Conceito e Características do Conselho Tutelar
A Constituição Federal de 1988, traz em seu artigo 227 o conceito de Conselho
Tutelar, definindo-o como: “órgão permanente e autônomo, não jurisdicional,
encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos das crianças e
dos adolescentes em seu artigo 131 da Lei Federal 8069/90.”
Nesse sentido, entende-se que o Conselho Tutelar exerce uma política de
atendimento de cunho assistencialista voltada à criança e ao adolescente, para fins
específicos, uma vez que sua função é equiparada a de um servidor público,
contudo não é vinculado ao regime estatutário ou celetista. A carta magna ainda
dispõe que as leis municipais estabelecerão os direitos sociais dos conselheiros,
como férias, licenças – maternidade e paternidade, entre outros direitos que lhes
são assegurados.
De acordo com Roberto João Elias, 1994: “o Conselho Tutelar,é por excelência, o
órgão que vai representar a sociedade, uma vez que seus membros são por ela
escolhidos para atribuições relevantes perante todos os membros da sociedade,
mas principalmente para as crianças e adolescentes.”
Possuindo status de autoridade administrativa, ressalte-se que as suas ações são
de caráter administrativo, não havendo a necessidade de passar por autoridade
judiciária para que alcance resultados imediatos e satisfatórios. Dessarte, apesar de
sua independência jurisdicional, o Conselho Tutelar não trabalha de maneira
isolada, uma vez que para que viabilize a sua atuação, mantém relações com o
Município. Outrossim, o Município, como representante do Estado, torna-se
responsável pelo fornecimento de instrumentos e suporte para execução das
atividades desenvolvidas pelo Conselho Tutelar.
Roberto João Elias, em Comentários ao estatuto da Criança e do Adolescente,
1994, sobre a temática relata que:
“Pelo fato de não estar sujeito à autoridade judiciária, por não ser
jurisdicional, devendo, contudo, atacar suas decisões. Na verdade, deve
atuar com independência, mas em harmonia com o Juiz da Infância e da
Juventude e com o Ministério Público, visando sempre manter bom
relacionamento entre as partes envolvidas na defesa dos direitos da criança
e adolescente.”
Nesse contexto de independência jurisdicional, observe-se que este órgão possui
vantagens, no que tange a sua atuação de ofício em situações que merecem sua
atenção e ação imediata. Todavia, as obrigações impostas pelo ECA, são de cunho
emergencial, podendo ocorrer inclusive, casos em que o conselheiro tenha que
atuar fora do expediente convencional. Nesse sentido, afirma Liberati, 1995:
“Entretanto, o Conselho Tutelar, mesmo não sendo revestido de poder
jurisdicional, ele poderá encaminhar ao Ministério Público, notícia de fato que
constitua infração administrativa ou penal contra as crianças ou
adolescentes e terá como função fiscalizar as entidades de atendimento.
Caso seja necessário diante dos fatos analisados nestes locais de
atendimentos, o Conselho Tutelar poderá iniciar procedimentos judiciais
visando apurar irregularidades nestas determinadas entidades, visando dar a
devida valoração aos direitos da criança e do adolescente.”
Sendo assim, trata-se de uma característica importante ao se tratar de garantia e
efetividade dos direitos da criança e adolescente, diante do cenário jurídico atual, o
qual se encontra transbordando de litígios, o que acarretaria em morosidade para
aplicação de tais direitos e consequentemente, na atuação do conselho.
Outra característica fundamental, é o fato do Conselho Tutelar ser um órgão
colegiado na medida em que aplica requisições e deliberações advindas do ECA.
Ou seja, a iniciativa na tomada de decisões não cabe apenas a um conselheiro
isolado, mas caberá a todo um colegiado, havendo a observância das decisões
finais tomadas por todos os conselheiros que o compõem. Outrossim, os outros
órgãos não poderão interferir nestas decisões colegiadas, e para tanto só poderão
ser revistasjudicialmente ou, a requisição de quem possua legítimo interesse.
Destaca-se que esta autonomia funcional do Conselho Tutelar não o isenta de atuar
de acordo com a legislação vigente, bem como das diretrizes estabelecidas pela
Política Municipal de Atendimento à Criança e Adolescente. Neste contexto, os
membros do Conselho Tutelar não são dispensados de responderem por suas
obrigações funcionais e administrativas, em outras palavras, sua autonomia não o
exclui de fiscalização pelos demais órgãos do Sistema de Garantias instaurados
pelo ECA.
O conselho tutelar é considerado um órgão democrático, uma vez que mantendo
uma ligação direta com a sociedade, os conselheiros, por serem representantes da
sociedade, são escolhidos mediante um processo democrático através de votos dos
munícipes, havendo inclusive divulgação nas mídias sociais. O número de
Conselhos Tutelares se dará conforme a necessidade de cada Município, cabendo
ao Poder Executivo local por meio de uma lei, estabelecer requisitos mínimos para
os candidatos.
3.3 Atribuições e Competências do Conselho Tutelar
A Lei 8069/90 dispõe em seu capítulo II, das atribuições do Conselho Tutelar,
relacionando a sua finalidade como órgão protetor dos direitos das crianças e dos
adolescentes. Sendo assim, no artigo 136 da mesma lei estabelece:
Art. 136. São atribuições do Conselho Tutelar:
I - atender as crianças e adolescentes nas hipóteses previstas nos arts. 98 e
105, aplicando as medidas previstas no art. 101, I a VII;
II - atender e aconselhar os pais ou responsável, aplicando as medidas
previstas no art. 129, I a VII;
III - promover a execução de suas decisões, podendo para tanto:
a) requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, educação, serviço social,
previdência, trabalho e segurança;
b) representar junto à autoridade judiciária nos casos de descumprimento
injustificado de suas deliberações.
IV - encaminhar ao Ministério Público notícia de fato que constitua infração
administrativa ou penal contra os direitos da criança ou adolescente;
V - encaminhar à autoridade judiciária os casos de sua competência;
VI - providenciar a medida estabelecida pela autoridade judiciária, dentre as
previstas no art. 101, de I a VI, para o adolescente autor de ato infracional;
VII - expedir notificações;
VIII - requisitar certidões de nascimento e de óbito de criança ou adolescente
quando necessário;
IX - assessorar o Poder Executivo local na elaboração da proposta
orçamentária para planos e programas de atendimento dos direitos da
criança e do adolescente;
X - representar, em nome da pessoa e da família, contra a violação dos
direitos previstos no art. 220, § 3º, inciso II, da Constituição Federal ;
XI - representar ao Ministério Público para efeito das ações de perda ou
suspensão do poder familirar, após esgotadas as possibilidades de
manutenção da criança ou do adolescente junto à família natural. (Redação
dada pela Lei nº 12.010, de 2009)
XII - promover e incentivar, na comunidade e nos grupos profissionais, ações
de divulgação e treinamento para o reconhecimento de sintomas de
maus-tratos em crianças e adolescentes. (Incluído pela Lei nº 13.046, de
2014)
Ou seja, o referido artigo estabelece no rol dos seus incisos atribuições as quais
podemos destacar escutar, orientar, aconselhar e dar encaminhamentos. Dispõe
também acerca dos conselheiros e seus assessores, que uma vez procurados irão
recepcionar as denúncias e reclamações aplicando em cada caso o segmento
correto da demanda proposta, pois neste momento serão de grande importância o
estudo, bem como o preparo e o conhecimento necessário para que o Conselho
Tutelar tome decisões corretas de acordo com o caso.
Ressalte-se que a responsabilidade sobre a problemática enfrentada quando
tratamos deste assunto é inicialmente atribuída aos pais e responsáveis, por buscar
em seu meio essa ajuda, contudo esgotando todas as vias internas para resolução
do problema, estes possuem como obrigação, garantir os direitos que lhe foram
delegados, não ferindo o direito alheio.
Nas hipóteses de descaso com a criança e adolescente, o Conselho Tutelar
intervirá, de modo a imputar as responsabilidades para quem as detenha, que
quando ignoradas, configura irresponsabilidade e será aplicada algumas das
medidas tomadas pelo referido órgão, dispostas no artigo 136, inciso III, alíneas “a”
e “b”, e incisos: IV, V, VI, VII, VIII, IX, X, XI, bem como o parágrafo único do Estatuto
da Criança e do Adolescente conforme disposto anteriormente.
O atendimento de que se trata o inciso I, do artigo supracitado, refere-se a situações
de risco, assim como, a prática de ato infracional por criança, com exceção da
colocação em família substituta, uma vez que é de competência exclusiva da
autoridade judiciária. Sobre o relevante tema, destaca-se o entendimento do
Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul :
“APELAÇÃO CÍVEL. ECA. MEDIDA DE PROTEÇÃO. POSSIBILIDADE DE
APLICAÇÃO PELO CONSELHO TUTELAR E/OU PELO MINISTÉRIO
PÚBLICO. As atribuições do Conselho Tutelar não excluem a apreciação
da situação irregular dos menores do Judiciário nem mesmo tira a
legitimidade do Ministério Público para interpor a presente ação. APELO
PROVIDO. SENTENÇA DESCONSTITUÍDA. (Apelação Cível Nº
70035051846, Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Claudir Fidelis Faccenda, Julgado em 08/04/2010)”
Ou seja, o Conselho Tutelar possui a função de atender crianças e adolescentes
que encontram-se em situação de risco pessoal e social, na qual seus direitos estão
sendo ameaçados ou violados, seja por ação ou omissão da sociedade ou do
Estado.
No que tange ao inciso II, entende-se que em sua maioria, os problemas que
envolvem as crianças e adolescentes decorrem dos atritos e dificuldades com os
pais, nesse sentido, caberá ao Conselho Tutelar ajudar e orientá-los no que for
necessário para restabelecer a harmonia e a paz. Com relação a temática, aborda
Munir Cury:
“A atribuição do Conselho Tutelar é de realizar um trabalho educativo de
atendimento, ajuda e aconselhamento aos pais ou responsável, a fim de
superarem as dificuldades materiais, morais e psicológicas em que eles se
encontram, de forma a propiciar um ambiente saudável para as crianças e
adolescentes que devem permanecer com eles.”
Outrossim, no que tange às suas atribuições, poderá o Conselho Tutelar, aplicar em
relação aos pais ou responsável medidas de assistência, como por exemplo:
inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio e orientação a alcoólatras e
toxicômanos; encaminhamento e tratamento psicológico ou psiquiátrico, além de
encaminhamento a cursos e programas de orientação, entre outros.
No que tange ao inciso IV , do mesmo artigo, Roberto João Elias argumenta:
“A atribuição do inc. IV pode ser feita por qualquer um, tem um caráter de
obrigatoriedade e não pode deixar de ser cumprida, sob pena de
responsabilidade do próprio Conselho. Se é verdade que este não pode ser
impedido de cumprir suas funções, é também verdade que não pode
permanecer numa atitude passiva; é obrigado a tomar providências”
Entende-se que o encaminhamento ao Ministério Público de notícia que constitua
infração penal e administrativa contra os direitos da criança e do adolescente é de
caráter obrigatório, não podendo o Conselho Tutelar ficar inerte.
Já o inciso V, trata dos encaminhamentos pelo Conselho Tutelar de casos, de
competência da autoridade judiciária, como por exemplo: questões litigiosas,
contraditórias e contenciosas, bem como o pedido de guarda, tutela, adoção, dentre
outros, que deverão ser encaminhados à autoridade judiciária, cuja atribuição será
buscar a melhor solução possível.
O inciso VI, refere-se à possibilidade de aplicação de medidas específicas de
proteção do Conselho Tutelar, o qual deverá assegurar o cumprimento da medida
determinada pela autoridade judiciária aos adolescentes que cometerem ato
infracional, crime ou contravenção. Contudo, este órgão não possui competência
para a aplicação de medidas socioeducativaspara maiores de 12 anos.
No que tange a expedição de notificações, Roberto João Elias afirma:
“A expedição de notificações, ao que nos parece, deve ser não só com
relação aos pais e responsáveis, para que apresentem seus filhos ou
tutelados, para serem ouvidos, mas, também, em certos casos, às entidades
que atendem menores, na cobrança de alguma providência com respeito a
menores, por força de medidas que foram aplicadas. Percebe-se,
claramente, que o legislador quis darão Conselho forças para que realmente
possa atuar em prol da criança e do adolescente. Cabe aos seus membros,
com sabedoria, utilizar aquilo que lhes confere o Estatuto, sempre em
proveito único do menor, sujeito prevalecente de direitos.”
Entende-se que o Estatuto confere algumas prerrogativas ao Conselho Tutelar que
poderão se estender no que se refere a quem receberá a medida, visando atender
melhor os interesses das crianças e adolescentes.
Quanto ao inciso VIII, o Conselho Tutelar poderá requisitar, às certidões
necessárias, sempre que for facilitar o desempenho de suas funções na defesa dos
interesses da criança e do adolescente, assim como fazer valer o direito
fundamental do indivíduo. Essas requisições, devem ser feitas diretamente aos
Cartórios de Registro Civil da localidade de atuação, que não poderão negar o
atendimento de imediato, sob pena de responsabilidade.
No que tange ao assessoramento de que se trata o inciso IX, o Conselho Tutelar
deve prestar assessoria de modo a participar da administração do Município,
orientando o Poder Executivo local, com a finalidade de destinação de um
percentual de recursos estabelecidos na proposta orçamentária, para o
cumprimento de planos e programas, a nível Municipal, visando o atendimento de
qualidade aos direitos da criança e dos adolescentes.
Sobre o preceito constitucional, do inciso X, entende-se que o estabelecimento de
meios legais que possam de fato “garantir à pessoa e à família a possibilidade de se
defenderem de programas e programações de emissoras de rádio e televisão que
venha a contrariar o disposto no artigo 221, bem como da propaganda de produtos,
práticas e serviços que possam ser nocivos à saúde e ao meio ambiente.” (Brasil
1988). Nesse sentido, afirma Munir Cury:
“Que o inciso X dedica-se à função de peticionar ao Ministério Público, em
nome da pessoa e da família, para que aquele órgão tome providências
legais contra a violação dos direitos da criança e do adolescente praticada
em programas veiculados pelos meios de comunicação”.
No inciso XI, o Estatuto confere ao Conselho uma atribuição com conotação de
obrigação: a de representar ao Ministério Público, para efeito de ações de perda ou
suspensão do poder familiar. Destaca-se que todas as medidas escolhidas pelo
Conselho Tutelar fundamentada no artigo 136, não são um rol taxativo, desse modo,
pode-se surgir outras soluções desde que estejam sempre alinhadas com o melhor
interesse da criança e do adolescente.
Outrossim, suas atribuições não são finalizadas aqui, pois cabe-lhe, ainda, a
fiscalização das entidades governamentais responsáveis pelo atendimento à criança
e ao adolescente, como por exemplo: as entidades de abrigo e internatos, bem
como estabelecimentos judiciais, delegacias especializadas e generalizadas, entre
outras.
A interpretação que é feita na leitura dos artigos supra citados, demonstra a
importância deste órgão como o ponto fundamental para trazer a harmonia entre os
pais e responsáveis, com crianças e adolescente, sempre priorizando a assistência
necessária solucionando os problemas apresentados.
A competência do Conselho Tutelar é definida de acordo com o artigo 147 do ECA,
sendo assim, a competência será determinada pelo domicílio dos pais ou
responsável; ou pelo lugar onde se encontre a criança ou adolescente, à falta dos
pais ou responsável, nos termos do referido artigo.
Edson Sêda com relação à competência local, afirma que:
“se dá essa competência quando ocorre a falta dos pais ou responsáveis, ou
seja, não havendo pais ou responsáveis, ou não sendo possível
identificá-los, é competente para receber queixa, reclamação ou denúncia, o
Conselho Tutelar do local onde se encontre a criança ou o adolescente. O
Conselho Tutelar deverá assumir a proteção do caso onde os lesados se
encontrem, evitando toda e qualquer delonga burocratizante, visando não
retardar a proteção devida, por questões formais de onde residam ou se
encontrem pais ou responsáveis, sendo assim, ser o Conselho Tutelar
efetivo na proteção tendo como prioridade absoluta o artigo 227 da
Constituição Federal e artigos 4º e 6º do Estatuto.”
Nas situações da prática de ato infracional o § 1º do artigo 147, dispõe que será
competente a autoridade do lugar da ação ou omissão, não podendo deixar de
avaliar as regras de conexão, continência e prevenção. Nesse sentido, entende-se
que deve haver o estudo e análise do tempo em que foi cometido o ato infracional,
ainda que outro seja o momento do resultado, nesse contexto, ainda que haja
mudanças na figura dos interessados não haverá deslocamento de competência, ou
seja, o mesmo o juízo competente para tal ato que deu início ao procedimento, este
será o responsável pelo julgamento final.
Nas situações de infração cometida através de transmissão simultânea de rádio ou
televisão, que atinja mais de uma comarca, será competente, para aplicação da
penalidade, a autoridade judiciária do local da sede estadual da emissora ou rede,
tendo a sentença eficácia para todas as transmissoras ou retransmissoras do
respectivo estado, de acordo com o §3º do referido artigo, considerando tais
infrações como administrativas, tornando competente a autoridade judiciária do local
onde se situa a sede estadual da emissora.
3.4 Requisitos e Impedimentos para escolha dos Conselheiros
Acerca dos requisitos para o cargo de Conselheiro Tutelar, o CONANDA ( Conselho
Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente), considera que é
constitucionalmente possível que a lei municipal disponha de outros requisitos além
daquelas estabelecidas no Estatuto da Criança e Adolescente, porém a
recomendação é que o Município esteja sempre em observância e direcionado ao
princípio da defesa do melhor interesse da criança e do adolescente, onde fatores
como escolaridade e experiência com o ordenamento jurídico podem ser
secundários diante do desafio que é ser Conselheiro Tutelar. Antônio Chaves
argumenta sobre o conceito de atuação do CONANDA:
“O CONANDA é integrado por representantes do Poder Executivo,
assegurada a participação dos órgãos executores das políticas sociais
básicas na área de ação social, justiça, educação, saúde, economia,
trabalho e previdência social e, em igual número, por representantes de
entidades não-governamentais de âmbito nacional de atendimento dos
direitos da criança e do adolescente”.
Nesse sentido, destaca-se a importância do candidato possuir o domínio e
experiência na área, sendo indispensáveis para o exercício eficaz da função. No
que diz respeito ao estabelecimento de novas exigências pela lei municipal, deverão
ser evitadas condições que denotem a elitização do Conselho Tutelar. Com
fundamento no princípio da participação da comunidade na concretização dos
direitos sociais, ressalta-se que o Conselho Tutelar não precisa ser composto por
técnicos, uma vez que a Lei nº 8.069/90 dispõe sobre a participação do cidadão
comum na solução da problemática relativa à criança e ao adolescente no
Município.
O Estatuto da Criança e do Adolescente estabelece em seu artigo 133, os requisitos
para a candidatura ao cargo de conselheiro tutelar, sendo estes: reconhecida
idoneidade moral, idade superior a vinte e um anos, e residir no município. Sobre
estes requisitos, o autor Wilson Donizeti Liberati, afirma que:
"Os requisitos estabelecidos nos incisos desse artigo atendem
peculiaridades para que se possa ter efetividade na sua atuação, ora é
evidente que, para exercer o cargo de conselheiro, o profissional deveráter,
antes de tudo, condições morais que o credenciaram para o trabalho social.
A idade vem a ser colocada como requisito mínimo, para forçar que esse tipo
de trabalho deva ser desenvolvido, por pessoas experientes no trato dos
problemas humanos e familiares, principalmente aqueles em que estão
envolvidos crianças e adolescentes, e no tocante à questão de residir no
município é evidente a colocação meridiana, podendo apreciar o problema
vivido pela comunidade.”
Ressalta-se que o município deve se envolver no tocante a disposição de
programas oficiais ou comunitários de atendimento em rede de prevenção e
proteção, com profissionais habilitados, para que as crianças e adolescentes
possam ser encaminhadas, bem como suas famílias, tal qual previsto nos artigos:
90, 101 e 129, do ECA.
Desse modo, o Conselho Municipal deverá investir na capacitação dos candidatos,
para o exercício do papel e atribuições do Conselho Tutelar, proporcionando
estudos sistemáticos da nova lei, assim como do novo ordenamento jurídico. É de
fundamental importância que o Conselho Tutelar tenha, à sua disposição, serviços
públicos que possam realizar as avaliações técnicas necessárias.
Quanto aos impedimentos, o artigo 140º do ECA, prevê que “São impedidos de
servir no mesmo Conselho marido e mulher, ascendentes e descendentes, sogro e
genro ou nora, irmãos, cunhados, durante o cunhadio, tio e sobrinho, padrasto ou
madrasta e enteado.” (BRASIL, 1990)
Esses impedimentos para candidatura a membro do conselho, se estendem em
relação à autoridade judiciária e ao representante do Ministério Público que atuem
na Justiça da Infância e da Juventude, em exercício na comarca, foro regional ou
distrital.
Nas hipóteses em que o pretendente às funções de Conselheiro Tutelar for
funcionário público, o mesmo deverá solicitar seu afastamento temporário no
período de três meses que antecedem a eleição, atendendo as condições de
elegibilidade disciplinadas pela Lei Complementar nº 64/90, em consonância com o
artigo 140 do ECA.
3.5 Processo de escolha dos conselheiros Tutelares
De acordo com o artigo 139, do ECA, "o processo para a escolha dos membros do
Conselho Tutelar será estabelecido em lei municipal e realizado sob a
responsabilidade do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente,
e a fiscalização do Ministério Público.” (BRASIL, 1999)
Nesse sentido, o município através do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e
do Adolescente, tem o dever de regulamentar e conduzir o processo de escolha do
Conselheiro Tutelar que deverá ser escolhido mediante voto direto, secreto e
facultativo de todos os cidadãos do Município, ressalte-se que este conselho
também ficará encarregado de dar-lhe a mais ampla publicidade, sendo fiscalizado,
desde sua deflagração, pelo Ministério Público. De acordo com Maria Elizabeth de
Faria Ramos:
"A presença da comunidade no encaminhamento das questões pertinentes é
algo concreto e novo, vez que, por onde os fatos ocorrem, aí existirá sempre
um grupo de pessoas escolhidas pela própria comunidade, entre aqueles
que acumulam um saber científico ou empírico, para dar solução ao
problema surgido. O fato dos conselheiros serem escolhidos pela
comunidade local, e não indicados através de política ou
administrativamente, os torna mais legítimos no desempenho de suas
funções, tendo sua participação como caráter decisório nas demandas
propostas.”
Destaca-se que esse processo de escolha dos conselheiros enfatiza o envolvimento
direto da comunidade local sempre buscando soluções de problemas existentes
com relação à realidade fática dos tutelados pelo Estatuto, dando sentido e eficácia
aos princípios constitucionais e estatutários referentes à área da infância e
juventude, sendo assim, reputa-se imprescindível que a lei municipal assegure a
participação da população local no processo de escolha dos Conselheiros Tutelares,
como única forma de conferir legitimidade aos seus mandatos.
De acordo com o §1º do artigo supracitado, o processo de escolha dos membros do
Conselho Tutelar ocorrerá em data unificada em todo o território nacional a cada
quatro anos, no primeiro domingo do mês de outubro do ano subsequente ao da
eleição presidencial. O §3º veda expressamente durante o processo de escolha dos
membros do Conselho Tutelar, o candidato doar, oferecer, prometer ou entregar ao
eleitor bem ou vantagem pessoal de qualquer natureza, inclusive brindes de
pequeno valor.
Uma vez que foi feita a escolha, devem ser classificados os eleitos, sendo os cinco
mais votados como Conselheiros titulares e os suplentes, em ordem decrescente de
votação. Na hipótese de insuficiência de suplentes para ocupação das vagas, o
Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente providenciará a
realização de um novo processo de escolha para que seja alcançado o número
mínimo de cinco suplentes.
Nesse contexto, o mandato do Conselheiro Tutelar é de três anos, sendo permitida
uma recondução, sendo vedadas medidas de qualquer natureza que abrevie ou
prorrogue esse período, nos termos do Estatuto da Criança e do Adolescente.
3.6 A importância do Conselho Tutelar na proteção dos direitos das Crianças e
dos Adolescentes
Como mencionado anteriormente, o Conselho tutelar, é um órgão público municipal,
permanente, autônomo e não jurisdicional, integrante do Sistema de Garantia dos
Direitos da Criança e do Adolescente (SGD), que tem por principal função a
representação da sociedade no que tange a proteção e garantia dos direitos de
crianças e adolescentes, contra qualquer ação ou omissão do Estado ou dos
responsáveis legais, que resulte na violação ou ameaça de violação dos direitos
estabelecidos pelo ECA.
De acordo com as suas atribuições definidas pelo referido estatuto, o Conselho
Tutelar zela pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente, fiscalizando
e tomando providências nas hipóteses de ameaça ou violação de tais direitos,
também é responsável por receber denúncias e aguardar seu encaminhamento.
Pode-se dizer que a implementação de Conselhos Tutelares em todos os municípios
brasileiros é fundamental para a efetivação das diretrizes de proteção aos direitos
de crianças e de adolescentes determinadas pelo ECA, contribuindo para a
concretização destas.
Pode-se reforçar a importância da existência e legitimidade, bem como a
intervenção do Conselho Tutelar ao fazer jus, ao que prevê o artigo 135 do Estatuto
da Criança e do Adolescente – ECA, o qual dispõe : “O exercício efetivo da função
de conselheiro constituirá serviço público relevante e estabelecerá presunção de
idoneidade moral”. Sendo assim, as crianças e adolescentes têm a sua disposição
verdadeiros defensores idôneos de sua integridade biopsicossocial, os quais atuam
de maneira interligada com o Sistema de Garantia Infantojuvenil e em observância
com as previsões legais.
O papel desses membros, promove nas crianças e adolescentes um certo conforto,
por saberem de que terão a quem recorrer quando estiverem diante de situações
difíceis , nas quais os seus direitos e interesses estão sendo violados ou em
processo de fragilização. Nesse contexto, o conselho mostra-se como uma
alternativa de fortalecimento da cidadania plena, dada a sua composição e processo
de escolhas de seus membros, uma vez que propicia a existência de uma
sociedade vigilante e propensa a reforçar a cultura de proteção integral de crianças
e jovens de todo o Brasil.
Desse modo, destaca-se que este órgão tem papel fundamental na execução da
política de atendimento à criança e ao adolescente. Todavia, é necessário que o
Conselho Tutelar esteja devidamente qualificado para a realização de suas
atribuições vistas anteriormente, por pessoas idôneas e preparadas, uma vez que
as medidas a serem aplicadas resultarão de decisão colegiada do Conselho,
constituindo assim, um importante instrumento para a formação de uma sociedade
de direito, não isentando os cidadãos, de agirem com a mesma perspectiva, qual
seja,de promover e respeitar os direitos infantojuvenis.
Ressalte-se que para a construção de um futuro melhor para o nosso País, é
imperioso promover e assegurar qualidade de vida e proteção para as crianças e
jovens.

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