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A primeira parte deste segundo volume além de tratar das peculiaridades de Hitler, detalha a ascensão e queda de seu império explica como a indústria bélica nazista "salvou" o país da crise econômica, com a diminuição da taxa de desemprego a quase zero e conseqüente estabilização da renda da população. Também apresenta o que foram de fato a Gestapo (polícia secreta) a AS(tropa do assalto) e a SS (guarda pessoal de Hitler) com toda a influência da ideologia de Himmler. Os ataques das tropas nazistas são expostos bem como as causas de seus sucessos e fracassos tal qual sua derrota na Rússia; revelando a verdadeira situação germânica durante a guerra assim como os fatores que levaram às diversas tentativas de assassinato do Führer dentre elas a famosa Operação Valquíria e que conduziram à derrocada de seu império resultando no cerco e suicídio de Hitler e de vários de seus seguidores sendo um dos mais chocantes o caso da família Goebbels em que o casal e seus filhos com idade entre 4 e 12 anos realizaram suicídio coletivo. A segunda parte aborda as crenças por trás do pensamento nazista os mitos e lendas que povoavam o imaginário do povo ariano. Em um abrangente estudo sobre o Misticismo Nazista explica idéias como a suposta pureza da raça ariana a suástica seu significado e como se transformou em um dos mais fortes símbolos desta poderosa ideologia além de outras ligações como de generais com ordens de cavalaria e expedições nazistas ao Tibete. Para esclarecer os motivos que inflamaram toda uma nação e motivaram uma guerra de tamanha dimensão como a Segunda Guerra Mundial foi lançada a coleção Hitler e os segredos do nazismo. Em linguagem simples e aprofundada com total embasamento histórico esotérico e místico ela levará você leitor a entender um dos períodos mais lamentáveis da história da humanidade. gora que havia chegado ao poder, o nazismo começou realmente a mostrar para que .veio. Hitler logo se dedicou ao rearmamento do país, principal causa da queda do enorme desemprego, que assombrava os alemães, a ponto de o ano de 1936 ter a taxa de desemprego quase a zero. Com a crescente produção, a renda da população aumentou e logo a crise econômica, que havia se instalado, estava inalmente sob controle. Junta-se a isso a também crescente construção de rodovias e ferrovias, que incentivou a indústria automobilística de forma a fazer surgir um carro popular, o hoje mais que famoso Volkswagen, mas isto era apenas uma distração para que os países estrangeiros não percebessem que o principal intento era mesmo construir veículos de guerra. Na política externa, Hitler fez de tudo para derrubar os termos do Tratado de Versailles e possibilitar o rearmamento em vias o iciais. Não demorou muito e a Alemanha saía da Liga das Nações (ou Sociedade das Nações), uma organização criada quando do término da 1 Guerra Mundial, que tinha como missão evitar a violência nas relações entre países. Com relação ao país que governava, o Führer reimplantou o serviço militar obrigatório, o que fez com que os países vizinhos começassem a ver a Alemanha com descon iança. Assim, no ano seguinte, as anexações de territórios começaram, iniciando com a Renânia, onde a presença de forças armadas estava proibida. A famosa aliança com a Itália de Mussolini aconteceu no inal de 1936, logo após o regime do ditador daquela Península ocupar com suas tropas a Etiópia. Da mesma forma, preocupada com a nova aliança, a França aproximou-se da então União Soviética, da Polônia e da Tchecoslováquia, em busca de aliados para um possível con lito. A Inglaterra escolheu permanecer neutra até que Hitler se mostrou mantenedor de uma política de acomodação considerada desastrosa nos anos seguintes. Em 1938, o sonho da união dos povos germânicos começou a tomar forma. A Áustria tornou-se parte da Alemanha sem qualquer demonstração de resis tência, o que gerou alguns protestos de outros países, mas nada muito o icial, somente algumas manifestações verbais. O clima tenso que havia naqueles dias mostrava que, apesar de tudo, muitos não queriam que a 1 Guerra Mundial se repetisse, o que causaria uma crise sem precedentes na Europa. Porém, as supostas minorias alemãs presentes na Tchecoslováquia deram motivo para que fossem a próxima vítima de Hitler, que exigiu a ocupação em troca de paz. O então Primeiro-Ministro britânico, Neville Chamberlain, teria ouvido de Hitler que aquela seria a última reivindicação que ele faria no continente. Como todos sabemos, foi uma mentira deslavada, mas ainda havia certa crença nas supostas boas intenções do Führer, e assim os países assistiram à ocupação da Tchecoslováquia, que duraria até março de 1939. No entanto, havia muito mais na cabeça do ditador da Alemanha do que este aparentava. Assim, lentamente ele se voltou para a Polônia e outros territórios do leste europeu. Isso porque Hitler considerava, como já sabemos, os esvalos "tão inferiores quanto os judeus". Ele procurava, antes de dar o primeiro passo, uma maneira de fazer uma anexação sem entrar em choque direto com Stalin, então no poder da União Soviética. Enquanto isso, a indústria alemã avançava em sua produção de materiais bélicos. Com sua atenção toda voltada para o próximo passo expansionista, Hitler, por meio de seu Ministro das Relações Exteriores, Joachim von Ribbentrop, assinou um pacto de não agressão com a URSS em agosto daquele ano. Com isso, ele esperava que a Inglaterra e a França não se pronunciassem para ajudar qualquer atividade na Polônia. O dia 1° de setembro marcaria a história da humanidade para sempre quando, em plena madrugada, bombardeios aéreos começaram a ser ouvidos, enquanto a Gestapo simulava incidentes de fronteira. A Polônia começava a ser ocupada. Dois dias depois, França e Inglaterra declararam guerra à Alemanha e o conflito mais sangrento da História começava. A GESTAPO Façamos agora uma análise das forças que mais ajudaram a causa nazista a chegar a seu objetivo. Comecemos com a Gestapo, que terminaria por fazer a alegria daqueles que adoram ilmes ambientados na II Guerra Mundial e que teve um papel importante na invasão da Polônia. O nome vem da sigla em alemão de Geheime Staatspolizei e era a polícia secreta dos nazistas, criada em 26 de abril de 1933, na Prússia, a partir da Polícia Secreta Prussiana. Em seus primeiros dias, tratava-se apenas de um ramo policial conhecido como "Departamento lA da Polícia do Estado Prussiano", sendo criada em 26 de abril de 1933, na Prússia, a partir da Polícia Secreta Prussiana. Teve como primeiro comandante Rudolf Diels, um político alemão que era protegido de Herman Gõring, um dos principais membros do partido nazista. Para incrementar sua polícia, Diels recrutou membros de departamentos policiais pro issionais e fez com que a nova força funcionasse como uma Polícia Federal, nos moldes do FBI. O grupo só se envolveria com política a partir de 1934, quando Gõring sucedeu Diels como comandante. Foi ele quem inventou o termo Gestapo, q u e originalmente se grafava Gestapa, e convenceu os nazistas que estavam no governo a expandirem sua atuação para além da Prússia e a englobarem toda a Alemanha. A exceção foi na Baviera, local dominado por Heinrich Himmler, o chefe das SS (guardas pessoais de Hitler), que era o presidente de polícia e usava as forças locais das SS como polícia política. Estabelecer uma união entre essas forças era essencial e os dois dirigentes sabiam disso. Foi então que, em abril de 1934, Gõring e Himmler concordaram em deixar as diferenças e seus pontos de vista à parte e, pelo fato de ambos nutriremum ódio pelas SA (guardas do exército), Gõring aceitou que a Gestapo ficasse sob a autoridade das SS. Assim, começamos a entender um pouco a luta de poder que as três principais forças do governo nazista travavam entre si. Na verdade, nunca houve união entre elas, apenas posições políticas e conflito de interesses. Logo, a Gestapo estava em plena atividade e obteria sua fama de uma organização irmã das famosas Sicherheitsdienst, ou SD. Estas, apesar de serem muito comentadas, são pouco estudadas ou citadas pelos pesquisadores daquele período. As SD eram consideradas as tropas mais cruéis do regime nazista (alguns historiadores arriscam dizer que ainda mais cruéis que a própria Gestapo). Somente durante a ofensiva alemã no leste europeu, calcula-se que mais de 900 mil pessoas foram mortas pelas SD, cujos membros eram identi icados graças a um losango negro com as iniciais do grupo, que icava na manga esquerda de sua roupa. Era a principal responsável pela repressão nos países ocupados. Assim, qualquer suspeita de traição era logo investigada pelas SD e o suspeito era preso e torturado. Usava e abusava de seus direitos de busca, acesso, prisão, interrogatório e morte de possíveis traidores e possibilitaram o controle nazista por um bom tempo na Polônia e na Tchecoslováquia. Assim, a Gestapo seria provisoriamente como uma subdivisão secreta sem uma identi icação especial, apesar de seus membros poderem se ocultar como membros de outras corporações. Seu papel era investigar e combater o que eles de iniam como "todas as tendências perigosas para o Estado". Tinha autoridade para investigar casos relacionados com traição, espionagem e sabotagem, além de ataques criminosos contra o partido nazista e a própria Alemanha. Durante a II Guerra Mundial, seu contingente chegou a 45 mil membros e sua operação sem supervisão jurídica foi obtida por meio de algumas leis aprovadas em 1936. Um jurista nazista, Dr. Werner Best, apoiava estas leis com a justificativa de que "enquanto a Gestapo cumprir a vontade de nossa liderança, estará agindo legalmente". Desta forma, o grupo icava isento de responsabilidade na administração de cortes jurídicas, onde o cidadão poderia, em tese, processar o Estado conforme as leis vigentes. No inal daquele mesmo ano, a Gestapo estaria sujeita a mais uma lei, desta vez assumindo a responsabilidade por ativar e administrar os malfadados campos de concentração. Foi também o mesmo período em que a liderança de campo icou com Reinhard Heydrich, que também assumiria o posto de governador das regiões de Boêmia e da Morávia, enquanto a che ia de operações ficava para Heinrich Müller, que se tornaria o comandante desta polícia após o assassinato de Heydrich, ocorrido em 1942. Adolf Eichmann, o responsável pelo Departamento IV, seção B4, que comandou o extermínio judeu nos campos de concentração, era subordinado direto de Müller. O poder mais cruel exercido pela Gestapo, entretanto, foi a Schutzhaft ou "custódia protetora". Tratava-se, na verdade, de um eufemismo, pois jogava pessoas na cadeia sem qualquer procedimento judicial, em geral em campos de concentração. O prisioneiro assinava uma Schutzhaftbefehl, uma ordem que declarava que havia pedido para ser presa "por medo de ser ferida isicamente". Esta assinatura era obtida por meio de surras e torturas, e nunca foi confiável como documento. OPRESSÃO NA ALEMANHA E O FIM DA GESTAPO Muitas pessoas acreditam, de maneira errônea, que Hitler chegou ao poder com as bênçãos da maioria absoluta dos alemães. Esta impressão é errada e muito disso se deve às imagens e textos da propaganda nazista. Na verdade, se não fosse pelo apoio de forças opressoras como a Gestapo, talvez o ditador não tivesse obtido esse sucesso todo. Entre fevereiro e março de 1942, começaram alguns protestos estudantis que pediam o im do regime nazista. Dois estudantes, Hans e Sophie Scholl, eram líderes do grupo Rosa Branca. Apesar do grande apoio popular para que Hitler fosse retirado do poder, estes grupos de resistência agiam de maneira discreta por medo de represálias vindas da Gestapo, como de fato ocorreram. Com medo de ser vítima de uma derrubada de poder, a polícia do governo nazista juntou forças com o pessoal de Himmler e passou pelo menos os cinco primeiros meses de 1943 prendendo e executando milhares de pessoas, numa mostra de severidade inédita na história da Alemanha até aquele período. Muitos líderes estudantis foram executados no inal de fevereiro daquele ano e a maior oposição ao regime d e Hitler, o chamado Círculo de Oster, liderado por Hans Oster (o qual planejava um golpe contra Hitler em 1937, que não chegou a ser executado), foi assim completamente destruído em abril de 1943. No verão daquele ano, a oposição alemã tinha uma posição quase dúbia. Por um lado, era praticamente impossível derrubar Hitler e o partido, que defendiam suas posições com unhas e dentes. Por outro, a exigência dos aliados de rendição incondicional não deixava oportunidade nenhuma para obter um compromisso com a paz, o que deixava as pessoas sem opção (conforme seus próprios julgamentos), a não ser continuar com o esforço militar. Mas aquele período continuou a mostrar tentativas de alguns alemães em apresentar protestos contra a guerra em andamento, o que só aumentava o medo de uma interferência da Gestapo, que na primavera anterior havia continuado com as prisões e execuções em massa. Porém, apesar dos muitos planos e esforços surgidos na época, a polícia política continuava a atacar impunemente os envolvidos em qualquer tipo de manifestação. A queda de Mussolini, em 28 de abril de 1945, forneceu aos opositores alemães esperança para que algo semelhante pudesse acontecer a Hitler. Passaram a esperar pelo momento certo para assassinar o Führer e derrubar seu regime. Vários planos foram concebidos e o que mais se aproximou de se tornar realidade foi praticado em 20 de julho de 1944 pelo Coronel Claus Schenk von Stauffenberg, sobre o qual falaremos com mais detalhes no próximo capítulo. Por causa da falha em matar o ditador, cinco mil pessoas foram presas e 200 executadas. Entre junho e agosto daquele ano, a Gestapo continuou a checar o progresso da oposição ao nazismo, o que tornava qualquer tentativa de conspiração impossível. Prisões e execuções logo se tornaram cenas comuns. Para piorar a situação, o sentimento dos que ansiavam por paz com os aliados não encontrava correspondente entre os países inimigos. Parte disso deveu-se a um incidente ocorrido em 1939, quando agentes da Gestapo, disfarçados de antinazistas na Holanda, sequestraram dois oficiais do Serviço de Inteligência Secreta Britânica, durante uma reunião para discutir os termos de paz. Foi o principal motivo pelo qual Winston Churchill, já no poder pela Inglaterra, proibiu qualquer contato com a oposição alemã. Além disso, os americanos e britânicos temiam lidar com antinazistas por receio de que a URSS acreditasse que houvesse tentativas de acordo sem que o governo de Stalin soubesse. Após o término da Guerra, houveram os famosos Tribunais de Nuremberg, nos quais 24 nomes importantes nazistas foram julgados por crimes contra a paz, crimes de guerra e crimes contra a humanidade. Foram decretadas 11 condenações à morte, três prisões perpétuas, duas condenações de 20 anos de prisão, uma de 15 e outra de 10 anos. A Gestapo só deixou mesmo de existir após esses julgamentos. A im de mostrar um registro das atrocidades da polícia política, foram anunciadas as construções de um centro de documentaçãoe um museu sobre os horrores do nazismo num edifício que sediou o quartel-general da Gestapo e das SS em Berlim. Este centro é patrocinado pela fundação Topogra ia do Terror, e "abrigará uma vasta documentação sobre os crimes cometidos pelos nazistas durante o regime de Adolf Hitler". Sua construção custará 20 milhões de euros e deverá passar a funcionar em 2009, quando acontece o 70° aniversário da invasão da Polônia. A fundação já possui um museu ao ar livre, no prédio que sediou a Gestapo e a direção das SS, situado a 400 metros do local onde icava o quartel general central de Hitler. As SS O termo SS vem do alemão Schutzstaffel, que signi ica "escudo de proteção". Nascida em 1925 da Strof3trupp (ou "tropa de choque") com o objetivo de ser a guarda pessoal do Führer, teve uma rápida ascensão ao poder com adesões cada vez mais frequentes. Para se ter uma ideia, em 1932 contava com 60 mil membros; apenas dois anos depois chegou a 100 mil; em 1939, cresceu para 240 mil; e, durante a II Guerra, chegou à impressionante marca de um milhão de membros ativos. Os feitos atribuídos à atuação das SS são vários, mas o mais comentado é a colaboração máxima na perseguição declarada contra milhares de judeus, comunistas, homossexuais, ciganos e possíveis opositores, todos eles presos e jogados nos campos de concentração sem qualquer tipo de julgamento. Era considerado pelos nazistas como uma unidade de elite, cujos membros eram cuidadosamente selecionados de acordo com seus conceitos racistas e distorcidos de pureza genética. Sua atuação como unidade de combate (batizada de Waffen SS) era frequentemente confundida com a do próprio exército alemão. No entanto, o grupo passou mesmo para a História graças à sua participação na consolidação da política nazista. Poucas pessoas sabem, mas o conceito das SS não é originário do pensamento nazista, mas sim inspirado num conto. Embora não esteja ligado de nenhuma maneira ao surgimento da famosa guarda pessoal de Hitler, o escritor inglês M. P. Shiel publicou, em 1895 (bem antes de o con lito começar), a história de um grupo de assassinos frios e cruéis o suficiente para devastar a Europa, com o objetivo de exterminar todos que "atravancavam o progresso da humanidade". O título do conto, coincidentemente, era Os SS. Apenas cinco anos após a publicação dessa história é que Heinrich Himmler nasceu, ilho de um católico romano devoto, que fora preceptor do príncipe Heinrich da Bavária. Na época do II Reich, atuou como o icial cadete, função na qual começou a aprender certos conceitos sobre hereditariedade, que seriam úteis para pavimentar seu caminho em direção ao comando das SS. No início dos anos 1920, muitos partidos políticos paramilitares viam seu caminho para o poder desimpedido. O período entreguerras e as imposições do Tratado de Versailles, que efetivamente lançou a Alemanha nos braços do nazismo, só serviu para que os povos germânicos da Áustria, sufocados pela alta concentração de eslavos, alimentassem o sonho de uma uni icação com a Alemanha e um consequente domínio dos territórios europeus. Um campo fértil para a propagação de ideias racistas, num povo humilhado pela derrota e pela crescente perda de identidade pessoal. Após o putsch da cervejaria (comentado no Volume I), enquanto Hitler se ocupava em escrever Mein Kampf, Himmler foi chamado pelos líderes temporários do Partido Nazista (Otto e Gregor Strasser) para ajudálos no controle dos a iliados. Vale lembrar que esta é uma fase de reestruturação, em virtude do fracasso do golpe de estado e pelo fato de Ernst Rõhm, líder das SA, também estar detido. Essa prisão teve resultados efetivos para a ascensão nazista ao poder. Hitler desistiria de promover uma revolução armada para se dedicar à conquista da vitória legal por meio das eleições de 1933, enquanto Rõhm desiste temporariamente das SA e vai para a Bolívia para atuar como adjunto militar da Guerra do Chaco, um con lito armado entre a Bolívia e o Paraguai, ocorrido entre 1932 e 1935. ASCENSÃO DE HIMMLER Assim, o comando da SS por Himmler acontece aos 28 anos do nazista. Assumiu o cargo de Reichsfuhrer-SS por 17 anos, ou seja, até o im da II Guerra. Naquela época, as SS eram subordinadas às SA e contavam apenas com 200 membros. Imediatamente, o novo líder do grupo entregou-se a horas e mais horas de trabalho e planejamento com o irme propósito de deixar o time mais forte. Deixava que os líderes nazistas icassem com a estratégia de incitação por oratória, pois o que realmente importava para Himmler era conseguir consolidar seu poder dentro da estrutura nazista. E como obter essa conquista? Simples, bastava fornecer ferramentas que provassem ser possível a criação de uma raça superior ariana, uma nova casta de guerreiros para dominar o mundo. Entre seus estudos, ele ponderava todos os detalhes necessários para obter seu propósito. Uma de suas mais irmes convicções era a de que os camponeses seriam "o corpo e o sustentáculo da nação alemã", conforme narra o escritor inglês Nigel Pennick em seu livro As Ciências Secretas de Hitler: Esta combinação de reservas raciais - o sangue - com o lugar ancestral - o solo - seria logo elevada à categoria de doutrina sagrada, base teórica para a supremacia racial alemã. Amigos de Himmler na Baviera compraram uma fazenda para que ele pudesse concretizar sua ideia de uma escola "camponesa". Esta escola seria o ponto de partida de um movimento pela "volta à terra", movimento que Himmler considerava o futuro da Alemanha; e por im o desmantelamento da maior parte da indústria e a recriação de uma sociedade camponesa pura, autossuficiente e saudável. Por que Himmler voltava sua atenção para o campo? A união descrita no trecho anterior era ideal para que houvesse a união do sangue (genética) com o solo (ligação com os antepassados), o que levaria a uma espécie de "ativação de poderes" latentes nos genes arianos. Para colocar essa estranha ideologia em prática, ele se inspirou no 1 Reich, aquele que durou mil anos, fundado por ninguém menos que o Rei Heinrich der Vogler, conhecido como Henrique, o Passarinheiro, Rei da Saxônia e conquistador dos eslavos, um dos povos que incomodavam os germânicos na época. Para efeito de esclarecimento, vale lembrar que os eslavos atuais incluem russos, bielo-russos, ucranianos, búlgaros, sérvios, croatas, macedônios, eslovenos, tchecos, eslovacos, polacos e lusácios. Portanto, estamos falando sobre um grupo étnico amplo que seria di ícil (para não dizer quase impossível) erradicar. ARTAMANEN A tal escola foi apenas um primeiro passo. Pouco depois, entre os anos de 1926 e 1928, Himmler se juntaria a um movimento político-religioso conhecido como Artamanen. Sobre ele, temos novamente uma descrição de Nigel Pennick: Esta organização político-religiosa dedicava-se à ideia da colonização por direito. Embora muitos dos seus seguidores não pertencessem ao partido nazista, juravam pelo "sangue e solo", prometen do a reconquista e a recolonização da Europa pelos alemães. Em 1924, o primeiro grupo se estabeleceu em uma fazenda na Saxônia para pôr em prática sua doutrina da autossuficiência; um pouco mais tarde havia mais de 2.000 jovens em fazendas da Alemanha Oriental armados para o combate contra os eslavos. O movimento Artamanen era tão notório que o novelista Hanns Nikol publicou, em 1924, um livro intitulado Das Neue Leben (A Nova Vida) sobre as origens do movimento. Essas estranhas ideias, que para um leigo podemparecer totalmente dissociadas do esoterismo ou do oculto, escondem em si traços facilmente reconhecíveis. Tudo, na verdade, não passa de uma tentativa de obter um contato direto com os supostos "genes arianos" e despertar o potencial dos superhomens escolhidos como membros das SS. Basta dizer que havia, entre os membros do Artamanen, nazistas que conseguiram alcançar altos postos no III Reich, incluindo Rudolf Hoss, comandante do campo de extermínio de Auschwitz, e Richard Walt her Darré, descrito como "um agrônomo racista nascido na Argentina e educado na Inglaterra que acreditava que a raça era um fator fundamental em tudo". Assim, para ele, o camponês "sempre foi à única base con iável de nosso povo do ponto de vista do sangue". Darré acreditava que todas as grandes culturas mundiais haviam sido fundadas por homens nórdicos, por de inição, arianos. Ao longo dos anos, ele escreveria várias obras nas quais explicava suas ideias baseadas na ligação entre sangue e solo, e todas elas contaram com o apoio de Himmler. Para ele, a decadência das grandes civilizações do passado aconteceu pelo fato de esses povos não prestarem atenção su iciente em suas reservas genéticas e, assim, não conservarem sua pureza racial. Baseado nessa ideia, sua recomendação era que houvesse uma "supressão de todas as organizações humanistas e internacionalistas" como uma maneira e iciente de evitar o declínio da cultura alemã moderna. Mas que organizações seriam essas? De acordo com ele, abrangeria um amplo grupo que poderia in cluir do anarquismo e comunismo até a maçonaria, o rosacrucianismo e mesmo o cristianismo. Himmler, fascinado por essas ideias, incorporouas à sua própria visão ocultista do que deveria ser uma ordem mundial ideal. O líder das SS pensava da seguinte maneira: uma vez que a continuação da civilização dependia dos arianos, então era lógico supor que os verdadeiros membros teriam acesso a poderes místicos ou psíquicos que seriam característicos deles. Para obter esse potencial oculto, era imprescindível que os super- homens tivessem "contato íntimo com o solo sagrado de sua terra natal". Darré foi, mais tarde, aproveitado por Himmler como responsável pelo Rasse und Siedlungsamt ("Escritório de Controle Racial") das SS. De lá ele se transferiria, mais tarde, para o Ministério da Agricultura, disposto a pôr em prática suas teorias de autossu iciência, que terminaram por dar certo com o reflorestamento de terras áridas. As SA Por im, resta-nos falar sobre as SA, as Sturmabteilung (Tropas de Assalto ou, como alguns preferem, as stormtroopers), que funcionavam como uma organização paramilitar do partido nazista que, como já vimos nos capítulos anteriores, desempenhou um papel importante na ascensão de Hitler ao poder. Basicamente, as SA eram a guarda do exército, enquanto as SS eram a guarda especial. Seus membros eram chamados camisas marrons (ou camisas pardas) por causa da cor de seus uniformes e também como maneira de distingui-los dos membros das SS, que usavam uniformes negros. Um detalhe curioso: a cor das camisas foi escolhida porque havia uma grande quantidade dessas peças que eram vendidas por preços baixos, todas sobras da 1 Guerra Mundial e que foram encomendadas originalmente para as tropas alemãs que serviam na África. As SA também foram o primeiro grupo paramilitar nazista a desenvolver títulos considerados como "pseudomilitares", para a condecoração de seus membros, que eram adotados por outros grupos ligados ao partido, inclusive as SS. Seu líder inicial era Ernst Rõhm, que seria assassinado na "Noite das Facas Longas", que aconteceu na virada de 29 para 30 de junho de 1934, quando Hitler decretou seu fim junto ao do grupo que ajudara a criar. Tudo porque Rõhm ansiava em transformar as SA, que já contavam com dois milhões de "camisas marrons", no "embrião do futuro Exército da Alemanha Nazista". Porém, o exército do período entre guerras (conhecido como Reichswehr) possuía o iciais, como o marechal Paul von Hindenburg (o presidente da nação na época), que não o toleravam devido ao fato de este ser homossexual. E Hitler, que era chanceler da Alemanha e fora nomeado pelo próprio Hindenburg, não queria o poder político dos militares. Assim, no dia em questão, foi preso pessoalmente por Hitler num hotel nos arredores de Munique. Como ele resistiu à prisão, foi levado à força. Uma vez na cela, recebeu uma pistola e uma ordem: "Suicida-se com honra." Como se recusou a fazê-lo, foi morto por guardas da SS. Assim, esta última se tornou a organização influente da qual já falamos. AS SA eram organizadas em vários grupos grandes conhecidos como Gruppen. Em cada um, havia brigadas (Brigaden) subordinadas e, nestas, regimentos chamados Standarten. Estes últimos operavam fora das cidades alemãs e dividiam se em unidade menores ainda, as Sturmbanne e as Stürme. O comando que as ligava operava nas proximidades da cidade de Stuttgart, no sudoeste do país, e era chamado Oberste SA-Führung. O supremo comando das SA tinha muitos subescritórios que enviavam suprimentos, dinheiro e recrutas. Diferente das SS, as SA não tinham médicos nem se estabeleciam, depois do início da II Guerra Mundial, em territórios ocupados fora da Alemanha. As SA também tinham várias unidades de treinamentos militares, sendo que a maior delas era conhecida como SA-Marine (SA Marinha), que servia como auxiliar à Kriegsmarine (Marinha de Guerra) e realizava operações de busca e resgate, bem como defesa portuária. Similar ao braço armado das SS (chamado Waffen-SS), as SA também tinham um grupo com essa inalidade, conhecido como Feldherrnhalle, que se tornaria, a partir de um grupo de regimento de tamanho comum em 1940, na Divisão Alemã de Panzers, a Panzerkorps Feldherrnhalle, em 1945. Apesar das disputas internas pelo poder, os três grupos focados neste capítulo exerceram papéis fundamentais para a consolidação do poder nazista dentro e fora da Alemanha e logo se tornaram mais conhecidos do público moderno graças às constantes menções em ilmes e séries de TV que enfocam aquele período. rande parte dos historiadores concorda que, se tiverem de apontar uma pessoa como a principal causa da II Guerra Mundial, não há como escapar do nome de Adolf Hitler. Quando ele e seus seguidores invadiram a Polônia, não havia como negar o poderio militar e a competência do exército alemão, que conseguiu completar a ocupação em apenas três semanas. O curioso foi que, graças ao pacto de não agressão com Stalin, parte do ocupado território polonês estava nas mãos dos alemães e parte com a União Soviética, que também ocupou os países bálticos como a Letônia e a Lituânia. A União Soviética também era uma fonte de matéria-prima para a indústria alemã. Enquanto o lado oriental progredia com a ocupação, o lado ocidental via também ofensivas rápidas e e icientes. Essa estratégia-relâmpago, chamada Blitzkrieg, fez com que vários países caíssem sob o domínio nazista, incluindo França, Holanda, Bélgica, Dinamarca e Noruega. E Hitler mostrou-se rancoroso quando, ao assinar o armistício com a França, fez com que a cerimônia acontecesse no mesmo vagão de trem onde, anos atrás, foram ditadas as cláusulas de rendição que comporiam o Tratado de Versailles. A situação não era boa para os povos não germânicos, pois o domínio da suposta "raça superior" servia como desculpa para de lagrar um horror pior que o da guerra anterior. Dessa forma, a Grã-Bretanha estava lutando contra Hitler praticamentesozinha. A Itália entra em cena em 10 de junho de 1940 enquanto Portugal e Espanha eram também controlados por líderes fascistas. Pelo fato de considerar o fascismo uma ideologia próxima à sua própria, Hitler chegou a se aproximar do general Francisco Franco, da Espanha, para que aquele país entrasse no con lito ao lado dele, mas o convite foi recusado devido aos problemas internos, pois se recuperavam de uma guerra civil que durara três anos. O Primeiro-Ministro britânico Winston Churchill, que fora nomeado em maio daquele ano, estava isolado e com pouco contingente a seu dispor. Se quisesse, ele poderia ter chegado a um acordo com o ditador da Alemanha, que ansiava pelo apoio britânico numa frente contra a União Soviética, mas Churchill optou por esperar até que algo de novo acontecesse virando a maré do con lito a seu favor, pois sabia que, se atacasse os nazistas naquele momento, os resultados poderiam ser catastróficos para seu país. Hitler, vendo que não disporia de ajuda dos britânicos, começou a pensar numa operação que icou apelidada de Leão-Marinho, na qual ataques aéreos da Luftwaffe iniciaram sua ofensiva contra os navios no canal da Mancha e, depois, contra diversas cidades, incluindo Londres. Como a Força Aérea britânica estava com um contingente relativamente novo (todos na casa dos 20 anos), era alto o índice de pessoas inexperientes em combate, fator que só não acabou em desastre porque dispunham de tecnologia e iciente, incluindo radares, considerados os mais e icazes da época. A operação foi cancelada por ordem de Hitler depois que aviões britânicos conseguiram romper o espaço aéreo alemão e bombardearam Berlim. Este seria o primeiro revés sofrido por Hitler na sequência de triunfos com que começara a guerra. Os ingleses, por sua vez, adotavam uma posição defensiva justamente por não disporem, naquele momento, de contingente para um ataque contra os nazistas. Logo o Führer se dedicava a outra operação militar, chamada de Barba Roxa, que objetivava a invasão da União Soviética. Hitler queria, assim, achar uma nova fonte de recursos naturais e mão de obra escrava, o que seria o golpe inal para a consolidação do III Reich. Este foi, para a maioria esmagadora dos historiadores e de analistas militares, o maior erro que ele cometeu em toda a guerra. Em 22 de junho, a ofensiva começaria. Hitler adotou a mesma estratégia da operação-relâmpago também para esta operação e queria ver a URSS subjugada até setembro e as principais cidades (incluindo Moscou, Stalingrado e Leningrado) ocupadas por alemães. O REVÉS DE MUSSOLINI Enquanto Hitler fazia o que queria no mapa europeu, Mussolini se ressentia pelo fato de ser co locado em segundo plano. Planejou então invadir e tomar a Grécia, mas não contava com tropas tão e icientes quanto as alemãs. Assim, Hitler se viu em uma posição delicada quando teve de adiar o ataque à URSS, originalmente programado para maio, para dispor de seus homens a im de arrumar a bagunça provocada por Mussolini. A Operação Barba Roxa só começaria dali a cinco semanas, um atraso que ajudou em seu fracasso. Hitler, sempre desprezando as "raças inferiores", não acreditava que os russos fossem resistir a um ataque conjunto por céu e por terra, uma vez q u e aquele povo era considerado "duas vezes inferior", já que eram eslavos e comunistas. Assim a operação começou e as tropas alemãs avançaram em direção a Moscou sem di iculdades, o que só os animou e assim dividiu o front de batalha em dois, o ocidental e, agora, o oriental. Stalin, que já esperava algo assim há um tempo, decretou a tática da terra arrasada, ou seja, que o povo batesse em retirada e não deixasse para trás nada que pudesse ser utilizado pelos nazistas. Este ponto foi decisivo para dar a derrota para Hitler, pois seus soldados não esperavam uma batalha de longa duração e estavam sem alimentos e roupas que os permitissem enfrentar aquele que ficou conhecido como o pior inverno russo de todos os tempos. E o tempo foi fatal para os alemães da mesma forma que havia sido para as tropas de outro general que tentara invadir a Rússia anos atrás, Napoleão Bonaparte. As armas começaram a necessitar de reparos com lubri icante de maneira constante e as correntes dos tanques quebravam por causa do frio. Logo, alguns comandantes alemães pediram a retirada das tropas do território russo, mas Hitler se negava a concedê-la e ordenava que icassem lá até conseguirem seu intento. Eles não tinham outra alternativa a não ser aceitar as ordens, o que foi fatal quando o mês de dezembro chegou e o exército russo começou a contra-atacar. Enquanto isso, os Estados Unidos, que estavam até então neutros, sofreram o ataque japonês (mais um aliado de Hitler) contra a base naval de Pearl Harbor, o que fez os americanos entrarem na guer ra. Hitler, numa decisão que mais tarde se revelaria impensada, declarou guerra em 11 de dezembro contra os Estados Unidos, posição logo seguida pela Itália. Com um novo "jogador", a guerra podia tomar outros rumos, pois a produção ilimitada americana ajudaria a limitar as forças nazistas. Hitler, por sua vez, procurou aumentar a produção bélica e forçou os povos conquistados a trabalharem nos campos de concentração. Foi nessa época que ele decidiu adotar a "Solução Final", ou seja, o começo da destruição dos judeus. Era um programa que foi apresentado tanto para a população alemã quanto para os próprios judeus como "a nova colonização do leste", já que era para lá que iam os capturados. Derrotas como a da Tunísia, em 1943, não dissuadia Hitler de querer conquistar os russos. Cada vez mais obcecado com a batalha na frente oriental, o ditador da Alemanha acabou por deixar o front ocidental descoberto, brecha que logo faria com que as forças anglo-americanas entrassem na Itália pela Sicília e provocassem a renúncia de Mussolini, pelo fato de ter de lagrado uma guerra que não levou a Itália a nenhum lugar. Em 3 de setembro de 1943, a Itália assinou a rendição enquanto Mussolini estava preso e sob a custódia do governo de Pietro Badoglio. Hitler logo enviou homens para libertar Mussolini, que era seu modelo e que, segundo o Führer, ainda poderia ser útil na guerra. Uma vez livre, o agora exditador italiano fundou a República de Saló e prometeu reorganizar a resistência fascista na Itália. AS CONSPIRAÇÕES A atitude autoritária de Hitler, e sua recusa em ouvir os demais generais a respeito de trapalhadas militares, começou a perturbar alguns dos de alto escalão. O próprio Hitler esperava cada vez mais que atentados contra sua vida acontecessem, o que o deixava com um comportamento paranoico na maior parte do tempo. Principalmente depois do fracasso na URSS, ele passou a se isolar cada vez mais para que pudesse pensar com mais clareza. Joachim Fest, o biógrafo mais famoso de Hitler, autor de No Bunker de Hitler, conta que o Führer era "brilhante em estratégias ofensivas, mas chocantemente sem imaginação quando se tratava de se defender". A teimosia de Hitler em se concentrar em outros pontos e sua imposição para os demais o iciais alemães logo causaram um sentimento de mal estar, em que suas esquisitices poderiam causar a derrota. Isso sem falar do prejuízo financeiro e humano acarretados por essas decisões. O documentário Plano Secreto para matar Hitler, disponível em DVD, afirma que o ditador escapara de pelo menos 42 atentados contra sua vida. Ou seja: era apenas uma questão de tempo até que surgisse a pessoa que conseguisse pegá-lo. Há registros de atentados planejados entre1938 e 1939 por o iciais, como o brigadeiro-general Hans Oster, líder da Inteligência Militar (conhecida como Abwehr) e o general de campo Erwin von Witzleben, que queriam realizar um golpe de estado e prevenir que Hitler provocasse uma nova guerra mundial. Estes planos só não foram levados adiante por vacilações dos líderes do exército e falhas das potências ocidentais em tomar alguma providência contra Hitler antes de 1939. Em 1941, um novo grupo de conspiradores foi formado sob a liderança do coronel Henning von Tresckow, membro da equipe de seu tio, o comandante de campo Fedor von Bock, que liderava o Exército durante a operação Barba Roxa. Tresckow havia recrutado oposicionistas e transformara o grupo ao qual prestava serviço no centro da resistência do Exército. Porém, pouco pôde ser feito enquanto as tropas de Hitler avançavam no território russo. Durante o ano de 1942, Oster e Tresckow conseguiram reconstruir uma rede de resistência, da qual o membro mais importante era o general Friedrich Olbricht, que era líder do Exército no centro de Berlim, um homem que controlava um sistema independente de comunicações que alcançava toda aAlemanha. Desta vez, tudo parecia ajudar no objetivo. No inal de 1942, Tresckow e Olbricht criaram um plano para matar Hitler durante uma visita deste ao quartel-general do Exército em Smolensk, cidade do oeste do território russo, em março de 1943. Eles colocariam uma bomba no avião do Führer, que terminou por não explodir. Alguns dias depois, uma nova tentativa foi realizada quando Hitler visitava em Berlim uma exposição de armas soviéticas capturadas, a qual também não foi bem- sucedida. Tais fracassos só ajudaram a desmoralizar os conspiradores. Naquele mesmo ano, a situação começava a se mostrar contra a Alemanha e os conspiradores do exército resolveram que deveriam tentar novamente. Hitler deveria ser morto e um governo, aceitável por parte dos aliados, seria formado para que uma negociação separada fosse posta em andamento, a im de prevenir a Operação Barba Roxa. Em agosto daquele ano, Tresckow encontra a igura-chave do atentado que mais chegaria próximo de seu objetivo, o coronel Claus Schenk Graf von Stauffenberg. O militar era um político conservador e um nacionalista que zelava pelo bem-estar de sua Alemanha. Embora gravemente ferido, graças a um ataque britânico na África do Norte, que resultou na perda da mão direita, partes de dedos da mão esquerda e de um olho, nunca deixou de acreditar que tempos melhores poderiam chegar para seu país. De início, aceitou e ajudou os nazistas, mas logo se tornou desiludido com eles e favorável à realização de um golpe de Estado. Em 1942, fazia parte do cada vez mais amplo grupo de o iciais que acreditava que Hitler os levava para o desastre. Por algum tempo, não considerou matar o ditador graças às suas convicções religiosas, mas após o fracasso na URSS convenceu-se de que manter Hitler no poder seria um mal muito maior. Olbricht logo apresentou um novo plano para Tresckow e Stauffenberg. O Exército de Reservas tinha uma estratégia chamada Operação Valquíria, que deveria ser usada em caso de os aliados causarem problemas ao bombardear cidades alemãs e isso resultasse numa ruptura na lei e na ordem, ou se um levante de milhões de trabalhadores-escravos acontecesse. Olbricht sugeriu que aquele plano fosse usado para mobilizar os reservas para que tomassem o controle das cidades, desarmassem as SS e prendessem a liderança nazista, uma vez que Hi tler estivesse morto. Esta operação só poderia ser acionada pelo comandante dos reservas, general Friedrich Fromm. Para que conseguissem isso, ele deveria ser convencido a participar do complô ou neutralizado. Fromm, como muitos outros o iciais, sabia sobre as conspirações em andamento, mas ou não se envolvia ou as delatava para a Gestapo. Entre o inal de 1943 e o começo de 1944, houve uma série de tentativas para colocar um dos conspiradores próximo de Hitler por tempo su iciente para matá-lo com uma bomba ou um revólver, mas sem muito sucesso. Com a situação na guerra cada vez mais próxima de uma derrota, Hitler não aparecia mais em público e raramente visitava Berlim, preferindo passar muito de seu tempo na Wolfschanze (Toca do Lobo), seu quartel- general localizado na Polônia, com algumas aparições ocasionais em seu retiro nas montanhas em Berchtesgaden, cidade nos Alpes alemães. Em ambos os lugares, havia uma guarda constante e raramente pessoas que não tinham negócios a tratar diretamente com Hitler ganhavam acesso. Naquela época, Himmler (com suas SS) e a Gestapo descon iavam constantemente de planos contra Hitler e visavam principalmente os o iciais. Alguns desses planos, como a tentativa de 1943, falharam por questão de minutos. No verão de 1944, a Gestapo apertava o cerco a conspiradores em geral. Havia um sentimento de que o tempo para tomar iniciativas estava acabando, já que os alemães recuavam no front oriental e o Dia D, ou seja, o desembarque aliado na Normandia, acabara de acontecer. Os conspiradores acreditavam ser esta a última chance de algo assim acontecer e os principais membros da conspiração começavam a pensar em si mesmos como homens condenados, que queriam salvar a honra pessoal, bem como a de suas famílias, e proporcionar à Alemanha uma chance de realmente se converter numa nação admirável. Um dos auxiliares de Tresckow, o tenente Heinrich Graf von Lehndorff- Steinort, escreveu a Stauffenberg dizendo que o assassinato "deve acontecer, custe o que custar". Ainda hoje, quando se pensa neste episódio, parece incrível que os meses de pla nejamento do grupo tenham passado despercebidos pela Gestapo. Os registros da polícia política só indicavam dois grupos, a resistência Abwehr (sob a proteção do Almirante Wilhelm Canaris) e da resistência civil que se formava junto ao prefeito da cidade de Leipzig, Carl Goerdeler. Se a Gestapo tivesse prendido essas pessoas e interrogado, teria fatalmente descoberto a existência desse grupo ligado aos reservas. 20 DE JULHO DE 1944 Enquanto Hitler se concentrava em descobrir melhores táticas para que o im dos aliados acontecesse, crescia o número de o iciais descontentes com o rumo da guerra e que queriam deter o Führer. A oportunidade para isso parecia ter chegado em 1° de julho de 1944, quando Stauffenberg foi nomeado chefe de pessoal, subordinado ao general Fromm no QG dos reservas, em Berlim. Essa posição permitia que ele comparecesse às conferências militares de Hitler em qualquer dos dois lugares onde este passava a maior parte do tempo. Isso daria a desculpa de que precisavam para matar o ditador. Com a passagem do tempo, a resistência ao uso de métodos para matar caíra vertiginosamente, principalmente depois dos relatórios que falavam dos assassinatos em massa no campo de concentração de Auschwitz, no sul da Polônia, e que representavam o ponto máximo do Holocausto. Novos aliados haviam aderido, incluindo o general Carl-Heinrich von Stülpnagel, comandante militar na França, que assumiria o controle em Paris após a morte de Hitler e que negociaria um armistício com os exércitos aliados em solo francês. Estava assim tudo pronto para que o plano entrasse em ação: Stauffenberg iria para as conferências com duas bombas britânicas capturadas em sua pasta. Porém, em duas oportunidades no começo daquele mês, o general teve de cancelar seus planos porque os conspiradores queriam queHimmler ou Gõring também estivessem presentes, mas Himmler não aparecera no último minuto. O plano era que Stauffenberg plantasse a pasta com a bomba próxi ma a Hitler, arranjasse uma desculpa para se retirar da sala momentaneamente, esperasse a explosão, voasse para Berlim e se juntasse aos demais conspiradores. A Operação Valquíria entraria em ação, o exército reserva tomaria a Alemanha e os outros líderes nazistas seriam presos. Em outras duas oportunidades, uma no dia 15 e outra no dia 18, o plano foi cancelado no último minuto por razões desconhecidas, já que os participantes estavam todos mortos no inal daquele mês. Stauffenberg, depressivo e furioso, retornou a Berlim. No dia 18, corriam boatos de que a Gestapo estava atrás de uma conspiração e que poderiam prender os envolvidos a qualquer momento, o que só fez com que os envolvidos sentissem que o tempo estava acabando e que da próxima vez não poderia passar. O dia em que o plano inalmente entrou em ação foi 20 de julho. Stauffenberg decolou para outra conferência com Hitler, mais uma vez com as bombas a tiracolo. Apesar das medidas de segurança para controlar as pessoas que entravam na Toca do Lobo, os oficiais não eram revistados. Na toca, Hitler, que geralmente fazia seus encontros no bunker do complexo, resolve transferi-lo para uma cabana por causa de algumas obras em andamento e porque o dia estava abafado e quente. Marcada inicialmente para as 13 horas, o Führer adianta em meia hora o encontro, o que provaria ser benéfico para sua sobrevivência. Quando Stauffenberg chegou à Toca do Lobo, icou sabendo que a reunião fora adiantada. Ficou nervoso, mas continuou com o plano: pediu, então, para ser levado a uma sala a im de se refrescar. Lá, com a ajuda de um colega conspirador, o o icial menor Werner von Haeften, aciona o detonador de uma das bombas, uma cápsula de ácido que corrói a mola que dispara o pino para a detonação de uma bomba com um quilo de explosivos. Quando estão para acionar a segunda bomba, um mensageiro bate na porta da sala e avisa que já estão à espera de Stauffenberg. Ele e o colega, nervosos, conseguem esconder a bomba não acionada em outra pasta e decidem sair apenas com a bomba armada. Stauffenberg entrega a pasta com a bomba armada para um assistente e pede que a coloque na sala de reunião enquanto ele se apresenta para Hitler. A pasta é colocada próxima do ditador ao pé de uma pesada mesa de carvalho. Stauffenberg se preocupa com o tempo passado entre o acionamento do ácido e a detonação da bomba. Se não vierem chamá-lo para sair da sala, ele morrerá com os outros. Quando a chamada chegou, o conspirador saiu da sala e aguardou a explosão. Ela aconteceu em questão de minutos. O relógio marcava 12h40min e a cabana onde todos estão rui. Sem esperar pelos resultados, Stauffenberg sai para voltar a Berlim. Porém, não sabe que, milagrosamente, Hitler escapa da explosão, enquanto alguns o iciais e o estenógrafo morreram e os demais participantes icaram seriamente feridos. Explicações foram dadas para o fato de Hitler ter sobrevivido, desde o fato de ter adiantado a reunião em meia hora (o que só serviu para aumentar o nervosismo dos conspiradores) até a mudança do local da reunião (se tivesse feito no bünker, um local fechado, e não na cabana, aberta, a explosão teria matado todos instantaneamente). Mas aparentemente o que salvou Hitler foi mesmo a mesa de carvalho. A pasta de Stauffenberg, conforme se apurou depois, foi movida ligeiramente por um o icial que esbarrou nela com o pé, colocando-a na frente do tampo. Quando a explosão aconteceu, o tampo teria se levantado com a força e protegido Hitler, que só receberia arranhões leves e farpas de carvalho nas pernas. Convencido de que a Providência o salvara para continuar a guerra, Hitler continuou o programa do dia, que incluiu uma visita de Mussolini ao local, exibindo o Führer o lugar da explosão e até seu uniforme rasgado, que ele enviaria de "recordação" para sua amante e posterior esposa, Eva Braun. Somente depois que Mussolini se fora, ele recebe relatos de seus homens, que verificaram que há um desaparecido, justamente Stauffenberg. FIM DE UMA CONSPIRAÇÃO Quando Stauffenberg chegou a Berlim, já percebeu que algo estava errado, uma vez que não havia nenhum automóvel esperando por ele conforme o combinado. Nesse meio tempo, de fato, o general Erich Fellgiebel, também conspirador e que estava na Toca do Lobo, avisou por telefone seus colegas de que Hitler estava vivo, o que fez com que a maioria dos envolvidos perdesse a coragem para continuar com o plano. Sem saber o que acontecia, Stauffenberg telefonou do aeroporto e disse que Hitler estava morto, o que só causou confusão. A maioria de seus colegas no plano não sabia em quem acreditar. Somente às 16h daquele dia é que a ordem para colocar a Operação Valquíria em andamento foi expedida. O general Fromm, entretanto, hesitava e telefonou para o comandante de campo Wilhelm Keitel na Toca do Lobo para saber se Hitler havia mesmo sobrevivido. Quando Keitel exigiu saber do paradeiro de Stauffenberg, Fromm teve certeza de que os nazistas haviam rastreado as pistas até o quartelgeneral, o que poderia implicá-lo. Quando, às 16h40min, Stauffenberg e Haeften chegam ao QG, Fromm já havia decidido trocar de lado. Tentou prender Stauffenberg, mas a este, com a ajuda de Olbricht, o deteve sob a mira de uma arma. Nesse momento, Himmler já conseguira o controle da situação e expedira contra-ordens que anulavam a Operação Valquíria. Em seguida, ordenaram a prisão do ministro da propaganda, Joseph Goebbels. No entanto, esqueceram de cortar as linhas de telefone do ministro, que conseguira entrar em contato com o próprio Hitler, que acaba falando com o comandante das tropas que haviam cercado os principais pontos do governo, major Otto Remer. O Führer assegurou que estava bem vivo e que Remer deveria obter o controle de Berlim. Enquanto isso, Stauffenberg insistia para que o plano fosse levado adiante. Quando, às 20h, o general Witzleben chegou ao QG, teve uma discussão acalorada com Stauffenberg e deixou o local pouco depois. Assim, os menos resolutos membros do complô terminaram por trocar de lado. Stauffenberg terminou por ser ferido numa luta que se seguiu entre os o iciais que apoiavam e os que eram contra o golpe. As 23h daquele dia, Fromm recobrou o controle e capturou os conspiradores, ordenando que fossem executados. A 0h10min do dia 21 de julho, Stauffenberg e os demais foram levados ao pátio do QG e executados. Fromm tentou levar o crédito por ter detido os conspiradores, mas os nazistas já sabiam de seu envolvimento no golpe e ele também foi executado. Nas semanas que se seguiram, a Gestapo vigiou quase todos que tinham mesmo uma remota conexão com os conspiradores. A descoberta de cartas e diários nas residências e escritórios dos presos revelou os complôs de 1938, 1939 e 1943, o que só levou a novas prisões. Todos os parentes dos principais conspiradores foram presos e muitos, incluindo Tresckow, se mataram. Poucos tentaram escapar ou negar participação quando foram presos. Os que sobreviveram aos interrogatórios foramjulgados em júri público. Foram no total cinco mil prisões e 200 execuções. Muitos deles não estavam ligados diretamente ao complô do dia 20 de julho, mas a Gestapo aproveitou a ocasião para acertar as contas com muitos suspeitos de serem simpatizantes da oposição ao regime deHitler, uma situação que continuou até os últimos dias da II Guerra Mundial. Stauffenberg foi homenageado com um busto que hoje está no memorial à Resistência Alemã, em Berlim, e é considerado um herói e um dos poucos que admitiram publicamente serem contra as atrocidades movidas por Hitler. im da II Guerra Mundial e o de Adolf Hitler não poderiam ter sido mais tristes do que conforme o dito em recentes trabalhos publicados, como No Bunker de Hitler, de Joachim Fest, ou o visto no ilme A Queda - as Ultimas Horas de Hitler (em DVD pela Europa Filmes). Longe de querer provocar qualquer tipo de empatia pela morte do tirano mais sanguinário da História mundial, estes trabalhos retrataram a realidade de um líder político que conheceu o auge de seu poder para terminar sozinho e abandonado por seus colegas. Mas o pior é quando veri icamos que, além de ter adotado o suicídio como solução para escapar da derrota iminente, Hitler, mesmo na morte, in luenciou seus seguidores, que logo izeram o mesmo para se juntar a seu Führer, a ponto de a esposa do ministro da propaganda, Magda Goebbels, matar seus seis ilhos porque não queria que eles "vivessem num mundo sem o nazismo". Como tudo isso aconteceu? Lembremos que a situação de Hitler na guerra se voltou rapidamente contra ele, quase que exclusivamente devido à sua teimosia. Tão rapidamente quanto conquistou territórios, ele terminou por perdê- los, como a libertação da França pelas tropas aliadas. E também não podemos esquecer que os russos avançavam rapidamente em direção a Berlim, numa ofensiva dupla que logo desorientou não só Hitler, como também seus generais que não sabiam o que fazer. Vamos recapitular os acontecimentos que levaram a esse trágico desfecho. Como já foi dito, formaram-se dois frontes para enfrentar os nazistas: o oriental, onde as tropas russas avançavam, e o ocidental, com o desembarque na Normandia. As forças anglo-americanas iniciaram uma operação, chamada de Tocha, sob o comando do general Dwight Eisenhower, cujo ponto de desembarque foram dois países: o Marrocos e a Argélia. As forças italianas, junto aos chamados africakorps (conjunto das forças da Alemanha na Líbia durante a Campanha do Norte da África na II Guerra Mundial, formado em 1941), estavam com duas frentes de batalha, porém, a superioridade das forças aliadas logo se fez sentir e o Eixo começou a perder terre no. Apavorados, os alemães ainda tentaram enviar reforços para a Tunísia, mas logo aconteceu a capitulação naquela região, em maio de 1943, quando 252 mil soldados alemães e italianos renderam-se. Em apenas seis meses, o Eixo perdia o controle do Mediterrâneo, fator importante para abrir as portas para uma invasão da Itália. No verão daquele ano, os aliados invadiram a Sicília, ilha de grande importância estratégica. O marechal de campo Bernard Montgomery e o general George S. Patton che iaram as forças conjuntas que ocuparam principais cidades da ilha (entre elas Tarento, Palermo e Messina). Foi a queda da Sicília que provocou o desprestígio de Mussolini, que, como já citamos, foi destituído pelo Grande Conselho Fascista. O governo constituído após a queda de Mussolini, comandado pelo general Pietro Badoglio, inicia conversações secretas com os aliados para retirar a Itália do con lito e o armistício inal é assinado em setembro daquele ano, o que, sem dúvida, foi um golpe e tanto na máquina estratégica de Hitler. O Führer, temendo perder terreno, ordenou a Operação Eixo, na qual as principais cidades da Itália deveriam ser ocupadas e os soldados italianos desarmados e aprisionados. Neste momento, Mussolini é resgatado pelos alemães e forma a República de Saló, supostamente sob seu controle, mas na verdade governada pelas SS. Quando o ano de 1944 começou, a resistência dos alemães torna o avanço aliado lento e doloroso. Somente depois do período entre fevereiro e maio, quando acontece a rendição alemã em Monte Cassino, é que os aliados ocuparam toda a Itália Central, incluindo cidades como Roma, Pisa e Florença. Os alemães, encurralados na "linha gótica" (uma faixa da Itália que vai de Spezia, no mar Ligúrico, até Rimini, no mar Adriático, e que corta o país de oeste a leste), resistiriam por mais um ano e renderiam-se em abril de 1945. Mussolini foi capturado e fuzilado por forças guerrilheiras nessa mesma época, quando tencionava ir para o exílio na Suíça. Este fato, aparentemente sem importância, é o que fez com que Hi tler se decidisse pelo suicídio e pelos "cuidados" que decretou que seus seguidores tivessem com seus restos mortais. O DESEMBARQUE NA NORMANDIA Stalin insistia, desde 1942, com os aliados para que fosse aberto um segundo front de batalha no ocidente, já que os soldados soviéticos passavam por maus momentos quando enfrentavam as divisões invasoras na Europa oriental (266 no total, sendo 193 alemãs). Tanto americanos quanto britânicos lembravam que, para uma operação desse porte, era necessário um longo período de preparação, justamente para ultrapassar a chamada "Fortaleza do Atlântico", um conjunto de forti icações construídas pelos alemães no litoral da Bélgica e da França que tinha por objetivo garantir a tranquilidade das tropas nazistas que combatiam na Rússia. Em meados de 1944, os aliados começaram a Operação Overlord, usando uma frota com mais de três mil barcos que transportavam 350 mil homens. O batalhão partiu das costas do sul da Inglaterra com destino à Normandia, o que confundiu os nazistas, que esperavam um ataque na região de Calais. Após as di iculdades iniciais do desembarque, as tropas anglo-americanas logo formaram uma força sólida baseada no litoral francês, sendo que os portos da região dominados e os alemães começaram a recuar. Em seguida, começou a ofensiva sobre Paris. Foi nessa época que o atentado contar Hitler de 20 de julho de 1944 aconteceu. Como vimos no capítulo anterior, em vez de desistir, o Führer sentiu-se renovado por esse episódio e disposto a continuar lutando por seus objetivos. Paris foi inalmente libertada em setembro de 1944, quando norte- americanos, britânicos e franceses livres, acompanhados pelo general Charles de Gaulle, entraram triunfantes na cidade. A França estava completamente liberta até o im do ano, o que não impediu os alemães de tentarem uma operação contra-ofensiva em Arderias, região de coli nas montanhosas partilhada principalmente pela Bélgica e por Luxemburgo, com uma parte francesa. Os nazistas aproveitaram o mau tempo para neutralizar a superioridade aérea dos aliados que, embora tivessem mesmo sido pegos de surpresa, rapidamente se recompuseram e atacaram. Como resultado, as divisões panzers foram liquidadas. No inal de 1944 teria início a invasão da Alemanha, com as forças aliadas divididas em três blocos principais: os britânicos iriam para o norte do país e isolariam as tropas nazistas na Holanda; os norte-americanos rumariam para o sul, onde fariam ligação com os soviéticos no Elba; e uma segunda frente americana, liderada pelo general Ornar Nelson Bradley, seguiria para a região do Ruhr, considerada o coração industrial do III Reich. O CERCO Durante 1942, houve uma série de vitórias militares, quando os alemães perderam suas energias e não tiveram alternativa senão abrir mão de certas regiões ocupadas. E a contra-ofensiva russa foi violenta e maciça, em grande parte graças aos equipamentos de que dispunham, superiores aos usados pelos alemães. Gradualmente, estes foram empurrados de voltapara suas fronteiras. Logo, até os alemães que ocupavam a Criméia (uma península que é hoje uma república autônoma da Ucrânia, situada na costa setentrional do Mar Negro) ficaram isolados e tiveram de se render. A Batalha de Stalingrado, que provocou a primeira derrota dos nazistas, deu muita esperança para os exércitos soviéticos, apesar de ser considerada a batalha mais sangrenta da História da humanidade, com mais mortes no total do que qualquer outro combate anterior ou posterior. Foi marcada pela brutalidade e pelo desrespeito por civis em ambos lados e incluiu o ataque alemão a Stalingrado (hoje Volgogrado), o enfretamento de forças dentro da cidade e a contra-ofensiva soviética que destruiu as forças alemãs dentro e fora dela. O total de baixas é estimado em cerca de dois milhões de pessoas, entre tropas e civis. A maior derrota alemã pelas mãos russas aconteceu mesmo entre julho e agosto de 1943, quando foram registradas as presenças de cerca de seis mil blindados e quatro mil aviões durante a chamada Batalha de Kursk, considerada a maior batalha de blindados de todos tempos e a que inclui o maior custo de perdas aéreas em um só dia. Nunca mais as Wehrmacht (forças armadas alemãs do III Reich) recuperaram-se. O quadro a seguir mostra um comparativo dos dados dessas duas batalhas citadas: Fonte: Wikipédia. O con lito de Leningrado (atualmente São Petersburgo) é considerado até hoje um dos piores de toda a II Guerra Mundial. Sua população foi cercada e isolada do resto do país por 900 dias. Dos seus três milhões de habitantes registrados até 1941, estima-se que um terço tenha morrido por consequência de bombas e fome. Foi um dos maiores e mais prolongados cercos que uma cidade moderna já enfrentou desde os tempos medievais. O jornalista Harrison Salisbury, correspondente do New York Times, em Moscou, durante a II Guerra Mundial, descreveu que os alemães "conseguiram destruir as reservas de alimento" e que "pessoas debilitadas pela falta de proteínas simplesmente morriam no trajeto para o trabalho, nos bancos das praças, nos escritórios ou em suas habitações. Foi preciso esperar mais de seis meses para poder evacuar parte da população, aproveitando o congelamento do Lago Ladoga, única via de ligação existente com a parte russa não ocupada pelos invasores". A população que restou aguentou até a libertação da cidade, mas anos depois, nos julgamentos de Nurenbergh, falava-se de um total de 632 mil mortos, enquanto outras fontes aumentavam esse número para pelo menos 900 mil. OS RUSSOS CHEGAM À ALEMANHA Quando o ano de 1944 começou, os soviéticos conseguiram fazer grandes avanços. Minsk, capital da Bielo-Rússia e hoje sede da Comunidade de Estados Independentes, viu na época o im de 25 divisões alemães. Em agosto, estavam próximos de Varsóvia, na Polônia, o que só aumentava o desejo de Stalin de obter domínio sobre aquele país. Dois meses depois, pisavam pela primeira vez em solo alemão e a Prússia Oriental foi conquistada. Durante o inverno, os soviéticos esperaram as tropas aliadas tomarem posição no resto do país e começaram a planejar sua ofensiva sobre Berlim. Estima-se que somente para essa ofensiva foram concentrados cerca de dois milhões e meio de soldados, 6.250 blindados e 7.500 aviões. Quando o dia 16 de abril de 1945 chegou, o exército soviético começou seu avanço inal. Stalin tinha pressa na captura da cidade que queria oferecer como marco para o povo de seu país e no fim da guerra. Os nazistas acompanharam o desenrolar dos soviéticos com atenção e repreensão. A grande quantidade de mortes que se seguiu ao atentado de 20 de julho de 1944 deixou todos, civis e militares, com grande receio de que o Führer estivesse perdendo o controle da situação, o que só piorava com os avanços do inimigo. Quando os russos começaram a pisar em solo alemão, Hitler ordenou a mobilização geral da população e convocou todos os homens aptos entre os 16 e 60 anos. Estas eram as chamadas milícias populares (Deutscher Volksturn), que podem ser vistas no ilme A Queda - as últimas Horas de Hitler. A indústria alemã continuava a produzir a todo vapor, apesar dos bombardeios aliados constantes. Porém, o que lhes faltava mesmo era combustível e homens que se qualificassem para usar o material bélico. E o maior medo alemão era que sofressem represálias russas pelo o que aconteceu com os civis soviéticos. Em ins de abril, os russos chegaram a Berlim. Hitler escreveu seu testamento político e indicou o almirante Doenitz para Presidente do Reich e Joseph Goebbels para Chanceler. Começaram assim os últimos dias do ditador da Alemanha. Lembremos de que os russos também provocaram uma situação di ícil para a parte da Alemanha que icou conhecida como Alemanha Oriental por um bom tempo. Apesar de ter icado com a parte menos rica da Alemanha, a URSS em compensação ganhou boa parcela da Polônia e da Prússia Oriental e acabou de vez com o chamado corredor polonês, a faixa de terra que separava a Alemanha da Prússia. O resultado desta nova configuração foi a perda de 22% do território polonês para os russos. Assim, o sonho nazista de uma grande Alemanha com mais de 200 milhões de habitantes foi reduzido a uma perda maciça de territórios e ocupações em grande escala. A Alemanha saiu do con lito menor do que entrou e dividida, inicialmente, em quatro zonas para depois se con igurar em dois países. 0 FIM DE HITLER Em 20 de abril, o Führer completou 56 anos, sendo este o ponto no qual a história de A Queda começa. Naquele dia, depois de ser cumprimentado por todos os presentes, reuniu-se com seus homens para analisar o andamento da guerra. Seus iéis seguidores já sabiam que a guerra estava perdida para eles e insistiram para que Hitler deixasse a cidade atacada e se refugiasse em Berchtesgaden. O ditador não só recusou a ideia, como também acalentava seriamente a hipótese de que o con lito ainda poderia ser vencido por suas tropas. Goebbels ainda tentou animá-lo com a notícia da morte do presidente americano Rooselvelt: Meu Führer, meus parabéns.FranklinRooseveltestá morto. Está escrito nas estrelas que a segunda metade de abril será o momento da virada para nós. Hitler, sempre dado a "viradas do destino", viu o fato como um sinal de esperança e começou a acreditar que dois exércitos alemães poderiam libertar Berlim e dar uma virada a seu favor, como a Batalha de Stalingrado favoreceu os russos. Porém, seus seguidores sabiam que esses exércitos só existiam na cabeça dele. Convencido a inal, proibiu que se falasse em derrota. Os presentes sabiam que Hitler estava com a saúde debilitada. O coquetel de substâncias que ele tomava diariamente desde antes do atentado de 20 de julho de 1944 já era um sinal terrível de que algo ia errado, mas depois que a bomba plantada pelos conspiradores explodiu, piorou. Desde então, não andava ereto e tinha tremores nos braços e nas pernas que hoje podem ser reconhecidos como início do Mal de Parkinson. No ilme A Queda, pode-se ver o ator Bruno Ganz no papel de Hitler reproduzindo o andar e o tremor que o personagem real apresentava no lado esquerdo do corpo, justamente o afetado pela explosão do atentado. Pelo tempo que passara no bunker, estava pálido e seu olhar, antes vibrante, perdera sua força. Estava muito abatido e recorria constantemente a injeções de estimulantes. A situação foi piorando cada vez mais com as constantes notícias de derrotas e deserções de seus generais, mas o golpe que ele mais sentiu foi quando soubeque seu protegido Heinrich Himmler havia aberto negociações de paz em nome do Reich com o conde sueco Folke Bernadotte. Aos gritos, declarou Himmler um traidor, o qual deveria ser condenado à morte. Como o chefe das SS estava longe, quem terminou por ser executado foi um auxiliar deste, Hermann Fegelein, que era casado com uma irmã de Eva Braun, a amante de Hitler que permaneceu com ele todo o tempo no buuker. Eva conhecera Hitler quando trabalhava como ajudante de Heinrich Hoffmann, um fotógrafo, em 1929. Na mesma época, Geli Raubal, ilha da meiairmã de Hitler, é encontrada morta, um fato que esconde muita suspeita até hoje sobre as relações desta com seu tio. Especula-se que Geli teria se matado por ciúme de Eva, por estar grávida de Hitler ou que tenha sido morta por Himmler. O fato é que, logo após este episódio, Eva e Hitler passaram a se encontrar com mais frequência. O Führer deu-lhe uma casa e um carro com chofer depois que Eva se recuperou de uma tentativa de suicídio, entre 1932 e 1935. A relação dos dois era mantida em segredo pelos nazistas, sob a alegação de que o Führer, pela importância de seu cargo, não poderia ter preocupações de um homem normal. Como Eva era vista muito pouco em público, a tarefa era fácil e muitos partidários nazistas só souberam que os dois foram casados quando do final da II Guerra Mundial. Aparentemente, Eva sempre quis se casar, mas quando perguntava isso a Hitler, ele respondia: "Tenho de me preocupar com os interesses do Estado". Há registros de que Hitler a tratava com certo escárnio, como a vez em que disse que "um homem extraordinariamente inteligente tinha de ter uma mulher burra e primitiva". Eva nunca se imiscuía nos assuntos da política. Segundo Albert Speer, arquiteto do Reich e Ministro do Armamento, ela sabia apenas de manobras militares ligadas ao Holocausto e à "Solução Final" que Hitler impusera aos judeus. Ela interessava-se por fotogra ia, sendo a autora de muitas fotos e ilmes de seu marido. Ela teria mesmo declarado: "Pobre, pobre Adolf. Abandonado por todos, traído por todos". Mesmo assim, não conseguiu salvar seu cunhado quando foi decretada a execução de Fegelein, como retratado em A Queda, submetendo-se à vontade absoluta de um Führer decadente. Foi depois da suposta traição de Himmler que Hitler anunciou sua decisão de cometer suicídio por duas razões principais: a primeira era que não queria ser capturado vivo pelos aliados e a segunda era que não queria ter o mesmo destino de Mussolini. Além disso, também temia que seu corpo fosse exibido como troféu de guerra pelos russos. Assim, tomou providências para que o suicídio acontecesse logo após que sua união com Eva Braun se oficializasse. Depois disso, falou a quem estava no bunkerque poderiam partir a qualquer momento. Goebbels e outros decidiram icar. Hitler distribuiu ampolas de cianureto para os que icaram e foi se casar. Poucos entenderam por que fazia questão de se casar, naquela altura, com uma mulher com a qual passara 16 anos sem se preocupar com esse detalhe. Logo após o casamento, Hitler chamou uma de suas secretárias para ditar seu testamento pessoal seguido do político. Foram feitas três cópias do documento e mandadas para a sede do partido e para mais dois generais que ainda estavam no comando da "resistência". No dia 30 de abril, Hitler e Eva almoçaram e depois se despediram dos presentes no bunker. Recolheram-se para o quarto dele onde alguns minutos depois das 15h30min um disparo de pistola foi ouvido. O Führer estava no sofá com a cabeça estourada enquanto Eva havia tomado cianureto. Ele também tinha uma cápsula, mas "preferiu morrer com a honra dos militares", segundo a análise de alguns historiadores. Depois de verem que o fato havia se consumado, o criado de quarto e mais alguns presentes levaram os corpos, envoltos em cobertores, para fora do bunker, onde foram queimados com 170 litros de gasolina recolhidos de carros abandonados nas ruas. Quando as chamas inalmente cederam, os restos de ambos foram enterrados nos jardins da Chancelaria. Goebbels, que agora era o Chanceler, enviou mensagem comunicando a morte do Führer e depois cometeu um dos atos mais chocantes da história nazista: ele e Magda, sua esposa, eram nazistas iéis a Hitler e haviam levado seus seis filhos para o bunker justamente para tê-los por perto. Erna Flegel, enfermeira da Cruz Vermelha na Clínica Universitária de Berlim, era a responsável por tratar dos integrantes dos altos escalões nazistas. Numa entrevista publicada em 2005 pelo jornal alemão Berliner Zeitung, a enfermeira, com 93 anos, lembrou desse terrível episódio no qual Hitler, que de iniu como um homem que "não precisava de cuidados especiais" e que "havia envelhecido muito nos últimos dias, uma vez que seu lado direito estava debilitado, devido ao atentado que sofreu". Sobre Eva Braun, ela a quali icou como "uma jovem insigni icante" e que seu casamento foi "um sinal de declínio do 111 Reich". Mas foi quando se lembrou do casal Goebbels e dos ilhos deles que Erna mais se emocionou. Diz o artigo do site da Deutche Welle em português (http://www.dw-world.de/dw/article/0,2144,1572 684,00.html) : A enfermeira também se referiu na entrevista ao suicídio posterior dos altos dirigentes do regime, em especial ao da família de foseph Goebbels, Ministro da Propaganda nazista que herdou o comando do Reich após a morte de Hitler. Erna dis se que tentou em vão salvar a vida dos seis ilhos de Goebbels, que tinham entre quatro e 12 anos de idade. Magda Goebbels não lhe deu a oportunidade de salvar as crianças, e elas morreram no bunker. "Eu pertenço ao meu marido e meus ilhos pertencem a mim", teria argumentado a esposa de Goebbels antes de a enfermeira tentar levar pelo menos dois dos filhos embora de Berlim. Erna presenciou o inal do suicídio da família e, segundo ela, foi o dentista Helmut Kunz que deu veneno às crianças. Depois o casal se matou. O suicídio coletivo no bunker acabou em rajadas de uns contra os outros. Quando tudo estava perdido, o grupo de o iciais da SS que continuava vivo tentou escapar. Erna, porém, permaneceu no bunker com outras pessoas, esperando a chegada dos russos e cuidando deferidos. Quando os russos inalmente chegaram ao bunker, em 1° de maio, encontraram os corpos de Hitler e Eva Braun queimados. Foram eles quem avistaram os restos humanos e foram principais testemunhas e podiam montar o cenário inicial sobre o que acontecera por lá. Em 23 de maio, um médico informou que a autópsia revelara ser mesmo o cadáver de Hitler e que fora identi icado por meio da cápsula de cianureto encontrada no crânio. Os russos logo começaram a veicular a informação de que Hitler se envenenara, quase um sinônimo de uma morte covarde. Mas britânicos e norte-americanos que também tiveram acesso ao material colhido, concluíram que o Führer havia mesmo se matado com um tiro. Assim terminou o pesadelo nazista na Alemanha. Os demais líderes nazistas seriam presos e julgados pelo Tribunal de Nuremberg. modo confuso como o im do III Reich chegou está presente nos depoimentos que foram dados por aqueles que passaram com Hitler seus últimos dias. Soma-se a isto o fato de que, quando os russos chegaram por im a Berlim, estavam sedentos de sangue e loucos por uma vingança contra as atrocidades nazistas cometidas contra seu povo. E Stalin, o "homem de aço", como era conhecido por seus próprios soldados, estava mesmo desesperado
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