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Caso Clínico ID: S.N.C, sexo masculino, 23 anos, natural de Juazeiro do Norte-CE, procedente e residente de Guarulhos há mais de 20 anos, trabalha em telemarketing, solteiro, sem religião, ensino superior incompleto. QP: Perda de peso e diarreia há 3 meses HMA: paciente relata que há 3 meses iniciou diarreia aquosa, sem conteúdos patológicos, associado à febre não aferida intermitente, sem padrão de horário. Relata que vem perdendo peso, aproximadamente 12 kg no mesmo período. Passou em pronto atendimento há 2 dias em que foi prescrito loperamida (IMOSEC) para melhorar da diarreia, mas sem outras orientações. Não realizado nenhum exame complementar. Paciente foi informado que quadro clínico era de uma gastroenterocolite AGUDA. Paciente retorna em atendimento na UBS para reavaliação, pois não está melhorando. AP: nega internações prévias Tabagista 5 anos/maço, etilista social (destilados e fermentados) Relata uso de maconha diariamente HSH, sem parceria fixa no momento, nega IST previamente Carteira vacinal: 3 doses de hepatite B, dT 3 doses e reforço há 7 anos. Tríplice viral 2 doses. Exame físico BEG, emagrecido, peso: 53kg, altura: 1,60m Ausculta cardiorrespiratória sem alterações Cadeia ganglionar: pequenos linfonodos palpáveis em cadeia cervical posterior e anterior até 0,5 e 1cm de diâmetros, móveis, fibroelásticos, indolores. Abdome: plano, flácido, fígado não palpável, traube livre, RHA+ Oroscopia: placas esbranquiçadas em língua e palato mole e palato duro, removíveis Hipóteses diagnósticos: monilíase (candidíase), HIV, câncer Conceitos, definições e histórico o Agente etiológico - Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) tipo 1 e tipo 2 o Vírus de RNA - Família Retrovidae - Gênero Lentivirus - Composição biológica: - Fita de RNA, enzimas Transcriptase reversa, protease, integrase As glicoproteínas GP120 e GP41 facilitam a entrada do vírus no organismo do hospedeiro. Formas de transmissão o Via sexual > 90% o Via transplacentária – transmissão vertical (de mãe para filho) o Via parenteral (teve contato com a seringa/usuário de droga e uso de seringa compartilhada) – Profilaxia pós exposição é chamado de PEP. o Aleitamento materno: contraindicação em casos de HIV e HTLV Ciclo de replicação O HIV quando entra na corrente sanguínea, procura o CD4+, pois se multiplica somente dentro dele, já que é a célula que ele possui tropismo. O HIV precisa se ligar à parede do linfócito, por meio das glicoproteínas gp120 e Isabelle Maia (humana) gp41. Quando se liga, precisa se fundir a parede do CD4, por meio de uma quimiocina, chamada de CCR5 ou CXCR4, a qual ele será aclopado, por meio de outra glicoproteína. Ou seja, a glicoproteína se liga a quimiocina para o vírus conseguir fundir sua parede com a parede do linfócito - CCR5 e CXCR4 favorece a adesão e fusão da membrana da célula com o vírus - Transcriptase reversa: transcrição reversa, vai fazer com que o RNA dê origem a um DNA viral e este, adentrará o núcleo da nossa célula e no final, terá produção de novas proteínas. - A protease vai pegar esses peptídeos e vai realizar a clivagem, assim produzirá novas cópias do HIV - O HIV se propaga via célula a célula História Natural da infecção pelo HIV Aumento agudo de carga viral Queda de CD4+ por exaustão Latência clínica AIDS: CD4+ menor que 200 Esses critérios tem que ser associado à teste positivo para HIV pra ver se já está com AIDS Síndrome retroviral aguda o Primeiras semanas de infecção o Quadro clínico: Febre, cefaleia, astenia, adenopatia, faringite, exantema, mialgia Diarreia, náuseas, perda ponderal o Desaparecimento em 3 a 4 semanas. Diagnóstico Clínico o Doenças oportunistas o Síndrome retroviral aguda o Estágio avançado do próprio HIV Laboratorial o Antígeno de NAT (de ácido nucléico): consegue detectar precocemente o HIV e faz-se muito em banco de sangue, porém é caro e por isso não é disponível para todos o Sorologia - Rastreio e confirmatórios o PCR Carga viral Outras alterações laboratoriais no paciente HIV o Anemia o Leucopenia – neutropenia ou linfopenia o Plaquetopenia o Elevação de transaminases Eclipse viral (primeiros 7 dias): está infectado, mas não é possível identificar se tem partículas virais Janela sorológica: demora cerca de 4 semanas para começar a produzir anticorpo (nesse período só consegue identificar RNA ou P24 – ANTÍGENO) Após 4 semanas/Janela sorológica: os métodos já começam a surtir efeito Exames laboratoriais Triagem/suspeição o Enzyme Linked Immuno Sorbent Assay (ELISA) o Testes rápidos o Teste de Ácido Nucleico p/ HIV (NAT-HIV) o Carga viral do HIV por rt-PCR*: ÚLTIMA A SER PEDIDA, com exceção se for síndrome retroviral aguda. Confirmatórios o Western-Blott (detecta as proteínas do envelope viral – GP41 e GP120), Imunoblott Se o ELISA vier negativo, o paciente não tem HIV, porque o ELISA é altamente sensível. Se o ELISA vier positivo e o Wertern-Blott negativo: tem que pedir PCR. Western-Blott até 30 dias não é positivo, ou seja, repetir o exame do paciente em 1 mês. Os controladores de elite do HIV são indivíduos infectados pelo vírus da aids, mas que conseguem conter a sua replicação dentro do organismo mesmo sem tratamento. A carga viral deles é naturalmente tão baixa que não provoca sintomas ou complicações e fica praticamente indetectável por exames convencionais Tratamento Esquema inicial o Classes: Inibidores da Transcriptase Reversa análogos de nucleosídeo, Inibidores da Transcriptase Reversa não-análogos de nucleosídeo, Inibidores da Protease, Inibidores da Integrase, Inibidores da Fusão, Inibidor de Attachment, Antagonistas do co-receptor CCR5 o 3 medicamentos de 2 classes diferentes Não dar em casos de TB e neurocriptococose, porque pode ter uma resposta inflamatória exacerbada – síndrome de reconstituição imune. Síndrome de Reconstituição Imune Conceito: Recuperação do sistema imunológico do paciente que promoveu resposta inflamatória exacerbada após início de Terapia Antirretroviral levando à recrudescência/exacerbação ou surgimento de infecção oportunista Nunca postergar o início de TARV por receio de SRI!!! Critérios para suspeição de Sind. Reconstituição Imune: o Piora de doença reconhecida ou surgimento de nova manifestação após início da TARV. o Contagem de LT-CD4+ <100 cels/mm3 antes do início ou modificação do esquema. o Relação temporal entre o início da TARV e o aparecimento das manifestações inflamatórias (geralmente dentro de quatro a oito semanas do início da TARV). o Presença de resposta imune, virológica ou ambas após início da TARV. o Exclusão de falha ao tratamento, reação adversa ou superinfecção. Diagnóstico é clínico Tratamento o Tratar a infecção oportunista sempre! o Não suspender a TARV (raras exceções) o Casos graves necessitam de corticoterapia - Prednisona na dose 1-2mg/kg (ou equivalente) por 2 semanas com redução gradual posterior Candidíase esofágica e orofaríngea Agente etiológico Candida spp → principal é a Candida albicans Manifestações clínicas o Orofaríngea: - Placas esbranquiçadas removíveis ou queilíte angular ou pápulas eritematosas em mucosa jugal principalmente palato duro e mole, língua o Esofágica - Dor retroesternal, disfagia, odinofagia Doencas oportunistas Pelo HIV Diagnóstico o Clínico – fazer a raspagem das placas e elas são REMOVÍVEIS o Lembrar que é uma doença definidora de AIDS Tratamento Fluconazol o Orofaríngea: 100-150mg 1xdia por 7-14 dias - Evitar Nistatina → elevada resistência fúngica!!! o Esofágica: 200-400mg 1xdia VO ou EV 7-14 dias - Alternativa (casos refratários com Fluconazol): Anfotericina B 0,6mg/kg 1xdia EV Leucoplasia Pilosa oral Agente etiológico: Epstein-Baar Virus (EBV) Manifestaçãoclínica o Presença de placas esbranquiçadas não removíveis em língua (principalmente na lateral) o Efeito citopático do EBV→ hiperceratose Tratamento: o Antirretroviral Sarcoma de Kaposi Neoplasia caracterizada por neo-angiogênese do endotélio vascular e linfático o Subdividido em 4 tipos - Clássico (Mediterrâneo) - Endêmico (África Subsaariana) - Epidêmico relacionado ao HIV → em células infectadas pelo Herpesvírus tipo 8 - Iatrogênico (pós-Transplante) Manifestação clínica o Placas/nódulos eritemato-violáceos em pele/mucosas o Acometimento linfonodal Tratamento: o TARV o Se lesões de mucosa ou restrição de funcionalidade de membros → Quimioterapia Pneumocistose Agente etiológico Pneumocystis jiroveci Manifestações clínicas o Tosse, febre, dispneia progressiva - O paciente relata que está com esses sintomas a algumas semanas (3/4 semanas) o Exame físico normal em até 50% dos casos Diagnóstico o Clínico-radiológico o Suporte laboratorial Tratamento da Pneumocistose É feito a gasometria para definir se é pneumonia leve a grave. SMX- TMP = BACTRIM Neurotoxoplasmose Agente etiológico Toxoplasma gondii Manifestações clínicas: o Cefaleias o Febre, convulsão o Sinais focais neurológicos: geralmente motores como paresias e disfasias - Tudo dependerá de onde estará a lesão focal Diagnóstico o Definitivo → histopatológico (zero praticidade!) o Clínico-radiológico o Teste terapêutico Realce duplo anelar e edema vasogênico ao redor Tratamento Neurotoxoplasmose Neurocriptococose ou meningite criptocócica Agente etiológico o Cryptococcus neoformans o Reservatório natural → pombo Manifestação clínica neurológica → MENINGITE E/OU ENCEFALITE o Subaguda/crônica: semanas o Cefaleia, febre, mal-estar geral, náuseas e/ou vômitos, e rebaixamento do nível de consciência. o Hipertensão intracraniana → pode haver vômitos, diplopia, confusão mental (até alucinação) coma e papiledema Outras manifestações clínicas: o Pode ter envolvimento pulmonar (ex.: consolidação lobar, infiltrados nodulares ou intersticiais) o Envolvimento cutâneo (ex.: pápulas umbilicadas semelhantes as lesões de molusco contagioso). Diagnóstico o Clínico-radiológico + Laboratorial o Punção lombar para investigação do Líquor: - Sempre avaliar pressão de abertura do líquor → avaliar HIC Obs: cefaleia tende a melhorar após punção, às vezes é tratamento da cefaleia o Avaliação do líquor: Celularidade, glicose, proteínas, cor, aspecto, culturas (bactérias, fungos micobactéria) Padrão de meningite fúngica com tinta da china positiva Perfil laboratorial das meningites Imagem – neurocriptococose ou meningite criptocócica Tratamento de Neurocriptococose o 3 fases: - Indução Mínimo 14 dias: Anfotericina B 0,7 a 1mg/kg/dia + 5-Flucitosina 100mg/kg/dia dividido em 4 tomadas ao dia OU Fluconazol 400mg 12/12h - Consolidação Mínimo 8 semanas: Fluconazol 400-800mg/dia - Manutenção Mínimo 12 meses e 2 contagens de CD4> 200 no intervalo de 6 meses Fluconazol 200mg/dia Profilaxia primária: é de uma doença que o paciente nunca teve antes Profilaxia secundária: é de uma doença que o paciente já teve Prevenção do HIV o Testagem regular para HIV, outras IST e hepatites virais o Profilaxia Pós-exposição (PEP) o Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) o Prevenção a transmissão vertical o Imunizar para HAV, HBV e HPV o Redução de danos o Diagnosticar e tratar as pessoas com IST e Hepatites virais o Usar preservativo masculino, feminino e gel lubrificante o Tratar TODAS as PVHIV/AIDS Profilaxia Pós – Exposição (PEP) ao HIV o Profilaxia Pós-Exposição ao HIV, hepatites virais, sífilis e outras IST’s consiste no uso de medicamentos para reduzir o risco de adquirir essas infecções. - A PEP para HIV está disponível no SUS desde 1999 o “Medicamento de urgência” o Avaliação inicial com o algoritmo de 4 perguntas: Se todas as respostas forem SIM, a PEP para o HIV está indicada! Quanto ao tipo de material exposto e o risco de transmissão de HIV Quanto ao tipo de exposição e o risco de transmissão de HIV Esquema inicial: Seguimento ambulatorial da PEP o A pessoa exposta deve ser orientada a manter medidas de prevenção a infecção pelo HIV: - Uso de preservativos em todas as relações sexuais - Não compartilhamento de seringas e agulhas nos casos de uso de drogas injetáveis - Contraindicação de doação de sangue, órgãos, tecidos ou esperma - Importância da prevenção da gravidez. Profilaxia Pré-Exposição (PrEP)ao HIV o A Profilaxia Pré-Exposição ao HIV consiste no uso de antirretrovirais para reduzir o risco de adquirir a infecção pelo HIV o Contextualizada como estratégia adicional nova de prevenção disponível no SUS - Objetivo: reduzir a transmissão do HIV e contribuir para o alcance das metas relacionadas ao fim da epidemia. Avaliação inicial o Reforçar que a adesão garante maior efetividade da estratégia de prevenção o Explicar que o método não é 100% eficaz na proteção contra HIV e, portanto, deve-se associar outros métodos de prevenção de IST o Enfatizar que o uso da PrEP não reduz risco de outras IST’s - O uso de PrEP aumentou a incidência de IST?? Não houve aumento! o Abordar o paciente em uso de PEP quando há critérios de PrEP Esquema antirretroviral para PrEP Caso não haja contraindicações ao esquema inicial Emtricitabina + Tenofovir (200mg + 300mg) 1 comprimido via oral 1 x dia Orientações e Seguimento o Orientações após início da medicação quanto à proteção ao HIV: - Para relações anais, são necessários cerca de 7 dias de uso de PrEP para alcançar a proteção - Para relações vaginais, são necessários aproximadamente 20 dias de uso. o 1º retorno em 30 dias para avaliar eventos adversos, tolerabilidade e adesão - Demais retornos a cada 60-90 dias para triagens de IST’s o A indicação de PrEP pode E deve ser sempre reavaliada em todas as visitas de retorno
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