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W BA 00 42 _V 2. 0 CONCEITOS PSICOPEDAGÓGICOS 2 2017 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR e-mail: editora.educacional@kroton.com.br Homepage: http://www.kroton.com.br/ Autoria: Profª. Rafaela de Menezes Souza Brissac. Como citar este documento: BRISSAC, Rafaela de Menezes Souza. Conceitos psicopedagógicos. Valinhos: 2017. © 2017 por Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. 3 SUMÁRIO Apresentação da disciplina _________________________________ 04 Perspectiva histórica: a construção da psicopedagogia_____ 05 Psicopedagogia no Brasil __________________________________ 26 A profissão e a ética do psicopedagogo ____________________ 44 Proposições e papel da ABPp ______________________________ 64 O psicopedagogo e seu objeto de estudo __________________ 80 A questão da aprendizagem _______________________________ 97 Intervenção psicopedagógica no fracasso escolar __________ 118 Apoio das neurociências ___________________________________ 141 CONCEITOS PSICOPEDAGÓGICOS 4 Apresentação da disciplina A disciplina “Conceitos psicopedagógicos” aborda de forma clara e objetiva os conceitos que embasam a psicopedagogia como um campo de conhecimento teórico e prático. Inicialmente será apresentada uma perspectiva histórica da psicopedagogia, contextualizando a origem dela no mundo e no Brasil. O entendimento do processo histórico, que envolve a prática e o nascimento dessa área como uma área do conhecimento, permite ao leitor compreender os principais aspectos que levaram os profissionais da época a buscar um tipo de intervenção voltada para crianças que apresentavam dificuldades de aprendizagem. Entender o papel profissional do psicopedagogo também é um dos objetivos que se estabelece com esta disciplina. Para tal, serão abordados pontos importantes previstos no código de ética, que foi elaborado pela ABPp – Associação Brasileira de Psicopedagogia. Este conhecimento se mostra imprescindível para todos os profissionais que já atuam ou que pretendem atuar como psicopedagogos. Além disso, serão explicitados o objeto de estudo da psicopedagogia, quem é o sujeito que recebe este atendimento e qual o campo de atuação para os profissionais dessa área. Os estudos mais recentes, que envolvem o impacto das neurociências frente ao fracasso escolar, também serão apresentados nesta disciplina. De forma geral, os assuntos que serão aqui abordados irão constituir uma base importante para o entendimento da psicopedagogia como área de conhecimento e prática profissional. 5 Perspectiva histórica: a construção da psicopedagogia Autoria: Rafaela de Menezes Souza Brissac Objetivos • Contextualizar o período histórico em que se iniciam as preocupações com os problemas de aprendizagem; • Propiciar a compreensão dos aspectos que levaram ao surgimento da Psicopedagogia enquanto área de conhecimento; • Contribuir para o entendimento do caráter multidisciplinar da psicopedagogia, localizando as bases teóricas que serviram de respaldo para a sua construção; • Elucidar os movimentos iniciais ocorridos na França, que contribuíram para o fortalecimento da psicopedagogia e sua especificidade; • Promover o conhecimento das etapas do desenvolvimento da psicopedagogia na Argentina. 6 1. Introdução A psicopedagogia enquanto área do conhecimento pode ser considerada recente em relação a outras áreas. A preocupação com os problemas de aprendizagem foi o que deu início a construção dessa área que hoje se encontra mais consolidada. Esta preocupação despertou o interesse de profissionais de diversas formações, incluindo médicos, pedagogos, psicólogos, entre outros. Conhecer as origens da psicopedagogia, bem como compreender o momento histórico em que se deu o seu início contribui para a formação do profissional que pretende atuar nesta área. O tema a seguir abordará toda a trajetória do desenvolvimento da psicopedagogia, desde o seu surgimento na França até o momento de sua chegada no Brasil. Para isso, serão apresentados os principais fatos históricos que influenciaram o pensamento dos primeiros estudiosos que se dedicaram a entender os chamados “distúrbios de aprendizagem” no século XIX. Você terá a oportunidade de conhecer a trajetória dos cursos de formação em psicopedagogia na Argentina, país que mais influenciou o Brasil em suas práticas psicopedagógicas. A importância deste tema “Perspectiva histórica: a construção da Psicopedagogia” é imprescindível, uma vez que propicia o entendimento de aspectos que sustentam hoje a prática e as intervenções realizadas por psicopedagogos. 2. O conceito de Psicopedagogia A princípio, ao ouvirmos a palavra “psicopedagogia”, é natural pensarmos que este é um termo que combina ou tenta fazer a junção entre dois campos do conhecimento, o da psicologia e o da pedagogia. A própria explicação do que vem a ser psicopedagogia, muitas vezes, se 7 baseia nessa combinação/junção destes dois campos, ou da incidência de um sobre o outro, por exemplo: a aplicação da psicologia na prática pedagógica, ou a aplicação da pedagogia na prática psicológica. Não é incomum haver equívocos na explicação do que vem a ser a psicopedagogia, até mesmo por parte daqueles que estão diretas ou indiretamente envolvidos com educação. Ao buscarmos as definições de psicopedagogia em dicionários da língua portuguesa, temos como resultados: • Pedagogia baseada na psicologia científica, especialmente da criança.1 • Utilização pedagógica da psicologia (por meio de testes, prática de métodos ativos ou emprego da psicanálise2. Vários autores contribuíram na tentativa da formação da psicopedagogia como uma ciência com um corpo teórico próprio, a começar pela tentativa em defini-la. Muitos concordam que ela surgiu na fronteira entre a pedagogia e a psicologia, mas é preciso cautela nesta afirmação. Kiguel (1991 apud BOSSA, 2007) refere que a psicopedagogia tem como objetivo atender às crianças que não conseguiam aprender no sistema convencional de educação, e que, portanto, eram consideradas crianças com “distúrbios de aprendizagem”. O autor destaca a utilização de fatores etiológicos para explicar índices altos do fracasso escolar, envolvendo principalmente: desnutrição, problemas neurológicos, psicológicos, entre outros. Durante muito tempo foi aceita no Brasil e no mundo, a ideia de que os problemas de aprendizagem estivessem relacionados a fatores neurológicos. Isso demonstra a valorização de uma concepção organicista. 1 Fonte: <https://dicionariodoaurelio.com/psicopedagogia>. Acesso em: 1 out. 2017. 2 Fonte: <https://www.dicio.com.br/psicopedagogia>. Acesso em: 1 out. 2017. https://dicionariodoaurelio.com/psicopedagogia https://www.dicio.com.br/psicopedagogia 8 Para saber mais Em 1981, o National Joint Comitee for Learning Disabilities trouxe como definição de distúrbios de aprendizagem que “é um termo genérico que se refere a um grupo heterogêneo de alterações manifestas por dificuldades significativas na aquisição e uso da audição, fala, leitura, escrita, raciocínio ou habilidades matemáticas” (MOYSES; COLLARES, 1992). Apesar de ter surgido na fronteira entre essas duas ciências, não é possível reduzir este campo somente a elas, principalmente porque o ser humano é um ser pluridimensional (COSTA; PINTO; ANDRADE, 2013). Para Bossa (2007) é preciso reconhecer o caráter interdisciplinar desse campo de estudo, e ao mesmo tempo fortalecer a sua especificidade enquanto prática profissional. Neste sentido, a autora resgata a ideia de que a psicopedagogiasurgiu inicialmente como área de aplicação, para depois se tornar uma área de estudos. O objeto de estudo da psicopedagogia, assim como sua definição, passou por diversas fases, em função dos diferentes momentos históricos, contudo, é possível afirmar que, inicialmente, o principal objeto de prática e estudo da psicopedagogia remetia ao cuidar ou tratar dos problemas de aprendizagem (BOSSA, 2007). Com o passar do tempo, a visão do que seria o objeto de estudo da psicopedagogia começa a ser ampliada e discutida sob diversos aspectos. Nesse sentido, a contribuição de Kiguel (1991) merece destaque. Para o autor, num primeiro momento, havia um interesse da psicopedagogia em desenvolver metodologias que atendessem melhor àqueles que tinham dificuldades para aprender, ou seja, o foco estava na reeducação, ou na remediação e o objetivo era fazer com que o sintoma 9 (dificuldade) desaparecesse. Num segundo momento, a psicopedagogia passa a se ocupar com a compreensão do processo de aprendizagem, buscando entender como ocorre a relação entre o aprendiz e o processo de aprendizagem. Neste momento, o objeto de estudo da psicopedagogia torna-se mais abrangente, e envolve o conhecimento de como se dá o processo de aprendizagem como um todo, e não só em corrigir os problemas de aprendizagem. Podemos dizer então que, no início, o objeto de estudo era o sujeito que não podia aprender. Foi um período em que se buscava estabelecer a “normalidade”, e tudo que se diferenciava disso, caracterizando a anormalidade, se tornava objeto da psicopedagogia. Posteriormente, a psicopedagogia passa a ter uma visão mais ampla, ao considerar a complexidade do ser humano e compreender que o “não aprender” pode ser visto como uma forma diferente de aprender. Abre-se espaço para a singularidade do sujeito que aprende. Leva-se em conta diversos fatores que podem influenciar nesse processo, principalmente o contexto. A visão organicista passa a ter menos valor, e o conceito de anormalidade começa a cair em desuso, propiciando a compreensão por parte dos profissionais da área, de que a forma de aprender de cada indivíduo, pode se dar de modos diferentes, singulares (BOSSA, 2007). Com isso, ao estabelecer como objeto de estudo as questões relativas à aprendizagem, este campo de conhecimento ganha especificidade. Ao mesmo tempo que ganha especificidade, se constitui como um campo multidisciplinar, se ancorando em ciências já estruturadas na época. Inicialmente recebeu a influência da medicina, psicanálise, psicologia e pedagogia, para se fortalecer enquanto uma área do conhecimento. É consenso que o objetivo da psicopedagogia é contribuir com a diminuição do fracasso escolar, a partir do entendimento dos problemas de aprendizagem e do processo que leva o indivíduo a aprender, permitindo assim a elaboração de práticas que se mostrem eficientes, 10 considerando a singularidade do aprendiz (BOSSA, 2007; FONTES, 2005; COSTA, PINTO; ANDRADE, 2013). Um conceito utilizado atualmente pode ser encontrado no código de ética formulado pela ABPp (Associação Brasileira de Psicopedagogia). O artigo 1° traz que: A Psicopedagogia é um campo de atuação em Educação e Saúde que se ocupa do processo de aprendizagem considerando o sujeito, a família, a escola, a sociedade e o contexto sócio-histórico, utilizando procedimentos próprios, fundamentados em diferentes referenciais teóricos (CÓDIGO DE ÉTICA E ESTATUTO DA ABPp, 2011). Ao apontarmos os aspectos acima, fica claro que entender o conceito de psicopedagogia implica muito mais do que buscar uma definição, requer uma compreensão do seu objeto de estudo, do seu objetivo enquanto prática e campo de conhecimento e também das teorias que embasam essa prática. Todos estes aspectos se tornam mais claros quando conhecemos a história da psicopedagogia, compreendendo os fatores que contribuíram para o seu surgimento, como poderá ser visto no próximo tópico. 3. O surgimento da psicopedagogia: o resgate histórico De acordo com Bossa (2007), a psicopedagogia teve origem, ainda no século XIX na Europa, mais precisamente na França. O resgaste histórico deste período faz-se necessário, na medida em que contextualiza as bases que permearam o pensamento dos teóricos da época. No século XIX consolida-se fortemente o capitalismo industrial. Com isso, a maior parte dos regimes políticos, que neste período eram conduzidos pela monarquia, passam a adotar outros tipos de regime político. A 11 extinção dos regimes monárquicos promove, de certa forma, a chegada da burguesia ao poder. Assim, a burguesia passa a deter, além do poder econômico, também o poder político (BOSSA, 2007; FONTES, 2005). Além disso, o capitalismo industrial, por conta de suas próprias características enquanto sistema econômico, contribui para o enfraquecimento dos ideais burgueses de “igualdade e fraternidade”. Em outras palavras, este tipo de sistema não favorece a possibilidade real de uma sociedade fraterna e igualitária para todos. Como consequência, surge a necessidade de justificar as desigualdades que se apresentam como frutos dessa “sociedade de classes”, inerente ao capitalismo. A explicação para as desigualdades presentes nesta sociedade emergente será fundamentada na ciência e nas formulações teóricas da época. Hobsbawn (1998, apud BOSSA, 2007) aponta que a sociedade burguesa desse período estava orgulhosa de seus avanços na ciência. E mais do que isso, estava preparada para subordinar todas as outras atividades intelectuais a estes avanços científicos. Havia uma crença no cientificismo, que sugeria a existência de um conhecimento seguro e certo, quando produzido por meio da aplicação de um método científico. O conhecimento produzido por meio da aplicação de métodos e da racionalidade empírica tem início no final do século XVI, com Francis Bacon, que pode ser considerado o precursor da chamada ciência moderna e positiva. Apesar de ter surgido no século XVI, será somente a partir do século XIX que as ideias de Bacon ganham força. A influência do seu pensamento domina o pensamento científico até os dias de hoje (BOSSA, 2007). Para saber mais Francis Bacon (1561-1626) foi um filósofo, político e ensaísta inglês, que contribuiu para uma mudança na forma de 12 produzir conhecimento. Uma breve biografia que pode auxiliar na compreensão do pensamento do filósofo pode ser vista no site ebiografia. Quando a ciência positiva ganha força, principalmente por operar com fatos objetivos e precisos, que se mostram ligados entre si, numa espécie de cadeia de causa e efeito, a forma de se produzir conhecimento muda completamente. Qualquer conhecimento que era produzido por métodos advindos do racionalismo empírico era aceito na época, como leis uniformes e invariantes. É possível considerar que este período do século XIX, com a concepção positiva de ciência, marca o fim de um estágio da humanidade em que o entendimento dos fenômenos do Universo era proveniente de superstição e especulação metafísica (HOBSBAWM, 1988). Todas as teorias que apareceram no decorrer do século XIX possuíam a concepção positivista. Como exemplo, Bossa (2007) destaca a psicologia, que neste período surge como ciência independente, e que assim como outras ciências e teorias da época, se ancorou nos princípios da biologia para construir seu corpo teórico. Percebe-se um movimento de aplicar as leis que regem a natureza sendo aplicadas também para a compreensão do homem e da sociedade como um todo. No que se refere à psicologia, Patto (1996, apud BOSSA, 2007) refere que o comportamento passa a ser medido e controlado no laboratório. O caráter hereditário e genético é valorizado, e alguns testes psicológicos, principalmente os de inteligência, tentam comprovar que a capacidade intelectual do ser humano é resultado de aptidões naturais e humanas, geneticamente herdadas. 13 4. O reflexo da ciência moderna na escola: o início da psicopedagogia curativaTodo o percurso histórico apresentado até o momento contribui para o entendimento do contexto em que nasceu a Psicopedagogia e das raízes científicas por trás do pensamento dos profissionais envolvidos com a educação na época. Os testes psicológicos, conforme citados anteriormente, passam a ser valorizados, em virtude do seu caráter científico. Na escola, os testes irão tentar explicar as diferenças de rendimento entre os alunos. Como este conhecimento (dos testes) era produzido cientificamente, era considerado, portanto, único e verdadeiro, direcionando as ações de psicólogos e pedagogos da época. Todo esse percurso histórico nos ajuda a compreender o enfoque orgânico, que inicialmente orientou médicos, educadores e terapeutas na forma de entender os problemas de aprendizagem. Bossa (2007) aponta que estudos neurológicos, neurofisiológicos e neuropsiquiátricos passam a ser estimulados, e passam a classificar de forma taxativa como “anormais” os pacientes que não alcançam os índices considerados “normais” como resultados destes estudos. Dos centros psiquiátricos para a escola, o conceito de anormalidade passou a ser utilizado com as crianças que não conseguiam aprender. Por trás dessa visão, havia a interpretação de que o fator causador do fracasso escolar da criança que não aprendia era alguma anomalia. Dessa forma, a criança que não conseguia aprender era vista como “anormal”. Sua dificuldade era vista como um distúrbio, uma anomalia anatomofisiológica. Para saber mais Binet (1857-1911), pesquisador de Psicologia Experimental criou uma escala de inteligência, que tentava separar 14 a inteligência natural da inteligência desenvolvida pela educação. Aqueles que não conseguiam atingir a “norma” eram categorizados como anormais. Esse conceito de anormalidade no cotidiano escolar evidenciou problemas que os professores não se sentiam preparados para resolver. O início da Psicopedagogia estava marcado por uma maior preocupação com as deficiências sensoriais e debilidades mentais do que propriamente pela desadaptação infantil. Em 1946, após a segunda guerra mundial, é fundado o primeiro Centro Médico-Psicopedagógico em Paris, pelos psicanalistas franceses Juliette Boutonier e George Mauco. Este centro tinha por objetivo articular Medicina, Psicologia, Psicanálise e Pedagogia, com a finalidade de entender e resolver os problemas de aprendizagem na escola. Este primeiro enfoque estava amparado na Biologia e Medicina, e o objetivo final era conseguir uma readaptação do aluno ao sistema de ensino, de modo a alcançar o sucesso escolar (FONTES, 2005). A “psicopedagogia curativa”, termo criado pela autora francesa Janine Mery, também segue nessa linha, e pode ser entendida como um método que favorecia a readaptação pedagógica do aluno, buscando tratar crianças e adolescentes que tinham problemas escolares (BOSSA, 2007). Uma outra definição para “psicopedagogia curativa” seria: “uma terapêutica para entender a criança e adolescentes desadaptados que, embora inteligentes, tinham maus resultados escolares” (COSTA; PINTO; ANDRADE, 2013, p. 11). 5. Os avanços da psicopedagogia na argentina A psicopedagogia argentina exerce grande influência na psicopedagogia brasileira, portanto, é indispensável conhecer sua história e seus 15 pressupostos teóricos para então, compreendermos as bases que sustentam a prática da psicopedagogia no Brasil. Como primeiro país da América Latina a se envolver mais fortemente com as questões de aprendizagem, e com a psicopedagogia de fato, a Argentina teve papel importante no desenvolvimento deste campo de conhecimento. O início da psicopedagogia no país é definido mais por suas práticas, pelas intervenções, para depois se estruturar como um curso de formação. Bossa (2007) refere que alguns profissionais de outras áreas viram a necessidade de uma prática que pudesse resolver os fracassos escolares e começaram fazendo reeducação, trabalhando principalmente com as funções egoicas: memória, percepção, atenção, motricidade e pensamento, medindo esses déficits e propondo tratamentos para resolver as falhas presentes. Havia forte influência do pensamento francês nas práticas e nas formas de conceber a psicopedagogia na Argentina (COSTA; PINTO; ANDRADE, 2013). Foi em 1956 que a profissão de psicopedagogia se torna mais estruturada no país, com a abertura do primeiro curso universitário, na Universidade de Salvador em Buenos Aires (RENAULT, 2006). O curso funcionava junto à Faculdade de Psicologia, e possuía um enfoque de especialização para professores (COSTA; PINTO; ANDRADE, 2013). Diversos autores apontam que é possível observar que houve três momentos distintos na psicopedagogia da Argentina, que podem ser observados principalmente em função das mudanças no curso, e consequentemente na formação do profissional de psicopedagogia (BOSSA, 2007; FONTES, 2005; COSTA; PINTO; ANDRADE, 2013). Estes mesmos autores apontam as principais características presentes em cada um destes momentos, observados na forma como os cursos se estruturavam, conforme exposto a seguir: 1° MOMENTO (referente aos planos de estudos dos anos de: 1956, 1958 e 1961): 16 • Para participar do curso era necessário ter o título de docente, ou seja, o diploma da escola normal. • O profissional de psicopedagogia tinha como principal objetivo enfrentar os graves problemas que a pedagogia enfrentava, a saber: crise na escola, métodos inadequados, aumento no número de matrículas (expansão demográfica pós-guerra), evasão escolar, repetência e dificuldades na aprendizagem sistemática. • A proposta do curso tinha uma ênfase na formação filosófica, psicológica e na nova prática, a psicopedagogia. • A duração do curso era de 3 anos. 2° MOMENTO (referente aos planos de estudos dos anos de 1963, 1964 e 1969): • Em função da influência da Psicologia Experimental, a formação do psicopedagogo passou a incluir o conhecimento de instrumentos de medição, que pudesse contribuir para a avaliação das funções cognitivas e afetivas do estudante. • A inclusão de disciplinas relativas a instrumentos e testes psicológicos aumenta a duração do curso que passa a ter quatro anos. • Em 1969, a escola normal é extinta na Argentina e o curso começa a receber alunos com título secundário de várias procedências, que não necessariamente possuíam conhecimentos de pedagogia ou didática. • Torna-se imprescindível uma reformulação do currículo. 3° MOMENTO (referente ao plano de ensino do ano de 1978): 17 • Cria-se a licenciatura em psicopedagogia, tornando o curso uma carreira de graduação. • O curso passa a ter duração de cinco anos. • Inclui-se as disciplinas “Clínicas Pedagógicas I e II”, com o objetivo de valorizar o papel do profissional do psicopedagogo enquanto terapeuta. As mudanças ocorridas em função do plano de ensino de 1978 se mantêm até hoje na Argentina, e a inclusão do olhar e da escuta clínica psicanalítica retrata o perfil atual do profissional de psicopedagogia do país. Valorizou-se a área clínica, incluindo diagnóstico e tratamento (FONTES, 2005). Para saber mais A partir de 1984, com a Resolução nº 2473/84 do Ministério da Educação Argentina, são definidas, oficialmente, as incumbências da profissão naquele país. Assim, a partir de então a clínica passa a ser praticada somente por licenciados. No processo do desenvolvimento da psicopedagogia ocorrido na Argentina nota-se que houve uma mudança na abordagem desta prática, que foi da “reeducação” à “clínica”. Esta mudança é decorrente da percepção de alguns profissionais, que ao conseguirem cuidar dos problemas de aprendizagem dos indivíduos, após algum tempo, surgiam outros problemas mais graves de natureza psicológica. Os profissionais entenderam que a questão da aprendizagem podia ser vista como um sintoma de alguma enfermidade mais grave, e por isso, viu-se a necessidade de incluir em seu trabalho o olhar e a escuta clínica, que traduz o perfil do profissionalde psicopedagogia da Argentina até os dias de hoje (BOSSA, 2007). 18 Bossa (2007) ressalta que a atuação psicopedagógica na Argentina está então ligada às áreas de educação e saúde. Sendo a principal função do psicopedagogo na educação contribuir para a diminuição do fracasso escolar, e na saúde, sua função é reconhecer e atuar sobre as alterações da aprendizagem sistemática, buscando descobrir como o sujeito aprende, por meio de diagnósticos, testes, entrevistas com pais, entre outros recursos. De acordo com Fontes (2005), as autoras que mais contribuíram nesta última fase de desenvolvimento da psicopedagogia na Argentina foram Alicia Fernandez e Sarah Pain. Para saber mais Cruzando as fronteiras da história da psicopedagogia: uma entrevista com Alicia Fernández. LELIS, Maria Terezinha Carrara. Cruzando as fronteiras da história da psicopedagogia: uma entrevista com Alicia Fernández. Rev. Psicopedagogia, São Paulo, v. 25, n. 78, p. 186-197, 2008. A psicopedagogia no Brasil recebe forte influência destas autoras. Argenti e Escott (2001) referem que as autoras possuem uma visão psicopedagógica mais ampla, e que consideram a aprendizagem como uma articulação da inteligência, desejo, corpo e organismo, aproximando mais a teoria psicanalítica da psicopedagogia. A história da psicopedagogia nos possibilita o entendimento de como se desenvolveu esse campo de conhecimento no Brasil, que será o assunto do próximo tema desta disciplina: A psicopedagogia no Brasil. 19 Questão para reflexão A psicopedagogia possui uma história construída por muitas mãos. Psicólogos, médicos, pedagogos, filósofos, entre outros profissionais. Após a leitura deste tema, é possível identificar que os problemas de aprendizagem possuem uma causa única? Vivemos uma época de intensa medicalização na escola. Em sua opinião, este ainda pode ser considerado um reflexo da “biologização” dos problemas de aprendizagem? 6. Considerações finais • O conceito de psicopedagogia não pode ser reduzido à aplicação dos conhecimentos psicológicos à pedagogia e tampouco dos conhecimentos pedagógicos à psicologia. • No início, o objeto de estudo da psicopedagogia era o sujeito que não aprendia. Foi um período em que se buscava estabelecer a “normalidade” dentro do processo de aprendizagem, e tudo que se diferenciava disso era considerado como “anormal” e se tornava objeto de estudo da psicopedagogia. • O capitalismo industrial contribuiu para que as desigualdades ficassem mais evidentes, em função das próprias características deste sistema econômico. • A explicação para as desigualdades presentes nesta sociedade emergente será fundamentada na ciência e nas formulações teóricas da época, ganhando força a ciência moderna e positiva. 20 • Ocorre uma valorização da testagem, e de todo conhecimento objetivo, passível de mensuração. • A criança que não conseguia aprender era considerada anormal, de forma que não se adaptava ao sistema educacional. • A “psicopedagogia curativa” surge com o objetivo de favorecer a readaptação pedagógica do aluno. • A psicopedagogia na Argentina recebeu forte influência da França e tem início na prática para depois focar nos cursos de formação. • A psicopedagogia, de forma geral, passa a ter um caráter clínico e institucional, tanto na Argentina quanto em outros países. Glossário • Cientificismo: é a tendência intelectual ou concepção filosófica de matriz positivista que afirma a superioridade da ciência sobre todas as outras formas de compreensão humana da realidade (religião, filosofia, metafísica etc.). • Funções egoicas: são forças do ego importantes para a compreensão dinâmica do comportamento, e podem ser divididas em: a) funções egoicas básicas – voltada para o mundo exterior e para aspectos de si próprio: percepção atenção, memória, pensamento, previsão (programação da ação) execução, controle e coordenação de ação; b) funções defensivas – têm a finalidade de neutralizar ansiedades criadas entre condições de realidade, fantasias, impulsos e proibições: dissociação, negação e evitação e trabalham simultaneamente com as funções básicas psicológicas; https://pt.wikipedia.org/wiki/Filos%C3%B3fica https://pt.wikipedia.org/wiki/Positivista https://pt.wikipedia.org/wiki/Ci%C3%AAncia https://pt.wikipedia.org/wiki/Compreens%C3%A3o https://pt.wikipedia.org/wiki/Religi%C3%A3o https://pt.wikipedia.org/wiki/Filosofia https://pt.wikipedia.org/wiki/Metaf%C3%ADsica 21 c) funções integradoras, sintéticas ou organizadoras – A força destas funções integradoras é “posta àa prova” quando diante de mudanças na situação de vida, o sujeito tem que reorganizar suas relações com o mundo , através de uma mobilização seletiva de novas funções de adaptação. • Visão organicista: visão pautada no organicismo, que é uma teoria segundo a qual as doenças são resultadas de lesões em algum órgão. Verificação de leitura TEMA 01 1. O primeiro centro médico psicopedagógico, fundado por Boutonier e Mauco, teve como sede: a. Alemanha. b. França. c. Brasil. d. Argentina. e. Estados Unidos. 2. Desde o seu surgimento, o objetivo da psicopedagogia passou por algumas modificações em função do seu próprio desenvolvimento enquanto campo de conhecimento, e também, em função da influência dos diversos teóricos que contribuíram para o fortalecimento da prática psicopedagógica. No entanto, é correto afirmar, que no início o principal objetivo da psicopedagogia era o de: 22 a. Promover a escuta psicanalítica das crianças que apresentavam distúrbios de aprendizagem. b. Colaborar para a melhoria no relacionamento entre professor X aluno. c. Impedir que crianças com dificuldades de aprendizagem interferisse negativamente na educação de crianças normais. d. Aplicar testes que buscavam mensurar a inteligência de cada criança. e. Desenvolver metodologias que atendessem melhor aqueles que tinham dificuldades para aprender, promovendo a reeducação ou remediação, fazendo com que o sintoma (dificuldade) desaparecesse. 3. É possível observar que no decorrer do desenvolvimento da psicopedagogia enquanto campo do conhecimento, algumas ciências contribuíram mais fortemente para trazer especificidade para a área. São elas: a. Medicina, psicologia, psicanálise e pedagogia. b. Medicina, psicologia, fonoaudiologia e pedagogia. c. Filosofia, psicologia, psicanálise e sociologia. d. Astrologia, psicologia, psicanálise e pedagogia. e. Medicina, física, psicanálise e pedagogia. 4. A psicopedagogia curativa, termo criado pela psicopedagoga francesa Janine Mery, pode ser entendida como: a. Uma pedagogia que buscava uma associação de terapias com medicações. b. Um método que favorecia a readaptação pedagógica de crianças e adolescentes 23 desadaptados que, embora inteligentes, tinham maus resultados escolares. c. Uma intervenção que tinha por objetivo criar salas especiais que visavam à cura dos problemas de aprendizagem. d. Um método que só poderia ser utilizado com crianças com retardo mental. e. A psicopedagogia aplicada aos professores. 5. A psicopedagogia na Argentina pode ser dividida em três momentos, que dizem respeito às reformulações ocorridas em seus planos de ensino no curso de psicopedagogia. Sobre o terceiro momento, é correto afirmar que: a. O curso tem duração de quatro anos. b. Só são aceitos no curso alunos que tenham a titulação de docente. c. Todos os professores do curso precisam ser psicólogos. d. O curso passa a ter as disciplinas “Clínicas pedagógicas I e II, valorizando o papel do profissional do psicopedagogo enquanto terapeuta. e. A psicopedagogia começa a ser aplicada exclusivamente em clínicas. Referências ARGENTI, P. W.; ESCOTT, C. M. A formação em psicopedagogia nas abordagens clínica e institucional: uma construção teórico-prática. Novo Hamburgo: Feevale, 2001. 24 BOSSA, N. A. A psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. 2. ed., Porto Alegre: Artmed, 2007. CÓDIGO DE ÉTICAE ESTATUTO DA ABPp, 2011. Disponível em: <http://www.abpp. com.br/documentos_referencias_codigo_etica.html>. Acesso em: 10 set. 2017. COSTA, A. A.; PINTO, T. M. G.; ANDRADE, M. S. Análise Histórica do surgimento da psicopedagogia no Brasil. Id On Line Revista De Psicologia, ano 7, número 20, julho/2013. FONTES, M. A. Concepções de psicopedagogia no Brasil: reflexões a partir da teoria crítica da sociedade. Dissertação (Mestrado) – Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005. HOBSBAWN, E. J. A era do capital: 1848-1875. 4. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988, p. 140. KIGUEL, S. M. Reabilitação em neurologia e psiquiatria infantil: aspectos psicopedagógicos. Congresso brasileiro de neurologia e psiquiatria infantil: a criança e o adolescente na década de 80. Porto Alegre: Abenepe, 1991. v. 3. MOYSÉS, M. A. A.; COLLARES, C. A. L. A história não contada dos distúrbios de aprendizagem. Caderno Cedes, n. 28, 1992, p. 31-47. PATO, M. H. S. A produção do fracasso escolar: histórias de submissão e rebeldia. São Paulo: T. A. QUEIROZ, 1996. v. 6. RENAULT, G. La Universidad Del Salvador, cumple sus primeros 50 anõs. La carrera de Psicopedagogia, se encuentra cumpliéndolos también. Aprendizaje Hoy: Revista de Actualidad Psicopedagogica, Buenos Aires, julho de 2006. Ano 26, n. 64, p. 7-10. RUBINSTEIN, E. R. O estilo de aprendizagem e a queixa escolar: entre o saber e o conhecer. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003. Gabarito Questão 1 - Resposta: B Foi na França que surgiu o primeiro centro médico psicopedagógico. Questão 2 - Resposta: E O foco era na reeducação, buscando corrigir aquilo que não ia bem com o aluno. Ao identificar as suas dificuldades, o profissional tentava auxiliá-lo naquele aspecto, buscando a correção. http://www.abpp.com.br/documentos_referencias_codigo_etica.html http://www.abpp.com.br/documentos_referencias_codigo_etica.html 25 Questão 3 - Resposta: A A medicina, psicanálise, psicologia e pedagogia são as bases para a prática da psicopedagogia até os dias de hoje. Questão 4 - Resposta: B A psicopedagogia curativa também busca a readaptação do aluno ao sistema de ensino, buscando intervir em aspectos que estejam contribuindo para o seu fracasso escolar. Questão 5 - Resposta: D A influência da psicanálise traz para a psicopedagogia argentina a necessidade de o profissional desenvolver a escuta psicanalítica, visto que os problemas de aprendizagem podem ser apenas o sintoma de outras questões de natureza emocional. 26 Psicopedagogia no Brasil Autoria: Rafaela de Menezes Souza Brissac Objetivos • Conhecer os principais fatos ocorridos na construção da psicopedagogia brasileira; • Elucidar a tendência contemporânea da psicopedagogia no Brasil e sua forma de caracterizar o objeto de estudo desta área do conhecimento; • Identificar os principais desafios presentes no Brasil em relação à psicopedagogia. 27 1. Introdução A psicopedagogia no Brasil, assim como em outros países, possui uma história que se construiu a partir de diversas práticas e influências teóricas vindas de outros países e adaptadas, na medida do possível, para a nossa realidade. As passagens históricas que auxiliam na compreensão desse processo de construção da identidade da psicopedagogia brasileira serão expostas neste tema. Ao conhecer os fatos históricos e remontar o percurso da psicopedagogia, é possível compreender o momento atual da área e pontuar com clareza suas características enquanto área do conhecimento em expansão. Neste sentido, você conseguirá visualizar o momento inicial da psicopedagogia no Brasil, o momento presente e também vislumbrar os rumos futuros dessa área. A formação do psicopedagogo precisa estar pautada também neste percurso histórico, uma vez que ele também está construindo essa história, por isso a importância deste tema em nosso curso. 2. A psicopedagogia no brasil: uma identidade em construção O momento atual da psicopedagogia no Brasil é vivido por uma diversidade de práticas e enfoques teóricos, que têm contribuído significativamente para o fortalecimento da área em nosso país. É um campo que, apesar de já ter avançado em alguns aspectos, ainda podemos dizer que está em construção. Como um campo em construção, pressupõe-se que ainda existem muitos caminhos a serem percorridos, mas também é possível fazermos algumas considerações do que já foi alcançado até este momento. De acordo com Rubinstein, Castanho e Noffs (2004), a psicopedagogia, enquanto área de atuação, no Brasil: 28 • É fundamentada em referenciais teóricos, sendo assim, é uma práxis psicopedagógica; • É reconhecida academicamente, em função das diversas produções científicas (teses, publicações) e de reuniões científicas organizadas pela Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp); • A formação em psicopedagogia no Brasil se dá por meio de cursos de especialização em instituições de ensino superior1; • Contribui para a integração de crianças, adolescentes e adultos que se encontram desarticulados de instituições de ensino; • É um campo interdisciplinar, que possui como bases principais a psicologia, pedagogia e psicanálise; • Surgiu para atender a crianças e adolescentes com problemas na aprendizagem, mas está voltada para a aprendizagem de modo geral. Para saber mais “A Associação Brasileira de Psicopedagogia – ABPp – é uma associação de direito privado, de âmbito nacional, sem fins lucrativos e econômicos, de caráter técnico, científico e social, com atividade preponderante no exercício da psicopedagogia. Fundada em 12 de novembro de 1980, a ABPp agrega psicopedagogos brasileiros com a finalidade de propiciar-lhes o desenvolvimento, a divulgação e o aprimoramento desta área do conhecimento”. 1 Estas informações são referentes ao ano de 2004, sendo que no Brasil já é possível encontrar a formação em psicopedagogia também em cursos de graduação. A maior parte dos cursos ainda é em nível de pós-gra- duação. 29 Rubinstein, Castanho e Noffs (2004) nos lembram que a Psicopedagogia, principalmente no início do século XXI, tinha como verdade que as razões do insucesso escolar das crianças na escola estavam localizadas apenas nos alunos, e nas suas características individuais. Este aspecto foi visto no tema anterior, quando falamos da visão organicista da psicopedagogia, que atribuía ao organismo as causas do fracasso escolar. De acordo com Bossa (1994) nas décadas de 1960 e 1970, houve um forte movimento que difundia a teoria da “carência cultural”, sendo que as explicações sobre o fracasso escolar começaram a ser atribuídas ao meio cultural deficitário que os alunos viviam. Nesta perspectiva, o insucesso escolar passou a ser visto como um sintoma social, e não mais como uma patologia do aluno. A tendência contemporânea da Psicopedagogia no Brasil corrobora com esta percepção, de que as questões de contexto também precisam ser avaliadas quando se buscam as causas do fracasso escolar. Rubinstein, Castanho e Noffs (2004) apontam que nenhuma análise parcial pode contribuir para a compreensão do fracasso escolar. É preciso entender o fenômeno em sua complexidade, pois qualquer análise parcial, seja ou atribuindo tudo ao organismo ou tudo ao contexto, pode conduzir a erros no entendimento do mesmo. A tendência contemporânea na psicopedagogia busca compreender o insucesso escolar a partir dos seguintes aspectos: – relação do sujeito com o objeto de conhecimento; – relação professor/aluno; – condução inadequada das instituições de ensino; – visão integral do aluno; e – conhecimento do contexto em que o aluno vive. Essa tendência ressalta o caráter mais dinâmico do processo de aprendizagem, e considera o sujeito da aprendizagem como um todo. O objetivo da psicopedagogia contemporânea é a aprendizagem e a relação do sujeito com a aprendizagem, e o modo de fazer o diagnóstico psicopedagógico envolve observar o potencial de aprendizagem do aluno e identificar quais são as melhorescondições que podem contribuir para uma aprendizagem de sucesso neste aluno (RUBINSTEIN; CASTANHO; NOFFS, 2004). 30 Até o momento foi contextualizado de uma forma geral como a psicopedagogia se encontra atualmente no Brasil, e em que sentido avançamos na forma de perceber o fenômeno da aprendizagem, porém para atendermos ao objetivo do nosso tema, passaremos agora a conhecer os principais marcos presentes na construção da história deste campo de conhecimento no Brasil. 3. Principais fatos na história da psicopedagogia brasileira Durante muito tempo, no Brasil, os fatores orgânicos foram considerados responsáveis pelo fracasso escolar desde o início da história da psicopedagogia (BOSSA, 2004). Talvez por esse motivo, assim como ocorreu em outros países do mundo, os problemas de aprendizagem muitas vezes eram associados a problemas de saúde. Em 1906 foi criado um Laboratório de Psicologia Pedagógica no Rio de Janeiro. A preocupação de psicólogos e educadores, neste período, era com a saúde mental, indicando uma abordagem médica para as questões associadas ao insucesso na escola (RUBINSTEIN; CASTANHO; NOFFS, 2004). As autoras apontam que, ainda no Rio de Janeiro, na década de 1940, a Secretaria de Saúde promoveu o atendimento a estudantes com dificuldades diversas. Os anos 1950 no Rio de Janeiro foram marcados pela criação de classes especiais para alunos que eram considerados deficientes mentais. Na década de 1950 havia um outro movimento ocorrendo no Rio Grande do Sul, que também pode ser visto como uma prática que retrata as preocupações com as questões de aprendizagem no Brasil: o início de pesquisas voltadas para a educação e linguagem. 31 Na década de 1960 surge a psicopedagogia clínica, com a finalidade de compreender as questões de insucesso escolar em nível individual, buscando intervir sobre a pessoa que apresenta dificuldades de aprendizagem, seja por motivos individuais ou familiares (FONTES, 2005). Nestes casos, o problema de aprendizagem é diagnosticado como sintoma (quando o não aprender possui um significado inconsciente) ou inibição (quando ocorre uma retração intelectual do ego, diminuindo assim as funções cognitivas do sujeito). De acordo com Fernandez (1991, apud Fontes, 2005, p. 85; grifo da autora), “o sintoma ou inibição causam um aprisionamento da inteligência do indivíduo que não aprende, a partir da estrutura simbólica inconsciente”. Esse caráter clínico da psicopedagogia surge ao mesmo tempo na Argentina e no Brasil. De acordo com Rubinstein, Castanho e Noffs (2004), no final dos anos 1960, o estado do Rio Grande do Sul, preocupado com o aumento no número de alunos que apresentavam dificuldades com a aprendizagem da leitura e da escrita, cria a Clínica de leitura. Dados apontam que nos anos 1970, já havia em torno de 300 Clínicas de leitura em funcionamento no estado. As autoras apontam que “nesta ocasião, a abordagem era reeducativa, havia uma parceria entre a medicina e a educação. A tendência era por uma concepção adaptacionista para alcançar a integração das crianças” (RUBINSTEIN; CASTANHO; NOFFS, 2004, p. 229). Para saber mais As clínicas de leitura foram implantadas por meio do Decreto nº 18415/67, no estado do Rio Grande do Sul, e tinham por finalidade diminuir os problemas de desadaptação escolar. As professoras especializadas trabalhavam com os alunos da rede que apresentassem os distúrbios de leitura e escrita. Era oferecido um curso de preparação para os professores, denominado como “Curso 32 de atendentes de clínica de leitura”, com duração de 766 horas/aula. A demanda de trabalho sempre foi bem maior do que a capacidade de atendimento das especialistas (PORTELLA, 2005). Em São Paulo, na década de 1970, a PUC-SP oferecia cursos voltados para as dificuldades escolares. Estes cursos buscavam capacitar profissionais para o atendimento de crianças, em caráter preventivo, tanto na escola quanto na clínica. Sobre a década de 1970, é importante relembrar que havia ainda uma prevalência da visão organicista para explicar o fracasso escolar. Foi a década da DCM – Disfunção Cerebral Mínima, que era entendida como as disfunções neuromotoras, que causavam as dificuldades nos alunos. Implícito a esta visão, havia um discurso que tornava o fracasso escolar patológico, e localizado exclusivamente no aluno (RUBINSTEIN; CASTANHO; NOFFS, 2004). O primeiro curso regular de psicopedagogia no Brasil foi criado em São Paulo, no ano de 1979, no Instituto Sedes Sapientae. Havia no curso a proposta de uma visão mais integrada do sujeito da aprendizagem. Rubinstein, Castanho e Noffs (2204) referem que a década de 1980 foi marcada por uma mudança na forma de compreender o fracasso escolar, principalmente, a partir de dois movimentos que se destacaram: 1. Compreensão do fracasso escolar: foco na investigação de aspectos estruturais, funcionais e da dinâmica interna da instituição escolar. 2. Clínica: foco na compreensão da relação que o aluno estabelecia com o conhecimento, que implicava uma visão mais dinâmica da queixa escolar. Um dos fatos mais importantes ocorridos na década de 1980, mais precisamente no ano de 1980, foi a criação da Associação Brasileira de 33 Psicopedagogia – ABPp, que pode ser considerada um marco inicial na direção da institucionalização da profissão de psicopedagogo (COSTA; PINTO; ANDRADE, 2013). Costa, Pinto e Andrade (2013) ressaltam que a década de 1990 foi marcada pelas contribuições principalmente de psicopedagogas argentinas, como as autoras Sara Paín e Alicia Fernandez. Ambas ampliaram a visão teórica da psicopedagogia no Brasil, enfatizando o sujeito psicológico que aprende e introduzindo a abordagem da dinâmica familiar no entendimento dos problemas de aprendizagem. Além dessas autoras, observa-se a presença da influência de outros autores argentinos, a saber: Ana Maria Rodriguez Muñiz, Ana Teberowsky, Bernardo Quirós, Emília Ferrero, Jorge Visca, Jacob Feldman e Mabel Condemarin. Direta ou indiretamente, por meio de seminários, cursos, palestras, textos, estes autores influenciaram a construção de um novo modelo de intervenção clínica. Tal modelo envolvia uma nova compreensão do sujeito que aprende, que levava em conta os conhecimentos advindos da Psicologia Genética, Antropologia, Sociologia, Psicanálise, Psicologia Social Operativa, Psicolinguística, Educação e Neurologia. A partir de então, a visão organicista não tem mais a primazia no que se refere aos problemas de aprendizagem, que passam a ser vistos em sua complexidade, envolvendo muitos aspectos, e de forma mais dinâmica (RUBINSTEIN, CASTANHO; NOFFS, 2004). Em 1997, o Projeto de Lei Federal nº 3124, do deputado federal Barbosa Neto sugere a criação dos Conselhos Regionais de Psicopedagogia. Ainda no trajeto da legalização da profissão de psicopedagogo, o Projeto de Lei nº 128/2000, do deputado Claury Santos Alves da Silva, foi aprovado em 2001 e estabeleceu que a assistência psicopedagógica estivesse presente em todas as instituições de Ensino Básico da rede pública do Estado de São Paulo (COSTA; PINTO; ANDRADE, 2013). 34 Para saber mais A psicopedagogia no Brasil é considerada uma ocupação. A tentativa de criar os conselhos é um reflexo da busca pela legalização da psicopedagogia como profissão. Existem muitos equívocos neste sentido. A ABPp – Associação Brasileira de Psicopedagogia se difere de um Conselho. Os conselhos federais são autarquias criadas pelo governo federal que exercem o papel de emissão de números de registro profissional, fiscaliza e representa uma categoria profissional. Em termos de formação profissional, em 2013 era possível identificar no Brasil: quatro cursos de graduação, sendo um localizado no estado de São Paulo e os outros três localizados no estado do Rio Grande do Sul e diversos cursos de pós-graduação lato sensu espalhados pelos estados brasileiros (COSTA; PINTO; ANDRADE, 2013). 4. A psicopedagogia no Brasil hoje Parafalarmos de psicopedagogia hoje no Brasil, é necessário fazer um recorte em função dos aspectos relativos: ao exercício da profissão de psicopedagogo; à concepção atual de psicopedagogia no Brasil, e aos desafios futuros presentes em nossa realidade. 4.1 O exercício da profissão de psicopedagogo Noffs (2016) contribui trazendo uma visão atualizada que se ampara nos acontecimentos mais recentes. Em termos da Classificação Brasileira de Ocupações, a psicopedagogia, desde 2002, está inserida na família 2394- 5, que diz respeito aos “programadores, avaliadores e orientadores de ensino da grande área Educação” (NOFFS, 2016 p. 111). 35 Em junho de 2008, o Projeto de Lei sob o nº 3512 é reapresentado pela Deputada Federal Raquel Teixeira (GO), quando argumenta a necessidade de se regulamentar a profissão de psicopedagogo, de modo a melhorar a qualidade do que se ensina nas escolas, do como se ensina, e também do que se aprende e como se aprende. Ao argumentar dessa forma, refere a necessidade de um profissional da área de psicopedagogia, especializado, que contribua para aumentar as potencialidades de aprendizagem dos alunos. Ainda sobre este projeto: Em 2009, o projeto ao ser analisado pela comissão de trabalho, de administração e serviço público entende que o projeto ao preservar as atribuições dos profissionais em Psicopedagogia não propõe reserva de mercado, garantindo assim o exercício da Psicopedagogia por profissionais com formação em Psicologia, Pedagogia e Licenciatura, desde que tenham o certificado de conclusão de curso em Psicopedagogia a nível de especialização ou graduação (NOFFS, 2016, p. 114). Em 2010, este mesmo projeto sofre mudanças e se amplia a prática da psicopedagogia para profissionais que sejam portadores de diplomas em Psicologia, Pedagogia, Licenciaturas ou Fonoaudiologia. O projeto ainda aguarda aprovação no Senado Federal. Estes são os aspectos que foram apresentados em artigo mais recente que contribui para o entendimento de quem pode exercer a psicopedagogia hoje no Brasil. Em relação aos rumos que devem ser tomados, a autora sugere “regulamentar o bem formado e legalizar o que a sociedade já legitimou” (NOFFS, 2016). 4.2 A concepção atual de psicopedagogia no Brasil Para definirmos a concepção atual da psicopedagogia, buscou-se no código de ética, elaborado pela ABPp – Associação Brasileira de Psicopedagogia, e reformulado em 2011, como ele estabelece o conceito de psicopedagogia: 36 A Psicopedagogia é um campo de atuação em Educação e Saúde que se ocupa do processo de aprendizagem considerando o sujeito, a família, a escola, a sociedade e o contexto sócio-histórico, utilizando procedimentos próprios, fundamentados em diferentes referenciais teóricos (ABPp, 2011, p. 1). Essa concepção retrata a diversidade das práticas atuais no Brasil e estabelece como objeto não o aluno que não aprende, mas sim o processo de aprendizagem com toda a sua complexidade, envolvendo o sujeito, família, escola, sociedade e contexto sócio-histórico. 4.3 Desafios futuros da psicopedagogia no Brasil No último simpósio realizado pela ABPp, em 20162, coloca-se como tema de reflexão para o congresso, as diversas transformações vividas na atualidade de uma sociedade nomeada de aprendente, em que se observa que o conhecimento se torna um valor para estabelecer a convivência entre as pessoas. Também foram citados os diferentes modos de conhecimento e as novas formas de ensinar e de aprender. Entende-se como um dos desafios implícitos a necessidade do profissional de psicopedagogia de acompanhar e entender essas mudanças no cenário da aprendizagem. Em outro texto não tão recente, porém atual, Peres (1998) destaca como desafios naquele momento alguns que, ao nosso ver, ainda se fazem presentes: • o aumento de cursos de formação em psicopedagogia com qualidade; • delimitação do campo de atuação do psicopedagogo; • a incorporação de ações psicopedagógicas aos projetos pedagógicos nas unidades educacionais; 2 Fonte: <http://www.abppeventos.com.br/>. Acesso em: 5 out. 2017. http://www.abppeventos.com.br/ 37 • a popularização da psicopedagogia, ampliando sua intervenção para além das clínicas e escolas particulares. Certamente, o tema é vasto e conclui-se que o profissional de psicopedagogia precisa estar presente nas discussões que ainda se fazem necessárias para o avanço da área em nosso país. Questão para reflexão O artigo a seguir é de uma das principais autoras sobre a psicopedagogia no Brasil, Nádia Bossa. Ao ler o texto, identifique sua concepção de psicopedagogia e como ela se relaciona com a história da psicopedagogia no Brasil. O TRATAMENTO PSICOPEDAGÓGICO ____________________________________________________________ A especificidade do tratamento psicopedagógico consiste no fato de que existe um objetivo a ser alcançado: a eliminação do sintoma – os obstáculos na aprendizagem, diferentemente do que ocorre no tratamento psicoanalítico. Assim, a relação do psicopedagogo-paciente é mediada por atividades bem-definidas, cujo objetivo é solucionar rapidamente as consequências do sintoma, para logo depois mobilizar e desenvolver os recursos cognitivos. Esta é a maior complexidade na atuação do psicopedagogo, pois está relacionado com a operacionalização do trabalho e consequentemente com o êxito. Tal afirmação decorre da minha atuação como Supervisora. Frequentemente me deparado com situações em que, não podendo suportar as pressões (internas ou externas), o psicopedagogo opta por uma abordagem mais emergente, introduzindo o conteúdo escolar atual como tarefa nas seções, ou seja, buscando eliminar de pronto o sintoma. A pressão é interna e externa, 38 porque muitas vezes o profissional, devido à sua ansiedade, tenta apressar o processo, pois, assim como a criança, a sua autoestima depende de avaliação externa, de modo que chega a experimentar a mesma frustração que a criança vive na Escola. ____________________________________________________________ BOSSA, N. A. O tratamento psicopedagógico. Disponível em: <http://www.nadiabossa.com.br/index.php/o-tratamento- psicopedagogicohtml>. Acesso em: 10 out. 2017. 5. Considerações Finais • Em relação às dificuldades de aprendizagem, o aspecto orgânico do aluno não deixa de ser considerado, mas passa a ser visto em conjunto com outros aspectos, que envolvem, por exemplo, o cenário cultural. • A psicopedagogia pode ser vista no Brasil como um campo ainda em construção. • Ao longo da história, os fatores orgânicos perdem a primazia e ganha força a visão integrada do estudante que passa por um processo de aprendizagem, considerando a multiplicidade de fatores que estão envolvidos neste processo, para além do sujeito que aprende. • A década de 1980 merece destaque no desenvolvimento da Psicopedagogia no Brasil com a criação da ABPp – Associação Brasileira de Psicopedagogia. • Nos dias atuais ainda existem desafios acerca da identidade do profissional de psicopedagogia e de delimitação de sua área de atuação. http://www.nadiabossa.com.br/index.php/o-tratamento-psicopedagogicohtml http://www.nadiabossa.com.br/index.php/o-tratamento-psicopedagogicohtml 39 Glossário • Concepção adaptacionista: concepção que, na área de psicopedagogia, visa à adaptação do aluno a um modo sistematizado de aprender, instituído pelas escolas. • Diagnóstico psicopedagógico: o objetivo do diagnóstico é identificar os desvios e os obstáculos básicos no modelo de aprendizagem do sujeito. • Sintoma social: refere-se às alternativas que uma determinada cultura oferece aos sujeitos que nela se inserem para resolução de seus conflitos. O sintoma social só é social porque faz sentido em relação ao momento histórico de certa cultura; social ou particular, no entanto, o sintoma sempre fará sentido em relação à experiência do sujeito. De alguma forma, o sintoma sempre é relativo, em psicanálise, a uma história única, seja de uma sociedade ou de um sujeito. Verificaçãode leitura TEMA 02 1. Um dos países que mais influenciou a história da psicopedagogia no Brasil foi: a. Chile. b. Argentina. c. Colômbia. d. México. e. Uruguai. 40 2. A Teoria da carência cultural teve um impacto sobre os problemas de aprendizagem. Sendo que muitos teóricos, apoiados nas bases desta visão, consideravam que: a. Os problemas de aprendizagem eram originados da falta de professores bem formados. b. Os problemas de aprendizagem eram reflexos de uma cultura empobrecida, que oferecia poucos recursos as suas crianças. c. Os problemas de aprendizagem tinham relação com a deficiência de algumas vitaminas no organismo. d. Os problemas de aprendizagem eram oriundos de escolas que não utilizavam livros didáticos. e. Os problemas de aprendizagem tinham como causa principal o difícil relacionamento entre professor e aluno. 3. Assinale a alternativa que se refere ao que a tendência contemporânea na psicopedagogia acredita que possa contribuir para a compreensão do insucesso escolar: a. A relação do sujeito com o objeto de conhecimento. b. O número de horas que o sujeito passa na escola. c. O grau de instrução dos pais do estudante. d. A idade em que o estudante começou a falar. e. A quantidade de vezes que o estudante reprovou. 4. Um dos fatos mais importantes ocorridos no ano de 1980 para a psicopedagogia no Brasil foi: a. A criação das clínicas de leitura. b. A aprovação de um projeto de lei que regulamenta a profissão do psicopedagogo. 41 c. O surgimento de um grande autor brasileiro na área de psicopedagogia. d. A criação da Associação Brasileira de Psicopedagogia. e. O fechamento das classes especiais nas escolas. 5. Em relação aos desafios futuros da psicopedagogia, para o seu avanço no Brasil, é INCORRETO afirmar como um dos desafios: a. O aumento dos cursos de psicopedagogia com qualidade. b. A popularização da psicopedagogia. c. A delimitação do campo de atuação do psicopedagogo. d. A incorporação de ações psicopedagógicas aos projetos pedagógicos nas unidades educacionais. e. A reabertura das classes especiais para alunos com dificuldades de aprendizagem. Referências BOSSA, N. A. A psicopedagogia no Brasil: construção a partir da prática. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000. BOSSA, N. A. O tratamento psicopedagógico. (2004). Disponível em: <http://www. nadiabossa.com.br/index.php/o-tratamento-psicopedagogico.html>. Acesso em: 10 out. 2017. ABPp. Código de ética. 2011. Disponível em: <http://www.abpp.com.br/ documentos_referencias_codigo_etica.html>. Acesso em: set. 2017. COSTA, A. A.; PINTO, T. M. G.; ANDRADE, M. S. Análise Histórica do surgimento da psicopedagogia no Brasil. Id On Line Revista De Psicologia, ano 7, n. 20, jul./2013. http://www.nadiabossa.com.br/index.php/o-tratamento-psicopedagogico.html http://www.nadiabossa.com.br/index.php/o-tratamento-psicopedagogico.html http://www.abpp.com.br/documentos_referencias_codigo_etica.html http://www.abpp.com.br/documentos_referencias_codigo_etica.html 42 FONTES, M. A. Concepções de psicopedagogia no Brasil: reflexões a partir da teoria crítica da sociedade. Dissertação (Mestrado) – Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005. NOFFS N. A. A formação e regulamentação das atividades em psicopedagogia. Rev. Psicopedagogia, 2016; 33(100):110-120. PERES, M. R. Psicopedagogia: aspectos históricos e desafios atuais. Revista de Educação PUC – Campinas, 1998; v. 3 n. 5: 41-45. PORTELLA, F. O. Percursos históricos da psicopedagogia no Rio Grande do Sul. Rev. Psicopedagogia, 2005; 22(67):41-50. RUBINSTEIN, Edith; CASTANHO, Marisa; NOFFS, Neide. Rumos da psicopedagogia brasileira. Rev. Psicopedagogia, v. 21, n. 66, p. 225-238, 2004. Gabarito Questão 1 - Resposta: B A Argentina foi o primeiro país da América Latina a produzir conhecimentos na área de psicopedagogia, sendo, portanto, o que mais influenciou o Brasil em suas práticas e cursos de formação. Questão 2 - Resposta: B A teoria da “carência cultural” explicava que o fracasso escolar poderia ser atribuído ao meio cultural deficitário que os alunos viviam. Questão 3 - Resposta: A Um dos aspectos que a Tendência Contemporânea acredita que deve ser avaliado no processo de entendimento do que leva o sujeito a não conseguir obter sucesso na escola é justamente verificar como se dá a sua relação com o conhecimento. Questão 4 - Resposta: D 43 A criação da ABPp foi um marco para a produção do conhecimento em Psicopedagogia e também para a expansão da área de uma forma geral. Questão 5 - Resposta: E Cada vez mais, o que se busca em relação a psicopedagogia, é compreender as formas de aprendizagem do sujeito. As classes especiais vão contra essa direção e não se constituem de forma alguma como um desafio a ser superado. 44 A profissão e a ética do psicopedagogo Autoria: Rafaela de Menezes Souza Brissac Objetivos • Compreender os aspectos que diferenciam uma ocupação de uma profissão; • Esclarecer sobre os processos de formação em psicopedagogia existentes no Brasil; • Apresentar a trajetória dos profissionais em busca da legalização da profissão de psicopedagogo; • Conhecer os artigos que compõem o Código de Ética elaborado pela Associação Brasileira de Psicopedagogia. 45 1. Introdução A psicopedagogia, apesar de ser um trabalho exercido por inúmeros profissionais no Brasil, ainda não foi legalizada como uma profissão, ou seja, ainda não é reconhecida e, portanto, não possui Conselho que possa supervisionar suas atividades. Neste percurso ocorreram algumas iniciativas na tentativa de tornar a psicopedagogia reconhecida como profissão, e que serão apresentadas no decorrer da leitura. Os cursos de formação oferecidos em nosso país possuem papel fundamental no processo de fortalecimento da profissão de psicopedagogo. Neste tema iremos explorar também a formação do psicopedagogo. O Código de Ética, elaborado pela Associação Brasileira de Psicopedagogia, será apresentado com o objetivo de contribuir para a compreensão do papel do psicopedagogo na prática profissional. 2. A Psicopedagogia é uma profissão? A Constituição Brasileira de 1988 garante o livre exercício de qualquer trabalho ou profissão. A psicopedagogia está inserida na CBO (Classificação Brasileira de Ocupações) na família 2304-2, desde o ano de 2002. A CBO é um documento elaborado pelo Ministério do Trabalho que reconhece, nomeia e codifica os títulos e descreve quais são as características das ocupações do mercado de trabalho no Brasil. A última versão da CBO contém as ocupações organizadas e descritas por famílias. Cada família constitui um conjunto de ocupações similares. No que se refere à psicopedagogia, ela está inserida na família 2304-2, que inclui programadores, avaliadores e orientadores de ensino da grande área da educação (NOFFS, 2016). 46 Conforme ressalta Noffs (2016), nem todo o trabalho pode ser caracterizado como profissão. É possível identificar muitas práticas profissionais que são legitimadas pela sociedade, como é o caso da psicopedagogia, sem ser legalmente reconhecida enquanto profissão. Culturalmente, no Brasil, esse reconhecimento ocorre quando um órgão regulatório emite um certificado de conclusão de curso. A autora refere sobre o equívoco com o qual nos deparamos na psicopedagogia, pois o governo brasileiro credencia cursos de formação e especialização na área, “e que profissionalmente têm validade como conhecimento, mas que não se transformam em reconhecimento profissional” (NOFFS, 2016, p. 113). Além disso, o reconhecimento legal assegura às pessoas formadas o direito de exercer as atividades para as quais foram formadas, sendo regulamentados pelos conselhos federais os direitos e deveres para este exercício profissional. Para saber mais Os conselhos federais são autarquias criadas pelo governo federal que exercem o papel de emissão de números de registro profissional, fiscalizam e representam uma categoria profissional. A função primáriados conselhos profissionais é defender a sociedade dos maus profissionais. Também cabe ao conselho, por exemplo, redigir e fiscalizar a utilização do código de ética profissional e o juramento profissional. A partir do exposto, podemos considerar a psicopedagogia como uma prática profissional, que se origina de uma necessidade localizada na compreensão dos processos de aprendizagem, a princípio na 47 compreensão dos motivos que levam ao fracasso escolar. Argenti e Escott (2001) afirmam que o trabalho do psicopedagogo tem por objetivo que as pessoas consigam obter qualidade em suas relações com o conhecimento. O caminho para se tornar uma profissão regulamentada já conta com alguns anos de história, porém ainda sem sucesso. Veremos agora os principais movimentos ocorridos na busca pela regulamentação da psicopedagogia. 2.1 O percurso para a legalização da profissão de psicopedagogo no Brasil: principais iniciativas A busca pela legalização da profissão do psicopedagogo pode ser observada a partir de alguns movimentos ocorridos principalmente nos últimos 20 anos (FONTES, 2005; NOFFS, 2016; GONÇALVES, 2007; BOSSA, 2007). Alguns movimentos são observados na esfera jurídica, e envolvem a apresentação de projetos de lei, entre os quais se destacam os seguintes: • Projeto de Lei nº 3124/97: o deputado federal Barbosa Neto (GO), apresenta o projeto em 1997, indicando a necessidade da inserção de um profissional nas escolas, que tivesse como principal função a redução do fracasso escolar. Este profissional deveria ser o psicopedagogo. Este projeto passou por aprovação na Comissão de Trabalho e educação, mas em 2007 foi arquivado e se encontra assim até o momento1. • Projeto de Lei nº 128/2000: em 2001 foi aprovado no estado de São Paulo este projeto, de autoria do deputado Claury Santos Alves da Silva, que autoriza o Poder Executivo a implantar Assistência Psicológica e Psicopedagógica em todos os estabelecimentos de ensino público. O 1 Fonte:<http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=19139>. Acesso em: 9 dez. 2017. http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=19139 48 principal objetivo deste serviço era diagnosticar e prevenir problemas de aprendizagem. • Projeto de Lei nº 3512/2008: apresentado pela deputada federal Raquel Teixeira, trata-se do mesmo projeto nº 3124/97, do deputado Barbosa Neto. A deputada apresenta novamente este projeto sob o nº 3512/2008 e argumenta sobre a necessidade de uma revisão do projeto educacional brasileiro, que precisa investir na melhoria dos processos de aprendizagem, e que para isso, faz-se necessário um serviço desempenhado por um profissional especializado, o psicopedagogo. A deputada ressalta o papel deste profissional como aquele que pode aumentar as potencialidades de aprendizagem dos estudantes. Atualmente, este projeto está aguardando apreciação pelo senado federal2. Para saber mais Após a aprovação do Projeto de Lei nº 128/2000, o município de Ourinhos/SP incorporou o profissional psicopedagogo em seu Quadro de Magistério, através da Lei nº 387/2002, que dispõe sobre o Estatuto e Plano de Carreira do Magistério Público Municipal de Ourinhos. Este estatuto prevê o cargo de psicopedagogo como efetivo das instituições auxiliares da educação. Além dos movimentos citados acima, a criação da Associação Brasileira de Psicopedagogia ABPp também pode ser considerada como mais uma ação que visa à construção da identidade deste campo do conhecimento, buscando uma maior estruturação dos seus saberes e criando uma comissão responsável pelo processo de legalização. A ABPp foi fundada em 1980 (FONTES, 2005). 2 Fonte: <http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=398499>. Acesso em: 9 dez. 2017. http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=398499 49 De acordo com Bossa (2007), a questão da formação do psicopedagogo assume um papel de grande importância no Brasil, pois ela pode ser vista como um ponto de partida para a formação da identidade deste profissional. Ao mesmo tempo, se existe um conjunto de conhecimentos que subsidia um curso de formação para uma determinada prática profissional, é possível que este espaço, sendo bem delimitado, seja mais uma iniciativa rumo à regulamentação da profissão. Para saber mais Nadia Bossa é doutora em psicologia pela Universidade de São Paulo (USP), possui graduação em Psicologia, especialização em Neuropsicologia e em Psicopedagogia e Mestrado em Psicologia e Educação. É conhecida por seus livros, artigos, vídeos, cursos e palestras e tem contribuído significativamente para a formação dos psicopedagogos no Brasil. 3. A formação em Psicopedagogia Um dos grandes embates presentes nas discussões sobre a prática da psicopedagogia, e consequentemente em sua legalização como profissão é a questão da formação do psicopedagogo. Rubinstein, Castanho e Noffs (2004) referem que os cursos de especialização em Psicopedagogia já eram oferecidos por institutos particulares e associações de classe mesmo antes de haver cursos formais de especialização dentro das instituições de Ensino Superior. A psicopedagogia nasceu da “falta” de um conhecimento e de uma prática que pudesse atender às questões relativas às dificuldades de aprendizagem nos estudantes. Muitos profissionais que começaram 50 a atender a estes alunos, principalmente das áreas de pedagogia, psicologia e fonoaudiologia, perceberam que a formação específica em seus cursos de origem não era suficiente para atender a estas demandas. Era necessária uma formação interdisciplinar, que auxiliasse no entendimento do aluno e do seu processo de aprendizagem, considerando a complexidade dos fatores envolvidos. Para Noffs (2016) o conceito de formação está vinculado ao conceito de desenvolvimento pessoal, envolvendo um trabalho de autoconhecimento por parte do profissional, para que possa assumir o seu papel de facilitador da aprendizagem para as pessoas de forma geral. A autora comenta sobre o fato da formação se constituir como um processo de aprendizagem contínua, em todas as fases da vida do sujeito. No artigo em que propõe uma reflexão sobre a formação do psicopedagogo, a autora Neide Noffs (2016) faz um paralelo com os princípios apontados por Garcia (1995) em relação à formação de professores. A proposta foi a de buscar uma referência para pautar alguns princípios que pudessem servir de base para os cursos de formação de psicopedagogos. Uma síntese dessa reflexão pode ser observada no Quadro 1. Quadro 1 | Princípios norteadores para a formação em psicopedagogia Princípios da formação de professores (Garcia, 1995) Considerações em relação à psicopedagogia (Noffs, 2016) 1. Conceber formação como um processo contínuo, mantendo os princípios éticos, didáticos, pedagógicos onde a formação inicial e a permanente se articulam para o desenvolvimento profissional. Geralmente, a formação em Psicopedagogia se inicia na graduação (independente de qual seja o curso) e se especializa em cursos posteriores de psicopedagogia, se aprofundando na área de interesse do profissional. Desta forma, também se constitui como um processo permanente onde o profissional opta por ações de formação que o mantenham em constante desenvolvimento. 51 2. A formação deve se integrar a processos de mudança, inovação e desenvolvimento curricular. A psicopedagogia está concebida como uma proposta de mudança, de estimular a aprendizagem e também de descoberta de novos processos de ensino-aprendizagem. 3. A formação deve estar ligada ao desenvolvimento organizacional da escola. A psicopedagogia também está comprometida com o ambiente de aprendizagem na instituição, podendo ser a escola ou qualquer outra instituição em que se encontre espaços de aprendizagem, como hospitais, empresas, entre outros. 4. A formação deve integrar conteúdos acadêmicos e disciplinares e a formaçãopedagógica do professor. O psicopedagogo tem que possuir um conhecimento específico que possa colaborar com o processo do desenvolvimento dos aprendentes. Tais conhecimentos podem ser advindos da linguagem, da Pedagogia e da Psicologia. 5. A formação integra a teoria e a prática. Neste caso, a formação em psicopedagogia valoriza a prática como fonte de conhecimento, não como mais uma disciplina que compõe o currículo, mas sim como um espaço curricular que constrói o pensamento prático do profissional. 6. A formação deve procurar o isomorfismo entre a formação recebida e o tipo de educação que posteriormente será pedido que se desenvolva. Os cursos de psicopedagogia deveriam deixar claro para qual ambiente de trabalho estão focados, pois a generalização muitas vezes dificulta a inserção do profissional no mercado de trabalho. 7. A formação destaca o princípio da individualização como elemento integrante de qualquer programa de formação de professores. A psicopedagogia corrobora com esse princípio, sendo que as atividades que incentivam a formação pessoal, do próprio desenvolvimento do profissional enquanto pessoa, constitui uma das diretrizes dos cursos de formação. 8. A formação deve possibilitar o questionamento de suas crenças e práticas institucionais. A psicopedagogia valoriza a formação do profissional pesquisador, que possa, a partir da sua prática contribuir com as atualizações dos conhecimentos da área por meio de reflexões com outros psicopedagogos. Fonte: adaptada de Noffs (2016). Masini (2006) discute a formação profissional do psicopedagogo e acredita que deveria haver um processo de seleção de candidatos para os cursos de psicopedagogia, que levasse em conta não apenas os conteúdos e conhecimentos do profissional, mas também outros critérios que contemplassem a identificação do interesse pelo processo 52 de aprender por parte do candidato. A autora ainda ressalta a possibilidade de avaliação das condições de personalidade dos futuros psicopedagogos, e considera que candidatos que apresentassem problemas graves emocionais não deveriam participar dos cursos. Sobre o nível de educação em que deve ocorrer a formação em psicopedagogia, a autora acredita que os cursos devem permanecer em nível de pós-graduação: [...] pois só um conhecimento amplo de Educação e Psicologia, fundamentado em uma visão crítica da realidade social e da investigação científica, propiciaria ao psicopedagogo segurança para decidir sobre sua ação, bem como posicionar-se e justificar suas diretrizes de trabalho diante de outros profissionais que lidam com o aprendiz (MASINI, 2006, p. 257). Os cursos de psicopedagogia deveriam propiciar que: – o futuro psicopedagogo ampliasse sua percepção sobre as manifestações do sujeito em situação de aprendizagem, buscando compreender os fatores que facilitam ou que limitam o ato de aprender; – o psicopedagogo pudesse manter sua atenção à totalidade do sujeito, considerando o seu contexto, sua afetividade, seus valores e hábitos no ato de aprender; – o futuro profissional de psicopedagogia tivesse garantido o acesso aos conhecimentos sobre o desenvolvimento do ser humano e as principais teorias de aprendizagem; – o desenvolvimento de uma visão crítica sobre as teorias que embasam sua ação fosse propiciado durante o curso; e por último, que: – o psicopedagogo adotasse em sua prática o cuidado em analisar quando os recursos tecnológicos da atualidade estivessem distanciando o estudante de si próprio e de seus significados (MASINI, 2006). Atualmente, os cursos de psicopedagogia acontecem em sua maioria como cursos de pós-graduação no Brasil. Como cursos de pós-graduação, não há uma exigência de um curso de graduação específico anterior ao curso de pós, mas a maioria dos profissionais que se inscrevem nestes cursos são graduados em pedagogia e 53 psicologia. Em relação aos cursos de graduação que existem no Brasil atualmente, ainda são poucos e os alunos que se formam nesses cursos também vivem a mesma condição de estar graduado em uma prática profissional, mas que não se configura como uma profissão regulamentada (BOSSA, 2007). 4. A ética do Psicopedagogo Como já vimos anteriormente, a profissão de psicopedagogia não é regulamentada e, portanto, não possui um Conselho de Registro Profissional. Normalmente, quando uma profissão é regulamentada, são os conselhos que elaboram o código de ética que rege a prática dos profissionais daquela área. Preocupada com as questões relativas à identidade e às práticas exercidas por psicopedagogos, em 1992, a ABPp organizou um documento, que foi aprovado em assembleia durante o V Encontro e II Congresso de Psicopedagogia, e que foi denominado como Código de Ética (GONÇALVES, 2007). Desde a sua criação, ele já passou por três reformulações, a primeira foi realizada no biênio 1995/1996, a segunda no triênio 2008/2010 e a terceira no triênio 2011/2013. O Código é composto por dez capítulos, que tratam dos seguintes aspectos3: • Capítulo I: dos princípios • Capítulo II: da formação • Capítulo III: do exercício das atividades psicopedagógicas 3 Fonte: <http://www.abpp.com.br/documentos_referencias_codigo_etica.html>. Acesso em: 9 dez. 2017. http://www.abpp.com.br/documentos_referencias_codigo_etica.html 54 • Capítulo IV: das responsabilidades • Capítulo V: dos instrumentos • Capítulo VI: das publicações científicas • Capítulo VII: da publicidade profissional • Capítulo VIII: dos honorários • Capítulo IX: da observância e do cumprimento do código de ética • Capítulo X: das disposições gerais Dentre os capítulos existentes no Código de Ética, optou-se por apresentar, neste tema, os capítulos III e IV, que tratam do exercício das atividades psicopedagógicas, e das responsabilidades do psicopedagogo, conforme visto a seguir: Capítulo III – Do exercício das atividades psicopedagógicas Artigo 6º Estarão em condições de exercício da Psicopedagogia os profissionais graduados e/ou pós-graduados em Psicopedagogia – especialização “lato sensu” – e os profissionais com direitos adquiridos anteriormente à exigência de titulação acadêmica e reconhecidos pela ABPp. É indispensável ao psicopedagogo submeter-se à supervisão psicopedagógica e recomendável processo terapêutico pessoal. Parágrafo 1º O psicopedagogo, ao promover publicamente a divulgação de seus serviços, deverá fazê-lo de acordo com as normas do Estatuto da ABPp e os princípios deste Código de Ética. Parágrafo 2º Os honorários deverão ser tratados previamente entre o cliente ou seus responsáveis legais e o profissional, a fim de que: 55 a) representem justa contribuição pelos serviços prestados, considerando condições socioeconômicas da região, natureza da assistência prestada e tempo despendido; b) assegurem a qualidade dos serviços prestados. Artigo 7º O psicopedagogo está obrigado a respeitar o sigilo profissional, protegendo a confidencialidade dos dados obtidos em decorrência do exercício de sua atividade e não revelando fatos que possam comprometer a intimidade das pessoas, grupos e instituições sob seu atendimento. Parágrafo 1º Não se entende como quebra de sigilo informar sobre o cliente a especialistas e/ou instituições, comprometidos com o atendido e/ou com o atendimento. Parágrafo 2º O psicopedagogo não revelará como testemunha, fatos de que tenha conhecimento no exercício de seu trabalho, a menos que seja intimado a depor perante autoridade judicial. Artigo 8º Os resultados de avaliações só serão fornecidos a terceiros interessados, mediante concordância do próprio avaliado ou de seu representante legal. Artigo 9º Os prontuários psicopedagógicos são documentos sigilosos cujo acesso não será franqueado a pessoas estranhas ao caso. Artigo 10º O psicopedagogo procurará desenvolver e manter boas relações com os componentes de diferentes categorias profissionais, observando para esse fim, o seguinte: a) trabalhar nos estritos limites
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