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conceitos psicopedagogicos

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CONCEITOS PSICOPEDAGÓGICOS
2
2017
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
Homepage: http://www.kroton.com.br/
Autoria: Profª. Rafaela de Menezes Souza Brissac.
Como citar este documento: BRISSAC, Rafaela de Menezes Souza. Conceitos 
psicopedagógicos. Valinhos: 2017.
© 2017 por Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser 
reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, 
eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de 
sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, 
por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A.
3
SUMÁRIO
Apresentação da disciplina _________________________________ 04
Perspectiva histórica: a construção da psicopedagogia_____ 05
Psicopedagogia no Brasil __________________________________ 26
A profissão e a ética do psicopedagogo ____________________ 44
Proposições e papel da ABPp ______________________________ 64
O psicopedagogo e seu objeto de estudo __________________ 80
A questão da aprendizagem _______________________________ 97
Intervenção psicopedagógica no fracasso escolar __________ 118
Apoio das neurociências ___________________________________ 141
CONCEITOS PSICOPEDAGÓGICOS
4
Apresentação da disciplina
A disciplina “Conceitos psicopedagógicos” aborda de forma clara e 
objetiva os conceitos que embasam a psicopedagogia como um campo 
de conhecimento teórico e prático. Inicialmente será apresentada uma 
perspectiva histórica da psicopedagogia, contextualizando a origem 
dela no mundo e no Brasil. O entendimento do processo histórico, 
que envolve a prática e o nascimento dessa área como uma área do 
conhecimento, permite ao leitor compreender os principais aspectos 
que levaram os profissionais da época a buscar um tipo de intervenção 
voltada para crianças que apresentavam dificuldades de aprendizagem.
Entender o papel profissional do psicopedagogo também é um 
dos objetivos que se estabelece com esta disciplina. Para tal, serão 
abordados pontos importantes previstos no código de ética, que foi 
elaborado pela ABPp – Associação Brasileira de Psicopedagogia. Este 
conhecimento se mostra imprescindível para todos os profissionais que 
já atuam ou que pretendem atuar como psicopedagogos.
Além disso, serão explicitados o objeto de estudo da psicopedagogia, 
quem é o sujeito que recebe este atendimento e qual o campo de 
atuação para os profissionais dessa área. Os estudos mais recentes, 
que envolvem o impacto das neurociências frente ao fracasso escolar, 
também serão apresentados nesta disciplina. De forma geral, os 
assuntos que serão aqui abordados irão constituir uma base importante 
para o entendimento da psicopedagogia como área de conhecimento e 
prática profissional.
5
Perspectiva histórica: a 
construção da psicopedagogia
Autoria: Rafaela de Menezes Souza Brissac
Objetivos
• Contextualizar o período histórico em que se 
iniciam as preocupações com os problemas de 
aprendizagem;
• Propiciar a compreensão dos aspectos que levaram 
ao surgimento da Psicopedagogia enquanto área de 
conhecimento;
• Contribuir para o entendimento do caráter 
multidisciplinar da psicopedagogia, localizando as 
bases teóricas que serviram de respaldo para a sua 
construção;
• Elucidar os movimentos iniciais ocorridos na 
França, que contribuíram para o fortalecimento da 
psicopedagogia e sua especificidade;
• Promover o conhecimento das etapas do 
desenvolvimento da psicopedagogia na Argentina.
6
1. Introdução
A psicopedagogia enquanto área do conhecimento pode ser considerada 
recente em relação a outras áreas. A preocupação com os problemas 
de aprendizagem foi o que deu início a construção dessa área que hoje 
se encontra mais consolidada. Esta preocupação despertou o interesse 
de profissionais de diversas formações, incluindo médicos, pedagogos, 
psicólogos, entre outros.
Conhecer as origens da psicopedagogia, bem como compreender o 
momento histórico em que se deu o seu início contribui para a formação 
do profissional que pretende atuar nesta área. O tema a seguir abordará 
toda a trajetória do desenvolvimento da psicopedagogia, desde o seu 
surgimento na França até o momento de sua chegada no Brasil. Para 
isso, serão apresentados os principais fatos históricos que influenciaram 
o pensamento dos primeiros estudiosos que se dedicaram a entender 
os chamados “distúrbios de aprendizagem” no século XIX. Você terá 
a oportunidade de conhecer a trajetória dos cursos de formação em 
psicopedagogia na Argentina, país que mais influenciou o Brasil em suas 
práticas psicopedagógicas.
A importância deste tema “Perspectiva histórica: a construção da 
Psicopedagogia” é imprescindível, uma vez que propicia o entendimento 
de aspectos que sustentam hoje a prática e as intervenções realizadas 
por psicopedagogos.
2. O conceito de Psicopedagogia
A princípio, ao ouvirmos a palavra “psicopedagogia”, é natural 
pensarmos que este é um termo que combina ou tenta fazer a junção 
entre dois campos do conhecimento, o da psicologia e o da pedagogia. 
A própria explicação do que vem a ser psicopedagogia, muitas vezes, se 
7
baseia nessa combinação/junção destes dois campos, ou da incidência 
de um sobre o outro, por exemplo: a aplicação da psicologia na prática 
pedagógica, ou a aplicação da pedagogia na prática psicológica. 
Não é incomum haver equívocos na explicação do que vem a ser a 
psicopedagogia, até mesmo por parte daqueles que estão diretas ou 
indiretamente envolvidos com educação.
Ao buscarmos as definições de psicopedagogia em dicionários da língua 
portuguesa, temos como resultados:
• Pedagogia baseada na psicologia científica, especialmente da 
criança.1
• Utilização pedagógica da psicologia (por meio de testes, prática de 
métodos ativos ou emprego da psicanálise2.
Vários autores contribuíram na tentativa da formação da psicopedagogia 
como uma ciência com um corpo teórico próprio, a começar pela 
tentativa em defini-la. Muitos concordam que ela surgiu na fronteira 
entre a pedagogia e a psicologia, mas é preciso cautela nesta afirmação.
Kiguel (1991 apud BOSSA, 2007) refere que a psicopedagogia tem 
como objetivo atender às crianças que não conseguiam aprender no 
sistema convencional de educação, e que, portanto, eram consideradas 
crianças com “distúrbios de aprendizagem”. O autor destaca a utilização 
de fatores etiológicos para explicar índices altos do fracasso escolar, 
envolvendo principalmente: desnutrição, problemas neurológicos, 
psicológicos, entre outros. Durante muito tempo foi aceita no Brasil e 
no mundo, a ideia de que os problemas de aprendizagem estivessem 
relacionados a fatores neurológicos. Isso demonstra a valorização de 
uma concepção organicista.
1 Fonte: <https://dicionariodoaurelio.com/psicopedagogia>. Acesso em: 1 out. 2017.
2 Fonte: <https://www.dicio.com.br/psicopedagogia>. Acesso em: 1 out. 2017.
https://dicionariodoaurelio.com/psicopedagogia
https://www.dicio.com.br/psicopedagogia
8
Para saber mais
Em 1981, o National Joint Comitee for Learning Disabilities 
trouxe como definição de distúrbios de aprendizagem 
que “é um termo genérico que se refere a um grupo 
heterogêneo de alterações manifestas por dificuldades 
significativas na aquisição e uso da audição, fala, leitura, 
escrita, raciocínio ou habilidades matemáticas” (MOYSES; 
COLLARES, 1992).
Apesar de ter surgido na fronteira entre essas duas ciências, não é 
possível reduzir este campo somente a elas, principalmente porque o 
ser humano é um ser pluridimensional (COSTA; PINTO; ANDRADE, 2013). 
Para Bossa (2007) é preciso reconhecer o caráter interdisciplinar desse 
campo de estudo, e ao mesmo tempo fortalecer a sua especificidade 
enquanto prática profissional. Neste sentido, a autora resgata a ideia de 
que a psicopedagogiasurgiu inicialmente como área de aplicação, para 
depois se tornar uma área de estudos.
O objeto de estudo da psicopedagogia, assim como sua definição, 
passou por diversas fases, em função dos diferentes momentos 
históricos, contudo, é possível afirmar que, inicialmente, o principal 
objeto de prática e estudo da psicopedagogia remetia ao cuidar ou tratar 
dos problemas de aprendizagem (BOSSA, 2007).
Com o passar do tempo, a visão do que seria o objeto de estudo 
da psicopedagogia começa a ser ampliada e discutida sob diversos 
aspectos. Nesse sentido, a contribuição de Kiguel (1991) merece 
destaque. Para o autor, num primeiro momento, havia um interesse da 
psicopedagogia em desenvolver metodologias que atendessem melhor 
àqueles que tinham dificuldades para aprender, ou seja, o foco estava na 
reeducação, ou na remediação e o objetivo era fazer com que o sintoma 
9
(dificuldade) desaparecesse. Num segundo momento, a psicopedagogia 
passa a se ocupar com a compreensão do processo de aprendizagem, 
buscando entender como ocorre a relação entre o aprendiz e o 
processo de aprendizagem. Neste momento, o objeto de estudo da 
psicopedagogia torna-se mais abrangente, e envolve o conhecimento de 
como se dá o processo de aprendizagem como um todo, e não só em 
corrigir os problemas de aprendizagem.
Podemos dizer então que, no início, o objeto de estudo era o sujeito 
que não podia aprender. Foi um período em que se buscava estabelecer 
a “normalidade”, e tudo que se diferenciava disso, caracterizando a 
anormalidade, se tornava objeto da psicopedagogia. Posteriormente, 
a psicopedagogia passa a ter uma visão mais ampla, ao considerar a 
complexidade do ser humano e compreender que o “não aprender” 
pode ser visto como uma forma diferente de aprender. Abre-se espaço 
para a singularidade do sujeito que aprende. Leva-se em conta diversos 
fatores que podem influenciar nesse processo, principalmente o 
contexto. A visão organicista passa a ter menos valor, e o conceito de 
anormalidade começa a cair em desuso, propiciando a compreensão 
por parte dos profissionais da área, de que a forma de aprender de cada 
indivíduo, pode se dar de modos diferentes, singulares (BOSSA, 2007).
Com isso, ao estabelecer como objeto de estudo as questões relativas à 
aprendizagem, este campo de conhecimento ganha especificidade. Ao 
mesmo tempo que ganha especificidade, se constitui como um campo 
multidisciplinar, se ancorando em ciências já estruturadas na época. 
Inicialmente recebeu a influência da medicina, psicanálise, psicologia e 
pedagogia, para se fortalecer enquanto uma área do conhecimento.
É consenso que o objetivo da psicopedagogia é contribuir com a 
diminuição do fracasso escolar, a partir do entendimento dos problemas 
de aprendizagem e do processo que leva o indivíduo a aprender, 
permitindo assim a elaboração de práticas que se mostrem eficientes, 
10
considerando a singularidade do aprendiz (BOSSA, 2007; FONTES, 2005; 
COSTA, PINTO; ANDRADE, 2013).
Um conceito utilizado atualmente pode ser encontrado no código de 
ética formulado pela ABPp (Associação Brasileira de Psicopedagogia). O 
artigo 1° traz que:
A Psicopedagogia é um campo de atuação em Educação e Saúde que se 
ocupa do processo de aprendizagem considerando o sujeito, a família, a 
escola, a sociedade e o contexto sócio-histórico, utilizando procedimentos 
próprios, fundamentados em diferentes referenciais teóricos (CÓDIGO DE 
ÉTICA E ESTATUTO DA ABPp, 2011). 
Ao apontarmos os aspectos acima, fica claro que entender o conceito 
de psicopedagogia implica muito mais do que buscar uma definição, 
requer uma compreensão do seu objeto de estudo, do seu objetivo 
enquanto prática e campo de conhecimento e também das teorias que 
embasam essa prática. Todos estes aspectos se tornam mais claros 
quando conhecemos a história da psicopedagogia, compreendendo os 
fatores que contribuíram para o seu surgimento, como poderá ser visto 
no próximo tópico.
3. O surgimento da psicopedagogia: o resgate 
histórico
De acordo com Bossa (2007), a psicopedagogia teve origem, ainda no 
século XIX na Europa, mais precisamente na França. O resgaste histórico 
deste período faz-se necessário, na medida em que contextualiza as 
bases que permearam o pensamento dos teóricos da época.
No século XIX consolida-se fortemente o capitalismo industrial. Com isso, 
a maior parte dos regimes políticos, que neste período eram conduzidos 
pela monarquia, passam a adotar outros tipos de regime político. A 
11
extinção dos regimes monárquicos promove, de certa forma, a chegada 
da burguesia ao poder. Assim, a burguesia passa a deter, além do poder 
econômico, também o poder político (BOSSA, 2007; FONTES, 2005).
Além disso, o capitalismo industrial, por conta de suas próprias 
características enquanto sistema econômico, contribui para o 
enfraquecimento dos ideais burgueses de “igualdade e fraternidade”. Em 
outras palavras, este tipo de sistema não favorece a possibilidade real de 
uma sociedade fraterna e igualitária para todos.
Como consequência, surge a necessidade de justificar as desigualdades 
que se apresentam como frutos dessa “sociedade de classes”, inerente ao 
capitalismo. A explicação para as desigualdades presentes nesta sociedade 
emergente será fundamentada na ciência e nas formulações teóricas 
da época. Hobsbawn (1998, apud BOSSA, 2007) aponta que a sociedade 
burguesa desse período estava orgulhosa de seus avanços na ciência. 
E mais do que isso, estava preparada para subordinar todas as outras 
atividades intelectuais a estes avanços científicos. Havia uma crença no 
cientificismo, que sugeria a existência de um conhecimento seguro e certo, 
quando produzido por meio da aplicação de um método científico.
O conhecimento produzido por meio da aplicação de métodos e da 
racionalidade empírica tem início no final do século XVI, com Francis 
Bacon, que pode ser considerado o precursor da chamada ciência 
moderna e positiva. Apesar de ter surgido no século XVI, será somente 
a partir do século XIX que as ideias de Bacon ganham força. A influência 
do seu pensamento domina o pensamento científico até os dias de hoje 
(BOSSA, 2007).
Para saber mais
Francis Bacon (1561-1626) foi um filósofo, político e ensaísta 
inglês, que contribuiu para uma mudança na forma de 
12
produzir conhecimento. Uma breve biografia que pode 
auxiliar na compreensão do pensamento do filósofo pode 
ser vista no site ebiografia.
Quando a ciência positiva ganha força, principalmente por operar 
com fatos objetivos e precisos, que se mostram ligados entre si, 
numa espécie de cadeia de causa e efeito, a forma de se produzir 
conhecimento muda completamente. Qualquer conhecimento que era 
produzido por métodos advindos do racionalismo empírico era aceito na 
época, como leis uniformes e invariantes. É possível considerar que este 
período do século XIX, com a concepção positiva de ciência, marca o fim 
de um estágio da humanidade em que o entendimento dos fenômenos 
do Universo era proveniente de superstição e especulação metafísica 
(HOBSBAWM, 1988).
Todas as teorias que apareceram no decorrer do século XIX possuíam a 
concepção positivista. Como exemplo, Bossa (2007) destaca a psicologia, 
que neste período surge como ciência independente, e que assim 
como outras ciências e teorias da época, se ancorou nos princípios da 
biologia para construir seu corpo teórico. Percebe-se um movimento 
de aplicar as leis que regem a natureza sendo aplicadas também para 
a compreensão do homem e da sociedade como um todo. No que 
se refere à psicologia, Patto (1996, apud BOSSA, 2007) refere que o 
comportamento passa a ser medido e controlado no laboratório. O 
caráter hereditário e genético é valorizado, e alguns testes psicológicos, 
principalmente os de inteligência, tentam comprovar que a capacidade 
intelectual do ser humano é resultado de aptidões naturais e humanas, 
geneticamente herdadas.
13
4. O reflexo da ciência moderna na escola: o 
início da psicopedagogia curativaTodo o percurso histórico apresentado até o momento contribui para o 
entendimento do contexto em que nasceu a Psicopedagogia e das raízes 
científicas por trás do pensamento dos profissionais envolvidos com a 
educação na época.
Os testes psicológicos, conforme citados anteriormente, passam a ser 
valorizados, em virtude do seu caráter científico. Na escola, os testes 
irão tentar explicar as diferenças de rendimento entre os alunos. Como 
este conhecimento (dos testes) era produzido cientificamente, era 
considerado, portanto, único e verdadeiro, direcionando as ações de 
psicólogos e pedagogos da época. Todo esse percurso histórico nos 
ajuda a compreender o enfoque orgânico, que inicialmente orientou 
médicos, educadores e terapeutas na forma de entender os problemas 
de aprendizagem.
Bossa (2007) aponta que estudos neurológicos, neurofisiológicos e 
neuropsiquiátricos passam a ser estimulados, e passam a classificar de 
forma taxativa como “anormais” os pacientes que não alcançam os índices 
considerados “normais” como resultados destes estudos. Dos centros 
psiquiátricos para a escola, o conceito de anormalidade passou a ser 
utilizado com as crianças que não conseguiam aprender. Por trás dessa 
visão, havia a interpretação de que o fator causador do fracasso escolar da 
criança que não aprendia era alguma anomalia. Dessa forma, a criança que 
não conseguia aprender era vista como “anormal”. Sua dificuldade era vista 
como um distúrbio, uma anomalia anatomofisiológica.
Para saber mais
Binet (1857-1911), pesquisador de Psicologia Experimental 
criou uma escala de inteligência, que tentava separar 
14
a inteligência natural da inteligência desenvolvida pela 
educação. Aqueles que não conseguiam atingir a “norma” 
eram categorizados como anormais. Esse conceito de 
anormalidade no cotidiano escolar evidenciou problemas que 
os professores não se sentiam preparados para resolver.
O início da Psicopedagogia estava marcado por uma maior preocupação 
com as deficiências sensoriais e debilidades mentais do que 
propriamente pela desadaptação infantil. Em 1946, após a segunda 
guerra mundial, é fundado o primeiro Centro Médico-Psicopedagógico 
em Paris, pelos psicanalistas franceses Juliette Boutonier e George 
Mauco. Este centro tinha por objetivo articular Medicina, Psicologia, 
Psicanálise e Pedagogia, com a finalidade de entender e resolver os 
problemas de aprendizagem na escola. Este primeiro enfoque estava 
amparado na Biologia e Medicina, e o objetivo final era conseguir uma 
readaptação do aluno ao sistema de ensino, de modo a alcançar o 
sucesso escolar (FONTES, 2005).
A “psicopedagogia curativa”, termo criado pela autora francesa Janine 
Mery, também segue nessa linha, e pode ser entendida como um 
método que favorecia a readaptação pedagógica do aluno, buscando 
tratar crianças e adolescentes que tinham problemas escolares (BOSSA, 
2007). Uma outra definição para “psicopedagogia curativa” seria: “uma 
terapêutica para entender a criança e adolescentes desadaptados que, 
embora inteligentes, tinham maus resultados escolares” (COSTA; PINTO; 
ANDRADE, 2013, p. 11).
5. Os avanços da psicopedagogia na argentina
A psicopedagogia argentina exerce grande influência na psicopedagogia 
brasileira, portanto, é indispensável conhecer sua história e seus 
15
pressupostos teóricos para então, compreendermos as bases que 
sustentam a prática da psicopedagogia no Brasil.
Como primeiro país da América Latina a se envolver mais fortemente 
com as questões de aprendizagem, e com a psicopedagogia de fato, 
a Argentina teve papel importante no desenvolvimento deste campo 
de conhecimento. O início da psicopedagogia no país é definido mais 
por suas práticas, pelas intervenções, para depois se estruturar como 
um curso de formação. Bossa (2007) refere que alguns profissionais de 
outras áreas viram a necessidade de uma prática que pudesse resolver 
os fracassos escolares e começaram fazendo reeducação, trabalhando 
principalmente com as funções egoicas: memória, percepção, atenção, 
motricidade e pensamento, medindo esses déficits e propondo 
tratamentos para resolver as falhas presentes. Havia forte influência 
do pensamento francês nas práticas e nas formas de conceber a 
psicopedagogia na Argentina (COSTA; PINTO; ANDRADE, 2013).
Foi em 1956 que a profissão de psicopedagogia se torna mais 
estruturada no país, com a abertura do primeiro curso universitário, na 
Universidade de Salvador em Buenos Aires (RENAULT, 2006). O curso 
funcionava junto à Faculdade de Psicologia, e possuía um enfoque de 
especialização para professores (COSTA; PINTO; ANDRADE, 2013).
Diversos autores apontam que é possível observar que houve três 
momentos distintos na psicopedagogia da Argentina, que podem 
ser observados principalmente em função das mudanças no curso, e 
consequentemente na formação do profissional de psicopedagogia 
(BOSSA, 2007; FONTES, 2005; COSTA; PINTO; ANDRADE, 2013). Estes 
mesmos autores apontam as principais características presentes em 
cada um destes momentos, observados na forma como os cursos se 
estruturavam, conforme exposto a seguir:
1° MOMENTO (referente aos planos de estudos dos anos de: 1956, 
1958 e 1961):
16
• Para participar do curso era necessário ter o título de docente, ou 
seja, o diploma da escola normal.
• O profissional de psicopedagogia tinha como principal objetivo 
enfrentar os graves problemas que a pedagogia enfrentava, a 
saber: crise na escola, métodos inadequados, aumento no número 
de matrículas (expansão demográfica pós-guerra), evasão escolar, 
repetência e dificuldades na aprendizagem sistemática.
• A proposta do curso tinha uma ênfase na formação filosófica, 
psicológica e na nova prática, a psicopedagogia.
• A duração do curso era de 3 anos.
2° MOMENTO (referente aos planos de estudos dos anos de 1963, 
1964 e 1969):
• Em função da influência da Psicologia Experimental, a formação do 
psicopedagogo passou a incluir o conhecimento de instrumentos 
de medição, que pudesse contribuir para a avaliação das funções 
cognitivas e afetivas do estudante.
• A inclusão de disciplinas relativas a instrumentos e testes 
psicológicos aumenta a duração do curso que passa a ter quatro 
anos.
• Em 1969, a escola normal é extinta na Argentina e o curso começa 
a receber alunos com título secundário de várias procedências, que 
não necessariamente possuíam conhecimentos de pedagogia ou 
didática.
• Torna-se imprescindível uma reformulação do currículo.
3° MOMENTO (referente ao plano de ensino do ano de 1978):
17
• Cria-se a licenciatura em psicopedagogia, tornando o curso uma 
carreira de graduação.
• O curso passa a ter duração de cinco anos.
• Inclui-se as disciplinas “Clínicas Pedagógicas I e II”, com o objetivo 
de valorizar o papel do profissional do psicopedagogo enquanto 
terapeuta.
As mudanças ocorridas em função do plano de ensino de 1978 se mantêm 
até hoje na Argentina, e a inclusão do olhar e da escuta clínica psicanalítica 
retrata o perfil atual do profissional de psicopedagogia do país. Valorizou-se 
a área clínica, incluindo diagnóstico e tratamento (FONTES, 2005).
Para saber mais
A partir de 1984, com a Resolução nº 2473/84 do Ministério 
da Educação Argentina, são definidas, oficialmente, as 
incumbências da profissão naquele país. Assim, a partir 
de então a clínica passa a ser praticada somente por 
licenciados.
No processo do desenvolvimento da psicopedagogia ocorrido na 
Argentina nota-se que houve uma mudança na abordagem desta 
prática, que foi da “reeducação” à “clínica”. Esta mudança é decorrente 
da percepção de alguns profissionais, que ao conseguirem cuidar dos 
problemas de aprendizagem dos indivíduos, após algum tempo, surgiam 
outros problemas mais graves de natureza psicológica. Os profissionais 
entenderam que a questão da aprendizagem podia ser vista como 
um sintoma de alguma enfermidade mais grave, e por isso, viu-se a 
necessidade de incluir em seu trabalho o olhar e a escuta clínica, que 
traduz o perfil do profissionalde psicopedagogia da Argentina até os 
dias de hoje (BOSSA, 2007).
18
Bossa (2007) ressalta que a atuação psicopedagógica na Argentina está 
então ligada às áreas de educação e saúde. Sendo a principal função do 
psicopedagogo na educação contribuir para a diminuição do fracasso 
escolar, e na saúde, sua função é reconhecer e atuar sobre as alterações da 
aprendizagem sistemática, buscando descobrir como o sujeito aprende, por 
meio de diagnósticos, testes, entrevistas com pais, entre outros recursos.
De acordo com Fontes (2005), as autoras que mais contribuíram nesta 
última fase de desenvolvimento da psicopedagogia na Argentina foram 
Alicia Fernandez e Sarah Pain.
Para saber mais
Cruzando as fronteiras da história da psicopedagogia: uma 
entrevista com Alicia Fernández.
LELIS, Maria Terezinha Carrara. Cruzando as fronteiras 
da história da psicopedagogia: uma entrevista com Alicia 
Fernández. Rev. Psicopedagogia, São Paulo, v. 25, n. 78, p. 
186-197, 2008.
A psicopedagogia no Brasil recebe forte influência destas autoras. 
Argenti e Escott (2001) referem que as autoras possuem uma visão 
psicopedagógica mais ampla, e que consideram a aprendizagem 
como uma articulação da inteligência, desejo, corpo e organismo, 
aproximando mais a teoria psicanalítica da psicopedagogia.
A história da psicopedagogia nos possibilita o entendimento de como se 
desenvolveu esse campo de conhecimento no Brasil, que será o assunto 
do próximo tema desta disciplina: A psicopedagogia no Brasil.
19
Questão para reflexão
A psicopedagogia possui uma história construída por 
muitas mãos. Psicólogos, médicos, pedagogos, filósofos, 
entre outros profissionais. Após a leitura deste tema, é 
possível identificar que os problemas de aprendizagem 
possuem uma causa única? Vivemos uma época de intensa 
medicalização na escola. Em sua opinião, este ainda 
pode ser considerado um reflexo da “biologização” dos 
problemas de aprendizagem?
6. Considerações finais
• O conceito de psicopedagogia não pode ser reduzido à aplicação 
dos conhecimentos psicológicos à pedagogia e tampouco dos 
conhecimentos pedagógicos à psicologia.
• No início, o objeto de estudo da psicopedagogia era o 
sujeito que não aprendia. Foi um período em que se 
buscava estabelecer a “normalidade” dentro do processo 
de aprendizagem, e tudo que se diferenciava disso era 
considerado como “anormal” e se tornava objeto de estudo da 
psicopedagogia.
• O capitalismo industrial contribuiu para que as desigualdades 
ficassem mais evidentes, em função das próprias características 
deste sistema econômico.
• A explicação para as desigualdades presentes nesta sociedade 
emergente será fundamentada na ciência e nas formulações 
teóricas da época, ganhando força a ciência moderna e 
positiva.
20
• Ocorre uma valorização da testagem, e de todo conhecimento 
objetivo, passível de mensuração.
• A criança que não conseguia aprender era considerada 
anormal, de forma que não se adaptava ao sistema 
educacional.
• A “psicopedagogia curativa” surge com o objetivo de favorecer 
a readaptação pedagógica do aluno.
• A psicopedagogia na Argentina recebeu forte influência da 
França e tem início na prática para depois focar nos cursos de 
formação.
• A psicopedagogia, de forma geral, passa a ter um caráter 
clínico e institucional, tanto na Argentina quanto em outros 
países.
Glossário
• Cientificismo: é a tendência intelectual ou concepção filosófica 
de matriz positivista que afirma a superioridade da ciência sobre 
todas as outras formas de compreensão humana da realidade 
(religião, filosofia, metafísica etc.).
• Funções egoicas: são forças do ego importantes para a 
compreensão dinâmica do comportamento, e podem ser divididas 
em: a) funções egoicas básicas – voltada para o mundo exterior 
e para aspectos de si próprio: percepção atenção, memória, 
pensamento, previsão (programação da ação) execução, controle 
e coordenação de ação; b) funções defensivas – têm a finalidade 
de neutralizar ansiedades criadas entre condições de realidade, 
fantasias, impulsos e proibições: dissociação, negação e evitação e 
trabalham simultaneamente com as funções básicas psicológicas; 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Filos%C3%B3fica
https://pt.wikipedia.org/wiki/Positivista
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ci%C3%AAncia
https://pt.wikipedia.org/wiki/Compreens%C3%A3o
https://pt.wikipedia.org/wiki/Religi%C3%A3o
https://pt.wikipedia.org/wiki/Filosofia
https://pt.wikipedia.org/wiki/Metaf%C3%ADsica
21
c) funções integradoras, sintéticas ou organizadoras – A força 
destas funções integradoras é “posta àa prova” quando diante de 
mudanças na situação de vida, o sujeito tem que reorganizar suas 
relações com o mundo , através de uma mobilização seletiva de 
novas funções de adaptação.
• Visão organicista: visão pautada no organicismo, que é uma 
teoria segundo a qual as doenças são resultadas de lesões em 
algum órgão.
Verificação de leitura
TEMA 01
1. O primeiro centro médico psicopedagógico, fundado por 
Boutonier e Mauco, teve como sede:
a. Alemanha.
b. França.
c. Brasil.
d. Argentina.
e. Estados Unidos.
2. Desde o seu surgimento, o objetivo da psicopedagogia 
passou por algumas modificações em função do 
seu próprio desenvolvimento enquanto campo de 
conhecimento, e também, em função da influência 
dos diversos teóricos que contribuíram para o 
fortalecimento da prática psicopedagógica. No entanto, 
é correto afirmar, que no início o principal objetivo da 
psicopedagogia era o de:
22
a. Promover a escuta psicanalítica das crianças que 
apresentavam distúrbios de aprendizagem.
b. Colaborar para a melhoria no relacionamento entre 
professor X aluno.
c. Impedir que crianças com dificuldades de 
aprendizagem interferisse negativamente na 
educação de crianças normais.
d. Aplicar testes que buscavam mensurar a inteligência 
de cada criança.
e. Desenvolver metodologias que atendessem melhor 
aqueles que tinham dificuldades para aprender, 
promovendo a reeducação ou remediação, fazendo 
com que o sintoma (dificuldade) desaparecesse.
3. É possível observar que no decorrer do desenvolvimento 
da psicopedagogia enquanto campo do conhecimento, 
algumas ciências contribuíram mais fortemente para 
trazer especificidade para a área. São elas:
a. Medicina, psicologia, psicanálise e pedagogia.
b. Medicina, psicologia, fonoaudiologia e pedagogia.
c. Filosofia, psicologia, psicanálise e sociologia.
d. Astrologia, psicologia, psicanálise e pedagogia.
e. Medicina, física, psicanálise e pedagogia.
4. A psicopedagogia curativa, termo criado pela 
psicopedagoga francesa Janine Mery, pode ser 
entendida como:
a. Uma pedagogia que buscava uma associação de 
terapias com medicações.
b. Um método que favorecia a readaptação 
pedagógica de crianças e adolescentes 
23
desadaptados que, embora inteligentes, tinham 
maus resultados escolares.
c. Uma intervenção que tinha por objetivo criar salas 
especiais que visavam à cura dos problemas de 
aprendizagem.
d. Um método que só poderia ser utilizado com 
crianças com retardo mental.
e. A psicopedagogia aplicada aos professores.
5. A psicopedagogia na Argentina pode ser dividida em 
três momentos, que dizem respeito às reformulações 
ocorridas em seus planos de ensino no curso de 
psicopedagogia. Sobre o terceiro momento, é correto 
afirmar que:
a. O curso tem duração de quatro anos.
b. Só são aceitos no curso alunos que tenham a 
titulação de docente.
c. Todos os professores do curso precisam ser 
psicólogos.
d. O curso passa a ter as disciplinas “Clínicas 
pedagógicas I e II, valorizando o papel do 
profissional do psicopedagogo enquanto terapeuta.
e. A psicopedagogia começa a ser aplicada 
exclusivamente em clínicas.
Referências
ARGENTI, P. W.; ESCOTT, C. M. A formação em psicopedagogia nas abordagens 
clínica e institucional: uma construção teórico-prática. Novo Hamburgo: Feevale, 
2001.
24
BOSSA, N. A. A psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. 2. ed., 
Porto Alegre: Artmed, 2007.
CÓDIGO DE ÉTICAE ESTATUTO DA ABPp, 2011. Disponível em: <http://www.abpp.
com.br/documentos_referencias_codigo_etica.html>. Acesso em: 10 set. 2017.
COSTA, A. A.; PINTO, T. M. G.; ANDRADE, M. S. Análise Histórica do surgimento da 
psicopedagogia no Brasil. Id On Line Revista De Psicologia, ano 7, número 20, 
julho/2013.
FONTES, M. A. Concepções de psicopedagogia no Brasil: reflexões a partir da 
teoria crítica da sociedade. Dissertação (Mestrado) – Instituto de Psicologia da 
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005.
HOBSBAWN, E. J. A era do capital: 1848-1875. 4. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 
1988, p. 140.
KIGUEL, S. M. Reabilitação em neurologia e psiquiatria infantil: aspectos 
psicopedagógicos. Congresso brasileiro de neurologia e psiquiatria infantil: a 
criança e o adolescente na década de 80. Porto Alegre: Abenepe, 1991. v. 3.
MOYSÉS, M. A. A.; COLLARES, C. A. L. A história não contada dos distúrbios de 
aprendizagem. Caderno Cedes, n. 28, 1992, p. 31-47.
PATO, M. H. S. A produção do fracasso escolar: histórias de submissão e rebeldia. 
São Paulo: T. A. QUEIROZ, 1996. v. 6.
RENAULT, G. La Universidad Del Salvador, cumple sus primeros 50 anõs. La carrera 
de Psicopedagogia, se encuentra cumpliéndolos también. Aprendizaje Hoy: Revista 
de Actualidad Psicopedagogica, Buenos Aires, julho de 2006. Ano 26, n. 64, p. 7-10.
RUBINSTEIN, E. R. O estilo de aprendizagem e a queixa escolar: entre o saber e o 
conhecer. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003.
Gabarito
Questão 1 - Resposta: B
Foi na França que surgiu o primeiro centro médico 
psicopedagógico.
Questão 2 - Resposta: E
O foco era na reeducação, buscando corrigir aquilo que não ia 
bem com o aluno. Ao identificar as suas dificuldades, o profissional 
tentava auxiliá-lo naquele aspecto, buscando a correção.
http://www.abpp.com.br/documentos_referencias_codigo_etica.html
http://www.abpp.com.br/documentos_referencias_codigo_etica.html
25
Questão 3 - Resposta: A
A medicina, psicanálise, psicologia e pedagogia são as bases para a 
prática da psicopedagogia até os dias de hoje.
Questão 4 - Resposta: B
A psicopedagogia curativa também busca a readaptação do aluno 
ao sistema de ensino, buscando intervir em aspectos que estejam 
contribuindo para o seu fracasso escolar.
Questão 5 - Resposta: D
A influência da psicanálise traz para a psicopedagogia argentina a 
necessidade de o profissional desenvolver a escuta psicanalítica, 
visto que os problemas de aprendizagem podem ser apenas o 
sintoma de outras questões de natureza emocional.
26
Psicopedagogia no Brasil
Autoria: Rafaela de Menezes Souza Brissac
Objetivos
• Conhecer os principais fatos ocorridos na construção 
da psicopedagogia brasileira;
• Elucidar a tendência contemporânea da 
psicopedagogia no Brasil e sua forma de caracterizar 
o objeto de estudo desta área do conhecimento;
• Identificar os principais desafios presentes no Brasil 
em relação à psicopedagogia.
27
1. Introdução
A psicopedagogia no Brasil, assim como em outros países, possui uma 
história que se construiu a partir de diversas práticas e influências 
teóricas vindas de outros países e adaptadas, na medida do possível, 
para a nossa realidade. As passagens históricas que auxiliam na 
compreensão desse processo de construção da identidade da 
psicopedagogia brasileira serão expostas neste tema.
Ao conhecer os fatos históricos e remontar o percurso da 
psicopedagogia, é possível compreender o momento atual da 
área e pontuar com clareza suas características enquanto área do 
conhecimento em expansão. Neste sentido, você conseguirá visualizar 
o momento inicial da psicopedagogia no Brasil, o momento presente 
e também vislumbrar os rumos futuros dessa área. A formação do 
psicopedagogo precisa estar pautada também neste percurso histórico, 
uma vez que ele também está construindo essa história, por isso a 
importância deste tema em nosso curso.
2. A psicopedagogia no brasil: uma identidade 
em construção
O momento atual da psicopedagogia no Brasil é vivido por uma diversidade 
de práticas e enfoques teóricos, que têm contribuído significativamente 
para o fortalecimento da área em nosso país. É um campo que, apesar 
de já ter avançado em alguns aspectos, ainda podemos dizer que está 
em construção. Como um campo em construção, pressupõe-se que 
ainda existem muitos caminhos a serem percorridos, mas também é 
possível fazermos algumas considerações do que já foi alcançado até 
este momento. De acordo com Rubinstein, Castanho e Noffs (2004), a 
psicopedagogia, enquanto área de atuação, no Brasil:
28
• É fundamentada em referenciais teóricos, sendo assim, é uma 
práxis psicopedagógica;
• É reconhecida academicamente, em função das diversas 
produções científicas (teses, publicações) e de reuniões científicas 
organizadas pela Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp);
• A formação em psicopedagogia no Brasil se dá por meio de cursos 
de especialização em instituições de ensino superior1;
• Contribui para a integração de crianças, adolescentes e adultos 
que se encontram desarticulados de instituições de ensino;
• É um campo interdisciplinar, que possui como bases principais a 
psicologia, pedagogia e psicanálise;
• Surgiu para atender a crianças e adolescentes com problemas na 
aprendizagem, mas está voltada para a aprendizagem de modo 
geral.
Para saber mais
“A Associação Brasileira de Psicopedagogia – ABPp – é uma 
associação de direito privado, de âmbito nacional, sem 
fins lucrativos e econômicos, de caráter técnico, científico 
e social, com atividade preponderante no exercício da 
psicopedagogia. Fundada em 12 de novembro de 1980, a 
ABPp agrega psicopedagogos brasileiros com a finalidade 
de propiciar-lhes o desenvolvimento, a divulgação e o 
aprimoramento desta área do conhecimento”.
1 Estas informações são referentes ao ano de 2004, sendo que no Brasil já é possível encontrar a formação 
em psicopedagogia também em cursos de graduação. A maior parte dos cursos ainda é em nível de pós-gra-
duação. 
29
Rubinstein, Castanho e Noffs (2004) nos lembram que a Psicopedagogia, 
principalmente no início do século XXI, tinha como verdade que as 
razões do insucesso escolar das crianças na escola estavam localizadas 
apenas nos alunos, e nas suas características individuais. Este aspecto 
foi visto no tema anterior, quando falamos da visão organicista da 
psicopedagogia, que atribuía ao organismo as causas do fracasso 
escolar. De acordo com Bossa (1994) nas décadas de 1960 e 1970, houve 
um forte movimento que difundia a teoria da “carência cultural”, sendo 
que as explicações sobre o fracasso escolar começaram a ser atribuídas 
ao meio cultural deficitário que os alunos viviam. Nesta perspectiva, 
o insucesso escolar passou a ser visto como um sintoma social, e 
não mais como uma patologia do aluno. A tendência contemporânea 
da Psicopedagogia no Brasil corrobora com esta percepção, de que 
as questões de contexto também precisam ser avaliadas quando se 
buscam as causas do fracasso escolar.
Rubinstein, Castanho e Noffs (2004) apontam que nenhuma análise 
parcial pode contribuir para a compreensão do fracasso escolar. É 
preciso entender o fenômeno em sua complexidade, pois qualquer 
análise parcial, seja ou atribuindo tudo ao organismo ou tudo ao 
contexto, pode conduzir a erros no entendimento do mesmo.
A tendência contemporânea na psicopedagogia busca compreender o 
insucesso escolar a partir dos seguintes aspectos: – relação do sujeito 
com o objeto de conhecimento; – relação professor/aluno; – condução 
inadequada das instituições de ensino; – visão integral do aluno; e – 
conhecimento do contexto em que o aluno vive. Essa tendência ressalta 
o caráter mais dinâmico do processo de aprendizagem, e considera o 
sujeito da aprendizagem como um todo. O objetivo da psicopedagogia 
contemporânea é a aprendizagem e a relação do sujeito com a 
aprendizagem, e o modo de fazer o diagnóstico psicopedagógico envolve 
observar o potencial de aprendizagem do aluno e identificar quais são as 
melhorescondições que podem contribuir para uma aprendizagem de 
sucesso neste aluno (RUBINSTEIN; CASTANHO; NOFFS, 2004).
30
Até o momento foi contextualizado de uma forma geral como a 
psicopedagogia se encontra atualmente no Brasil, e em que sentido 
avançamos na forma de perceber o fenômeno da aprendizagem, porém 
para atendermos ao objetivo do nosso tema, passaremos agora a 
conhecer os principais marcos presentes na construção da história deste 
campo de conhecimento no Brasil.
3. Principais fatos na história da 
psicopedagogia brasileira
Durante muito tempo, no Brasil, os fatores orgânicos foram 
considerados responsáveis pelo fracasso escolar desde o início da 
história da psicopedagogia (BOSSA, 2004). Talvez por esse motivo, 
assim como ocorreu em outros países do mundo, os problemas de 
aprendizagem muitas vezes eram associados a problemas de saúde.
Em 1906 foi criado um Laboratório de Psicologia Pedagógica no Rio 
de Janeiro. A preocupação de psicólogos e educadores, neste período, 
era com a saúde mental, indicando uma abordagem médica para as 
questões associadas ao insucesso na escola (RUBINSTEIN; CASTANHO; 
NOFFS, 2004). As autoras apontam que, ainda no Rio de Janeiro, na 
década de 1940, a Secretaria de Saúde promoveu o atendimento a 
estudantes com dificuldades diversas.
Os anos 1950 no Rio de Janeiro foram marcados pela criação de classes 
especiais para alunos que eram considerados deficientes mentais. Na 
década de 1950 havia um outro movimento ocorrendo no Rio Grande 
do Sul, que também pode ser visto como uma prática que retrata as 
preocupações com as questões de aprendizagem no Brasil: o início de 
pesquisas voltadas para a educação e linguagem.
31
Na década de 1960 surge a psicopedagogia clínica, com a finalidade 
de compreender as questões de insucesso escolar em nível individual, 
buscando intervir sobre a pessoa que apresenta dificuldades de 
aprendizagem, seja por motivos individuais ou familiares (FONTES, 
2005). Nestes casos, o problema de aprendizagem é diagnosticado como 
sintoma (quando o não aprender possui um significado inconsciente) 
ou inibição (quando ocorre uma retração intelectual do ego, diminuindo 
assim as funções cognitivas do sujeito). De acordo com Fernandez (1991, 
apud Fontes, 2005, p. 85; grifo da autora), “o sintoma ou inibição causam 
um aprisionamento da inteligência do indivíduo que não aprende, a 
partir da estrutura simbólica inconsciente”. Esse caráter clínico da 
psicopedagogia surge ao mesmo tempo na Argentina e no Brasil.
De acordo com Rubinstein, Castanho e Noffs (2004), no final dos anos 
1960, o estado do Rio Grande do Sul, preocupado com o aumento no 
número de alunos que apresentavam dificuldades com a aprendizagem 
da leitura e da escrita, cria a Clínica de leitura. Dados apontam 
que nos anos 1970, já havia em torno de 300 Clínicas de leitura em 
funcionamento no estado. As autoras apontam que “nesta ocasião, 
a abordagem era reeducativa, havia uma parceria entre a medicina e 
a educação. A tendência era por uma concepção adaptacionista para 
alcançar a integração das crianças” (RUBINSTEIN; CASTANHO; NOFFS, 
2004, p. 229).
Para saber mais
As clínicas de leitura foram implantadas por meio do 
Decreto nº 18415/67, no estado do Rio Grande do 
Sul, e tinham por finalidade diminuir os problemas de 
desadaptação escolar. As professoras especializadas 
trabalhavam com os alunos da rede que apresentassem os 
distúrbios de leitura e escrita. Era oferecido um curso de 
preparação para os professores, denominado como “Curso 
32
de atendentes de clínica de leitura”, com duração de 766 
horas/aula. A demanda de trabalho sempre foi bem maior 
do que a capacidade de atendimento das especialistas 
(PORTELLA, 2005).
Em São Paulo, na década de 1970, a PUC-SP oferecia cursos voltados 
para as dificuldades escolares. Estes cursos buscavam capacitar 
profissionais para o atendimento de crianças, em caráter preventivo, 
tanto na escola quanto na clínica. Sobre a década de 1970, é importante 
relembrar que havia ainda uma prevalência da visão organicista para 
explicar o fracasso escolar. Foi a década da DCM – Disfunção Cerebral 
Mínima, que era entendida como as disfunções neuromotoras, que 
causavam as dificuldades nos alunos. Implícito a esta visão, havia 
um discurso que tornava o fracasso escolar patológico, e localizado 
exclusivamente no aluno (RUBINSTEIN; CASTANHO; NOFFS, 2004).
O primeiro curso regular de psicopedagogia no Brasil foi criado em São 
Paulo, no ano de 1979, no Instituto Sedes Sapientae. Havia no curso a 
proposta de uma visão mais integrada do sujeito da aprendizagem.
Rubinstein, Castanho e Noffs (2204) referem que a década de 1980 
foi marcada por uma mudança na forma de compreender o fracasso 
escolar, principalmente, a partir de dois movimentos que se destacaram:
1. Compreensão do fracasso escolar: foco na investigação de 
aspectos estruturais, funcionais e da dinâmica interna da 
instituição escolar.
2. Clínica: foco na compreensão da relação que o aluno estabelecia 
com o conhecimento, que implicava uma visão mais dinâmica da 
queixa escolar.
Um dos fatos mais importantes ocorridos na década de 1980, mais 
precisamente no ano de 1980, foi a criação da Associação Brasileira de 
33
Psicopedagogia – ABPp, que pode ser considerada um marco inicial na 
direção da institucionalização da profissão de psicopedagogo (COSTA; 
PINTO; ANDRADE, 2013).
Costa, Pinto e Andrade (2013) ressaltam que a década de 1990 foi 
marcada pelas contribuições principalmente de psicopedagogas 
argentinas, como as autoras Sara Paín e Alicia Fernandez. Ambas 
ampliaram a visão teórica da psicopedagogia no Brasil, enfatizando 
o sujeito psicológico que aprende e introduzindo a abordagem da 
dinâmica familiar no entendimento dos problemas de aprendizagem.
Além dessas autoras, observa-se a presença da influência de outros 
autores argentinos, a saber: Ana Maria Rodriguez Muñiz, Ana 
Teberowsky, Bernardo Quirós, Emília Ferrero, Jorge Visca, Jacob Feldman 
e Mabel Condemarin. Direta ou indiretamente, por meio de seminários, 
cursos, palestras, textos, estes autores influenciaram a construção de 
um novo modelo de intervenção clínica.
Tal modelo envolvia uma nova compreensão do sujeito que aprende, 
que levava em conta os conhecimentos advindos da Psicologia Genética, 
Antropologia, Sociologia, Psicanálise, Psicologia Social Operativa, 
Psicolinguística, Educação e Neurologia. A partir de então, a visão 
organicista não tem mais a primazia no que se refere aos problemas 
de aprendizagem, que passam a ser vistos em sua complexidade, 
envolvendo muitos aspectos, e de forma mais dinâmica (RUBINSTEIN, 
CASTANHO; NOFFS, 2004).
Em 1997, o Projeto de Lei Federal nº 3124, do deputado federal Barbosa 
Neto sugere a criação dos Conselhos Regionais de Psicopedagogia. Ainda 
no trajeto da legalização da profissão de psicopedagogo, o Projeto de Lei 
nº 128/2000, do deputado Claury Santos Alves da Silva, foi aprovado em 
2001 e estabeleceu que a assistência psicopedagógica estivesse presente 
em todas as instituições de Ensino Básico da rede pública do Estado de 
São Paulo (COSTA; PINTO; ANDRADE, 2013).
34
Para saber mais
A psicopedagogia no Brasil é considerada uma ocupação. A 
tentativa de criar os conselhos é um reflexo da busca pela 
legalização da psicopedagogia como profissão. Existem muitos 
equívocos neste sentido. A ABPp – Associação Brasileira de 
Psicopedagogia se difere de um Conselho. Os conselhos 
federais são autarquias criadas pelo governo federal 
que exercem o papel de emissão de números de registro 
profissional, fiscaliza e representa uma categoria profissional.
Em termos de formação profissional, em 2013 era possível identificar no 
Brasil: quatro cursos de graduação, sendo um localizado no estado de 
São Paulo e os outros três localizados no estado do Rio Grande do Sul e 
diversos cursos de pós-graduação lato sensu espalhados pelos estados 
brasileiros (COSTA; PINTO; ANDRADE, 2013).
4. A psicopedagogia no Brasil hoje
Parafalarmos de psicopedagogia hoje no Brasil, é necessário fazer um 
recorte em função dos aspectos relativos: ao exercício da profissão de 
psicopedagogo; à concepção atual de psicopedagogia no Brasil, e aos 
desafios futuros presentes em nossa realidade.
4.1 O exercício da profissão de psicopedagogo
Noffs (2016) contribui trazendo uma visão atualizada que se ampara nos 
acontecimentos mais recentes. Em termos da Classificação Brasileira de 
Ocupações, a psicopedagogia, desde 2002, está inserida na família 2394-
5, que diz respeito aos “programadores, avaliadores e orientadores de 
ensino da grande área Educação” (NOFFS, 2016 p. 111).
35
Em junho de 2008, o Projeto de Lei sob o nº 3512 é reapresentado 
pela Deputada Federal Raquel Teixeira (GO), quando argumenta a 
necessidade de se regulamentar a profissão de psicopedagogo, de 
modo a melhorar a qualidade do que se ensina nas escolas, do como 
se ensina, e também do que se aprende e como se aprende. Ao 
argumentar dessa forma, refere a necessidade de um profissional da 
área de psicopedagogia, especializado, que contribua para aumentar as 
potencialidades de aprendizagem dos alunos. Ainda sobre este projeto:
Em 2009, o projeto ao ser analisado pela comissão de trabalho, de 
administração e serviço público entende que o projeto ao preservar as 
atribuições dos profissionais em Psicopedagogia não propõe reserva de 
mercado, garantindo assim o exercício da Psicopedagogia por profissionais 
com formação em Psicologia, Pedagogia e Licenciatura, desde que 
tenham o certificado de conclusão de curso em Psicopedagogia a nível de 
especialização ou graduação (NOFFS, 2016, p. 114).
Em 2010, este mesmo projeto sofre mudanças e se amplia a prática da 
psicopedagogia para profissionais que sejam portadores de diplomas 
em Psicologia, Pedagogia, Licenciaturas ou Fonoaudiologia. O projeto 
ainda aguarda aprovação no Senado Federal.
Estes são os aspectos que foram apresentados em artigo mais 
recente que contribui para o entendimento de quem pode exercer a 
psicopedagogia hoje no Brasil. Em relação aos rumos que devem ser 
tomados, a autora sugere “regulamentar o bem formado e legalizar o 
que a sociedade já legitimou” (NOFFS, 2016).
4.2 A concepção atual de psicopedagogia no Brasil
Para definirmos a concepção atual da psicopedagogia, buscou-se 
no código de ética, elaborado pela ABPp – Associação Brasileira de 
Psicopedagogia, e reformulado em 2011, como ele estabelece o conceito 
de psicopedagogia:
36
A Psicopedagogia é um campo de atuação em Educação e Saúde que se ocupa 
do processo de aprendizagem considerando o sujeito, a família, a escola, a 
sociedade e o contexto sócio-histórico, utilizando procedimentos próprios, 
fundamentados em diferentes referenciais teóricos (ABPp, 2011, p. 1).
Essa concepção retrata a diversidade das práticas atuais no Brasil 
e estabelece como objeto não o aluno que não aprende, mas sim o 
processo de aprendizagem com toda a sua complexidade, envolvendo o 
sujeito, família, escola, sociedade e contexto sócio-histórico.
4.3 Desafios futuros da psicopedagogia no Brasil
No último simpósio realizado pela ABPp, em 20162, coloca-se como 
tema de reflexão para o congresso, as diversas transformações vividas 
na atualidade de uma sociedade nomeada de aprendente, em que 
se observa que o conhecimento se torna um valor para estabelecer 
a convivência entre as pessoas. Também foram citados os diferentes 
modos de conhecimento e as novas formas de ensinar e de aprender.
Entende-se como um dos desafios implícitos a necessidade do 
profissional de psicopedagogia de acompanhar e entender essas 
mudanças no cenário da aprendizagem.
Em outro texto não tão recente, porém atual, Peres (1998) destaca como 
desafios naquele momento alguns que, ao nosso ver, ainda se fazem 
presentes:
• o aumento de cursos de formação em psicopedagogia com 
qualidade;
• delimitação do campo de atuação do psicopedagogo;
• a incorporação de ações psicopedagógicas aos projetos 
pedagógicos nas unidades educacionais;
2 Fonte: <http://www.abppeventos.com.br/>. Acesso em: 5 out. 2017.
http://www.abppeventos.com.br/
37
• a popularização da psicopedagogia, ampliando sua intervenção 
para além das clínicas e escolas particulares.
Certamente, o tema é vasto e conclui-se que o profissional de 
psicopedagogia precisa estar presente nas discussões que ainda se 
fazem necessárias para o avanço da área em nosso país.
Questão para reflexão
O artigo a seguir é de uma das principais autoras sobre 
a psicopedagogia no Brasil, Nádia Bossa. Ao ler o texto, 
identifique sua concepção de psicopedagogia e como ela se 
relaciona com a história da psicopedagogia no Brasil.
O TRATAMENTO PSICOPEDAGÓGICO
____________________________________________________________
A especificidade do tratamento psicopedagógico consiste 
no fato de que existe um objetivo a ser alcançado: a 
eliminação do sintoma – os obstáculos na aprendizagem, 
diferentemente do que ocorre no tratamento psicoanalítico. 
Assim, a relação do psicopedagogo-paciente é mediada 
por atividades bem-definidas, cujo objetivo é solucionar 
rapidamente as consequências do sintoma, para logo 
depois mobilizar e desenvolver os recursos cognitivos. Esta 
é a maior complexidade na atuação do psicopedagogo, 
pois está relacionado com a operacionalização do trabalho 
e consequentemente com o êxito. Tal afirmação decorre 
da minha atuação como Supervisora. Frequentemente me 
deparado com situações em que, não podendo suportar as 
pressões (internas ou externas), o psicopedagogo opta por 
uma abordagem mais emergente, introduzindo o conteúdo 
escolar atual como tarefa nas seções, ou seja, buscando 
eliminar de pronto o sintoma. A pressão é interna e externa, 
38
porque muitas vezes o profissional, devido à sua ansiedade, 
tenta apressar o processo, pois, assim como a criança, a sua 
autoestima depende de avaliação externa, de modo que 
chega a experimentar a mesma frustração que a criança 
vive na Escola.
____________________________________________________________
BOSSA, N. A. O tratamento psicopedagógico. Disponível em: 
<http://www.nadiabossa.com.br/index.php/o-tratamento-
psicopedagogicohtml>. Acesso em: 10 out. 2017.
5. Considerações Finais
• Em relação às dificuldades de aprendizagem, o aspecto orgânico 
do aluno não deixa de ser considerado, mas passa a ser visto em 
conjunto com outros aspectos, que envolvem, por exemplo, o 
cenário cultural.
• A psicopedagogia pode ser vista no Brasil como um campo ainda 
em construção.
• Ao longo da história, os fatores orgânicos perdem a primazia e ganha 
força a visão integrada do estudante que passa por um processo de 
aprendizagem, considerando a multiplicidade de fatores que estão 
envolvidos neste processo, para além do sujeito que aprende.
• A década de 1980 merece destaque no desenvolvimento da 
Psicopedagogia no Brasil com a criação da ABPp – Associação 
Brasileira de Psicopedagogia.
• Nos dias atuais ainda existem desafios acerca da identidade 
do profissional de psicopedagogia e de delimitação de sua 
área de atuação.
http://www.nadiabossa.com.br/index.php/o-tratamento-psicopedagogicohtml
http://www.nadiabossa.com.br/index.php/o-tratamento-psicopedagogicohtml
39
Glossário
• Concepção adaptacionista: concepção que, na área de 
psicopedagogia, visa à adaptação do aluno a um modo 
sistematizado de aprender, instituído pelas escolas.
• Diagnóstico psicopedagógico: o objetivo do diagnóstico é 
identificar os desvios e os obstáculos básicos no modelo de 
aprendizagem do sujeito.
• Sintoma social: refere-se às alternativas que uma determinada 
cultura oferece aos sujeitos que nela se inserem para resolução 
de seus conflitos. O sintoma social só é social porque faz sentido 
em relação ao momento histórico de certa cultura; social ou 
particular, no entanto, o sintoma sempre fará sentido em relação 
à experiência do sujeito. De alguma forma, o sintoma sempre 
é relativo, em psicanálise, a uma história única, seja de uma 
sociedade ou de um sujeito.
Verificaçãode leitura
TEMA 02
1. Um dos países que mais influenciou a história da 
psicopedagogia no Brasil foi:
a. Chile.
b. Argentina.
c. Colômbia.
d. México.
e. Uruguai.
40
2. A Teoria da carência cultural teve um impacto sobre os 
problemas de aprendizagem. Sendo que muitos teóricos, 
apoiados nas bases desta visão, consideravam que:
a. Os problemas de aprendizagem eram originados da 
falta de professores bem formados.
b. Os problemas de aprendizagem eram reflexos de 
uma cultura empobrecida, que oferecia poucos 
recursos as suas crianças.
c. Os problemas de aprendizagem tinham relação com 
a deficiência de algumas vitaminas no organismo.
d. Os problemas de aprendizagem eram oriundos de 
escolas que não utilizavam livros didáticos.
e. Os problemas de aprendizagem tinham como causa 
principal o difícil relacionamento entre professor e 
aluno.
3. Assinale a alternativa que se refere ao que a tendência 
contemporânea na psicopedagogia acredita que possa 
contribuir para a compreensão do insucesso escolar:
a. A relação do sujeito com o objeto de conhecimento.
b. O número de horas que o sujeito passa na escola.
c. O grau de instrução dos pais do estudante.
d. A idade em que o estudante começou a falar.
e. A quantidade de vezes que o estudante reprovou.
4. Um dos fatos mais importantes ocorridos no ano de 
1980 para a psicopedagogia no Brasil foi:
a. A criação das clínicas de leitura.
b. A aprovação de um projeto de lei que regulamenta a 
profissão do psicopedagogo.
41
c. O surgimento de um grande autor brasileiro na área 
de psicopedagogia.
d. A criação da Associação Brasileira de 
Psicopedagogia.
e. O fechamento das classes especiais nas escolas.
5. Em relação aos desafios futuros da psicopedagogia, para 
o seu avanço no Brasil, é INCORRETO afirmar como um 
dos desafios:
a. O aumento dos cursos de psicopedagogia com 
qualidade.
b. A popularização da psicopedagogia.
c. A delimitação do campo de atuação do 
psicopedagogo.
d. A incorporação de ações psicopedagógicas aos 
projetos pedagógicos nas unidades educacionais.
e. A reabertura das classes especiais para alunos com 
dificuldades de aprendizagem.
Referências
BOSSA, N. A. A psicopedagogia no Brasil: construção a partir da prática. Porto 
Alegre: Artes Médicas, 2000.
BOSSA, N. A. O tratamento psicopedagógico. (2004). Disponível em: <http://www.
nadiabossa.com.br/index.php/o-tratamento-psicopedagogico.html>. Acesso em: 10 
out. 2017.
ABPp. Código de ética. 2011. Disponível em: <http://www.abpp.com.br/
documentos_referencias_codigo_etica.html>. Acesso em: set. 2017.
COSTA, A. A.; PINTO, T. M. G.; ANDRADE, M. S. Análise Histórica do surgimento da 
psicopedagogia no Brasil. Id On Line Revista De Psicologia, ano 7, n. 20, jul./2013.
http://www.nadiabossa.com.br/index.php/o-tratamento-psicopedagogico.html
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http://www.abpp.com.br/documentos_referencias_codigo_etica.html
http://www.abpp.com.br/documentos_referencias_codigo_etica.html
42
FONTES, M. A. Concepções de psicopedagogia no Brasil: reflexões a partir da 
teoria crítica da sociedade. Dissertação (Mestrado) – Instituto de Psicologia da 
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005.
NOFFS N. A. A formação e regulamentação das atividades em psicopedagogia. Rev. 
Psicopedagogia, 2016; 33(100):110-120.
PERES, M. R. Psicopedagogia: aspectos históricos e desafios atuais. Revista de 
Educação PUC – Campinas, 1998; v. 3 n. 5: 41-45.
PORTELLA, F. O. Percursos históricos da psicopedagogia no Rio Grande do Sul. Rev. 
Psicopedagogia, 2005; 22(67):41-50.
RUBINSTEIN, Edith; CASTANHO, Marisa; NOFFS, Neide. Rumos da psicopedagogia 
brasileira. Rev. Psicopedagogia, v. 21, n. 66, p. 225-238, 2004.
Gabarito
Questão 1 - Resposta: B
A Argentina foi o primeiro país da América Latina a produzir 
conhecimentos na área de psicopedagogia, sendo, portanto, o que 
mais influenciou o Brasil em suas práticas e cursos de formação.
Questão 2 - Resposta: B
A teoria da “carência cultural” explicava que o fracasso escolar 
poderia ser atribuído ao meio cultural deficitário que os alunos 
viviam.
Questão 3 - Resposta: A
Um dos aspectos que a Tendência Contemporânea acredita que 
deve ser avaliado no processo de entendimento do que leva o 
sujeito a não conseguir obter sucesso na escola é justamente 
verificar como se dá a sua relação com o conhecimento.
Questão 4 - Resposta: D
43
A criação da ABPp foi um marco para a produção do 
conhecimento em Psicopedagogia e também para a expansão da 
área de uma forma geral.
Questão 5 - Resposta: E
Cada vez mais, o que se busca em relação a psicopedagogia, é 
compreender as formas de aprendizagem do sujeito. As classes 
especiais vão contra essa direção e não se constituem de forma 
alguma como um desafio a ser superado.
44
A profissão e a ética do 
psicopedagogo
Autoria: Rafaela de Menezes Souza Brissac
Objetivos
• Compreender os aspectos que diferenciam uma 
ocupação de uma profissão;
• Esclarecer sobre os processos de formação em 
psicopedagogia existentes no Brasil;
• Apresentar a trajetória dos profissionais em busca 
da legalização da profissão de psicopedagogo;
• Conhecer os artigos que compõem o Código de 
Ética elaborado pela Associação Brasileira de 
Psicopedagogia.
45
1. Introdução
A psicopedagogia, apesar de ser um trabalho exercido por inúmeros 
profissionais no Brasil, ainda não foi legalizada como uma profissão, 
ou seja, ainda não é reconhecida e, portanto, não possui Conselho que 
possa supervisionar suas atividades. Neste percurso ocorreram algumas 
iniciativas na tentativa de tornar a psicopedagogia reconhecida como 
profissão, e que serão apresentadas no decorrer da leitura.
Os cursos de formação oferecidos em nosso país possuem papel 
fundamental no processo de fortalecimento da profissão de 
psicopedagogo. Neste tema iremos explorar também a formação do 
psicopedagogo.
O Código de Ética, elaborado pela Associação Brasileira de 
Psicopedagogia, será apresentado com o objetivo de contribuir para a 
compreensão do papel do psicopedagogo na prática profissional.
2. A Psicopedagogia é uma profissão?
A Constituição Brasileira de 1988 garante o livre exercício de qualquer 
trabalho ou profissão. A psicopedagogia está inserida na CBO 
(Classificação Brasileira de Ocupações) na família 2304-2, desde o ano 
de 2002. A CBO é um documento elaborado pelo Ministério do Trabalho 
que reconhece, nomeia e codifica os títulos e descreve quais são as 
características das ocupações do mercado de trabalho no Brasil. A 
última versão da CBO contém as ocupações organizadas e descritas por 
famílias. Cada família constitui um conjunto de ocupações similares. No 
que se refere à psicopedagogia, ela está inserida na família 2304-2, que 
inclui programadores, avaliadores e orientadores de ensino da grande 
área da educação (NOFFS, 2016).
46
Conforme ressalta Noffs (2016), nem todo o trabalho pode ser 
caracterizado como profissão. É possível identificar muitas práticas 
profissionais que são legitimadas pela sociedade, como é o caso da 
psicopedagogia, sem ser legalmente reconhecida enquanto profissão. 
Culturalmente, no Brasil, esse reconhecimento ocorre quando um órgão 
regulatório emite um certificado de conclusão de curso. A autora refere 
sobre o equívoco com o qual nos deparamos na psicopedagogia, pois 
o governo brasileiro credencia cursos de formação e especialização na 
área, “e que profissionalmente têm validade como conhecimento, mas 
que não se transformam em reconhecimento profissional” (NOFFS, 2016, 
p. 113).
Além disso, o reconhecimento legal assegura às pessoas formadas o 
direito de exercer as atividades para as quais foram formadas, sendo 
regulamentados pelos conselhos federais os direitos e deveres para este 
exercício profissional.
Para saber mais
Os conselhos federais são autarquias criadas pelo 
governo federal que exercem o papel de emissão de 
números de registro profissional, fiscalizam e representam 
uma categoria profissional. A função primáriados 
conselhos profissionais é defender a sociedade dos maus 
profissionais. Também cabe ao conselho, por exemplo, 
redigir e fiscalizar a utilização do código de ética profissional 
e o juramento profissional.
A partir do exposto, podemos considerar a psicopedagogia como uma 
prática profissional, que se origina de uma necessidade localizada 
na compreensão dos processos de aprendizagem, a princípio na 
47
compreensão dos motivos que levam ao fracasso escolar. Argenti 
e Escott (2001) afirmam que o trabalho do psicopedagogo tem por 
objetivo que as pessoas consigam obter qualidade em suas relações 
com o conhecimento.
O caminho para se tornar uma profissão regulamentada já conta com 
alguns anos de história, porém ainda sem sucesso. Veremos agora os 
principais movimentos ocorridos na busca pela regulamentação da 
psicopedagogia.
2.1 O percurso para a legalização da profissão de 
psicopedagogo no Brasil: principais iniciativas
A busca pela legalização da profissão do psicopedagogo pode ser 
observada a partir de alguns movimentos ocorridos principalmente 
nos últimos 20 anos (FONTES, 2005; NOFFS, 2016; GONÇALVES, 2007; 
BOSSA, 2007). Alguns movimentos são observados na esfera jurídica, e 
envolvem a apresentação de projetos de lei, entre os quais se destacam 
os seguintes:
• Projeto de Lei nº 3124/97: o deputado federal Barbosa Neto (GO), 
apresenta o projeto em 1997, indicando a necessidade da inserção 
de um profissional nas escolas, que tivesse como principal função 
a redução do fracasso escolar. Este profissional deveria ser o 
psicopedagogo. Este projeto passou por aprovação na Comissão de 
Trabalho e educação, mas em 2007 foi arquivado e se encontra assim 
até o momento1.
• Projeto de Lei nº 128/2000: em 2001 foi aprovado no estado de São 
Paulo este projeto, de autoria do deputado Claury Santos Alves da Silva, 
que autoriza o Poder Executivo a implantar Assistência Psicológica e 
Psicopedagógica em todos os estabelecimentos de ensino público. O 
1 Fonte:<http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=19139>. Acesso em: 9 dez. 
2017.
http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=19139
48
principal objetivo deste serviço era diagnosticar e prevenir problemas 
de aprendizagem.
• Projeto de Lei nº 3512/2008: apresentado pela deputada federal 
Raquel Teixeira, trata-se do mesmo projeto nº 3124/97, do deputado 
Barbosa Neto. A deputada apresenta novamente este projeto sob o nº 
3512/2008 e argumenta sobre a necessidade de uma revisão do projeto 
educacional brasileiro, que precisa investir na melhoria dos processos 
de aprendizagem, e que para isso, faz-se necessário um serviço 
desempenhado por um profissional especializado, o psicopedagogo. 
A deputada ressalta o papel deste profissional como aquele que 
pode aumentar as potencialidades de aprendizagem dos estudantes. 
Atualmente, este projeto está aguardando apreciação pelo senado 
federal2.
Para saber mais
Após a aprovação do Projeto de Lei nº 128/2000, o 
município de Ourinhos/SP incorporou o profissional 
psicopedagogo em seu Quadro de Magistério, através da 
Lei nº 387/2002, que dispõe sobre o Estatuto e Plano de 
Carreira do Magistério Público Municipal de Ourinhos. Este 
estatuto prevê o cargo de psicopedagogo como efetivo das 
instituições auxiliares da educação.
Além dos movimentos citados acima, a criação da Associação Brasileira 
de Psicopedagogia ABPp também pode ser considerada como mais 
uma ação que visa à construção da identidade deste campo do 
conhecimento, buscando uma maior estruturação dos seus saberes e 
criando uma comissão responsável pelo processo de legalização. A ABPp 
foi fundada em 1980 (FONTES, 2005).
2 Fonte: <http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=398499>. Acesso em: 9 
dez. 2017.
http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=398499
49
De acordo com Bossa (2007), a questão da formação do psicopedagogo 
assume um papel de grande importância no Brasil, pois ela pode ser 
vista como um ponto de partida para a formação da identidade deste 
profissional. Ao mesmo tempo, se existe um conjunto de conhecimentos 
que subsidia um curso de formação para uma determinada prática 
profissional, é possível que este espaço, sendo bem delimitado, seja 
mais uma iniciativa rumo à regulamentação da profissão.
Para saber mais
Nadia Bossa é doutora em psicologia pela Universidade de São 
Paulo (USP), possui graduação em Psicologia, especialização 
em Neuropsicologia e em Psicopedagogia e Mestrado em 
Psicologia e Educação. É conhecida por seus livros, artigos, 
vídeos, cursos e palestras e tem contribuído significativamente 
para a formação dos psicopedagogos no Brasil.
3. A formação em Psicopedagogia
Um dos grandes embates presentes nas discussões sobre a prática 
da psicopedagogia, e consequentemente em sua legalização como 
profissão é a questão da formação do psicopedagogo.
Rubinstein, Castanho e Noffs (2004) referem que os cursos de 
especialização em Psicopedagogia já eram oferecidos por institutos 
particulares e associações de classe mesmo antes de haver cursos 
formais de especialização dentro das instituições de Ensino Superior. 
A psicopedagogia nasceu da “falta” de um conhecimento e de uma 
prática que pudesse atender às questões relativas às dificuldades de 
aprendizagem nos estudantes. Muitos profissionais que começaram 
50
a atender a estes alunos, principalmente das áreas de pedagogia, 
psicologia e fonoaudiologia, perceberam que a formação específica 
em seus cursos de origem não era suficiente para atender a estas 
demandas. Era necessária uma formação interdisciplinar, que auxiliasse 
no entendimento do aluno e do seu processo de aprendizagem, 
considerando a complexidade dos fatores envolvidos.
Para Noffs (2016) o conceito de formação está vinculado ao 
conceito de desenvolvimento pessoal, envolvendo um trabalho de 
autoconhecimento por parte do profissional, para que possa assumir 
o seu papel de facilitador da aprendizagem para as pessoas de forma 
geral. A autora comenta sobre o fato da formação se constituir como 
um processo de aprendizagem contínua, em todas as fases da vida do 
sujeito.
No artigo em que propõe uma reflexão sobre a formação do 
psicopedagogo, a autora Neide Noffs (2016) faz um paralelo com os 
princípios apontados por Garcia (1995) em relação à formação de 
professores. A proposta foi a de buscar uma referência para pautar 
alguns princípios que pudessem servir de base para os cursos de 
formação de psicopedagogos. Uma síntese dessa reflexão pode ser 
observada no Quadro 1.
Quadro 1 | Princípios norteadores para a formação em 
psicopedagogia
Princípios da formação de 
professores (Garcia, 1995)
Considerações em relação à 
psicopedagogia (Noffs, 2016)
1. Conceber formação como um processo 
contínuo, mantendo os princípios éticos, 
didáticos, pedagógicos onde a formação 
inicial e a permanente se articulam 
para o desenvolvimento profissional.
Geralmente, a formação em 
Psicopedagogia se inicia na graduação 
(independente de qual seja o curso) e 
se especializa em cursos posteriores de 
psicopedagogia, se aprofundando na área 
de interesse do profissional. Desta forma, 
também se constitui como um processo 
permanente onde o profissional opta por 
ações de formação que o mantenham 
em constante desenvolvimento.
51
2. A formação deve se integrar a 
processos de mudança, inovação 
e desenvolvimento curricular.
A psicopedagogia está concebida como 
uma proposta de mudança, de estimular a 
aprendizagem e também de descoberta de 
novos processos de ensino-aprendizagem.
3. A formação deve estar ligada ao 
desenvolvimento organizacional da escola.
A psicopedagogia também está 
comprometida com o ambiente de 
aprendizagem na instituição, podendo ser 
a escola ou qualquer outra instituição em 
que se encontre espaços de aprendizagem, 
como hospitais, empresas, entre outros. 
4. A formação deve integrar conteúdos 
acadêmicos e disciplinares e a formaçãopedagógica do professor.
O psicopedagogo tem que possuir 
um conhecimento específico que 
possa colaborar com o processo do 
desenvolvimento dos aprendentes. Tais 
conhecimentos podem ser advindos da 
linguagem, da Pedagogia e da Psicologia.
5. A formação integra a teoria e a prática. Neste caso, a formação em psicopedagogia 
valoriza a prática como fonte de 
conhecimento, não como mais uma 
disciplina que compõe o currículo, mas sim 
como um espaço curricular que constrói 
o pensamento prático do profissional.
6. A formação deve procurar o 
isomorfismo entre a formação recebida 
e o tipo de educação que posteriormente 
será pedido que se desenvolva.
Os cursos de psicopedagogia deveriam 
deixar claro para qual ambiente de trabalho 
estão focados, pois a generalização 
muitas vezes dificulta a inserção do 
profissional no mercado de trabalho.
7. A formação destaca o princípio 
da individualização como elemento 
integrante de qualquer programa 
de formação de professores. 
A psicopedagogia corrobora com esse princípio, 
sendo que as atividades que incentivam a 
formação pessoal, do próprio desenvolvimento 
do profissional enquanto pessoa, constitui 
uma das diretrizes dos cursos de formação. 
8. A formação deve possibilitar o 
questionamento de suas crenças 
e práticas institucionais.
A psicopedagogia valoriza a formação do 
profissional pesquisador, que possa, a partir 
da sua prática contribuir com as atualizações 
dos conhecimentos da área por meio de 
reflexões com outros psicopedagogos. 
Fonte: adaptada de Noffs (2016).
Masini (2006) discute a formação profissional do psicopedagogo e 
acredita que deveria haver um processo de seleção de candidatos 
para os cursos de psicopedagogia, que levasse em conta não apenas 
os conteúdos e conhecimentos do profissional, mas também outros 
critérios que contemplassem a identificação do interesse pelo processo 
52
de aprender por parte do candidato. A autora ainda ressalta a 
possibilidade de avaliação das condições de personalidade dos futuros 
psicopedagogos, e considera que candidatos que apresentassem 
problemas graves emocionais não deveriam participar dos cursos.
Sobre o nível de educação em que deve ocorrer a formação em 
psicopedagogia, a autora acredita que os cursos devem permanecer em 
nível de pós-graduação:
[...] pois só um conhecimento amplo de Educação e Psicologia, 
fundamentado em uma visão crítica da realidade social e da investigação 
científica, propiciaria ao psicopedagogo segurança para decidir sobre sua 
ação, bem como posicionar-se e justificar suas diretrizes de trabalho diante 
de outros profissionais que lidam com o aprendiz (MASINI, 2006, p. 257).
Os cursos de psicopedagogia deveriam propiciar que: – o futuro 
psicopedagogo ampliasse sua percepção sobre as manifestações do 
sujeito em situação de aprendizagem, buscando compreender os fatores 
que facilitam ou que limitam o ato de aprender; – o psicopedagogo 
pudesse manter sua atenção à totalidade do sujeito, considerando o seu 
contexto, sua afetividade, seus valores e hábitos no ato de aprender; – 
o futuro profissional de psicopedagogia tivesse garantido o acesso aos 
conhecimentos sobre o desenvolvimento do ser humano e as principais 
teorias de aprendizagem; – o desenvolvimento de uma visão crítica 
sobre as teorias que embasam sua ação fosse propiciado durante o 
curso; e por último, que: – o psicopedagogo adotasse em sua prática 
o cuidado em analisar quando os recursos tecnológicos da atualidade 
estivessem distanciando o estudante de si próprio e de seus significados 
(MASINI, 2006).
Atualmente, os cursos de psicopedagogia acontecem em sua 
maioria como cursos de pós-graduação no Brasil. Como cursos de 
pós-graduação, não há uma exigência de um curso de graduação 
específico anterior ao curso de pós, mas a maioria dos profissionais 
que se inscrevem nestes cursos são graduados em pedagogia e 
53
psicologia. Em relação aos cursos de graduação que existem no Brasil 
atualmente, ainda são poucos e os alunos que se formam nesses 
cursos também vivem a mesma condição de estar graduado em uma 
prática profissional, mas que não se configura como uma profissão 
regulamentada (BOSSA, 2007).
4. A ética do Psicopedagogo
Como já vimos anteriormente, a profissão de psicopedagogia não 
é regulamentada e, portanto, não possui um Conselho de Registro 
Profissional. Normalmente, quando uma profissão é regulamentada, 
são os conselhos que elaboram o código de ética que rege a prática dos 
profissionais daquela área.
Preocupada com as questões relativas à identidade e às práticas 
exercidas por psicopedagogos, em 1992, a ABPp organizou um 
documento, que foi aprovado em assembleia durante o V Encontro e II 
Congresso de Psicopedagogia, e que foi denominado como Código de 
Ética (GONÇALVES, 2007).
Desde a sua criação, ele já passou por três reformulações, a primeira 
foi realizada no biênio 1995/1996, a segunda no triênio 2008/2010 e a 
terceira no triênio 2011/2013.
O Código é composto por dez capítulos, que tratam dos seguintes 
aspectos3:
• Capítulo I: dos princípios
• Capítulo II: da formação
• Capítulo III: do exercício das atividades psicopedagógicas
3 Fonte: <http://www.abpp.com.br/documentos_referencias_codigo_etica.html>. Acesso em: 9 dez. 2017.
http://www.abpp.com.br/documentos_referencias_codigo_etica.html
54
• Capítulo IV: das responsabilidades
• Capítulo V: dos instrumentos
• Capítulo VI: das publicações científicas
• Capítulo VII: da publicidade profissional
• Capítulo VIII: dos honorários
• Capítulo IX: da observância e do cumprimento do código de ética
• Capítulo X: das disposições gerais
Dentre os capítulos existentes no Código de Ética, optou-se por 
apresentar, neste tema, os capítulos III e IV, que tratam do exercício das 
atividades psicopedagógicas, e das responsabilidades do psicopedagogo, 
conforme visto a seguir:
Capítulo III – Do exercício das atividades psicopedagógicas
Artigo 6º 
Estarão em condições de exercício da Psicopedagogia os profissionais 
graduados e/ou pós-graduados em Psicopedagogia – especialização 
“lato sensu” – e os profissionais com direitos adquiridos anteriormente 
à exigência de titulação acadêmica e reconhecidos pela ABPp. 
É indispensável ao psicopedagogo submeter-se à supervisão 
psicopedagógica e recomendável processo terapêutico pessoal.
Parágrafo 1º 
O psicopedagogo, ao promover publicamente a divulgação de seus 
serviços, deverá fazê-lo de acordo com as normas do Estatuto da ABPp e 
os princípios deste Código de Ética.
Parágrafo 2º 
Os honorários deverão ser tratados previamente entre o cliente ou seus 
responsáveis legais e o profissional, a fim de que: 
55
a) representem justa contribuição pelos serviços prestados, considerando 
condições socioeconômicas da região, natureza da assistência prestada e 
tempo despendido; 
b) assegurem a qualidade dos serviços prestados.
Artigo 7º 
O psicopedagogo está obrigado a respeitar o sigilo profissional, 
protegendo a confidencialidade dos dados obtidos em decorrência do 
exercício de sua atividade e não revelando fatos que possam comprometer 
a intimidade das pessoas, grupos e instituições sob seu atendimento.
Parágrafo 1º 
Não se entende como quebra de sigilo informar sobre o cliente a 
especialistas e/ou instituições, comprometidos com o atendido e/ou com o 
atendimento.
Parágrafo 2º 
O psicopedagogo não revelará como testemunha, fatos de que tenha 
conhecimento no exercício de seu trabalho, a menos que seja intimado a 
depor perante autoridade judicial.
Artigo 8º 
Os resultados de avaliações só serão fornecidos a terceiros interessados, 
mediante concordância do próprio avaliado ou de seu representante legal.
Artigo 9º 
Os prontuários psicopedagógicos são documentos sigilosos cujo acesso 
não será franqueado a pessoas estranhas ao caso.
Artigo 10º 
O psicopedagogo procurará desenvolver e manter boas relações com os 
componentes de diferentes categorias profissionais, observando para esse 
fim, o seguinte: 
a) trabalhar nos estritos limites

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