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Monografia_-_Andre_Quadra_Silvano

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Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC 
Centro Sócio Econômico - CSE 
Departamento de Economia e Relações Internacionais 
Curso de Ciências Econômicas 
 
 
 
 
ANDRÉ QUADRA SILVANO 
 
 
 
 
DÍVIDA PÚBLICA BRASILEIRA: UMA ANÁLISE DO ORÇAMENTO, JUROS E 
SISTEMA TRIBUTÁRIO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FLORIANÓPOLIS 
2021 
 
 
ANDRÉ QUADRA SILVANO 
 
 
 
 
 
 
 
 
DÍVIDA PÚBLICA BRASILEIRA: UMA ANÁLISE DO ORÇAMENTO, JUROS E 
SISTEMA TRIBUTÁRIO 
 
 
 
 
 
Trabalho Conclusão do Curso de Graduação em 
Ciências Econômicas do Centro Socioeconômico 
da Universidade Federal de Santa Catarina como 
requisito para a obtenção do título de Bacharel em 
Ciências Econômicas 
Orientador: Prof. Valdir Alvim da Silva, Dr. 
 
 
 
 
 
 
 
Florianópolis, 
2021 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ficha de identificação da obra 
 
Silvano, André Quadra 
 Dívida pública brasileira: uma análise do orçamento, juros e sistema 
tributário / André Quadra Silvano; orientador, Valdir Alvim da Silva, 2021. 
 56 p. 
 
 Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – 
Universidade Federal de Santa Catarina, Centro SócioEconômico, 
Graduação em Ciências Econômicas, Florianópolis, 2021. 
 
 Inclui referências. 
 
 1. Ciências Econômicas. 2. Dívida Pública. 3. Juros. 4. Orçamento 
público. 5. Sistema Tributário. I. Alvim da Silva, Valdir. II. Universidade 
Federal de Santa Catarina. Graduação em Ciências Econômicas. III. Título. 
 
 
 
 
 
 
 
ANDRÉ QUADRA SILVANO 
DÍVIDA PÚBLICA BRASILEIRA: uma análise do orçamento, juros e sistema 
tributário 
 
Florianópolis, 11 de maio de 2021. 
 
O presente Trabalho de Conclusão de Curso foi avaliado e aprovado pela banca 
examinadora composta pelos seguintes membros: 
 
 
Prof. Guilherme de Oliveira, Dr. 
Instituição UFSC 
 
 
Prof. Jonatan Lautenschlage, Dr. 
Instituição UDESC 
 
Certifico que esta é a versão original e final do Trabalho de Conclusão de 
Curso que foi julgado adequado para obtenção do título de Bacharel em Economia 
por mim e pelos demais membros da banca examinadora 
 
 
 
 
________________________ 
Prof. Valdir Alvim da Silva, Dr. 
Orientador 
 
 
 
Florianópolis, 2021 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Este trabalho é dedicado aos meus amores, minha 
esposa Juliane e minha filha Ana Clara, como também 
aos meus amados pais Célio e Margarida. 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Primeiramente quero agradecer a Deus por me iluminar, proteger e me guiar 
durante toda minha vida e jornada acadêmica. 
Como base da minha vida, nunca poderia deixar de agradecer aos meus pais, 
Margarida e Célio e a minha estudiosa esposa, Juliane, juntamente com minha 
princesa Ana Clara. São vocês que me inspiram e que me fazem superar todas as 
dificuldades. Agradeço todo o esforço e incentivo que vocês me deram durante toda 
a minha formação acadêmica. Amo vocês. 
Agradeço aos grandes amigos que fiz na Universidade Federal de Santa 
Maria, onde iniciei minha graduação, e aos colegas da nossa saudosa UFSC. 
Quero agradecer aos meus colegas de trabalho da Base Aérea de Santa 
Maria, Base Aérea de Florianópolis e do Destacamento de Controle do Espaço 
Aéreo de Florianópolis, que sempre me auxiliaram, para que eu pudesse estudar, 
para provas, trabalhos e atividades rotineiras da universidade. 
E, por fim, quero agradecer aos professores tanto da Universidade Federal de 
Santa Maria como os da Universidade Federal de Santa Catarina, pois é graças aos 
seus ensinamentos que hoje completo esta etapa em minha vida. Especialmente ao 
professor Alvim que me orientou e auxiliou durante a produção de minha 
monografia. 
Obrigado a todos que participaram e me auxiliaram, pois foi graças a este 
conjunto, que encerrei mais este ciclo em minha vida, um ciclo de esforço, 
dedicação, abdicação e aquisição de conhecimento. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Nunca esqueçamos esta verdade fundamental: o Estado não tem fonte de 
dinheiro senão o dinheiro que as pessoas ganham por si mesmas e para si 
mesmas. Se o Estado quer gastar mais dinheiro, somente poderá fazê-lo 
emprestando de sua poupança ou aumentando seus impostos. Não é correto 
pensar que alguém pagará. Esse “alguém” é “você”. Não há “dinheiro 
público”, há apenas “dinheiro dos contribuintes. 
 
(Margaret Thatcher) 
 
 
RESUMO 
 
A dívida pública analisada é a dívida adquirida pelo Governo Federal brasileiro para 
o financiamento do seu déficit orçamentário, base do conceito do Tesouro Nacional. 
O atual cenário econômico brasileiro leva à reflexão acerca dos desequilíbrios que 
estão acarretando a dívida pública, como o gerenciamento do orçamento público, os 
juros aplicados à dívida pública e a tributação utilizada pelo governo, fatores esses 
que influenciam de forma direta a composição da dívida pública federal. O objetivo 
deste estudo se constitui em investigar componentes da dívida pública brasileira 
definidos, condicionados e determinados pela Constituição Federal de 1988, sendo 
eles o orçamento, o sistema tributário e, os juros. A condição da situação fiscal 
deficitária na composição da dívida e as formas de arrecadação e aplicação dos 
recursos; com base em expectativas e planejamento dos juros, déficits e dívidas que 
ficam para o pagamento de futuros governos. Por fim, considera-se a necessidade 
de repensar as formas de gestão do dinheiro arrecadado através de impostos, taxas 
e contribuições, possibilitando a melhoria do perfil da dívida e os seus déficits, 
financiamento, apoio e recursos para gastos, sem causar impactos negativos nas 
demandas sociais, elaboração e execução do orçamento futuro do Brasil. 
 
Palavras-chave: Dívida Pública. Juros. Orçamento público. Sistema Tributário. 
Governo federal. 
 
 
 
ABSTRACT 
 
The public debt analyzed is the debt acquired by the Brazilian Federal Government 
to finance its budget deficit, which is the basis of the concept of the National 
Treasury. The current Brazilian economic scenario leads to reflection on the 
imbalances that are causing the public debt, such as the management of the public 
budget, the interest applied to the public debt and the taxation used by the 
government, factors that directly influence the composition of the public debt. federal. 
The objective of this study is to investigate components of the Brazilian public debt 
defined, conditioned and determined by the Federal Constitution of 1988, being the 
budget, the tax system and the interest. The condition of the deficit fiscal situation in 
the composition of the debt and the forms of collection and application of resources; 
based on expectations and planning of interest, deficits and debts that remain for the 
payment of future governments. Finally, it is considered the need to rethink the ways 
of managing the money collected through taxes, fees and contributions, enabling the 
improvement of the debt profile and its deficits, financing, support and spending 
resources, without causing negative impacts on the social demands, elaboration and 
execution of the future budget of Brazil. 
Keywords: Public debt. Fees. Public Budget. Tax system. Federal Government. 
 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
Figura 1 - Organograma dos órgãos que participam do processo 
orçamentário ........................................................................................................................... 30 
Figura 2 - Cenários para canais de transmissão da política monetária ............ 44 
 
 
LISTA DE GRÁFICOS 
 
Gráfico 1 - Orçamento Geral da União Executado: 2010-2018 (R$ trilhões)
 ........................................................................................................................................... 34 
Gráfico 2 - Orçamento Federal Executado: juros, amortização e 
refinanciamento da dívida(em %) ............................................................................... 34 
Gráfico 3 - Gastos com Juros e Encargos da Dívida Pública: valor 
executado no ano corrente (%) .................................................................................... 45 
Gráfico 4 - Gastos com Juros e Encargos da Dívida Pública: valor 
executado no ano corrente (R$ milhões) .................................................................... 46 
Gráfico 5 - Taxa de juros implícita a Dívida líquida do setor público (%) .. 47 
Gráfico 6 - Dívida líquida do setor público (R$ milhões) .............................. 47 
Gráfico 7- PIB acumulado nos últimos 12 meses em valores correntes. 
(R$milhões) ...................................................................................................................... 48 
Gráfico 8 - Dívida líquida do setor público (% PIB) ....................................... 48 
 
 
LISTA DE TABELAS 
 
Tabela 1 - Receita corrente líquida no período de 2010 a 2018(R$ milhares).
 .................................................................................................................................................. 29 
Tabela 2 - Orçamento Geral da União Executado: juros, amortização e 
refinanciamento da dívida 2010-2018 (R$ trilhões) ......................................................... 33 
Tabela 3 - Repartição Constitucional do Produto da Arrecadação Tributária .. 40 
 
 
LISTA DE QUADROS 
 
Quadro 1 - Repartição constitucional de competências Tributárias .................. 39 
Quadro 2 - Repartição constitucional para instituição de impostos ................... 39 
 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
BCB Banco Central do Brasil 
CSE Centro Socioeconômico 
CF Constituição Federal 
DLSP Dívida Líquida do Setor Público 
DPF Dívida Pública Federal 
FHC Fernando Henrique Cardoso 
IE Imposto de Exportação 
II Imposto de Importação 
IR Imposto de Renda 
IRPF Imposto de Renda de Pessoa Física 
ITCD Imposto sobre a Causa Mortis e Doação 
IPVA Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores 
IPTU Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana 
ITBI Imposto sobre a Transmissão de Bens Imóveis 
ICMS Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços 
IGF Imposto sobre Grandes Fortunas 
IOF Imposto sobre Operações Financeiras 
IPI Imposto sobre Produtos Industrializados 
ISS Imposto sobre Serviços de Qualquer 
ITR Imposto Territorial Rural 
IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada 
INSS Instituto Nacional do Seguro Social 
JK Juscelino Kubitschek 
LDO Lei de Diretrizes Orçamentárias 
LRF Lei de Responsabilidade Fiscal 
LOA Lei Orçamentária Anual 
NECAT Núcleo de Estudos de Economia Catarinense 
PPA Plano Plurianual 
PIB Produto Interno Bruto 
PLOA Projeto de Lei Orçamentária Anual 
PEC Proposta de Emenda Constitucional 
RCL Receita Corrente Líquida 
RTN Relatório do Tesouro Nacional 
STN Secretaria do Tesouro Nacional 
SELIC Sistema Especial de Liquidação e Custódia 
SIAFI Sistema Integrado de Administração Financeira e Orçamentária 
SIDOR Sistema Integrado de Dados Orçamentários 
UFSC Universidade Federal de Santa Catarina 
 
 
 
Sumário 
CAPÍTULO I - DÍVIDA PÚBLICA BRASILEIRA: TRÊS COMPONENTES DA 
SITUAÇÃO FISCAL DEFICITÁRIA ................................................... 15 
1.1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 15 
1.2. TEMA E PROBLEMA DA INVESTIGAÇÃO ......................................................... 18 
1.3. OBJETIVOS ............................................................................................................... 19 
1.3.1 Objetivo geral ........................................................................................................... 19 
1.3.2 Objetivos específicos................................................................................................. 20 
1.4. MÉTODO DA PESQUISA E PLANO DE EXPOSIÇÃO ........................................ 20 
CAPÍTULO II - DÍVIDA PÚBLICA: CONCEITOS E ESTRUTURA ........................ 22 
2.1. O ATUAL CENÁRIO DA EXPANSÃO DA DÍVIDA PÚBLICA .......................... 22 
2.2. DÍVIDA PÚBLICA É UM DÉFICIT: UMA OBRIGAÇÃO DE PAGAMENTO A 
TERCEIROS .............................................................................................................. 25 
2.3. O ORÇAMENTO FEDERAL BRASILEIRO ........................................................... 27 
2.4. O SISTEMA TRIBUTÁRIO: PRINCÍPIOS E IDEIAS URBANIZADAS ............... 35 
CAPÍTULO III - DÍVIDA PÚBLICA E TAXA BÁSICA DE JUROS: O SISTEMA 
ESPECIAL DE LIQUIDAÇÃO E CUSTÓDIA (SELIC) .................... 42 
3.1. TAXA DE JUROS USURÁRIA ......................................................................... 42 
3.2. TAXA DE JUROS BÁSICA............................................................................... 43 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 50 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................. 53 
 
 
 
 
15 
 
CAPÍTULO I - DÍVIDA PÚBLICA BRASILEIRA: TRÊS COMPONENTES DA 
SITUAÇÃO FISCAL DEFICITÁRIA 
 
1.1. INTRODUÇÃO 
 
A Dívida Pública, como objeto desta investigação, consiste em uma conta que 
todo Governo tem como um de seus principais gastos. É por meio dela que os 
governos se financiam para suprir demandas financeiras que não foram supridas 
com recursos próprios, como forma também de adquirir novos recursos para 
investimentos sejam eles de curto, médio ou longo prazo. 
Essa dívida geralmente é encarada pela perspectiva exclusivamente 
financeira, mas não só desse fator ela é composta. A dívida pública está 
intrinsecamente ligada às perspectivas financeira, política, organizacional, entre 
outras, proporcionando uma complexidade muito maior em sua administração 
pública se comparada, por exemplo, a um cidadão, pois este organiza suas finanças 
se preocupando com o equilíbrio de caráter financeiro, ou seja, salário a receber 
versus contas a pagar (BENAKOUCHE, 2018, p. 26). 
No caso brasileiro, observou-se que a dívida pública se apresenta como a 
conta mais onerosa aos cofres da União, utilizando-se em média 42,9% dos 
recursos obtidos via Sistema Tributário Nacional (STN). Portanto uma conta que 
utiliza um percentual tão expressivo da arrecadação, deve ser acompanhada de 
forma minuciosa, visando identificar seus desmembramentos para eventuais 
correções (AUDITORIA CIDADÃ DA DÍVIDA 2012; 2019). 
No caso do Orçamento Geral da União (OGU), observou-se que o modelo 
orçamentário federal brasileiro a ser seguido, visando vincular o orçamento e o 
planejamento, está estruturado na Constituição Federal de 1988 (CF/88), devendo 
esse processo orçamentário se apresentar de forma dinâmica e contínua. Na 
Constituição se explana as diretrizes no processo de confecção orçamentária, tendo 
como características básicas, a manutenção da estabilidade, a qualidade e o 
controle no gasto público, e a transparência e responsabilidade (BRASIL, 2018). 
O processo orçamentário é realizado conforme previsão de variáveis 
macroeconômicas, como o Produto Interno Bruto (PIB), inflação e arrecadação. 
Entretanto, por se tratar apenas de uma previsão, nem sempre o futuro se 
concretiza, o que pode gerar dificuldades na execução do Plano Plurianual (PPA), 
16 
Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e Lei Orçamentária Anual (LOA). Mas não se 
pode esquecer que, mesmo com dificuldades, a União tem o dever de cumprir a 
execução orçamentária, pois seu descumprimento é passível de punição, como 
qualquer lei. 
Um avanço obtido nos últimos anos foi a aprovação da Lei de 
Responsabilidade Fiscal em 2000 (LRF/2000), que tem como objetivo promover uma 
melhor gestão do orçamento público. Essa lei tem como escopo a responsabilidade 
na gestão fiscal, planejamentoe transparência do gasto público. Todavia este é um 
processo que está em amadurecimento e deve ser encarado e utilizado como 
manual para todos os Entes federativos em suas gestões fiscais (BRASIL, 2000). 
Ao se confrontar o pagamento da dívida pública brasileira com o orçamento 
federal executado, observa-se o peso que a dívida exerce nos cofres da União. Um 
país que consome em média mais de 40,0% do orçamento somente para o 
pagamento da dívida mobiliária, deve se preocupar não somente com a 
estabilização da dívida, mas também com a estruturação do seu orçamento, visando 
a obtenção de superávit fiscal primário 1 . Desse modo poderá arcar com seus 
compromissos e destinar uma porção maior de seus recursos para rubricas em 
áreas de gastos públicos tão sensíveis como a Saúde, Educação, Segurança 
Pública e Infraestrutura. 
O entendimento e a estruturação do sistema tributário estão determinados 
com base em três princípios constitucionais básicos: a capacidade contributiva, a 
progressividade e a seletividade. No princípio da capacidade contributiva entende-se 
que a taxação deve dar preferência aos impostos diretos, podendo escalonar a 
arrecadação de acordo com a capacidade econômica dos contribuintes; a 
progressividade prevê a taxação de acordo com a condição econômica e o 
patrimônio do contribuinte; a seletividade prevê taxar de acordo com a tipologia de 
bens e serviços, devendo ser mais acentuada nos produtos tributáveis de bens 
supérfluos e reduzida nos bens essenciais (BRASIL, 2018). 
Dos tributos cobrados, a maior parte dos recursos arrecadados está sob 
gerência da União, 56,0%, e o restante dividido entre Estados, 25,0%, e Municípios, 
 
1
 É o resultado positivo entre as receitas e despesas do governo, excetuando-se os gastos com 
pagamento de juros. Essa condição fiscal possibilita o pagamento de juros da dívida pública e 
redução do endividamento do governo no médio e longo prazo (BRASIL, 2021). 
17 
19,0%. O que se observou neste caso é que, mesmo controlando a maior parte dos 
recursos, a União deve realizar a repartição dos mesmos e, da mesma forma os 
Estados devem repassar uma parcela dos seus 25,0% aos Municípios. Nesse 
processo de passa e repassa, a situação orçamentária fica cada vez mais nebulosa 
para os gestores públicos, no que se reflete aos fluxos e proporções dos valores 
previstos nesses repasses, pois os diferenciais deles, e variações percentuais sobre 
percentuais a serem utilizados, criam maiores dificuldades em se gerir os recursos 
repassados, pois Estados e Municípios não têm um controle efetivo e direto sobre 
todo o recurso arrecadado nesta situação (ALVIM, 2020). 
Não se pode deixar de ressaltar que a CF/88 aumentou de forma significativa 
as responsabilidades sociais sob gerência dos Municípios, mas não proporcionou 
uma repartição coerente dos recursos arrecadados, uma vez que os Municípios têm 
dificuldade de alcançar, de forma adequada, todas as responsabilidades por eles 
absorvidas a partir da CF/88, o que agrava a situação financeira dos Entes 
federativos. 
A complexidade e o período de efetivação do sistema tributário, formulado na 
Constituição, fazem com que o processo de arrecadação seja complexo e 
desatualizado. Devido a esse processo é que se observa a necessidade da 
reformulação do sistema tributário nacional para que este se torne mais objetivo e 
claro, dando mais transparência e previsibilidade aos entes federativos. E é devido a 
essa dificuldade de gerência que está em debate a Proposta de Emenda 
Constitucional (PEC) 45/2019, que prevê a alteração do Sistema Tributário Nacional. 
Quando se investiga a taxa de juros, com foco na taxa Selic e seus impactos 
na dívida pública, observa-se que ela atua na forma de mecanismo redistributivo da 
política monetária nas disposições regulamentares do Banco Central (BCB), pois a 
taxa Selic é a taxa básica de juros do mercado financeiro, e suas variações 
influenciam todas as taxas de juros no mercado nacional para todos os tomadores 
de empréstimos, financiamentos, aplicações financeiras, entre outros (BRASIL, 
2019d). 
Observou-se também que, em comparação aos períodos de estabilidade, 
essa taxa apresenta poucas oscilações e a dívida, com isso, tende a ser controlada, 
retraindo-se até como proporção do PIB. Quanto às variáveis que envolvem a dívida 
pública, constata-se que variações na taxa de juros acarretam, obviamente, 
mudanças nas expectativas dos tomadores quanto às decisões de investimentos, 
18 
consumo, crédito e câmbio para acúmulo de riqueza. Porém, uma elevação abrupta, 
como a observada no período analisado, tende a impulsionar o crescimento da 
dívida. Já o movimento de retração da taxa de juros posterior atenua o crescimento 
da dívida, mas infelizmente a resposta a esse movimento não ocorre na mesma 
velocidade e proporção dos momentos de elevação da taxa de juros 2. Como a taxa 
de juros não é utilizada somente com o intuito de controlar a dívida pública, apesar 
de influenciá-la e condicioná-la, torna-se assim de maior complexidade sua análise. 
O tema e problema da investigação da dívida foram observados no período 
entre 2010 e 2018, momento no qual ocorreram variações positivas da taxa de juros, 
o que implicou em transferências, mais do que proporcionais, de recursos na relação 
Dívida/PIB para a estabilidade da dívida pública, exercendo maior impacto no peso 
dos recursos do Tesouro Nacional. 
 
1.2. TEMA E PROBLEMA DA INVESTIGAÇÃO 
 
Esta pesquisa demonstra a importância de estudos que envolvam o devido 
olhar para a necessidade do controle das finanças governamentais e da elaboração 
da proposta orçamentária, pois essas finanças são arcadas pelo cidadão brasileiro, 
no recolhimento de impostos, taxas, contribuições, entre outras, que se efetivam por 
meio da circulação das mercadorias e da riqueza, ao atender as mais diversas 
demandas sociais dos Entes e instituições do território nacional. 
O OGU deve ser encarado com maior comprometimento e responsabilidade, 
pois ele é um projeto anual que, após sancionado, torna-se Lei, sujeita às condições 
interpostas na CF/88. O debate para a aprovação do orçamento deve ser encarado 
como fator de extrema importância e as projeções macroeconômicas de PIB e 
inflação, por exemplo, devem ser minuciosamente pautadas em estudos bem 
estruturados para que, ao final de um exercício financeiro, o governo tenha 
 
2
 Vale destacar que em 2016 foi promulgada a emenda constitucional do teto de gastos públicos 
(PEC 55/2016), tendo como objetivo o equilíbrio das contas públicas por meio um controle mais rígido 
de gastos. No primeiro ano de sua vigência se utilizou como base a despesa primária paga em 2016 
com uma correção de 7,2%. Já nos anos seguintes o aumento dos gastos se concretizou com base 
na inflação acumulada dos últimos 12 meses (de junho do ano anterior até julho do ano corrente), 
sendo à base desta inflação o índice de preços ao consumidor amplo. Esta emenda constitucional 
juntamente com a retração da taxa de juros, tende a minimizar os impactos de geração/perpetuação 
da dívida pública (BRASIL, 2016). 
19 
condições de arcar com o orçamento sem a necessidade da formação de uma nova 
dívida. 
O que estimulou este debate, que amarga a administração desses 
componentes, foi a necessidade mais aguçada da compreensão do objeto dívida 
pública, no sentido da hipótese do volume de juros pagos deixar de ser componente 
de expansão financeira expressiva frente aos demais gastos, dada a situação 
hodierna das despesas do governo federal. 
Os cenários macroeconômicos apontam para futuros incertos em um cenário 
político instável, podendo-se encaminhar para dado descontrole das receitas-
despesas/PIB, e tão promissor seria intervir de forma melhor estruturada e 
planejada, tanto para o governo quanto para nação brasileira.A atual situação fiscal compõe a problemática da pesquisa, como fator 
importante na composição da dívida, que impacta de forma tão marcante o 
orçamento e os componentes diferenciados que atuam nas condicionalidades da 
dívida pública brasileira, os conceitos apresentados como parte dos pontos de 
desequilíbrio na estrutura do sistema tributário, aas condições econômicas dos 
componentes do orçamento federal, os constantes déficits orçamentários, as 
determinações da taxa de juros e o volume de recursos transferidos. 
 
1.3. OBJETIVOS 
 
1.3.1 Objetivo geral 
 
Demonstrar por meio da análise da estrutura e administração do sistema 
orçamentário e tributário nacional e da gestão da taxa de juros, a tendência destes 
em influenciar a formação e perpetuação da dívida pública brasileira no período de 
2010 a 2018, devido ao seu caráter intrínseco à DPF, tornando deficitária a situação 
fiscal na relação com o PIB, dadas as limitações e inconsistências observadas na 
CF/88. 
 
 
 
20 
1.3.2 Objetivos específicos 
 
a) Analisar as formas dos desequilíbrios na organização do OGU, suas 
instituições, órgãos e poderes da Federação que, ao dividir as 
competências, com as limitações interpostas pela CF/88, possui 
tendência a influenciar na formação dos déficits orçamentários, criando 
e expandindo a dívida pública para os Entes federativos dotados de 
autonomia relativa; 
b) Demonstrar os pontos de cerceamento na atual estrutura do sistema 
tributário brasileiro, que acarreta na formação de déficits e expansão da 
dívida, gerando uma herança negativa para os futuros governos; 
c) Demonstrar o impacto da taxa de juros na dívida pública federal e o 
volume executado dessa taxa no orçamento público sobre o 
arrecadado, tendo em vista a gestão dos impostos, taxas e 
contribuições. 
 
1.4. MÉTODO DA PESQUISA E PLANO DE EXPOSIÇÃO 
 
Nesta seção será apresentado o plano de descrição estruturado, a partir dos 
objetivos do projeto de investigação, visando descrever os assuntos que foram 
trabalhados e que agora serão expostos. Inclui-se aqui o primeiro capítulo, que 
expõe o plano de estudo, introduz conceitos, fatos e acontecimentos acerca da 
dívida pública brasileira, focando em três categorias, o orçamento federal, o sistema 
tributário nacional e a taxa de juros aplicada na composição da dívida. 
O capítulo II trata das definições conceituais da dívida pública, o sistema 
tributário do orçamento federal, a repartição dos tributos e a divisão dos recursos 
entre os Entes Federativos, cujos componentes têm seu ponto de partida na forma 
simples da CF/88, nela que a descrição das competências de toda a estrutura 
tributária brasileira. Explora-se como referência básica os conceitos utilizados em 
três princípios que são essenciais ao seu entendimento: capacidade contributiva, 
progressividade e seletividade. Os conceitos utilizados pelo Ministério da Economia 
para gestão e transparência do orçamento público, formam três pilares de 
manutenção: estabilidade; qualidade e controle no gasto público; transparência e 
21 
responsabilidade fiscal (LRF) - fruto da experiência brasileira do Tesouro Nacional 
em parceira com o Grupo Banco Mundial. 
No Capítulo III, o conceito de taxa de juros na abordagem de Marx foi o 
ponto de partida utilizado para análise dos artigos, periódicos e outras fontes 
materiais com foco no aluguel de dinheiro-mercadoria a ser pago numa data futura. 
E para tornar as informações mais palpáveis na busca por recursos monetário-
financeiros e impactos gerados, foi realizada uma explanação sobre os juros da 
dívida e a taxa Selic, taxa básica de juros na economia brasileira, entendidos de 
maneira simples e tácita, como encontro realizado entre agentes deficitários e 
superavitários. As instituições financeiras e bancos tornam-se os responsáveis por 
informações coletadas e comparadas aos valores do PIB para analisar o custo da 
dívida em comparação ao PIB gerado no período de 2010 a 2018 utilizando-se como 
base de dados o BCB, Secretaria do Tesouro Nacional, Câmara dos Deputados, e 
da Auditoria Cidadã da Dívida Pública (ACDP). Nas considerações finais da 
pesquisa observa-se a melhoria no entendimento dos conceitos da dívida como um 
todo, porém, o foco qualitativo está em três componentes da dívida pública federal 
com base em livros, artigos, periódicos e dados coletados diretamente de órgãos 
governamentais. 
 
22 
CAPÍTULO II - DÍVIDA PÚBLICA: CONCEITOS E ESTRUTURA 
 
A instituição Governo Federal será a categoria analisada na forma como o 
Estado se organiza, dividindo as competências entre o governo nacional, os 
governos subnacionais e os Municípios. Estes governos regionais e locais são 
dotados de autonomia, mas têm como soberano o governo federal, sendo a junção 
de diversos órgãos e de poderes que se organizam para condução da política do 
Estado e da Federação (THOMAZINI, 2020). 
 
2.1. O ATUAL CENÁRIO DA EXPANSÃO DA DÍVIDA PÚBLICA 
O atual cenário econômico brasileiro, leva à reflexão das determinações 
acerca dos desequilíbrios que estão acarretando a expansão da dívida pública. 
Como a atual situação fiscal é deficitária, os pontos de desequilíbrio a serem 
explorados na estrutura do sistema tributário, envolvem os três componentes 
atuantes: o volume dos recursos orçamentários; a tributação aplicada pelo Governo; 
e as taxas de juros aplicadas; como fatores importantes e influenciadores, de forma 
direta, das condicionalidades para a composição e cálculos da dívida pública 
brasileira. 
Se condicionada à necessidade de manutenção de elevadas receitas na 
política tributária, observamos que a definição de Dívida Pública Federal (DPF) do 
Tesouro Nacional refere-se a “todas as dívidas contraídas pelo governo federal para 
financiamento do seu déficit orçamentário, nele incluído o refinanciamento da própria 
dívida e para outras operações com finalidades específicas, definidas em lei” 
(BRASIL, 2019a). 
Ao se analisar a definição da dívida pública, é possível explorar mais alguns 
conceitos nela determinados, visando um melhor esclarecimento das categorias que 
a envolve. A dívida contraída é a dívida adquirida por pessoa ou instituição perante 
entidades financeiras, cuja finalidade é financiar parte dos seus gastos, que não 
foram cobertos pelo seu rendimento ou receitas próprias. O financiamento é uma 
operação de crédito que tem sua definição na circular n° 1.273 do BCB, operação a 
ser realizada com destinação específica, devendo ser associada à comprovação da 
execução dos recursos (BCB, 1987). 
23 
No caso governamental, o déficit ocorre quando os dispêndios com pessoal, 
dívida, investimentos, entre outros, é maior que a sua arrecadação própria de 
impostos, taxas e contribuições, ou seja, quando as despesas são maiores que as 
receitas públicas. No caso de refinanciamento, as condições de trocar o atual 
contrato de financiamento por um novo contrato, com a mesma instituição, almejam 
melhores condições de prazo e valores, visando maior autonomia financeira das 
instituições e pessoas. 
A situação fiscal das instituições governamentais é outro termo importante 
ao se falar da dívida. A partir dos mais diversos relatórios disponíveis, o que se 
observa é que, devido à obrigatoriedade de transparência no trato dos gastos 
governamentais, uma ampla gama de contas consome os recursos dos cofres 
públicos de forma bem desigual. A Secretaria do Tesouro Nacional (STN) é a 
responsável por emitir o Relatório do Tesouro Nacional (RTN) - boletim que 
apresenta o resultado primário 3 do Governo. Ele é um importante meio de 
divulgação da análise da situação fiscal e nele são confrontados os fluxos de 
entrada (receitas) e os fluxos de saída (despesas) do governo, dando transparência 
e auxílio nas decisões governamentais. 
Com base no relatório produzido pela Câmara dos Deputados sobre o 
orçamento de 2019 da União, é possível observar quesomente os benefícios fiscais 
totalizam um valor de R$ 306,4 bilhões - equivalente a 5,0% do PIB, e os juros da 
dívida – em 5,1% do PIB, totalizando R$ 378,9 bilhões. Ou seja, somente dois itens 
utilizam 10,1% do PIB dos diversos que componentes da cesta de despesas da 
União (BRASIL, 2019b). 
Devido aos déficits acumulados e à dívida contraída, o Brasil jogou com o 
processo de privatizações no Governo do Fernando Henrique Cardoso (FHC), no 
governo de Michel Temer e também no atual governo, do Presidente da República 
Jair Bolsonaro, no qual também se debate a importância da reforma da previdência 
em âmbito nacional. 
 
3
 Segundo Silva, Carvalho e Medeiros (2009), o Resultado Primário do Setor Público é o resultado 
nominal, excluído o efeito dos juros nominais incidentes sobre a dívida pública interna e externa. Esse 
indicador mede o efetivo esforço determinado pela política fiscal, “descontaminada” dos efeitos da 
taxa de juros nominal sobre o estoque da dívida existente, que é função dos déficits acumulados no 
passado. 
24 
As ações já realizadas e as que estão em debate, ocorrem devido à 
preocupação das autoridades monetárias com a atual dívida pública. Segundo a 
STN, no final de 2018 a dívida pública estava em R$ 3,877 trilhões, e em 2019 
fechou o ano em R$ 4,249 trilhões, sendo que a meta do governo era entre R$ 4,1 
trilhões e R$ 4,3 trilhões. Assim, consegue cumprir com o Plano Anual de 
Financiamento (PAF) de 2019 (BRASIL, 2019c; MÁXIMO, 2020). 
Anualmente o Governo Federal deve planejar, via Projeto de Lei 
Orçamentária Anual (PLOA), onde serão investidos os recursos previstos para o ano 
corrente. Apesar de investidas quantidades vultosas de recursos em áreas 
essenciais para se obter uma qualidade de vida, como Saúde - R$ 120,4 bilhões, e 
Educação - R$ 101,3 bilhões, áreas essas dignas em qualquer nação, esses 
recursos estão se mostrando insuficientes, necessitando de uma ampliação para o 
atendimento dessas áreas de maneira adequada (BRASIL, 2019b). 
Somente com as despesas primárias obrigatórias, no ano de 2019 se 
destinou 17,6% do PIB, já no ano de 2018 foram 17,3%, sendo que esta pequena 
diferença representa R$ 58,1 bilhões e tende a agravar os déficits primários neste 
período de recessão pelo qual está passando a economia nacional. Da mesma 
maneira, os juros em 2018 apresentaram uma tendência de expansão de 4,4% do 
PIB - que equivale a R$ 299,2 bilhões, para 5,1% - equivale R$ 372,3 bilhões. Esta 
variação aparente de 0,7%, na verdade corresponde a um crescimento real de 
1,47%, tendo como base dados do PIB de 2018 (BRASIL, 2019b). 
Com base neste cenário recente, o governo brasileiro deve repensar a 
maneira como está administrando o dinheiro arrecadado dos impostos, taxas e 
contribuições, entre outros, para que o impacto em cada setor seja minimizado, 
diminuindo assim a necessidade de financiamento para subsidiar as suas despesas 
e, dessa forma, poder aplicar mais recursos em infraestrutura, saúde, educação e 
segurança pública, áreas essas carentes de recursos. 
O Governo deve então cumprir as determinações constitucionais e realizar o 
planejamento orçamentário, através dos mecanismos dos impostos, taxas e 
contribuições, e realizar a destinação desses recursos arrecadados por meio do 
sistema tributário em todos os níveis de governo, norteando-se para isto na 
arrecadação do país com base em cálculos estimados de receitas e despesas. 
O conceito de dívida pública pode ser demonstrado de diversas formas, 
porém o mais comum é o de Dívida Bruta, que considera apenas os passivos do 
25 
governo, e a dívida líquida que desconta dos passivos os ativos do governo (SILVA; 
CARVALHO; MEDEIROS, 2009). 
No próximo passo serão abordados alguns conceitos chaves da dívida 
pública brasileira, visando assim, um melhor entendimento do assunto ao longo do 
trabalho a partir da análise da experiência brasileira, tomando-se como base os 
resultados do trabalho sobre a dívida pública realizado pela Secretaria do Tesouro 
Nacional e o Banco Mundial com publicação em 2009. 
Assim, a dívida pública é geralmente encarada pela perspectiva 
exclusivamente financeira e, dessa forma, a sua constituição e solução segue os 
mesmos preceitos, isto é, se a ela é encarada como um excesso de despesas por 
parte do governo, a solução seria através de cortes de despesas. 
Dessa forma, o próximo passo será realizar uma breve abordagem sobre os 
elementos intrínsecos na formação da dívida pública brasileira em três 
componentes: orçamento federal; arrecadação tributária; e gestão dos pagamentos 
de juros. 
Tal qual impresso na CF/88, viu-se que o conceito de dívida pública nada 
mais é do que uma obrigação de pagamento a terceiros, cuja soma de despesas é 
maior do que a soma das receitas, gerando um déficit. Nesse diapasão, não se 
poderia deixar de explorar a gestão dos juros, componente integrante da dívida de 
qualquer nação, pois seu peso recai sobre o orçamento federal. 
 
2.2. DÍVIDA PÚBLICA É UM DÉFICIT: UMA OBRIGAÇÃO DE 
PAGAMENTO A TERCEIROS 
 
Como já comentado, a dívida pública pode ser apresentada de diversas 
formas sendo que uma das mais utilizadas é a Dívida Líquida do Setor Público 
(DLSP). 
Para fins de apuração da dívida, consideram-se as instituições públicas e os 
fundos públicos sem características de intermediários financeiros. A dívida pública 
proveniente do setor público abrange a administração direta, as autarquias e as 
fundações das três esferas do governo (federal, estadual e municipal) e suas 
respectivas empresas estatais, o Banco Central e o Instituto Nacional de Seguridade 
Social (INSS). 
26 
Porém, não só de caráter financeiro se constitui a dívida pública, ela é 
fundada de diversas perspectivas como financeira, política, organizacional, entre 
outras. Em outras palavras a “dívida é dinheiro, dinheiro é poder, e política é prática 
de poder” (BENAKOUCHE, 2018, p. 26), sua composição heterogênea a torna um 
problema público, que afeta o Estado e a sociedade, sendo que cada membro é 
afetado de forma distinta, ou seja, uns mais e outros menos . 
Assim, a DLSP engloba as obrigações não financeiras do setor, ou seja, 
tanto a dívida interna como externa, tanto mobiliária como contratual, os 
compulsórios, operações compromissadas e a base monetária, deduzindo-os dos 
ativos financeiros do setor público. Vale destacar que dívida líquida é utilizada 
trivialmente no acompanhamento da sustentabilidade fiscal de um país (SILVA; 
CARVALHO; MEDEIROS, 2009). 
Porém quando se trata da dívida pública pela perspectiva da dívida bruta, 
pode-se classificá-la de três formas: quanto à origem, abrangência e a natureza. 
Quando se trata da origem, pode-se dividi-la em dívida interna ou externa, sendo 
que países como o Brasil, que têm histórico de crises na balança de pagamentos, a 
mesma se dá devido à moeda em que ela é originada, pois, dessa forma, é possível 
mensurar os riscos da dívida de maneira mais adequada. Outra maneira de análise 
é por meio da posse da dívida, seja ela por residentes ou não residentes, ocorrendo 
geralmente em países com livre fluxo de capitais, sendo que nesses países se utiliza 
essa divisão devido ao comportamento distinto desses residentes. 
Ao se analisar pela perspectiva da abrangência pode-se representar a dívida 
por diferentes grupos como setor público, governo central, governo federal, governo 
geral, governo regional e empresas estatais. Já na análise pela natureza da dívida, a 
divisão se dá em contratual - quando ocorre por meio de contrato no qual se define 
os termos da dívida, ou mobiliária - pela emissão de títulos (SILVA; CARVALHO; 
MEDEIROS, 2009). 
Porém, quando se trata do orçamento federal brasileiro, fala-se de um 
orçamento muito mais complexo e abrangente, o qual não pode ser simplificado em 
um simples ato de calcular receitas e despesas e confrontá-las.27 
2.3. O ORÇAMENTO FEDERAL BRASILEIRO 
O ato ou efeito de calcular o orçamento federal brasileiro está diretamente 
ligado ao sistema tributário nacional, pois discrimina a receita e a despesa, valida o 
custo com a devida aplicação dos recursos arrecadados para fazer frente às 
demandas, despesas ou investimentos sociais. O planejamento é contínuo e 
dinâmico e deve expor os programas como um todo. 
Ao se tratar do orçamento se abrange todos os entes federativos, num 
cenário onde se estimam montantes a ser recolhidos e a sua destinação. Uma 
simples diferença de 0,01% dessas estimativas pode acarretar diferenças de 
milhões de reais e, por isso, esse processo deve ser encarado e realizado por 
pessoas capacitadas para o fim, seguindo todos os trâmites legais, sem atropelos e 
com responsabilidade. 
O orçamento está regulamentado na Constituição Federal, no título VI, que 
trata da tributação e orçamento, mais especificamente no capítulo II – das finanças 
públicas, seção II, que trata dos orçamentos, artigos 165 ao 169. 
Como visto, o orçamento público espelha a estratégia de alocação de 
recursos para as despesas do governo, com base nas expectativas de receita, 
permitindo assim sua execução para cada exercício financeiro. O orçamento, numa 
perspectiva mais moderna, deve ser planejado com base em três requisitos básicos 
que são: manutenção da estabilidade; qualidade e controle no gasto público; 
transparência e responsabilidade. As receitas do orçamento são sempre estimadas 
para o exercício financeiro seguinte, utilizando-se para essa estimativa as previsões 
de PIB, inflação e das receitas (impostos, contribuições, etc.). Com base nessas 
previsões de receitas é que são fixadas as despesas dos Poderes Executivo, 
Legislativo e Judiciário. Ainda vale lembrar que os orçamentos e suas leis iniciam 
seu processo no Poder Executivo e são encaminhadas, após aprovadas, para o 
Poder Legislativo para que o Presidente da República sancione o orçamento, 
transformando-o em lei (SILVA; CARVALHO; MEDEIROS, 2009). 
Visando vincular o orçamento e planejamento, a Constituição Federal de 
1988 decretou o modelo orçamentário a ser seguido pelo Brasil. Nele instituiu-se o 
Plano Plurianual (PPA) onde constam as prioridades do governo para os próximos 
quatro anos, a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), que visa priorizar as metas do 
Plano Plurianual para o ano seguinte orientando a elaboração do orçamento, e a Lei 
28 
Orçamentária Anual (LOA) que, depois de apreciada na forma de projeto pela 
comissão mista e sancionada pelo Presidente da República, torna-se lei. Em 2000, 
foi aprovado a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), que tem como objeto a 
responsabilidade na gestão fiscal, tendo como base o planejamento e transparência 
nos gastos públicos (SILVA; CARVALHO; MEDEIROS, 2009). 
As leis de iniciativa do Poder Executivo devem estabelecer o plano 
plurianual, as diretrizes orçamentárias e os orçamentos anuais. As leis que versarem 
sobre o plano plurianual devem, de forma regionalizada, estabelecer metas e 
diretrizes para que a administração pública controle as despesas de capital e outras 
relativas a esta, além dos programas de duração continuada. 
As leis que tratam das diretrizes orçamentárias devem compreender os 
objetivos e as prioridades da administração pública federal, como as despesas de 
capital previstas para o exercício financeiro posterior, orientar a elaboração da lei 
orçamentária anual, além de tratar sobre alterações na legislação tributária e 
elaboração na política das agências financeiras de fomento. Já as leis que tratarem 
sobre o orçamento anual, deverão compreender o orçamento fiscal, o orçamento de 
investimento e o orçamento da seguridade social, sendo que os dois primeiros 
devem ser compatibilizados com o plano plurianual, tendo como um de seus 
objetivos minimizar as desigualdades inter-regionais (BRASIL, 2018). 
Os projetos de lei que tratam do orçamento são analisados por uma 
comissão mista de Senadores e Deputados, que devem emitir um parecer sobre os 
projetos, sendo que os mesmos ainda serão mensurados na forma regimental, tanto 
pelo Senado Federal como pela Câmara dos Deputados, conforme prevê a CF/88: 
Art. 166. Os projetos de lei relativos ao plano plurianual, às diretrizes 
orçamentárias, ao orçamento anual e aos créditos adicionais serão 
apreciados pelas duas Casas do Congresso Nacional, na forma do 
regimento comum. 
§ 1º Caberá a uma Comissão mista permanente de Senadores e Deputados 
(BRASIL, 2018). 
Essa comissão mista deverá emitir, analisar e proferir parecer sobre: 
projetos, planos, programas (nacionais, regionais e setoriais), sendo que, para esses 
programas, será necessário também o acompanhamento e fiscalização 
orçamentária. Após todo esse processo, o projeto de lei segue para a sanção do 
presidente da República. Sua confecção deve seguir uma cartilha, tendo como base, 
o orçamento ser apresentado na forma de um documento único que englobe todos 
29 
os entes da União. Nele deve conter toda a previsão de receitas e despesas, 
corresponder ao exercício anual, ser equilibrado entre as receitas e despesas e ter 
uma destinação específica para cada verba explicitada no projeto de lei (BRASIL, 
2018). 
Ainda vale frisar que as emendas ou projetos que acarretarem alguma 
modificação no projeto de lei orçamentário anual, deverão ser compatíveis com o 
plano plurianual e com a lei de diretriz orçamentária. Deverá ser indicado o quanto 
de recurso será necessário para seu subsídio, sendo que este subsídio carecerá da 
anulação de despesa. Porém não é possível que sejam aprovadas emendas ao 
projeto de lei orçamentário anual de maneira descontrolada, pois, como prevê no 
artigo 166 da Constituição: 
§ 9º As emendas individuais ao projeto de lei orçamentária serão aprovadas 
no limite de 1,2% (um inteiro e dois décimos por cento) da receita corrente 
líquida prevista no projeto encaminhado pelo Poder Executivo, sendo que a 
metade deste percentual será destinada a ações e serviços públicos de 
saúde (BRASIL, 2018). 
Por receita corrente líquida (RCL) entende-se o somatório das receitas 
tributárias, patrimoniais, contribuições industriais e agropecuárias, serviços, 
transferências correntes e outras receitas também correntes, deduzindo-se os 
valores transferidos aos Estados e Municípios. Ainda vale destacar que a RCL é 
apurada com base nos últimos 12 meses partindo-se do mês de referência. Essas 
possíveis emendas individuais ao projeto de lei orçamentário, que podem alcançar o 
teto de 1,2% da RCL, correspondem a quantidades vultosas de recurso da União, 
como pode ser observado da tabela 1. 
Tabela 1 - Receita corrente líquida no período de 2010 a 2018(R$ milhares). 
Ano RCL RCL(1,2%) 
2010 499.866.613 5.998.399 
2011 558.706.387 6.704.477 
2012 616.933.349 7.403.200 
2013 656.094.218 7.403.200 
2014 641.578.197 7.698.938 
2015 641.578.197 8.094.273 
2016 709.929.575 8.519.155 
2017 727.254.324 8.727.052 
2018 805.348.403 9.664.181 
Fonte: Brasil (2020a) 
Elaboração: Autor 
 
30 
Tratando da parte estrutural da administração orçamentária e financeira do 
Brasil, observa-se que a sua gestão é descentralizada, dividindo-se em órgãos 
centrais que coordenam diversas unidades gestoras. Essa divisão aplicada, oriunda 
do caráter descentralizador da administração orçamentária e financeira acaba 
proporcionando uma estrutura complexa, conforme se pode observar na Figura 1. 4 
Figura 1 - Organograma dos órgãos que participam do processo 
orçamentário 
 
Fonte: SILVA; CARVALHO; MEDEIROS, 2009, p. 225 
 
Apesar de complexa essa estrutura é amparada em instrumentos legais bem 
definidos que proporcionam uma gestão orçamentária e financeira transparente e 
organizada (BRASIL, 2018; SILVA; CARVALHO; MEDEIROS, 2009). 
Essa coordenação utiliza-se de meios para poder gerir os dados 
orçamentários e financeiros, como podemosobservar: a Secretaria de Orçamento 
Federal do Ministério do Planejamento é órgão central de orçamento e responsável 
pelo Sistema Integrado de Dados Orçamentários (SIDOR), e a Secretaria do 
 
4
 Vale destacar que em 2018 ocorreu a junção dos Ministérios da Fazenda e Planejamento 
originando-se nesta junção o Ministério da Economia. 
31 
Tesouro Nacional do Ministério da Fazenda é o órgão central de programação 
financeira e responsável pela administração da Conta única do governo federal e 
pelo Sistema Integrado de Administração Financeira e Orçamentária (SIAFI) (SILVA; 
CARVALHO; MEDEIROS, 2009, p. 225). 
Um marco importante na gerência do orçamento e no controle da dívida 
pública foi a aprovação da Lei Complementar 101/2000, a já mencionada Lei de 
Responsabilidade Fiscal (LRF), como pode ser observado no § 1° do Art. 1° da LRF: 
§ 1
o
 A responsabilidade na gestão fiscal pressupõe a ação planejada e 
transparente, em que se previnem riscos e corrigem desvios capazes de 
afetar o equilíbrio das contas públicas, mediante o cumprimento de metas 
de resultados entre receitas e despesas e a obediência a limites e 
condições no que tange a renúncia de receita, geração de despesas com 
pessoal, da seguridade social e outras, dívidas consolidada e mobiliária, 
operações de crédito, inclusive por antecipação de receita, concessão de 
garantia e inscrição em Restos a Pagar (BRASIL, 2000). 
Sua aprovação possibilitou uma melhor gestão do orçamento, limitando-o, e 
tendo como objetivo prevenir e corrigir desvios que possam impactar nas contas 
públicas. A Lei estabelece limites de gastos para os entes federativos, no âmbito 
nacional. O melhor controle dos gastos públicos tem por objetivo uma saúde 
financeira governamental, visando cumprir limites e prazos, fazendo, assim, com que 
os gestores terminem seus mandatos deixando as contas administráveis para seus 
sucessores. Ela especifica que os aumentos de gastos devem ter uma fonte de 
financiamento, além de impor limites para gastos com pessoal sendo 50% da receita 
líquida para União e 60% para Estados, Municípios e Distrito Federal. Ao atingir 95% 
do estabelecido por lei, diversas imposições são aplicadas como a vedação de 
criação de cargos, aumentos salariais, alteração na estrutura de carreira, 
contratação de horas extras, entre outros especificados no Art. 22 da Lei (BRASIL, 
2000; BRASIL, [2020]). 
Outro fator importante é o exposto no capítulo II, na Seção III da LRF, que 
trata do planejamento da lei orçamentária anual nos parágrafos 1° e 2°: 
§ 1
o
 Todas as despesas relativas à dívida pública, mobiliária ou contratual, e 
as receitas que as atenderão, constarão da lei orçamentária anual. 
§ 2
o
 O refinanciamento da dívida pública constará separadamente na lei 
orçamentária e nas de crédito adicional (BRASIL, 2000). 
A Lei de Responsabilidade Fiscal ainda dedica todo o capítulo VII para 
explicitar fatos relativos à dívida e ao endividamento. A lei prevê que o Senado 
Federal deverá formular uma proposta dos limites para a União, Estados e 
32 
Municípios do montante da dívida consolidada ou fundada, sendo o “montante total, 
apurado sem duplicidade, das obrigações financeiras do ente da Federação, 
assumidas em virtude de leis, contratos, convênios ou tratados e da realização de 
operações de crédito, para amortização em prazo superior a doze meses” (BRASIL, 
2000), e o Congresso Federal deverá formular uma proposta dos limites do 
montante da dívida pública mobiliária federal representada por títulos emitidos pela 
União, inclusive os do Banco Central do Brasil, Estados e Municípios (BRASIL, 
2000). 
Se, ao final de um quadrimestre, algum ente federativo não respeitar o limite 
imposto para o montante da dívida, deverá tomar uma série de medidas para que 
nos próximos três quadrimestres, regularize a sua situação e, caso não consiga 
regularizar, ficará passível de sanções, como não receber transferências voluntárias 
da União ou do estado. O Ministério da Fazenda deverá averiguar se os entes 
federativos e as empresas por esses controladas, estão cumprindo os limites e as 
condições de efetivação das operações de crédito. Além disso, o ente interessado 
em realizar a contratação de uma nova operação de crédito deverá, por meio de um 
parecer dos seus órgãos técnicos e jurídicos, comprovar o custo-benefício 
econômico e social desta contratação (BRASIL, 2000). 
Todo esse controle e dinâmica no processo de planejamento, aprovação e 
execução do orçamento, impactam diretamente no resultado da dívida, pois, quanto 
mais fidedigno for todo esse processo do planejamento até a execução do 
orçamento, melhores serão os resultados econômicos do governo e menores os 
impactos negativos no orçamento. 
Como forma de verificar o impacto do pagamento da dívida pode-se 
observar na Tabela 2 e nos Gráficos 1 e 2 os valores executados do orçamento 
federal no período de 2010 a 2018, além do percentual utilizado do orçamento anual 
para o pagamento da dívida. 
 
 
 
 
33 
Tabela 2 - Orçamento Geral da União Executado: juros, amortização e 
refinanciamento da dívida 2010-2018 (R$ trilhões) 
Orçamento Geral da União (Executado) 2010-2018 
Ano 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 
OGU executado (trilhões R$) 1.414 1.571 1.712 1.783 2.168 2.268 2.572 2.483 2.621 
OGU executado (%) 
juros, amortização e 
refinanciamento da dívida 
44,93 45,05 43,98 40,30 45,11 42,43 43,94 39,70 40,66 
Fonte: Auditoria Cidadã da Dívida (2012; 2019); 
Elaboração: Autor 
 
Essa tabela compõe os dados da Auditoria Cidadã da Dívida Pública ACDP, 
associação sem fins lucrativos que tem como objetivos em seu estatuto, realizar a 
auditoria da dívida de forma cidadã, exigir a devida transparência do endividamento 
brasileiro e do orçamento fiscal, promover estudos e pesquisas relacionadas ao 
tema da dívida, entre outros (ACDP, 2020). 
No período analisado pela ACDP, foram utilizados em média 42,9% do 
orçamento executado para realizar o pagamento da dívida, sendo que nesse 
percentual se incluem os juros, amortizações e o refinanciamento da dívida. Isso 
demonstra o grande impacto que a dívida ocasiona no orçamento federal, 
demonstrando ser, durante todo esse período, a maior conta do governo. Por isso a 
importância do controle e transparência durante o processo orçamentário, pois uma 
conta que absorve mais de 40% da renda de uma nação, merece uma atenção mais 
do que especial, além do controle tanto na criação de novos dividendos, via 
aprovação na LDO, LOA e no PPA, quanto na liquidação de parte desta dívida. 
 
34 
Gráfico 1 - Orçamento Geral da União Executado: 2010-2018 (R$ trilhões) 
 
Fonte: Auditoria Cidadã da Dívida (2012; 2019) 
Elaboração: Autor 
 
Gráfico 2 - Orçamento Federal Executado: juros, amortização e 
refinanciamento da dívida (em %) 
 
Fonte: Auditoria Cidadã da Dívida (2012; 2019) 
Elaboração: Autor 
 
No caso do sistema tributário brasileiro, que está positivado na Constituição 
Federal de 1988, esse foi formulado com base em ideias urbanizadas, porém pouco 
aplicadas atualmente. 
E umm artigo da revista NECAT de 2009, Ricardo Silveira, auditor fiscal da 
Receita Federal, formula sobre o poder e mistério do sistema tributário num 
contundente e poético quadro, onde as cores trazem consigo conhecimento, recurso 
e poder: 
R$-
R$250 
R$500 
R$750 
R$1.000 
R$1.250 
R$1.500 
R$1.750 
R$2.000 
R$2.250 
R$2.500 
R$2.750 
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018
R$1.414 
R$1.571 
R$1.712 R$1.783 
R$2.168 R$2.268 
R$2.572 R$2.483 
R$2.621 
Orçamento Federal Executado em Trilhões R$
36,00%
38,00%
40,00%
42,00%
44,00%
46,00%
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018
44,93% 45,05%
43,98%
40,30%
45,11%
42,43%
43,94%
39,70%
40,66%
% do orçamento executado com juros, amortização e refinanciamento da dívida
35 
Um deserto árido, de fertilidade pouco conhecida,quase nunca irrigado pela 
transparência, e do qual a maioria dos mortais contribuintes deve manter 
distância. Este é um quadro convenientemente pintado para disfarçar um 
terreno fértil, mas de onde se extrai, na atualidade, os frutos mais amargos 
da tributação brasileira. Permitir luzes e cores nessa pintura é arriscado 
para alguns atores, porque socializar o conhecimento significa dividir 
recursos e poder. Mas, como de ambientes hostis e, muitas vezes, de difícil 
acesso se extraem metais raros e de muito valor. (SILVEIRA, 2017. P. 89) 
 
2.4. O SISTEMA TRIBUTÁRIO: PRINCÍPIOS E IDEIAS URBANIZADAS 
Dando início à exposição dos princípios do sistema tributário, observou-se 
que a aprovação da constituição de 1988 visava à formação de um Estado 
democrático e tratava o sistema tributário brasileiro estruturado em três princípios 
essenciais: a capacidade contributiva, a progressividade e a seletividade. 
No que refere-se ao princípio da capacidade contributiva, o Art. 145 da 
CF/88, define que os tributos que a União, Estados, Distrito Federal e Municípios 
podem instituir são impostos, taxas e contribuições.5 
O parágrafo 1°, explicita que sempre que possível, os impostos aplicados 
pelo governo devem ter caráter pessoal e serem escalonados de acordo com a 
condição financeira dos contribuintes, ou seja, mais impostos diretos - é quando o 
imposto é aplicado diretamente à pessoa que de direito deve pagar por este, sem 
que seja possível que ela repasse este a outrem, como o caso do IRPF, IPTU, IPVA; 
e menos impostos indiretos - aquele que o contribuinte de direito consegue repassar 
o imposto para os contribuintes de fato, ou seja, para quem paga o ônus fiscal - o 
consumidor, como ICMS e IPI: 
§ 1
o 
Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão 
graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte, facultado à 
administração tributária, especialmente para conferir efetividade a esses 
objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, 
o patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte 
(BRASIL, 2018, p. 121). 
Ainda, cabe possibilitar a elevação ou redução dos tributos de acordo com 
as condições socioeconômicas dos contribuintes, a justiça fiscal e a regulamentação 
complementar federal, estadual e municipal (BRASIL, 2018; SILVEIRA, 2017). 
 
5
 IRPF - Imposto de Renda de Pessoa Física; IPTU - Imposto Predial e Territorial Urbano; IPVA - 
Imposto Sobre a Propriedade de Veículos Automotores; ICMS - Imposto sobre a Circulação de 
Mercadorias e Prestação de Serviços; e IPI - Imposto sobre Produtos Industrializados. 
36 
Em relação ao princípio da progressividade, observa-se que sua base está 
nos Art’s 153 e 156 da CF/88. Na sua descrição os impostos devem ser 
progressivos e aplicados sobre a renda de pessoas ou empresas, sobre 
propriedades rurais e urbanas e também sobre veículos automotores, ou seja, taxar 
o contribuinte de acordo com a sua condição econômica, tendo como base 
econômica a sua renda, essencialmente em seu patrimônio, rendimentos e 
atividades econômicas. Este formato de taxação visa reduzir as injustiças, gerando 
melhoria na qualidade de vida dos cidadãos (BRASIL, 2018, p.126 e 131). 
O princípio constitucional da seletividade dos impostos, Art.s 153 e 156, 
abrange as três esferas do poder: União – IPI; Estados – ICMS; e Municípios – ISS. 
Nesses artigos aborda-se que os impostos devem ser seletivos, de acordo com os 
tipos de produtos e serviços a serem realizados, ou seja, os bens, produtos e 
mercadorias essenciais devem ter sua tributação reduzida, e bens supérfluos devem 
ter sua tributação mais acentuada (BRASIL, 2018, p. 126 e 131). 
Porém, nos Art’s 150a 152, há limitações no poder de tributar para a União, 
Estados, Municípios e Distrito Federal. 
Há diversas vedações em relação à tributação, como não poder aumentar ou 
exigir tributos sem que seja aprovado em lei; não dever existir tratamento desigual 
para os contribuintes que estiverem em situações semelhantes; não cobrar tributos 
de fatos ocorridos antes da publicação de lei; não utilizar tributo como efeito de 
embargo; entre outros. 
Para a União é vedado instituir tributo que seja desigual no território nacional 
ou que implique em vantagens entre os entes federativos, exceto a concessão de 
incentivos fiscais destinados à estabilidade socioeconômica das diferentes regiões 
do país. Já os Estados, Municípios e Distrito Federal não podem estabelecer 
diferença entre as tarifas tributárias de bens e serviços com base em sua 
procedência ou destino (BRASIL, 2018). 
A Constituição, Art. 153, também define os impostos que competem a cada 
ente federativo. Cabe à União impostos como de importação de produtos 
estrangeiros, exportação de produtos nacionais, rendas de qualquer natureza, 
produtos industrializados, propriedades rurais, grandes fortunas, entre outros. Mas, 
vale lembrar, que cada item a ser tributado tem sua peculiaridade conforme 
instituído na Constituição, como o da tributação de rendas que, segundo o 
parágrafo, 2º, deverá ser informado pelos critérios da generalidade, da 
37 
universalidade e da progressividade. Já o parágrafo 3° abrange as diretrizes para 
taxar os produtos industrializados, que deverão ser seletivos de acordo com a 
necessidade do produto. Os itens da cesta básica devem ter taxação menor por 
conter itens básicos da alimentação, por exemplo. A taxação não deverá ser 
cumulativa, não deverá incidir nos produtos industrializados designados para 
exportação, entre outros. Ao se tratar das propriedades rurais, o parágrafo 4º prevê 
que a tributação deverá ser progressiva, visando desestimular a manutenção das 
propriedades improdutivas e não deverá incidir sobre as pequenas propriedades, em 
que o proprietário não detenha outro imóvel e realize a exploração efetiva desta 
propriedade (BRASIL, 2018, p. 126). 
Os impostos de responsabilidade dos Estados e Distrito Federal estão 
explicitados no Art. 155. Esses entes federativos podem tributar sobre transmissão 
de causa mortis e doação, entretanto, as alíquotas máximas são estipuladas pelo 
Senado Federal; circulação de mercadorias e serviços de transporte e comunicação, 
não poderão ser cumulativos; o imposto poderá ser seletivo devido à especificidade 
do bem ou serviço, e as alíquotas, tanto máximas quanto mínimas, serão definidas 
pelo Senado Federal, implicando que Estados ou Distrito Federal deverão aplicar o 
devido imposto respeitando esses limites. Sobre a propriedade de veículos 
automotores, a alíquota mínima deverá ser fixada pelo Senado Federal e sua 
alíquota ainda poderá ser diferenciada de acordo com o tipo e utilização do veículo 
automotor (BRASIL, 2018, p. 127-131). 
Estados e Distrito Federal encontram grandes entraves na utilização de 
recursos, pois em diversos momentos da história brasileira os entes federativos 
viveram com suas dívidas de forma descontrolada, tanto antes como depois da 
CF/88. A arrecadação era basicamente centralizada na União e os Estados e Distrito 
Federal necessitavam de outros meios para arcar com seus investimentos de médio 
prazo. 
Em um primeiro momento buscou-se as instituições financeiras nacionais e 
internacionais no contexto que se estende até a recessão nos anos 1980, 
envolvendo recursos financeiros internacionais. Assim, foi necessária nova forma de 
financiamento para os entes federativos e, a partir disso, o Governo Federal, por 
meio da Caixa Econômica Federal, autorizou a emissão de títulos da dívida para 
serem lançados no mercado financeiro, mediante atuação dos bancos estaduais, o 
que acarretou na prática em um descontrole da dívida. O resultado foi desastroso e 
38 
a União, em 1997, decidiu refinanciar parte da dívida dos Estados, que, em 
contrapartida, assumiriam as condições interpostas no Programa de Apoio à 
Reestruturação e aoAjuste Fiscal dos Estados, criando-se ambiente institucional de 
segurança jurídica, agradável para as novas diretrizes do endividamento, em 
especial dos Estados (OLIVEIRA; MERCADANTE, 2017). 
Já os impostos sobre a responsabilidade dos Municípios estão descritos no 
Art. 156. Os Municípios podem tributar sobre as propriedades prediais e territoriais 
urbanas, sendo que este tributo poderá utilizar de um fator progressivo com base no 
valor, localização e utilização do imóvel, porém deve respeitar as regras descritas da 
progressividade; poderá tributar sobre a transmissão intervivos de bens imóveis e 
sobre os serviços de qualquer natureza, que não estejam enquadrados do Art. 155, 
inciso II - sendo necessário, regulamentar os limites de alíquotas para estes 
serviços. Deve-se retirar sua aplicação das exportações e também regular as 
condições para se conceder benefícios, incentivos e isenções fiscais, seja para sua 
inclusão ou revogação (BRASIL, 2018, p. 131). 
O fato de que na CF/88 os Municípios foram elevados ao Status Público de 
ente federativo, lhes proporcionou autonomia relativa para organizar suas formas 
administrativas, política e financeira, proporcionando capacidade de autogoverno. 
Porém, essa elevação de status implicou em expansão das responsabilidades 
constitucionais oriundas da sua elevação, mas não foi acompanhada de repasse 
orçamentário proporcional de recursos adequados para execução e gestão, 
deixando esses novos entes federativos com grandes debilidades para atingir suas 
metas orçamentárias. 
O fato de o recurso estar altamente concentrado no Tesouro da União, e o 
repasse destes ser em valores nominais, amplia ainda mais os efeitos negativos, o 
que ocasiona deterioração das finanças públicas e ampliação na formação da dívida 
pública (ALVIM, 2020). 
No Quadro 1 observa-se os critérios da repartição das competências 
tributárias dos entes federativos, de acordo com os artigos da Constituição Federal. 
 
 
 
39 
Quadro 1 - Repartição constitucional de competências Tributárias 
Tributo Ente Artigo 
Impostos, taxas e contribuições de melhoria União, Estados, DF e 
Municípios 
145 
Empréstimos compulsórios União 148 
Contribuições especiais União 149 
Contribuição de iluminação pública Municípios e DF 149-A 
Impostos federais União 153 
Novos impostos e impostos extraordinários União 154 
Impostos estaduais Estados e DF 155 
Impostos municipais Municípios e DF 156 
Contribuições para seguridade União 195 
Contribuições para regime próprio de 
previdência 
União, Estados, DF e 
Municípios 
149, §1° 
Novas contribuições para seguridade União 195, §4° 
Fonte: Brasil ([2019]) 
 
A repartição dos impostos para os entes federativos pode ser observada de 
maneira simplificada no Quadro 2. 
 
Quadro 2 - Repartição constitucional para instituição de impostos 
Ente Imposto 
União II, IE, IR, IPI, IOF, ITR e IGF 
Estados e Distrito Federal ITCD, ICMS e IPVA 
Municípios e Distrito Federal IPTU, ITBI e ISS 
Fonte: Brasil, ([2019]) 
 
Apesar de cada ente federativo poder tributar determinados bens e serviços, 
ainda há uma repartição das receitas tributárias, conforme descritos nos Art’s 157 a 
162. Tanto os Estados e Distrito Federal, como os municípios, têm direito a parte 
dos impostos sobre a renda e dos proventos, seja qual for a natureza desse 
provento, e sobre produtos industrializados, mas com parcelas distintas. A União 
reparte estes proventos da seguinte forma: para os Estados e Distrito Federal 
21,5%; 24,5% aos Municípios; e 3% a programas de fomento do setor produtivo das 
regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste - sendo que metade desses recursos deve 
ser destinado ao semiárido nordestino. 
Da arrecadação sobre os produtos industrializados, 10% deverá ser 
encaminhada aos Estados e Distrito Federal, de forma proporcional à exportação 
desses produtos. Porém, o parágrafo II da CF/88 limita esse repasse a 20% do total, 
40 
e caso algum ente federativo extrapole esse limite, devido ao grande número de 
exportações, o sobressalente deverá ser dividido entre as outras unidades 
federativas, conforme Tabela 3 (BRASIL, 2018, p. 132 a 133). 
 
Tabela 3 - Repartição Constitucional do Produto da Arrecadação 
Tributária 
Tributo 
Ente Federativo 
União 
 
Estados e DF 
União 
 
Municípios 
Estados 
 
Municípios 
IR 21,5% 24,5% - 
IR-fonte 100,0% 100,0% - 
IPI 21,5% 24,5% - 
IPI-exportação 10,0% - 
25,0% (dos 
10%) 
IOF-ouro 30,0% 70,0% - 
ITR - 
50,0% ou 
100,0% (optante) 
- 
Novos Impostos 20,0% - - 
CIDE-
Combustíveis 
29,0% - 
25,0% dos 
(29,0%) 
ICMS - - 25,0% 
IPVA - - 50,0% 
Fonte: Brasil ([2019]) 
 
Após esse processo de distribuição de recursos, os entes federativos devem 
divulgar os dados relativos a esses montantes: 
Art. 162. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios divulgarão, 
até o último dia do mês subsequente ao da arrecadação, os montantes de 
cada um dos tributos arrecadados, os recursos recebidos, os valores de 
origem tributária entregues e a entregar e a expressão numérica dos 
critérios de rateio (BRASIL, 2018, p. 134). 
O sistema tributário brasileiro é de grande complexidade nos diversos tipos 
de impostos já mencionados, impostos esses que recaem sob responsabilidade de 
cada ente federativo. 
Porém, como explicitado no início desta seção, o sistema tributário está 
desatualizado, pois foi concebido no contexto da constituinte da CF/88, seja nos 
aspectos do caráter socioeconômico ou sociopolítico e, por isso, está em debate à 
reformulação do sistema, tema este que há tempos se posterga par o amplo debate 
com a sociedade, pois define o papel do Estado, e sua votação no Congresso 
Nacional. 
41 
Atualmente o tema da reforma tributária está em debate na Câmara dos 
Deputados, por meio da Proposta de Emenda à Constituição (PEC 45/2019) que 
altera o sistema tributário nacional e dá outras providências. 
 
42 
CAPÍTULO III - DÍVIDA PÚBLICA E TAXA BÁSICA DE JUROS: O SISTEMA 
ESPECIAL DE LIQUIDAÇÃO E CUSTÓDIA (SELIC) 
 
Ao se falar da taxa de juros brasileira vinculada à Dívida Pública Federal, 
deve-se concentrar o olhar no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic). A 
Selic é a taxa básica de juros na economia nacional. Ela influencia todas as outras 
taxas de juros nos mercados, seja para empréstimos, financiamentos, como para 
aplicações financeiras, onde ela é o principal influenciador das demais taxas de 
juros, além de ser utilizada como instrumento de política monetária pelo Banco 
Central (BRASIL, 2019d). 
A definição oficial da Selic está descrita da seguinte maneira: 
§ 1º Define-se como Taxa Selic a taxa média ajustada dos financiamentos 
diários apurados no Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic) 
para títulos públicos federais.§ 2º Para efeito do disposto no § 1º, são 
considerados os financiamentos diários relativos às operações com títulos 
públicos federais custodiados no Selic, registradas e liquidadas no próprio 
Selic ou em sistemas operados por câmaras ou prestadores de serviços de 
compensação e de liquidação de que trata a Lei nº 10.214, de 27 de março 
de 2001 (BRASIL, 2017). 
 
3.1. TAXA DE JUROS USURÁRIA 
 
Em se tratando de taxa de juros no sistema tributário, cabe destacar que 
Marx (1980) nos mostra a primeira forma de “juros” no capital usurário, sendo este 
encontrado nas mais diversas formações econômicas da sociedade, antes mesmo 
da existência do modo capitalista de produzir. O capital usurário se efetivava, 
afirmava ele, quando pelo menos uma parte do produto era convertida em 
mercadoria, podendo assim o dinheiro exercer uma de suas funções de capital. A 
usura, na forma como era praticada, podia devorar dos produtores todo o seu 
excedente de produto e valor do trabalho, com exceção dos impostos destinados ao 
Estado, destruindo a formação de riqueza e da propriedade, em todas as formas em 
que o produtor aparecia como o proprietáriodos meios de produção. O terreno 
principal da usura se materializava na utilização do dinheiro como meio de 
pagamento, possibilitado assim a sua expansão. Posteriormente, surgiram as 
instituições bancárias e suas formas de crédito, onde o empréstimo era vinculado à 
capacidade produtiva dos indivíduos. Na sua evolução, os bancos retiraram das 
mãos dos capitalistas privados e dos usurários a repartição do capital e, juntamente 
com os seus créditos, se tornaram o meio de controlar o sistema para que o mesmo 
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/100942/lei-10214-01
43 
não fosse além dos seus próprios limites. Essas instituições bancárias afirmavam 
que, para se combater a usura no comércio, na indústria e no Estado, deveriam se 
emancipar dela, alimentando ilusões sobre os efeitos miraculosos do crédito e a 
abolição do monopólio de metais preciosos, substituindo-o pelo papel (MARX, 1980). 
Tratando-se de taxa de juros na atualidade, o mainstrem econômico do 
mercado financeiro considera os juros como o preço a ser pago pelo dinheiro 
emprestado num determinado tempo, ou seja, dada capacidade de realizar o 
encontro entre os agentes deficitários e superavitários na busca por recursos 
monetário-financeiros. Assim, uma parte do valor do dinheiro a ser pago, deve ser 
acrescido e desembolsado no tempo da posse até data futura. A taxa de juros é 
vista como uma relação dada pelo preço pago pelo tomador do empréstimo - bancos 
e instituições financeiras - e o poupador, que depositou em confiança seu dinheiro 
numa conta bancária. 
Mudanças na taxa Selic, como a taxa diária média ajustada, acarretam 
efeitos condicionados para o controle da inflação da economia nacional, por 
exemplo, uma vez que haja uma elevação dessa taxa, os juros cobrados para 
empréstimos sobem, desestimulando assim o consumo e controlando a inflação, 
levando-a à queda. Porém, quando cai a taxa Selic o efeito é o inverso, ou seja, 
ocorre uma queda nos juros dos empréstimos e do cartão de crédito, estimula o 
consumo, dado excedente de renda que pode ser gasto. 
Porém como comentando em sua definição, essa taxa está vinculada aos 
títulos mobiliários emitidos pela União, e a sua variação influencia, de forma direta, 
os juros pagos da DPF. A taxa Selic, portanto é o principal mecanismo de 
transmissão, definido Canal de Transmissão da política monetária disposta pelo 
Banco Central. 
 
3.2. TAXA DE JUROS BÁSICA 
 
O sistema Selic é responsável pela compra e venda de títulos públicos e 
pelo Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB), constituintes das condições 
infraestruturais do sistema financeiro nacional. É composto por serviços de 
compensação de cheques; de compensação e liquidação de ordens eletrônicas de 
débito e de crédito; de transferência de fundos e de outros ativos financeiros; de 
compensação e de liquidação de operações com títulos e valores mobiliários; de 
44 
compensação e de liquidação de operações realizadas em bolsas de mercadorias e 
de futuros; de depósito centralizado; e de registro de ativos financeiros e de valores 
mobiliários (BRASIL, 2019g). 
As variações afetam o comportamento das variáveis econômicas nos mais 
diversos Canais, conforme definições dos cenários explicativos, ilustrados na Figura 
2. 
Figura 2 - Cenários para canais de transmissão da política monetária 
 
Fonte: BRASIL, 2019e 
 
Este sistema desempenha um papel fundamental em conjunto com 
determinada infraestrutura do mercado financeiro que, por meio de funcionamento 
45 
adequado, proporciona estabilidade financeira como condição essencial para 
assegurar o bom funcionamento dos Canais de Transmissão da política monetária - 
como de investimento e consumo, de crédito, câmbio, expectativas e riqueza 
(BRASIL, 2019f). 
Ao se analisar o gasto efetivo que a União tem com os juros e encargos da 
dívida pública federal, observa-se que quantidades vultosas de recursos são 
destinadas para arcar com essa conta, que se apresenta tão onerosa aos cofres 
públicos. 
Nos Gráficos 3 e 4 seguintes, pode-se observar a trajetória das variações na 
taxa com juros e encargos da dívida. É possível observar que, no período de 2010 a 
2018, ocorre estabilidade nos percentuais executados com a dívida pública, porém, 
no ano de 2018 há uma elevação com o pagamento da dívida, sendo que essa 
elevação se deu na faixa de aproximadamente R$ 75 bilhões. 
 
Gráfico 3 - Gastos com Juros e Encargos da Dívida Pública: valor 
executado no ano corrente (%) 
 
Fonte: BRASIL, 2020b 
Elaboração: Autor 
 
8
,2
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%
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,9
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%
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46 
Gráfico 4 - Gastos com Juros e Encargos da Dívida Pública: valor 
executado no ano corrente (R$ milhões) 
 
Fonte: BRASIL, 2020b 
Elaboração: Autor 
 
Outra maneira de se analisar os dados referentes à dívida pública e o 
impacto dos juros, é a comparação dessas duas variáveis com os valores do PIB 
brasileiro. Nos Gráficos 5, 6, 7 e 8, expõem-se os dados do período de 2010 a 2018, 
no que se refere à Dívida Pública Federal, taxa de juros e PIB brasileiros, podendo, 
dessa maneira, observar-se as tendências da variação da taxa de juros, se elas 
apresentam tendências similares na dívida pública e o quanto esses 
valores/percentuais oneram a conta da União, utilizando-se da taxa de juros 
implícita, para comparação no PIB. 
No gráfico 5 foi observado que na variação nos percentuais acumulados da 
taxa de juros implícita a dívida pública, no período de 2010 a 2013, apresentou 
variações de até 2 pontos percentuais, mas nos anos de 2014 e 2015, ocorreu uma 
aceleração da taxa de juros, elevando quase 13% nesses dois anos. 
Após essa aceleração ocorreu uma desaceleração bem acentuada, que 
perdurou até o fim do período analisado. Essa queda da taxa de juros foi superior a 
18%, queda muito significativa, principalmente tendo-se em vista os valores da 
dívida pública. 
 
R$-
R$25.000,0 
R$50.000,0 
R$75.000,0 
R$100.000,0 
R$125.000,0 
R$150.000,0 
R$175.000,0 
R$200.000,0 
R$225.000,0 
R$250.000,0 
R$275.000,0 
R$300.000,0 
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R
$
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R
$
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$
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R
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,7
 
47 
 
Gráfico 5 - Taxa de juros implícita a Dívida líquida do setor público (%) 
 
Obs.: Valor relativo ao mês de dezembro do ano corrente 
Fonte: BRASIL, 2020c 
Elaboração: Autor 
 
Gráfico 6 - Dívida líquida do setor público (R$ milhões) 
 
Obs.: Valor relativo ao mês de dezembro do ano corrente 
Fonte: BRASIL, 2020c 
Elaboração: Autor 
 
Já quando se observa os valores da dívida líquida, verifica-se que há uma 
leve elevação nos valores da dívida pública no período de 2010 a 2013, período no 
1
4
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R
$
1
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R
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R
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R
$
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.6
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R$0
R$500.000
R$1.000.000
R$1.500.000
R$2.000.000
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R$3.000.000
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R$4.000.000
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qual o percentual da dívida se retrai, isso quando comparada ao PIB brasileiro. 
Porém, a partir de 2014, ocorre uma aceleração nos valores líquidos da dívida 
pública, apresentando um pico entre os anos de 2015 e 2016, período

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