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RESENHA CRÍTICA – O CORTE Antônio Ivanildo Cavalcante Júnior No filme “O corte”, é possível observar uma perspectiva dos elementos que estruturam o capitalismo global, inclusive, de uma crise estrutural que melhor seria observada a partir de 2008, posteriormente, condicionando problemas financeiros em escala global. Essa obra engloba a sociedade capitalista atual, logo, o diretor Costa-Gavras busca uma experiência crítica por meio do cinema, algo necessário em uma sociedade marcada por problemas econômicos consequentes de um sistema baseado na assimetria da distribuição de recursos e dominado por elites. Antes de mais nada, é necessário destacar que esse filme é classificado como uma obra política e também um drama social, no sentido que ele trata de um assunto fundamental para compreender a economia moderna de mercado, que é a produção da barbárie social. Inclusive, é essa perspectiva que vem caracterizando o capitalismo global nos últimos 30 anos de desenvolvimento. Nessa trama, o seu protagonista se vê desolado por perder o seu emprego, a partir disso, começa a eliminar todos os candidatos a substituírem o cargo, com o intuito de conseguir mantê-lo. Essa abordagem mostra a cerne do capitalismo, que está enraizado na mecanização do trabalho e exploração do proletário. Essa análise pode ser associada com “O Capital”, que traz o Marxismo como uma forma de combater esses excessos e fomentar melhores condições de trabalho para esses indivíduos, considerando o absurdo que é a mais-valia. O filme também demonstra como Bruno Davert era altamente legal à empresa, algo que não foi correspondido com o passar dos anos. Assim, a sua demissão e de outros colaboradores foi justificada como uma “reestruturação produtiva”. As consequências dessas demissões em massa, como demonstrado no filme, podem corroborar em grandes problemas sociais. Mesmo ocupando um alto cargo nesse empreendimento – gerente executivo – se passam três anos e o protagonista não consegue sua recolocação, começa a matar todas as pessoas que pleiteiam esse cargo. Esse filme pode ser classificado como humor negro, pois, demonstra que em uma situação de barbárie social, onde o https://www.adorocinema.com/personalidades/personalidade-4318/ indivíduo não possui nenhuma referência moral, o que vale é essa “lógica” instrumental que é mostrada no filme. Por essa análise, se alguém quer uma vaga de emprego e não consegue encontrar novas oportunidades e tendo em vista que terão novos concursos, por que não eliminar os concorrentes? Essa demonstração de violência do filme é metafórica, porém, não pode se distanciar da realidade social de diversos países capitalistas. Para que o capitalismo funcione, é essencial a concentração de renda e riqueza na mão de poucas pessoas, em regra, grandes latifundiários e donos de empresas multinacionais. Com isso, diversos colaboradores irão lutar por seu destaque individual dentro dessa organização, com o intuito de melhorar sua renda e passar os seus colegas de produção para trás. Como consequência, não importa quais são as técnicas que serão utilizadas ou o quão ilícitos serão os meios, para a mentalidade capitalista, o que importa são os fins. Essa análise maquiavélica do capitalismo, demonstra que mesmo após a queda de regimes absolutos, ainda existem diversas elites dominando classes menores, tanto em questões financeiras, quanto políticas. Isso pode ser observado com a quantidade de desinformações que são diariamente dispersas pelas mídias sociais, inclusive, por meio de campanhas difamatórias. Em “O corte”, essas consequências são demonstradas de forma hiperbólica, não obstante, ao analisar o mercado moderno, é algo que deve ser ponderado. Alguns aspectos presentes na narrativa são o capitalismo em escala global e a reestruturação da produção, além do aumento do desemprego e também de condições laborais ruins. Ademais, também é possível notar estranhamentos e barbáries sociais no desenrolar dessa obra. Esses conceitos podem ser facilmente encontrados na perspectiva marxista, que é essencial para a compreensão do mundo pós-industrial e suas consequências para a sociedade produtiva. Em “O corte”, a figura dos proletários como indivíduos presos a uma margem restrita de lucros e realizações pessoais podem ser observadas. Isto posto, o mais importante não é construir uma carreira de sucesso e subir todos os patamares individuais e coletivos, mas sim, apenas conseguir um emprego (ou o mesmo emprego). Essa obra mostra as limitações de uma sociedade onde o capital é tido como o todo de uma economia e não como o meio. O próprio sistema capitalista está sendo prejudicado nos últimos anos, pois, ideias como preservação ambiental e causas sociais são cada vez mais importantes. Assim, empreendimentos que não aderem esse tipo de engajamento acabam sendo deixados de lado, pois, os clientes agora possuem diversas informações sobre uma empresa apenas com um celular. O filme mostra também que o capitalismo selvagem não é um sistema sustentável, ou seja, cedo ou tarde entra em colapso, como visto na quebra da bolsa de 1929. Através dessa narrativa, fica evidente que existem conquistas mais importantes que conseguir um emprego dos sonhos, uma vez que o sistema liberal é pautado apenas no lucro e na diminuição de programas sociais, algo necessário em países pobres e emergentes. A obra também é uma crítica as relações organizacionais do capitalismo selvagem, com isso, muitas pessoas acabam perdendo amizades ou difamando colegas de trabalho para ganhar pontos com seus chefes, e, por consequência, promoções. Apesar de não serem táticas tão violentas como a de Bruno Davert, também podem corroborar em consequências devastadoras, não apenas na esfera profissional, mas também pessoal. Mais do que nunca, é necessário um modelo econômico que seja pautado na igualdade e distribuição de renda. As desigualdades sociais são uma realidade, principalmente em países pobres e emergentes. Assim, extinguir a presença do Estado desses fins – como prevê o neoliberalismo – que é uma raiz do capitalismo moderno, certamente não é uma forma de melhorar a situação econômica de uma nação. Um ponto também relevante, é a crítica do filme aos funcionários que direcionam toda a sua energia para empresas, logo, tornam-se parte dela. Essa realidade desencadeia em problemas familiares e afetivos. Apesar do lançamento de “O corte” ter sido feito em 2004, mesmo no ano vigente é crível associá-lo como o modelo econômico adotado pela maioria das empresas. A análise crítica do filme se demonstrou um alerta sobre como as relações de trabalho estão sendo desenvolvidas, resultado no comprometimento do clima organizacional, execução de tarefas, vida pessoal, dentre outros. Conclui-se que o sistema capitalista ainda possui diversas falhas, que podem ser contornadas com uma perspectiva de esquerda, voltada ao estímulo de programas sociais e equidade, conceitos que ainda são distantes da realidade moderna. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DOS SANTOS CÊA, Georgia Sobreira; ZEN, Rosane Toebe. Elementos sociais do mundo do trabalho na ficção cinematográfica: provocações de “o corte”. Travessias, v. 4, n. 1. MOREIRA, Fábio Freitas. Costa Gavras: a história na telona: análise historiográfica e narrativa dos filmes Estado de sítio e Desaparecido-um grande mistério. 2018. SEGURADO, Rosemary. Análise da corrosão do caráter no filme 'O Corte'. Aurora., v. 9, n. 26, p. 99-101, 2016.
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