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LINGUA-PORTUGUESA-E-LITERATURA-BRASILEIRA-II

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1 
 
 
 
 
 
 
 
2 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO .................................................................................. 3 
2 OS PRIMEIROS PASSOS DO ROMANTISMO NO CONTEXTO 
BRASILEIRO ...................................................................................................... 4 
3.1 O Romantismo e suas gerações no Brasil: Primeira geração ......... 18 
3.2 Segunda geração ............................................................................ 19 
3.3 Terceira geração ............................................................................. 20 
4 O REALISMO CONTEMPORÂNEO E A ESCOLA REALISTA DO 
SÉCULO XIX .................................................................................................... 24 
5 REALISMO / NATURALISMO ......................................................... 25 
5.1 O problema do Real – conhecimento e experiência ........................ 26 
5.2 Realismo e Naturalismo: a distinção na literatura brasileira ............ 28 
6 TEMPOS MODERNOS E MODERNISMO NO BRASIL .................. 32 
7 MODERNISMO E LITERATURA MODERNA BRASILEIRA ........... 34 
7.1 Modernismo e crítica literária........................................................... 37 
8 MODERNISMO: A CONTRIBUIÇÃO DE OSWALD DE ANDRADE 39 
8.1 O antropófago Mário de Andrade .................................................... 44 
9 PÓS-MODERNISMO E LITERATURA ............................................ 48 
10 PÓS-MODERNISMO NOS ESTUDOS LITERÁRIOS ..................... 53 
11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................ 55 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
1 INTRODUÇÃO 
Prezado aluno! 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é 
semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – 
quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao 
professor e fazer uma pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida 
sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta 
para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma 
coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao 
protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da 
nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à 
execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da 
semana e a hora que lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
4 
 
2 OS PRIMEIROS PASSOS DO ROMANTISMO NO CONTEXTO 
BRASILEIRO 
 
 
Fonte: portuguescompleto.com.br 
O Romantismo é, sem dúvida, ao lado do Modernismo, o mais importante 
momento literário no Brasil. E isto se deve ao fato de que é com ele que a 
literatura adquire sua autonomia, pois, até então, ela estava ligada, 
colonialmente, à literatura portuguesa, embora possuísse características 
brasileiras, conforme estudado na aula passada a partir do pensamento de 
Afrânio Coutinho (2008). É significativo o fato de Antonio Cândido dar por 
encerrada sua história da literatura brasileira, denominada Formação da 
literatura brasileira (1997), 
Para Ferreira (2012), construir uma literatura nacional fazia parte do 
projeto nacionalista, que surgiu no início do século XIX e levou o país à 
independência em 1822. A literatura romântica surgiu num momento político 
extremamente importante, incorporando os ideais de uma nação livre e 
independente. Por isso foi tão rica e exuberante, com muitos poetas e 
prosadores que exaltavam a natureza e o homem brasileiros. Para avaliar 
devidamente uma obra romântica é preciso não perder de vista o momento 
político em que surgiu. 
 
 
 
 
 
5 
 
Foi no período do Romantismo que o Brasil desabrochou como país 
independente e tentou decolar em diferentes áreas, entre elas a literatura, pois 
antes disso tudo que se produzia no Brasil era “exportado” da Europa, então a 
produção era brasileira, mas a temática e a composição da literatura são 
inspiradas nos padrões europeus. 
Além disso, segundo Ferreira (2012), a literatura como forma de arte, 
juntamente com todas as dinâmicas e acontecimentos sociais ao nível político, 
filosófico e econômico, é retratada nas obras dos respetivos períodos, pois esta 
arte secular é tão sublime que, além de sua capacidade de expressar a 
experiência da vida humana de forma artística e simbólica, também retrata o que 
aconteceu na sociedade em que nasceu a obra literária correspondente. O 
século XIX foi marcado por acontecimentos que de alguma forma mudaram os 
rumos da política no velho e no novo mundo. 
A Revolução Francesa foi um marco que promoveu o Romantismo e 
revelou uma nova classe dominante na época – a burguesia. Para Ferreira 
(2012), esse novo movimento filosófico e literário surgiu na Inglaterra, Alemanha 
e, posteriormente, em toda a Europa, culminando no Brasil, principalmente no 
sentido de nacionalismo e independência, pois na época o Brasil ainda era 
colônia de Portugal. Embora os primeiros sinais de insatisfação com a rendição 
à coroa lusitana tenham surgido no Arcadismo, foi no Romantismo que este 
sentimento antilusitano se consolidaram. 
Mesmo com a Inconfidência Mineira e obras satíricas como as Cartas 
Chilenas de Tomás Antônio Gonzaga, a colônia ainda estava sob forte domínio 
português. Os enormes impostos pagos pelos brasileiros à aristocracia 
portuguesa também foram um fato que exacerbou ainda mais a insatisfação das 
colônias portuguesas, e o desejo de libertação que as seguiu surgiu 
naturalmente. Ferreira (2012). 
No arcadismo começou a aparecer pela primeira vez a figura do índio, 
ainda não tão nobre quanto a vemos nas representações românticas, mas como 
um simples elemento nativo da terra. O que é produzido aqui é considerado 
artificial e superficial, pois embora alguns dos escritores sejam brasileiros, o 
assunto é puramente estrangeiro, o que também produz o neoclassicismo - 
 
 
 
 
6 
 
árcade também conhecido como título não muito honroso, boa parte da obra é 
considerada artificial, o resultado de puro tradicionalismo árcade. 
O romantismo se manifestou como um movimento artístico e filosófico que 
surgiu no final do século XIII e início do século XIX. Essa nova estética trazida 
foi uma reação à filosofia da estética e ao Iluminismo, que se baseava no 
neoclassicismo, movimento que antecedeu a era romântica. O Neoclassicismo, 
ou Arcadismo como também é chamado, teve início com a publicação das Obras 
Poéticas de Cláudio Manuel da Costa em 1768. Foi no período da criação 
neoclássica que começou a surgir o desejo inicial de liberdade, que que 
despontou no movimento da Inconfidência Mineira, já que Minas Gerais foi o 
lugar onde os poetas árcades viveram e descreveram em suas obras. 
No Brasil, o romantismo não chegou e nem se consolidou diretamente. 
Antes da era do Romantismo, nosso país passava por um período de transição: 
o Pré-Romantismo. Esse período de transição, que ocorreu entre 1808-1836, 
entre o auge da estética clássica e o padrão árcade, foi importante para 
consolidar ideais e valores românticos posteriores e para confirmar de forma 
mais profunda a formação dessa nova era, em nossa literatura, era nacional. O 
pré-romantismo descreve um estado de acontecimentos que continuam sendo 
uma extensão do pensamento do século XIII, mas paradoxalmente prefigura as 
facetas de nossa literatura. O Pré-Romantismo no Brasil tem um adjetivo 
derivado da influência e cooperação francesa em nosso país, por isso esse 
período pode ser chamado de Pré-Romantismo Franco-Brasileiro. 
“O Pré-romantismo é um corpo de tendências, temas, ideias, sem 
construir doutrina literária homogênea, com remanescentes clássicas 
e arcádicas, e elementosnovos” (COLTINHO, 2004, apud FERREIRA, 
2012, p. 4). 
Esta denominação” Franco-Brasileiro” não é acidental, pois alguns 
franceses foram de grande importância para a formação de nossa literatura, suas 
contribuições não só no campo da literatura, mas também nos estudos 
naturalistas e históricos do jovem país que acabava de deixar o território 
português. Entre essas confirmações do desenvolvimento de nossa literatura 
entre os personagens, está o francês Ferdinand Denis. Em 1826 Denis publicou 
 
 
 
 
7 
 
sua primeira obra no Brasil: RESUMÈ DE L´HISTTORIE LITERARIE DU 
BRÉSIL, retratando sobre nossa literatura. 
 “Denis foi o primeiro a traçar um esboço de visão histórica das 
manifestações literárias do Brasil colônia e sugerir a projeção de uma 
literatura brasileira”. (COLTINHO, 2004, apud FERREIRA, 2012, p. 4). 
Um outro francês que escreveu em solo brasileiro no período pré-
romântico foi Teodoro Taunay, cujos familiares fizeram história em nossa 
literatura junto com outras pessoas de destaque. Teodoro escreveu Os Índios 
Brasileiros (1830), obra sobre os povos indígenas e suas condições aristocrática 
diante das adversidades trazidas pelo processo de colonização. Teodoro 
contribuiu muito para os brasileiros ao sugerir a importância da poética 
independente. Edouard Corbiére também é outra figura importante em nosso 
período de transformação literária, pois em Èlègies Bréseiiennes (1823) ele fala 
da coragem dos índios brasileiros que preferiam a morte à escravidão. 
No Brasil, o Romantismo teve início com a publicação de Suspiros 
Poéticos em 1836 por Gonçalves de Magalhães, que pode ser considerado 
patrono do Romantismo brasileiro por sua contribuição e atuação na produção 
daquele período. O senso de relativismo de Magalhães foi central para o 
desenvolvimento e implementação do movimento brasileiro. 
O período romântico brasileiro deu frutos em poesia, prosa e drama. É 
claro que a poesia desse período respondeu aos ideais estabelecidos pela ação 
revolucionária do Romantismo contra formas e temas clássicos. Abandonando a 
perspectiva clássica e aristocrática, esses novos modelos deram aos poetas a 
liberdade de criar, e as outras formas reguladas e readotadas pelo Arcadismo — 
sonetos, odes etc. — deixaram de ser válidas. 
 “Quanto à forma, nenhuma ordem seguiu; exprimindo as ideias como 
elas se apresentam, para não destruir o acento da inspiração...”. 
(CANDIDO, 2004, apud FERREIRA, 2012, p. 4). 
Nos primeiros manifestos dos primeiros periódicos e revistas, percebe-se 
todo o sentido de liberdade política, social e filosófica, que se refletirá 
diretamente na produção literária. Magalhães foi um dos escritores que 
 
 
 
 
8 
 
protagonizou a primeira fase da poesia romântica, que seria chamada de 
nacionalismo pelo patriotismo e orgulho. 
 Nos primeiros manifestos dos primeiros periódicos e revistas notava-se 
todo o sentimento de liberdade política, social, filosófica, o que refletiria 
diretamente na produção literária. Magalhães foi um dos escritores que 
encabeçaram essa primeira fase da poesia romântica, qual ficaria conhecida 
como nacionalista graças ao espírito patriótico o ufanismo. 
Não, oh! Brasil! No meio do geral merecimento tu não deves ficar imóvel e 
tranqüilo, como o colono sem ambição e sem esperança. O germe da 
civilização, depositado em teu seio pela Europa, não tem dado ainda todos 
os frutos que deveria dar, vícios radicais têm tolhido o seu 
desenvolvimento. Tu afastaste do teu colo a mão estranha que te 
sufocava, respira livremente, respira e cultiva as ciências, as artes, as 
letras, as indústrias, e combate tudo o que entrevá-las pode. (DAUVIM 
ET ́FONTAINE, LIBRARIES, 1836, apud FERREIRA, 2012, p. 4). 
Pode-se dizer que a poética romântica é simples e austera, mas isso não 
é por acaso, pois como o slogan é a liberdade, os poetas românticos não estão 
mais presos às formas canônicas fixas que antes prevaleciam. Canção do Exílio 
(1843), escrito por Gonçalves Dias quando estava exilado na África, é um poema 
simples e melancólico sentimento este muito comum nas obras românticas, tal 
poema tem uma estrutura e uma linguagem simples e fácil de entender. A 
importância desta obra se refletiu em alguns de seus versos que posteriormente 
foram incorporados ao nosso hino nacional. 
 
 
 
 
9 
 
 
 
Este poema de Gonsalves encarna o nacionalismo e o amor à pátria que 
se estende a outras obras. Os elementos naturais do Brasil são elevados, e as 
sensações de melancolia e saudade acentuam a composição poética simples, 
santificada na poética do romantismo e do nacionalismo. O padre José de 
Anchieta descreveu os índios locais como bons selvagens, e o padre, como 
dramaturgo, incluiu os índios em suas obras do período barroco. A adaptação 
requer a inserção da população local no contexto da civilização europeia. 
O indianismo Gonçalviano foi o primeiro a descrever os índios de forma 
heroica sem homenagear a estética e os valores europeus. Na epopeia "I-Juca-
Pirama" (1848), que em Tupy significa "aquele que merece a morte" ou "aquele 
que vai morrer", Gonçalves retrata um índio que se recusa a lutar e exige a 
imortalidade em toda a sua dignidade e coragem a tribo rival Timbiras o capturou 
e finalmente o libertou depois de exigir sua libertação por achar que era um 
covarde. O bravo guerreiro queria voltar à tribo para cuidar de seu pai doente e 
cego, porém, após retornar à tribo original, o nobre guerreiro obedeceu ao pedido 
Canção do Exílio 
Minha terra tem palmeiras, 
Onde canta o Sabiá, 
As aves que aqui gorjeiam, 
Não gorjeiam como lá. 
Nosso céu tem mais estrelas, 
Nossas várzeas têm mais flores, 
Nossos bosques têm mais vida, 
Nossa vida mais amores. 
Em cismar, sozinho, à noite, 
Mais prazer encontro eu lá, 
Minha terra tem palmeiras, 
Onde canta o Sabiá (...) 
Gonçalves Dias 
 
 
 
 
 
10 
 
do velho pai sem parecer covarde e voltou para a tribo rival. Depois de tudo isso, 
vá lutar e lave sua honra. 
Além de destacar o valor das personagens nativas brasileiras, o poema I-
Juca-Pirama nos mostra a musicalidade e a fluidez da poesia romântica. Essa 
musicalidade pode até nos levar a rituais indígenas, graças ao ritmo e batida do 
poema Canto de Morte: 
 
Vendo a era do Romantismo como puramente burguesa, composta de 
aspectos contraditórios, pode-se notar que o Romantismo manteve certa 
unidade em alguns aspectos, mas em outros era binário, como por exemplo os 
autores da geração “Ultrarromântica”, que eram pessimistas e não acreditava em 
ideais patrióticos. 
Entretanto no Romantismo, o indianismo, movimento marcado pela 
idealização das imagens nativas, manteve-se estável tanto na poesia quanto na 
prosa. De todos os escritores da era romântica brasileira, o mais famoso, e talvez 
um dos mais importantes, foi José Martiniano de Alencar Júnior, ou José de 
I-Juca-Pirama 
 
Meu canto de morte, 
Guerreiros, ouvi: 
Sou filho das selvas, 
Nas selvas cresci; 
Guerreiros, descendo 
Da tribo tupi. 
Da tribo pujante, 
Que agora anda errante 
Por fado inconstante, 
Guerreiros, nasci: 
Sou bravo, sou forte, 
Sou filho do Norte; 
Meu canto de morte, 
Gonçalves Dias 
 
 
 
 
 
 
11 
 
Alencar. Nascido em 1829 em Messejana, vilarejo da periferia de Fortaleza, o 
cearense foi o primeiro a criar uma identidade nacional baseada na literatura, 
embora também fosse jurista, filósofo do direito e político. 
Com apenas um ano de idade, Alencar mudou-se para o Rio de Janeiro 
com os pais porque o pai foi eleito a senador pelo Império do Brasil. Porém, a 
vida na capital do estado durou pouco, aos oito anos ele voltou a morar na capital 
cearense quando seu pai foi eleito governador daquele estado. 
Foi na infância que Alencar viveu na natureza exuberante daquele lugar. 
Foi com sua leitura e conhecimento das grandes obras francesas que Alencar, 
muda-se para cidade de São Paulo, para estudar Direito,tornou-se um escritor 
ambicioso e promissor pronto para fazer suas epístolas na jovem nação. 
Em 1854, após se formar em direito, Alencar mudou-se para a capital do 
Rio de Janeiro e começou a escrever no rodapé de um jornal. A partir desse 
episódio, é possível perceber a interação da imprensa com o público leitor e 
perceber a contribuição desse veículo midiático para a formação do deste 
público, pois a partir das publicações “importadas” da França que graciosas 
obras da literatura brasileira começaram a ser publicadas. Justamente para 
atrair leitores para o jornal, Alencar começou a escrever esses romances, 
brindando aos leitores do jornal. 
Em 1857, Alencar publicou o Guarani em folhetim, romance considerado 
um dos maiores expoentes do indianismo. Porque a trama conta a história de 
Pery, um nobre índio brasileiro, e Cecília, uma linda garota de ascendência 
europeia. Esta pode ter sido uma espécie de precursor da novela, já que a 
técnica narrativa dos folhetins, inspirada na narrativa francesa, é aplicada de 
forma benevolente por Alencar, já que no final de um capítulo ele sempre deixa 
algo que excita o leitor a curiosidades. 
Com o Romantismo, pois, nasceu a novelística brasileira e suas 
primeiras manifestações pertencem, hoje, ao domínio pouco acessível 
da arqueologia literária: de consulta difícil muitas vezes impossível, 
já não figuram nem mesmo nos estudos especializados, nos quais 
não deveriam faltar, pela contribuição que, como inauguradores 
da forma prestaram ao desenvolvimento do nosso romance. 
(DIAS, 1997, apud FERREIRA, 2012, p. 7). 
 
 
 
 
12 
 
Embora a prosa romântica fosse amplamente sustentada pelo fato 
ficcional, a ficção escrita em solo brasileiro durante o período romântico era 
subdividida por temas. As narrativas produzidas ou dirigidas pela corte imperial 
são chamadas de "romances urbanos", e aquelas produzidas ou dirigidas nas 
províncias, ou seja, áreas rurais ou menos desenvolvidas da época, são 
chamadas de "ficções; regionalistas ou historicistas. A como a vida rural é 
vislumbrada na filosofia e na estética do socialismo utópico, como a vida e as 
paisagens são descritas e idealizadas pela burguesia e pela burguesia de classe 
emergente. 
Esse tipo de narrativa era muito importante para a sociedade da época 
porque, a literatura e a leitura eram como se fosse um "manual de etiqueta", ou 
seja, a arte que retrataria o que eram ideais sociais e famílias modelo. Um bom 
exemplo de patriarcado refletido na literatura pode ser a obra Lucíola de José de 
Alencar (1862). A trama conta a história de uma prostituta que conhece Paulo, 
eles têm um filho e, no final da história, ela morre por cometer adultério e se torna 
uma eremita social. A morte da protagonista simboliza o "castigo merecido" que 
as prostitutas naquela sociedade deveriam ter, afinal, é inaceitável que uma 
mulher que se comporte mal e tenha um final feliz. 
Por outro lado, nas propostas nacionalistas, os romances regionalistas 
tiveram papel de destaque no que se propunha: revelar costumes e lugares 
desconhecidos pela grande maioria dos leitores da época. O sentimento de 
apreço pela origem continua o mesmo, embora nos romances regionalistas o 
autor parte do nacional, para o regional. A ficção também levanta uma questão 
que vai contra os pressupostos filosóficos do Romantismo, pois a ficção 
regionalista se concentra mais em questões e descrições coletivas, em vez de 
se aprofundar na própria subjetividade do autor, a subjetividade era uma 
característica explicita das obras românticas, demonstrando ainda mais as 
contradições desse período literário. 
O romance regionalista, na literatura universal, nasceu da atividade da 
estética romântica como possível fruto da reação contra o subjetivismo 
exagerado, cujo epifenômeno era a hipertrofia do eu. (COUTINHO, 
2004, apud FERREIRA, 2012, p.9). 
 
 
 
 
13 
 
Dentre vários prosadores regionalistas, Visconde de Taunay de origem 
francesa é um dos mais notórios, já que Inocência (1972), que se acredita ter 
sido traduzida para quase todas as línguas modernas, foi um dos melhores 
romances. A história conta uma história de amor no interior brasileiro, em tom 
romântico e realista, mostrando as cores e costumes daquele lugar inéditos na 
literatura. 
Além de físico, matemático, engenheiro e geógrafo, Taunay foi soldado e 
durante suas expedições militares absorveu as culturas, idiomas, costumes. 
Neste conciso percurso sobre o período romântico, além de falar de poesia e 
prosa, é preciso enfatizar a importância do drama romântico, pois nosso romance 
tem nele sua própria obra arquitetônica e literatura oral. 
A dramaturgia também deu uma grande contribuição para a formação da 
autonomia cultural de nosso país na era do Romantismo brasileiro. Embora não 
haja tradição teatral no Brasil, foi no período romântico que o teatro atualizou e 
inovou pequenos desenvolvimentos nas artes cênicas do país. Além da 
literatura, o teatro brasileiro também propõe inovações e afastamentos do 
modelo clássico. As rachaduras aparecem na trindade que compõe o teatro: 
tempo, espaço e ação. As dinâmicas dessas cenas foram modificadas, elas 
acontecem em lugares diferentes e utilizam recursos antes não utilizados, como 
animais rastejando no palco. Esses textos se concentram mais em questões 
sociais, retratando o cotidiano da burguesia. 
José de Alencar também escreveu peças para o teatro, mas não 
aproveitou muito, uma das talvez melhores se intitula O demônio Familiar (1858), 
uma comédia de gênero leve em quatro atos. A trama conta a história de um 
escravo que quer casar o seu patrão e com uma parceira mais rica, e acaba se 
tornando o demônio da trama. Sua punição foi a carta de euforia. Permanece a 
ideia de que o negro deve ser protegido. Vale lembrar que o autor era um nobre 
rural. 
Outro grande escritor brasileiro que contribuiu para a produção teatral foi 
Álvares de Azevedo, um ultrarromântico que também foi influenciado pela cultura 
gótica europeia e morreu pouco depois de contrair tuberculose, escreveu 
Macário (1852). A história segue um homem que viaja pelo mundo após sonhar 
com satanás, discute vários temas com o personagem principal do mal. 
 
 
 
 
14 
 
Embora não contribua para o tema do nacionalismo, esta obra de Azevedo 
encarna uma das fortes características da geração ultrarromântica, 
nomeadamente o satanismo e a atração pela obscuridade da vida. No entanto, 
é impossível falar dos fundamentos do teatro brasileiro sem mencionar 
Gonçalves de Magalhães, fundador da Academia de Teatro em 1843 e autor da 
primeira obra do teatro brasileiro. 
Antonio José ou o poeta e a Inquisição (1838) O protagonista da peça, 
João Caetano, foi o primeiro grande ator brasileiro, que em 13 de março de 1838 
na Praça da Constituição do Rio de Janeiro organizou e encenou a tal peça e foi 
bem recebido, elogiado pelo público e pela crítica teatral por se basear na vida 
do escritor português João Antonio da Silva (também conhecido como "O 
Judeu"), apresentado os últimos dias de vida do escritor português. Mesmo com 
o sentimento “antiportuguês” que emergiu no Romantismo brasileiro, Magalhães 
escreveu uma peça sobre um escritor português, o que pode parecer incoerente, 
mas o sentimento nacionalista da crítica da época levava em conta que a peça 
foi escrita por um brasileiro e no território brasileiro. 
3 O ROMANTISMO NO BRASIL SUA FASE INICIAL 
Em terra brasileira o romantismo se desenvolve diante do grande conflito 
que busca o aprimoramento para a formação da identidade do país com os 
surgimentos das diferentes culturas locais e com as influências europeias. 
De acordo com Coutinho (2002, p. 22-25), o romantismo brasileiro se 
inicia diante de grandes divergências nas idealizações e produções das obras 
literárias, mas foi possível integrar com unidade em torno de um mesmo objetivo, 
expandircom uma literatura brasileira, com as inovações românticas. Um 
momento de junção de novas ideias, “o Romantismo brasileiro tem muito de seu 
a fusão que realizou do momento pessoal ao momento coletivo”. O 
individualismo existente entre escritores posteriormente dá lugar ao coletivo e 
culmina com uma estética romântica melhor definida e engajada. Este período 
que se desenvolve com grande entusiasmo tem como aspectos importantes “o 
literário e o artístico, o político e o social, envolvendo gêneros variados como a 
 
 
 
 
15 
 
poesia lírica, o romance, o drama, o jornalismo, a eloquência, o ensaio a crítica”. 
Todas as inovações estavam voltadas para as questões do aprimoramento do 
movimento literário, o improviso, a inspiração a espontaneidade fazia parte deste 
grande círculo de transformações, a liberdade de expressão, a liberdade política, 
a autonomia ganha força em diferentes setores da sociedade, características 
próprias do Romantismo. 
De acordo com Coutinho (2001, p. 152-153), posteriormente à introdução 
do Romantismo na Europa vai se desencadeando uma sequência de difusões 
do movimento enquanto um sistema inovador na literatura, chegando ao Brasil 
com algumas diferenças em relação ao movimento ocorrido no contexto europeu 
após a Revolução Industrial e a Revolução Francesa. No entanto, a introdução 
do Romantismo no Brasil tem como referência o início da história política 
brasileira como um país independente, fato que se desenvolveu em meados do 
século XIX, com os conflitos que tiveram origem na invasão de Napoleão 
Bonaparte em Portugal. 
 Ainda de acordo com Coutinho (2001, p. 154-156), diante do grande 
movimento que se expande na Europa intensificando as transformações sociais, 
culturais, que culmina com a queda do regime monárquico, a Coroa Portuguesa 
(D. João VI) e boa parte de seus aliados instalam-se no Brasil, mais 
precisamente no Rio de Janeiro, no ano de 1808. Com estes acontecimentos, o 
Brasil, ainda vivia a condição de colônia de Portugal, mas posteriormente com a 
conquista da independência, inicia um novo período, estruturando melhor as 
organizações locais em diferentes frentes, desenvolvendo e garantindo as ações 
não somente na literatura. Estes fatores foram importantes porque veio trazer o 
progresso local que cresceu na fase inicial o avanço e o aprimoramento da 
indústria, bem como a relação comercial dentro e fora do país, interferindo no 
ensino local e implantando o nível superior, difundindo assim a cultura social no 
Brasil. 
Conforme as mudanças foram se desenvolvendo inicialmente, em uma 
região que tinha muito a ser construindo nas culturas sociais de um povo e até 
mesmo nas estruturas comerciais e políticas, envolvendo todo território brasileiro 
a presença de D. Pedro II que residia no Brasil, foi um momento importante nesta 
fase inicial. Os movimentos se intensificam, o pensar e o agir das pessoas se 
 
 
 
 
16 
 
repercutem fazendo melhor compreender a leitura da realidade, o que, 
posteriormente, traz resultados positivos para a construção ideológica de uma 
das maiores escolas literárias, o Romantismo, que apresenta características 
culturais e sociais diferentes em terras brasileiras. 
Sobre essas questões, afirma Coutinho (2001), a respeito do 
desenvolvimento romântico na colônia de Portugal e posteriormente no Brasil: 
O progresso geral do país durante a fase da permanência da Corte 
portuguesa (1808-1821), imediatamente seguida pela independência 
(1822), teve indisputável expressão cultural e literária. O Rio de Janeiro 
tornou-se, além da sede do governo, a capital literária e, com a 
liberdade de prelos, desencadeou-se intenso movimento de imprensa 
por todo o país, em que se misturavam a literatura e a política numa 
feição bem típica da época. (COUTINHO, 2001, apud RODOVALHO, 
2010, p. 16). 
O Romantismo no Brasil torna-se um símbolo na criação literária, 
buscando a aproximação da realidade brasileira, evitando assim a simples 
imitação dos moldes clássicos estrangeiros. Considerando que o Romantismo é 
a, força de expressão artística de um povo, a exemplo do que já aconteceu na 
Europa os grandes movimentos como a Revolução Industrial e Revolução 
Francesa, que molda um novo estilo de homem, mais crítico, livre para pensar e 
inovar na literatura que antes era contemplação de poucos. 
Um pouco diferente, mas também com expressões literárias inovadoras 
surgiu no Brasil, ainda colônia de Portugal e posteriormente vice-reino, uma 
literatura própria em um ambiente propício para a criação e a inovação, 
expressando assim as primeiras manifestações culturais do País através da 
literatura. 
Segundo Coutinho, (2001, p.176-177), o Romantismo é um movimento 
que se identifica com o ambiente brasileiro. Os poetas que iniciaram a literatura 
aqui no Brasil souberam valorizar o ambiente local, a natureza e a pátria, com 
uma predisposição que lança com criticidade um futuro posicionamento 
brasileiro, fugindo das idealizações clássicas. 
[...] o Romantismo é das nossas glórias maiores e mais brasileiras, 
visto ter tido manifestações que só entre nós seriam possíveis, porque 
trouxe representações da natureza e da alma humana, e não de 
alguma vista através de livros; porque então, como nunca, os 
acontecimentos sociais e políticos refletiram-se fundamente na poesia 
 
 
 
 
17 
 
e sofreram por sua vez a poderosa e benéfica reação desta. (MURICI 
apud. COUTINHO, 2001, p. 177). 
Posicionando assim, Coutinho (2001), considera o desenvolvimento do 
Romantismo no Brasil a partir de 1808, momento de transição da condição de 
para posteriormente Brasil independente, como nada jamais visto. A literatura 
brasileira ganha características próprias de acordo com o entusiasmo que 
desperta na inovação dos escritores, que, nos versos livres, expressam a glória 
maior de um povo que olha o horizonte com sede de construção do saber poético 
na forma mais natural possível. Diante do grande entusiasmo, surge o 
Romantismo brasileiro, configurando, a partir deste momento, a existência de 
uma literatura própria que promove a consciência no conteúdo original e na 
forma mais completa na difusão da poética nacional. 
Com um olhar um pouco mais amplo, Bosi (2003, p. 11-13) afirma que: 
Inicialmente o Brasil de hoje era considerado colônia de Portugal, 
portanto objeto de uma cultura, já desenvolvida. E diante das primeiras 
ações tudo que se pretendia a princípio era o carrear de bens materiais 
para fora da colônia, ou seja, a verdadeira exploração das riquezas 
para o mercado externo (Portugal) principalmente, incluindo produtos 
do tipo vegetal e mineral. E a conquista para sair deste espaço do não 
ser objeto explorado, para ser sujeito de sua história, desenvolveram 
muitas lutas, e este foi um processo lento porque dependia do 
aprimoramento cultural de seu povo para o enfrentamento dos 
desequilíbrios desta fase inicial. (BOSSI, 2003, apud RODOVALHO, 
2010, p. 18). 
Mas o Romantismo no Brasil ganha entusiasmo a partir das influências de 
D. Pedro II, que contribuiu muito para a consolidação da cultura nacional. 
Expandindo o desenvolvimento nas pesquisas, analisando o passado histórico e 
os acontecimentos, procurando nos vestígios locais, e observando os nativos, 
redescobrindo as imagens, implantando instituições de ensino que culminaram 
com a ampliação do público leitor e o aumento na publicação de obras que 
serviram como referencial teórico para o início da historiografia e a linguagem 
literária do Brasil. 
Considerando as ideias de Coutinho (2001) e Bosi (2003) sobre a 
iniciação literária no Brasil, é possível caracterizar que este é um período 
bastante crítico sendo que as especulações, o aproveitar das riquezas, e até 
 
 
 
 
18 
 
chegar ao posicionamento mais elaborado para a formação cultural linguística 
de um povo o amadurecimento com o olhar voltado para a pátria. 
3.1 O Romantismo e suas gerações no Brasil: Primeirageração 
Segundo Coutinho (2001, p. 157-158), posteriormente à fase inicial, 
considerada como pré-romantismo, período que ainda não tinha uma definição 
apropriada para as obras literárias no território brasileiro (1808-1836), 
posteriormente à Brasil colônia, inicia-se a primeira geração do Romantismo 
brasileiro com uma visão nacional e revolucionária. Quem melhor se destacou 
no início da era romântica foi Gonçalves de Magalhães, sendo o responsável 
pela criação de uma literatura nacional ainda não existente, uma vez que o que 
se prevalecia até aquele momento era as correntes portuguesas, ou seja, a 
literatura brasileira ainda não tinha os méritos de uma visão própria. Nas palavras 
de Afrânio Coutinho, “o nosso primeiro homem de letras, e quem iniciou a 
carreira literária entre nós, Domingues José Gonçalves de Magalhães (1836), o 
visconde de Araguaia. ” (COUTINHO, 2001, p.159). 
Este por sua vez é o introdutor da ideia romântica no Brasil, prevendo o 
mesmo uma transformação no estilo poético brasileiro, vendo o índio como um 
marco para a transformação da literatura brasileira. 
[...] a sua atitude intencionalmente revolucionaria, de renovação total 
da literatura brasileira, expressa no manifesto com que lançam a 
revista Niterói (1836); a intenção antilusa, com a indicação de transferir 
para a França a fonte de inspiração literária e artística, de onde, aliás, 
simbolicamente lançou a revista e o seu livro Suspiros e Poetas e 
Saudades (1836); a preferência dada ao tema do indianismo, tudo 
justifica a posição de introdutor do Romantismo que detém Gonçalves 
de Magalhães na literatura brasileira. (COUTINHO, 2001, apud 
RODOVALHO, 2010, p. 20). 
É possível constatar, deste modo, que a atuação de Gonçalves de 
Magalhães se limitou mais à introdução da literatura no Brasil, destacando o 
índio como puro e natural, para introduzir a escola romântica no Brasil. 
Conforme Bosi (2003, p. 97-99), Gonçalves de Magalhães é inicialmente 
o incentivador da literatura no Brasil, desenvolvendo uma poesia ainda arcádica. 
 
 
 
 
19 
 
Porém, com as viagens pela Europa, o escritor desenvolve estudos que 
terminam influenciando suas ideias sobre o Romantismo. 
Vivendo na Europa, mas com lembranças recentes da Colônia de 
Portugal, posteriormente Brasil, Magalhães lança definitivamente em Paris uma 
de suas obras que introduz o romantismo no Brasil, Suspiros Poéticos e 
Saudades, de 1836. Cheio de entusiasmo, com as inovações românticas lança 
pouco tempo depois a revista Niterói, que também retrata em tese um pouco das 
transformações brasileiras, sendo produzida por um grupo de escritores que 
idealizavam e seguiam estilos idênticos aos estilos de Magalhães. 
Segundo o crítico, o trabalho desenvolvido pelo grupo segue um padrão 
pouco inovador, com influências de Lamartine e Masone, tendo como 
pensamento ideológico romper com os padrões clássicos mitológicos pagãos. 
De acordo com Bosi (2003, p. 104-105), quem realmente se comprometeu 
com uma literatura mais crítica e brasileira, com menor influência europeia foi 
Gonçalves Dias, o poeta brasileiro mais original do século XIX. Um conhecedor 
da realidade brasileira, isso lhes proporcionou uma produção de obras que não 
se comparavam aos estilos anteriores porque se aproximava muito da realidade 
local, com visão originalmente brasileira. O índio nativo neste território brasileiro 
teve seus privilégios de estar sempre presente em suas publicações, por que 
este índio brasileiro figura real e não apenas idealização, ele conheceu muito 
bem desde sua infância e os tratava em suas obras como substância poética e 
não apenas como um acessório, para o enriquecimento de estilo poético. Suas 
obras apresentavam estilo inovador, suas preferências que envolviam as 
observações eram inspiradas na vida cotidiana da pátria residente Brasil, se 
destacou com diferentes obras primas como Canção do Exílio e I Juca Pirama 
que fazem parte das discussões literárias até os dias atuais. 
3.2 Segunda geração 
De acordo com Bosi (2003, p. 109-110), a “segunda geração romântica” 
se desenvolve com uma ideologia de extremo subjetivismo sofrendo as fortes 
influências de Lord Byron e a Musset. Toda construção poética desenvolvida se 
volta para os pensamentos emotivos que trouxeram sérias consequências para 
 
 
 
 
20 
 
a vida pessoal dos poetas, “alguns poetas adolescentes, mortos antes de 
tocarem a plena juventude, darão exemplo de toda uma temática emotiva de 
amor e morte, dúvidas e ironia, entusiasmo e tédio”. 
 Conforme Coutinho (2002, p. 139), essa geração de poetas passa a ser 
conhecida como geração “mal do século”, justamente por sua poesia pessimista 
e decadente, pela influência da tristeza, pela ansiedade, pelo delírio desenfreado 
e sem visão para a vida em sociedade, e pela valorização da morte. Um dos 
escritores que se destaca neste estilo de poesia seria Joaquim de Souza 
Andrade (Sousândrade) e posteriormente se destaca Álvares de Azevedo. 
Com todo subjetivismo ultrarromântico que Azevedo desenvolve seus 
poemas, Coutinho (2002, p. 142) descreve o modo de vida que o poeta devaneia 
o sentimentalismo, tédio e desencanto, constantes fugas da realidade, o 
prolongamento das dores, o proibido e o obscuro, em suas produções literárias, 
“Absurdo no pensamento da morte, só se preocupava com o lado noturno: as 
sombras, o crepúsculo, à noite, os túmulos”. Introduzindo a poesia decadentista 
com uma visão ou sonho e as emoções, tendo a figura feminina (mulher) como 
algo a ser idealizado e não concretizado na vida real, enxergando aos olhos do 
sobrenatural são fortes características deste estilo poético que faz parte da 
escola romântica e contribuiu para desperta-lo a novas idealizações. 
3.3 Terceira geração 
De acordo com Bosi (2003), a terceira geração da poesia romântica foi 
caracterizada por versos sociais e libertários que refletiam as questões que 
envolviam o Brasil Império. Essa geração sofreu as influências de Victor Hugo, 
poeta que também desenvolveu uma poesia política e social. 
 Coutinho, por sua vez, assinala o fato de que o grupo de poetas 
brasileiros posterior a 1860 desenvolveu um novo estilo: 
Romantismo liberal e social: intensa impregnação política social, 
nacionalista ligada às lutas pelo abolicionismo (especialmente depois 
de 1866) e um lirismo intimista e amoroso, por influência de Victor Hugo 
tende para um lirismo de metáforas arrebatadas e ousadas, que se 
batizou (Capistrano de Abreu) de poesia “Condoreira” ou 
“condoreirismo”. (COUTINHO, 2001, apud RODOVALHO, 2010, p. 21). 
 
 
 
 
21 
 
Na visão do crítico, trata-se de uma poesia que veio movendo com o 
silêncio de uma sociedade que se acomodava ao sistema de privilégios de 
poucos. 
Com poucas divergências em suas abordagens, Bosi e Coutinho 
consideram a poesia condoreira como inovadora, surgindo com um novo 
conceito na realidade daquela época. Da mesma forma, ambos reconhecem 
Castro Alves como um dos mais representativos e inovadores poetas na 
literatura da terceira geração romântica. 
De acordo com Luiz Henrique Silva de Oliveira (2007, p. 46), ainda muito 
jovem Castro Alves já despertava atenções em suas produções “colegiais”, e 
sempre gostava de recitar seus poemas em público e no Ginásio Baiano (1861). 
O ambiente propício para declamar e conduzir as denúncias contra as ações da 
classe dominante. Alves sempre olhando as condições em que encontravam os 
oprimidos, defendia a abolição e a República. Com estes atos, muitas outras 
pessoas passaram a adotar a ideia fortalecendo ainda mais a inovação do jovem 
poeta. 
Exemplificando as atitudes de Alves, assim comenta Oliveira (2007, p. 46- 
47), “o poema recitado pelo aluno Antônio de Castro Alves no “Outeiro que teve 
lugar no Ginásio Baiano a 3 de julho de 1861”, foi um momento de grande 
repercussão; 
Se o índio, o negro africano, 
 E mesmo o perito Hispano 
Tem sofrido servidão; Ah!Não pode ser escravo quem nasceu no solo bravo 
Da brasileira região! (ALVES, 1997, apud RODOVALHO, 2010, p. 22). 
Posicionando assim com seu estilo inovador o jovem sai em defesa do 
índio, do negro e o mais extraordinário acontece em seu quinto verso “solo bravo” 
não só em defesa dos oprimidos, mas o reconhecimento da pátria. O solo fértil 
para se construir uma nação estava habitado por portugueses que a princípio 
tenta escravizar os índios, projeto que não prosperou, porque os nativos tinham 
facilidade para se deslocar na floreta. E posteriormente às tentativas com os 
índios, é a vez do negro, que tirado a força da África e trazido para o Brasil, vira 
mão-de-obra com facilidade uma vez que pouco reagia contra ao sistema. Por 
 
 
 
 
22 
 
estes e outros motivos, Alves ganha às expressões de poeta condor justamente 
porque soube enfrentar a realidade fazendo aquilo que outros de seu Ginásio 
Baiano não fizeram. 
A sua estreia coincide com o amadurecimento de uma situação nova a 
crise do Brasil puramente rural o lento mais firme crescimento da 
cultura urbana, dos ideais democráticos e, portanto, o despertar de 
uma repulsa pela moral do senhor – e- servo, que poluía as fontes da 
vida familiar e social no Brasil – Império. (BOSI, 2003, apud 
RODOVALHO, 2010, p. 22). 
Castro Alves, enquanto representante desta geração, é visto como 
inovador, apresentando uma nova linguagem poética. Sua obra rompe com o 
silêncio existente sobre os negros escravos e expõe um problema social que se 
desenvolvia na colonização do país, distinguindo-se assim da literatura clássica, 
que voltava o olhar para o índio, o amor e as diferentes culturas urbanas. 
Como afirma Bosi (2003, p.120), as palavras do poeta Castro Alves são 
abertas para a realidade de uma nação que sobrevive à custa da escravidão, 
como pode ser observado nos seguintes versos do poema “Navio negreiro”: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Navio negreiro 
E existe um povo que a bandeira empresta 
P’ra cobrir tanta infâmia e cobardia!... 
E deixa-a transformar-se nessa festa 
Em manto impuro de bacante fria!... 
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta, 
Que impudente na gávea tripudia? Silêncio. 
Musa... chora, e chora tanto 
Que o pavilhão se lave no teu pranto! ... 
 
Auriverde pendão de minha terra, 
 Que a brisa do Brasil beija a balança, 
Estandarte que a luz do sol encera 
E as promessas divinas da esperança... 
Tu, que da liberdade após a guerra, 
Foste hasteado dos heróis na lança, 
Antes te houvessem roto na batalha, 
Que servires a um povo de mortalha! 
Castro Alves 
 
 
 
 
 
23 
 
A indignação de Castro Alves faz dele uma nova voz na poesia brasileira, 
envolvida com o povo e rompendo com um dogma impregnado nas classes mais 
privilegiadas. Deste modo, deixa de se restringir aos simples sentimentos 
individuais, despertando para novos temas, mais abrangentes, como a igualdade 
de direitos e a luta de classes, diferenciando-se assim dos demais poetas. 
Fazendo uma denúncia dos acontecimentos “existe um povo que a bandeira 
empresta/ P’ra cobrir tanta infâmia e cobardia” a bandeira o símbolo nacional 
manchado pela conivência que encobriam os problemas da escravidão. 
Segundo Bosi (2003, p. 120-121), a poesia social de Castro Alves também 
apresenta uma nova imagem sobre a mulher, considerando-a como aquela que 
está próxima da figura sensual, enquanto os demais poetas viam a mulher como 
algo a ser idealizado. Castro Alves ocupa assim um lugar diferenciado, 
comparando aos demais poetas, no que diz respeito ao olhar para a natureza, à 
linguagem inovadora e a crítica social sobre o sistema implantado mesmo depois 
da independência do Brasil. 
Na visão de Coutinho (2002, p. 04-21) O movimento romântico surge 
como um amplo movimento internacional com características próprias que vai se 
constituindo gradativamente com seus diferentes escritores. No Brasil seria difícil 
limitar momentos diferenciados nas características românticas, mas fica 
compreendido o pré-romantismo (1808-1836), período de transição, e 
construção e definição literária no país. Posteriormente outro período 
compreendido como Romantismo oficial no Brasil (1836-1860). Este foi o período 
em que se desenvolvem as três principais gerações românticas: A Primeira 
Geração com a introdução de Gonçalves de Magalhães, e o Indianismo de 
Gonçalves Dias, seguindo a Segunda Geração com a poesia byroniana ou 
satânica, (Byron), na representação do mais influente, Álvares de Azevedo, com 
o forte subjetivismo. E finalmente, a Terceira Geração que tem como principal 
representante, Castro Alves com seus usados poemas representando forte 
crítica social, que surgem nas aulas do Ginásio Baiano. 
As três gerações que se desenvolvem no Romantismo são frutos do 
amplo movimento que se estende diante das diferentes transformações sociais, 
culturais e políticas em nosso país, promovendo uma literatura a ser explorada 
e contemplada em suas diferentes áreas de conhecimento humano. 
 
 
 
 
24 
 
4 O REALISMO CONTEMPORÂNEO E A ESCOLA REALISTA DO SÉCULO 
XIX 
 
Fonte: virusdaarte.net 
A literatura latino-americana recente, na qual se insere a obra Passaporte, 
representa uma volta ao realismo, com forte repercussão na linguagem literária 
e na expressão artística. Não apenas a questão representativa é trabalhada, mas 
todo o aspecto performático da comunicação, como se vê na forma, na cor, no 
tamanho do livro, na distribuição dos textos, além da formatação das páginas de 
Passaporte, que em tudo imita um passaporte de verdade. Segundo Karl Erik 
Schollhammer: 
Outra perspectiva emerge hoje na literatura e em certas experiências 
artísticas, reivindicando a presença do real na obra não apenas na 
temática, mas, por exemplo, por meio da acentuação de suas 
qualidades materiais, afetivas e estético-expressivas e firmando um 
compromisso com a criatividade técnica e artística, à procura da 
criação literária de efeitos de realidade (SCHOLLHAMMER, 2011, 
OLIVEIRA, 2019). 
 
 
 
 
25 
 
5 REALISMO / NATURALISMO 
 
Fonte: figuradelinguagem.com 
Ainda hoje, a distinção entre realismo e naturalismo coloca questões 
fundamentais. Debates envolvendo importantes teóricos marxistas por volta da 
década de 1930 contribuíram decisivamente para a crítica posterior. Naquela 
época, o interesse por temas literários e revolucionários, e qual deveria ser a 
estética adequada de uma sociedade baseada na socialização do trabalho e no 
fim da opressão, dificultava os escritos soviéticos que pareciam assumir, 
parafraseando Lukács, ou seja, o tom e o padrão dessas obras naturalistas 
"desvalorizadas". 
Os muitos debates que surgiram durante esse período contribuíram para 
uma compreensão mais profunda da estética do realismo e do naturalismo. No 
nosso caso, para entender a relevância dessa questão, é preciso entender o 
quanto o realismo e o naturalismo se manifestaram no Brasil como conceitos 
literários (mesmo que esse confronto explícito ou programado não tenha sido 
estabelecido na época) terá início com três romances representativos do 
período: Memórias Póstumas de Brás Cubas e Quincas Borba, de Machado de 
Assis, e O Cortiço, de Aluísio Azevedo. Com base nesses trabalhos, contaremos 
principalmente com o instrumento crítico de Geogy Lukács (à época, figura 
central da edição). 
 
 
 
 
26 
 
5.1 O problema do Real – conhecimento e experiência 
Em um primeiro momento, pode-se dizer que uma necessidade comum 
foi enquadrada no centro da distinção entre realismo e naturalismo: ambos 
compartilham um compromisso com a realidade. 
Este "compromisso com a autenticidade assume diferentes formas em 
ambas as estéticas". Ao abrir mão, ao invés de abruptamente e unificada, visões 
de mundo românticas (visões de mundo baseadas em polos opostos - visão de 
mundo "realidade intangível, inapreensível, linguagem que escapa"), realismo e 
naturalismo,cada um à sua maneira, busca compreender os "processos lógicos 
e inter-relacionados " de personagens e ações em movimento, ou descrever os 
"fenômenos da trama" que eles apresentam. 
Nesse polo, e às vezes até na elaboração em primeira pessoa, há um 
desejo explícito de uma maior "compreensão" da realidade, uma maior conexão 
com o mundo material objetivo. Em todo esse conjunto de conceitos, que a 
princípio parecem estar mais preocupados com o antirromantismo do que com o 
próprio realismo, há uma certa preocupação "impessoal" diante da exposição 
poética. Antes de raciocinar, porém, aponta para uma conclusão de que os 
românticos deliberadamente “manipularam a realidade”, observemos o que disse 
Bosi: 
 “O romântico não teme as demasias do sentimento nem os riscos da 
ênfase patriótica; nem falseia de propósito a realidade, como 
anacronicamente se poderia hoje inferir: é a sua forma mental que está 
saturada de projeções e identificações violentas, resultando-lhe natural 
a mitização dos temas que escolhe. ” (BOSI, 1985, apud 
NASCIMENTO, 2007, p. 298). 
Mas é precisamente a essa "forma psicológica cheia de projeções" que os 
realistas-naturalistas se opõem. Em decorrência do período de desenvolvimento 
industrial, juntamente com a maior “depuração das classes sociais”, correntes de 
pensamento foram associadas aos resquícios do romantismo nostálgico, com 
maior comprometimento do artista com a realidade circundante. Ao longo desse 
processo, enfatizando a necessidade de ruptura (expressa em muitos casos 
apenas como "intenções filosóficas", não relacionadas à realidade material), 
 
 
 
 
27 
 
muitos dos mestres dos países centrais do capitalismo se tornaram pioneiros 
exposições literárias e elaborações intelectuais. 
No Brasil, esse conceito levou muito tempo para se tornar mais decisivo. 
Schwartz, disse que o ritmo de nossa vida ideológica, porém, é diferente e 
determinado pela dependência do Estado: à distância, segue os passos da 
Europa (Schwartz, p. 25 Page). É também neste mundo de "ideias fora do lugar" 
- dominado por um estado altamente dependente e retrógrado, um conjunto de 
ideias com um tom artificial, refletido nos padrões europeus - que podemos 
seguir gradualmente uma certa criação de conceitos movimento que no centro 
do Capitalismo, resultaram uma grande mudança na ordem social. 
Esta "verdade" que é expressa em elementos alicerçados e estruturados 
na verdade e na objetividade, constituirá um debate organizado em torno da 
estética realista e naturalista. A maneira como cada uma dessas correntes 
procuram entender e conceber a realidade é, obviamente, sua própria 
concepção dessa realidade. 
Em geral, podemos dizer que esse "compromisso com a verdade" tem 
dois aspectos: para o naturalista, a verdade existe na dimensão da 
experimentação, por meio de descrições que maximizam a captura dos 
elementos que compõem o fenômeno apresentado (e a dimensão da 
determinação existe na ideia de que os mecanismos externos englobam 
qualquer possibilidade de intervenção de mudança de papéis). Nesse sentido, 
criticou Lukács: 
A descrição rebaixa os homens ao nível das coisas inanimadas. Perde-
se nela o fundamento da composição épica: o escritor que segue o 
método descritivo compõe à base do movimento das coisas. (“...) Tal 
método de composição tem como efeito o tornar os diversos e 
determinados aspectos objetivos do complexo de coisas em partes 
individualizadas dentro do romance.” (LUKÁCS, 1965, apud 
NASCIMENTO, 2007, p. 298). 
Assim, "excesso de descrição na busca da realidade integral" tende a se 
posicionar como uma “gordura” no romance. Algo que sobra. Por meio de 
descrições destinadas a reproduzir plenamente ambientes e eventos, os 
naturalistas abandonam o princípio da seleção a ponto de abraçar todos os 
aspectos da realidade "na superfície". E esse conjunto de superfícies descritas 
 
 
 
 
28 
 
cria uma imagem de “cortar o todo”, onde a coleção de detalhes pode ser bem 
organizada em subgrupos e isolada da obra sem causar muito dano. 
Para os romancistas realistas, a análise do narrador deve focar nas ações 
do personagem, especialmente em sua especificidade. Esse é um dos principais 
pilares da experiência que acompanha a maioria das obras épicas. Na busca 
dessa particularidade, os realistas não se limitam a descrevê-la, mas como, por 
meio das descrições, encontram mecanismos essenciais para a compreensão 
de ações e intenções. Nesse sentido, os realistas estabelecem uma adaptação 
da realidade, escolhendo o que interessa ao desenvolvimento do enredo e seus 
resultados. No entanto, isso não significa que quaisquer descrições 
apresentadas devam ser determinantes da experiência apresentada, mas sim 
que podem contribuir para a construção de um todo coerente. 
Segundo Lukács (1965), a narrativa real é aquela que busca abandonar 
esse "esquema determinista". Ao vê-lo como um experimento, os escritores 
naturalistas verão o romance como uma tese e, portanto, geralmente uma 
espécie de didática que parecemos encontrar nesse tipo de escrita. Como se vê, 
seu foco na sociedade, a crítica (originalmente pretendida) assume uma 
dimensão superficial, a apresentação de personagens e situações do enredo, 
sem a possibilidade de subjetividade e fluidez. 
5.2 Realismo e Naturalismo: a distinção na literatura brasileira 
No Brasil, os movimentos do realismo e naturalismo assumem um caráter 
um pouco diferente dos de alguns países europeus. O Cortiço (provavelmente o 
melhor romance naturalista do Brasil), por exemplo, para um olhar mais dinâmico 
e menos abreviado. No entanto, essa disparidade não coloca o romance no outro 
extremo, resguardando-o de certos aspectos. 
Machado de Assis, um modelo de escritor de estética realista, também se 
retratou como um artista que não era facilmente modelado por atores. 
Nascimento (2007) destaca que, em Memórias Póstumas de Brás Cubas, sua 
forma não convencional, em estilo contemporâneo, rompe com a macroestrutura 
tradicional de muitos romances realistas. Machado sintetiza as características 
 
 
 
 
29 
 
que o tornam único: ele é uma fusão entre filosofia e humor fantástico, cheio de 
"grunhidos pessimistas". 
José Guilherme Merquior comenta essas características no prefácio de 
Memórias Póstumas, tornando o romance "uma representação moderna do 
gênero comédia-fantástica". A escolha feita na elaboração de O Cortiço também 
parece reforçar a ideia original: a ascensão pessoal de João Romão, também 
enfatizada se preocupa com o romance, parece estar livre do sentido processual 
de "determinação universal". 
João Romão pretende ganhar um status social melhor, enriquecer-se 
lentamente vendendo em seu mercado, do emprego de um grupo de lavadeiras, 
o engano da "escrava" Bertolezza, em comparação com os outros personagens 
ele é diferente. É um personagem que "cresce" na narrativa - passa de uma 
posição inicial inferior para um desfecho promissor. 
No entanto, os elementos que parecem aproximar O Cortiço de um 
romance propriamente realista não representam uma longa lista. A maioria dos 
outros personagens parece estar se concentrando nesse nível, que Lukács já 
mencionou. E, apesar de ter maior “livre-arbítrio”, João Romanos não age “para 
amarrar a narrativa”. O poder descritivo de Aluísio Azevedo na descrição da 
pedreira, nos detalhes de cada casa, em todo o cortiço, nos aspectos físicos de 
cada pessoa, cria a mesma lógica geral já criticada na obra “Narrar ou 
Descrever? ”: 
 “Mas a descrição das coisas nada mais tem a ver com os 
acontecimentos da evolução dos personagens. E não só as coisas são 
descritas independentemente das experiências humanas, assumindo 
um significado autônomo que não lhes caberia no conjunto do 
romance, como também o modo pelo qual são descritas conduz a uma 
espera completamente diversa daquela das ações dos personagens. ” 
(LUKÁCS, 1965, apud NASCIMENTO, 2007, p. 301). 
De acordo com Nascimento(2007) Machado de Assis neste sentido, 
opera em sentido diverso. Em Memórias Póstumas de Brás Cubas, o 
personagem principal, o próprio “defunto-autor” das Memórias, fará questão de 
selecionar e organizar os fatos e acontecimentos que julga determinantes para 
mostrar o seu “legado de miséria”. Suas descrições, portanto, não serão 
carregadas de nenhuma “virtuose da completude”, pelo contrário, caracterizarão 
 
 
 
 
30 
 
o necessário ou o desnecessário (a este, muitas vezes como maneira própria de 
acentuar certo sarcasmo ou futilidade). Esse distanciamento dos fatos, já que o 
narrador os apresenta agora “do outro lado”, permite, inclusive, narrar com maior 
ironia, emitindo, quando melhor, suas próprias impressões. Tem-se a clara 
evidenciação de um “recorte de experiências”, algo ainda mais reforçado por 
essa espécie de “teleologia” que dá ao autor um distanciamento anterior, de não 
imersão. 
Para Nascimento (2007) a dimensão da experiência também possui 
sentido diverso em ambos os casos. Para o realista, a experiência advém das 
práxis, da ação. O épico, neste sentido, é pródigo de grandes experiências – na 
maioria das vezes com intenções universais. Já o naturalista admite o 
conhecimento, a experiência, como fruto da experimentação, do trabalho 
científico. Aluísio Azevedo, por exemplo, para a concepção de O Cortiço, julgou 
necessário acumular, de maneira enciclopédica, todos os elementos necessários 
para uma representação fiel a esta realidade. Para isso, o escritor chegou a 
visitar inúmeros cortiços do Rio de Janeiro, muito comuns à época, a fim de 
vivenciar in loco o cotidiano e os “tipos“ sociais. Esse tom laboratorial chega a 
alguns momentos a criar uma espécie de “fisiologização”, ou animalização do 
homem e do objeto descrito, que, a despeito de tentar aprofundar um tom de 
crítica social, chega a assumira a tônica de um preconceito: 
“E, naquela terra encharcada e fumegante, naquela umidade quente e 
lodosa, começou a minhocar, a esfervilhar, a crescer, um mundo, uma 
coisa viva, uma geração, que parecia brotar espontânea (...)” 
(AZEVEDO, 1994, apud NASCIMENTO, 2007, p. 301). 
Em Machado, a dimensão da experiência terá outro sentido. A experiência 
será conquistada mediante as ações do personagem. Brás Cubas apresenta-nos 
memórias que são, também, um balanço das ações levadas a cabo durante toda 
a vida. O morto irá dos seus amores de infância aos adultérios da maturidade, 
sempre os tratando com a frieza ou ironia diametralmente distantes dos 
românticos. O Rubião, de Quincas Borba (romance narrado em terceira pessoa) 
será focalizado através das suas ações, dos acontecidos de sua vida (e também 
das ações alheias: Sofia e o marido, os amigos da política, dos jantares, da 
filosofia). É deste conjunto articulado, que coloca em cena atividades humanas, 
 
 
 
 
31 
 
angústias, reflexões, quedas e exclusões, que se extrairá a experiência (oriunda 
de personagens mais verossímeis e mais plausíveis). 
Por último, Nascimento, (2007) explica como se dá, dentro da polêmica 
Realismo-Naturalismo, a questão da determinação. Como se vê em O Cortiço, 
como Jerônimo e Pombinha também são exemplos de um esquematismo que 
chega a picos impressionantes: Pombinha fora criada a vida toda numa redoma 
social – bem tratada, boa educação, bons costumes. Entretanto, seu contato 
afetivo-sexual com a madrinha Leónie e a vinda de sua primeira menstruação 
foram sinais de que deveria valer a impiedosa lei social-animal: a mesma para 
todos que nascem “no lodaçal do cortiço”. Tornava-se, a partir daí uma prostituta. 
Jerônimo também não escapou à “lei” do cortiço. Sua vida recatada e regrada 
junto à mulher fora rapidamente quebrada pelo contato com a avassaladora 
figura de Rita Baiana. Primeiro passo para que, ao pouco e por substituição, 
Jerônimo trocasse os azeites e fados portugueses pelos ares e cheiros tropicais, 
por uma vida boêmia, entregue às vontades da mulata. O homem sério e 
fechado, apresentado de início, termina matando o antigo amante de Baiana. 
 Nascimento, (2007) explica que essa concepção linear, esquemática e 
direcionada dos personagens que parece perdurar em romances de tal natureza, 
tende a ser evitada num romance realista. Machado nos apresentará 
personagens com uma complexidade psicológica muito maior. Isto não os isenta 
de uma inserção social, uma identificação com seu meio ou sua classe – sequer 
impede a possibilidade de, no romance, circularem personagens que, por sua 
pequenez de expressão, ou por uma própria condição no mundo, sofrerão de 
maneira mais incisiva as mazelas do entorno. Mas o modo como essa própria 
identificação é construída já representa um ponto de clara divergência. 
Encontraremos desde um Rubião que, mesmo imerso no alienante quadro “mais 
fino da sociedade burguesa do Segundo Reinado” (BOSI, p. 201) não deixa de 
possuir uma personalidade própria, repleta de ingenuidade. Isto nos mostra que, 
mesmo com aspectos do meio que o levam a “ser como é” (as conferências 
noturnas, os círculos de amigos, a própria herança recebida...), o personagem 
não deixa de circular por essas experiências, sendo apresentado pelo recorte do 
narrador que nos deixa pistas de seus motivos e intenções. O mesmo se dará 
 
 
 
 
32 
 
com um Brás Cubas: leva adiante um refinado egoísmo ao longo da vida, mas 
não deixa de refleti-lo, após a morte, com distanciamento e ironia. 
6 TEMPOS MODERNOS E MODERNISMO NO BRASIL 
 
Fonte: guiadoestudante.abril.com.br 
Segundo Cerqueira (2015), o projeto de inovação literária do Brasil foi 
realizado rompendo com os rígidos padrões parnasianos, com o objetivo de criar 
uma literatura genuinamente nacional e atual, condizente com as necessidades 
de sua época. Para entender o que essa ruptura significa para a literatura, é 
preciso analisá-la mais a fundo. Em primeiro lugar, é preciso voltar às raízes da 
ruptura, e mesmo às raízes do espírito revolucionário que a desencadeou, para 
compreender suas consequências. 
Cerqueira (2015) explica que essa análise é necessária porque a 
inovação estética - pelo menos no caso do modernismo - pode ser pensada 
como uma combinação de novas realidades no âmbito da estética. Nesse caso, 
seria a integração dos valores modernos à literatura e à arte em geral. As velhas 
formas de arte não podem mais atender às novas exigências, e manter as velhas 
formas de arte nada mais é do que imitadores de fórmulas que não funcionam 
mais. Portanto, pode-se concluir que a ruptura dos padrões estéticos 
 
 
 
 
33 
 
modernistas é reflexo das mudanças sociais da época. Portanto, sua origem é a 
imposição da realidade. 
O crítico Álvaro Lins destaca que o movimento – no Brasil e em todos os 
países envolvidos na Primeira Guerra Mundial de alguma forma – reflete na 
literatura as mudanças de valores que estão ocorrendo na sociedade: 
“[...] efetivamente, eis o que foi o modernismo: uma crise, uma fase de 
transição, uma imagem de instabilidade social. ” (LINS, 1967, apud 
CERQUEIRA, 2015, p. 4). 
 
Indiscutivelmente, a guerra não é o único determinante da modernidade 
social, pois países que não estiveram diretamente envolvidos ou sofreram suas 
piores consequências também passaram por modernização. Este tema é muito 
mais complexo, e existem várias outras variantes, como a industrialização da 
sociedade e suas consequentes mudanças, como a concentração das 
populações nos grandes centros urbanos, o surgimento de novas classes sociais 
(burguesia urbana e proletariado), Desenvolvimento da indústria do 
entretenimento e da mídia. Todas essas mudanças também deram origem à 
necessidade de transformação artística, pois os produtos produzidos não mais 
se adequavam às condições do homem moderno. 
No entanto, é importante ressaltar a dialética da relação entre literatura e 
realidade. Como mencionado anteriormente, a raiz de sua transformação está 
na própria transformação social. Contudo,não pode parar por aí. Uma vez que 
a literatura se integra às novas necessidades dos tempos como forma, ela 
começa a ter impacto na sociedade, contribuindo para a transformação da 
consciência nacional e a solução de problemas. 
Álvaro Lins discorre sobre um projeto de História Literária no Brasil que 
assume "papel pioneiro na investigação e apresentação da história literária" a 
partir do impulso de sucessivos escritores para influenciar a realidade do país, 
tornando-se figuras públicas por meio de suas obras. Este espírito de vanguarda 
é especialmente importante no modernismo porque, como disse o próprio Mário 
de Andrade, não é um movimento estético, mas um espírito revolucionário, 
porque o seu tempo era é um tempo de politização das pessoas, e exige a 
participação de arte na vida desta forma 
 
 
 
 
34 
 
A transformação do mundo (...) bem como o desenvolvimento da 
consciência americana e brasileira, (...) impunham a criação de um 
espírito novo e exigiam a reverificação e mesmo a remodelação da 
Inteligência nacional. Isso foi o movimento modernista (...). 
(ANDRADE, 1974, apud CERQUEIRA, 2015, p. 4). 
7 MODERNISMO E LITERATURA MODERNA BRASILEIRA 
 
Fonte: culturagenial.com 
No Brasil, a situação do modernismo é muito singular em relação à 
vanguarda europeia, caracterizada pelo fato de que os artistas viviam em sua 
maioria à margem da sociedade burguesa (embora muitos fossem de famílias 
burguesas) e se opunham aos valores daquela sociedade. 
Em São Paulo, artistas de vanguarda, sustentado pela burguesia agrária, 
promoveram prestigiosos salões de arte e turnês pela Europa, interessados não 
apenas na estética moderna, mas sobretudo no retorno às origens e tradições 
culturais brasileiras. Se os modernistas buscam nestas origens a verdadeira 
brasilidade da arte, a burguesia agrária busca uma forma de reforçar e impor 
uma nova configuração econômica ao país, levando à ascensão de uma nova 
classe burguesa, urbana e industrial. 
No contexto de emergência do modernismo brasileiro, essa 
particularidade sem dúvida teve impacto no movimento – por exemplo, como o 
próprio Mario de Andrade admitiu na década de 1940, as obras não 
apresentavam postura politicamente crítica. Concordou-se que, a princípio, o 
modernismo se preocupava principalmente com questões puramente estéticas, 
 
 
 
 
35 
 
e que a consciência política seria um dos resultados dos avanços na inovação 
da linguagem artística. 
Analisando as contribuições do movimento modernista para a literatura e 
a sociedade brasileira, na conferência intitulada "Movimento Modernista", Mário 
de Andrade listou três princípios básicos cuja associação com o modernismo 
marcou uma mudança dramática na realidade brasileira: a conquista da 
liberdade de pesquisa estética, a renovação do saber artístico estatal e a 
consciência criativa nacional estável. Segundo seus estudos, a união desses três 
fatores contribuiu para a independência do Brasil em termos de arte e 
conhecimento, a liberdade de criação e a originalidade das obras de arte, ou 
seja, a subjugação de uma nação e da literatura contemporânea. 
Álvaro Lins enfatiza que só a literatura criada com liberdade de estudo e 
de busca de material na cultura local pode tornar-se atual, por ser nacional e 
contemporânea, podendo, assim, alcançar status de universal. Não se pode 
alcançar status internacional até que apresentem uma face nacional forte, clara 
e bem caracterizada. 
Não se pode esquecer que o próprio Mário de Andrade não considerou 
essas especificações originais. Ele tem plena consciência de que tudo isso pode 
ser encontrado em outros movimentos artísticos brasileiros. A grande diferença 
trazida pelo modernismo “é a combinação dessas três normas no todo orgânico 
da consciência coletiva”. No entanto, esse "todo orgânico" não pode ser 
considerado harmonioso de forma alguma. Os próprios críticos admitem que 
essas conquistas carregam pesos diferentes. 
No que diz respeito ao campo da literatura, pode-se dizer que o 
modernismo trouxe duas contribuições principais: uma nova compreensão do ato 
de criação, que se tornaria um ato independente de estudo estético, liberado de 
padrões e técnicas predeterminadas; e a percepção de que o a obra de arte é 
mais importante que o individual e a psicologia é mais coletiva e funcional, sendo 
o mais importante esse caráter coletivo. Isso significa que, pela primeira vez na 
história da literatura brasileira, há foco e base efetiva para o espírito coletivo da 
criatividade é o que Mário de Andrade chamou de estabilidade da consciência 
criativa nacional, que é um conceito literário nacional que surgiu da pesquisa 
estética e não da imitação de algum padrão estético popular. Sobre essa vitória, 
 
 
 
 
36 
 
Jorge Schwartz lembra a importância do modernismo para a literatura brasileira, 
ressaltando a diferença fundamental entre a poética do modernismo e as que o 
antecederam: 
Nestas há leis de bom proceder, há “Don’t”, há manuais do bom 
conselheiro, há regras de preconceito artístico, teias concêntricas da 
Beleza imitativa (...). Na orientação modernizante seguem-se 
indicações largas dentro das quais se move com prazer a liberdade 
individual. Não se encontra nela regras de arame farpado que 
constrangem senão indicações que facilitam. (SCHWARTZ,1995, apud 
CERQUEIRA, 2015, p. 6). 
Para Mário de Andrade, essa foi a grande conquista do modernismo. 
Embora se defenda que as tentativas revisão da língua portuguesa não são 
suficientes para adaptá-lo à nossa realidade e permitir que nos "expressemos 
como identidades, visão que difere de Álvaro Lins, que considera nossa língua 
bastante diferente do “português" e argumenta que tentar Mário de Andrade e 
outros modernistas adaptá-la para trazer a linguagem oral para a literatura é um 
exagero ou mesmo errado, o autor defende que as expressões nacionais na 
literatura - como em qualquer outra arte - o progresso era indiscutível. O autor 
analisa obras das décadas de 1920 e 1940 e reitera que a literatura moderna 
está surgindo no Brasil. 
No entanto, na esfera social ou renovação da sabedoria artística, como o 
autor a chama, que, além de suas características estéticas, inclui também as 
características sociais da arte, Mário de Andrade abominava fazer o " burguês 
gostoso " sobrepor-se aos "intelectuais conscientes" por não colocarem a 
máscara do tempo e o esbofetearem como merece Andrade (1974). Para os 
críticos, a geração dos anos 1920 era culpada pela falta de realidade e 
virilidade, ou seja, não estavam realmente envolvidos com os problemas de seu 
tempo, que eram fundamentalmente sociais e políticos. Seu julgamento é, sem 
dúvida, muito severo, o que é uma das consequências de seu espírito crítico 
natural. 
Como se pode ver, há estudos dos movimentos que apontam para 
diferentes fases do modernismo e da própria obra de Mário de Andrade, ora 
estética, ora mais distante Aspectos, ora o político-social se sobressaem. 
Através desses trabalhos posteriores incorporaram atitudes estéticas inovadoras 
 
 
 
 
37 
 
e passam a trazer um maior senso de realismo e crítica social. No entanto, os 
críticos foram implacáveis em relação ao autor: 
E apesar de nossa atualidade, da nossa nacionalidade, da nossa 
universalidade, uma coisa não ajudamos verdadeiramente, duma coisa 
não participamos: o amilhoramento político-social do homem. E esta é 
a essência da nossa idade. (ANDRADE, 1974, apud CERQUEIRA, 
2015, p. 6). 
Lafeta argumenta que o movimento modernista sempre foi moldado pela 
interação de duas esferas: ideologia e estética. Para ele, a necessidade de se 
envolver com as questões de seu tempo era uma característica intrínseca do 
movimento, assim como seu alcance ideológico. A ruptura da linguagem 
acadêmica e a fusão do popular e do original caracterizam seu alcance estético. 
Esses dois aspectos nunca estão separados na literatura, mas vivem em 
constante tensão.7.1 Modernismo e crítica literária 
Em 1930: A crítica e o modernismo, João Luis Lafetá analisa a crítica 
literária brasileira dos anos 1930 para avaliar o impacto do modernismo na 
crítica. Para tanto, seus críticos escolhidos incorporam em sua obra mais ou 
menos as exigências impostas pela nova literatura que emerge do rompimento 
proporcionado pelo modernismo. 
O autor argumenta que o principal critério de avaliação dessa nova crítica 
literária é um conhecimento aprofundado da linguagem, que vai muito além da 
tarefa rotineira da crítica. A tarefa da crítica tornou-se mais complicada quando 
o movimento modernista tomou conhecimento da própria linguagem devido à 
exploração do programa de linguagem nas obras. Se era essa consciência que 
antes era sua função, e agora é praticada pela obra, então a crítica precisa estar 
mais atenta ao processo a partir de então, verificando se a literatura pode atingir 
seu novo propósito. 
O autor argumenta que o principal critério de avaliação dessa nova crítica 
literária é um conhecimento aprofundado da linguagem, que vai muito além da 
tarefa rotineira da crítica. A tarefa da crítica tornou-se mais complicada quando 
 
 
 
 
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o movimento modernista tomou conhecimento da própria linguagem devido à 
exploração do programa de linguagem nas obras. Se essa consciência era o que 
fazia antes, e agora é praticada pela escrita, então a crítica precisa aumentar 
ainda mais o processo de consciência a partir de então, verificando se a literatura 
pode atingir seu novo propósito e até que ponto. 
Lafetá em sua pesquisa sobre a crítica “mariodeandradeana” acompanha 
a trajetória do artista, teórico e crítico Mario de Andrade, acompanhando o 
desenvolvimento de seu pensamento e prática artística, a partir de sua "fase 
heroica". A teoria do escritor precisava defender uma nova forma de arte através 
de novos parâmetros estéticos, no "“Prefácio interessantíssimo”", até o ano de 
1930, o escritor publicou "O carro da Miséria", que mais tarde seriam editados 
nos livros: O empalhador de passarinhos e Aspectos da literatura brasileira. 
Mario de Andrade demonstrou desde o início um esforço crítico e teórico, 
demonstrando um profundo conhecimento das correntes de vanguarda 
europeias. Se num primeiro momento ele parece inclinar-se para o foco pessoal, 
o lirismo da obra de arte, é devido à nossa necessidade de tentar romper com a 
concepção parnasiana da arte em que o artista está submisso às regras estritas, 
sob tal comportamento, a liberdade de produção tende a sucumbir. No entanto, 
sempre esteve atento à importância do caráter estético da obra de arte, a técnica, 
sempre buscando o equilíbrio entre essas duas abordagens e, por sua posição 
de vanguarda, a busca de novos parâmetros estéticos - como "polifonia" - eles 
podem estabelecer as bases para sua própria arte. 
Depois de encontrar um equilíbrio entre essas duas abordagens artísticas 
- o que já é evidente em A escrava que não é Isaura - surge um novo empecilho. 
O autor precisa se ajustar novamente, e agora é outro requisito: o caráter social 
e público da obra de arte. A efetiva combinação entre ruptura linguística e crítica 
social será sintetizada na obra "O Carro da Miséria" publicada em 1930. O crítico 
Mário de Andrade só conseguiu essa consciência no final do século, com uma 
nova concepção de técnica e arte. Para Lafetá, os críticos apresentaram a nova 
ideia pela primeira vez na conferência " O artista e o artesão” de 1938. 
 “Aqui Mário de Andrade ampliou consideravelmente o seu conceito de 
‘técnica’, tornando-se capaz de abranger tanto o lirismo individual como 
as condições sociais em que o artista produz sua obra”. (LAFETÁ, 
1930, apud CERQUEIRA, 2015, p. 7). 
 
 
 
 
39 
 
Se comparar a pesquisa de Lafeta com a conferência de Mário de 
Andrade, fica claro que a avaliação desse crítico é consistente com pesquisas 
posteriores. Por ter uma visão temporalmente mais distanciada, ele divide o 
movimento em fases, visão que difere da de Mário de Andrade e Álvaro Lins, 
que na década de 1940 já viam o fim do modernismo e colocavam a literatura na 
época como uma consequência do movimento. 
É importante enfatizar que o crítico Mário de Andrade estava atento a essa 
mudança, como evidencia a leitura de seus ensaios críticos sobre a literatura da 
época. Sua resistência com os conflitos contínuos das ideologias estéticas é tão 
feroz e implacável que às vezes seu trabalho crítico parece se contradizer, pois 
ora defende a literatura como puramente estética, ora como engajamento social. 
Porém, essa aparente contradição é um exercício de consciência, uma tentativa 
de não se deixar levar pela influência do momento. Seu esforço não é ignorar a 
tensão entre os dois extremos da arte, mas chamar a atenção para um aspecto 
em que determinada obra ou determinado contexto é prejudicado em relação ao 
outro. 
8 MODERNISMO: A CONTRIBUIÇÃO DE OSWALD DE ANDRADE 
Oswald de Andrade, um dos idealizadores da Semana de 22, não 
escondeu seu fascínio pela Europa. Segundo Silva (2009), "a influência da 
França na formação dos intelectuais é inquestionável. Do comportamento social 
francês, da moda, dos padrões modernos de comportamento", afirma ter 
"descoberto o Brasil" em Paris. (Silva, 2009, p. 38). Na Europa, Oswald entrou 
em contato com vanguardas que, trazidas como canibais, mudaram o rumo de 
nossa literatura, música e arte. 
A paródia era uma característica da poesia de Oswald na década de 1920, 
em que o autor condenava o comportamento desregrado de uma geração em 
um contexto histórico permeado por equívocos. Um exemplo é o poema Erro de 
português, que é uma paródia da carta de Pero Vaz de Caminha, contida em seu 
livro "Poesias reunidas", em Poemas Menores, que não é secundário, mas 
mostra a grande capacidade questionadora de Wald. 
 
 
 
 
40 
 
 
 
 
Segundo Cláudio Willer (2009), a paródia de Oswald atinge o cenário da 
colonização ao satirizar visões de uma situação paradisíaca na primeira crônica 
do descobrimento do Brasil. A irreverência do poema exemplifica essa visão 
crítica da época colonial. Para inverter o curso do nosso passado lusitano, 
propõe outra evolução histórica em que os índios dominariam os portugueses - 
"fosse uma manhã de sol"... 
Neste e em outros poemas sobre situações coloniais pode-se ver não 
apenas um ataque aos padrões que influenciaram a escrita, especialmente 
durante o período romântico, "mas também uma investigação e crítica do Brasil. 
Oswald demonstrou uma capacidade única de consolidar ideias 
modernistas, incorporando-as em seus poemas e manifestos. Em 1924, lançou 
o Manifesto da Poesia Pau-Brasil, sem romper com as raízes nacionais, e 
sobretudo pregando a libertação da cultura europeia que existia em nossa época 
colonial. Com ingenuidade, ele se propõe a traduzir a exportação simbólica do 
Pau-Brasil, nosso produto mais valioso na época colonial, em poesia através do 
discurso literário. O manifesto nacionalista prega que "a linguagem não arcaica, 
e sim natural com todos os erros, da forma que falamos assim como somos. 
A “valorização do erro” seria um “ataque ideológico”, um diagnóstico 
da realidade sociocultural brasileira, “contra os aspectos cultos da 
Quando o português chegou 
 
Debaixo duma bruta chuva 
 
Vestiu o índio 
 
Que pena! 
 
Fosse uma manhã de sol 
 
O índio tinha despido 
 
O português 
Oswald de Andrade 
 
 
 
 
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língua denunciados como artificiais e excludentes”. (SILVA, 2009, apud 
OLIVEIRA, 2012, p. 86). 
Herdados da vanguarda europeia, os movimentos e manifestos surgidos 
no modernismo, fruto de um desejo crescente de renovação, formaram opiniões 
divididas, espaços e posições de debate: Pau-Brasil, Verde – Amarelismo, Anta, 
Antropófago. Embora ideologicamente antagônica, é discutível que, em certa 
medida, ela parta de um fio condutor: a valorização das qualidades nacionais 
para (re) descobrir

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