Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Maria Clara Cavalcante Vertigem, coordenação motora e equilíbrio Tontura Sintoma inespecífico usado para descrever várias sensações comuns que incluem vertigem, pré-síncope, sensação de desmaio iminente, desmaio e desequilíbrio. Causas: • Vestibular (vertigem ou desequilíbrio) Decorrente de distúrbios periféricos que afetam o labirinto ou nervos vestibulares Lesões unilaterais agudas - Vertigem por causa do súbito desequilíbrio nos impulsos vindos dos labirintos Lesões bilaterais - Vertigem por causa do desequilíbrio e instabilidade da visão quando a cabeça se move, devido a uma perda dos reflexos vestibulares normais No caso de distúrbios vestibulares, os sintomas físicos dependem de a lesão ser uni ou bilateral e aguda ou crônica. • Paroxística • Pré-síncope Ocorre por hipoperfusão cerebral causada por arritmias cardíacas, hipotensão, medicamentos • Não vestibular • Distúrbios da marcha Perda de propriocepção devido a neuropatia sensitiva, Parkinson e ansiedade História: Quando um paciente tem tontura, a primeira etapa é delinear a natureza do sintoma. A hipofunção vestibular bilateral simétrica causa desequilíbrio, mas não vertigem. A tontura pode ser dividida em episódios que duram segundos, minutos, horas ou dias. ➔ Tontura breve – segundos • Vertigem posicional paroxística benigna (VPPB) • Hipotensão ortostática Ambas são causadas por alterações na posição da cabeça e do corpo ➔ Tontura intermediária – minutos • Ataques isquêmicos transitórios da circulação posterior • Migrânea (enxaqueca tamém pode ser possível) ➔ Tontura longa – horas • Vertigem enxaquecosa • Doença de Ménière - Perda auditiva predominantemente de baixa frequência Exames: Fenômeno de perseguição e sacadas (problemas) – patologia central, quase sempre envolve o cerebelo Desalinhamento vertical dos olhos (teste de cobertura) – lesão de tronco encefálico ou cerebelar. Vertigem Sensação de giro ou outro movimento que pode ser fisiológico (disfunção cerebelar). Termo aplicado a sensações de desmaio iminente resultantes de hipoperfusão cerebral. Ilusão de que a própria pessoa ou o ambiente está se movimentando, implica assimetria dos impulsos vestibulares vindos de ambos os labirintos, é aguda. Não é causada por hipofunção vestibular bilateral simétrica Os sintomas podem ser úteis para distinguir lesões vestibulares periféricas de causas centrais. ➔ Lesão periférica • Perda auditiva unilateral e outros sintomas auriculares (dor, pressão, plenitude na orelha) • Nistagmo horizontal – muda de acordo com a direção do olhar (nistagmo evocado pelo olhar) Como as vias auditivas tornam-se rapidamente bilaterais quando entram no tronco encefálico, é improvável que as lesões centrais causem perda auditiva unilateral (a menos que a lesão se situe perto da zona de entrada da raiz do nervo auditivo). 2 Maria Clara Cavalcante ❖ Perda auditiva unilateral neurossensorial – Pode ser Schwannoma vestibular ❖ Perda auditiva predominantemente de baixa frequência é característica da doença de Ménière. Óculos de Frenzel • Óculos autolimitados com lentes convexas que turvam a visão do paciente podem auxiliar na detecção do nistagmo vestibular periférico, pois reduz a capacidade do paciente de usar a fixação visual na supressão do nistagmo. ➔ Lesões centrais • Sintomas como visão dupla (diplopia), disartria dormência e ataxia de membro sugerem lesão do tronco encefálico ou cerebelar. • Nistagmo vertical – fases rápidas para baixo (nistagmo inferior) • Ausência do sinal de impulso da cabeça em um paciente com vertigem aguda prolongada deve sugerir uma causa central. Se o nistagmo posicional primário for visto com facilidade na luz, é provável que tenha uma causa central. Aspectos da vertigem periférica e central: • O nistagmo por lesão periférica aguda é unidirecional, com as fases rápidas batendo para longe da orelha com a lesão. O nistagmo que muda de direção com o olhar deve-se a uma lesão central. • O nistagmo transitório misto vertical torcional ocorre na vertigem posicional paroxística benigna (VPPB), mas o nistagmo puro vertical ou puro torcional é um sinal central. • O nistagmo por lesão periférica pode ser inibido pela fixação visual, enquanto o nistagmo central não é suprimido. A hipofunção vestibular bilateral simétrica causa desequilíbrio, mas não vertigem. Testes: ➔ Impulso de cabeça: • Avaliação do reflexo vestíbulo-ocular (RVO) • Rápidas rotações da cabeça (cerca de 20 graus) enquanto o paciente está com o olhar fixo em algo • Paciente com o olhar fixo em algo • RVO deficiente: sacada na direção oposta (ex. sacada para a esquerda após uma rotação para a direita). • Pode identificar hipofunção vestibular unilateral (sacadas após rotação em direção ao lado fraco) e bilateral (sacadas após rotações em ambas as direções). ➔ Manobra de Dix-Hallpike: • Testada em todos os pacientes com tontura episódica, em especial se provocada por alterações na posição • Paciente começa em posição sentada com a cabeça virada em 45 graus, o examinador segura a parte de trás da cabeça e abaixa o paciente até a posição supina com a cabeça em extensão para trás em cerca de 20 graus enquanto observa seus olhos. • A VPPB do canal posterior pode ser diagnosticada de maneira confiável se for visto nistagmo transitório torcional com batimento superior. • Se nenhum nistagmo for observado após 15 a 20 segundos, o paciente é levantado até a posição sentada e o procedimento é repetido com a cabeça virada para o outro lado. • Os óculos de Frenzel podem melhorar a sensibilidade do teste. ➔ Acuidade visual dinâmica: • Avaliação da função vestibular • Cabeça estática e com a cabeça sendo girada para trás e frente • Queda na acuidade durante a movimentação de mais de uma linha de texto é anormal e indica disfunção vestibular ➔ Manobra de Epley: • Paciente sentado, vira-se a cabeça em 45 graus para o lado da orelha afetada. Mantem a cabeça girada, abaixar o paciente até a posição da cabeça pendente, manter essa posição por 30s e até o nistagmo desaparecer. Sem levantar a cabeça, virá-la 90 graus para o outro lado. Manter assim por mais 30 s. • Girar o paciente de lado enquanto gira a cabeça mais 90 graus, de forma que o nariz aponte para baixo em 45 graus. Manter assim por mais 30 s. Etapa 5. Sentar o paciente no lado da mesa. Após breve repouso, a manobra 3 Maria Clara Cavalcante deve ser repetida para confirmar o tratamento bem-sucedido. • Mais usado na VPPB do canal posterior Distúrbios Vertigem aguda prolongada (Neurite Vestibular) Uma lesão vestibular unilateral aguda causa vertigem constante, náuseas, vômitos, oscilopsia (movimento da cena visual) e desequilíbrio. Tais sintomas se devem a uma assimetria súbita dos impulsos provenientes dos labirintos ou em suas conexões centrais, simulando uma rotação contínua da cabeça. Ao contrário da VPPB, a vertigem contínua persiste mesmo quando a cabeça não está em movimento. ➔ Central: • Infarto ou hemorragia cerebelar ou do tronco encefálico • Diplopia, fraqueza ou formigamento, disartria • Idosos com fatores de risco vasculares que se apresentam com síndrome vestibular aguda, deve-se avaliar a possibilidade de AVC quando não houver achados específicos que indiquem uma lesão central. ➔ Periférica: • Afeta o nervo vestibular ou do labirinto • O teste de impulso da cabeça pode dar normal A maioria dos pacientes com neurite vestibular tem recuperação espontânea, mas os glicocorticoides podem melhorar o prognóstico, se administrados até 3 dias a partir do início dos sintomas. Não há benefício comprovado de medicações antivirais, a menos que haja evidênciade herpes- zóster ótico (síndrome de Ramsay Hunt). Vertigem posicional paroxística benigna (VPPB) A VPPB é uma causa comum de vertigem recorrente. Os episódios são curtos (duram < 1 minuto e tipicamente entre 15-20 segundos) e sempre provocados por alterações na posição da cabeça com relação à gravidade, como o paciente deitar, rolar na cama, erguer-se da posição supina e estender a cabeça para olhar para cima. Os ataques são causados por otolitos flutuantes livres deslocados da mácula utricular e que se movem para um dos canais semicirculares, em geral o canal posterior. Quando a posição da cabeça muda, a gravidade faz o otolito mover-se dentro do canal, ocasionando vertigem e nistagmo. Na VPPB do canal posterior, o nistagmo bate para cima e é torcional. O acometimento do canal superior (também chamado anterior) é raro. O tratamento da VPPB é feito com manobras de reposicionamento que utilizam a gravidade para eliminar o otolito do canal semicircular. Na VPPB do canal posterior, a manobra de Epley é o procedimento mais comumente utilizado. Nos casos mais refratários de VPPB, pode-se ensinar aos pacientes uma variante dessa manobra que sejam capazes de fazer sozinhos em casa. Enxaqueca vestibular A enxaqueca vestibular é uma causa muito comum de vertigem episódica. Algumas vezes precede uma enxaqueca típica, mas mais comumente ocorre sem cefaleia ou com apenas com cefaleia leve. Alguns pacientes com enxaquecas frequentes no passado apresentam-se mais tarde com enxaqueca vestibular como problema predominante. A vertigem dura minutos a horas, e alguns pacientes também apresentam períodos mais prolongados de desequilíbrio (com duração de dias a semanas). Mesmo na ausência de cefaleia, outras características de enxaqueca podem estar presentes, como fotofobia, fonofobia ou aura visual. Doença de Ménière As crises consistem em vertigem, perda auditiva e dor, pressão e/ou plenitude na orelha acometida. Perda auditiva para baixas frequências são os aspectos mais importantes para distinguir a doença de Ménière de outras vestibulopatias periféricas e da enxaqueca vestibular. 4 Maria Clara Cavalcante Acredita-se que a doença de Ménière se deva ao excesso de líquido (endolinfa) na orelha interna, daí a designação hidropsia endolinfática. Schwannoma Vestibular Os schwannomas vestibulares causam perda auditiva neurossensitiva unilateral lentamente progressiva e hipofunção vestibular. Os pacientes não costumam ter vertigem, porque o déficit vestibular gradual é compensado centralmente à medida que se desenvolve. O exame vestibular mostra uma resposta deficiente ao teste de impulso da cabeça quando a cabeça do paciente é virada na direção do lado acometido, mas o nistagmo não será proeminente. Hipofunção vestibular bilateral Pacientes não costumam ter vertigem, pois a função vestibular é perdida em ambos os lados simultaneamente, de modo que não há assimetria do impulso vestibular. Os sintomas incluem perda do equilíbrio, em particular no escuro, quando o impulso vestibular é mais crítico, e oscilopsia durante a movimentação da cabeça, como ao caminhar ou dirigir um carro. Pode ser: • Idiopática • Progressiva • Iatrogênica, devido à ototoxicidade medicamentosa Outras causas: schwannomas vestibulares bilaterais, doença autoimune, siderose superficial e infecção ou tumor nas meninges. Pode ocorrer em pacientes com polineuropatia periférica. Processos unilaterais como neurite vestibular e doença de Ménière podem acometer ambas as orelhas de modo sequencial. Achados: • Diminuição da acuidade visual dinâmica • As respostas ao teste calórico estão diminuídas. Distúrbios vestibulares centrais: A vertigem central aguda é uma emergência médica devido à possibilidade de AVC ou hemorragia potencialmente fatal. Todos os pacientes com suspeita de distúrbios vestibulares centrais devem ser submetidos à RM do encéfalo e o paciente deve ser encaminhado para uma avaliação neurológica completa. Tontura psicossomática e funcional A tontura crônica pode ser causada por fatores psicológicos (depressão, ansiedade, transtorno do pânico) Pacientes podem desenvolver ansiedade e sintomas autossômicos como consequência de um distúrbio vestibular independente (vertigem postural fóbica, vertigem psicofisiológica, tontura subjetiva crônica, TPPP) – Esses pacientes tem uma sensação crônica de tontura, presentes em repouso e piora ao ficar em pé. Transtornos da ansiedade são comuns em pacientes com tontura crônica e, quando presentes, contribuem de maneira substancial para a morbidade. Questão: 1) A vertigem postural paroxística benigna (VPPB) é uma causa comum de vertigem recorrente. Os episódios são curtos (duram < 1 minuto e tipicamente entre 15-20 segundos) e sempre provocados por alterações na posição da cabeça com relação à gravidade, como o paciente deitar, rolar na cama, erguer-se da posição supina e estender a cabeça para olhar para cima. Pode ser diagnosticada pela seguinte manobra: O paciente começa em posição sentada com a cabeça virada 45 graus; segurando a parte de trás da cabeça, o examinador abaixa o paciente até a posição supina com a cabeça em extensão para trás em cerca de 20 graus enquanto observa seus olhos. Assinale a alternativa que informa corretamente a manobra semiológica descrita acima e utilizada no diagnóstico da VPPB. (A) Manobra de Epley (B) Manobra de Dix-Hallpike (C) Reflexo vestíbulo-ocular (D) Reflexo dos olhos de boneca Gabarito: B Referencias: Medicina interna de Harrison [recurso eletrônico] / J. Larry Jameson... [et al.] ; tradução: André Garcia Islabão...[et al.] ; [revisão técnica: Ana Maria Pandolfo Feoli... [et al]. – 20. ed. – Porto Alegre : AMGH, 2020. e-PUB. Cap 19
Compartilhar