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TONTURA E VERTIGEM Queixa muito comum, como principal ou secundária, sendo que ela aumenta com a idade. Tem diversas formas de enunciado, múltiplas etiologias e tratamentos distintos. O ponto em comum é a sensação de instabilidade. EQUILÍBRIO: O equilíbrio estático e dinâmico é mantido pelo reconhecimento inconsciente da posição do próprio corpo em relação ao meio circundante e adoção de medidas compensatórias a cada alteração de posição, seja do corpo seja só da cabeça. Informações dos vestíbulos (canais semicirculares), olhos e sensibilidades (táctil, articular e barestésica) vão para o cerebelo que coordena músculos paravertebrais e músculos dos membros inferiores. Vertigem: sensação rotatória frequentemente com sintomas vegetativos (náuseas, vômitos, sudorese), desequilíbrio estático e dinâmico e nistagmo. Piora ao fechar os olhos, pois perde referencial. Disfunção central ou periférica de vias vestibulares. Tontura: sensação de cabeça leve ou vazia, quase contínua, não caracterizável como vertigem (paciente identifica bem), síncope ou desequilíbrio.É um distúrbio de percepção sensorial. Síncope e pré-síncope: perda ou quase perda súbita da consciência, geralmente precedida de sensação de “escurecimento de vistas”, com sintomas vegetativos (náuseas, palidez, sudorese) e zumbidos. Relacionada com mudança brusca de posição, calor, estresse. Falência de perfusão cerebral levando a hipóxia difusa do SNC. Desequilíbrio: perda do equilíbrio sem qualquer sensação anormal na cabeça. Pode ocorrer ao deambular (mais comum) ou sentado. Déficit do controle motor principalmente por comprometimento cerebelar e da propriocepção. DROGAS ASSOCIADAS: abstinência ou uso podem causar tontura, vertigem, síncope ou desequilíbrio. Agentes que atuam no SNC: álcool etílico e metílico; ansiolítico; antidepressivos tricíclicos e IMAO; anticonvulsivantes (fenitoína, barbitúricos, carbamazepina); antiparkinsonianos; antipsicóticos (fenotiazínicos); antihistamínicos; antibióticos (estreptomicina, gentamicina, amicacina, tobramicina, kanamicina, neomicina, minociclina, polimixina B, colistina); narcóticos e tóxicos em geral; salicilatos. Agentes que atuam no sistema cardiovascular: betabloqueadores; vasodilatadores e correlatos (alfabloqueadores, bloqueadores do canal de cálcio, nitratos, hidralazina, inibidores da ECA); antiarrítmicos; diuréticos; metildopa, clonidina; guanetidina. TONTURA: um sintoma, uma queixa subjetiva que não pode ser aferida. Geralmente benigno, mas existem situações associadas à risco de morte. + Para o paciente corresponde a quatro condições principais - vertigem, síncope, desequilíbrio (mais frequente), “lightheadness”. Cabe ao médico diferenciar clinicamente entre essas condições, que são frequentemente confundidas pelo paciente e familiares. EPIDEMIOLOGIA: 1% do consultório clínico; 20% das pessoas com mais de 60 anos; 70% buscarão o clínico e 4% procurarão o especialista. Fisiopatologia: normalmente as informações entre os receptores são equivalentes e o senso de equilíbrio é gerado ao nível cortical. A ausência de informação ou um erro de sinal entre os receptores resultará em tontura. VERTIGEM: sensação ilusória de movimento do ambiente ou de si próprio, rodopio. Causas incluem vertigem posicional paroxística benigna, vertigem postural fóbica, neuronite vestibular. EPIDEMIOLOGIA: 107 casos em 100.000. Em geral 64 casos/100.000 pessoas ao ano. No Brasil é desconhecida, porém “labirintite” é comum. FISIOPATOLOGIA: classificada em três categorias. Central: resulta de disfunção da porção vestibular do NC VIII, do núcleo vestibular no TC ou das conexões centrais. Ocorre quando há lesões tumorais ou vasculares em tronco ou cerebelo. Periférica: resulta de disfunção dos canais semicirculares, utrículo e sáculo. Sistêmica: múltiplas causas de pré-síncope ou hipotensão postural (não vertigem verdadeira). CAUSAS: Vertigem paroxística posicional benigna (VPPB): + Etiología: como passamos boa parte da nossa vida deitados, ocorre migração de otólito(s) do sáculo e utrículo para, principalmente, o canal semicircular posterior. + Clínica: - Vertigem postural com instalação súbita, geralmente ao deitar ou levantar; intensa; com náusea e nistagmo. - Curta duração(inferior a 1 minuto). - Latência: segundos (tempo entre mudança de posição e instalação da vertigem e do nistagmo). - Fatigabilidade presente na repetição de manobras de posição da cabeça. + Diagnóstico: habitualmente apenas exame físico com manobras provocativas. + Tratamento: manobras de reposicionamento canalicular (melhor tratamento); controle metabólico quando tem disfunção metabólica precipitando o caso; antiemético, sedação e repouso na fase aguda. Vertigem postural fóbica: segunda causa mais comum de vertigem. Pouco reconhecida, mas inconvenientemente diagnosticada como “labirintite”. + Clínica: sintomas de vertigem oscilatória, tontura, instabilidade oscilatória que ocorrem em situações de estresse. Presença de transtornos de ansiedade, depressão, instabilidade afetiva, personalidade obsessivo-compulsiva. +Diagnóstico: habitualmente apenas avaliação clínica com exame neurológico.Testes vestibular (VENG). +Tratamento: do transtorno de base,especialmente psicogênicos.Não Administrar bloqueadores de canal de cálcio. Lesão neuronal do ouvido médio: neuronite vestibular e síndrome de Menière (benigno). + Neuronite vestibular: início súbito, duração de vários dias. Tem náusea e vômito, sem outro sinal neurológico. Cerca de 50% relata “alteração” respiratória prévia (“gripe”), sendo associado a epidemia (etiologia viral). É mais frequente que Menière. - Tratamento: suportivo – antiemetico de ação central, clonazepam (sedação). + Síndrome de Menière: excessivo acúmulo de endorfina. É uma situação crônica. - Clínica: ° Perda auditiva sensorial, não necessariamente flutuante, inicialmente para baixas frequências. °Zumbido(tinnitus),sensação de plenitude auricular. ° Vertigem episódica, com recuperação espontânea. - Tratamento: cirúrgico ou clínico. O tratamento clínico consiste em restrição de sal, cafeína, álcool, chocolate; diuréticos; corticoides nas crises. Insuficiência vértebro-basilar: situação clínica de potencial gravidade (AVC de fossa posterior). + Clínica: - Habitualmente vertigem não é o sintoma principal. Clínica preponderante em idosos, podendo ter sinais de arteriopatia (coronariana, periférica, carotidiana), hipertensos, dislipidêmicos, diabéticos, tabagistas. - Sintomas relacionados principalmente com hiperextensão do pescoço. - Diplopia, ataxia, disartria, alterações de pares cranianos, síndromes de tronco cerebral, eventualmente síncope ou pré-síncope. + Investigação: exames de imagem, doppler transcraniano, angiotomografia, angiorressonância e principalmente angiografia digital. + Tratamento: angioplastia com stent ou cirúrgico; anticoagulação a ser considerada. DIAGNÓSTICO: baseado na história clínica dirigida.História clínica: + Classificar quanto a origem dos sintomas – central (usualmente grave), periférica (usualmente benigno), ambos, não é vertigem (rever outras causas de tontura). + Ter em mente a importância de afastar as causas associadas ao risco de vida. + Questionar: evolução temporal; duração dos sintomas; presença de latência entre o início do movimento e os sintomas de vertigem; presença de fatigabilidade dos sintomas de vertigem com o movimento repetitivo; posição desencadeante; momento do início; piora com os olhos fechados; relação com exercício;outros sintomas associados;perda auditiva;história pregressa e familiar. Exame físico: + Nistagmo: usualmente horizontal, sendo que deve-se avaliar a fase lenta (lado da lesão) e a fase rápida (ação corretiva cerebral). Pode ser suprimido com a fixação do olhar. + Pressão arterial em diferentes posições. + Ritmo cardíaco. + Estado mental. + Pares cranianos. + Provas de metria e diadococinesia. + Marcha e equilíbrio, teste de Romberg (ataxia sensitiva). Perda do equilíbrio estático com o paciente parado e com os olhos abertos (cerebelo afetado) e com olhosfechados (sistema vestibular afetado ou propriocepção afetada). + Manobra de Dix-Hallpike: para diagnóstico de VPPB, a manobra consiste na movimentação da cabeça do paciente de forma a promover um deslocamento da endolinfa e, consequentemente, da cúpula do canal semicircular posterior. Nos portadores de VPPB, ocorre um evidente nistagmo, alguns segundos após o estímulo (com latência), que dura menos de 45 segundos (esgotável). TRATAMENTO: + Manobra de reposicionamento canalicular (ex. Manobra de Epley – ideal para o canal semicircular posterior). + Suprimindo os sintomas – benzodiazepínicos, anticolinérgicos, anti eméticos. + Tratamento cirúrgico. + Reabilitação – movimento e re-adaptação.
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