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Caminhos Cruzados: Resumo Por Capítulo Paráfrase da obra “Caminhos Cruzados” de Erico Verissimo, por Bruno Alves Todos os direitos reservados. © 2012-2017 ResumoPorCapítulo.com.br contato@resumoporcapitulo.com.br http://resumoporcapitulo.com.br/ mailto:contato@resumoporcapitulo.com.br http://resumoporcapitulo.com.br/ ÍNDICE PARA ENTENDER A OBRA 5 Sábado 5 1 5 2 6 3 7 4 7 5 8 6 8 7 8 8 9 9 9 10 10 11 10 12 11 13 12 14 13 15 13 16 13 17 14 18 14 19 15 20 15 21 15 22 15 DOMINGO 16 23 16 24 16 25 17 26 17 27 17 28 18 CAMINHOS CRUZADOS: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 2 29 19 30 19 31 19 32 19 33 20 34 20 35 21 36 21 SEGUNDA-FEIRA 21 37 21 38 22 39 22 40 23 41 23 42 23 43 23 44 24 45 24 46 24 47 25 48 25 49 25 50 25 51 26 52 26 53 26 54 26 TERÇA-FEIRA 27 55 27 56 27 57 27 CAMINHOS CRUZADOS: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 3 58 27 59 28 60 28 61 28 62 28 63 29 64 29 65 29 66 29 67 30 68 30 69 30 70 30 71 30 72 31 73 31 74 31 75 31 76 31 77 32 78 32 79 32 80 32 81 32 QUARTA-FEIRA 33 82 33 83 33 84 33 85 33 86 33 87 34 CAMINHOS CRUZADOS: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 4 88 34 89 34 90 34 91 35 92 35 93 35 94 35 95 35 96 36 97 36 98 36 99 36 100 36 101 37 102 37 103 37 104 37 105 37 106 37 107 38 108 38 109 38 110 38 111 38 112 38 113 38 114 39 115 39 116 39 117 39 118 39 CAMINHOS CRUZADOS: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 5 119 39 120 40 QUESTÕES DE VESTIBULAR 41 PARA ENTENDER A OBRA Publicado em 1935, durante a Era Vargas, Caminhos Cruzados é uma crítica realista/naturalista da sociedade em suas diversas camadas, conexões e divergências. As histórias correm em diversos núcleos, como uma novela, evidenciando a perspectiva de cada personagem em seu tempo. Este resumo destina-se a contar o livro em uma linguagem mais acessível e concisa, sem deixar de lado os episódios que sustentam a obra como um todo e explicando alguns pontos que podem não ficar claros apenas com a leitura do texto original. Em alguns casos, para explanações mais completas sobre fatos históricos e expressões da época, há links que podem ser acessados diretamente no texto. Caso restem dúvidas quanto à obra ou ao próprio resumo, entre em contato pelo site ResumoPorCapítulo.com.br ou envie um e-mail para contato@resumoporcapitulo.com.br. Teremos prazer em ajudar! Boa leitura! Sábado 1 É descrita a madrugada numa rua do subúrbio da cidade: a névoa, a carroça do padeiro, as luzes das casas se acendendo, um gato no telhado, um bebê chorando... No quarto do professor Clarimundo um rato tenta se aproveitar dos restos de um lanche que estão sobre a mesa, misturados a anotações que foram usadas pelo professor para tentar ensinar ao sapateiro Fiorello a Teoria da Relatividade. Alheio ao seu ronco e ao tique-taque do relógio, Clarimundo viaja em seus sonhos: anda pelos campos onde viveu a infância; é perseguido por um touro, que o atinge em seu sexo; caminha pelas montanhas nevadas da Suíça a tentar explicar ao próprio Einstein a Relatividade, sem sucesso, até perceber que o físico tornou-se o sapateiro Fiorello; flutua pelo infinito, isolado de todos os homens. O despertador do relógio retira lentamente Clarimundo de seu mundo infinito dos sonhos e o trás ao mundo finito e tridimensional da realidade de seu quarto. Ele se http://resumoporcapitulo.com.br/ mailto:contato@resumoporcapitulo.com.br CAMINHOS CRUZADOS: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 6 levanta, procura a água da pia para se despertar, confere as atividades do dia, aulas e alunos... O professor sorri ao pensar que o tempo determinado pelo relógio, que rege tantas atividades de tantas vidas, não é aquilo que pensam o sapateiro e a viúva Mendonça (dona da casa onde mora), citando trechos de reflexões filosóficas sobre o assunto. Pensa sobre suas realizações em seus quarenta e oito anos de vida: estudos, artigos e notas publicadas. Lembra-se do livro que está escrevendo: será sua grande obra, com traços de fantasia. Mas o tempo corre e é necessário dar andamento ao dia... Põe a água para esquentar e abre um livro, conforme sua rotina: quarenta minutos de leitura. Teoria da Relatividade: mais uma viagem por um mundo infinito. 2 Às sete horas Honorato Madeira desperta e chama sua esposa, Virgínia, que pediu que a acordasse cedo. Saindo de um sonho onde ainda era jovem, a mulher entra em sua descontente realidade: o marido, gordo e careca, se levanta feliz como de costume, tratando-a com um carinho que a incomoda. Com a mesma doçura ele fala do filho, “Noelzinho”, contrariando Virgínia. Honorato confirma com a esposa a ida ao baile do Metrópole, ao qual ele preferia não comparecer – ao chegar em casa após um dia de trabalho, tudo o que deseja é descansar. Noel está sentado à mesa do café, lembrando-se da infância: a negra Angélica o cercava de cuidados, contava-lhe histórias, o protegia num mundo fantástico particular; ia para a escola acompanhado da colega Fernanda, que o defendia dos outros garotos que buliam com ele por sempre andar com as meninas. A badalada do relógio tira Noel de seus devaneios e chega a criada para lhe servir o café. A visão dos seios da moça incomoda o rapaz, que não está habituado lidar com as fêmeas. Os contos da Tia Angé haviam deformado sua visão sobre a vida de tal forma que mesmo após sua morte ele continuou preso ao mundo de fantasia por ela criado. Ao entrar na academia e perceber que a realidade não era como nos contos de fada, Noel refugiou-se ainda mais em seu quarto e seus livros. O primeiro contato sexual, incentivado por amigos, foi de extrema dor e desgosto. Concluiu que o mais encantador no mundo da fantasia era ausência do sexo: o que seria da Branca de Neve se os anões tivessem desejo sexual? Conforme envelhecia, Noel sentia um vazio em sua vida, sempre monótona. O carinho que o pai tentava lhe oferecer era cerceado pela postura dura de sua mãe. Virgínia, que se sentia presa ao marido e ao filho em seu papel de mãe, vingava-se cobrando de Noel um casamento ao qual sabia que o garoto não aspirava. CAMINHOS CRUZADOS: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 7 3 No décimo andar do Edifício Colombo o sol invade o quarto onde dorme Salustiano, um jovem de boa aparência, musculoso, e uma moça loura que passou a noite com ele. Ao acordar, o moço recorda de tê-la encontrado na rua e com ela ter se divertido na noite anterior. Acha a garota bonita e sorri. Pergunta seu nome – Cassilda – e a manda embora, já que seus vizinhos têm certos escrúpulos. Após tomar banho vê pela janela a menina se misturar à multidão de caminha pelas ruas. Tudo é perfeito, como Deus quer – Salú, como gosta de ser chamado, adota esta ideia por comodidade, já que questionar Deus requer muito tempo, um tempo que pode ser gasto em algo mais útil. Pensando no amigo Noel, imagina que ele não poderia ver esta cena sem sentir alguma melancolia ao pensar na vida da desconhecida Cassilda. Mas Salú está em paz com a vida e sente que todos se encaixam em seus papeis perfeitamente. Ao caminhar pela rua e observar os transeuntes lembra-se de seu pai, que o visitava quando ainda estava no ginásio. O velho alegre e despreocupado orgulhava-se de sua filosofia: os homens eram como formigas, carregando enormes pesos sobre as costas, preocupações que eles mesmo inventavam. Bom mesmo era aceitar e gozar a vida como ela era, viver como cigarras. Ao ver um chinês segurando uma placa coma propaganda do “Chá Pequim”, Salú lembra-se de Chinita, que havia se declarado “toda dele”. Suas mãos se encontravam no escuro do cinema. 4 São onze horas quando Chinita,pensando em Salu, entra em sua luxuosa banheira. Está ansiosa para encontrá-lo novamente, no chá-dançante do Metrópole. Ouve ruídos da obra em andamento no hall da casa – pronuncia “hall” com o “h” espirado, conforme aprendera com o professor Clarimundo. A sensação de estar em um banheiro tão amplo a faz lembrar-se da casa simples em que morava, em Jacarecanga, cuja banheira rangia e vazava água. Viaja nas recordações da antiga cidade, sua escola, os bilhetinhos de amor, o cinema-mudo onde se inspirava nas estrelas de Hollywood. Já é meio-dia e meia quando sai da água e volta a pensar em Salú. No hall o trabalho é supervisionado pelo coronel Zé Maria Pedrosa, que fez questão de cores douradas, pois deseja ter o mais luxuoso palácio do bairro Moinhos de Vento – a ser inaugurado com um grandioso baile. Sua mulher, D. Maria Luísa, lamenta tantos gastos que o marido faz. CAMINHOS CRUZADOS: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 8 Na hora do almoço Zé Maria se delicia em ser servido por uma empregada, lembrando- se da negra Teresa, que com maus modos punha a mesa antigamente. D. Maria Luísa mantém um olhar tristonho – o mesmo que carrega há vinte e oito anos de casada – e reclama pelo filho, Manuel, que não dormiu em casa, está magro e não quer estudar. O coronel distrai-se do costumeiro discurso vitimista da mulher apreciando a feijoada e o assado que são servidos. 5 Em Jacarecanga a família Pedrosa vivia numa casa modesta, com um jardim e uma horta, vizinhos trabalhadores e amigáveis. Zé Maria tinha um comércio, mas as finanças nunca iam bem. D. Maria Luísa, como sempre, se entristecia com cada conta que precisava ser paga ao final do mês. Inspirado num sonho em que a casa de seu vizinho pegava fogo, matando Quirino Madruga, um conhecido seu que sempre o menosprezava, Zé Maria comprou um bilhete de loteria. D. Maria Luísa ficou transtornada ao saber do gasto do marido, já que não tinham mais dinheiro para cumprir com suas dívidas. Mas o bilhete foi premiado: estavam ricos. Zé Maria decidiu que se mudariam para Porto Alegre, por mais que os moradores de sua cidade pedissem que ele ficasse: poderiam torná-lo prefeito. Chinita e Manuel, que sonhavam com a vida na cidade grande, comemoraram. D. Maria Luísa deprimiu-se ao pensar em quanto dinheiro iriam gastar dali em diante, com a mudança e a vida de ricos. 6 Agora toda a oponência da nova casa incomoda D. Maria Luísa, que lembra com saudade dos dias de Jacarecanga, enquanto Zé Maria goza cada novo luxo e planeja a grande festa de inauguração. Chinita vive seu sonho, age como personagens de cinema, tem seu próprio carro... 7 Enquanto isso, na Travessa das Acácias, Fernanda descansa enquanto aguarda a hora de ir ao trabalho. Ela vê, do outro lado da rua, a janela do professor Clarimundo: quando ele aparecer ali, com um palito na boca, serão dez para a uma, como sempre. Fernanda lamenta que seu pai tenha morrido de maneira trágica sem deixar nenhum sustento para a família. Olha para seu diploma pendurado na parede (conforme a mãe colocou) e pensa no desperdício de tantos anos de estudos para acabar trabalhando de secretária do Leitão Leiria. Se ao menos tivesse sido nomeada professora... CAMINHOS CRUZADOS: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 9 Ela curtia o pouco tempo que podia ficar de pernas para o ar, sem pensar nas obrigações de trabalho e contas a pagar, até que sua mãe surgiu para lembrar-lhe que não se podia dormir novamente: eram pobres, se atrasasse no trabalho poderia ser demitida e tudo seria um desastre. D. Eudóxia adorava imaginar e ruminar desastres. No último exame de Fernanda, enquanto a moça estudava, sua mãe andava pela casa pensando que a filha não passaria. Agora, olhando pela janela, D. Eudóxia compara sua vida a dos vizinhos, sempre pensando que tudo é muito mais fácil para o outros. Fernanda afasta o pensamento das palavras negativas de sua mãe, lembrando-se do amigo Noel e de suas filosofias sobre a vida: no fundo, somos todos solitários. Viaja para o tempo em que, pequena, saía para a escola, observava os arredores, encontrava-se com Noel, a quem tratava e protegia como a um irmão mais novo. D. Eudóxia interrompe novamente seus pensamentos: já é tarde. Fernanda olha pela janela e vê o professor Clarimundo. Salta e vai acordar seu irmão, no quarto ao lado. 8 Olhando a paisagem, Clarimundo sai de seu mundo interior, dos livros e teorias, e mergulha na realidade da vizinhança. Espanta-se que enquanto ele vive no mundo das ideias, o mundo real continua a funcionar: as pessoas seguem seus dias mesmo sem o contato com os grandes pensadores da humanidade. Inspirado na paisagem, o professor viaja ao pensar em seu livro: como um ser inteligente, vivendo num outro planeta, interpretaria a vida na terra? Que revelações fantásticas faria? Clarimundo ainda não sabe ao certo, mas imagina surpreender seus leitores com a obra. Um carro barulhento cruza a rua e traz Clarimundo de volta ao presente. Apesar de seu apego à ciência, as máquinas modernas o aborrecem. Ao mesmo tempo em que os pensamentos são seu refúgio, a realidade lhe é incômoda: então o professor julga a vida chata e igual. As casas, as pessoas, as rotinas, tudo sempre igual. O som do relógio da casa abaixo indica que é uma hora. Olhando para a janela desta casa, Clarimundo vê uma mão pálida, como a de um morto. 9 A tal mão é de João Benévolo, que com a outra segura um exemplar de Os Três Mosqueteiros. A leitura o transporta para a antiga Paris, como se ele encarnasse em D’Artagnan, e o faz esquecer-se da sua situação de desempregado. CAMINHOS CRUZADOS: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 10 Laurentina, mulher de João, ganha algum dinheiro com suas costuras, mas cobra do marido que encontre trabalho: precisam cuidar do filho, Napoleãozinho, e as finanças vão mal. Um carro de luxo para na casa em frente: é a D. Dodó Leitão Leiria, mulher do comerciante Teotónio Leitão Leiria, que vai visitar Maximiliano, um homem tísico (doente de tuberculose), cuja mulher e filhos passam por dificuldades. Laurentina tem ódio pela madame gorducha, pois o marido dela havia despedido João, e acredita que ela deve fazer alguma caridade apenas para aparecer nos jornais. O homem não tem raiva, mas apenas admiração e inveja da riqueza de seus antigos patrões. 10 D. Dodó entrou na casa sombria e malcheirosa em que vivia o doente. A mulher dele, magra e tristonha, recebe a gorducha com indiferença. Após confirmar a informação da doença do marido e dos dois garotos que tinham para cuidar, a madame deixa vinte mil réis na mesa da sala, acompanhada de palavras evangélicas e pensamentos um tento egocêntricos – imagina o que os jornais poderiam falar de sua bondosa atitude. A mulher do doente não exibe qualquer contentamento com a ajuda: aquele dinheiro será rapidamente gasto na farmácia. Para completar a visita, D. Dodó pede para ver Maximiliano, arrependendo-se imediatamente, pois lembra-se da tuberculose, que é transmissível. Dá ao homem algum consolo religioso, no qual ele já não tem fé, e sai rapidamente. Após informar que é a presidente da Sociedade das Damas Piedosas e que mandará levarem o doente a um hospital, D. Dodó se retira, lançando algumas moedas aos filhos da família. De volta ao seu carro, satisfeita com a própria caridade, pede ao motorista que ligue o rádio e lembra-se de seu próximo compromisso: organizar o chá-dançante no Bar Metrópole, que será em benefício do Asilo Santa Teresinha. 11 Dona Virgínia, afogada em solidão, sente desprezo pelo marido, Honorato, e pelo filho, Noel. Igualmente maltrata a empregada Noca, que é apaixonada por sua patroa e não liga para os insultos que recebe. Virgínia sente-se vigiada a todo momento pelos membros de sua casa. Pensa em Alcides, com seu sorriso, o cigarro na mão e os olhares conquistadores...A patroa pede que Querubina vá ao quarto de Noel perguntar se ele quer chá. A sensualidade do corpo desta empregada, unida a sua virgindade, a insultam: a chama de indecente, insinua que ela deveria ser prostituta. CAMINHOS CRUZADOS: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 11 Sentindo-se presa a um enorme vazio, Virgínia liga para Madame Meneses, conversa sobre o baile no Metrópole, onde se encontrarão. Depois passa em frente ao escritório de Honorato: o cheiro do marido a enoja. Isolado em seu quarto, Noel lê o diário de Katherine Mansfield, sentindo como se autora estivesse ali, falando com ele. A interrupção de Querubina, perguntando sobre o chá, era como a invasão de um ser estranho a seu mundo, no qual precisou se concentrar para compreender. Já a linguagem de Katherine assemelhava-se à linguagem de sua infância, dos contos da madrinha Angélica. Olhando pela janela ele vê as montanhas e acena ao jardineiro. Vai aos fundos da casa alimentar os coelhos (último capricho de sua mãe) e vê o vulto de Noca, que causa-lhe náusea. Retorna ao quarto e coloca um disco de Debussy para tocar. A paisagem da janela e a história de Katherine misturam-se aos sons da música. A possibilidade de ouvir uma canção por meio de um aparelho era, para Noel, uma experiência magnífica: não precisava se misturar a multidões em um concerto, nem depender de músicos dispostos a tocar. A tecnologia era como uma mágica, somente possível pelos esforços de diversos gênios que projetaram aquela máquina, pelos músicos que gravaram o disco, pela indústria que, com seus milhares de trabalhadores anônimos, o deixavam disponível para compra... 12 Em seu luxuoso escritório, Teotónio Leitão Leiria fuma um charuto enquanto ouve as máquinas de escrever na sala ao lado. Isso o faz lembrar-se do último romance que lera, cheio de ação, tiroteios e crimes. D. Dodó o repreendia, cobrando uma leitura mais religiosa e construtiva. Tira do bolso um papel com um endereço: Travessa das Acácias, 143. Imagina-se indo até a casa que lhe fora indicada para encontrar-se com uma bela jovem e teme pela sua discrição. Pensando em Dodó, sente-se miserável e pecador, mas acredita que Deus o compreende. Sua alma pertence à sua mulher, quem irá pecar será sua carcaça. A loja está movimentada e Teotónio procura Dódó em meio à multidão. A mulher acha o marido cansado e propõe que retornem para casa, mas ele recusa alegando que, como um bom homem de negócios, não altera seus horários de trabalho. Ao ver o alto valor de uma venda, Teotónio procura o comprador: é o coronel Zé Maria Pedrosa, com quem troca algumas palavras e confirma sua presença no baile de caridade de sua mulher. CAMINHOS CRUZADOS: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 12 Caminhando pela Travessa das Acácias, Leitão Leiria se encolhe e procura as sombras. Em sua mente as imagens de D. Dódó e do Monsenhor Gross o repreendem. A compreensão de seu próprio pecado o faz sentir-se menos culpado. Vendo uma menina que trabalha em uma taberna, pensa em um artigo que agradaria ao Monsenhor: Menores Desamparados, sobre as pobres raparigas que são colocadas a trabalhar correndo o risco de se prostituirem... Isto o lembra a jovem de olhos verdes com a qual está indo se encontrar. Chegando ao endereço, bate na porta do andar errado, depois se corrige e é recebido pela velha viúva Mendonça. A mulher ressalta que o local é seguro e discreto, levando-o ao quarto onde aguardaria a garota. Cassilda chega e, atendendo ao pedido do cliente, logo tira as roupas e deita-se. Ao ver a cara de Leitão Leiria sobre ela, pensa no jovem rapaz com quem dormiu na noite anterior, no décimo andar do Edifício Colombo. 13 Na casa de João Benévolo o jantar é fúnebre: Laurentina chora ao ver a tristeza em cada canto do maltratado apartamento; João se lembra das mal sucedidas entrevistas de emprego; Napoleãozinho está doente. A mulher comenta que um homem bateu à porta por engano, provavelmente cliente viúva: mais um motivo pelo qual queria mudar-se daquele prédio – um sonho muito distante. João pega o chapéu e avisa que vai sair. Laurentina não se opõe: nada mais importa, nem que ele beba ou encontre outras mulheres. Conforme desce as escadas, o homem cruza com Ponciano, um “amigo” do casal que muito o incomoda, com os olhares que dirige à sua esposa. João, entretanto, permite que ele visite Laurentina pois sabe que ele tem dinheiro, sendo importante manter uma “amizade” desse tipo. Na rua um letreiro luminoso anuncia a Loteria Federal. João Benévolo viaja mentalmente para Bagdad, onde imagina-se Aladin com a lâmpada mágica em mãos: seus três desejos são um palácio, um reino e ouro. A felicidade toma conta de seu corpo e ele assobia “O Carnaval de Veneza”. CAMINHOS CRUZADOS: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 13 14 Fernanda, com sua usual ternura, serve o café para sua mãe e seu irmão. Dona Eudóxia recusa-se a comer e se diz doente, como quem quer chamar atenção, e Fernanda segura- se para não ceder às suas manhas. Perguntado pela irmã sobre seus estudos, Pedrinho reclama da matemática e do professor Clarimundo – D. Eudóxia lamenta que o menino deva ter o mesmo destino do pai: sem vontade de trabalhar, um dia ia chegar em casa com um tiro no peito. Fernanda repreende a mãe e tenta manter um diálogo positivo. Bidinho, filho de Maximiliano, bate à porta para pedir uma vela. Eudóxia lamenta que o garoto logo se tornará órfão de pai e Fernanda acha curioso como sua mãe parece ter prazer em falar sobre velórios e mortes. Tentando voltar ao assunto dos estudos, Fernanda recebe uma recusa de seu irmão e se recolhe em pensamentos sobre seu amigo Noel. 15 Retornando ao ambiente familiar de sua casa, Teotônio Leitão Leiria encontra a filha, Vera, no hall lendo um livro. No living-room Dódó o recebe com ternura, preocupada com a demora em retornar do trabalho. Teotônio despreza sua natureza animal e deseja um banho para livrar-se das impurezas com as quais seu corpo teve contato – sua alma continuava intacta. Dódó apressa-se com o jantar pois precisa estar no Metrópole para dirigir a festa de caridade. Vera vai ao quarto e pensa em como será sem graça a noite: os mesmos convidados, as mesmas conversa de sempre... Sua mãe bate à porta e pede um favor: que não leia mais livros impróprios como o que ela segurava em sua mão: A Questão Sexual, de Forel. 16 Numa sala de aula o professor Clarimundo expõe com gravidade questões do estudo de Latim. Os alunos, dispersos em sua maioria, distraem-se com o céu estrelado, com os planos para mais tarde ou com seus dramas pessoais. Para Clarimundo, entretanto, nada é mais importante que o Latim naquele momento. Toda a energia que Clarimundo aplica em suas aulas lhe falta em suas próprias necessidades: precisava pedir um aumento de salário, comprar novas ligas, reclamar da comida que o restaurante lhe entrega, mas falta-lhe entusiasmo. CAMINHOS CRUZADOS: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 14 Após dar uma bronca em um dos alunos que não soube responder uma questão simples sobre o que havia sido exposto, Clarimundo é interrompido pelo sinal que indica o fim da aula. Um estudante o chama em particular para avisar que estava sem gravata: o professor cora, sentindo-se nu. 17 A dança no Metrópole é embalada pelo jazz. D. Dodó se orgulha da festa que organizou, com garçons uniformizados, coquetéis perfumados e a presença do melhor da sociedade – tudo para agradar Santa Terezinha. Chinita dança espremida nos braços de Salú. Ele quer um contato mais intenso, enquanto ela espera algo mais romântico, quem sabe falar em casamento. Sabendo disso, o moço manobra suas palavras, mas somente para conseguir o que quer – contato com a família da moça, jamais. Leitão Leiria fuma seu charuto, conversa sobre política com seu pretendente a genro, Dr. Arménio– que aguarda o momento em que Vera o aceite como noivo. Honorato Madeira, que participa da roda, não vê a hora de ir embora. O samba toma conta dos instrumentos. Zé Maria, encantado com a própria sorte de estar num lugar como aquele, distribui com prazer notas de dinheiro às moças que lhe vendem flores. Ao saborear um Martini pedido por Salú, Chinita alegra-se imaginando estar em Hollywood, ainda que não goste da bebida. O rapaz seduz a moça para um passeio no parque, a sós, na segunda-feira, e ela se deixa levar pelo romantismo de sua voz. 18 A viúva Mendonça bate à porta do Clarimundo entregando-lhe um pedaço de bolo e um copo de leite. O professor não compreende a atitude da mulher, que puxa assunto sobre o atraso de aluguéis do vizinho João Benévolo e das visitas indecentes que sua mulher recebe. Para Clarimundo tudo isso é insignificante: sua mente só tem espaço para suas aulas, Einstein e o livro que quer escrever. Para encerrar a conversa, Clarimundo concorda com a viúva e se despede. Deixa o leite e o bolo em cima da mesa e volta a seus estudos. CAMINHOS CRUZADOS: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 15 19 Dr. Armênio valsa desajeitadamente com Vera, vasculhando em sua mente citações de poemas em francês que poderiam render algum assunto. A moça, entretanto, pensa somente em Chinita: deseja de volta a sua amizade e considera uma perda de tempo a sua relação com Salú – um homem que lhe parece perigoso. Armênio faz críticas à postura de Vera, que despreza os eventos sociais, e argumenta sobre o espírito feminino através dos tempos. Ela olha para seu par como se o escutasse e concorda, ao final, fazendo a alegria do pobre rapaz. 20 Ponciano e Laurentina dividem a sala em silêncio. Ela sabe o que ele quer, mas não cede. Ele é paciente e acredita que atingira seu objetivo. Dez anos antes os dois já sentavam-se juntos todas as noites: ela era órfã e suas tias queriam casá-la logo, Ponciano era o candidato preferido, mas João Benévolo conquistou o coração da moça com seus escritos românticos. Ponciano lamenta a situação financeiro do casal e oferece uma nota de vinte mil-réis. Laurentina recusa, mas deixa o dinheiro sobre a mesa. Assim que João Benévolo chega, o convidado se retira. Ao ver o dinheiro sobre a mesa, o marido ordena que Laurentina o devolva, por mais que aquele valor pudesse servir para o remédio de seu filho, além de algumas refeições. Vão dormir em silêncio. 21 No baile, Virgínia conversa com uma senhora que avalia a chegada da família de Pedrosa à sociedade: enumera os móveis e decorações do palácio que inaugurarão em breve, somando inclusive seus valores. A mulher, no entanto, só tem olhos para Alcides, com seu sorriso de dentes brancos, que também a mira à distância. Por ser pouco mais velho seu filho, Virgínia pensa que seus sentimentos são um absurdo, mas o flerte lhe dá um prazer único. 22 Cassilda observa o movimento no beco, com suas casas de luzes vermelhas e francesas a chamarem os homens para dentro. Ela não chama ninguém: quem se interessar que venha. CAMINHOS CRUZADOS: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 16 Um rádio toca Carlos Gardel, guardas interrompem a confusão que alguns garotos iniciam, mas para ela nada importa: seu dia foi ganho pela manhã, no Edifício Colombo. DOMINGO 23 O dia começa ensolarado, conforme Clarimundo o vê pela janela. Na vizinhança, o movimento costumeiro das mesas de café sendo postas e dos gramofones prestes a tocar – Clarimundo se revolta e sai da janela. Um rapaz do restaurante, cujo nome Clarimundo não faz questão de decorar, leva o café da manhã para o professor e é por ele interrogado sobre um conhecimento básico: a lei da gravidade. Observando a ignorância do rapaz sobre o tema, Clarimundo se questiona como seus romances poderiam ser lidos por pessoas que não têm mínimas noções de física. Ele também não se conforma que as pessoas usem das mais recentes tecnologias – como o gramofone – sem qualquer conhecimento científico sobre seu funcionamento. Em seu quarto, o professor contempla religiosamente o retrato de Einstein pendurado na parede e se esquece do café na mesa. 24 A criada traz o chocolate quente ao quarto do casal. D. Dodó já foi ao banheiro para arrumar-se para seu marido. Teotônio veste-se com um quimono, igual ao que um empresário americano usava durante uma entrevista ao jornal. No jornal, D. Dodó procura notícias sobre a festa promovida na noite anterior. Além dos usuais elogios ao evento, uma nota ressalta a importância da personalidade caridosa de Dodó – que se divide entre a vaidade de ver seu nome estampado no jornal, e a discrição esperada de uma cristã. Teotônio elogia a mulher por sua realização, sentindo que assim compensa sua falha moral recente. Em seguida revela a D. Dodó um “problema de consciência” que o persegue: a rápida ascenção do coronel Pedrosa na sociedade, com uma relação muito próxima ao Monsenhor Gross, o preocupa. D. Dodó procura relevar a importância desse acontecimento, até que Teotônio usa um argumento satisfatório: o Zé Maria Pedrosa mantém uma amante. Ainda que incomodada com a situação, D. Dodó argumenta que seria falta de delicadeza faltar à inauguração do palacete dos Pedrosa – o qual ela tem enorme curiosidade em conhecer. Teotônio pondera que os Pedrosa são grandes clientes da loja – inclusive a tal CAMINHOS CRUZADOS: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 17 amante tem uma conta lá – então não seria interessante romper relações tão bruscamente: poderiam ir à festa. 25 O sol que entra pela janela é a única distração de Maximiliano: não consegue ler, nem recebe visitas, que tem medo do contágio. Desde que adoeceu os dias são longos: perdeu o trabalho, deixou de pagar as contas, caiu numa cama... A mulher do tuberculoso não sabe trabalhar com nada: apesar de pobre, foi criada com luxos. Sobrevive da ajuda de parentes e vizinhos, mantendo o mínimo para que os filhos cresçam saudáveis. Ao receber da mulher notícias de seus filhos – como se eles vivessem longe – Maximiliano pega uma caneca de leite e se espanta ao ver o quão magra está sua mão. Lembra-se de quando, ainda jovem, tinha força para brigar por mulheres no baile, ou remar no clube de regatas, e agora mal segura uma caneca. 26 Na casa de João Benévolo se acorda tarde: por economia, não há café da manhã. Laurentina está deitada, mas acordada, pensando em todos os credores a quem devem. João está em Paris, como D’Artagnan, herói que o livra do mundo real. Benévolo esforçava-se muito para trabalhar as oito horas por dia que lhe garantiam um serão noturno com seus queridos romances. Mas um dia, com a loja cheia, inventou de chamar uma cliente de princesa, inspirado numa história que havia lido. O gerente relatou tudo a Leitão Leiria, que não aceitou o comportamento indigno de seu funcionário. Lauentina chora ao pensar na vida que deixou ao casar-se com João. Ele, sem saber como consolá-la, divaga imaginando-se em situações gloriosas que o salvariam daquele aperto. Napoleãozinho aparece, reclamando de dores na barriga. Tina pede que o marido vá à farmácia, mas João vacila ao lembrar-se do dinheiro deixado por Ponciano. Apesar da resistência, cede à necessidade de seu filho, prometendo que só vai usar o necessário para o remédio: o restante seria devolvido assim que possível. 27 Virgínia acorda e toma uma “Pérola Juventus”, que promete rejuvenescimento corporal completo. Honorato ronca forte. Olhando para o espelho, Virgínia não se reconhece: o CAMINHOS CRUZADOS: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 18 início das rugas, o fim de sua beleza, os fios brancos de cabelo contrastam com a pessoa que ele sente ser: a mesma jovem de décadas atrás, que gosta de festas e novidades. Mesmo após casar-se, Virgínia não quis abrir mão da vida social agitada e deixou oscuidados domésticos com a Tia Angélica, neta de escravos do avô de Honorato. A preta tornou-se responsável também por Noel, e opinava em todas questões da família. Certa vez, cansada de tantos eventos, Virgínia quis tomar conta de seu lar, mas Angélica era soberana, com o apoio de seus súditos.Noel estava prestes a entrar para a academia quando Tia Angélica faleceu, como uma figura insubstituível naquela casa. Virgínia, intimamente, comemorou o sumiço de sua rival, mas não quis tomar seu posto: contratou mais empregados. O tempo passou, Noel foi para a Academia, o casal viajou duas vezes ao Rio, comprou carros, Honorato teve tifo, se recuperou... E agora Virgínia está em frente ao espelho sem se reconhecer e sem perceber que tanto tempo havia se passado. Houve dias que pareciam um vácuo, sem qualquer significado. Outros eram memoráveis, como quando foi cortejada por um capitão, mesmo sendo casada, e quase se encontrou com ele numa tarde – impedida pela vigilância severa de Angélica, que até neste caso encarnava com orgulho a função de manter a família unida. Agora, com seus 45 anos, Virgínia ainda sentia desejos despertados por jovens que a olhavam maliciosamente nos jantares... Enquanto isso, Honorato segue em seu sonho tranquilo, no qual não tem que pensar em mercadorias, faturas ou finanças. Voa como uma pomba, depois como um avião, até despertar com o movimento que o vento faz na cortina. 28 D. Maria Luísa ainda se sente uma intrusa ao viver no palacete construído por seu marido, Zé Maria Pedrosa. Todo o luxo que a cerca nada mais é que um desperdício. Seu passado simples em Jacarecanga desperta dolorosas saudades. Ao entrar no quarto da filha, ainda a encontra deitada. Procura algo sobre o qual possa reclamar, mas tudo está em ordem. Chinita, pondo em prática o que aprende com os filmes americanos, usa termos em inglês e pede que a criada sirva o café na cama. Maria Luísa se incomoda com os novos hábitos da garota e leva, ela mesma, o café para seu quarto. João Manuel, o filho, ainda dorme. Ele chega de madrugada e vai para a cama ainda de roupa. D. Maria percebe seu rosto pálido, envelhecido. Imagina que passa as noites nos cabarés, com bebidas e mulheres. Em seu próprio quarto, Maria Luísa encontra Zé Maria também dormindo, sobre a cama Luís XV, entre lençóis de seda: um grande desperdício de dinheiro, ela pensa. CAMINHOS CRUZADOS: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 19 29 Após o almoço Clarimundo escova os dentes e cospe a água pela janela: ela quase acerta um homem, que emite xingamentos. O professor mal faz um gesto de desculpas, pensando em seu futuro livro, no qual um extraterrestre do planeta Sírio poderia ser aquele que cuspiria água nos terráqueos e sofreria de tanta incompreensão quanto ele. Feliz com sua comparação, Clarimundo se empenha em imaginar um bom prefácio para sua obra, que um dia deverá começar a ser escrita. 30 D. Eudóxia, Pedrinho e Fernanda almoçam. A garota conta que vai a Ipanema encontrar-se com Noel – há uma semana não se viam e teriam muitos assuntos para conversar. Eudóxia preocupa-se com estes encontros, com o que a “sociedade” pode pensar, se ao menos fossem noivos... Fernanda defende-se com risos irônicos – eles são pobres, não pertencem a “sociedade” alguma, e Noel não era o tipo de homem que se aproveitava das mulheres. A mãe insiste que uma garota pobre que sai com rapazes acaba virando “mulher à toa”. Pedrinho, ao ouvir estas palavras, lembra-se de Cassilda: após muita insistência de seus amigos, encontrou-a para perder a virgindade e apaixonou-se. Em seu quarto, conta dinheiro e calcula quanto falta para comprar um colar para sua amada. 31 No Country Club Leitão Leiria se encontra com colegas americanos e ingleses para jogar golfe – assim ele também se sente um tanto estrangeiro: bebe whiskey, pratica seu pobre inglês. 32 Em Ipanema Noel e Fernanda admiram o céu e o rio, formando uma paisagem que, para ele, é como um sonho e que ela o lembra de ser a realidade. O rapaz lamenta que a vida não seja sempre daquela forma, que seja necessário “lutar pelo pão”. Fernanda lembra que ele nem sequer precisa lutar pelo pão: se assim fosse, não seria esse menino mimado, preso às belezas que só enxerga nos romances e contos de fadas. Para Noel a amizade com Fernanda é como um sonho, sem qualquer obstáculo. Ela compreende que isso só acontece por ele nunca ter tentado beijá-la, por manter o desejo sexual fora da relação. Noel sente atração pela garota, imagina unir-se a ela e construir CAMINHOS CRUZADOS: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 20 uma nova vida, juntos, mas tal vontade ganha ares incestuosos ao lembrar-se dos tempos que iam juntos à escola, e o desejo é reprimido novamente. Ao falar sobre os livros que leu e músicas que ouviu, o rapaz ganha entusiasmo: esta é sua zona de conforto. Fernanda questiona como ele pode ser tão sensível a ficções e tão distante de dramas reais, como os que acontecem na sua vizinhança: desemprego, doenças, fome... Ele não tem qualquer empatia por tais necessidades humanas, chatas, sem cor. Fernanda pergunta sobre o romance que Noel pretende escrever: não há avanços. Nada surge em sua mente além de sua autobiografia, tia Angélica, o isolamento no colégio, a decepção da academia, tudo sem a força de uma boa história. A garota sugere que ele romanceie um dos dramas vividos por seu vizinho, desempregado, que mal tem o que botar na mesa, mas ele diz não conseguir. 33 No clube, Salú disputa uma partida de tênis, exibindo toda sua energia viril com ares teatrais – ele mesmo é ator e expectador de tal cena. Vera convidou Chinita para um banho de piscina por imaginar que amiga precisava de conselhos. Ganharam, entretanto, a companhia indesejada de Dr. Armênio, com sua mania de falar em francês seus insistentes galanteios. Vera mergulha. Armênio não sabe nadar e só entra na água a pedido de sua musa. Salú sofre ao perder o jogo e dirige-se à piscina, na qual mergulha junto de Chinita – a garota, como de costume, imagina ser Joan Crawford enquanto o rapaz seria seu Clark Gable. O casal namora debaixo d’água, para desgosto de Vera. Ela, que jogava bola com Armênio – uma distração para evitar a inconveniência de suas palavras – decide sair da piscina. 34 No Edifício Colombo a porta de um apartamento sustenta a placa com os dizeres: “Mademoiselle Nanette Thibault – Manicure”. Este título servia para tranqüilizar o encarregado e as famílias do edifício: uma mulher vivendo sozinha no prédio, sem um trabalho, não seria bem vista. Foi somente com o título de “manicure” e com o empenho pessoal de Zé Maria Pedrosa que a inquilina, sua amante, foi aceita. Dentro do apartamento Nanette e Zé Maria estão deitados na cama, fumando – ela um cigarro Camel, ele um ”crioulo” mal cheiroso. A mulher sabe que aquele é um homem rude, mas por amor ao seu conforto e bem-estar, atende às suas necessidades. Zé Maria CAMINHOS CRUZADOS: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 21 vibra com a delícia de se ter dinheiro e pensa na inveja que faria ao Madruga, de Jacarecanga. 35 João Benévolo, Laurentina e Ponciano estão na varanda enquanto Napoleão dorme no quarto. João ensaia para devolver à visita o dinheiro que havia deixado ali, mas não consegue agir – ademais, parte do valor já foi gasto com medicamentos e comida. Ponciano observa Laurentina, acreditando que em algum momento ela será sua. O silêncio se mantém. João assobia o Carnaval de Veneza, olha para a rua, para as estrelas e para a Lua – usa a imaginação para fugir da Terra num foguete fantástico, para um lugar onde não há dívida, fome ou miséria. 36 Cassilda acaricia Pedrinho, pedindo que vá embora, pois receberá outro homem. Ele tem ciúmes e pergunta se ela gosta desse moço. Ela nega, diz que foi convidada para viver com ele, mas não quer. Pedrinhoinsiste que ela é uma moça diferente e que, se tivesse dinheiro, tiraria ela dali. Cassilda se aborrece com essa paixão do garoto: tudo o que ela quer é ganhar dinheiro, mas preocupa-se com o rapaz, que parece ser de uma boa família, e aceita suas visitas. Pedrinho sai pela noite do beco, segue pelo Parque da Redenção, mas ela não sai de sua cabeça. SEGUNDA-FEIRA 37 João Benévolo caminha pela cidade na manhã clara da segunda-feira. Lembra-se de suas brincadeiras de infância, seus amigos, seus livros. Agora sua preocupação deve ser outra: procurar emprego nos jornais, encontrar conhecidos, sentar nos bancos da praça... O troco de Ponciano pesa em seu bolso: imagina-se tendo dinheiro o suficiente para devolver-lhe o ”favor”, se sentiria um herói. Essa sede de heroísmo fez com que João se casasse: sempre via Laurentina triste à janela, cumprimentava-a, soube ser uma órfã sendo forçada a se casar com um homem indesejado, a “mocinha” perfeita. Enviou-lhe cartas românticas, conquistou seu coração. CAMINHOS CRUZADOS: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 22 Ao passar em frente à livraria é atraído por um exemplar de “A Ilha do Tesouro”. O troco em seu bolso seria o suficiente, mas há gastos mais importantes. Afasta-se da vitrine, mas retorna – “um homem precisa de distrações”. Entra na loja assobiando Carnaval de Veneza. 38 Clarimundo toma o bonde elétrico com desgosto: encontrar pessoas estranhas, dividir o espaço com elas, arriscar-se a um acidente de trânsito, tudo o atemoriza. O progresso só tem valor, para ele, por conta da ciência desenvolvida. Mas as máquinas que cada vez mais habitam o mundo são um estorvo: elétricos, automóveis, rádios... Atordoado, encontra a casa de José Maria Pedrosa. Com medo de um possível cachorro, cruza o rico jardim e entra no luxuoso hall. Fica constrangido com a chegada de Chinita, vestida em um pijama, de calças. Ela pede desculpas: não poderá ter aula, pois à noite haverá a festa de inauguração do palacete e há muito que fazer. Clarimundo já está acostumado às desculpas da garota. Recebeu o pagamento por um mês de trabalho, mas não passou da lição inicial. Ofendido pelo pagamento “indevido”, o professor argumenta com Mariana – não se sente à vontade para chamá-la pelo apelido – mas ela insiste que a culpa era sempre dela e ele tinha o trabalho de ir sempre à sua casa. Ainda impressionado por ver uma mulher usando calças, Clarimundo sai pela rua, indignado com as modernidades. 39 Honorato pede que Noel coma um pedaço de carne: é a forma que encontra de demonstrar carinho pelo filho já que, por ser homem, não pode fazê-lo de outra maneira. O rapaz se distrai com seu reflexo na colher. Virgínia zomba do garoto e da preocupação do pai. Honorato devora a comida com alegria, elogiando mentalmente sua cozinheira. Sua mulher está enfastiada com a desinteressante convivência familiar. Noel vê o brilho do sol refletido na taça de vinho e lembra Ipanema, Fernanda... Imagina-se dividindo o almoço com ela, numa casa mais simples, depois indo ao trabalho e à noite lendo livros e ouvindo música ao seu lado. O pai faz uma proposta ao filho: que trabalhe em seu escritório para, quando ele se for, tomar conta do negócio. A mãe caçoa: estudar por dez anos para ir parar numa bodega! Depois sai, vai ao quarto tomar sua pílula Juventus. Noel lembra-se novamente de Fernanda e toma uma resolução: aceita a oferta de Honorato. CAMINHOS CRUZADOS: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 23 40 Após um magro almoço, Napoleãozinho chora com dores no estômago, João Benévolo lê seu livro e Laurentina consterna-se com a imobilidade do marido perante a miséria da família. Ela pede que ele vá pedir um emprego ou recomendação ao antigo patrão, lembrando a ameaça de viverem à custa de Ponciano. João estremece com essa possibilidade, mas sua principal preocupação é livrar-se do incômodo que a mulher causa em sua leitura: promete que fará o que ela lhe pede e volta ao seu mundo de fantasia, onde tudo acontece da forma desejada. 41 Enquanto D. Eudóxia produz ruídos balançando sua velha cadeira, sua filha lava a louça do almoço e o filho tenta ler um romance. Entre os pratos, Fernanda pensa em seu tedioso trabalho para Leitão Leiria e sonha com a função de professora. No meio da imaginação, Noel surge como um de seus alunos. Agora, no entanto, ele é um homem a quem Fernanda ama, mas mal assume para si mesma. Pedrinho não consegue concentrar-se na história: Cassilda domina seus pensamentos. Ele sabe que sua paixão é infantil, mas lhe parece inevitável. Em seu quarto, conta novamente o dinheiro que falta para comprar-lhe um colar. D. Eudóxia observa o professor Clarimundo surgindo na janela e ordena aos filhos que é hora de ir ao trabalho. 42 O professor observa a rua, o movimento dos vizinhos, as atividades das donas de casa, as pessoas saindo para o trabalho. Pensa nos ensinamentos que precisa passar a seus alunos na aula de inglês e, divagando, chega mais uma vez ao seu homem de Sírio: uma obra que será muito interessante. 43 Vera recebe uma ligação de Chinita, que pede ajuda na arrumação da casa para a festa da noite. A garota ordena que a empregada chame o carro e avisa a mãe que vai sair. D. Dódó quer o automóvel de volta logo, pois tem muitas obrigações a cumprir – visitas a pobres, reuniões para organizar quermesses e doações, visitar o marido no trabalho... CAMINHOS CRUZADOS: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 24 Lendo um livro sobre Santa Terezinha, Dódó lembra-se de seu próprio milagre: Leitão Leiria estava desenganado, com pneumonia e, após uma oração à Santa com a promessa de uma vida religiosa, ele se recuperou. Desde então ela, com o apoio financeiro e moral do marido, dedica sua vida à Igreja e à Pobreza. Sr. Marcondes, jornalista da Gazeta, faz uma visita para a edição de uma entrevista com “uma das damas mais distintas da nossa sociedade”, que fará aniversário nos próximos dias. D. Dódó, expressando um misto de contentamento e modéstia, e recebe a lista de perguntas às quais responderá. 44 No palacete dos Pedrosa há muito movimento para organizar a inauguração: pintores e eletricistas dão os toques finais, Vera e Chinita decidem onde ficarão os quadros comprados pelo coronel. Zé Maria se delicia ao ler a nota no jornal que informa sobre sua festa. No quarto de Chinita, antes do chá, Vera não resiste à atração que sente por sua amiga e lhe dá um profundo beijo em sua boca. Chinita se espanta, mas se deixa levar pelo prazer – imaginando que Vera é Salú. D. Maria Luísa não participa da arrumação, nem do chá: é sua forma de protestar contra todo aquele desperdício de dinheiro. Manuel acorda pálido, com barba por fazer, e vai ao banho. Chinita, Vera e o coronel reúnem-se para o chá. 45 Em seu quarto, Noel encara uma folha em branco e, impulsionado pela conversa que teve com Fernanda, dá o pontapé inicial em seu romance: escolhe o nome do personagem, José Pedro, e o coloca a olhar pela janela, vendo crianças brincando e lembrando-se de sua própria infância. Sente como se Fernanda estivesse ali, ao seu lado, encorajando-o a continuar. 46 João Benévolo vai ao Bazar Continental, onde trabalhava, para pedir uma indicação de emprego ao seu antigo patrão. Fernanda o recebe e o encaminha à sala de Leitão Leiria. O comerciante recebe o ex-funcionário com amabilidade: oferece um charuto, pergunta em que pode ser útil e oferece dinheiro. Espantado com o comportamento inesperado daquele que imaginava ser seu inimigo, Benévolo recusa a ajuda direta e pede apenas uma recomendação de trabalho. Leitão CAMINHOS CRUZADOS: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 25 escreve em um cartão um amistoso pedido de colocação na Fábrica Brasileira de Mosaicos. João sai muito agradecido e surpreso pela ajuda recebida. Assim que ficou só em sua sala,Leitão Leiria telefona para Mendes Mota, responsável da tal Fábrica, e avisa sobre o cartão que escrevera: poderia rasgá-lo, pois o havia escrito apenas para despachar logo um ex-funcionário que o estava amolando. 47 Às cinco horas Virgínia vai à janela, toda arrumada e maquiada. Da esquina Alcides a observa e faz um discreto cumprimento, como em todas as tardes. Quando passa um elétrico ou há algum ruído no interior da casa, Virgínia precipita-se para dentro. O flerte lembra seus tempos de menina e lhe desperta um desejo novo. 48 O crepúsculo colore a cidade e o rio, à margem do qual Salú dirige seu carro, apreciando a paisagem, as casas, montanhas, ilhas, pessoas... Chinita invade sua mente e seu corpo, como uma doença: lembra-se das brincadeiras e insinuações na piscina. Essa obsessão, entretanto, é destinada somente ao corpo da garota. 49 Na Travessa das Acácias o movimento é o habitual. Clarimundo recebe Fiorello em seu apartamento e trava um debate político: o sapateiro italiano defende as benfeitorias de Mussolini e o professor alega que todas as notícias dos jornais são falsas, bem como as correspondências de seus parentes são censuradas. A verdade, segundo ele, será revelada por seu personagem de Sírio, no livro que em breve começará a escrever. 50 A ostentação permeia toda a festa dos Pedrosa: taças de cristal servem champanhe; amontoados de lanches, croquetes e um grande peru ocupam os pratos; doces coloridos e enfeitados cobrem uma mesa. Casais dançam, convidados interagem. Zé Maria pensa na inveja que faria em Madruga, caso ele estivesse ali. Dr. Arménio adula o dono da casa, estranhando seus modos rudes, e sai a procurar por Vera. D. Maria Luísa fica sentada num canto, procurando isolar-se daquela cena: apesar do enriquecimento, ela ainda se sente parte da pobreza, tem saudade da simplicidade de Jacarecanga. Chinita e Salú dançam apertados. O rapaz planeja levá-la para um passeio no parque: lá, algo há de acontecer! A garota se compromete a encontrá-lo mais tarde. CAMINHOS CRUZADOS: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 26 Leitão Leiria e D. Dódó são efusivamente recepcionados por Zé Maria. As extravagâncias e falta de modos do novo rico irritam o casal que, no entanto, dissimula contentamento com a situação. 51 Em seu quarto abafado, deitado na cama, Maximiliano recebe os cuidados de sua mulher e espera que sua despedida não demore: após sua morte a mulher poderá trabalhar e dar a devida atenção aos filhos, o sofrimento será menor. 52 Comidas, bebidas e danças animam a festa. Arménio comenta com Vera a mudança dos costumes: antigamente a alimentação se dava em um ambiente separado. A moça está distraída, pensando que Chinita deve estar se entregando a Salú, sem imaginar como há de se arrepender depois. 53 Nos degraus da escada de seu prédio, Fernanda aprova o empenho de Noel em começar a escrever e sugere que ele continue a produzir. O rapaz lamenta que, no meio da narrativa, se perda fazendo referências à história da própria infância. Fernanda acredita que isso pode ser positivo, desde que sirva para ele enxergar o quanto era mentiroso o mundo no qual vivia – com Tia Angé e seus contos de fadas. Noel revela que aceitou a proposta de trabalho de seu pai e que acredita que esta pode ser uma boa forma de tirá-lo de seu mundo de fantasias. Fernanda o apóia, afirmando que assim ele poderá acompanhá-la: juntos eles poderão enxergar um mundo ainda mais belo. 54 Salú e Chinita caminham pelo parque. O rapaz a leva a um ponto bem distante, acaricia seus seios, a entorpece entre beijos. Ao encontrar um canto escondido pela vegetação, deita a garota na relva. Ela balbucia um “não”, mas logo abandona seu corpo ao desejo carnal. São três horas quando saem os últimos convidados. Zé Maria celebra o sucesso da festança, D. Maria Luísa continua lamentando os gastos e cultivando seu saudosismo de Jacarecanga. Chinita não apareceu. Manuel saiu no meio da festa – para ver mulheres à toa, pensa a mãe. CAMINHOS CRUZADOS: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 27 TERÇA-FEIRA 55 O dia começa sob intensa chuva. Clarimundo briga com seu guarda-chuva, que não se fecha quando ele sobe ao bonde, e depois se atrapalha ao não encontrar o dinheiro da passagem. Chegando à escola cinco minutos atrasado, o professor relata seus “desastres” a um funcionário. 56 A casa de João Benévolo é invadida pelo frio e pela umidade, em forma de goteiras espalhadas por todos os cômodos. Napoleãozinho diverte-se desenhando sobre a capa de uma revista. João vai ao quarto, imaginando ser um aventureiro em meio a uma inundação. Laurentina costura, lembrando-se dos tempos de solteira, em que não havia dificuldades, e lamenta não ter se casado com Ponciano. O dinheiro que ele havia dado, inclusive, estava acabando – o que fariam depois? 57 Leitão Leiria se arruma enquanto sente uma mistura de desprezo e ciúme ao se lembrar da festa do Coronel Pedrosa. D. Dódó, ainda deitada, o lembra de arranjar uma função para uma garota recomendada pelo Monsenhor Gross. Ele se irrita com a obrigação, mas se compromete em ajudá-la. 58 Salú acorda e logo recorda a noite perfeita com Chinita: sem muitas palavras, pura ação, o desejo saciado. Após o gozo Chinita ficou a falar baboseiras, perguntando se ele gostava mesmo dela. Ele respondeu afirmativamente, procurando sair rapidamente do lugar. Agora restava a preocupação de ela contar algo aos pais, ou desejar um casamento – mas uma garota rica não precisa se casar... Olhando seu reflexo distorcido no bule de chá, Salú pensa que senão tivesse a aparência que tem, não teria possuído Chinita, assim como nunca teria sido desejado e bem- sucedido em tantas áreas de sua vida. Lembra-se de sua primeira aventura amorosa, com uma garota mais velha que estava noiva: após possuí-la, fugiu e percebeu que “amava o amor”, não aquela mulher em específico. Agora o objeto de seu amor era Chinita, a quem ele telefona, desejando mais uma vez vê-la, tocá-la e beijá-la. CAMINHOS CRUZADOS: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 28 59 Com a testa encostada sobre a janela fria, Noel observa a chuva sobre o jardim, os coelhinhos encolhidos em suas casinhas. O cinza do dia não o inspira a escrever, nem a ler. Mesmo a música pouco o anima. Refugia-se nas lembranças da infância com Tia Angé. Ao pensar em Fernanda, imagina-a no trabalho a escrever cartas enfadonhas. Segundo a garota, no entanto, o tempo livre que ela tem após um dia inteiro no escritório ganha muito mais valor, os livros passam a ter mais sabor. Noel observa seu quarto repleto de discos, livros, cartazes de grandes artistas. Percebe que está na hora de sair desse mundo de isolamento, de contato com mortos, para mergulhar na realidade dos vivos: trabalhar, atender aos desejos de sua carne, entregar- se à paixão que sente por Fernanda. 60 Chinita marca um encontro com Salú. Ela passou a noite em meio a pesadelos e está confusa: sente-se transformada, ainda mais atraída pelo homem que a desvirginou, mesmo que a experiência tenha sido menos prazerosa e mais dolorosa do que imaginava. Preocupações também rondam sua mente: e se engravidasse? E se alguém descobrisse seu ato de desonra? Ela chora sem saber se por alegria ou tristeza. 61 Em seu escritório de advocacia, Dr. Arménio escreve crônicas que serão publicadas no semanário social. Auto-intitulado poeta, ele romanceia a aparência e o charme das moças que encontra pela rua, dando maior destaque à sua amada Vera, usando citações em francês e escolhendo bem as palavras. O aniversário de D. Dódó será mais uma oportunidade de conquistar a garota, um excelente partido. 62 Quase não há clientes na loja de ferragens. Pedrinho está encostado no balcão pensando em sua mãe, suar irmã e, mais profundamente, em Cassilda – queria tê-la conhecido de uma maneira diferente,poderiam se casar e ter filhos... Seu chefe percebe o devaneio do garoto e manda que passe um espanador nas prateleiras. Ao menos seu trabalho vai render um colar para sua amada. CAMINHOS CRUZADOS: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 29 63 Cassilda joga cartas com sua companheira de apartamento, que debocha de sua relação com o jovem rapaz. Após perder a partida, Cassilda revive a alegria do último sábado, com dois serviços bem pagos, mas lamenta que essa sorte não se repita sempre: agora só tem o aborrecimento daquele garoto que fica horas a falar baboseiras românticas – mas não há por que tratá-lo mal. 64 Na casa dos Leitão Leiria, Vera lê um livro “proibido”, disfarçado com uma capa de papel pardo. Tudo parece enfadonho: os homens aborrecidos, as mulheres atraentes, porém idiotas, os novelistas sem imaginação... Seu desejo era reencontrar Chinita, tocar mais uma vez seus lábios, mas a chuva não para. Enquanto isso, D. Dódó responde às perguntas da Gazeta sobre seu caráter, sua visão sobre a vida, sobre o papel da mulher na sociedade, seus gostos artísticos... As respostas são sempre balizadas pela religiosidade, moralidade e decência. 65 Incomodado com a ascensão social de Zé Maria Pedrosa, Leitão Leiria idealiza, em seu escritório, um artigo de jornal ou um discurso em que faz um apelo à tradição familiar baseada em honra e nobreza, não somente em quanto dinheiro uma pessoa tem. Ele imagina formas de agir contra o novo-rico: quem sabe escrever uma carta anônima ao Monsenhor denunciando o caso extraconjugal de Zé Maria, ou escrevê-la à sua mulher... Ao pensar no Monsenhor, lembra-se da promessa de arranjar um emprego para uma de suas protegidas. Para isso ele teria que demitir Fernanda, já que a situação econômica não é das melhores, mas não há qualquer motivo para fazê-lo. A não ser a suspeita de que a garota lê livros comunistas. Leitão Leiria chama Fernanda a sua sala e, de maneira muito atrapalhada, insinua que ela seja comunista. A garota percebe a intenção do patrão e encerra a conversa dizendo que sequer demiti-la, não há problemas. O chefe oferece um salário adiantado e somente quinze dias trabalhados para que ela arranje outro emprego. 66 Virgínia, sozinha em casa com seus empregados, sente-se sufocada por não ter o que fazer. A mesmice de sua vida é muito incômoda. Quando chega seu filho, lembra-se de Alcides: ao mesmo tempo em que se sente culpada pelo desejo, enxerga nele a única pessoa que realmente se interessa por ela. CAMINHOS CRUZADOS: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 30 Ao imaginar a realização de seus sonhos, Virgínia preocupa-se com a possibilidade de o marido a descobrir: ele lhe dá uma vida segura, um lar, um nome... Nessa hora Honorato chega em casa. 67 No almoço na casa dos Pedrosa os filhos não estão presentes: Chinita não quer sair do quarto e Manuel não voltou para casa. O pai não liga para a ausência do filho, imaginando as orgias das quais ele deve participar. D. Maria Luísa rumina sua eterna angústia, pensando que Zé Maria deveria tomar alguma atitude perante os filhos. 68 D. Eudóxia conta para os filhos que Maximiliano deve morrer em breve e ele precisará ir ao velório. Pedrinho não come direito, pensando em Cassilda. Fernanda está preocupada com sua demissão, mas não compartilha nada, pois já sabe a reação catastrófica que teria a sua mãe. 69 Leitão Leiria elogia as respostas que Dódó deu à entrevista para o jornal. Vera assiste a cena com desdém: no fundo ela nem acredita muito em religião, tem seu mundo próprio, ainda que sem muito sentido. Sente ciúmes de Chinita. 70 Agonizando, Maximiliano está deitado na cama ao lado de sua mulher. Ela observa o marido como se fosse um bicho, não mais um homem: seria melhor que ele morresse logo. O moribundo tenta falar algo, querendo pedir algo que não pode ter, mas só sai um som rouco. 71 Clarimundo encosta a ponta do nariz no vidro da janela para observar a rua inundada pela chuva. A sensação lhe remete à memória de vinte anos antes: após ler Le Dantec, convenceu-se que a “alma” era mortal e apoiou o nariz numa janela fria, da mesma forma, concebendo a queda dos conceitos religiosos que o Padre Lousada havia lhe posto na cabeça. Optando pelo caminho da verdade e da ciência, Clarimundo passou por mais livros e mais solidão. Viveu em uma pensão e em quartos de subúrbio, até por o nariz na janela mais uma vez. Ele sorri e observa o movimento habitual dos vizinhos, pensando em comprar uma cafeteira, para saborear um bom café em momentos como este. CAMINHOS CRUZADOS: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 31 72 Laurentina questiona João Benévolo sobre o que farão para o almoço. O homem fantasia outras realidades, imagina encontrar um tesouro no quintal de casa... A mulher pede que ele vá comprar leite, pão e salame com o resto do dinheiro. Pensando em Ponciano, Laurentina sente raiva por saber que ele tem mais dinheiro e por imaginar o que pode acontecer dali em diante. 73 Numa casa de chá quase vazia, Salú sugere a Chinita que tomem coquetéis. A garota se divide entre imaginar-se em uma cena de Hollywood e o medo de que algum conhecido a visse ali. Salú é direto ao perguntar se a garota está arrependida e em convencê-la a irem ao seu apartamento, onde poderá apresentar a ela o verdadeiro amor. Como Chinita se mostra amedrontada com a proposta, ele argumenta com dureza: logo ela estará velha, menos atraente e terá passado a mocidade em branco. A garota o olha querendo descobrir se ali há amor de verdade e parece ceder. 74 Sentado numa poltrona, Zé Maria admira Nanette Thibault como uma gata de estimação. A mulher entra na brincadeira, miando, procurando agradá-lo de todas as maneiras: planeja pedir a ele um automóvel. 75 Sete andares acima do apartamento de Nanette, Chinita tem uma grande revelação: sente um prazer profundo como nunca imaginara. Salú surpreende-se como desempenho da garota, que soube entregar-se ao desejo e nem parece a mesma rapariga tola de antes. Ele chega a sentir alguma ternura mais séria do que esperava. Quando Chinita cai novamente em si, sente pudor e cobre-se com rapidez. Alguns raios de sol entram pela janela. 76 Vendo o sol surgir entre as nuvens, Virgínia sente uma esperança de que Alcides aparecerá e fica esperando à janela, mas ele não vem. CAMINHOS CRUZADOS: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 32 77 D. Maria Luísa relê a carta anônima que denuncia a infidelidade de seu marido. Tudo parece ainda mais perdido: a filha dormir com rapazes, o filho fora de casa todas as noites e Zé Maria com uma amante. Ela relembra a rotina em Jacarecanga, os filhos em casa ou em atividades decentes, o marido a falar de política com o Madruga, tudo lhe dá saudade. Zé Maria liga para avisar que não vai voltar cedo, Chinita já avisou que passará a noite fora, Manuel não dorme em casa há dois dias. D. Maria Luísa fica sozinha com o frio, a noite e a carta. 78 Na varanda estão João Benévolo, Laurentina e Ponciano. Ela, costurando roupas do filho, sente o olhar desagradável do visitante, que imagina faltar pouco para que sua amada venha pedir-lhe socorro. O marido assiste a tudo só imaginando se Ponciano deixará mais dinheiro. No quarto, Napoleãozinho observa a lua imaginando se vive gente por lá. 79 D. Dódó faz tricô para as velhinhas do asilo enquanto pensa nos preparativos de seu aniversário. Chinita lâ uma novela enquanto imagina por onde anda Chinita, de quem sente saudades. Leitão Leiria lê, desanimado, uma biografia política, que logo troca por um romance de Bocácio. 80 Sentados na escada, Noel e Fernanda permanecem calados. Ele deseja declarar seu amor, mas não tem coragem. Ao questionar a tristeza da garota, ela não fala sobre sua demissão: poderia soar como um pedido de ajuda. D. Eudóxia os chama para entrar, para nãopegarem pneumonia. Eles continuam sentados, em silêncio. 81 No beco, Pedrinho aguarda no frio a casa de Cassilda, que tem uma luz vermelha acesa, ser desocupada. CAMINHOS CRUZADOS: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 33 QUARTA-FEIRA 82 Às seis da manhã Clarimundo põe a água para ferver e lê Einstein, aguardando Fiorello, com quem inaugurará sua cafeteira. Ele dá um tempo das teorias de física para refletir sobre o valor que tem um bom café e como sua compra é uma quebra de sua usual rotina – uma necessidade humana. Aliás, como o habitante de Sírio avaliaria a cafeteira? Fiorello chega, Clarimundo pega a cafeteira com cuidado, lembrando que leu sobre o preparo da bebida no “Manual da Boa Dona de Casa”, afinal “tudo na vida tem sua ciência”. 83 O sol da manhã dá algum ânimo a Fernanda, a imagem de Noel lhe vem à cabeça: não pode mais negar o que sente por ele. É preciso arrumar o café da manhã, cuidar da casa, sorrir e disfarçar sua preocupação com a procura de um trabalho. Pedrinho vai ao banho cantarolando e toma café pensando no colar que deve comprar hoje, e que deve agradar Cacilda. D. Eudóxia resmunga em seu quarto pedindo seu leite quente. 84 Muito contente Armênio caminha pela rua ensolarada a imaginar crônicas e olhar vitrines. Vai ao correio e envia um rebuscado telegrama de aniversário para D. Dódó. Em seguida fica imaginando se sua amada Vera a receberá bem no evento da noite. 85 Laurentina sente algo dentro de si que não consegue mais controlar: grita com João Benévolo, chamando-o de pamonha, nulidade, e em seguida vai ao quarto chorar – o mesmo faz Napoleãozinho. Assustado, João foge para trás da mesa, depois pergunta o que fizera. Mas ele sabe bem o que é: estão sem dinheiro, sem trabalho. Precisa tomar uma atitude: sai para a rua prometendo que volta empregado, ou não volta mais. 86 D. Dódó acorda com flores e um presente do marido: uma cruz de brilhantes. CAMINHOS CRUZADOS: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 34 Vera abre os jornais com desânimo: notícias de guerra, umcrime passional – um marido matou a mulher com seu amante –, a entrevista de sua mãe... “A velha adora ser bajulada enquanto se faz de modesta”, pensa a garota. À mesa, D.Dódó e Leitão Leiria lêem a entrevista com gosto. Vera chega e precisa ser lembrada pelo pai que é o aniversário de sua mãe. 87 Assim que acorda, Chinita lembra-se do êxtase que lhe fora revelado por Salú. Sente vontade de repetir o ato. Chegando em casa pede um chocolate e fica pensando em quando verá Salú novamente. Pensa em casamento, mas logo desiste: isso torna tudo uma chatice, bom mesmo é ser uma amante. 88 O médico já indicou que o fim de Maximiliano está próximo. Seus filhos agarram-se à saia da mãe sem saber bem o que acontece. Os vizinhos apareceram. O tuberculoso dá os últimos suspiros. Quando a face tranqüila já não respira, a mulher cobre o defunto, aliviada. 89 Caminhando sem rumo, distraído com os movimentos da cidade, João Benévolo já nem se lembra da necessidade de arranjar emprego e comprar comida. Segue até a calçada onde brincava quando criança e, à beira do rio, começa a fantasiar uma expedição à África. Dois moleques passam rindo do homem que fala sozinho e movimenta os braços como se segurasse uma espingarda. 90 Honorato toma café na varanda quando Noel chega animadíssimo, lembrando que aceitou sua proposta de trabalho – ele teve um sonho bom, em que passeava com Fernanda, já sua esposa, num dia ensolarado como aquele. Os dois seguem juntos para o Armazém. Virgínia, que tomava café no quarto para não ver a cara do marido, se desespera ao ler no jornal a notícia do assassinato de Alcides, que estava no quarto de uma mulher casada. Os sentimentos se misturam: ódio, ciúmes, perda... Ela chora convulsivamente e sente vontade, pela primeira vez, de ter Noel ao seu lado. CAMINHOS CRUZADOS: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 35 91 Salu acorda pensando em Chinita: ele sabe que um dia isso vai passar, mas no momento ter prazer com aquela garota é a única coisa que lhe interessa. Uma carta de sua mãe questiona por que não tem um trabalho, nem estuda. O que mais preocupa Salú, entretanto, é um fio de cabelo branco que encontra em sua cabeça: aos 28 anos, sem preocupações, isso não devia ocorrer. Quando criança ele pensava em ser famoso, banqueiro ou industrial, mas agora está amarrado a conquistas amorosas. Após entrar no banho e ver o dia ensolarado, pensa em um passeio de carro com Chinita e liga para ela. 92 Já é meio-dia e nada muda para João Benévolo: sua mente devaneia. Sentado no banco da praça, tem a gostosa sensação do esquecimento de tudo. 93 O corpo de Maximiliano está estendido com flores e velas. D. Eudóxia chega satisfeita com o velório, já imaginando que a mulher e as crianças também devam estar doentes e logo morrerão. 94 No almoço dos Leitão Leiria, Monsenhor Gross se delicia com um peito de peru enquanto D. Dódó lamenta que sua filha ainda não tenha se convertido. Armênio procura novas formas de interagir com os presentes: já falou de religião (para o Monsenhor e D. Dódó), de política (para Leitão Leiria), de moda (imaginando agradar sua amada). Vera olha para o teto para suportar a ocasião. Repentinamente D. Dódó preocupa-se por ter se esquecido de enviar uma ambulância ao senhor tuberculoso da Rua das Acácias. Lamenta o estado do doente e questiona o Monsenhor o porquê de haver tanta pobreza no mundo. O religioso não sabe responder, mais entretido com seu prato; Leitão Leiria argumenta que esta é uma forma de Deus testar os homens; Vera, em pensamento, considera a pobreza como o resultado da ganância de pessoas como seu pai; Armênio poetiza que os contrastes são inerentes à condição humana. 95 D. Eudóxia almoça e já retorna ao velório. Fernanda lava a louça pensando em um novo emprego: queria ser professora, mas o mais certo era conseguir vaga num escritório – e CAMINHOS CRUZADOS: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 36 ter de suportar as cantadas do novo patrão. Pedrinho conta o dinheiro na caixa de charutos: já tem o suficiente para o colar de Cassilda. Antes de voltar ao trabalho, Fernanda lê um romance no qual o grande problema de uma jovem é o par com quem irá ao baile: acha o livro encantador, mas as preocupações da personagem muito bobas. O professor aparece à janela: hora de ir. 96 Clarimundo contempla a paisagem e o dia o inspira a iniciar seu livro em breve: o homem de Sírio faria grandes revelações sobre a realidade dos homens deste planeta, será um sucesso. 97 João Benévolo não aparece para o almoço. A viúva Mendonça cobra os aluguéis e Laurentina conta que o marido está a procurar emprego. A velha pergunta por Ponciano, deixando a mulher sem entender. 98 João sente a fome apertar, observa a vitrine de um restaurante e se imagina sendo servido como um rei de suas histórias. Senta novamente na praça, tentando esquecer-se de tudo – já são quatro e vinte. Sonha com um encontro inesperado, algum amigo que lhe dê emprego. Caminha a beira do rio, pensa em fugir, em não ser mais ele. O estômago dói. 99 Preparando-se para o banho, Armênio não consegue deixar de pensar em Vera: ignorou- o durante todo o almoço. Entrando na banheira quente, ele delicia-se com os prazeres do homem moderno e pensa no futuro casamento que lhe dará uma boa posição social. 100 De sua mesa de escritório, Fernanda contempla a paisagem e pensa que gostaria de ter mais liberdade, ser mais feminina, com menos preocupações. Pensa em quando Noel vai, se é que vai, declarar seu amor. Branquinha, a colega de trabalho, lembra-lhe que há serviço para fazer. CAMINHOS CRUZADOS: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 37 101 Virgínia não sabe por quanto tempo dormiu. Com a janela fechada, não sabe se ainda é dia – Alcides já fora enterrado?A sensação de sufocamento e solidão retornam, suor escorre pelo seu rosto, sente vontade de dormir para acordar numa outra vida. Abre a janela desesperada: sol, pessoas e carros confirmam que ela ainda não morreu. 102 Após três dias fora de casa, Manuel retorna pedindo dinheiro ao pai. O coronel pensa em repreendê-lo, mas pela cara que o garoto faz deve saber de seu caso com Nannete – talvez já tenha se deitado com ela. Em Jacarecanga havia mais respeito dos filhos, mas está tudo invertido, é preciso botar ordem... Mas para isso Zé Maria não tem pressa e dá o dinheiro ao rapaz. 103 Pedrinho consegue sair mais cedo para comprar o colar que dará a Cacilda. Ele entra na loja e, emocionado, pede para ver o objeto. 104 Começa a noite quando Noel sai de casa contente pela nova vida que está a iniciar. Tudo parece mais belo, um casal com um filho o faz pensar em Fernanda: será uma boa mãe, criará a criança sem essas besteiras de histórias de fadas, viverá uma vida real. E ele está disposto a enfrentar a vida no escritório para garantir esse futuro. 105 D. Dódó se empenha na arrumação da casa para o evento da noite. Vera olha tudo com indiferença. A única vantagem é que poderá encontrar-se com Chinita sem Salú por perto – ele não é um relacionamento da família e não deve aparecer na festa. Sozinha com ela, no quarto, poderá arrancar de seu corpo a paixão que sente pelo rapaz. 106 Iluminado pela lua cheia, João Benévolo caminha em direção a sua casa. Ele chora sem saber o que vai acontecer e tem uma forte dor no estômago. Antes de chegar, sente fraqueza, ajoelha-se e cai no chão. CAMINHOS CRUZADOS: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 38 107 Honorato Madeira janta sozinho, já que a mulher tem dor de cabeça e o filho avisou que ia sair. Ele reclama da carne dura, mas se satisfaz assim que o garfo entra na boca. 108 Uma ambulância carrega João Benévolo. Os transeuntes palpitam sobre o caso: bebedeira na certa! Alguém lembra a entrevista de D. Dódó, que dizia que o dinheiro gasto em vícios seria mais bem aplicado em hospitais e escolas. 109 Laurentina tem os olhos inchados pelo choro, já pensou o pior sobre João. Ponciano faz críticas ao marido e, enfim, propõe que ela vá morar com ele, mostrando-lhe a carteira recheada de dinheiro. Tina continua a chorar, sem saber como reagir, fica quieta. Ponciano diz que já esperou dez anos, pode esperar mais um pouco, e imagina a mulher despida em seus braços. 110 Sentado na escada, Noel sente que chega a hora de se declarar a Fernanda, mas não sabe como. Comenta que ela sempre leu seus pensamentos e pergunta se pode sabê-los agora. Fernanda dá sua mão, Noel a abraça. Enquanto ele se segura para fazer durar o momento encantado que tantas vezes leu nos livros, ela se prepara para ampliar ainda mais suas funções maternais. 111 O palacete de Leitão Leiria está repleto de convidados. D. Dódó recebe os amigos e tenta converter uma senhora que anda envolvida com o espiritismo. Armênio procura maneiras de puxar assunto com Vera, mas ela desconversa e não vê a hora da chegada de Chinita. 112 Com o colar no bolso, Pedrinho segue ansioso pelo beco. Passa uma ambulância e as pessoas comentam que uma mulher foi esfaqueada – Pedrinho fica gelado ao pensar em Cacilda. Chegando à sua casa, no entanto, encontra-a sã e salva. 113 O velório de Maximiliano segue agitado: D. Eudóxia tenta prever qual será o próximo a morrer e fica extasiada ao saber do sumiço de João Benévolo; dois homens discutem a CAMINHOS CRUZADOS: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 39 eternidade da alma junto à janela; Fiorello fala de Mussolini, um português fala de Salazar. 114 Músicas e conversas embalam a festa de D. Dódó. Armênio não desgruda de Vera, que ainda aguarda por Chinita. Uma das Damas Piedosas lê um discurso em homenagem à aniversariante, preparado por seu marido. 115 No apartamento, Salú e Chinita abraçam-se e esquecem-se do mundo. Salú não pensa no futuro e quer apenas gozar aquele momento, por muitas vezes. Chinita confia nele como grande revelador de todos os mistérios do amor. 116 Andares abaixo, Zé Maria está estirado na cama e Nanette pergunta por seu automóvel: amanhã vai comprá-lo. Zé Maria imagina a inveja que sentiria o Madruga... 117 Continuam, na festa de D. Dódó, os discursos em defesa da sociedade, da família e da religião. Vera vai ao telefone para procurar por Chinita. 118 D. Maria Luísa atende e fala que Chinita saiu há duas horas para ir à festa. Na certa está na cama com algum homem. Assim como Zé Maria deve estar com sua amante. Lembrando-se da vida em Jacarecanga, D. Maria Luísa sente que o bilhete premiado na loteria foi a maior desgraça que ocorreu à sua família. De alguma forma, em seu íntimo, ela se sente tão desgraçada que é quase feliz. 119 Saem as últimas pessoas do velório. De manhã vão voltar com o caixão. Ao lado do corpo de Maximiliano a mulher planeja o que fará dali em diante: costurar para fora, fazer marmitas... E sente vontade de perguntar a opinião do marido, como sempre fez. CAMINHOS CRUZADOS: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 40 120 De volta da aula, o professor Clarimundo vê que é hora de começar seu romance. Põe a água para ferver, pois o café dá inspiração. Inicia o prefácio, que prefere chamar de Antelóquio, de “O Observador de Sírio”. No breve texto, define a vida como uma sequência de acontecimentos repetidos, monótonos, diferente de toda a emoção que há nas histórias dos livros. Como prova disso, aponta a rotina que vê, diariamente, da janela de sua casa: os mesmos vizinhos com os mesmos hábitos desmotivados, todos os dias. Caberá, portanto, a um observador extraterrestre expor a sua visão sobre a vida humana. A água da chaleira ferve, quase jorrando para fora, e Clarimundo corre para preparar seu café. FIM CAMINHOS CRUZADOS: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 41 QUESTÕES DE VESTIBULAR 1. (UNICAMP) “São Francisco botava o dedo nas feridas dos leprosos. Mas é que ele era um santo, fazia milagres, e ela é simplesmente Doralice Leitão Leiria, um ser humano como qualquer outro.” (Érico Veríssimo, Caminhos cruzados. São Paulo: Companhia de Bolso, 2016, p.77.) “ – Queres seguir a política? Então? Procura imitar Bismarck! Haverá padrão melhor?” (Idem, p. 290.) Os fragmentos acima captam um dos traços principais de Caminhos cruzados no que diz respeito à identidade narrativa das personagens. Considerando o conjunto do romance, tal traço consiste em uma: (A) percepção de que a necessidade de status na vida social e a produção de desejos políticos e religiosos nascem da cópia de um modelo consagrado. (B) afirmação, por meio do narrador, da necessidade de protagonistas bem construídos para o êxito da narrativa ficcional. (C) recusa dos modelos bem sucedidos na vida social, pois eles constrangem a imaginação artística e moral dos romancistas. (D) representação literária da condição humana, que não necessita de figuras imaginárias para atribuir sentido à vida religiosa e política.
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