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Capitães da Areia: Resumo por Capítulo Paráfrase da obra “Capitães da Areia” de Jorge Amado, por Bruno Alves Todos os direitos reservados. © 2012-2017 ResumoPorCapítulo.com.br contato@resumoporcapitulo.com.br http://resumoporcapitulo.com.br/ ÍNDICE PARA ENTENDER A OBRA 3 CARTAS À REDAÇÃO 3 Crianças ladronas 3 Carta do Secretário do Chefe de Polícia 4 Carta do Doutor Juiz de Menores 4 Carta de uma mãe, costureira 5 Carta do Padre José Pedro 5 Carta do Diretor do Reformatório 5 Um estabelecimento modelar… 5 SOB A LUA NUM VELHO TRAPICHE ABANDONADO 6 O trapiche 6 Noite dos Capitães da Areia 6 Ponto das Pitangueiras 9 As luzes do carrossel 10 Docas 12 Aventura de Ogum 13 Deus sorri como um negrinho 14 Família 16 Manhã como um quadro 18 Alastrim 19 Destino 21 NOITE DA GRANDE PAZ, DA GRANDE PAZ DOS TEUS OLHOS 21 Filha de bexiguento 21 Dora, Mãe 23 Dora, Irmã e Noiva 24 Reformatório 25 Orfanato 26 Noite da Grande Paz 27 Dora, Esposa 27 Como uma estrela de loira cabeleira 28 CANÇÃO DA BAHIA, CANÇÃO DA LIBERDADE 28 Vocações 28 Canção de amor da vitalina 30 Na rabada de um trem 31 Como um trapezista de circo 32 Notícias de jornal 32 Companheiros 33 Os atabaques ressoam como clarins de guerra 34 Uma pátria e uma família 35 QUESTÕES DE VESTIBULARES 36 CAPITÃES DA AREIA: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 3 3 PARA ENTENDER A OBRA Capitães da Areia foi publicado em 1937, numa época em que a questão da luta de classes, a possibilidade (ou ameaça) de uma revolução socialista tornava-se tema cotidiano. O autor Jorge Amado, defensor do comunismo, mesclou fatos e personagens reais a uma trama que relata o dia-a-dia de menores abandonados pelas ruas da Bahia. Assim construiu uma obra de literatura engajada, que expõe os contornos da sociedade, com representação de diversos de seus segmentos (pobres, ricos, clero, policia, trabalhadores...) e que sugere uma saída revolucionária, socialista, para a solução dos diversos conflitos. No entanto o livro não se limita à propaganda comunista, e esse é seu grande mérito: a profundeza psicológica dos personagens, a ironia bem-humorada na crítica à sociedade e até mesmo um enlace amoroso são ganchos que captam o interesse dos leitores em compreender e mergulhar no mundo dos Capitães da Areia. Este resumo destina-se a contar o livro em uma linguagem mais acessível e concisa, sem deixar de lado os episódios que sustentam a obra como um todo e explicando alguns pontos que podem não ficar claros apenas com a leitura do texto original. Em alguns casos, para explanações mais completas sobre fatos históricos e expressões da época, há links que podem ser acessados diretamente no texto. Caso restem dúvidas quanto à obra ou ao próprio resumo, entre em contato pelo site ResumoPorCapítulo.com.br ou envie um e-mail para contato@resumoporcapitulo.com.br. Teremos prazer em ajudar! Boa leitura! CARTAS À REDAÇÃO Cartas à Redação não é exatamente um capítulo, mas sim o título dado à primeira parte do livro, que reúne diversas cartas e publicações de um jornal. Nesta parte é feita a introdução dos personagens que mais adiante protagonizarão a história. Não pode ser confundida, no entanto, com uma mera introdução formal – que poderia ser “pulada” sem maiores problemas –, ler as Cartas à Redação é essencial para entrar na atmosfera da obra como um todo: entender a estrutura da sociedade, seus personagens e suas opiniões. Crianças ladronas O livro se inicia com a reprodução de uma reportagem do Jornal da Tarde, na página policial, relatando uma onda de assaltos causada por um bando de menores, talvez mais de cem, entre 8 e 16 anos, que se abrigam na região das praias – sendo intitulados, portanto, de “Capitães da Areia”. Haveria entre eles um líder, de apenas 14 anos, responsável por crimes graves. http://resumoporcapitulo.com.br/ mailto:contato@resumoporcapitulo.com.br CAPITÃES DA AREIA: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 4 4 O último caso foi um roubo à residência do Comendador José Ferreira: após cercarem a casa, os jovens a invadiram, assustando a mulher do comendador e sua empregada; o jardineiro ouviu gritos e armou-se com uma foice, mas os criminosos já saíam da casa carregando diversos objetos; o neto do Comendador, Raul, 11 anos, estava no jardim, quando encarou o líder do bando de ladrões, que acabou fugindo ao ver o jardineiro aproximar-se. O Jornal exige providências do Chefe de Polícia e do Juiz de Menores, para castigar os malandros e defender as distintas famílias. Intitulada “A opinião da inocência”, surge a fala do garoto Raul: o chefe dos “Capitães da Areia” conversou com ele, dizendo que ele não sabia brincar; Raul retrucou, dizendo que tinha muitos brinquedos; o assaltante riu, afirmou que ele tinha a rua e o cais; Raul acaba dizendo que gostou do rapaz, que parecia viver uma aventura, como nos filmes. O Jornal alerta, por fim, sobre a má influência do cinema na mente das crianças, que se encantam por “aventuras”. Carta do Secretário do Chefe de Polícia O Secretário do Chefe de Polícia envia uma carta ao Jornal, que é publicada na primeira página, com um clichê (foto) do Chefe de Polícia, seguida de um comentário elogioso. Na carta o Doutor Chefe de Polícia comenta os assaltos dos “Capitães da Areia”, afirmando que é necessária alguma ação por parte do Juiz de Menores, enquanto a Polícia não merece críticas, pois ela apenas cumpre ordens. Carta do Doutor Juiz de Menores O Juiz de Menores envia uma carta ao Jornal, em resposta à do Chefe de Polícia, negando que tenha fugido às suas obrigações: a ele cabe definir como os menores cumprirão pena, o que só acontece depois de feitas as prisões, uma atividade exclusiva da Polícia. Relata ainda que muitos menores são encaminhados ao Reformatório, mas de lá fogem sem um motivo claro, considerando que lá são tratados com carinho e paz. A carta também tem destaque, com um clichê (uma fotografia) do Juiz, e recebe elogios do Jornal. CAPITÃES DA AREIA: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 5 5 Carta de uma mãe, costureira Agora é a mãe de um dos garotos, Alonso, que fora internado no reformatório, quem escreve ao Jornal. A publicação, no entanto, aparece na quinta página, entre anúncios, sem qualquer comentário, sem clichê (fotografia). A carta denuncia os guardas do reformatório pelo tratamento dado aos jovens, que apanham, trabalham como escravos e são maltratados o tempo todo. Considera melhor seu filho estar com os Capitães da Areia do que internado. Sugere ainda que visitem o reformatório de surpresa, para flagrar a realidade do local. Cita o Padre José Pedro, que foi capelão de lá e também sabe de tudo o que acontece. Carta do Padre José Pedro Atendendo ao chamado da mãe de Alonso, Maria Ricardina, o Padre envia uma correspondência ao jornal reafirmando as críticas ao reformatório: espancamentos e castigos físicos geram ódio nas crianças, impedindo-as de saírem da obscuridade em que vivem. A carta aparece na terceira página, sob o título “Será verdade?”. Carta do Diretor do Reformatório O jornal recebe uma carta do Diretor do Reformatório desmentindo as acusações recebidas. Ele afirma que não havia dado atenção à carta da costureira, uma “mulherzinha do povo”, mas indignou-se com as palavras do Padre que, por sua vez, era um inimigo do seu estabelecimento, tendo feito visitas fora dos horários estabelecidos, além de incentivar os jovens a se rebelarem. Convida um repórter a visitar o local, porém, em uma data preestabelecida, segunda- feira, para “cumprir o regulamento” (ah, tá). A carta aparece na terceira página, com uma nota indicando que a visita será realizada na semana seguinte. Um estabelecimento modelar… Na primeira página do jornal surge uma matéria relatando que o Reformatórioé um local perfeito: onde as crianças se regeneram; o diretor é um amigo; e ali os Capitães da Areia deveriam ser internados. Havia diversos clichês (fotografias) do reformatório e do seu diretor. As acusações seriam mentirosas. CAPITÃES DA AREIA: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 6 6 SOB A LUA NUM VELHO TRAPICHE ABANDONADO Nesta segunda parte do livro seremos levados a mergulhar no mundo dos Capitães da Areia, em episódios que ilustram o dia-a-dia do bando, apresentando alguns de seus membros, suas histórias, suas personalidades, seus sonhos e frustrações. O trapiche Trapiche é uma espécie de ponte de madeira que vai em direção ao mar para atracar veleiros que não podem chegar muito perto da praia, devido ao risco de encalhe. Era sob um trapiche abandonado que viviam os Capitães da Areia. O mar não alcançava mais o lugar, graças ao areal formado pela construção do cais do porto, tornando-o um abrigo ideal. Antes das crianças, ratos e cachorros habitavam a região, que também compreendia um casarão onde mercadorias eram estocadas. Quando a porta do lugar cedeu, os meninos o tomaram como refúgio, levando para lá os frutos de seus furtos diários. Entre as dezenas de crianças, de 9 a 16 anos, havia o líder, chamado Pedro Bala. Tinha 15 anos, vivia como vagabundo desde os cinco, nunca soube quem era sua mãe, teve o pai morto a tiro. Conhecia a cidade inteira. Antes de Pedro Bala, o bando era comandado por Raimundo, um caboclo, mulato avermelhado, forte. No entanto, Pedro Bala se destacou assim entrou para o grupo, com características de um líder nato. Na primeira discussão com Raimundo, Pedro teve seu rosto cortado por uma navalha. Os demais garotos defenderam Pedro, por estar desarmado. Na oportunidade de uma revanche, quando Raimundo batia no Barandão, um dos negrinhos mais jovens do grupo, Pedro defendeu-o, com seus cabelos loiros, sua cicatriz vermelha no rosto e sua agilidade, e derrotou Raimundo, que abandonou o areal e embarcou num navio. Dali em diante Pedro Bala seria o principal membro dos Capitães da Areia, grupo de garotos mal vestidos, agressivos, esfomeados e mal educados, que se tornava cada vez mais conhecido pela cidade. Noite dos Capitães da Areia Iniciava-se a noite quando o negro João Grande caminhava em direção ao trapiche dos Capitães da Areia. Com treze anos, desde os nove vive com o bando. Seu pai, carroceiro, morrera atropelado por um caminhão, tragédia que levou João Grande a abandonar sua casa. O negro logo se tornou um dos líderes dos garotos, não devido à sua inteligência, mas a sua força física. Era querido por Pedro Bala. João Grande vinha CAPITÃES DA AREIA: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 7 7 da Porta do Mar, um bar onde havia se encontrado com Querido-de-Deus, famoso capoeirista que visitaria o trapiche para dar aulas a alguns meninos do bando. No trapiche, em meio às dezenas de crianças que dormiam, estava o Professor, lendo à luz de uma vela. Especializado no roubo de livros, o garoto lia-os com ânsia, acumulava-os em pilhas, sob tijolos – para evitar que ratos os roessem. Algumas vezes ele contava as histórias aos outros meninos, despertando a imaginação e livrando-os daquela realidade por instantes. João Grande aproximou-se do Professor, aguardando para que ele terminasse a leitura e lhe contasse a história. Sem-Pernas, garoto coxo (manco), era o “espião” dos Capitães: valendo-se da deficiência física convencia senhoras a abrigá-lo por uma noite, o suficiente para que tomasse conhecimento das casas que seriam futuros alvos de furtos pelo grupo de meninos. Zombador, no momento estava fazendo troça do Gato, rapaz que havia roubado um anel com a intenção de impressionar garotas – apesar de o mais velho ter dezesseis anos, os meninos já conheciam os segredos do sexo. Sem-Pernas e ele iniciavam uma briga quando Pedro Bala veio apartar, chamando-o para uma reunião. Reuniram-se, além de Pedro e Sem-Pernas, João Grande e o Professor. Planejavam as ações do dia seguinte: Gonzales, um receptor de roubos, havia encomendado um chapéu – alguns reclamaram que ele pagava mal os serviços, mas por fim aceitaram a missão. Sem-Pernas seria o responsável pelo negócio, já que Pedro Bala, João Grande e o Gato teriam a capoeira com o Querido-de-Deus. Para formar o grupo que atuaria no roubo do chapéu, Sem-Pernas foi em direção a Pirulito, garoto magro, amarelo, muito apegado à religião. Após acertarem detalhes do que fariam no dia seguinte, Pirulito foi para seu canto, onde tinha um santuário improvisado, e iniciou sua reza, de joelhos. Esse costume, inicialmente, era motivo de pilhéria dos outros meninos, mas com o tempo acostumaram-se a ele. Sua oração pedia que fosse levado para um colégio onde poderia se tornar sacerdote. Sem-Pernas ainda tinha intenção de burlar com Pirulito, mas vendo-o compenetrado em sua reza, quase em êxtase, desistiu da ideia. Geralmente Sem-Pernas não media suas brincadeiras: zombava de todos, mesmo dos líderes, mesmo de quem ele era amigo – era sua forma de amenizar o sofrimento que via em tudo. Tinha fama de malvado por algumas ações violentas, mas quem o conhecia mais a fundo o considerava um bom garoto. Nunca teve família, morava com um padeiro que sempre o surrava. Fugiu em busca da liberdade, mas sofreu na mão de soldados bêbados que se aproveitaram de seu defeito físico, prendendo-o e fazendo-o correr em círculos, numa sala, enquanto era alvo de borrachadas ao tentar descansar. Sem-Pernas chorou tanto por esse fato que suas lágrimas secaram. Conheceu os Capitães da Areia por meio do Professor, garantindo um abrigo seguro e uma utilidade para sua deficiência – quando conseguia infiltrar-se em CAPITÃES DA AREIA: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 8 8 casas de família, enganado senhoras que o recebiam por piedade. Sentia satisfação em enganar aquelas mulheres, seu verdadeiro desejo era ter uma bomba que explodisse a cidade inteira, assim teria seu ódio satisfeito. Ou talvez, se recebesse carinho e atenção de uma mãe, que o protegesse durante o sono, impedindo os pesadelos recorrentes com os guardas que o torturavam. Naquela hora Gato ainda não dormia. Garoto metido a elegante, ele foi trazido ao grupo aos treze anos, pelo Boa-Vida, rapaz que sentia atração pelo seu charme. No entanto, ao compreender suas intenções amorosas, Gato distanciou-se dele por algum tempo – ele queria mesmo era mulher. Daí que sempre saía à noite à rua das mulheres. Bem arrumado, ele chegava a ser desejado, mas ao mesmo tempo era menosprezado por não ter dinheiro para pagá-las. Às vezes era recebido por alguma mulher, só depois que ela já tinha trabalhado o bastante para garantir seu sustento do dia seguinte. Mas tinha desejo por uma em especial, Dalva, que inicialmente possuía um amante, Gastão, um flautista que a visitava todas as noites. Certa vez Gastão não apareceu, estava com outra mulher, então Dalva recebeu Gato e, surpresa com seu desempenho, passou a aceitá-lo sempre. Sem-Pernas via Gato sair para sua noitada e observava a multidão de crianças amontoadas no trapiche. Pensava nas vezes em que muitas delas morriam doentes. A liberdade que tinham era pouca coisa, comparada à desgraça em que viviam. Levantou-se o negro Barandão, dirigindo-se ao areal. Desconfiando que ele tentasse esconder algum fruto de roubo – o que era proibido pelas regras dos Capitães da Areia – Sem-Pernas o seguiu, até descobrir que ele ia se recostar num outro garoto, Almiro, de doze anos. Os meninos se acariciavam, chamando-se de “meu filhinho”. Sem-Pernas ficava angustiado, tinha vontade de fugir. Cada garoto do trapiche tinha uma forma de escapar àquela realidade: Barandão tinha Almiro, Professor tinha seus livros, Gato tinha sua mulher… Mas Sem-Pernas só tinha seus pesadelos. Pedro Bala despertou na madrugada com um barulho: umvulto se aproximava de Pirulito. Era um menino que tentava pegar alguma coisa de seu companheiro e foi surpreendido pelo líder o bando, que não tolerava roubos dentro do trapiche. Alguns acordaram com a luta dos dois, quando o menino explicava a Pedro que só queria ver uma medalha do outro rapaz. Pirulito, percebendo a situação, pediu que Pedro o deixasse. Por fim o menino contou que queria a medalha para dar a uma garota. Pirulito entregou-lhe o objeto, pedindo apenas que não contasse isso a Pedro Bala. Volta Seca entrou no trapiche. Vindo da caatinga, ainda tinha o costume de calçar alpercatas (calçados simples, com tiras de couro). Trouxe um jornal para que o Professor lesse. Era uma notícia de Lampião e seu bando, bem sucedido em mais um CAPITÃES DA AREIA: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 9 9 ataque. Ao final, com um sorriso no rosto, levou consigo o jornal, de onde iria recortar o retrato de seu herói. Ponto das Pitangueiras Pedro Bala, Gato e João Grande foram ao encontro do Querido-de-Deus para a aula de capoeira, num terreno próximo ao bar Porta do Mar. No fim do treino foram ao salão beber e jogar cartas, aguardando um homem que queria encomendar algum serviço. Nesse meio tempo os garotos ganharam certo dinheiro com trapaças do Gato no jogo de cartas. Enganaram uma dupla de marinheiros que imaginava que seria fácil derrotar aqueles meninos. O homem esperado não apareceu. Os garotos já iam embora quando um intermediário, que havia feito o contato inicial com Querido-de-Deus, apareceu no bar e explicou que deveriam se encontrar mais tarde com seu patrão. Questionado se aquelas crianças dariam conta do serviço, Querido-de-Deus garantiu que sim, e foi embora para seu barco. Os três garotos foram ao trapiche, que estava vazio. Sem-Pernas ainda não havia voltado do trabalho atrás do chapéu, as demais crianças deviam estar à procura do jantar. Os três foram a um restaurante gastar o dinheiro ganho no baralho. O garçom sabia da fama do grupo e insinuou que não os receberia, mas os atendeu assim que viu o dinheiro na mão do Gato. Após jantarem, iriam ao Ponto das Pitangueiras encontrarem com o homem. Antes, Gato foi até a Dalva avisar que não apareceria naquela noite. Joel, o tal homem, logo apareceu e os levou para sua casa, desconfiando um pouco da capacidade dos Capitães para a tarefa. Explicou que precisava trocar um embrulho que estava na casa de um vizinho, provavelmente sob a guarda de um criado, antes que o patrão voltasse à residência. Os garotos logo imaginaram que se tratasse de um caso de traição entre Joel e a mulher do tal vizinho, no embrulho do criado deviam estar as cartas que provavam o romance. Acertaram as contas do trabalho, recebendo parte adiantada e garantindo que caso fossem pegos não denunciariam o contratante. Os garotos foram ágeis: chegaram à casa, distraíram o cachorro; Pedro Bala e João Grande entraram à procura do embrulho no quarto do empregado, mas não o encontraram; foram à cozinha e lá estava, sob as pernas do criado; Pedro pediu a João que fosse até o portão e tocasse a campainha, distraindo o mordomo; assim foi, e o embrulho estava trocado. CAPITÃES DA AREIA: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 10 10 Pedro pulou o muro para fora e assobiou, chamando seus companheiros, mas só Gato apareceu. Temeram que o Grande tivesse sido pego, mas ele logo surgiu: ao tocar a campainha percebeu que a mulher da casa estava assustada, na janela do seu quarto, e foi até lá para consolá-la, avisando que já haviam recuperado o embrulho. Gato fez troça da situação, perguntando se a dama “era boa”. Saíram os três rindo da cara do homem que descobriria que o conteúdo do pacote não era o esperado. As luzes do carrossel Grande Japonês era o nome de um antigo e desgastado carrossel que passava pela cidade. Nhozinho França, seu dono, contava sua história para os meninos Volta Seca e Sem-Pernas: além do carrossel, possuía uma roda-gigante e uma sombrinha, que ficavam em uma praça na área nobre da cidade, só recebendo famílias endinheiradas; com o tempo, porém, o gosto pela bebida fez com que ele se endividasse, perdendo a roda-gigante, a sombrinha e seus clientes; começou a andar pelo interior do estado só com o carrossel, atendendo um público mais pobre, apenas cobrindo seus custos e sua bebida; certa vez foi a salvação de uma cidadezinha que era invadida por Lampião: ele e seu bando se encantaram pelo brinquedo, deram muitas voltas, e acabaram por não atacar os moradores. Entusiasmados pelas histórias, os garotos não hesitaram em aceitar uma proposta do Nhozinho França: trabalhariam para ele enquanto o Grande Japonês estivesse na cidade, vendendo ingressos, cuidando do maquinário e da pianola, recebendo pagamento conforme houvesse público. Os meninos nunca haviam tido a chance de estar num carrossel. Sem-Pernas, certa vez, conseguiu dinheiro para ir a um Parque de Diversões, mas foi barrado por estar vestindo farrapos; com raiva, meteu a mão na bilheteria do parque e saiu correndo, sendo chamado de ladrão; saiu com cinco vezes o valor que tinha ao entrar, no entanto preferia ter conseguido andar no carrossel. Agora, com a oportunidade que tinha, Sem-Pernas não via Nhozinho França apenas como um homem bêbado, mas como um ídolo, um salvador. Quando Sem-Pernas contou a novidade aos garotos do trapiche, muitos duvidaram, até que Volta Seca, enquanto mexia com seu revólver, furtado de uma casa de armas, confirmou, contando ainda sobre a aventura de Lampião no brinquedo. Os garotos sentiram inveja da alegria dos dois, que trabalhariam no carrossel. Depois de ajudarem a armar o Grande Japonês, ficou combinado que uma noite levariam todos os meninos do trapiche para brincar. Quando chegava a noite, Volta Seca ficava à frente do carrossel, imitando animais, chamando o público e vendendo entradas; Sem-Pernas aprendeu a lidar com as CAPITÃES DA AREIA: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 11 11 máquinas e cuidava para que nenhuma criança ficasse mais tempo que o devido no brinquedo. Certa hora Nhozinho França mandou Volta Seca brincar enquanto Sem-Pernas cuidava da entrada. O menino subiu no cavalo que outrora fora de Lampião, imaginando-se com arma em punho, atirando em policiais e fazendeiros, seus inimigos. Depois foi a vez do Sem-Pernas, que via aquele momento como sagrado, experimentava o que só as crianças que tinham família, casa e carinho podiam ter, sem medo de soldados que poderiam surrá-lo. No trapiche havia ansiedade pela visita ao carrossel quando, numa tarde de domingo, receberam a visita do Padre José Pedro. O Padre tornou-se amigo dos Capitães da Areia por meio de Boa-Vida, que certo dia estava na igreja, prestes a roubar um relicário dourado. Boa-Vida não era muito engajado nos roubos do bando, mas de vez em quando conseguia algo que entregava a Pedro Bala, como pagamento pela estadia no trapiche; ele gostava mesmo era da liberdade, de andar pela cidade, pelas praças, conhecer as pessoas. Tal abertura permitiu que o Padre entrasse em contato com os meninos. José Pedro era um padre diferente: entrou para o seminário já mais velho; nunca conseguiu ser bom aluno, apesar de sua grande devoção; seu grande objetivo era trabalhar com a catequização de índios ou crianças – por isso se interessava nos Capitães da Areia. Desapontado com o reformatório da cidade, onde já havia arranjado problemas por denunciá-lo ao jornal, imaginava resgatar os meninos e entregá-los aos cuidados das beatas que frequentavam a Igreja, mas percebeu que isso também não daria certo, já que o maior interesse das senhoras era apenas bajular os membros do clero. Chegou a demonstrar insatisfação com o comportamento dessas mulheres, criando inimizade com algumas delas. Além disso, uma experiência havia mostrado que os meninos de rua gostavam daliberdade que tinham, e não abririam mão dela em troca de uma vida regrada, cheia de obrigações religiosas. A relação com os Capitães da Areia deu-se com facilidade, já que o Padre José Pedro conversava com eles de forma natural, como homens, como amigos. Apensar de não ter grandes devotos entre os garotos – com exceção a Pirulito – ele tinha o respeito de todos. Naquela tarde o Padre foi ao trapiche fazer um convite: tinha dinheiro para levar todos os garotos ao carrossel e esperava uma grande comoção das crianças, mas não teve a reação esperada. Encabulados, os meninos explicaram que Volta Seca e Sem-Pernas estavam trabalhando no brinquedo, e os levariam de graça à noite. O Padre ficou envergonhado, pensando aquilo ser um sinal divino do pecado que havia cometido: o CAPITÃES DA AREIA: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 12 12 dinheiro era da Igreja, parte do que foi dado por uma senhora para comprar velas. Percebendo o constrangimento os meninos o apoiaram, dizendo que compreendiam a boa intenção dele. Convidaram-no para ir ao carrossel, de qualquer jeito. Na praça os garotos admiravam a beleza do Grande Japonês. O Professor, com giz e uma tampa de caixa, iniciou um desenho de Volta Seca vestido de cangaceiro – ele tinha certa habilidade nesta arte, que também lhe rendia algum dinheiro, dado pelas pessoas que passeavam – elas ainda lamentavam que as crianças de rua não tivessem apoio do governo para explorar suas capacidades artísticas. Certa hora surgiu uma senhora junto ao Padre, exclamando descontentamento por vê-lo em meio àquelas crianças maltrapilhas. José Pedro tentou argumentar, lembrando o amor de Jesus pelos pequenos, mas a senhora insistia que eles não eram crianças, e sim ladrões, ameaçando o Padre por seu comportamento. À noite, após uma chuva que dispersou a multidão, Sem-Pernas ligou o carrossel e os Capitães da Areia puderam experimentar a alegria que antes lhes era impossível. Por instantes esqueceram-se de que não tinham família, dinheiro, que eram vistos como meros ladrões… Eram, mais do que nunca, crianças sob o brilho das luzes do Grande Carrossel Japonês. Docas Pedro Bala, Boa-Vida e Pirulito esperavam o retorno do saveiro do capoeirista Querido- de-Deus, que estava numa pescaria. Andando pelas docas, Pedro Bala confidenciava a Boa-Vida que gostaria de trabalhar em navios, enquanto Boa-Vida não queria deixar a cidade – onde tinha uma vida de malandro garantida. João de Adão, velho estivador negro conhecido por sua participação em greves, chamou os dois garotos para conversar. Havia num canto uma negra velha, Luisa, vendendo cocadas e laranjas, com quem Boa-Vida brincou, avaliando seus peitos. Durante a conversa eles lembravam-se das primeiras greves, lideradas por Raimundo, “Loiro”, pai de Pedro Bala, que de sua família pouco sabia. João de Adão prometeu ao garoto que, quando ele quisesse, teria trabalho garantido nas docas, em memória de seu pai, que havia morrido lutando pelo direito dos estivadores. O menino se orgulhava em saber que seu pai havia deixado uma história. Luisa lembrou-se também da mãe de Pedro Bala, uma mulher da cidade alta (rica), fugida de sua casa com Raimundo, morreu quando ele tinha menos de seis meses. Chegou um navio e todos os estivadores começaram a trabalhar. Pedro Bala observava a movimentação e se imaginava liderando greves, como seu pai. Luisa observou que CAPITÃES DA AREIA: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 13 13 Pedro parecia-se muito com Raimundo. Em instantes chegou Querido-de-Deus, que logo vendeu sua pescaria. Após o jantar, Pirulito foi encontrar Padre Pedro. Os demais foram ao terreiro de candomblé, onde surgiu o orixá Omolu, cantando sobre a miséria dos pobres, prometendo que mais cedo ou mais tarde ela teria um fim. Pedro Bala voltava sozinho ao areal, pensando em seu pai, nas greves, na mensagem de Omolu, até que cruzou seu caminho uma negrinha jovem, que despertou um desejo no chefe dos Capitães da Areia. Pedro a perseguiu, até alcançá-la, tentando abrir suas pernas e enfrentando resistência da menina, que se dizia donzela. O garoto propôs que só entrasse “por trás”, para preservar sua virgindade, o que foi aceito. No entanto o menino precipitou-se e quase tirou a honra da garota, que quis escapar. Por fim, Pedro acompanhou a menina, de mãos dadas, para defendê-la de outros marginais, e pediu que ela voltasse outras vezes. A garota chorava. Quando se distanciou de Pedro Bala, ela rogou pragas ao menino. Ele seguiu pelas areias da praia sentindo desespero por sua realidade, sentindo raiva da cidade rica, e sentindo pena da menina que, afinal de contas, também era apenas uma criança, como ele. Aventura de Ogum Don’Aninha era uma mãe-de-Santo amiga dos Capitães da Areia, ajudando-os a curar doenças, ou mesmo com uma palavra amiga, assim como fazia com todos os pobres da Bahia. Os garotos tinham para com ela o mesmo respeito que tinham com o Padre José Pedro. Numa noite de inverno o céu se agitava: “Ogum se revoltava”, dizia Don’Aninha. A polícia havia apreendido um Ogum que estava no altar de um terreiro. Agora ela pedia ajuda aos Capitães da Areia para resgatar a imagem, que era guardada numa sala da delegacia. Antes Aninha havia falado com um professor da faculdade, estudioso do candomblé, mas ele estava mais interessado em ter a imagem em sua coleção pessoal do que em ajudar o terreiro. Os pobres eram impedidos até mesmo de ter sua fé, de cantar para seus deuses, era o que dizia a mãe-de-Santo, convencendo Pedro Bala a cumprir a arriscada tarefa. Padre José Pedro falava em uma justiça divina, no reino dos céus, onde todos seriam iguais, mas o líder dos Capitães não acreditava que isso compensasse a injustiça que acontecia em terra, e precisava fazer sua parte. CAPITÃES DA AREIA: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 14 14 Sem-Pernas e João Grande não acreditavam que seria possível recuperar o Ogum da delegacia, mas Pedro Bala, que havia dado sua palavra, fez um plano rápido e saiu para cumpri-lo. A noite de tempestade fazia os garotos se amontoarem contra o frio. Alguns tinham paletós e sobretudos, como o Professor. Certo dia ele desenhava na calçada um homem que trajava um grande sobretudo, mas o homem não gostou do desenho e chutou o garoto. Revoltado, o Professor o perseguiu e, após cortar sua mão com uma navalha, roubou-lhe o sobretudo. Anos depois, quando ele fosse um pintor admirado pelo país, sempre retrataria os homens ricos, gordos, com seus grandes sobretudos. Pedro Bala se dirigia para frente da Central de Polícia, chamando um guarda e pedindo que o deixasse dormir na delegacia, pois estava perdido de seu pai. Sem reconhecê-lo como o líder dos Capitães, o guarda apenas o mandou embora. Pedro saiu com cara de choro, em direção ao ponto do bonde, onde desembarcou um casal. O garoto ameaçou roubar a mulher, chamando a atenção do guarda que o levou, enfim, para dentro da delegacia. Lá ele já avistou a imagem de Ogum, guardada num armário, na sala onde outros marginais esperavam para conversar com o comissário. Embrulhou o Ogum em seu paletó e o fez de travesseiro. Durante a noite Pedro Bala foi chamado ao comissário, que desconfiou de sua história: ele seria filho de um pescador que não voltou do mar durante a tempestade daquela noite e fingiu roubar o casal que saía do bonde apenas para que fosse abrigado na delegacia. Para convencer o policial, Pedro informou o nome de um verdadeiro saveirista (pescador), que ele conhecia. O comissário confirmou a identidade do suposto pai do garoto e o liberou. Ninguém notou quando Pedro Bala levou Ogum consigo, enrolado em seu paletó. Nas ruas da Bahia, Pedro cruzou com João Grande, Gato e o Professor, que estavam à sua procura. Pedro Bala admitiu que teve muito medo de ser descoberto, mas o importante era que agorao céu se abria e o sol brilhava novamente, Ogum estava livre. Deus sorri como um negrinho Numa tarde de inverno, sob um sol suave, Pirulito admirava a cidade. Havia comido os restos de um banquete que havia sido servido na casa de um português rico. O dia estava lindo. Caminhava e pensava na promessa do Padre José Pedro, de colocá-lo no seminário. Pirulito pensava em como Deus era bom, por um lado, com tantas coisas bonitas que proporcionava aos homens. Por outro lado temia o Deus vingativo que era professado por um frade alemão, que descrevia o inferno e todo sofrimento destinado aos que pecassem. O menino confundia-se entre os deuses que lhe apresentavam, ainda mais CAPITÃES DA AREIA: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 15 15 quando pensava na realidade dos Capitães da Areia, todos destinados ao inferno, ao que parecia. O próprio Padre José Pedro titubeava na defesa de seu Deus bondoso e justo: às vezes cedia ao pensamento de João de Adão, que culpava a sociedade, principalmente os ricos, pela miséria enfrentada pelos garotos de rua. Porém, por fim, o padre mantinha sua fé em um Deus que ajustaria as coisas. Crente que os pecados seriam perdoados, Padre José Pedro já havia atingido um importante objetivo com os Capitães da Areia: havia eliminado a pederastia entre os garotos. Convencido de que aquelas atitudes eram indignas de homens, Pedro Bala expulsou todos os passivos entre os meninos. O padre arrependeu-se da atitude drástica, pediu que fosse tentada uma conciliação, mas Pedro foi irredutível, pois “se eles voltassem, a safadeza voltaria”. João de Adão zombava das tentativas do Padre, dizia que tudo só se resolveria com uma revolução, que enquanto os ricos existissem, eles sempre desejariam a prisão e a desgraça daquelas crianças abandonadas. Entre todos os garotos, Pirulito era a maior vitória do Padre: conhecido inicialmente por seus hábitos violentos, o menino aprendeu sobre o céu, Deus, Cristo, sobre bondade, e aos poucos abriu mão de suas armas. Tinha seu santuário, com imagens dadas pelo padre, onde se ajoelhava, rezava, jejuava. Afastava-se das negrinhas que mostravam suas nádegas, pois sabia que aquilo o distanciaria de Deus, reacendendo o temor do Deus vingativo. Entre o temor do Deus vingativo e o amor do Deus bondoso, Pirulito se dividia ao observar numa loja uma imagem da Conceição com o Menino Jesus no colo: magro, pobre, sofrendo – diferente da maioria das esculturas, que mostravam um bebê gordo, coberto com um tecido caro. A feiura da imagem talvez fizesse com que ela nunca fosse vendida, e Pirulito a queria para si, mas não tinha dinheiro. O menino pensava em furtar a imagem e idolatrá-la, mas isso poderia ser um pecado. O garoto lembra que certa vez um bebê de verdade, muito parecido com o da imagem, estava abandonado e foi levado ao trapiche pelo João Grande e cuidado pelo Professor, até que Don’Aninha o abrigasse. Pirulito volta a pensar em roubar o Menino Jesus da escultura e lembra que só seu pensamento já é um pecado, que seria cobrado pelo Deus vingativo, que o inferno lhe seria destinado. Mas acaba atraído pela imagem do bebê, imagina a adoração que ele pode lhe dar: o agarra e o leva encostado junto ao peito, o Menino Jesus sorria. CAPITÃES DA AREIA: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 16 16 Família Boa-Vida e Pedro Bala foram observar uma casa rica, onde sabiam que só vivia um casal de velhos, para planejar um furto. Lá encontram uma empregada da casa, uma linda moça, para quem pedem água. Pedro Bala dá uma cantada na jovem, marcando um encontro para mais tarde. No dia seguinte o Sem-Pernas vai à mesma casa para tentar se infiltrar e conhecer o ambiente. A empregada não atendeu a campainha, provavelmente distraída lembrando- se da noite que passara com Pedro Bala. Surgiu uma senhora grisalha, dona da casa, para quem Sem-Pernas fez seu teatro de costume: disse ser um menino aleijado que havia perdido seus pais, que queria trabalhar, mas não podia, por causa de seu defeito nas pernas. A senhora, chamada Ester, encantou-se com o menino: era muito parecido com um filho seu, que morreu quando ainda era criança. Ela ofereceu um banho e um almoço para o Sem-Pernas que, num golpe de sorte, apresentou-se como Augusto, mesmo nome do finado filho. Dona Ester estava comovida, ela se lembrava de seu Augusto brincando no jardim, aprendendo a ler, e morrendo repentinamente, com uma febre inexplicável. Tomou coragem e ofereceu as roupinhas de marinheiro de seu filho para o garoto. Sem-Pernas, bem-vestido, cheiroso, com cabelos arrumados, mal se reconhecia no espelho. Em seguida teve o melhor almoço de sua vida e foi orientado por dona Ester a ir ao jardim brincar com o gato, chamado Berloque, que tomava sol. Lá retirou seu maço de cigarros do bolso, procurando um lugar para fumar escondido, enquanto pensava na vida que poderia ter. Ele havia feito aquilo várias vezes, mas nunca havia recebido tanta atenção. Geralmente os donos das casas davam alimento e abrigo apenas como se fosse uma penosa obrigação, o que fazia Sem-Pernas ter gosto em enganá-los e em imaginar seu desespero depois de consumado o furto. Mas agora sentia que dona Ester realmente o queria bem, e isso o assusta: ele não quer abrir mão do ódio que sente por todos, desde os soldados que o espancaram, até os ricos que o desprezam. Ele quer ser logo mandado embora dali para poder orientar os Capitães da Areia no roubo da casa. À tarde chegou o marido de dona Ester, Raul, um advogado bem-sucedido. Sua mulher lhe apresentou o garoto e o dono da casa o aprovou: falou que ele nunca mais passaria fome e que mais tarde iriam ao cinema, ele e sua mulher fariam dele um homem! Durante a noite, no cinema e no automóvel em que voltavam para a casa, Sem-Pernas se controlava para comportar-se bem, não falar palavrões, resistir a pedir uma cerveja, no lugar do sorvete que Raul lhe oferece. Dona Ester o leva para dormir num quarto em cima da garagem, prometendo que em alguns dias ele ficará no quarto que era de seu filho, e despede-se com um beijo de mãe. Naquela noite Sem-Pernas teve seu CAPITÃES DA AREIA: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 17 17 costumeiro sonho com guardas que o espancavam interrompido pela chegada de dona Ester, fazendo com que os soldados morressem de repente. No trapiche passaram-se oito dias sem novidades do Sem-Pernas. Pedro Bala visitava a casa com frequência, para conversar com a criada, querendo entender o porquê da demora de seu companheiro. Certo dia o viu no jardim, bem vestido, observando um livro de figuras. Conseguiu chamá-lo e perguntar o que acontecia. Sem-Pernas inventou uma desculpa, que os bens mais caros da casa estavam trancados. Pedro contou que nesse tempo um dos garotos, chamado Gringo, havia quase morrido de doença, e pediu que ele se apressasse. Após seu chefe sair, Sem-Pernas ficou pensando em seus colegas do trapiche, passando fome, sozinhos, enquanto ele recebia atenção e alimento. Sentiu-se um traidor, como um homem que certa vez furou a greve organizada pelo João de Adão e ficou do lado dos patrões. E seria a pior traição, iria se transformar num menino mimado, que tanto era motivo de chacota dos Capitães da Areia. Não, ele não queria se tornar um traidor. Por outro lado havia uma lei dos Capitães que dizia que o bem devia ser pago com o bem. E dona Ester o beijava e o chamava de filho, ela fazia o bem, não poderia receber o mal em troca. Confuso, Sem-Pernas começou a chorar, e dona Ester, que o observava, aproximou-se, pensando que ele chorava pela sua suposta mãe falecida. Ele abraçou-a, soluçava, como se o choro fosse um pedido de desculpa pelo mal que faria a ela. Certo dia Raul estaria numa viagem ao Rio de Janeiro, era a melhor oportunidade para o assalto. Sem-Pernas foi até Ester, dizendo que iria passear no CampoGrande. A senhora prometeu que Raul traria uma bicicleta de sua viagem, para ajudar em seus passeios. Pela primeira vez o garoto a beijou e a agradeceu por tudo, indo embora para não mais voltar. Naquela noite Sem-Pernas foi rodeado pelos seus colegas, encantados por suas vestimentas, mas ele irritou-se e assim que pode ofereceu trocar de roupas com o Gato. Pedro Bala logo chegou com os frutos do roubo, um dos mais fáceis já realizados: ninguém na casa notou a invasão, talvez nem dessem falta dos objetos no dia seguinte. Sem-Pernas voltou aos seus pesadelos, com guardas o espancando, agora sob os olhares de dona Ester, dizendo que ele não era mais seu filho, e sim um ladrão. No dia seguinte Pedro Bala ofereceu ao Sem-Pernas parte do dinheiro que conseguiu com as peças roubadas, mas ele recusou. O Professor veio com o jornal, que continha uma notícia da busca pelo menino “Augusto”, que teria se perdido na cidade – o furto nem havia sido notado. Uns garotos zombaram de Sem-Pernas, por ele ter se tornado um menino de família, deixando-o enfurecido. Pedro Bala tentou acalmá-lo, dizendo que talvez não descobrissem o roubo, mas Sem-Pernas sabia que descobririam assim que Raul chegasse. Ele chorava e soluçava, os meninos não entendiam o problema, CAPITÃES DA AREIA: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 18 18 exceto Pedro e o Professor, que, porém, nada podiam fazer, e puxavam conversa sobre outros assuntos, distraindo o garoto que sentia saudade do futuro perdido. Manhã como um quadro Pedro Bala e o Professor caminham pelas ladeiras da Bahia, apreciam o colorido dos casarões, observam os fiéis indo à igreja, moças se debruçando nas janelas, que estão enfeitadas com flores, tudo banhado pelo sol abundante. A cidade parece em festa e os garotos são entusiasmados por essa alegria. Apesar das poucas moedas nos bolsos e dos farrapos que vestem, sentem uma liberdade que parece ser a melhor coisa do mundo e caminham juntos, rindo de tudo. Animado com tanta beleza, Pedro sugere que o Professor faça uma pintura do lugar, mas ele se retrai: quando for desenhar a cidade, não será uma visão alegre. Pedro Bala não compreende, pois só vê colorido e beleza, mas o Professor explica que ali também existem tristeza e fome, e Pedro concorda, lembrando-se das greves de João de Adão, da esperança de um dia os pobres deixarem a pobreza. Essa tristeza que acaba saindo nas pinturas do Professor, ele acredita, não existiria caso ele aprendesse a desenhar numa escola, aí sim tudo sairia alegre. Pedro Bala pergunta se ele já procurou a Escola de Belas-Artes, e ele responde que sim, mas o custo é muito caro, impossível de eles pagarem. Para animá-lo, Pedro diz que os desenhos dele são muito melhores que os dos alunos da escola, mesmo sem estudos, e que um dia ele vai expor sua arte. Um homem tocava seu violão e rapidamente ficou cercado de pessoas que cantavam com ele, inclusive os meninos do trapiche. Após o fim da canção ele se retirou, o Professor sentou-se na calçada, pegou um giz de seu bolso e iniciou o desenho de pessoas que passavam por ali e o agradeciam com alguns trocados. Vinha na direção dos garotos um senhor de chapéu, com um livro numa mão e uma piteira de cigarro na outra. Professor iniciou seu desenho, colocando-o sentado, lendo seu livro. O homem encantou-se pela obra, perguntou onde ele aprendera a desenhar e chegou à conclusão que estava diante de um grande prodígio das artes. Ofereceu seu cartão, com seu endereço, para que o Professor o procurasse, ele talvez o pudesse ajudar. Além disso, deu-lhe a bela piteira, ao perceber o interesse do menino nela. Rapidamente os garotos saíram correndo: era um guarda que vinha na direção deles e perguntou ao senhor se ele havia sido roubado. Sem compreender muito bem o que aconteceu, o homem negou, exaltando ainda a qualidade de artista das crianças. O guarda retrucou, dizendo que eles eram ladrões, os famosos Capitães da Areia. O senhor saiu indignado com o desperdício que se faz de grandes artistas como aqueles meninos. CAPITÃES DA AREIA: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 19 19 Longe do guarda, Pedro e o Professor foram almoçar os restos de comida de um restaurante chique. Antes de usar sua piteira, o Professor a limpou com o cartão que recebeu do homem, e o jogou fora. Pedro Bala perguntou se não era melhor guardá-lo, para ir à casa daquele senhor, quem sabe ele o ajudara a ser um pintor? Professor fez pouco caso e argumentou, com um desânimo que se transformava em ódio: do meio deles só podia sair ladrão, só ladrão! Ambos não riam mais, estavam tristes em meio à alegria da manhã ensolarada da Bahia, que parecia um quadro. Agora eles só enxergavam operários indo ao trabalho. Alastrim A cidade sofreu uma epidemia de varíola, popularmente chamada de bexiga negra, devido às marcas que ficam na pele do infectado. Na parte alta da cidade os ricos foram vacinados. A doença desceu para os pobres, mas na sua forma mais branda, conhecida como bexiga branca, ou alastrim. Na cidade dos pobres a varíola era relacionada ao orixá Omolu, deus africano das doenças contagiosas. Ele teria mandado a doença aos ricos, mas eles se protegeram com as vacinas, que Omolu não conhecia, e agora os pobres eram castigados. Homens da Saúde Pública carregavam os doentes em sacos, que eram enviados aos lazaretos, hospitais de quarentena, onde não recebiam qualquer visita e de onde muitos poucos voltavam vivos. Entre os Capitães da Areia, Almiro foi o primeiro atingido pelo alastrim. Certa noite o negro Barandão o procurou para fazer amor – apesar de proibido por Pedro Bala – e descobriu que seu companheiro tinha febre e bolhas pelo corpo, avisando logo a todos. Sem-Pernas era o único dos líderes do bando presente no momento. Sabendo do caso, imediatamente ordenou que o doente se retirasse, para que não infectasse os outros e porque os homens da Saúde não podiam entrar no trapiche, senão o esconderijo seria descoberto. Almiro se recusava a ir embora; Pirulito unia alguns meninos numa oração, pois acreditava que a doença era uma punição divina pela pederastia no grupo; Sem-Pernas, que ultimamente estava recluso e agressivo com todos, só cuidava de um cachorro que lhe fazia companhia, decide expulsar à força o garoto doente. Almiro, no entanto, apela dizendo que é do grupo, não merecia ser tratado assim. Ouvindo este argumento, Volta- Seca se manifesta, salta entre Sem-Pernas e Almiro, com seu revólver na mão, pedindo que aguardassem o retorno do chefe do bando. Pirulito saiu correndo, à procura do Padre José Pedro, para que os ajudassem. Pedro Bala chegou acompanhado do Professor e João Grande. Ao saber do que aconteceu, agradece ao Volta-Seca, dizendo que ele fez correto em proteger Almiro, e CAPITÃES DA AREIA: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 20 20 dá uma dura em Sem-Pernas, dizendo que ele não é o chefe dos Capitães para expulsar alguém. Professor observa que os ferimentos do garoto indicam apenas alastrim, não era bexiga negra. Padre José Pedro, trazido por Pirulito, diz que mesmo assim ele deve ser levado para a assistência, para proteger os demais. Pedro Bala não autoriza, pois sabe que todos que vão para o lazareto morrem, e, se fosse o caso, seria melhor que o doente morresse ali, com eles. Após muita discussão, João Grande lembrou que Almiro tinha família, poderia ser levado para sua casa e lá um médico poderia visitá-lo. Isto foi feito. Padre José Pedro levou um médico para consultá-lo, mas este tal médico chamou a saúde pública: Almiro acabou indo ao lazareto, onde morreu, e o Padre foi denunciado como encobridor do caso (o médico era da religião espírita). José Pedro foi chamado para falar com o Cônego Secretário do Arcebispado. Inicialmente pensou que tivesse enfim ganho sua paróquia, mas depois concluiu que deveria receberuma punição, por sua relação com os Capitães da Areia. E realmente foi o que aconteceu: o Padre se juntava às crianças, recebia reclamações vindas das senhoras que mais contribuíam com a Igreja e agora quis esconder um caso de alastrim das autoridades, o Cônego precisava colocá-lo em seu lugar: José Pedro não tinha inteligência suficiente para entender os desígnios divinos, por isso nunca foi um destaque no seminário, por isso não podia afrontar seus superiores. Mesmo ouvindo tudo isso, ele ainda tentou argumentar, alegando que precisava salvar aquelas pobres crianças que não tinham nenhum amparo, que havia um que até queria ser padre. O Cônego acusou-o de comunismo e pediu que se retirasse e se redimisse de seus pecados, pois do contrário não conseguiria sua paróquia tão cedo. O Padre saiu confuso pelas ruas da cidade: por um lado ele queria respeitar o Cônego, pois sabia que era um homem muito inteligente e, portanto, muito próximo de Deus – era o que aprendera no seminário; por outro lado sentia que devia ajudar os meninos, os humildes. Por fim decide continuar a defender os mais fracos, ajoelha-se e ergue as mãos ao céu, agradecendo ao Deus bondoso em que acredita. Mas ele está no meio da rua, muitas pessoas apontam e riem do padre, que dizem estar bêbado. Agora era Boa-Vida que estava infectado pela bexiga. Ele avisa o Professor, dizendo que vai por conta própria ao lazareto, para proteger os seus colegas da doença. Pede que só Pedro Bala saiba do seu caso. O Professor vê Boa-Vida indo embora, em direção à própria morte, e conclui que ele é um grande homem, dos que têm uma estrela no lugar do coração. Querido-de-Deus diz que a estrela destes homens, quando morrem, passa a brilhar no céu. CAPITÃES DA AREIA: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 21 21 Os casos de varíola diminuíam. Omolu deixou apenas o alastrim chegar aos pobres, mas o lazareto fazia com que muitos morressem. As macumbas pediam que Omolu deixasse a cidade, ele atendeu ao pedido. Boa-Vida voltou ao trapiche, magro, fraco, mas curado da doença. Os garotos perguntaram a ele como era o lazareto, ele preferia não lembrar, só dizia que era como entrar num caixão para aguardar o enterro. Professor ainda enxergava em seu peito uma brilhante estrela. Destino Os líderes dos Capitães da Areia se reuniam na Porta do Mar, onde esperavam por Querido-de-Deus. O bar tinha todas as mesas ocupadas, o que não acontecia desde a passagem da varíola pela cidade. Os homens comentavam as mortes, ocorridas principalmente com os mais pobres. Um velho disse que tudo aquilo era destino, coisa de Deus, que ninguém podia mudar. João de Adão, o líder grevista, se opôs: um dia a gente muda o destino dos pobres! O velho insistiu que não havia o que fazer. João Grande e Boa-Vida concordavam com o velho, mas Professor e Pedro Bala tinham fé nas palavras de João de Adão. Pedro interveio: um dia a gente muda… O velho questionou como “um frangote” podia saber disso. João de Adão revelou que ele era o filho do Loiro, que morreu durante uma greve para tentar mudar o destino de todos. O velho aquietou-se em respeito ao menino. O clima de confiança tomou conta do lugar. NOITE DA GRANDE PAZ, DA GRANDE PAZ DOS TEUS OLHOS Agora que já conhecemos bem o dia-a-dia dos Capitães da Areia, a terceira parte do livro dará espaço a uma nova personagem, feminina, que trará clima de romance à trama. Será contada a história da garota Dora, seu relacionamento com os garotos do trapiche, até seu emocionante desfecho. Quem resiste a uma aventura romântica? Filha de bexiguento Durante certo tempo o morro foi um lugar de silêncio, choro e lamentações. Caixões saíam das casas, doentes eram levados em sacos para o lazareto. Entre eles estava Estevão, que acabou morrendo por lá. Sua mulher, Margarida, também foi atingida pela doença, mas escondeu-se para não ter o mesmo destino do marido. CAPITÃES DA AREIA: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 22 22 A música e animação já voltavam às ruas quando Margarida sentiu-se melhor e foi em busca de suas freguesas para lavar roupas, pois ela precisava sustentar seu filho, Zé Fuinha, com apenas seis anos, e Dora, próxima dos quatorze anos de idade. Margarida trabalhou o dia todo e no dia seguinte teve uma recaída. Foi dela o último caixão a descer o morro por causa da bexiga. Dora, que havia cuidado de sua mãe durante a doença, chorava, pensando ainda em como cuidaria de seu irmão. Os vizinhos ofereceram comida e discutiam o que fariam dos pequenos órfãos. Dora não quis esperar por ajuda e saiu com seu irmão para a cidade: lá ela poderia arranjar trabalho numa casa de família, sabia de clientes da mãe dela que estavam interessadas em uma ajudante – ainda mais uma garota jovem, para quem poderiam pagar um salário menor. Dora deixou seu irmão próximo a uma padaria, comendo um pão adormecido que conseguiu comprar, enquanto ela ia procurar a casa da freguesa de sua mãe. A empregada da tal casa atendeu Dora desconfiada, mas havia um jovem, dezessete anos, brincando no jardim, que se interessou pelos seios e coxas da menina, ordenando a empregada a chamar sua mãe. Dona Laura chegou perguntando o que acontecera com Margarida. Ao saber que a mãe havia morrido de bexiga, dispensou a garota, ainda oferecendo dinheiro para que se fosse rapidamente: não se podia brincar com a varíola. O rapaz lamentava não poder ter aquela menina como empregada, pois tinha uns bons peitos. Dora e Zé Fuinha passaram o dia andando em busca de uma casa para trabalhar, mas todas os recusavam devido à doença da mãe deles. O dinheiro que Dona Laura lhes deu durou até o fim do dia, quando Zé Fuinha aproximou-se de dois garotos que jogavam gude. Dora havia comprado alguns pães e ofereceu-os aos meninos, que ouviram suas lamentações e ofereceram um abrigo para passarem a noite: o trapiche. Eram João Grande e Professor os tais garotos que levavam Dora e seu irmão ao esconderijo dos Capitães da Areia. Porém nunca antes uma garota havia participado do grupo, o que causou certa confusão quando chegaram ao trapiche: a menina, bonita, loira, já trazia traços da juventude, e atiçou o desejo de todos os meninos. João Grande e Professor a defendiam de todos os outros, com facas nas mãos, tentando explicar que ele era uma menina que perdera os pais, mas os demais pensavam que eles não queriam “dividir a comida”. Um confronto violento estava crescendo quando o líder Pedro Bala chegou. Ele observou a cara de desespero de Dora, que já chorava junto a Zé Fuinha, e foi convencido por João Grande que se tratava de “uma menina” apenas, e que não seria comida por ninguém. CAPITÃES DA AREIA: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 23 23 Dissipada a confusão, Dora confiou em Pedro Bala, que disse que ninguém a atacaria. A garota tratou dos meninos que se feriram, até fez amizade com alguns deles. Pedro informou que ela teria que sair de lá em breve, mas ela ofereceu-se para ajudar a fazer comida, coser, lavar roupa. Alguns garotos defenderam que ela ficasse. Pedro Bala observava os cabelos loiros de Dora, sob a luz da lua, que invadia o trapiche. Dora, Mãe Após colocar Zé Fuinha para dormir, Dora foi até o Professor, que iniciaria a leitura de um livro. Chegou Gato com uma agulha e uma linha nas mãos: ele não conseguia passar a linha pelo buraco da agulha e pediu ajuda a Dora. Ela não somente passou a linha pelo buraco, como se ofereceu para coser o que ele precisasse: o bolso do paletó, que estava gasto, e também as costas de sua camisa. Ao fazer a costura com a camisa ainda no corpo de Gato, ela acabava tocando as costas do rapaz. A única mulher que tocava as costas de Gato era Dalva, sua amante, que o arranhava enquanto faziam amor. Mas o toque de Dora era diferente: lembrava o de sua mãe, morta ainda jovem, quando cosia suas roupas. Gato, apesarde agir como homem, dormindo com uma prostituta, vivendo de furtos, era ainda uma criança em termos de idade e lhe era gostosa a sensação de ser cuidado novamente por uma mãe. Tanto que ao final da costura ele sentenciou: “Você é mãezinha da gente agora…”. Dora sorriu. Professor compreendeu o que ele quis dizer. Aproximou-se João Grande para ouvir a história contada pelo Professor: tratava-se de uma aventura em um navio, em que um marinheiro iniciava uma revolta contra o capitão malvado, que chicoteava seus subordinados. Chegou também Volta Seca, com um jornal na mão. Os garotos expressavam dor a cada chicotada dada pelo capitão, e sorriam a cada golpe do marinheiro que, por fim, venceu a luta. Dora acompanhava esses sentimentos, sendo observada por todos com muito amor, como se olhassem a uma mãe. Os meninos retiraram-se, apenas Volta Seca permaneceu. Ele entregou o jornal para o professor ler e explicou para Dora que queria saber notícias de Lampião, “seu padrim”. Ao contar a história de como sua mãe era valente, assim como Lampião, Volta Seca observou que Dora também era uma mulher como sua mãe, valente. O jornal contava que Lampião tentou invadir uma cidade, mas esta já estava preparada para o ataque. Ele precisou fugir para a caatinga e um de seus homens foi pego, teve a cabeça cortada, cuja foto estampava o jornal. Volta Seca enfureceu-se, jurou vingança: era hora de ele partir, entrar para o bando de seu padrinho. Dora questionou se ele não CAPITÃES DA AREIA: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 24 24 teria medo, e ele reafirmou sua valentia: Dora o ouvia com orgulho, assim como uma mãe se orgulha de um filho. Professor enxergava, novamente, Dora como uma mãe. Pirulito estava sempre distante de Dora, pois acreditava que mulher era uma tentação do demônio. Ele precisava ficar cada vez mais longe de pecados para tornar-se padre. Naquela noite Dora se aproximou dele, junto de Professor, observando seu pequeno santuário e elogiando a imagem do Menino Deus que ele cultuava. Ele lhe apresentou todos seus apetrechos, quadros, terços, contou-lhe histórias de santos… Agora Dora não parecia para Pirulito mais uma menina com seios crescendo e coxa à mostra: era como uma mulher mais velha, como uma mãe. Tanto que ele acabou lhe confessando a vontade de ser padre e, mediante a reação positiva da garota, ele ficou muito contente, oferecendo a ela, como presente, seu Menino Deus. Mais uma vez Professor enxergou em Dora a mãe, agora de Pirulito, e sentia certa inveja de sua felicidade. Dora e Professor saíram para o areal, onde estava Pedro Bala. O líder dos Capitães comentou que ela deveria ir embora do trapiche, mas Professor a defendeu: ela era como uma mãe para todos! Assim sendo, Pedro aceitou sua permanência. Entretanto, Dora olhava para Pedro Bala não somente como uma mãe, ela tinha uma afeição especial por ele, ele era seu herói, e Pedro correspondia a essa afeição em seu sorriso. Professor percebia os olhares, e repetia para si mesmo, com voz sombria: é como mãe! Dora, Irmã e Noiva Dora trocou a saia de seu vestido por uma calça larga, amarrada por um cordão. Se não fosse por seus cabelos loiros e seus pequenos seios, seria facilmente confundida com um dos meninos, e era essa sua intenção: apresentou-se para Pedro Bala, oferecendo-se para participar das ações do bando. Inicialmente Pedro achou graça da roupa de Dora, fez pouco caso de suas intenções, afinal, ela era “apenas” uma menina, não podia fazer o mesmo que os homens fazem. Mas ela insistiu, lembrando que eles também não eram homens, e sim meninos. Desconfiado, Pedro aceitou a participação de Dora no bando. A garota revelou-se muito ágil, esperta. Aprendeu a andar pelas ruas das cidades, a pegar os bondes e entrar nos becos. João Grande era seu maior parceiro, ela o chamava de “irmão”, ele a achava “valente como um homem”. Professor via a interação da menina com os garotos e desejava ter com ela uma relação diferente: queria que ela a olhasse com o mesmo amor que demonstrava a Pedro Bala. Este, por sua vez, parecia não reparar nestes sinais dados pela garota. Mas na verdade ele evitava pensar em Dora como esposa, por mais que sentisse esse desejo: se ele CAPITÃES DA AREIA: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 25 25 revelasse suas vontades, estaria dando razão para que outros garotos do bando também o fizessem, e o grupo seria arruinado. Pedro Bala pensava em Dora quando topou com um outro grupo de garotos ladrões, liderados por Ezequiel. O menino zombou dos Capitães, comentando que havia lá uma “putinha” para todos. Pedro tentou bater em Ezequiel, mas os seus comparsas o seguraram e ele levou um soco na cara. O grupo se dispersou quando chegou um guarda no local. Pedro saiu revoltado com a covardia daquele bando, que atacava um homem sozinho, jurando vingança. Chegando ao trapiche, o chefe dos Capitães recebeu os cuidados de Dora, que adivinhou que era ela o motivo da briga, recompensando-o com um beijo. Deitados no areal, Pedro assumiu seu amor, agora Dora era “sua noiva” e eles deveriam se casar. Pedro chamou os líderes do bando para armar uma emboscada ao grupo de Ezequiel. Na mesma noite, Dora participou do ataque vitorioso: armada com uma navalha, brigou de igual para igual com um menino. Todos diziam que ela era como uma mãe corajosa, uma irmã, mas para Pedro ela era uma noiva. Voltando ao areal, Pedro e Dora deitaram-se juntos, conversaram sobre suas vidas, suas histórias, deram-se as mãos. Estavam felizes por estarem juntos, não era o sexo que os chamava. Dormiram como irmãos. Reformatório Numa tentativa de assalto a uma residência, os Capitães foram pegos de surpresa e trancados em um dos cômodos. A polícia logo chegou e os deteve. A reportagem do jornal da tarde tirou uma foto em que apareciam Pedro Bala, Dora, João Grande, Sem- Pernas e Gato. A notícia no jornal explicava que, logo após a fotografia, Pedro Bala livrou-se de um guarda com um golpe de capoeira, fazendo com que todos policiais fossem para cima dele e deixassem os demais garotos fugirem. Ficaram apenas Pedro e Dora, que tiveram suas histórias brevemente retratadas: Pedro como filho de um grevista morto e Dora como filha de uma vítima da varíola. O rapaz seria encaminhado para o reformatório e a garota para um orfanato. O jornal zombava do casal, que se diziam noivos, e exaltava a ação da polícia, bem como o diretor do reformatório, que prometia “endireitar” Pedro. Professor leu a notícia para o bando, que se reunia novamente no trapiche. Sem-Pernas seria o líder até que Pedro Bala voltasse, e isso não deveria demorar, já que todos se comprometeram em armar uma ação para libertá-lo. CAPITÃES DA AREIA: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 26 26 Na delegacia Pedro foi espancado até desmaiar, mas manteve-se firme em não revelar o esconderijo de seu bando – caso contrário, todos seriam pegos. Em seguida é levado para o reformatório, sendo instalado na “cafua”, um pequeno quarto escuro, debaixo da escada, onde não era possível se mexer, ou ficar de pé, nem deitado corretamente. Lá ele recebia apenas água e feijão. Ratos o cercavam. Pedro sentia falta da liberdade que sempre teve pelas ruas da Bahia, falta do sol que recebia todos os dias, falta de Dora para lhe tratar os ferimentos feitos pelos policias na delegacia. Lembrando-se de sua noiva, lhe doía pensar que ela também estava presa num orfanato. Tinha cada vez mais claro que o que estava sentindo por Dora era amor, pois ele gostava de derrubar negrinhas no areal e penetrá-las, mas por Dora seu desejo era diferente. Agora Pedro queria vingança. Queria livrar-se daquela prisão, retribuir a surra que levou dos policiais, atacar o diretor do reformatório. Seus pensamentos tornavam-se confusos, tinha sede, cansaço, fome. Ele batia na porta e gritava. Certa horaum garoto reformatório lhe trouxe um recado: os Capitães estariam armando uma fuga para ele quando saísse da cafua. Quando o diretor soltou Pedro Bala, após oito dias, ele estava fraco, magro, não resistia à luz que entrava pela janela. Mesmo assim ele é ordenado para trabalhar no canavial. À noite, no quarto coletivo, Pedro falou novamente com o garoto que lhe dera o recado na cafua, e pediu que avisasse o bando sobre seu trabalho no canavial. Sem-Pernas, que ficou sabendo do trabalho de Pedro Bala, deixou um rolo de corda no meio das moitas de cana. No dia seguinte Pedro pegou a corda e conseguiu levá-la até seu quarto, escondida, em meio a uma confusão armada pelos demais garotos com os bedéis do reformatório. Na noite seguinte Pedro Bala foge pela janela do quarto. Um dos garotos delata o líder dos Capitães para os bedéis, mas eles não conseguem alcançá-lo. Pedro deixa para trás suas roupas, evitando ser perseguido pelos cachorros que guardavam o reformatório. Corre, nu, em direção à sua liberdade. No dia seguinte o jornal denuncia a fuga e faz uma entrevista com o diretor do reformatório, furioso. No trapiche todos riem da notícia lida pelo Professor. Até mesmo Padre José Pedro, que estava com eles, solta gargalhadas, que funcionavam como um código, exclusivo dos Capitães. Orfanato Dora sempre tivera uma vida de liberdade, de correria, fosse nos morros, com sua mãe, ou na cidade, com os Capitães. Agora sofria com a rotina do orfanato, onde foi colocada CAPITÃES DA AREIA: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 27 27 para estudar junto a crianças de seis anos de idade, sofria castigos, era obrigada a ficar em jejum. Sua saúde foi prejudicada, tinha febre constantemente, mas escondia o sintoma: não queria ficar o dia todo na enfermaria, uma sala isolada e escura, onde as horas demoravam ainda mais a passar. Professor e João Grande rondavam o orfanato e passavam mensagens à garota: avisaram quando Pedro Bala fugiu do reformatório. Noutro dia orientaram que ela desse um jeito de ir para a enfermaria. Dora queimava em febre e foi internada sob grande preocupação do médico. João Grande, Professor, Gato e Pedro Bala invadiram o orfanato. A Irmã que cuidava de Dora, ameaçada por uma navalha, avisou que ela estava muito doente, mal podia caminhar. Mesmo assim a garota quis fugir com seus companheiros, de mãos dadas com seu amado Pedro Bala. Noite da Grande Paz A mãe-de-santo Don’Aninha faz uma reza forte para curar Dora, que ainda está febril. Enquanto isso os Capitães da Areia a cercam, observam-na cada um à sua maneira: como uma mãe, como uma irmã, como uma noiva, como uma amada. Mal ela se recupera, cai novamente doente. A grande paz da noite da Bahia não está nos corações dos Capitães, que temem pela saúde de Dora, mas está no olhar doce, ainda preservado pela garota. Dora, Esposa Don’Aninha sai do trapiche dizendo que a febre de Dora logo passaria. Pirulito vai procurar Padre José Pedro, pois crê que ele poderia indicar algum remédio à garota. Os demais meninos não conseguem dormir, temendo a perda de sua mãezinha. Dora chama Pedro Bala para dormir junto a ela. Conta-lhe que se tornara moça, durante o tempo que estava no orfanato, e agora estava pronta para ser sua mulher. Ela leva a mão de Pedro aos seus seios e pede que ele a possua, antes que ela morra. Eles se abraçam, se entregam ao desejo, ela nem chega a sentir a dor de sua entrega. A paz de Dora se transforma em alegria. Os corpos se separam, Pedro beija sua esposa. A paz retorna aos olhos de Dora, que dorme de mãos dadas com seu amado. Durante a noite Pedro acorda, põe a mão na testa da garota – está fria, sem pulsação, morta. O grito de desespero do chefe dos Capitães acorda o trapiche. Professor confirma que já não há o que fazer. Quando Padre José Pedro chega, apenas lhe resta iniciar uma oração, CAPITÃES DA AREIA: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 28 28 à qual se juntam os demais meninos. Don’Aninha também aparece, junto de Querido- de-Deus, que deveria levar seu corpo ao mar – um enterro não poderia sair do trapiche, senão o esconderijo seria descoberto. Todos os garotos choram. Pedro abraça o cadáver, envolve-o numa toalha branca. É formada uma procissão até o saveiro de João-de-Deus, que carrega Dora ao mar, iluminado pela lua e pelas estrelas. Há paz na noite, paz que veio dos olhos de Dora. Como uma estrela de loira cabeleira Pedro Bala não quis ficar no trapiche, entre choros e lamentações. Ele foi ao mar, nadando na direção do saveiro de João-de-Deus, em busca de sua amada Dora. No cais da Bahia dizia-se que homens valentes, quando morrem, viram uma estrela no céu. Zumbi (líder do Quilombo dos Palmares), Lucas da Feira (um dos primeiros cangaceiros) e Besouro (famoso capoeirista) eram exemplos de corajosos que viraram estrelas. Nunca, no entanto, uma mulher alcançara esta condição. Pedro nadou até não aguentar mais, e seguiu boiando, observando o céu estrelado. Os astrônomos disseram que naquela noite passou por ali um cometa. Mas para Pedro Bala era Dora, com sua longa cabeleira loira, que estava no céu. Ela havia sido uma menina valente, tão valente que havia se entregado ao seu amor antes de morrer, merecia um lugar entre as estrelas. Agora que o líder dos Capitães era iluminado por Dora, voltava para si a luz da felicidade, bem como a paz da noite da Bahia. O saveiro de João-de-Deus recolheu o garoto das águas. CANÇÃO DA BAHIA, CANÇÃO DA LIBERDADE A quarta e última parte do livro trará o desenrolar das histórias dos Capitães da Areia, até o momento que deixam de ser meninos e preparam-se para serem homens. Vocações Todos no trapiche sentiram a falta de Dora, da mãe, da irmã. Não resistiam ao impulso e procuravam-na em seu lugar de costume, mas aí vinha a certeza de que não a veriam mais. Só Pedro Bala encontrava-a em outro lugar, no céu, na forma de estrela com sua longa cabeleira. Professor foi muito afetado pela morte de Dora. Agora ele não via o trapiche como um quadro, mas como a moldura de diversos outros quadros, todos com Dora como protagonista: cuidando de seus “filhos”, Gato, Zé Fuinha e Volta Seca; voltando das CAPITÃES DA AREIA: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 29 29 ruas da cidade, sorrindo; mantendo o olhar amoroso, mesmo sob uma febre mortal, entregando-se ao amor. A vida entre os Capitães não fazia mais sentido. Professor entrou em contato com o poeta da piteira, que outro dia observou seus desenhos e lhe dera seu cartão. Ele o mandaria para o Rio de Janeiro, onde teria aulas de pintura com um amigo seu. João Grande e Pedro Bala compreendiam a decisão de seu colega, tinham esperança que como artista ele teria espaço para falar em nome de todas as crianças abandonadas. Muitos garotos foram ao cais acompanhar o embarque do Professor. Alguns tentavam expressar alegria, mas era sentida tristeza pela perda do companheiro, que não iria mais ler histórias para todos nas noites do trapiche. No entanto, ele levava consigo a marca do amor à liberdade, herdada dos Capitães, e isso o faria um dia largar seu professor e pintar por conta própria quadros que chamariam a atenção de todo o país. Passado mais de um ano, outras coisas mudavam no trapiche. Pirulito trabalhava vendendo jornais, como engraxate, carregava bagagens, não precisava mais furtar. Libertava-se dos pecados e em breve se entregaria completamente a Deus. Pedro Bala percebia as intenções de Pirulito e não as entendia muito bem: servir a Deus não resolveria nada, aquilo seria apenas uma fuga dos problemas. Mas para Pirulito o chamado de Deus era maior. Ele abriria mão da liberdade que tinha com os Capitães da Areia, da possibilidade de conhecer o mundo, apenas para ter a oportunidade de ver a face de Deus. Padre José Pedro foi chamado mais uma vez ao arcebispado. Ele temia levar broncanovamente, por sua relação com os Capitães. Seu trabalho com os garotos não estava sendo um grande sucesso, mas também não era um fracasso total: ele havia dado algum conforto e solidariedade às crianças, Pirulito tinha vocações clericais, Professor já havia se endireitado, seria um artista… Surpreendentemente, o Cônego não ralhou com o Padre: surgira uma paróquia para ele cuidar, no sertão, numa região de cangaceiros – onde outros padres não quiseram se aventurar. Padre José Pedro, porém, via nos cangaceiros os Capitães da Areia um pouco mais crescidos, não seriam um problema. Além de sua paróquia, José Pedro garante um lugar para Pirulito como frade: assim poderia iniciar seus estudos para, quem sabe, tornar-se padre. Quando foi pegar o trem para o sertão, o Padre foi acompanhado pelos Capitães da Areia e por Pirulito, já com suas vestimentas religiosas. A despedida foi muito emocionada, José Pedro chegou a chorar. CAPITÃES DA AREIA: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 30 30 Boa-Vida estava cada vez mais distante do trapiche: passava os dias pela cidade, as noites pelas festas e macumbas. Ele se tornara um grande malandro, capoeirista, valentão, uma figura que um dia os Capitães da Areia admirariam assim como admiravam João-de-Deus. Certo dia Sem-Pernas e Pedro Bala entraram numa igreja para ver os artefatos de ouro, quem sabe furtar a bolsa de alguma senhora, mas o que observaram foi Pirulito ensinando o catecismo a um grupo de crianças. O líder dos Capitães lamentava o caminho tomado pelo ex-colega de trapiche e Sem-Pernas concordava: só a bondade não bastava. Sem-Pernas ainda acreditava que era preciso ter ódio. Mas Pedro Bala também recusava o ódio, ele acreditava na luta, na mesma luta que travou seu pai e que João de Adão lutava durante as greves. Canção de amor da vitalina Gato trouxe para o trapiche informações sobre um novo alvo para uma ação dos Capitães da Areia: Joana era uma vitalina (uma senhora que não havia se casado, uma solteirona) por volta de quarenta e cinco anos, única herdeira de uma rica família, vivendo numa mansão onde, diziam, havia uma sala repleta de joias e ouro. Sem-Pernas, como de costume, se propôs a infiltrar-se na residência para então armarem o roubo. Apresentando-se como uma criança na procura de algum trabalho, foi facilmente acolhido por Joana e sua empregada, uma negra que parecia fazer parte da herança da família. O que não se sabia é que por trás da bondade de Joana havia outra intenção: era o sexo que a dominava. Anos antes ela já tivera um menino, mas seu irmão descobrira e o expulsara. Agora seu irmão estava morto e surgia outro garoto para saciar seus desejos. Já na primeira noite em que Sem-Pernas dormia na casa, numa cama improvisada na sala de jantar, a vitalina surpreendeu-o, acariciando seu corpo e deitando-se junto a ele. O rapaz correspondia às vontades da solteirona, ela já era meio velha, mas ainda tinha um corpo interessante. Além do mais, era a primeira vez que Sem-Pernas recebia uma mulher sem ser à força, como fazia com as negrinhas no areal. Ele não era bonito e sua perna manca repelia o interesse de qualquer menina. Várias noites se passaram, porém Joana nunca se entregava completamente: tinha receio de engravidar e impedia que Sem-Pernas a penetrasse, deixando-o frustrado e enraivecido. A solteirona se contentava com migalhas do amor, Sem-Pernas queria o amor completo. Ele ameaçava deixá-la, humilhava-a, ela lhe oferecia dinheiro para ficar mais uma noite. CAPITÃES DA AREIA: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 31 31 Pedro Bala já estranhava a demora de Sem-Pernas em retornar com informações para o furto. Ele já sabia onde se escondiam as joias e tinha acesso às chaves que as trancavam, mas ainda queria conseguir o gozo completo com Joana. Com a insistência da vitalina em não ceder completamente ao garoto, Sem-Pernas acabou fugindo e coordenando o furto de suas riquezas. Joana chora quando descobre o roubo, fica furiosa por pensar que todas as noites de amor só aconteceram pelo interesse do ladrão. Sem-Pernas ri da desgraça da solteirona, fazendo troça da história com os garotos no trapiche, e guardando para si o desejo insatisfeito que ainda preenche suas noites, e lhe dá raiva. Na rabada de um trem Corria a noticia que a cidade de Ilhéus fora invadida por prostitutas de todo o país: a alta do cacau enriqueceu os coronéis e fazendeiros da região, que agora torravam seu dinheiro nas noites dos cabarés. Dalva ficou sabendo do alvoroço e preparou-se para partir junto com Gato, que enfim se tornaria um homem: iria, junto de sua amante, enganar coronéis, enriquecer, quem sabe virar fazendeiro! Já havia partido Professor, Boa-Vida, Pirulito… Agora era a vez de Gato. Pedro Bala despedia-se de mais um companheiro com a sensação que também deveria encontrar um rumo em breve, mas não sabia qual. Ele não era artista, nem malandro, tampouco tinha interesse na religião, nem queria ser um vigarista que engana coronéis. A única palavra que lhe chamava atenção era a de João de Adão. Volta Seca havia sido preso quando batia a carteira de um comerciante. Ele foi levado para a delegacia, onde ficou por oito dias sendo espancado. Quando saiu de lá, informou Pedro Bala que iria para Aracaju, para dispersar a atenção que a polícia da Bahia lhe daria dali em diante. Viveria um tempo com os Índios Maloqueiros, um grupo de moleques semelhante aos Capitães da Areia, que atuava na cidade sergipana. Na rabada de um trem Volta Seca foi levado pelo sertão, que reconhecia como sua terra natal. No meio do caminho cangaceiros pararam o comboio: era o próprio Lampião que atacava os viajantes. Emocionado, Volta Seca apresentou-se como filho de sua comadre, pedindo ao seu padrim que lhe desse um lugar junto ao bando. Ele teve o pedido atendido e prontamente recebeu um fuzil. O terror assolava os vagões do trem, de onde saíram dois soldados da polícia para serem executados. Volta Seca pediu permissão para dar os tiros. No primeiro policial, sua mira foi certeira. O segundo tentou fugir correndo, o tiro apenas o derrubou, então Volta Seca CAPITÃES DA AREIA: RESUMO POR CAPÍTULO ResumoPorCapítulo.com.br 32 32 pegou seu punhal e terminou o serviço manualmente. O bando de Lampião recebia um cangaceiro dos bons. Como um trapezista de circo Crescidos e cada vez mais atrevidos, os Capitães atacaram uma casa numa região cheia de guardas. Alguém deu o alarme e os garotos precisaram fugir: Pedro Bala, João Grande e Barandão escaparam rapidamente, mas Sem-Pernas teve problemas, limitado por seu defeito nas pernas. Ele corria como podia, procurando uma forma de escapar dos policiais. Povoavam sua mente as lembranças de quando esteve em poder dos soldados, de como o maltratavam e humilhavam, ele não queria ser pego novamente e faria de tudo para evitar isso. Sem-Pernas imagina como ficariam felizes os policiais caso prendessem um dos Capitães da Areia, e essa imagem faz florescer ainda mais seu ódio. Ódio que era direcionado ao mundo todo, pois o mundo todo sempre o odiara. Certa vez foi tratado como um filho, mas apenas porque a mulher perdera seu filho ainda jovem. Noutra vez teve os carinhos sexuais de uma mulher, mas apenas porque esta mulher precisava das migalhas de um amor qualquer. Nunca ninguém lhe deu carinho por ele ser o que era: uma criança abandonada, aleijada e triste. Os guardas estão alcançando-o, Sem-Pernas chega à praça do Palácio e segue na direção do grande elevador. Estando encurralado, os soldados pensam que o menino irá parar, mas não: ele sobe na mureta que dá para o morro abaixo, olha para os policiais, cospe na cara de um que se aproximam, ri com a força do seu ódio e se lança de costas no precipício, em direção à sua morte, caindo como um trapezista que não tivesse alcançado o trapézio. Sem-Pernas
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