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Direito Constitucional II Prof. David Costa E-mail para contato: david.costa@fsh.edu.br Instagram: @profdavidcosta RELEMBRANDO A AULA ANTERIOR 1. O Estado é o ente político organizado responsável pela sobrevivência do ajuntamento social ao longo do tempo histórico; 2. Há diferentes formas de Estado: as principais são o Estado Unitário e o Estado Federal; 3. A federação é a forma de Estado que descentraliza o poder territorialmente; 4. No Brasil a federação aparece com a Constituição de 1891, substituindo o antigo Estado Unitário que havia aqui; 5. A Constituição de 1988 consagra a federação como princípio fundamental e cláusula pétrea; 6. A Constituição de 1988 prevê quatro entes federativos: União, Estados, DF e Municípios. Direito Constitucional II AULA 03: Repartição constitucional de competências entre União, Estados, DF e Municípios OBJETIVOS DA AULA DE HOJE 1. ENTENDER O QUE É UMA COMPETÊNCIA 2. IDENTIFICAS AS PRINCIPAIS NOMENCLATURAS USADAS PARA AS COMPETÊNCIAS 3. ESTUDAR OS PRINCÍPIOS E MODELOS UTILIZADOS NA REPARTIÇÃO DAS COMPETÊNCIAS 4. COMPREENDER A REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS DA FEDERAÇÃO BRASILEIRA 5. ESTUDAR AS COMPETÊNCIAS DA UNIÃO, DOS ESTADOS, DO DF E DOS MUNICÍPIOS 1. ENTENDENDO O QUE É UMA COMPETÊNCIA Competência é o mesmo que atribuição ou tarefa; Sempre que você ler que COMPETE a algum dos entes federativos fazer alguma coisa, saiba que isso é o mesmo que dizer que esse ente federativo tem a tarefa/incumbência/atribuição de fazer essa alguma coisa; Quando um empregador contrata um funcionário ele diz pra ele quais são as suas tarefas e o que ele pode ou não fazer na empresa; De modo parecido, quando a Constituição Federal cria os entes federativos, ela também diz quais são as tarefas que eles devem desenvolver e o que eles podem ou não fazer. A Constituição é quem faz a divisão pois os entes são todos igualmente capazes politicamente, não havendo subordinação entre eles; Essa divisão de atribuições entre os diferentes entes da federação é uma das características mais importantes do federalismo; Sem essa repartição de competências: • não existiria descentralização do poder político; • os entes federativos não seriam autônomos; • não haveria pacto federativo; Onde tem competência, tem poder político e tem dinheiro; Competências MATERIAIS -> Atribuições ADMINISTRATIVAS; Competências LEGISLATIVAS -> Atribuições LEGISLATIVAS; Competências TRIBUTÁRIAS -> Atribuições TRIBUTÁRIAS; Competências EXCLUSIVAS -> NÃO PODEM SER DELEGADAS; Competências PRIVATIVAS -> PODEM SER DELEGADAS; Competências COMUNS -> QUALQUER UM DOS ENTES PODE EXERCER A ATRIBUIÇÃO. LEI COMPLEMENTAR VAI FAZER COM QUE HAJA COOPERAÇÃO; Competências CONCORRENTES -> UNIÃO ESTABELECE NORMAS GERAIS E OS ESTADOS/DF FIXAM AS NORMAS ESPECÍFICAS; Para finalizar essa parte, é importante saber diferenciar as seguintes nomenclaturas que usamos no assunto de competências: 2. PRINCÍPIOS E MODELOS DE REPARTIÇÃO NA REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS NA CF/88 Princípio da preponderância de interesses; Princípio dos poderes implícitos; Modelos de repartição de competências. Neste tópico estudaremos: O princípio da preponderância de interesses serve como orientação geral e estruturante da divisão de competências que foi realizada pela Constituição; Assim: • nas matérias em que predomine o interesse nacional, será competente a União; • nas matérias em que predomine o interesse regional, serão competentes os Estados; • nas matérias em que predomine o interesse local, serão competentes os Municípios; • o Distrito Federal é um caso à parte pois ele concentra em si competências locais e regionais. 2.1 PRINCÍPIO DA PREPONDERÂNCIA DE INTERESSES Atenção! A ideia de predominância NÃO se confunde com a ideia de exclusividade. Repartição Constitucional de Competências União Municípios Estados Interesse Regional Interesse Nacional Interesse Local Distrito Federal PRINCÍPIO DA PREPONDERÂNCIA DE INTERESSES (QUADRO GERAL) Possui competência cumulativa estadual e municipal. É uma ação (ou omissão) típica, ilícita e culpável. É um problema comunitário e social. Professor, esse princípio tem aplicação absoluta no Brasil? Não! Existem casos em que ele não será aplicado. Muitas vezes uma matéria que seria de interesse regional ou local, acaba ficando com a União. Tem origem nos EUA, em um julgamento da Suprema Corte, em 1819 (caso Mc CulloCh vs. Maryland); Também serve como orientação geral e estruturante da divisão de competências que foi realizada pela Constituição; Para esse princípio, quando a Constituição dá uma atribuição a um ente federativo, ela também dá autorização (IMPLÍCITA) para que esse ente federativo empregue os meios úteis e adequados para executar aquela atribuição; (“quem pode o mais, pode o menos”) 2.2 PRINCÍPIO (OU TEORIA) DOS PODERES IMPLÍCITOS Existem pelo menos três modelos de repartição de competências: o modelo americano, o canadense e o indiano; 2.3 MODELOS DE REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS MODELO AMERICANO 1. A constituição reserva algumas competências à União; 2. As competências que sobram vão para os Estados-membros. MODELO CANADENSE 1. A constituição reserva algumas competências aos Estados-membros; 2. As competências que sobram vão para a União. MODELO INDIANO 1. As competências são enumeradas, uma a uma, para cada um dos entes federativos. Não existe uma relação de residualidade. O Brasil seguiu o modelo americano, mas com a diferença de que aqui os Municípios também recebem a reserva de algumas matérias. 3. A REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS NA FEDERAÇÃO BRASILEIRA A Constituição Federal distribuiu as competências entre os quatro entes federativos: Competências da UNIÃO Competências dos ESTADOS Competências dos MUNICÍPIOS Competências do DF 3.1 COMPETÊNCIAS DA UNIÃO Acabamos de ver que o Brasil adotou o modelo americano de repartição de competências; Isso é o mesmo que dizer que no Brasil a Constituição escolheu algumas competências e as reservou para a União, e as competências que sobraram foram para os Estados-membros; Você encontra principalmente nos seguintes artigos da CF/88: Art. 21 Art. 22 Art. 23 Art. 24 Ok, professor... Mas se a Constituição fez isso, onde encontro isso na Constituição? Vamos ver o que cada um desses artigos diz. Compete à União: • Manter relações com Estados estrangeiros; • Declarar guerra; • Decretar o estado de sítio, o estado de defesa e a intervenção federal; • Emitir moeda; • Organizar e manter o Poder Judiciário; • Outras atribuições. ART. 21: COMPETÊNCIAS MATERIAIS EXCLUSIVAS DA UNIÃO São atribuições de natureza ADMINISTRATIVA; Nos trazem a ideia de “fazer algo”, de “agir”; São usados VERBOS. São INDELEGÁVEIS; Devem necessariamente ser executadas pela União. Outros entes federativos não podem participar; Compete privativamente à União legislar sobre: • Direito civil; • Direito comercial; • Direito penal; • Direito processual; • Direito eleitoral; • Direito agrário; • Serviço postal; • Trânsito e transporte; • Outros assuntos. ART. 22: COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS PRIVATIVAS DA UNIÃO São atribuições de natureza LEGISLATIVA; Nos trazem a ideia de que a União irá legislar sobre algum assunto; São usados SUBSTANTIVOS; São DELEGÁVEIS, pois a própria CF/88 autoriza isso expressamente. CF, ART. 22, parágrafo único Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas neste artigo. REQUISITOS PARA A DELEGAÇÃO Existem três requisitos para que possa ocorrer a delegação REQUISITO FORMAL REQUISITO MATERIAL REQUISITO IMPLÍCITO A delegação precisa ser feita por meio de uma LEI COMPLEMENTAR. A delegação só pode ser em relação a QUESTÕES ESPECÍFICASdas matérias que são citadas no artigo 22. CF, ART. 22, parágrafo único A delegação NÃO pode beneficiar somente um ou alguns Estados. Precisa atingir a todos os Estados e também o Distrito Federal. Princípio isonômico O MNEMÔNICO “CAPACETE DE PM” C IVIL A GRÁRIO P ENAL A ERONÁUTICO C OMERCIAL E LEITORAL T RABALHO E SPACIAL D E P ROCESSUAL M ARÍTIMO Serve para memorizar o inciso I do artigo 22 da CF/88. É competência comum da União, dos Estados, do DF e dos Municípios: • Zelar pela guarda da Constituição; • Cuidar da saúde e assistência pública; • Preservar as florestas, a fauna e a flora; • Promover programas de construção de moradias; • Combater as causas da pobreza; • Outras atribuições. ART. 23: COMPETÊNCIAS MATERIAIS COMUNS São atribuições de natureza ADMINISTRATIVA; Nos trazem a ideia de “fazer algo”, de “agir”; São usados VERBOS; Todos os entes federativos estão aptos a realizar essas atividades, inclusive a União; Como todos podem atuar nessas áreas, é grande a possibilidade de um choque de atribuições; A princípio, sim. Porém, o parágrafo único do artigo 23 resolve esse problema estabelecendo que LEI COMPLEMENTAR FEDERAL trará diretrizes para harmonizar o exercício dessas atribuições em cooperação. Mas se todos os entes podem atuar nessas áreas, não fica uma bagunça? Se apesar disso, o conflito permanecer, caberá ao STF resolvê-lo, aplicando o princípio da preponderância de interesses. ART. 24: COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS CONCORRENTES São atribuições de natureza LEGISLATIVA; Nos trazem a ideia de legislar sobre algo; Nesses casos a União só poderá editar NORMAS GERAIS; Os Estados e o DF poderão fixar NORMAS ESPECÍFICAS, complementando a norma geral elaborada pela União; Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: • Direito tributário e financeiro; • Orçamento; • Proteção ao patrimônio histórico; • Produção e consumo; • Criação e funcionamento do juizado de pequenas causas; • Outras atribuições. § 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a estabelecer NORMAS GERAIS. § 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a COMPETÊNCIA SUPLEMENTAR dos Estados. (competência suplementar-complementar) § 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades. (competência suplementar-supletiva) § 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais SUSPENDE a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário. ATENÇÃO para os parágrafos do artigo 24! Eles trazem mais detalhes sobre esse tema: Art. 21, CF/88 Art. 22, CF/88 Art. 23, CF/88 Art. 24, CF/88 ABAIXO UM RESUMO DOS ARTIGOS 21 A 24 DA CF/88 Competências materiais exclusivas Competências legislativas privativas Competências materiais comuns Competências legislativas concorrentes Todos os entes podem exercer a atribuição. União fixa normas gerais. Estados e DF fixam normas específicas. Lei Complementar disciplina a cooperação. A União é quem pode exercer a atribuição. É possível a delegação. Somente a União pode exercer a atribuição. Não é possível a delegação. 3.2 COMPETÊNCIAS DOS ESTADOS Em regra, os Estados possuem somente as competências materiais e legislativas RESIDUAIS; Ou seja, será da competência dos Estados somente aquelas matérias que restarem/sobrarem depois de a União receber suas competências reservadas e depois de excluídas as matérias de interesse local, que são dos Municípios; Por exemplo, são os Estados que legislam sobre transporte público intermunicipal; Como se vê, os Estados tem uma atuação bastante esvaziada pelo excesso de competências que são enumeradas para a União; Existe pelo menos um caso. É o que está previsto no artigo 25, §2º, da CF/88. Segundo esse dispositivo, os Estados possuem autorização expressa para explorarem os serviços de gás canalizado. Mas não tem nenhuma competência material que só os Estados possam exercer e que não seja residual? 3.3 COMPETÊNCIAS DOS MUNICÍPIOS Suas atribuições mais importantes estão no artigo 30 da Constituição; • Legislar sobre assuntos de INTERESSE LOCAL; • SUPLEMENTAR a legislação federal e a estadual, no que couber; • Outras atribuições materiais (administrativas), como por exemplo, o planejamento da ocupação e do uso do solo urbano; 3.4 COMPETÊNCIAS DO DISTRITO FEDERAL O Distrito Federal é um caso à parte no Brasil; Ele recebeu da Constituição uma COMPETÊNCIA CUMULATIVA; Isso quer dizer que ele acumula as competências dos Estados e dos Municípios; Dizendo de outra maneira, tudo aquilo que os Estados e os Municípios podem fazer, o Distrito Federal também pode; Casos práticos O STF já decidiu que a fixação do horário de funcionamento de estabelecimentos COMERCIAIS é da competência dos Municípios; (Súmula Vinculante 38) Já no caso da fixação de horário de funcionamento de estabelecimentos BANCÁRIOS, para fins de atendimento ao público, o STJ diz que a competência não é dos Municípios mas sim da União; (Súmula 19, STJ) E o tempo de espera para ser atendido na agência bancária? Segundo o STF, é de competência dos Municípios, é um assunto de interesse local; (“Lei das Filas” – Informativo 942 do STF) CONCLUSÕES 1. Quando a Constituição diz que um ente federativo é competente para uma tarefa, ela está dizendo que é incumbência daquele ente realizar aquela tarefa; 2. Sem a repartição de competências não haveria pacto federativo; 3. Existem princípios que orientam o processo de repartição de competências em uma Constituição: o princípio da preponderância de interesses e o princípio dos poderes implícitos são dois deles; 4. O Brasil seguiu o modelo americano de repartição de competências; 5. A Constituição reservou algumas matérias para a União e para os Municípios. As demais matérias, em regra, ficaram com os Estados- membros; 6. A CF/88 traz as competências da União, dos Estados, do DF e dos Municípios; Obrigado pela atenção e até a próxima aula! Fiquem bem!
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