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atividade policial militar

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POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ 
DIRETORIA DE INSTRUÇÃO E ENSINO CENTRO DE ENSINO DE BIGUAÇU 
 
 
CURSO DE GRADUAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O EMPREGO LEGÍTIMO DA FORÇA LETAL NA ATIVIDADE 
POLICIAL COMO MEDIDA EXTREMA DE PRESERVAÇAO 
DA ORDEM PÚBLICA 
 
 
 
EGON FERREIRA PLATT HEMANN 
 
 
 
 
 
 
 
Florianópolis (SC) 
2007 
 
EGON FERREIRA PLATT HEMANN 
 
 
 
 
 
 
O EMPREGO LEGÍTIMO DA FORÇA LETAL NA ATIVIDADE 
POLICIAL COMO MEDIDA EXTREMA DE PRESERVAÇAO 
DA ORDEM PÚBLICA 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como 
requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel 
em Segurança Pública da Universidade do Vale do 
Itajaí, Centro de Educação Biguaçu. 
 
Orientador: Major PM Marcelo Cardoso 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Florianópolis (SC) 
2007 
 
 
 
EGON FERREIRA PLATT HEMANN 
 
 
 
O EMPREGO LEGÍTIMO DA FORÇA LETAL NA ATIVIDADE 
POLICIAL COMO MEDIDA EXTREMA DE PRESERVAÇAO 
DA ORDEM PÚBLICA 
 
Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado e aprovado em sua 
forma final pela Coordenação do Curso de Segurança Pública da Universidade do 
Vale do Itajaí, em 02 de outubro de 2007. 
 
___________________________________ 
Prof. Msc. Moacir José Serpa 
Univali – CE Florianópolis 
Coordenador do Curso 
 
 
Banca Examinadora: 
 
 
___________________________________ 
Major PM Marcelo Cardoso 
Orientador 
 
 
 
___________________________________ 
1° Tenente PM Emerson Fernandes 
Membro 
 
 
 
___________________________________ 
Prof. Msc. Sandro César Sell 
Membro 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Este trabalho é dedicado à Polícia Militar de Santa 
Catarina, bem como, a todos os policiais militares que 
diuturnamente zelam pela preservação da ordem 
pública. 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
 
 
Agradeço a Deus, por se fazer presente em todos os 
momentos de minha vida, oferecendo respostas a 
todas as minhas perguntas, esclarecimento a todas as 
minhas dúvidas, encorajando-me nos momentos de 
fraqueza, confortando-me nas horas difíceis, 
alegrando-me nos momentos de tristeza, mostrando-
me sempre qual caminho percorrer... 
Aos meus pais Egon Curt Hemann e Vanir Ferreira 
Platt, por terem estado sempre ao meu lado, educando-
me, orientando-me, apoiando-me, socorrendo-me, 
oferecendo-me amor, carinho, apoio... 
A minha namorada, Naíma Huk Amarante, por fazer de 
meus dias, dias melhores... 
Ao Major PM Marcelo Cardoso, professor orientador, 
por ter aceitado a missão de me auxiliar na elaboração 
do presente trabalho... 
A Polícia Militar de Santa Catarina por proporcionar-me 
a oportunidade de crescimento profissional e pessoal... 
Aos verdadeiros amigos, próximos ou distantes, que se 
alegram com meu sucesso... 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Que Deus reserve no Céu, um lugar digno para todos 
aqueles que, diariamente, vão ao Inferno para garantir 
a paz de seus semelhantes”. 
 
Miliciano desconhecido 
 
RESUMO 
 
O presente trabalho de conclusão de curso tem por escopo realizar estudo no intuito 
de verificar o emprego legítimo da força letal na atividade policial como medida 
extrema de preservação da ordem pública. O Estado investe na seleção de um 
cidadão, dando-lhe formação e treinamento, de forma a outorgar-lhe autoridade e 
poder para que possa ser reconhecido como um encarregado da aplicação da lei, 
bem como, responsável pela preservação da ordem pública. A autoridade e o poder 
dados a este cidadão e, agora policial, são muito grandes, e em nome de uma vida, 
um policial, no desempenho de suas funções poderá chegar ao extremo de tirar a 
vida de outrem. Ao trabalhar na rua, o policial necessita trazer consigo um leque de 
respostas variadas para situações que exijam enfrentamento. Ter apenas uma 
resposta não será suficiente para conter uma agressão. Tendo em vista que as 
resistências e agressões existem nas mais variadas formas e graus de intensidade, 
o policial terá que adequar a sua reação à intensidade da agressão, não podendo 
em momento algum valer-se da força desproporcional. Em assim sendo, torna-se 
indispensável que o policial em sua atividade diária, saiba em que momento poderá 
empregar a força letal objetivando a preservação da ordem pública. Para dar 
resposta aos questionamentos, foi utilizada a pesquisa bibliográfica em livros de 
doutrina, artigos científicos e sites de doutrina jurídica. Quanto ao universo de 
métodos que proporcionam as bases lógicas de investigação científica, utilizou-se o 
método indutivo. 
 
 
 
Palavras - chave: Agressão, força letal, ordem pública. 
 
 
 
. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
The present work of course conclusion has for target to produce a study with the 
intention of verifying the legitimate use of lethal force, in police activity, as an extreme 
measure to preserve public order. The State invests in the selection of a citizen, 
giving him formation and training, in a way that grants him authority and power for his 
being recognized as the person in charge of enforcing the law, as well as responsible 
for maintaining the Public Order. The authority and power granted to this citizen, now 
policeman, are huge, and in behalf of a life, a policeman may, when performing his 
duties, come to the extreme of taking someone's life. When working in the streets, a 
policeman needs to bring with himself a fan of answers to situations that demand 
confrontation. Having only one answer will not suffice to contain an aggression. 
Considering that resistances and aggressions exist in several ways and degrees of 
intensity, the policeman has to adequate his reaction to the intensity of the 
aggression, without, in any moment, making use of disproportionate strength. That 
being said, it is imperative that the policeman, is his daily duties, know in which 
moments will he be allowed to make use of lethal force, in behalf of the preservation 
of the Public Order. To give answer to the asked questions, the bibliographical 
research was used in books of doctrine, scientific articles and sites of legal doctrine. 
As for the universe of methods that provide the logical bases of scientific 
investigation, the inductive method was used. 
 
 
 
Keywords: Aggression, lethal force, public order. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE ILUSTRAÇÕES 
 
Ilustração 1: Modelo Flect de uso progressivo da força. ........................................... 59 
Ilustração 2: Modelo Canadense de uso progressivo da força. ................................. 60 
Ilustração 3: Modelo Remsberg de uso progressivo da força.................................... 61 
Ilustração 4: Modelo Nashville de uso progressivo da força. .................................... 62 
Ilustração 5: Modelo Phoenix de uso progressivo da força. ...................................... 63 
Ilustração 6: Modelo de Uso da Força. ...................................................................... 64 
Ilustração 7: Modelo de Opções de Uso da Força. ................................................... 65 
Ilustração 8: Modelo Básico de Uso Progressivo da Força. ...................................... 67 
Ilustraçao 9: Sistema de Defesa.................................................................................75 
Ilustração 10: Visualização das situações. ................................................................ 81 
Ilustração 11: Triângulo do Tiro. ................................................................................ 82 
Ilustração 12: Princípios essenciais no uso da força e armas de fogo. ..................... 89 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS 
 
 
SENASP – Secretaria Nacional de Segurança Pública. 
 
SUMÁRIO 
 
 
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................13 
1.1 TEMA DE PESQUISA ...................................................................................... 13 
1.2 PROBLEMA DE PESQUISA ............................................................................ 14 
1.3 OBJETIVOS ..................................................................................................... 14 
1.3.1 Geral ......................................................................................................... 14 
1.3.2 Específicos .............................................................................................. 14 
1.4 JUSTIFICATIVA ............................................................................................... 15 
1.5 METODOLOGIA DA PESQUISA ..................................................................... 16 
1.6 APRESENTAÇÃO GERAL .............................................................................. 18 
2 O PAPEL DESEMPENHADO PELAS POLÍCIAS MILITARES ............................. 19 
2.1 MISSÃO CONSTITUCIONAL DAS POLÍCIAS MILITARES ............................. 19 
2.1.1 Preservação da ordem pública .............................................................. 20 
2.1.1.1 Segurança pública .............................................................................. 22 
2.1.1.2 Tranqüilidade pública .......................................................................... 23 
2.1.1.3 Salubridade pública ............................................................................ 24 
2.1.2 Polícia Ostensiva..................................................................................... 24 
2.2 PODER DE POLÍCIA ....................................................................................... 25 
2.2.1 Conceito ................................................................................................... 25 
2.2.2 Extensão e limites ................................................................................... 27 
2.2.3 Atributos .................................................................................................. 28 
2.2.3.1 Discricionariedade .............................................................................. 28 
2.2.3.2 Auto-executoriedade ........................................................................... 29 
2.2.3.3 Coercibilidade ..................................................................................... 30 
2.2.4 Meios de atuação .................................................................................... 30 
3 APLICAÇÃO DA FORÇA NA ATIVIDADE POLICIAL SOB A ÉGIDE DOS 
DIREITOS HUMANOS; DIREITO A VIDA E LEGÍTIMA DEFESA ........................... 33 
3.1 ATIVIDADE POLICIAL E DIREITOS HUMANOS ............................................ 33 
3.2 O USO DA FORÇA NA ATIVIDADE POLICIAL ............................................... 38 
3.3 DIREITO A VIDA ............................................................................................. 43 
3.4 LEGÍTIMA DEFESA ......................................................................................... 45 
3.4.1 Conceito e fundamento .......................................................................... 45 
3.4.2 Agressão atual ou iminente e injusta .................................................... 47 
3.4.3 Defesa de um direito próprio ou alheio ................................................. 47 
3.4.4 Moderação dos meios necessários ....................................................... 48 
3.4.5 Elemento subjetivo ................................................................................. 50 
4 O EMPREGO GRADUAL DA FORÇA NA ATIVIDADE POLICIAL ...................... 51 
 
4.1 ESCALONAMENTO DO USO DA FORÇA ...................................................... 51 
4.1.1 Conceito ................................................................................................... 51 
4.1.2 Os elementos do uso da força ............................................................... 51 
4.1.3 Medidas de força ..................................................................................... 52 
4.1.4 Tipos de uso da força ............................................................................. 53 
4.1.5 Níveis de submissão dos suspeitos ...................................................... 54 
4.1.6 Níveis de uso da força ............................................................................ 55 
4.1.7 Utilização dos níveis de força ................................................................ 56 
4.2 MODELOS DE USO DA FORÇA ..................................................................... 57 
4.2.1 Conceito ................................................................................................... 57 
4.2.2 Modelo Flect ............................................................................................ 58 
4.2.3 Modelo Canadense .................................................................................. 60 
4.2.4 Modelo Remsberg ................................................................................... 61 
4.2.5 Modelo Nashville ..................................................................................... 62 
4.2.6 Modelo Phoenix ....................................................................................... 63 
4.2.7 Modelo de Uso da Força ......................................................................... 64 
4.2.8 Modelo de Opções de Uso da Força ...................................................... 64 
4.2.9 Modelo Básico de Uso Progressivo da Força ...................................... 67 
5 SOBREVIVÊNCIA POLICIAL ................................................................................ 68 
5.1 ATIVIDADE POLICIAL E O CONFRONTO ARMADO ..................................... 68 
5.1.1 Armas ....................................................................................................... 70 
5.1.2 Armas de fogo ......................................................................................... 71 
5.1.2.1 Histórico .............................................................................................. 71 
5.1.2.2 Conceito ............................................................................................. 72 
5.1.2.3 Classificação das armas de fogo ........................................................ 73 
5.1.3 Armas letais ............................................................................................. 73 
5.2 CÍRCULO DE SOBREVIVÊNCIA .................................................................... 74 
5.2.1 Elementos do círculo de sobrevivência ................................................ 76 
5.2.1.1 Preparação mental ............................................................................. 76 
5.2.1.2 Preparação física ................................................................................ 78 
5.2.1.3 Preparação tática ................................................................................ 78 
5.2.1.4 Equipamento....................................................................................... 79 
5.2.1.5 Habilidade no tiro ................................................................................ 79 
5.3 DECISÃO DE DISPARO .................................................................................. 79 
5.3.1 Triângulo do tiro ...................................................................................... 80 
5.3.2 Tiro intimidativo ...................................................................................... 84 
5.4 TIRO DEFENSIVO NA PRESERVAÇÃO DA VIDA ......................................... 84 
5.5 PRINCÍPIOS ESSENCIAIS NO USO DA FORÇA E ARMAS DE FOGO ......... 88 
5.6 EMPREGO LEGAL DO USO DA FORÇA MORTAL ....................................... 91 
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 93 
REFERÊNCIAS .........................................................................................................96 
 
 
 13 
1 INTRODUÇÃO 
 
 
1.1 TEMA DE PESQUISA 
 
As Polícias Militares são órgãos que apresentam como missão constitucional 
a preservação da ordem pública e a polícia ostensiva. Para o cumprimento de tal 
missão, é conferido pelo Estado, aos policiais militares, o poder denominado poder 
de polícia administrativa. 
O poder de polícia administrativa relaciona-se ao controle exercido pelo 
Estado aos interesses, direitos e atividades individuais, em benefício da coletividade 
ou do próprio Estado. 
Apresenta como atributos específicos e peculiares ao seu exercício, dentre 
outros, a coercibilidade. Por meio de tal atributo, é permitido ao agente público 
utilizar-se da força para o cumprimento de um ato de polícia. 
Há diversos instrumentos legais que norteiam e balizam a faculdade do uso 
da força pelos encarregados da aplicação da lei. Os referidos instrumentos trazem 
tal situação como sendo uma exceção, devendo ser aplicada de forma gradual, 
respeitando os princípios de aplicação da força, quais sejam: legalidade, 
necessidade, proporcionalidade e conveniência. 
A experiência tem mostrado que a maioria das ocorrências policiais é 
solucionada por meio da verbalização, no entanto, é um engano, para não dizer 
ingenuidade, achar que o policial, em sua atividade diuturna, jamais fará uso da 
força letal. 
Poderá haver situações extremas em que a agressão sofrida pelo policial 
somente poderá ser neutralizada por intermédio do emprego da força letal, sendo 
assim necessário, por parte do policial, preparação técnica, psicológica e ética. 
Em assim sendo, fundamental se faz estabelecer um caminho norteador de 
entendimento, oferecendo firmes fundamentos, bem como subsídios teóricos, para 
orientar as condutas policiais, adequado-as ao olhar do sistema legal pátrio e da 
sociedade em geral. 
É neste pensar que se delineia a presente pesquisa, a qual apresenta como 
tema “o emprego legítimo da força letal na atividade policial como medida extrema 
 14 
de preservação da ordem pública”, pretendendo-se responder ao problema de 
pesquisa que aparecesse na seqüência. 
 
 
1.2 PROBLEMA DE PESQUISA 
 
Diante do tema proposto, a presente investigação apresenta o seguinte 
problema de pesquisa: “quais os elementos necessários para legitimar o uso letal da 
força na atividade policial visando à preservação da ordem pública”? 
 
 
 
1.3 OBJETIVOS 
 
1.3.1 Geral 
 
A presente pesquisa tem como objetivo geral, fornecer aos policiais caminhos 
norteadores, ou ainda, posturas adequadas relacionadas ao emprego legítimo da 
força letal na atividade policial com fins a preservação da ordem pública. 
 
 
 
1.3.2 Específicos 
 
A partir do objetivo geral, podem-se determinar alguns estudos no intuito de, 
especificamente: 
- Conceituar ordem pública; 
- Apresentar a missão constitucional das polícias militares; 
- Conceituar o poder de polícia, sob enfoque do uso da força, na atividade policial; 
- Apresentar o uso da força na atividade policial sob o enfoque dos direitos 
humanos; 
- Conceituar o direito a vida; 
- Apresentar modelos referentes ao escalonamento do uso da força; 
- Apresentar os princípios essenciais delimitadores do uso da força mortal; 
- Apresentar fundamentos para o emprego da força letal na atividade policial; 
- Conceituar o tiro defensivo na preservação da vida. 
 15 
1.4 JUSTIFICATIVA 
 
O policial em sua atividade laboral diuturna, certamente intervirá nos direitos e 
liberdades dos cidadãos, limitando-os. Em assim sendo, torna-se fundamental que o 
agente da lei, no exercício de suas funções, esteja autorizado a utilizar a força em 
situações que assim o exigirem. 
Os padrões internacionais sobre a utilização da força pela polícia reconhecem 
a necessidade de as instituições policiais serem dotadas de diversos poderes, com a 
finalidade de fazer cumprir a lei, preservando a ordem pública. 
Não somente os documentos internacionais, mas também as leis nacionais 
admitem o uso legal da força pela polícia. Isto se justifica pela necessidade que o 
poder público apresenta em nome do bem estar comum e coletivo, de restringir os 
direitos individuais. 
O emprego da força, contudo, em nenhum momento poderá exceder os 
limites legais, devendo respeitar os princípios da legalidade, proporcionalidade, 
conveniência e necessidade. 
Os encarregados da aplicação da lei somente recorrerão ao uso da força 
quanto todos os outros meios para atingir o objetivo legítimo tenham falhado, 
podendo ser o uso da força justificado quando comparado ao objetivo legítimo. 
Tendo em vista que as resistências e agressões existem nas mais variadas 
formas e graus de intensidade, o policial terá que adequar a sua reação à 
intensidade da agressão, não podendo em momento algum valer-se da força 
desproporcional, ilegítima. 
Destaca-se ainda que o policial militar ao valer-se da força deverá empregá-la 
de forma progressiva, gradual, escalonada, sendo a força uma resposta à agressão 
sofrida. 
Observa-se o quanto complexa é a atividade policial, que como medida 
extrema e em nome de uma vida, o policial poderá retirar a vida de outrem, através 
do emprego da força letal. 
Em assim sendo, torna-se fundamental o conhecimento acerca do emprego 
legítimo da força letal na atividade policial como medida extrema de preservação da 
ordem pública, evitando-se que condutas isoladas, desprovidas de técnica, 
legalidade e ética, comprometam a imagem da corporação policial militar. 
 16 
1.5 METODOLOGIA DA PESQUISA 
 
O presente estudo relativo ao emprego legítimo da força letal na atividade 
policial como medida extrema de preservação da ordem pública, fundamentou-se no 
método indutivo associado à técnica de pesquisa bibliográfica exploratória. 
Em assim sendo, objetivando-se a melhor compreensão da metodologia 
empregada na pesquisa em questão, mencionar-se-ão as características de cada 
metodologia. 
De acordo com Andrade (2003, p. 129) pesquisa “é o conjunto de métodos ou 
caminhos que são percorridos na busca do conhecimento”. 
Pasold (2005, p. 103-105) acrescenta que duas são as categorias implícitas 
na metodologia, quais sejam: o método de investigação e a técnica. Quanto ao 
primeiro, afirma ser “a forma lógico-comportamental-investigatória na qual se baseia 
o pesquisador para buscar os resultados que pretende alcançar”, relativamente ao 
segundo, assevera ser “o conjunto diferenciado de informações reunidas e 
acionadas em forma instrumental para realizar operações intelectuais ou físicas, sob 
o comando de uma ou mais bases lógicas investigatórias”. 
Pasold (2005, p. 104) explica que, enquanto “o método é a base lógica 
operacional da investigação, a técnica é o instrumento para tal afazer”. 
Fachin (2003, p. 123) contribui, destacando que “com base em métodos 
adequados e técnicas apropriadas, o pesquisador busca conhecimentos específicos, 
respostas ou soluções para o problema estudado”. 
Referindo-se ao método, Markoni e Lakatos (2006, p. 83) afirmam ser “o 
conjunto das atividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e 
economia, permite alcançar o objetivo - conhecimentos válidos e verdadeiros - 
traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões do 
cientista”. Os autores destacam que qualquer ciência exige o emprego de métodos 
científicos. (MARKONI; LAKATOS, 2006). 
Relativamente à pesquisa, Fachin (2003, p. 123), afirma ser “um 
procedimento intelectual em que o pesquisador tem como objetivo adquirir 
conhecimentos por meio da investigação de uma realidade e da busca de novas 
verdades sobre um fato (objeto, problema)”. 
Pasold (2005) destaca como sendo cinco os métodos de pesquisa, quais 
sejam: método indutivo, dedutivo, dialético, comparativo e sistêmico. Em análise aos 
 17 
conceitos trazidos por Pasold acerca dos métodos da pesquisa, percebe-se que o 
primeiro método é o mais apropriado a presente investigação.Nas palavras do autor, o método indutivo consiste em “pesquisar e identificar 
as partes de um fenômeno e colecioná-las de modo a ter uma percepção ou 
conclusão geral”. (PASOLD, 2005, 104). 
Corroborando, Andrade (2003, p. 131) enfatiza que no método indutivo “[...] a 
cadeia de raciocínio estabelece conexão ascendente, do particular para o geral”, 
sendo que, “as constatações particulares é que levam às teorias e leis gerais”. 
Em relação ao delineamento da pesquisa, esta foi realizada utilizando-se da 
técnica de pesquisa bibliográfica, tendo por base livros, artigos científicos, 
periódicos, repertórios jurisprudenciais e coletâneas legais. 
Fachin (2003, p.125) afirma que “a pesquisa bibliográfica diz respeito ao 
conjunto de conhecimentos humanos reunidos nas obras”, constituindo-se “o ato de 
ler, selecionar, fichar, organizar e arquivar tópicos de interesse para pesquisar em 
pauta”. 
No mesmo sentido, Markoni e Lakatos (2006) destacam que a pesquisa 
bibliográfica, abrange a bibliografia referente ao tema do estudo, já tornada pública, 
desde boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias, teses, material 
cartográfico, etc.; além de meios de comunicação orais como: rádio, gravações em 
fita magnética e audiovisuais, filmes e televisão. 
Relativamente aos níveis de pesquisa, Gil (1999), os classifica como sendo 
exploratório, descritivo ou explicativo. Analisando-se os conceitos trazidos pelo autor 
relativos aos níveis de pesquisa, observa-se que o mais adequado para a pesquisa 
em destaque relaciona-se ao nível exploratório. 
Segundo Gil (1999, p. 43) a pesquisa exploratória é aquela que guarda por 
objetivo principal “desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e idéias, tendo em 
vista a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para 
estudos posteriores”, bem como “proporcionar visão geral, de tipo aproximativo, 
acerca de determinado fato”. 
 
 
 
 
 
 18 
1.6 APRESENTAÇÃO GERAL 
 
Para se verificar os elementos necessários legitimadores do uso da força letal 
na atividade policial, com fins a preservação da ordem pública, a pesquisa ora 
desenvolvida apresentará a seguinte estrutura. 
O capítulo inicial apresentará uma breve introdução, a qual conterá o 
problema de pesquisa, objetivos (geral e específico), justificativa, metodologia da 
pesquisa e apresentação geral do trabalho. 
O capítulo subseqüente destacará o papel constitucional da instituição polícia 
militar, apontando aspectos relativos à ordem pública, polícia ostensiva e poder de 
polícia. 
Sequencialmente, o terceiro capítulo, abordará pontos referentes à atividade 
policial e os direitos humanos, o uso legítimo da força na atividade policial, o direito à 
vida e a legítima defesa. 
O quarto capítulo conterá o escalonamento do uso da força, sendo 
destacadas questões relacionadas aos elementos do uso da força, medidas de 
força, tipos de uso da força, níveis de uso da força, nível de submissão dos 
suspeitos, utilização dos níveis de força, modelos de uso gradual da força. 
O penúltimo capítulo, intitulado sobrevivência policial, abordará a atividade 
policial diante do confronto armado, os elementos constituintes do círculo da 
sobrevivência policial, os princípios norteadores da força mortal, a legalidade do uso 
da força mortal, o triângulo do tiro e o tiro defensivo na preservação da vida (método 
Giraldi). 
Por derradeiro, serão apresentadas as considerações finais relativas à 
pesquisa realizada, em síntese que circunscreva os resultados atingidos com a 
pesquisa, bem como o cumprimento aos objetivos propostos neste Trabalho de 
Conclusão de Curso. 
 
 
 
 19 
2 O PAPEL DESEMPENHADO PELAS POLÍCIAS MILITARES 
 
 
2.1 MISSÃO CONSTITUCIONAL DAS POLÍCIAS MILITARES 
 
A Constituição do Brasil de 1967 (BRASIL, 1967), em texto do artigo 13, 
parágrafo 4º, afirma que as Polícias Militares são “instituídas para a manutenção da 
ordem e segurança interna nos Estados, nos Territórios e no Distrito Federal [...]”. 
Após a Emenda Constitucional nº 1, de 17 de outubro de 1969, excluiu-se do 
texto constitucional a expressão segurança interna, restando apenas como missão 
inerente as Polícias Militares à manutenção da ordem pública nos Estados, nos 
Territórios e no Distrito Federal (FONSECA, 2005). 
Com o advento da Constituição do Brasil de 1988 (BRASIL, 1988), as Polícias 
Militares passaram a ser um dos órgãos responsáveis pela segurança pública, tendo 
como competência constitucional a polícia ostensiva e a preservação da ordem 
pública. 
 
Art. 144 - A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade 
de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da 
incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: 
I - polícia federal; 
II - polícia rodoviária federal; 
III - polícia ferroviária federal; 
IV - polícias civis; 
V - polícias militares e corpos de bombeiros militares. 
[...] 
§ 5º - às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da 
ordem pública; aos corpos de bombeiros militares, além das atribuições 
definidas em lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil. 
(BRASIL, 1988). 
 
Em análise aos artigos supracitados, percebe-se que a principal diferença 
entre as duas normas constitucionais, em relação à competência das Polícias 
Militares, refere-se à alteração do termo “manutenção da ordem”, citado pela 
primeira norma; para “preservação da ordem”, expresso na segunda norma. 
Destaca-se ainda, o acréscimo da terminologia Polícia Ostensiva na Lei Maior 
vigente. 
Em consonância com a Carta Magna de 1988, a Constituição do Estado de 
Santa Catarina, em seu artigo 107, traz o seguinte: 
 
 20 
Art. 107. À Polícia Militar, órgão permanente, força auxiliar, reserva do 
Exército, organizada com base na hierarquia e na disciplina, subordinada ao 
Governador do Estado, cabe, nos limites de sua competência, além de 
outras atribuições estabelecidas em Lei: 
I – exercer a polícia ostensiva relacionada com: 
a) a preservação da ordem e da segurança pública; 
b) o radiopatrulhamento terrestre, aéreo, lacustre e fluvial; 
c) o patrulhamento rodoviário; 
d) a guarda e a fiscalização das florestas e dos mananciais; 
e) a guarda e a fiscalização do trânsito urbano; 
f) a polícia judiciária militar, nos termos de lei federal; 
g) a proteção do meio ambiente; 
h) a garantia do exercício do poder de polícia dos órgãos e entidades 
públicas, especialmente da área fazendária, sanitária, de proteção 
ambiental, de uso e ocupação do solo e de patrimônio cultural; 
 II – cooperar com órgãos de defesa civil 
III - atuar preventivamente como força de dissuasão e repressivamente 
como de restauração da ordem pública. (SANTA CATARINA, 1989). 
 
Percebe-se que tanto a Constituição do Brasil de 1988 quanto a Constituição 
do Estado de Santa Catarina, assinalam como competências da Polícia Militar a 
polícia ostensiva e a preservação da ordem pública. 
Diante do exposto, fundamental se torna identificar o que se compreende por 
preservação da ordem pública e polícia ostensiva. 
 
 
2.1.1 Preservação da ordem pública 
 
Para que se possa compreender a abrangência da missão policial militar, 
necessário se torna identificar o que vem a ser polícia. 
Segundo Amaral (2003, p. 46), originariamente, policiar significa civilizar, de 
forma a refrear a exuberância e a selvageria. “[...] Polícia é, então, a organização 
administrativa (vale dizer da polis, da Civita, do Estado = sociedade politicamente 
organizada) que tem por atribuição impor limitações à liberdade [...] na exata [...] 
medida necessária à salvaguarda e manutenção da ordem pública. [...]”. 
Lazzarini (1999) destaca que a polícia é quem assegura a ordem pública, em 
especial a segurança pública. O autor prossegue, afirmando que a idéia de polícia é 
inseparável da idéia de Estado, podendo este, inclusive, abrir mão de suasforças 
armadas, mas nunca prescindir da sua força pública. 
De acordo com Junior (2000, p. 553) “polícia é o termo genérico com que se 
designa a força organizada que protege a sociedade, livrando-a de toda vis 
inquietativa”. 
 21 
Corroborando, Manoel (2004, p. 33) acrescenta que “[...] polícia é o conjunto 
de poderes coercitivos exercidos pelo Estado sobre as atividades, quando abusivas, 
a fim de assegurar-se a ordem pública”. 
 Vencida a etapa referente à conceituação da expressão polícia, passar-se-á a 
análise do termo preservação, expresso no artigo 144, parágrafo 5º da Constituição 
do Brasil de 1988. 
Lazzarini (1999) registra que a Constituição do Brasil de 1988 evoluiu de 
forma considerável quando atribuiu às Polícias Militares a função de preservação da 
ordem pública e não mais a manutenção da ordem pública, a exemplo do que fazia o 
texto constitucional anterior. 
Ao explanar sobre a questão da amplitude do termo preservação, utilizado 
pelo texto constitucional, Lazzarini (1999, p.105) destaca que: 
A preservação abrange tanto a prevenção quanto a restauração da ordem 
pública, no caso, pois seu objetivo é defendê-la, conservá-la íntegra, intacta, 
daí afirmar-se agora com plena convicção que a polícia de preservação da 
ordem pública abrange as funções de polícia preventiva e a parte da polícia 
judiciária denominada de repressão imediata, pois é nela que ocorre a 
restauração da ordem [...]. 
 
 
 Ultrapassada a barreira conceitual do vocábulo preservação, torna-se 
fundamental conceituar ordem pública. 
 Costa (2002) destaca que a primeira referência ao termo ordem pública 
ocorreu na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789), que no seu 
artigo 10 dita que “ninguém deve ser inquietado por suas opiniões, mesmo 
religiosas, desde que sua manifestação não perturbe a ordem pública estabelecida 
em lei”. 
Marcineiro e Pacheco (2005, p. 40), referindo-se ao termo ordem pública, 
destacam que há a necessidade de “haver uma determinada ordem para que a 
sociedade viva em harmonia e possa atingir seu objetivo principal, qual seja, o bem 
comum. A esta ordem convencionou-se chamar de ordem pública.” 
O art. 2º, item 21, do decreto 88.777 de 1983 (BRASIL, 1983) reza que ordem 
pública é: 
Conjunto de regras formais, que emanam do ordenamento jurídico da 
Nação, tendo por escopo regular as relações sociais de todos os níveis, do 
interesse público, estabelecendo um clima de convivência harmoniosa e 
pacífica, fiscalizado pelo poder de polícia, e constituindo uma situação ou 
condição que conduza ao bem comum. 
 
 
 22 
De acordo com Lazzarini (1999, p. 52) a ordem pública: 
[...] resulta [...] de um conjunto de princípios de ordem superior, políticos, 
econômicos, morais e algumas vezes religiosos, aos quais uma sociedade 
considera estreitamente vinculada à existência e conservação da 
organização social estabelecida. 
 
 Prosseguindo, o mencionado autor afirma que “a ordem pública propriamente 
dita é a ausência de desordens, de atos de violência contra as pessoas, os bens ou 
o próprio Estado”. (LAZZARINI, 1999, p.143). 
Valla (2004, p. 102) enfatiza que se pode colocar a noção de ordem pública 
sob dois planos, quais sejam: o plano ideal e o plano jurídico. 
No plano ideal, a ordem pública é uma situação ou estado que se 
caracteriza pela ausência de desordem, isto é, a disposição dos cidadãos 
de se respeitarem mutuamente, não ferindo uns o direito dos outros. Já, no 
plano jurídico, a ordem pública é uma situação não apenas de legalidade e 
moralidade, mas, sobretudo, de boa convivência, condição pela qual 
prevalece a harmonia da coletividade, fundamentada nos princípios éticos 
vigentes na sociedade. Portanto, deve ser legal, legítima e moral. (grifo do 
autor). 
 
 
Assis (2003, p.21) define ordem pública como sendo: 
[...] o estado de organização que deve seguir a sociedade; com uma 
Constituição boa e que seja cumprida; e principalmente, com a liberdade 
necessária para qualquer um progredir em suas aspirações; e a certeza de 
que aqueles que tentem prejudicar essa harmonia sejam corrigidos pela lei. 
 
Lazzarini (1999) destaca com sendo três os elementos que compõem a 
ordem pública, quais sejam: segurança pública, tranqüilidade pública e salubridade 
pública. 
 
 
 
2.1.1.1 Segurança pública 
 
Valla (2004) afirma que a segurança pública se constitui no principal 
componente da ordem pública. A define como sendo “a garantia da ordem pública 
contra suas ameaças”. (VALLA, 2004, p. 99) 
De acordo com Lazzarini (1999, p. 21), segurança pública: 
 
É o estado antidelitual, que resulta da observância dos preceitos tutelados 
pelos códigos penais comuns e pela lei de contravenção penais, com ações 
de polícia repressiva ou preventiva típicas, afastando-se, assim, por meio de 
organizações próprias, de todo o perigo, ou de todo o mal que possa afetar 
a ordem pública em prejuízo da vida, da liberdade ou dos direitos de 
propriedade das pessoas, limitando as liberdades individuais, 
 23 
estabelecendo que a liberdade de cada pessoa, mesmo em fazer aquilo que 
a lei não lhe veda, não pode ir além da liberdade assegurada aos demais, 
ofendendo-a. 
 
De acordo com Amaral (2003, p.26), segurança pública “é o afastamento de 
todo perigo ou mal que possa afetar a ordem pública, vindo a prejudicar os direitos 
fundamentais dos cidadãos”. 
Para Teza (2003), “segurança pública é a garantia relativa da preservação da 
ordem pública mediante aplicação do poder de polícia a encargo do Estado”. 
Conforme Neto (1989, p. 343), segurança pública é: 
Uma situação social, a ser mantida ou alcançada, em que o interesse 
coletivo na existência da ordem, na estabilidade do Estado e na 
incolumidade das pessoas e dos bens esteja atendido, a despeito de 
comportamentos e de situações adversativos. 
 
Por fim, o autor destaca que para a manutenção ou o alcance desta situação, 
o Estado terá de agir por meio preventivo e repressivo em quase todos os setores da 
atividade humana, uma vez que a segurança pode ser ameaçada por inúmeros 
comportamentos antagônicos. (NETO, 1989). 
 
 
2.1.1.2 Tranqüilidade pública 
 
A tranqüilidade pública significa, de acordo com Teza (2003), “o estágio em 
que a comunidade se encontra num clima de convivência harmoniosa e pacífica, 
representando assim uma situação de bem-estar em comum”. 
Referindo-se à tranqüilidade pública, Lazzarini (1999, p. 22-23) assevera que: 
 
Exprime o estado de ânimo tranqüilo, sossegado, sem preocupações nem 
incômodos, que traz às pessoas uma serenidade, ou uma paz de espírito. A 
tranqüilidade pública, assim, revela a quietude, a ordem, o silêncio, a 
normalidade das coisas, que, como se faz lógico, não transmitem nem 
provocam sobressaltos, preocupações ou aborrecimentos, em razão dos 
quais se possa perturbar o sossego alheio. A tranqüilidade, sem dúvida 
alguma, constitui direito inerente a toda a pessoa, em virtude da qual está 
autorizada a impor que lhe respeitem o bem estar, ou a comodidade do seu 
viver. 
 
 Diante do conceito acima exposto acerca da tranqüilidade pública e com 
fundamento em Lazzarini (1999), pode-se afirmar que a tranqüilidade pública refere-
se à apresentação de um ambiente de convívio social tranqüilo, que não gere 
sensação de desconforto aos cidadãos. 
 
 24 
2.1.1.3 Salubridade pública 
 
 Por fim, como último elemento da tríade formadora da ordem pública, tem-se 
a salubridade pública, que conforme Lazzarini (1999, p. 23) “[...] designa [...] o 
estado de sanidade e de higiene de um lugar, em razão do qual se mostram 
propícias às condições de vida de seus habitantes”. 
 
 
2.1.2 Polícia Ostensiva 
 
Para compreender o significado da terminologia polícia ostensiva expresso no 
artigo 144, parágrafo 5º da Constituição do Brasil de 1988, necessário se faz definir 
policiamento ostensivo. 
O artigo 2º, item 27 do Decreto 88.777 de 1983 (BRASIL, 1983), conceitua 
policiamento ostensivocomo sendo a “ação policial, exclusiva das Polícias Militares 
em cujo emprego o homem ou a fração de tropa engajados sejam identificados de 
relance, quer pela farda quer pelo equipamento, ou viatura, objetivando a 
manutenção da ordem pública”. 
Mendes (BRASIL, 2001) ao avaliar a questão referente ao assunto polícia 
ostensiva, assevera que se trata de uma expressão nova, não apenas no texto 
constitucional, mas também na nomenclatura da especialidade, tendo sido adotada, 
no entender do autor, para estabelecer a exclusividade constitucional da Polícia 
Militar para atuar ostensivamente, e para marcar a expansão da competência 
policial. 
Segundo Teza (2003), a polícia ostensiva, 
É a instituição que, utilizando seu poder legal, é encarregada de fiscalizar e 
inspecionar através do Policiamento Ostensivo, todas as atividades da 
sociedade, zelando na normalidade (a boa ordem) e intervindo, quando 
houver a quebra da ordem, visando que esta sociedade conviva em 
harmonia. 
 
Ao analisar a expressão polícia ostensiva, Valla (2004, p.74) assevera que: 
[...] quando menciona polícia ostensiva, ao invés de policiamento ostensivo, 
amplia o conceito, elevando-o além daquele modo visível de atuar, à 
concepção, ao planejamento, à coordenação e à condução de atividades 
correlatas; quando deixa de atribuí-la a outro órgão, não admite a 
concorrência em sua atividade. 
 
 25 
Por derradeiro, observa-se, em análise aos conceitos relacionados à polícia 
ostensiva, que a tal expressão, utilizada pelo texto constitucional, é muito mais 
ampla, expandindo-se assim, a atuação das Polícias Militares à integralidade das 
fases do exercício do poder de polícia. Em assim sendo, torna-se imprescindível 
fazer uma estudo acerca do poder de polícia. 
 
 
2.2 PODER DE POLÍCIA 
 
2.2.1 Conceito 
 
Segundo Meirelles (2003, p. 127), o poder de polícia é conceituado como 
sendo “[...] a faculdade de que dispõe a Administração Pública para condicionar e 
restringir o uso e gozo de bens, atividades e direitos individuais, em benefício da 
coletividade ou do próprio Estado”. 
O mencionado autor, em relação ao poder de polícia, enfatiza que: 
 
[...] é o mecanismo de frenagem de que dispõe a Administração Pública 
para conter os abusos do direito individual. Por este mecanismo, que faz 
parte de toda Administração, o Estado detém a atividade dos particulares 
que se revelar contrária, nociva ou inconveniente ao bem-estar social, ao 
desenvolvimento e à segurança nacional. (MEIRELLES, 2003, p. 127) 
 
Conforme Medauar (2006, p. 334) “no exercício do poder de polícia o Estado 
vai arbitrar e conciliar o choque entre direitos e liberdades de indivíduos ou grupos 
de indivíduos”. 
O conceito legal de Poder de Polícia está contido no Código Tributário 
Nacional, Lei nº 5.172, de 25.10.1966, que em texto do Art. 78 dispõe de forma 
ampla e explicativa: 
 
Art. 78 - Considera-se poder de polícia a atividade da administração pública 
que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a 
prática de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público 
concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da 
produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas 
dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à 
tranqüilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais 
ou coletivos. 
 
 
 26 
 Em análise ao texto legal, percebe-se que o mesmo traz como elementares 
conceituais o cerceamento do direito e do interesse ou liberdade individual, em 
razão do interesse público. 
De acordo com Mello (1994, p. 394-395), o poder de polícia relaciona-se: 
 
A atividade estatal de condicionar a liberdade e a propriedade, ajustando-as 
aos interesses coletivos [...]. A expressão, tomada neste sentido amplo, 
abrange tanto atos do Legislativo quanto do Executivo. Refere-se, pois, ao 
complexo de medidas do Estado que delineia a esfera juridicamente 
tutelada da liberdade e da propriedade dos cidadãos. A expressão 'Poder de 
Polícia' pode ser tomada em sentido mais restrito, relacionando-se 
unicamente com as intervenções, quer gerais, quer abstratas, como os 
regulamentos, quer concretas e específicas (tais as autorizações, as 
licenças, as injunções) do Poder Executivo, destinadas a alcançar o mesmo 
fim de prevenir e obstar ao desenvolvimento de atividades particulares 
contrastantes com os interesses sociais. 
 
Conforme Di Pietro (2003, p.111), “[...] o poder de polícia é a atividade do 
Estado consistente em limitar o exercício dos direitos individuais em benefício do 
interesse público”. 
Corroborando, Neto (1987, p. 119) conceitua o poder de polícia como sendo: 
 
[...] a atividade administrativa do Estado que tem por fim limitar e 
condicionar o exercício das liberdades e direitos individuais visando a 
assegurar, em nível capaz de preservar a ordem pública, o atendimento de 
valores mínimos da convivência social, notadamente a segurança, a 
salubridade, o decoro e a estética. 
 
No mesmo sentido, Lazzarini (1999, p. 203) reporta-se ao poder de polícia, 
afirmando que: 
[...] é um conjunto de atribuições da Administração Pública, indelegáveis aos 
particulares, tendentes ao controle dos direitos das pessoas, naturais ou 
jurídicas, a ser inspirado nos ideais do bem comum, e incidentes não só 
sobre elas, como também em seus bens e atividades. 
 
Em relação à razão e ao fundamento do poder de polícia, Meirelles (2003, p. 
129) traz o seguinte: 
 
[...] a razão do poder de polícia é o interesse social e o seu fundamento está 
na supremacia geral que o Estado exerce em seu território sobre todas as 
pessoas, bens e atividades, supremacia que se revela nos mandamentos 
constitucionais e nas normas de ordem pública, que a cada passo opõem 
condicionamentos e restrições aos direitos individuais em favor da 
coletividade, incumbindo ao Poder Público o seu policiamento 
administrativo. 
 
 
 27 
Analisando-se os conceitos acima explicitados acerca do poder de polícia e 
com fundamento nos ensinamentos de Manoel (2004) observa-se que as diversas 
operações e ações realizadas pelas Polícias Militares, na atividade operacional, 
derivam-se do poder de polícia. 
 
 
2.2.2 Extensão e limites 
 
Em relação à extensão do poder de polícia, Meirelles (2003, p 130) afirma 
que: 
[...] é hoje muito ampla, abrangendo desde a proteção à moral e aos bons 
costumes, a preservação da saúde pública, o controle de publicações, a 
segurança das construções e dos transportes até a segurança nacional em 
particular. 
 
 
Referindo-se aos limites do poder de polícia, Lazzarini (1999) afirma que o 
poder de polícia não é um poder ilimitado. Meirelles (2003, p. 131) acrescenta que 
“os limites do poder de polícia administrativa são demarcados pelo interesse social 
em conciliação com os direitos fundamentais do indivíduo assegurados na 
Constituição da República (art. 5º)”. 
Di Pietro (2003, 116), ao descrever sobre os limites do poder de polícia, 
assevera que: 
Como todo ato administrativo, a medida de polícia, ainda que seja 
discricionária, sempre esbarra em algumas limitações impostas pela lei, 
quanto à competência e à forma, aos fins e mesmo com relação aos 
motivos ou ao objeto; quanto aos dois últimos, ainda que a Administração 
disponha certa dose de discricionariedade, esta deve ser exercida nos 
limites traçados pela lei. 
 
Referindo-se aos fins, Di Pietro (2003, p.116) enfatiza que “o poder de polícia 
só deve ser exercido para atender ao interesse público”. 
Em relação à competência e ao procedimento, o poder de polícia deve 
observar as normas legais pertinentes. (DI PIETRO, 2003). 
Quanto ao objeto, aplica-se o princípio administrativo da proporcionalidade 
dos meios aos fins, ou ainda, conforme Di Pietro (2003, p.116): 
[...] o poder de polícia não deve ir além do necessário para a satisfação do 
interesse público que visa proteger; a sua finalidade nãoé destruir os 
direitos individuais, mas, ao contrário, assegurar o seu exercício, 
condicionando-o ao bem-estar social. 
 
 28 
Segundo Di Pietro (2003, p. 116), algumas regras podem ainda ser 
observadas pela polícia administrativa, para que não se eliminem os direitos 
individuais, quais sejam: 
1. a da necessidade, em consonância com a qual a medida de polícia só 
deve ser adotada para evitar ameaças reais ou prováveis de perturbações 
ao interesse público; 
2. a da proporcionalidade, [...] que significa a exigência de uma relação 
entre a limitação ao direito individual e o prejuízo a ser evitado; 
3. a da eficiência, no sentido de que a medida deve ser adequada para 
impedir o dano ao interesse público. 
 
Por derradeiro, Di Pietro (2003) acrescenta que somente se devem empregar 
os meios diretos de coação quando não se visualizar outro meio eficaz para alcançar 
o mesmo objetivo, não sendo válidos quando desproporcionais ou excessivos 
quando comparados ao interesse tutelado pela lei. 
 
 
 
2.2.3 Atributos 
 
De acordo com Di Pietro (2003) os atributos do poder de polícia, também 
conhecidos por características do poder de polícia, são em número de três, quais 
sejam: o da discricionariedade, o da auto - executoriedade e o da coercibilidade. 
 
 
2.2.3.1 Discricionariedade 
 
A discricionariedade, segundo Meirelles (2003, p. 132), é a "[...] livre escolha, 
pela Administração, da oportunidade e conveniência de exercer o poder de polícia, 
bem como de aplicar as sanções e empregar os meios condizentes a atingir o fim 
colimado, que é a proteção de algum interesse público”. 
Nos ensinamentos de Lazzarini (1999, p. 196) tem-se que "[...] 
discricionariedade é o uso da liberdade legal de valoração das atividades policiadas, 
sendo que esse atributo, ainda, diz respeito à gradação das sanções administrativas 
aplicáveis aos infratores”. 
 De acordo com Manoel (2004) discricionariedade não se confunde com 
arbitrariedade, sendo a primeira relacionada à liberdade de agir dentro dos limites da 
lei, enquanto a segunda corresponde à ação fora ou excludente da lei. 
 29 
O poder de polícia, então, vincula-se a lei. Em breves palavras, trata-se de um 
poder amplo, mas não ilimitado ou absoluto. (LAZZARINI, 1999). 
Segundo Manoel (2004) o caráter discricionário da ação PM deve pautar-se 
na lei, possibilitando aos policiais escolher a medida mais conveniente e oportuna 
para o momento, diante do fato concreto. 
 
 
2.2.3.2 Auto-executoriedade 
 
Quanto à auto-executoriedade do ato de polícia, Lazzarini (1999, p. 196) 
afirma que: 
 
[...] tenha-se presente que a Pública Administração tem a faculdade de 
decidir e executar diretamente a sua decisão, como decorrência da própria 
natureza do Poder de Polícia. Em outras palavras, a decisão e a execução 
do que se decidiu independe de autorização do Judiciário. 
 
Meirelles (2003, p. 133), sobre o atributo da auto-executoriedade escreve: 
 
[...] a faculdade de a Administração decidir e executar diretamente sua 
decisão por seus próprios meios, sem intervenção do Judiciário. [...] no uso 
deste poder, a Administração impõe diretamente medidas ou sanções de 
polícia administrativa necessárias à contenção da atividade anti-social que 
ela visa obstar. 
 
No mesmo sentido, Di Pietro (2003, p.114) destaca que “a auto-
executoriedade é a possibilidade que tem a Administração de, com os próprios 
meios, pôr em execução as suas decisões, sem precisar recorrer previamente ao 
Poder Judiciário”. 
De acordo com Manoel (2004): 
 
Todas as ações de polícia são auto-executáveis contra os atos anti-sociais, 
normalmente revestidos de modalidades criminosas e descumprimento de 
leis, a que ela visa coibir. Contudo, não pode ser confundida com meios 
sumários de punições, que não permitam o direito de defesa ao 
administrado que sofreu a ação policial. 
 
 
 
 
 
 
 30 
2.2.3.3 Coercibilidade 
 
Quanto à coercibilidade, afirma Meirelles (2003, p. 134), é “a imposição 
coativa das medidas adotadas pela Administração [...]”. 
 Segundo os ensinamentos de Di Pietro (2003, p.115) “a coercibilidade é 
indissociável da auto-executoriedade. O ato de polícia só é auto-executório porque é 
dotado de força coercitiva”. 
As medidas e atos de polícia são imperativos e por isso, não facultam ao 
destinatário o seu cumprimento ou não. Dessa forma, é a Administração Pública a 
própria responsável por fazer cumprir suas determinações e decisões, podendo se 
utilizar, para isso, até a força física proporcional e necessária para o efetivo 
cumprimento do ato de polícia. (LAZZARINI, 1999). 
Corroborando, Manoel (2004, p. 66) destaca que a coercibilidade: 
 
[...] legaliza o uso da força pelo policial nos casos de resistência do infrator, 
porém não pode ser desnecessária, arbitrária e desproporcional aos meios 
por ele utilizados. [...] é o pressuposto legal, embutido no poder de polícia 
conferido ao PM, que autoriza o uso da força, quando evidentemente tiver 
sua autoridade resistida, que somente ocorrerá quando estiver executando 
uma ação dentro da lei e tiver sua integridade física ameaçada, com o 
emprego de violência pelo seu opositor. 
 
 
Tem-se, segundo Lazzarini (1999), que os fins, por melhores que sejam, não 
podem justificar o uso de meios arbitrários. 
 
 
2.2.4 Meios de atuação 
 
 De acordo com Manoel (2004), atuando de forma preferentemente preventiva, 
a Polícia Militar age através de concessões e proibições, interrompendo, de modo 
parcial ou total, direitos e garantias individuais visando os interesses gerais da 
coletividade. 
 Em assim sendo, são estabelecidas normas que limitam as condutas 
pessoais, impondo restrições ao uso e gozo de direitos a todos os indivíduos, 
indistintamente, pelas ações da polícia, sem constituir excesso ou abuso por parte 
do policial, pois o seu comportamento e atitudes estão autorizados por lei. 
(MANOEL, 2004). 
 31 
 Segundo Di Pietro (2003, p. 113) os meios de que se utiliza o Estado para o 
seu exercício, considerando o poder de polícia em seu sentido amplo, são: 
1. atos normativos em geral, [...]: pela lei, criam-se as limitações 
administrativas ao exercício dos direitos e das atividades individuais, 
estabelecendo-se normas gerais e abstratas dirigidas indistintamente às 
pessoas que estejam em idêntica situação; disciplinando a aplicação da lei 
aos casos concretos, podendo o Executivo baixar decretos, resoluções, 
portarias, instruções; 
2. atos administrativos e operações materiais de aplicação da lei ao caso 
concreto, compreendendo medidas preventivas (fiscalização, vistoria, 
ordem, notificação, autorização, licença), com o objetivo de adequar o 
comportamento individual à lei, e medidas repressivas (dissolução de 
reunião, interdição de atividade, apreensão de mercadorias deterioradas, 
internação de pessoa com doença contagiosa), com a finalidade de coagir o 
infrator a cumprir a lei. 
 
 
Lazzarini (1999, p. 103) distingue a atuação do Estado no exercício do seu 
poder de polícia em quatro fases (modos), quais sejam: ordem de polícia, 
consentimento de polícia, fiscalização de polícia e sanção de polícia. 
Relativamente à ordem de polícia, Mendes (BRASIL, 2001) afirma que a 
mesma está inserida num preceito que necessariamente nasce da lei, pois está 
ligado ao princípio da reserva legal, podendo, entretanto, ser enriquecido 
discricionariamente pela administração, sempre no contexto das circunstâncias. 
No mesmo sentido, Manoel (2004, p. 70) define ordem de polícia como sendo 
o “preceito pelo qual o Estado, através da PM, impõe limitações às pessoas naturais 
ou jurídicas, para que não se faça aquilo que pode prejudicar o bem comum ou não 
se deixe de fazer aquilo que poderia evitar prejuízo público”. 
Em relação ao consentimento de polícia, Mendes (BRASIL, 2001), afirma ser 
“a anuência, vinculada ou discricionária, do Estado com a atividade submetida ao 
preceito vedativo relativo,sempre que satisfeitos os condicionamentos exigidos”. 
Quanto à fiscalização de polícia, seria uma “forma ordinária e inafastável de 
atuação administrativa, através da qual se verifica o cumprimento da ordem de 
polícia, ou a regularidade da atividade já consentida por uma licença ou uma 
autorização”. (BRASIL, 2001). 
Manoel (2004) acrescenta que a fiscalização de polícia apresenta dupla 
finalidade, sendo uma relacionada à prevenção e a outra referente à repressão das 
infrações. 
Mendes (BRASIL, 2001) ao referir-se à sanção de polícia, registra que se 
trata da atuação administrativa auto-executória, destinada à repressão da infração. 
 32 
Diante do exposto e com base nos ensinamentos de Mendes (BRASIL, 2001) 
percebe-se que o policiamento ostensivo é apenas uma das fases da atividade de 
polícia, relacionando-se a fase da fiscalização. 
 
 
 
 
 
 33 
3 APLICAÇÃO DA FORÇA NA ATIVIDADE POLICIAL SOB A ÉGIDE DOS 
DIREITOS HUMANOS; DIREITO A VIDA E LEGÍTIMA DEFESA 
 
 
 
3.1 ATIVIDADE POLICIAL E DIREITOS HUMANOS 
 
Segundo a Secretaria Nacional de Segurança Pública (2007), a expressão 
Direitos Humanos é moderna, contudo o princípio que invoca é tão antigo quanto à 
própria humanidade. 
De acordo com a SENASP (2007), o termo Direitos Humanos apresenta como 
núcleo conceitual o reconhecimento da dignidade da pessoa humana, sendo esta 
dignidade traduzida num sistema de valores considerados fundamentais para a 
existência e para a participação plena da vida da pessoa humana. 
A Instrução Modular da Polícia Militar (2002, p. 146), conceitua os Direitos 
Humanos como sendo: 
 
[...] os direitos fundamentais inerentes a todo ser humano, tais como: o 
direito à vida, à liberdade, à segurança, à educação, ao repouso, à 
liberdade de opinião e expressão... - independente de sua condição 
socioeconômica, política, cultural, ética, profissional, sem qualquer restrição 
ao espaço geográfico que a pessoa se encontre. 
 
Capez et al (2004, p. 45) afirma que os Direitos Humanos são “as 
prerrogativas inerentes à dignidade da espécie humana e que são reconhecidas na 
ordem constitucional”. 
No mesmo sentido, a SENASP (2007, p. 164) afirma que “a expressão 
Direitos Humanos é uma forma abreviada de mencionar os direitos fundamentais da 
pessoa humana”. 
 A SENASP (2007) destaca que todos os seres humanos devem, desde o seu 
nascimento, terem assegurados as condições mínimas necessárias para se 
tornarem úteis à humanidade, bem como devem ter a oportunidade de receber os 
benefícios que a vida em sociedade pode proporcionar. 
Em assim sendo, a SENASP (2007, p. 164) define Direitos Humanos como o 
“conjunto de condições e de possibilidades adquiridos no processo histórico de 
civilização da humanidade, associados à capacidade natural de cada pessoa em se 
organizar socialmente [...]”. 
 34 
Para Levin (1985, p. 12), o conceito de Direitos Humanos apresenta dois 
significados básicos, quais sejam: 
 
[...] o primeiro é que, pelo simples fato de ser humano, o homem desfruta de 
direitos inalienáveis. Estes são os direitos morais, oriundos da própria 
condição de humanidade de todo ser humano, e que objetivam assegurar a 
sua dignidade. O segundo significado de Direitos Humanos refere-se aos 
direitos legais, estabelecidos de acordo com as normas jurídicas em vigor 
nas sociedades, tanto a nível nacional como internacional [...]. 
 
Rover (2005, p. 72) acrescenta que os Direitos Humanos “são títulos legais 
que toda pessoa possui como ser humano. São universais e pertencem a todos; rico 
ou pobre, homem ou mulher. Esses direitos podem ser violados, mas não podem 
jamais ser retirados de alguém”. 
No mesmo viés, Barsted e Hermann (2001, p. 8) afirmam que é titular de 
Direitos Humanos “todo ser humano, homem ou mulher, branco ou negro, criança ou 
idoso, rico ou pobre, independente de qualquer outra diferença social, étnica, 
econômica, cultural, política, orientação sexual ou religiosa [...]”. 
Herkenhoff (1994, p. 30) refere-se aos Direitos Humanos como sendo os 
direitos do homem, entendidos como “os direitos fundamentais que o homem possui 
pelo fato de ser homem, por sua natureza humana, pela dignidade que a ele é 
inerente”. 
Segundo o Programa Nacional de Direitos Humanos (1996), os Direitos 
Humanos são: 
 
[...] os direitos fundamentais de todas as pessoas, sejam elas mulheres, 
negros, homossexuais, índios, idosos, portadores de deficiência, 
populações de fronteiras, estrangeiros e migrantes, refugiados, portadores 
de HIV, crianças e adolescentes, policiais, presos, despossuídos e os que 
têm acesso à riqueza. 
 
O mencionado programa acrescenta que todos, enquanto pessoas, devem 
ser respeitados, tendo assegurada e protegida sua integridade física. (PROGRAMA 
NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS, 1996), 
De acordo com Gomes e Piovesan (2000), é recente o movimento de 
internacionalização dos Direitos Humanos, emergindo a partir do pós-guerra, sendo 
uma resposta às atrocidades e aos horrores cometidos durante o nazismo. 
A SENASP (2007) afirma que as violações generalizadas aos direitos e 
liberdades humanas, ocorridos em meados do século passado, constituem o marco 
 35 
do fim da noção de que os Estados não possuíam o compromisso de prestar contas 
a nenhuma outra instância a respeito da maneira como tratavam seus cidadãos. 
Conforme o Programa Nacional de Direitos Humanos (1996) em Julho de 
1945, com o estabelecimento das Nações Unidas, os Direitos Humanos deixaram de 
ser uma questão afeta exclusivamente aos Estados nacionais, passando a ser 
matéria de interesse de toda a comunidade internacional. Acrescenta que a 
obrigação primária de assegurar os Direitos Humanos continua a ser 
responsabilidade interna dos Estados, contudo, com a criação de mecanismos 
judiciais internacionais de proteção aos Direitos Humanos a uma mudança no 
conceito de soberania. 
Segundo a SENASP (2007) com a assinatura da Carta das Nações Unidas, 
da qual o Brasil é signatário, todos os países membros das Nações Unidas 
concordaram em adotar medidas para salvaguardar os Direitos Humanos. 
Ratificando o exposto acima, a Lei Maior brasileira (1988) incluiu no artigo 1º, 
incisos II e III, como seus fundamentos, a cidadania e a dignidade da pessoa 
humana e, no artigo 4º, inciso II, declara que o país, nas suas relações 
internacionais rege-se pela prevalência dos Direitos Humanos, incorporando ao 
sistema nacional os princípios presentes nos tratados internacionais. 
Barsted e Hermann (2001) destacam que com a assinatura, em 10 de 
dezembro de 1948, da Declaração Universal dos Direitos Humanos, foram 
estabelecidos padrões mínimos para o relacionamento entre o Estado e os cidadãos 
e entre os próprios cidadãos. Dentre os padrões mínimos estabelecidos se destaca o 
direito à vida. 
O Programa Nacional de Direitos Humanos (1996) afirma que os direitos 
trazidos pela Declaração Universal dos Direitos Humanos constituem um conjunto 
indissociável e interdependente de direitos individuais e coletivos, civis, políticos, 
econômicos, sociais, culturais, sem os quais a dignidade da pessoa humana não se 
alcançaria por completo. 
O mencionado programa acrescenta que “a Declaração transformou-se, nesta 
última metade de século, em uma fonte de inspiração para a elaboração de diversas 
cartas constitucionais e tratados internacionais voltados à proteção dos Direitos 
Humanos”. (PROGRAMA NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS, 2006, p.10). 
Acrescenta ainda, que o referido documento, tornou-se um autêntico 
paradigma ético/moral por meio do qual se pode medir e contestar a legitimidade de 
 36 
regimes e Governos, constituindo-se os direitos ali inscritos em um dos mais 
importantes documentos que objetivam a garantia de um convívio social digno, justo 
e pacífico. Destaca, contudo, que: 
 
Os Direitos Humanos não são, [...], apenas um conjunto de princípios 
morais que devem informar a organização da sociedade e a criaçãodo 
direito. Enumerados em diversos tratados internacionais e constituições, 
asseguram direitos aos indivíduos e coletividades e estabelecem obrigações 
jurídicas concretas aos Estados. Compõem-se de uma série de normas 
jurídicas claras e precisas, voltadas a proteger os interesses mais 
fundamentais da pessoa humana. São normas cogentes ou programáticas 
que obrigam os Estados nos planos interno e externo. (PROGRAMA 
NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS, 1996, p.10-11). 
 
Gomes e Piovesan (2000) asseveram que com a aprovação da Declaração 
Universal dos Direitos Humanos, têm-se o marco maior do processo de reconstrução 
dos Direitos Humanos. 
Gomes e Piovesan (2000) destacam como características dos Direitos 
Humanos a universalidade e a indivisibilidade. 
Universalidade porque clama pela extensão universal dos Direitos 
Humanos, sob a crença de que a condição de pessoa é o requisito único 
para a dignidade e titularidade de direitos. Indivisibilidade porque a garantia 
dos direitos civis e políticos é condição para a observância dos direitos 
sociais, econômicos e culturais e vice-versa. (GOMES e POVESAN, 2000, 
p. 17). 
 
Em assim sendo, segundo os ensinamentos de Gomes e Piovesan (2000, p. 
17), “os Direitos Humanos compõem uma unidade indivisível, interdependente e 
inter-relacionada”. 
Transportando os Direitos Humanos para a atividade policial, Balestreri (2003) 
afirma que “durante muitos anos, o tema Direitos Humanos foi considerado 
antagônico ao da Segurança Pública”, contudo, de acordo com a Instrução Modular 
da Polícia Militar (2002), atualmente, a atividade policial deve sempre se nortear 
pelos preceitos fundamentais dos Direitos Humanos, valorizando a vida, a dignidade 
humana e a harmonia individual e coletiva. 
Corroborando com o exposto acima, verifica-se no artigo 2º, do Código de 
Conduta para os Funcionários Encarregados de Fazer Cumprir a Lei, o seguinte: 
Art. 2º - No desempenho de suas tarefas, os funcionários encarregados de 
fazer cumprir a lei devem respeitar e proteger a dignidade humana e manter 
e defender os Direitos Humanos de todas as pessoas. 
 
 37 
No mesmo sentido, Valote (2006), destaca que os Direitos Humanos, no 
contexto atual de segurança pública, são ferramentas indispensáveis para o bom 
funcionamento das polícias, desenvolvendo-se, por meios deles, um modelo padrão 
de polícia voltada para o atendimento das necessidades básicas de todos os 
cidadãos. 
No mesmo sentido, Valla (2004) acrescenta que “cada policial militar deve 
estar compromissado com a promoção dos Direitos Humanos em seu cotidiano 
profissional, numa oposição à mentalidade dominante de que estes atrapalham e 
dificultam o trabalho policial”. 
Vianna (2000) acrescenta que em abril de 1999, realizou-se na cidade de 
Curitiba, o XIX Encontro Nacional dos Comandantes - Gerais das Polícias Militares e 
dos Corpos de Bombeiros Militares do Brasil. Tal encontro culminou com a criação 
de um documento denominado Carta de Curitiba, que em seu parágrafo 2º, traz o 
seguinte: 
O respeito aos Direitos Humanos e à dignidade das pessoas é compromisso 
das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares, como agências de 
defesa e proteção da vida e da integridade do cidadão. Em decorrência 
desse dever funcional, essas organizações implementaram parceria com o 
Comitê Internacional da Cruz Vermelha, desenvolvendo o Programa de 
Treinamento em Direitos Humanos que está se realizando em todas as 
Polícias Militares brasileiras. 
 
 
Vianna (2000) acrescenta que em novembro de 1999, tal idéia reforçou-se 
através da reunião do Conselho Nacional dos Comandantes - Gerais das Polícias 
Militares e dos Corpos de Bombeiros Militares do Brasil, realizada na cidade de Belo 
Horizonte (MG). Em tal reunião foi acordado, entre outros aspectos, que as Polícias 
Militares: 
[...] continuam apoiando todas as iniciativas voltadas para o respeito aos 
Direitos Humanos e à dignidade das pessoas, por serem as Polícias 
Militares [...] agências de proteção da vida e da integridade do cidadão. 
Neste sentido destaca o intercâmbio que tais instituições vêm 
incrementando com comissões de Direitos Humanos do Poder Legislativo 
Federal, Estadual e Municipal, da OAB, Ministério Público e Igreja, bem 
como Organizações Não–Governamentais de Direitos Humanos, 
especialmente a Cruz Vermelha Internacional, que desenvolve Programa de 
Treinamento em Direitos Humanos a seus integrantes. (VIANNA, 2000, p. 
27). 
 
 
 
 38 
Relativamente à atividade policial e Direitos Humanos, Vianna (2000, p. 28), 
acrescenta que: 
 
Focar Direitos Humanos e bom comportamento na polícia é importante, não 
só como fim em si mesmo, mas também, como um meio de assegurar uma 
polícia efetiva. O apoio da comunidade, essencial para uma polícia efetiva 
na democracia, é dependente do respeito da polícia em relação às leis e 
aos Direitos Humanos dos grupos e indivíduos dentro dessa comunidade. 
 
 
Por derradeiro, percebe-se, diante do exposto acima e com base nos 
ensinamentos de Barsted e Hermann (2001), que cada vez mais é imprescindível 
que os policiais militares aprofundem, difundam, bem como orientem suas ações 
através dos instrumentos internacionais de proteção aos Direitos Humanos. 
 
 
 
3.2 O USO DA FORÇA NA ATIVIDADE POLICIAL 
 
Para alcançar uma melhor compreensão referente ao uso da força na 
atividade policial, necessário se faz conceituar o termo legitimidade, bem como 
atividade policial. 
Relativamente à expressão legitimidade, Schroder (2001, p. 55) transcreve o 
seguinte: 
 
A legitimidade exterioriza-se pela vontade do povo, ou o que a sociedade 
espera do detentor do poder. Portanto, toda e qualquer ação legítima será a 
resultante consensual do interesse coletivo. Para que o Estado use a força 
e tenha sua ação legitimada pelo povo, este deve aprovar sua utilização.. 
 
 
Verifica-se que a noção de legitimidade está ligada à aceitação e a vontade 
do povo, indo além do que seja legal. 
No mesmo sentido, Coelho (1991, p. 358) destaca que a legitimidade 
relaciona-se: 
 
[...] a qualidade ética do direito, a maior ou menor potencialidade para que 
o direito positivo e os direitos não positivos alcancem um ideal de 
perfeição. Esse ideal, espaço privilegiado da ideologia, pode ser 
provisoriamente identificado com a justiça, ou certos valores que 
representam conquistas da humanidade, principalmente os direitos 
humanos [...] (COELHO 1991, p. 358). 
 
 39 
Vencida a fase relacionada à conceituação de legitimidade, passar-se-á a 
definição da atividade policial. De acordo com a Instrução Modular da Polícia Militar 
(2002, p. 146), tem-se por atividade policial: 
[...] toda a prestação de serviço, à comunidade em geral, voltada à 
segurança pública, à proteção individual, coletiva, do patrimônio público e 
particular, dos valores morais, éticos e de auxílio à comunidade, que a 
instituição policial realiza diretamente ou indiretamente, através de seus 
agentes, dentro dos princípios e fundamentos policiais básicos e dos limites 
legais e morais aceitos pela comunidade. 
 
Segundo Viana (2000) a atividade policial pode ser descrita como uma série 
de funções, como exemplo, cita-se a aplicação da lei com vistas à preservação da 
ordem; contudo, segundo a apostila Uso Legal da Força (2006, p. 4) a atividade 
policial também pode ser definida como sendo uma função única, qual seja: 
“responder a qualquer situação que aconteça no seio da sociedade, em que a força 
deve ser usada, de modo a restabelecer uma situação de normalidade temporária”. 
De acordo com o exposto acima, e com base nos ensinamentos de Lima 
(2006), percebe-se que a atividade policial reveste-se de acentuada complexidade, 
na medida em que é reconhecido como inteiramente legítimo o uso da força na 
resolução de conflitos, desde que respeitados os padrões legais e éticos. 
Na seqüência, dissertar-se-á sobre o uso da força na atividade policial. 
Balestreri (2003)destaca que o policial é um cidadão que porta a singular permissão 
para o uso da força e de armas, no âmbito da lei, sendo conferido ao mesmo natural 
e destacada autoridade para a construção ou devastação social. 
Conforme Bittner (2003) “os policiais têm clara consciência de que são 
percebidos como, aqueles que podem – e de fato podem – intimidar a sociedade”. O 
autor prossegue, esmiuçando a expressão “aqueles que podem”, como sendo o 
acesso a meios coercitivos, incluindo a força física, visando-se alcançar um fim 
pretendido. 
Bayley (2002) afirma que o termo polícia refere-se às pessoas autorizadas por 
um grupo de pessoas para regular as relações interpessoais, dentro deste grupo, 
através da aplicação de força física. 
O referido autor acrescenta que “a polícia se distingue, não pelo uso da força, 
mas por possuir autorização para usá-la”. (BAYLEY, 2002, p. 20). 
Segundo Bittner (2003, p. 20) “ser policial significa estar autorizado, e ser 
exigido, a agir de modo coercitivo quando a coerção for necessária, segundo o 
 40 
determinado pela avaliação do próprio policial das condições do local e do 
momento”. 
Em relação ao emprego da força física por policiais, Monjardet (2002, p, 26) 
destaca que “é apenas o mais espetacular do conjunto dos meios de ação não 
contratuais que fundam o instrumento policial [...]”. 
Bittner (1974 apud BAYLEY, 2002, p. 20), acrescenta que “o policial, e 
apenas o policial está equipado, autorizado e requisitado para lidar com qualquer 
exigência para a qual a força deva ser usada para contê-la”. 
 Ao mencionar o emprego da força na atividade policial, Bittner (2003) destaca 
que existem três maneiras distintas de se executar o trabalho policial. Afirma que na 
pratica real, tais maneiras se combinam, embora em proporções que variam de 
policial para policial. 
De acordo com o autor, a primeira maneira relaciona-se ao emprego de 
técnicas de negociação, empregadas pelos policias como forma de persuasão, 
objetivando-se alcançar a submissão do cidadão abordado. A segunda consiste em 
usar os meios coercitivos, de modo antecipado, para obter a submissão. A terceira 
refere-se à proeza física. (BITTNER, 2003). 
Segundo Bittner (2003, p. 20) “nenhum policial em campo evita 
completamente a barganha ou a intimidação, e nenhum se dá o direito de desprezar 
inteiramente a confiança na força física”. 
Schroder (2001, p. 53) afirma que emprego da força na atividade policial “é 
um assunto por demais intrigante para aqueles que se dedicam ao estudo da 
atividade de segurança pública e poder do Estado, pois, a princípio, parece surgir 
embate entre os interesses individuais e os interesses estatais”. 
No mesmo sentido, Barbosa e Ângelo (2001, p. 118) destacam “que o policial 
quando utiliza qualquer um de seus poderes previstos em lei, no exercício de suas 
funções próprias, certamente intervirá no direito e na liberdade do cidadão”. 
Tal intervenção, por vezes se dará através do uso da força, que de acordo 
com Barbosa e Ângelo (2001, p. 107) é “toda intervenção compulsória sobre os 
indivíduos ou grupo de indivíduos, reduzindo ou eliminando sua capacidade de 
autodecisão”. 
No mesmo sentido, Schroder (2001, p. 53) define uso da força como “toda e 
qualquer ação contrária a indivíduos isolados ou em grupos, praticadas por agentes 
 41 
do Estado que, através de seus atos, venham a reduzir a capacidade de resistência 
às suas determinações legais”. 
De acordo com Moreira e Corrêa (2002), na atividade policial, nem toda 
intervenção pode ser resolvida de modo passivo e com uso da verbalização, da 
negociação, da mediação e da persuasão. A partir de então, surge a necessidade de 
a polícia ser dotada de diversos poderes com a finalidade de fazer cumprir a lei e 
preservar a ordem pública. Dentre os diversos poderes destaca-se o uso da força. 
Vianna (2000) acrescenta que devido à importância do policiamento na 
sociedade, bem como, considerando-se a natureza complexa do serviço policial, o 
qual se reveste de incertezas e perigos, torna-se, imprescindível, atribuir o poder do 
uso da força a pessoas qualificadas para exercê-la convenientemente. 
Isto implica uma seleção extremamente rigorosa, envolvendo processos de 
treinamento, um comando efetivo, um controle e uma supervisão dos policiais pelos 
seus superiores, e uma estrita responsabilidade da polícia frente à lei quando há 
abuso de poder. (VIANNA, 2000). 
Observa-se que as palavras de Vianna vão ao encontro do que preceitua os 
artigos 18 e 19 dos Princípios Básicos sobre a Utilização da Força e de Armas de 
Fogo pelos funcionários responsáveis pela aplicação da lei. 
 
Art. 18. Os Governos e os organismos de aplicação da lei devem garantir 
que todos os funcionários responsáveis pela aplicação da lei sejam 
selecionados de acordo com procedimentos adequados, possuam as 
qualidades morais e aptidões psicológicas e físicas exigidas para o bom 
desempenho das suas funções e recebam uma formação profissional 
contínua e completa. Deve ser submetida a reapreciação periódica a sua 
capacidade para continuarem a desempenhar essas funções. 
 
Art. 19. Os Governos e os organismos de aplicação da lei devem garantir 
que todos os funcionários responsáveis pela aplicação da lei recebam 
formação e sejam submetidos a testes de acordo com normas de avaliação 
adequadas sobre a utilização da força. [...]. 
 
Em assim sendo, os policiais, em sua atividade diuturna, devem estar 
treinados e preparados para a excepcionalidade, utilizando-se da força, com o 
objetivo precípuo de exercer o controle do suspeito em circunstâncias em que se 
fizer necessário. (MOREIRA; CORRÊA, 2002). 
Schroder (2001) afirma que o uso da força não é regra, mas a exceção, 
devendo se aplicada somente em último caso. 
 42 
Ao fazer uso da força, o policial, de acordo com a apostila Uso legal da Força 
(2006, p. 15), deve: 
[...] ter o conhecimento da lei, deve estar preparado tecnicamente, através 
da formação e do treinamento, bem como ter princípios éticos solidificados 
que possam nortear sua atuação [...]. 
 
Moreira e Corrêa (2002) destacam que cabe aos policiais realizar uma 
avaliação individual de cada ocorrência quanto à utilização da força, recorrendo a tal 
meio somente quando todos os outros meios tiverem falhado. 
Corroborando, Vianna (2000) destaca que o uso dos princípios relacionados à 
aplicação de meios pacíficos, bem como o emprego de níveis mínimos de força, são 
fundamentais para a atividade policial. 
 Segundo Schroder (2001), “o uso da força é uma discricionariedade que o 
Estado assegura aos seus agentes, para que façam valer suas pretensões, 
exteriorizadas nos regramentos, seja de atos normativos ou jurídicos”. 
Conforme os ensinamentos de Moreira e Corrêa (2002), apesar da força ser 
uma discricionariedade do Estado, os policiais deverão adequar o seu uso de acordo 
com a submissão do suspeito e com o objetivo legítimo a ser alcançado, pautando 
suas ações na moderação e proporcionalidade, caso contrário estarão incidindo em 
abusos. 
De acordo com Vianna (2000) a violência policial, realizada através do uso 
ilegítimo da força, pode levar a uma séria desordem pública, expondo as instituições 
policiais a situações perigosas e desnecessárias, fazendo com que as mesmas se 
tornem vulneráveis, conduzindo-as a uma falta de confiança por parte da 
comunidade. 
No mesmo caminho, Moreira e Corrêa (2002, p.72) destacam que “um policial 
que exceda o uso da força [...] pode fazer com que a organização inteira seja 
considerada violenta [...] porque o ato individual será visto como ato da Corporação”. 
Por derradeiro, percebe-se, com base no exposto acima e segundo Barbosa e 
Ângelo (2001) que o policial, no cumprimento de sua missão, ao optar pelo emprego 
da força, deverá nortear suas ações através dos padrões internacionais e nacionais 
de uso legal da força, respeitando os direitos e garantias fundamentais,

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