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FUNDAMENTOS DA DIGESTÃO ANAERÓBIA DE SUBSTRATOS AGROINDUSTRIAIS Digestão Anaeróbica: Características do Substrato, Principais Fontes e Etapas da Produção de Biogás Projeto “Aplicações do Biogás na Agroindústria Brasileira” (GEF Biogás Brasil) Este documento está sob licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License. O GEF Biogás Brasil permite a citação deste material, desde que a fonte seja citada. Contato: contato@gefbiogas.org.br COMITÊ DIRETOR DO PROJETO Global Environment Facility Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Ministério de Minas e Energia Ministério do Meio Ambiente Centro Internacional de Energias Renováveis Itaipu Binacional PARCEIROS Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas Associação Brasileira de Biogás Nome do produto: Fundamentos da Digestão Anaeróbia de Substratos Agroindustriais Componente Output e Outcome: Componente 2.1.4 Publicado pela entidade: Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial - UNIDO Entidades diretamente envolvidas: Centro Internacional de Energias Renováveis Biogás – CIBiogás Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR Autores e coautores: Thiago Edwiges – UTFPR Ricardo Muller – UNIDO|CIBiogás Daiana Gotardo Martinez – UNIDO|CIBiogás Revisão Técnica: Leonardo Pereira Lins – CIBiogás Coordenador: Felipe Souza Marques Coordenação Pedagógica: Iara Bethania Rial Rosa Data da publicação: Agosto, 2020. FICHA TÉCNICA Ficha catalográfica elaborada por: mailto:contato@gefbiogas.org.br O Projeto “Aplicações do Biogás na Agroindústria Brasileira” (GEF Biogás Brasil) reúne o esforço coletivo de organismos internacionais, instituições privadas, entidades setoriais e do Governo Federal em prol da diversificação da geração de energia e de combustível no Brasil. A iniciativa é implementada pela Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO) e conta com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) como instituição líder no âmbito nacional. O objetivo principal é reduzir a dependência nacional de combustíveis fósseis através da produção de biogás e biometano, fortalecendo as cadeias de valor e de inovação tecnológica no setor. A conversão dos resíduos orgânicos provenientes da agroindústria e da fração orgânica do lixo urbano, muitas vezes descartados de forma insustentável, pode se tornar um diferencial competitivo para a economia brasileira, além de reduzir a emissão de gases de efeito estufa nocivos à camada de ozônio e ao meio ambiente. O biogás e o biometano podem ser utilizados para a geração de energia elétrica, energia térmica ou combustível renovável para veículos, e seu processamento resulta em biofertilizantes de alta qualidade para uso agrícola. Os benefícios se estendem tanto ao produtor agrícola, que reduz os custos de sua atividade com o reaproveitamento de resíduos orgânicos, quanto ao desenvolvimento econômico nacional, já que um setor produtivo mais eficiente ganha competitividade frente à concorrência internacional. Indústrias de equipamentos e serviços, concessionárias de energia e de gás, produtores rurais e administrações municipais estão entre os beneficiários do projeto, que conta com US $ 7,828,000 em investimentos diretos. Com abordagem inicial na região Sul do Brasil e no Distrito Federal, a iniciativa pretende impactar todo o país. Entre seus resultados previstos estão a compilação e a divulgação de dados completos e atualizados sobre o setor, a oferta de serviços e recursos para capacitação técnica e profissional, a criação de modelos de negócio e de pacotes tecnológicos inovadores, a produção de Unidades de Demonstração seguindo padrões internacionais, a disponibilização de serviços financeiros específicos para o setor, a ampliação da oferta energética brasileira, e articulações estratégicas entre a alta gestão governamental e entidades setoriais para a modernização da regulamentação e das políticas públicas em torno do tema, deixando um legado positivo para o país. APRESENTAÇÃO Fundamentos da Digestão Anaeróbia de Substratos Agroindustriais Aula 1 – Digestão Anaeróbica: Características do Substrato, Principais Fontes e Etapas da Produção de Biogás Data da Publicação: Agosto/2020 Sumário 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................. 12 2. CARACTERÍSTICAS DO PROCESSO DE DIGESTÃO ANAERÓBIA........ 13 2.1. Etapa 1 (Hidrólise) ......................................................................................... 14 2.2. Etapa 2 (Acidogênese).................................................................................. 16 2.3. Etapa 3 (Acetogênese) ................................................................................. 17 2.4. Etapa 4 (Metanogênese) .............................................................................. 18 3. TIPOS DE SUBSTRATOS E DEGRADAÇÃO DOS COMPOSTOS QUÍMICO .................................................................................................................. 19 3.1. Carboidratos ................................................................................................... 20 3.2. Proteínas ........................................................................................................ 22 3.3. Lipídeos .......................................................................................................... 23 3.4. Lignocelulose ................................................................................................. 25 3.5. Principais Fontes de Biomassa no Setor Agroindustrial ............................ 26 3.5.1. Dejetos Animais ......................................................................................... 26 3.5.2. Abatedouros ............................................................................................... 30 3.5.3. Laticínios ..................................................................................................... 31 3.5.4. Cervejarias .................................................................................................. 33 4. CONCLUSÃO .................................................................................................... 34 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 35 Digestão Anaeróbica: Características do Substrato, Principais Fontes e Etapas da Produção de Biogás Lista de Figuras Figura 1 - Principais etapas da degradação da matéria orgânica para a produção de biogás. ................................................................................................ 14 Figura 2 - Representação esquemática da quebra de uma molécula de celulose em moléculas de glicose a partir a enzima celulase produzida pela bactéria celulomona................................................................................................................ 16 Figura 3 - Esquema da formação de sub-produtos oriundos do pré-tratamento térmico a partir de biomassa lignocelulósica. Adaptado de Rabii et al. (2019). 19 Figura 4 - Exemplo de formação de um triglicerídeo a partir de três ácidos graxos. ....................................................................................................................... 24 Figura 5 - Potencial de geração de biogás na pecuária paranaense................. 29 Digestão Anaeróbica: Características do Substrato, Principais Fontes e Etapas da Produção de Biogás Lista de Equações Equação 1 ................................................................................................................. 17 Digestão Anaeróbica: Características do Substrato, Principais Fontes e Etapas da Produção de Biogás Lista de Quadros Quadro 1 - Exemplos de reações da fase acetogênica. ...................................... 17 Quadro 2 - Principais monossacarídeos (açúcares simples) .............................. 21 Quadro 3 - Principais dissacarídeos ...................................................................... 21 Quadro 4 - Aminoácidos usualmente digeridos em um reator anaeróbio .......... 23 Quadro 5 - Exemplos de ácidos graxos de cadeia longa (mais de 12 unidades de carbono) ............................................................................................................... 24 Quadro 6 - Teor de lignocelulose em diferentes substratos em base seca ....... 26 Quadro 7 - Composição química média de diferentes tipos de dejetos animais ................................................................................................................................... 27 Quadro 8 - Degradabilidade e pH dos dejetos animais ........................................ 27 Quadro 9 - Potencial metanogênico de diferentes dejetos animais. ................... 28 Quadro 10 - Características físico-químicas de diferentes resíduos do processo de abate .................................................................................................................... 30 Quadro 11 - Potencial metanogênico de diferentes resíduos do processo de abate. ......................................................................................................................... 31 Quadro 12 - Principais características físico-químicas do soro do leite ............. 32 Quadro 13 - Principais características físico-químicas do efluente de cervejarias ................................................................................................................................... 33 Digestão Anaeróbica: Características do Substrato, Principais Fontes e Etapas da Produção de Biogás 10 Apresentação do Curso Seja bem-vindo ao nosso Curso de Fundamentos da Digestão Anaeróbia de Substratos Agroindustriais. Nosso objetivo é oferecer a você aluno, o conhecimento de uma forma geral, a respeito das etapas da produção de biogás, as características da degradação do substrato, parâmetros que influenciam diretamente na produção de biogás e um panorama do setor com normativas especificas que fazem do biogás um produto promissor para as energias renováveis em nosso país. Diante disso, esse curso foi dividido em três aulas, sendo elas: 1ª Aula: Digestão anaeróbica: características do substrato, principais fontes e etapas da produção de biogás; 2ª Aula: Parâmetros operacionais para produção de biogás e tipos de reatores; 3ª Aula: Aspectos introdutórios sobre o setor energético e político. Na primeira aula será apresentado ao aluno os conceitos das etapas para produção de biogás, as características e os principais substratos que que possuem potencial para produção de biogás. Na segunda aula o aluno verá além dos conceitos de pré-tratamentos para os substratos, os parâmetros internos e externos que influenciam diretamente na operação dos reatores anaeróbicos e na produção de biogás, além dos tipos de reatores existentes. Na terceira aula será apesentado o panorama do setor de biogás, com normativas, leis e resoluções que atualmente auxiliam no desenvolvimento do produto biogás. O curso proporcionará ao aluno conhecimentos específicos para que possa apoiar e participar efetivamente na elaboração e implantação de projetos e plantas de biogás. Esperamos que você consiga se desenvolver ao máximo durante o curso. Bons estudos e qualquer auxílio que necessite referente as dúvidas, nossa equipe estará à disposição. Digestão Anaeróbica: Características do Substrato, Principais Fontes e Etapas da Produção de Biogás 11 Desenvolvimento Proporcionado Nesta aula será proporcionado o desenvolvimento de conhecimentos e habilidades que poderão ser colocados em prática por você ao longo do curso e após a finalização das atividades propostas: COMPETÊNCIAS: 1. Conhecimento básico de digestão anaeróbica; 2. Identificação de processos e etapas para produção de biogás; 3. Noção de resíduos líquidos, sólidos e gasosos; 4. Identificação de atividades agroindustriais. HABILIDADES: 1. Iniciativa; 2. Percepção. Digestão Anaeróbica: Características do Substrato, Principais Fontes e Etapas da Produção de Biogás 12 1. INTRODUÇÃO A preocupação com o cenário energético é tema constante em debates especializados no cenário nacional e internacional. A dependência do petróleo, os impactos ambientais causados pela queima dos combustíveis fósseis e a centralização da produção são demandas que fazem com que novas alternativas energéticas sejam desenvolvidas. Aliada a questão energética, existem ainda problemas ambientais causados pelo gerenciamento inadequado de resíduos orgânicos gerados na agricultura, pecuária e nas agroindústrias, visto que estas são atividades de relevância no contexto econômico do País, especialmente na região sul do Brasil. A falta de tratamento adequado para a significativa quantidade de matéria orgânica gerada diariamente nestas atividades contribui para o aumento da poluição, eutrofização de corpos hídricos e emissão de gases de efeito estufa (GEE), especialmente o metano (CH4) e o dióxido de carbono (CO2). A digestão anaeróbia vem sendo estudada e aplicada ao tratamento de diversos tipos de resíduos orgânicos em todo o mundo. As principais vantagens deste tratamento se concentram na baixa demanda por energia, menores requisitos de nutrientes e menor geração de lodo quando comparado aos sistemas aeróbios. O metano gerado pelo biogás pode ser aproveitamento como fonte de energia elétrica, térmica ou ainda convertido em biometano para ser utilizado como gás veicular. Além disso, o efluente final do processo (digestato) tem potencial para ser aproveitado como biofertilizante em plantas de biogás alimentadas com a maioria dos tipos de resíduos rurais e agroindustriais, permitindo a reciclagem de nutrientes a partir da incorporação do solo. Porém para se ter uma eficiência no sistema de tratamento, bem como viabilidade econômica da planta de biogás, o planejamento e o conhecimento das etapas de produção de biogás são de extrema importância. O conhecimento técnico-científico do processo de digestão, das características físico-químicas dos substratos, dos requisitos operacionais dos diferentes tipos de reatores anaeróbios, bem como dos efeitos sinérgicos destes fatores é fundamenta para a estabilidade do sistema ao longo do tempo, a maximização da produção de biogás e a geração de renda a partir da comercialização de sub-produtos de qualidade. As diversas atividades produtivas realizadas em propriedades rurais e agroindústrias geram uma gama de resíduos orgânicos com características distintas, que podem tanto inibir a atividade biológicas dos microrganismos envolvidos na produção de biogás, como maximizar a eficiência da geração a partir da co-digestão, ou seja, uma mistura de substratos com o objetivo de favorecer as reações bioquímicas durante o processo. As etapas envolvidas na produção de biogás, como ocorre a degradação dos compostos químicos, além da identificação das principais fontes de biomassa do setor agroindustrial, poderão ser vistos ao longo desta aula. Digestão Anaeróbica: Características do Substrato, Principais Fontes e Etapas da Produção de Biogás13 2. CARACTERÍSTICAS DO PROCESSO DE DIGESTÃO ANAERÓBIA A digestão anaeróbia (D.A.) é uma tecnologia de tratamento aplicada a uma ampla variedade de substratos orgânicos. Estes substratos são, em sua maioria, resíduos provenientes de processos produtivos tais como os dejetos da produção de animais, efluentes líquidos e resíduos sólidos das agroindustriais e resíduos da agricultura. Dependendo do contexto local e da legislação pertinente, podem ainda ser aproveitadas as culturas energéticas, que são espécies vegetais cultivadas especificamente para a geração de energia. O biogás é um subproduto gasoso resultante da D.A. destes substratos e é composto por metano (CH4), dióxido de carbono (CO2) e uma série de outros componentes em menores quantidades, como gás sulfídrico (H2S), amônia (NH3), umidade (H2O). Além do biogás, um subproduto líquido também é gerado durante a D.A. que é chamado de digestato. O digestato contém uma série de nutrientes que estavam presentes nos substratos como nitrogênio, fósforo, potássio e uma série de outros minerais que dependendo das suas condições (concentração dos nutrientes, Atenção: Neste material adotaremos o termo ‘substratos’ para toda fonte de matéria orgânica aproveitada no processo de digestão anaeróbia. A principal fonte de substratos são os resíduos orgânicos. Porém, como vimos acima, nem todo substrato é um resíduo, como é o caso das culturas energéticas. Para fixar: Dentre os componentes gasosos, o metano (CH4) é o mais atrativo pois pode ser aproveitado para a geração de energia em substituição às fontes convencionais (carvão, petróleo, gás natural) e em diferentes formas, como elétrica, energia térmica e combustível utilizado em veículos. Digestão Anaeróbica: Características do Substrato, Principais Fontes e Etapas da Produção de Biogás 14 temperatura e ausência de organismos patogênicos por exemplo), podem ser aproveitados como biofertilizante na agricultura. A reciclagem de nutrientes é mais uma das vantagens da D.A. O processo biológico de degradação da matéria orgânica presente nos substratos em biogás é complexo, pois envolve uma série de microrganismos que operam em sinergia dentro dos reatores e desempenham funções diferentes durante cada etapa (Figura 1). Cada tipo de microrganismo requer condições ambientais específicas como temperatura, pH, tempo, concentração de matéria orgânica e presenta de nutrientes. De forma geral, as reações que ocorrem durante a D.A. podem ser divididas em quatro etapas: hidrólise, acidogênese, acetogênse e metanogênese. Figura 1 - Principais etapas da degradação da matéria orgânica para a produção de biogás. Os compostos químicos produzidos em uma etapa são chamados de metabólitos intermediários e são aproveitados como substrato pelos microrganismos da etapa posterior. 2.1. Etapa 1 (Hidrólise) A hidrólise (hidro = água e lysis = quebra) é a primeira etapa da D.A. Durante esta etapa, os componentes químicos mais complexos (polímeros) presentes nos substratos são degradados em meio aquoso e convertidos em moléculas menores (monômeros), que são então consumidos durante as etapas posteriores. A matéria orgânica é composta principalmente por carboidratos, proteínas e lipídeos (as características de cada um deles serão discutidas no item 3 deste material). Estes compostos químicos possuem elevado número de átomos de carbono em suas moléculas e, por estarem na forma particulada, são insolúveis em água e não conseguem ser consumidos de forma direta pelos microrganismos como fonte de energia e de nutrientes durante o processo de D.A. Digestão Anaeróbica: Características do Substrato, Principais Fontes e Etapas da Produção de Biogás 15 Durante a hidrólise os polímeros são convertidos em compostos menores por meio de enzimas excretadas pelas bactérias hidrolíticas, ou seja, a degradação neste estágio inicial ocorre fora das células dos microrganismos. Com poucos átomos de carbono em suas moléculas (monômeros) os metabólitos intermediários gerados após a etapa de hidrólise tornam-se solúveis em água, ou seja, conseguem passar pela parede celular e serem absorvidos pelos microrganismos para serem sintetizados internamente. Dentro de um reator anaeróbio a celulose é hidrolisada por meio da enzima (celulase) liberada pelas bactérias hidrolíticas e que são capazes de quebrar as ligações químicas entre as moléculas de glicose. Desta forma, a partir da hidrólise da celulose, diversas moléculas de glicose, agora solúveis, são então liberadas, absorvidas por outro grupo de bactérias e degradadas dentro da célula. Para fixar: Cada componente químico é degradado por uma exoenzima específica: celulose (substrato) → celulase (exoenzima) → glicose (metabólito intermediário) proteína (substrato) → proteinase (exoenzima) → aminoácidos (metabólito intermediário) lipídeos (substrato) → lipase (exoenzima) → ácidos graxos e glicerol (metabólito intermediário) Um exemplo de composto insolúvel que sofre hidrólise em um reator anaeróbio é a celulose (C6H10O5), principal componente da parede celular dos vegetais, caracterizada como um carboidrato insolúvel em água e constituído por diversas unidades de glicose (C6H12O6) por meio de ligações químicas. Apesar de a glicose ser solúvel em água, a união de diversas moléculas de glicose resulta em um polímero insolúvel, a celulose. Exemplo Digestão Anaeróbica: Características do Substrato, Principais Fontes e Etapas da Produção de Biogás 16 Figura 2 - Representação esquemática da quebra de uma molécula de celulose em moléculas de glicose a partir a enzima celulase produzida pela bactéria celulomona. O tempo de duração da hidrólise pode ser de poucas horas para os carboidratos e alguns dias para as proteínas e lipídeos, ou seja, a produção de biogás em um reator depende da concentração de cada tipo de macromolécula no substrato. 2.2. Etapa 2 (Acidogênese) Os monômeros formados na etapa de hidrólise como os açúcares simples, os aminoácidos e os ácidos graxos de cadeia curta encontra-se são solúveis em água e, portanto, podem ser absorvidos por bactérias anaeróbias e facultativas por meio de diversos processos fermentativos. Ao final de etapa de acidogênese são gerados principalmente dióxido de carbono (CO2), hidrogênio (H2), álcoois e ácidos orgânicos. Os compostos orgânicos nitrogenados e compostos orgânicos sulfurados também são formados nesta etapa devido à degradação de aminoácidos e proteínas. Exemplo Ácidos e álcoois gerados durante a acidogênese: • Ácido fórmico (CH2O2) • Ácido acético (C2H4O2) • Ácido propiônico (C3H6O2) • Ácido lático (C3H6O3) • Etanol (C2H6O) • Metanol (CH3OH) • Propanol (C3H8O) Digestão Anaeróbica: Características do Substrato, Principais Fontes e Etapas da Produção de Biogás 17 O ácido acético é um dos ácidos mais importantes durante esta etapa, pois este é o principal ácido utilizado pelos microrganismos produtores de metano. A concentração de íons de hidrogênio (H2) formados como metabólitos intermediários durante esta etapa afeta o tipo de produto formado nesta fase. Quanto maior a pressão parcial do hidrogênio dentro do reator, menos compostos reduzidos, como o ácido acético, por exemplo, serão formados. De forma geral, os compostos formados nesta etapa dependem do tipo de substrato adicionado no reator e de suas condições ambientais (temperatura e pH) além dos tipos de microrganismos presentes. 2.3. Etapa 3 (Acetogênese) Nesta etapa, a maioria dos ácidos e álcoois, como o ácido butírico, ácido propiônico e etanol, por exemplo, produzidos durante a acidogênese são degradadosem acetato, que pode ser utilizado como substrato para as arqueas metanogênicas. O Quadro 1 apresenta algumas das reações de degradação que ocorrem durante a acetogênese. Quadro 1 - Exemplos de reações da fase acetogênica. Substrato Reação Ácido propiônico CH3(CH2)COOH + 2H2O → CH3COOH + CO2 + 3H2 Ácido butírico CH3(CH2)2COOH + 2H2O → 2CH3COOH + 2H2 Etanol CH3(CH2)OH+ H2O → CH3COOH+ 2H2 Além dos ácidos de cadeia curta, o CO2 e o H2 formados durante a acidogênese também podem ser convertidos em ácido acético ou metano (Equação 1). Equação 1 Definição Os microrganismos produtores de metano são tecnicamente chamados de Arqueas. As arqueas se diferem das bactérias por serem procariontes, ou seja, são organismos mais primitivos e simples, sem núcleo celular definido. As arqueas possuem a capacidade de sobreviver em ambientes extremos de vida, como crateras de vulcões e regiões extremamente salinas. Digestão Anaeróbica: Características do Substrato, Principais Fontes e Etapas da Produção de Biogás 18 2.4. Etapa 4 (Metanogênese) A metanogênese é a última etapa do processo de degradação da matéria orgânica. Nela o metano é formado principalmente a partir de acetato, CO2 e H2 por bactérias estritamente anaeróbias. Desta forma, todos os produtos da fermentação devem ser convertidos em compostos que podem ser utilizados pelas metanogênicas. As arqueas metanogênicas podem ser divididas em acetoclásticas e hidrogenotróficas. As metanogênicas acetoclásticas utilizam o acetato como fonte de substrato e de forma geral representam cerca de 70% do biogás produzido em um reator. Já as metanogênicas hidrogenotróficas são um outro grupo importante de microrganismos que atuam no processo de digestão anaeróbia, que utilizam o CO2 e o H2 como substrato primário para a produção de metano. O tempo de reprodução das archeas metanogênicas é maior do que o tempo de reprodução dos microrganismos que atuam nas fases iniciais. As arqueas demoram entre 1-12 dias para se dividirem em dois. A Methanosarcina, por exemplo, se multiplica a cada 1 dia. Já Metanosaeta requer um tempo maior, entre 2 e 12 dias (podendo chegar a 30 dias) para a multiplicação. Atenção: A taxa de crescimento das metanogênicas pode estabelecer o limite de quão curto pode ser o tempo em que o substrato permanece dentro do reator. Períodos inferiores a 12 dias podem resultar na remoção destes organismos antes do tempo em que eles levam para se reproduzirem. Exemplo Dois grupos conhecidos de metanogênicas degradam o acetato: Methanosaeta e Methanosarcina. Por outro lado, existem diferentes grupos de metanogênicas que utilizam H2 como substrato, como as do gênero Methanobacterium, Methanococcus, Methanogenium e Methanobrevibacter. Digestão Anaeróbica: Características do Substrato, Principais Fontes e Etapas da Produção de Biogás 19 Para que a digestão anaeróbia ocorra, a atividade biológica dos microrganismos envolvidos nas etapas iniciais (hidrólise, acidogênese e acetogênese) e na etapa de metanogênese deve ocorrer de forma equilibrada. Se a etapa de metanogênese for inibida, os ácidos formados nas etapas anteriores passam a acumular no reator, causando um processo de acidificação que pode ser irreversível. Por outro lado, em caso de inibição da etapa de acidogênese, que pode ser causada pela dificuldade de hidrólise de substratos de difícil degradação (Ex.: bagaço de cana-de-açúcar e alguns resíduos da agricultura) a disponibilidade de acetato para as metanogênicas diminui e, consequentemente, observa-se um acúmulo de substrato dentro do reator e a redução na produção de metano. Para garantir um equilíbrio entre estes diferentes grupos de microrganismos deve-se garantir as condições ideais de parâmetros de operação do sistema como por exemplo a temperatura, pH, agitação e carga de alimentação. A Figura 3 apresenta um resumo do processo de degradação da matéria orgânica durante as etapas da digestão anaeróbia. Figura 3 - Esquema da formação de sub-produtos oriundos do pré-tratamento térmico a partir de biomassa lignocelulósica. Adaptado de Rabii et al. (2019). 3. TIPOS DE SUBSTRATOS E DEGRADAÇÃO DOS COMPOSTOS QUÍMICO Como visto no Item 2, o equilíbrio da digestão anaeróbia quanto à atividade biológica dos microrganismos em todas as quatro etapas (hidrólise, acidogênese, acetogênse e metanogênese) e também da produção de biogás depende diretamente da composição química dos substratos utilizados para a alimentação dos reatores. Digestão Anaeróbica: Características do Substrato, Principais Fontes e Etapas da Produção de Biogás 20 Substratos com elevados teores de carboidratos (ex.: amido) podem favorecer a etapa de hidrólise, mas também podem contribuir para a queda no pH do sistema, acidificação do meio e limitação ou até a parada completa da etapa de metanogênese. Por outro lado, substratos de grandes dimensões (ex. pedaços de frutas, frações de órgãos animais provenientes do abate) e cadeias moleculares muito complexas podem limitar a etapa de hidrólise e, consequentemente, afetar a produção de metabólitos intermediários que são fonte de energia e nutrientes para a arqueas metanogênicas. Ao escolher o substrato mais adequado (ou a mistura de substratos), se garante não apenas melhor controle do sistema de tratamento, mas também melhor eficiência na bioconversão da matéria orgânica em energia e na produção de um digestato de melhor qualidade. Diversos materiais orgânicos podem ser aproveitados como substratos potenciais para o aproveitamento energético a partir da D.A. No Brasil, as principais fontes de matéria orgânica incluem dejetos animais, efluentes agroindustriais, resíduos da agricultura, efluentes domésticos e resíduos sólidos urbanos. 3.1. Carboidratos Os carboidratos são macromoléculas complexas (polímeros) formadas principalmente por carbono, hidrogênio e oxigênio e são considerados os compostos orgânicos de maior abundância na natureza. Estão presentes em grandes quantidades na biomassa vegetal como frutas, grãos e palhadas. A classificação dos carboidratos varia de acordo com o número de átomos de carbono em sua molécula: • Monossacarídeos: são os açúcares mais simples, com 3 a 7 átomos de carbono (Quadro 2). Os monossacarídeos são moléculas pequenas e solúveis em água e dentro dos reatores são digeridos dentro das células das bactérias. Os principais monossacarídeos na dieta humana são a frutose e a glicose. Para fixar: A determinação de alguns parâmetros auxilia a tomada de decisões quanto às melhores condições dos substratos para garantir a eficiência do processo de D.A. São eles: • tamanho da partícula (dimensão em cm) • biodegradabilidade (alta, média, baixa) • composição química (proteína, carboidrato, lipídeos) • teor de matéria seca (sólidos totais) • teor de matéria orgânica (sólidos voláteis) • relação de nutrientes (carbono/nitrogênio) Digestão Anaeróbica: Características do Substrato, Principais Fontes e Etapas da Produção de Biogás 21 Quadro 2 - Principais monossacarídeos (açúcares simples) Monossacarídeo Fórmula Desoxirribose C5H10O5 Glicose C6H12O6 Galactose C6H12O6 Frutose C6H12O6 Ribose C5H10O5 Manose C6H12O6 OBS: alguns monossacarídeos possuem a mesma fórmula química (ex.: glicose e frutose), contudo, eles se diferem quanto à sua estrutura. • Dissacarídeos: os dissacarídeos são formados por 2 unidades de monossacarídeos (Quadro 3). Os principais dissacarídeos em nossa dieta são a lactose, açúcar presente em derivados do leite e a sucrose (açúcar de mesa). Os dissacarídeos também são solúveis em água, mas precisam ser convertidos monossacarídeos por meio de hidrólise para serem degradados dentro das células das bactérias.Quadro 3 - Principais dissacarídeos Monossacarídeo Formação Lactose Galactose + Glicose Maltose Glicose + Glicose Sucrose Glicose + Frutose Celobiose Galactose + Galactose • Polissacarídeos: são as maiores moléculas de carboidratos, formadas pela união de pelo menos 10 monossacarídeos (polímeros). O amido encontrado na batata, arroz e trigo é o maior polissacarídeos digestível em nossa dieta. Os polissacarídeos são insolúveis em água e para que sejam aproveitados pelos microrganismos necessitam passar pelo processo de hidrólise. Alguns exemplos de polissacarídeos são: o Agar; o Amilopectina (forma o amido); o Amilose (forma o amido); o Celulose (presente na parede celular dos vegetais); o Glicogênio (utilizado como reserva energética pelas células); o Pectina (presente na parede celular dos vegetais). Digestão Anaeróbica: Características do Substrato, Principais Fontes e Etapas da Produção de Biogás 22 Dentro dos reatores os carboidratos são degradados por bactérias anaeróbias- facultativas e anaeróbias. Os monossacarídeos são solúveis em água e são rapidamente transportados para o interior das células das bactérias. Os dissacarídeos também são solúveis em água, mas precisam ser hidrolisados para então serem transportados para o interior das células bacterianas. Já os polissacarídeos são mais complexos e insolúveis em água e por isso a degradação destes açúcares é mais lenta, pois necessitam de várias etapas enzimáticas até serem transformados em monossacarídeos solúveis. 3.2. Proteínas As proteínas são compostos orgânicos nitrogenados presentes nas células vivas e, portanto, uma fonte de alimento indispensável ao homem e aos animais. Assim como os polissacarídeos, as proteínas são compostos complexos e de elevado peso molecular. São formadas por carbono, hidrogênio, oxigênio e nitrogênio a partir de ligações peptídicas de aproximadamente 20 tipos diferentes de aminoácidos e sua composição pode variar. Atenção: A adição de grandes quantidades de mono e dissacarídeos presentes em resíduos de frutas por exemplo podem resultar na acidificação dos reatores anaeróbios e morte das arqueas metanogênicas. Como a etapa de metanogênese é mais lenta que a hidrólise e a fermentação (acidogênese a acetogênese), a rápida degradação destes compostos leva à formação de ácidos orgânicos em uma velocidade maior com que as metanogênicas conseguem consumir, resultando em acúmulo de ácidos dentro do reator. Exemplo Principais proteínas encontradas nos alimentos: • Milho (zeina, maizina, globulina, proteose) • Arroz (orizeina, globulina) • Feijão (faseolina, fasilina) • Leite (caseína, lactalbumina, globulina) • Carne (miogenio, micalbumina, miosina, hemoglobina) • Ovos (ovovitelina, ovalbumina, ovoqueratina) Digestão Anaeróbica: Características do Substrato, Principais Fontes e Etapas da Produção de Biogás 23 A fração de proteína não digerida é eliminada pelo sistema digestivo juntamente com as proteínas de origem microbiana e também das enzimas utilizadas na digestão. As dejeções animais, como as dos suínos por exemplo, apresentam elevados teores de proteínas (45-60% do nitrogênio consumido é excretado), o que faz com este tipo de resíduos orgânico seja um atrativo para a utilização como substrato na digestão anaeróbia. As moléculas de proteínas não podem ser transportadas diretamente para o interior das células das bactérias durante a degradação. Duas enzimas chamadas de protease e peptidase (exoenzimas) são produzidas pelas bactérias hidrolíticas que quebram as ligações peptídicas e permitem que os aminoácidos individuais sejam transportados e degradados no interior das células bacterianas. Alguns exemplos de aminoácidos digeridos em reatores anaeróbios são apresentados no Quadro 4. Quadro 4 - Aminoácidos usualmente digeridos em um reator anaeróbio Aminoácido Bactéria Alanina Clostridium propionicium Arginina Clostridium spp. e Streptococcus spp. Glutamato Clostridium tetanomorphium Glicina Peptostreptococcus micros Lisina Clostridium sticklandii Durante a etapa de acidogênese, a degradação dos aminoácidos resulta na produção de ácidos orgânicos (ex.: ácido acético e ácido butírico), além da liberação de amônia (NH3) por meio da quebra das ligações peptídicas. 4H2NCH2COOH + 2H2O → 4NH3 + 2CO2 + 3CH3COOH 3.3. Lipídeos Os lipídeos são substratos ricos em energia e com elevado potencial para a produção de biogás com alto teor de metano. Os lipídeos incluem as gorduras e os óleos e são encontrados nos tecidos tanto das plantas quanto dos animais, sendo formados a partir da ligação entre uma molécula de glicerol e três moléculas de ácidos graxos (de cadeia longa), que juntos formam os triglicerídeos. Glicina (aminoácido) Amônia Ácido acético Digestão Anaeróbica: Características do Substrato, Principais Fontes e Etapas da Produção de Biogás 24 Figura 4 - Exemplo de formação de um triglicerídeo a partir de três ácidos graxos. Existem aproximadamente 40 tipos de ácidos graxos, que são classificados em saturados, insaturados e polinsaturados. Os ácidos saturados não possuem dupla ligação entre as unidades de carbono. Os ácidos insaturados (ou monoinsaturados) apresentam apenas uma dupla ligação, e, por fim, os polinsaturados apresentam duas ou mais duplas ligações entre as unidades de carbono. Alguns dos ácidos graxos mais comuns são apresentados no Quadro 5. Quadro 5 - Exemplos de ácidos graxos de cadeia longa (mais de 12 unidades de carbono) Nome Fórmula Propriedade Duplas ligações Ácido láurico C12H24O2 saturado 0 Ácido mistírico C14H28O2 saturado 0 Ácido palmítico C16H32O2 Saturado 0 Ácido oleico C18H34O2 monoinsaturado 1 Ácido linoleico C18H32O2 polinsaturado 2 Ácido linolênico C18H30O2 polinsaturado 3 As gorduras animais (ex.: banha) e as gorduras e óleos vegetais (ex: azeite de oliva e óleo de girassol) são as principais formas de lipídeos na natureza. A gordura saturada é proveniente de derivados de carne bovina e leite. A gordura monoinsaturada é derivada de frutas como abacate e óleos vegetais. Já a gordura poli-insaturada é encontrada em peixes, soja e grãos em geral. As gorduras e óleos são hidrolisados na primeira etapa da digestão anaeróbia e transformados em ácidos graxos de cadeia longa. Durante a fase de fermentação estes ácidos são convertidos em ácidos orgânicos voláteis (até 7 unidades de carbono) que são então consumidos pelas bactérias acetogênicas e archeas metanogênicas. Digestão Anaeróbica: Características do Substrato, Principais Fontes e Etapas da Produção de Biogás 25 3.4. Lignocelulose A biomassa lignocelulósica possui uma estrutura rígida e complexa, formada principalmente por celulose, hemicelulose e lignina. Além disso, também fazem parte da sua composição a água e pequenas quantidades de proteínas e minerais. A lignocelulose representa aproximadamente 20% a 30% da massa seca da parede celular dos vegetais. A celulose é um polímero formado a partir de ligações de glicose. A propriedades da celulose dependem do seu grau de polimerização, ou seja, do número de unidades de glicose repetidas na molécula. Usualmente o grau de polimerização da celulose é superior a 300, com valores médios entre 800 a 10.000. A fibras celulósicas são cobertas por hemicelulose e lignina. A hemicelulose é um composto de baixo peso molecular formado principalmente por xilose. Os polímeros que formam a hemicelulose são, de forma geral, facilmente hidrolisáveis. No entanto, a hemicelulose é responsável pela ligação entre as moléculas de celulose e lignina, o que torna a estrutura muito mais rígida. A lignina é um polímero formado por uma estrutura complexa de álcoois aromáticos interligados.A estrutura da lignina em uma planta tem a função de promover resistência aos ataques microbianos e ao estresse oxidativo. A limitação da digestão anaeróbia da lignina ocorre pela toxicidade de seus componentes aos microrganismos anaeróbios, pela barreira física da sua estrutura que impede o acesso das enzimas e por este ser um composto hidrofóbico, ou seja, não absorve água, a ação das enzimas torna-se ainda mais limitada. As principais fontes de biomassa lignocelulósica para a produção de biogás incluem palhas de milho, trigo, resíduos de grama e resíduos de cama utilizada para a produção de aves. A proporção dos diferentes componentes de lignocelulose dos substratos varia de acordo com o tipo de substrato e fase de formação. O Quadro 6 apresenta alguns exemplos deste tipo de biomassa. Atenção: O alto teor de lipídeos presente no substrato utilizado para a alimentação dos reatores pode resultar em elevado volume de biogás. Contudo, a acumulação de ácidos graxos dentro do reator pode acarretar inibição do sistema. Digestão Anaeróbica: Características do Substrato, Principais Fontes e Etapas da Produção de Biogás 26 Quadro 6 - Teor de lignocelulose em diferentes substratos em base seca Substrato Celulose (%) Hemicelulose (%) Lignina (%) Espiga de milho 45 35 15 Frutas e hortaliças 17 10 6 Gramíneas 35 45 20 Palha de trigo 30 50 15 Dejeto suíno 6 30 N.I. Dejeto bovino 3 2 5 3.5. Principais Fontes de Biomassa no Setor Agroindustrial 3.5.1. Dejetos Animais O Brasil possui destaque na produção pecuária, com plantel de aves da ordem de 1 bilhão, mais de 200 milhões de bovinos e 38 milhões de suínos. Mesmo com a diferença de peso entre cada espécie de animal (usualmente 2,5 kg para aves, 500 kg para bovinos e 90 kg para suínos), a quantidade e as características dos dejetos gerados pela produção (cerca de 1 milhão de t/d) requer especial atenção quanto ao manejo adequado. Contudo, os dejetos animais representam uma das fontes de biomassa mais importantes para a produção de biogás (e também a que apresenta uma das melhores relações custo-benefício), tanto pela sua quantidade, quanto pela disponibilidade de nitrogênio, o que favorece a reprodução dos microrganismos. Além disso, a digestão anaeróbia dos dejetos animais é usualmente favorecida pelo bom equilíbrio de componentes orgânicos, ou seja, de carboidratos proteínas e lipídeos. Em função das características fisiológicas de cada espécie de animal, bem como seu tamanho e, ainda, às características da produção, como tipo de alimentação, sistema de confinamento e frequência de lavagens, torna-se difícil estabelecer indicadores específicos de produção de dejetos e produção de biogás. Valores médios sobre a composição macromolecular de diferentes tipos de dejetos animais são apresentados no Quadro 7. Digestão Anaeróbica: Características do Substrato, Principais Fontes e Etapas da Produção de Biogás 27 Quadro 7 - Composição química média de diferentes tipos de dejetos animais Tipo de dejeto Sólidos Totais (%) Sólidos Voláteis (%) Proteína (% ST1) Lipídeo (% ST) Dejeto bovino 8 80 9 3 Dejeto suíno 4 75 11 12 Dejeto aves 20 75 10 3 Fonte: Adaptado de ONUDI (2014). O grau de bioconversão em que a fração orgânica presente no substrato é degradado em um reator anaeróbio depende da origem do material. O teor de matéria orgânica decomponível nas dejeções de bovinos, por exemplo, é de apenas 35% devido à alta concentração de fibras (lignocelulose) presentes na ração. Para os dejetos suínos, observam-se valores de degradação em torno de 50% e para os dejetos de aves valores ainda mais elevados, da ordem de 65% são registrados. Isto ocorre porque quanto maior o teor de nitrogênio presente no dejeto bruto, maior é o grau de biodegradabilidade do resíduo (Quadro 8). Quadro 8 - Degradabilidade e pH dos dejetos animais Tipo de dejeto Grau de degradação das substâncias orgânicas (%) Teor de amônio do conteúdo total de nitrogênio do dejeto (%) pH Dejeto suínos 54 70 7,7 Dejeto bovino de leite 37 58 7,8 Dejeto avícola 67 85 8,2 Fonte: Adaptado de Deublein (2008). De acordo com o Quadro 8, pode-se observar que o teor de amônio nos dejetos de aves representa 85% do teor total de nitrogênio, o que torna este tipo de dejeto altamente biodegradável. Contudo, a alta concentração de amônia em um reator anaeróbio pode inibir o processo de digestão anaeróbia. O potencial de produção de biogás e metano de diferentes dejetos animais é apresentado no Quadro 9. 1 Devido às características fisiológicas e do sistema de produção de cada tipo de animal, os teores de umidade dos dejetos podem variar entre 40% a 90% do peso fresco do resíduo. Digestão Anaeróbica: Características do Substrato, Principais Fontes e Etapas da Produção de Biogás 28 Quadro 9 - Potencial metanogênico de diferentes dejetos animais. Tipo de dejeto Peso animal (kg) Produção de carne (kg) Geração de resíduos (kg - %) Produção de biogás (m³/t substrato) Produção de metano (m³/t substrato) Dejeto suíno 70 38 (55%) 31 (45%) 28 17 Dejeto bovino 350 140 (40%) 210 (60%) 80 44 Dejeto de aves 2 1.12 (56%) 0.88 (44%) 140 90 Fonte: Adaptado de BMELV (2010) e Díaz (2015) Além do teor de nitrogênio presente nos dejetos, a fração de lignocelulose também deve ser observada. Quando presente em cama de aves por exemplo (composta usualmente por maravalha ou casca de arroz) e aliada ao baixo teor de umidade da mistura (dejetos + cama) trazem dificuldades quanto à bioconversão. Visando aumentar a eficiência da bioconversão de um substrato com tais características, deve-se buscar a adição de um outro substrato (co-digestão) para equilibrar o teor de nitrogênio e umidade da mistura. De forma geral, o teor de matéria seca do substrato utilizado para a alimentação em um reator deve estar abaixo de 2% a 12%, visando garantir a funcionalidade dos equipamentos operacionais como bombas e agitadores. A distribuição do potencial de biogás ao longo do território paranaense é apresentada na Figura 5. Digestão Anaeróbica: Características do Substrato, Principais Fontes e Etapas da Produção de Biogás 29 Figura 5 - Potencial de geração de biogás na pecuária paranaense. Fonte: SENAI-PR (2016). Pode-se observar que as regiões oeste e sudoeste apresentam destaque quanto ao potencial de geração de biogás na pecuária. A suinocultura e avicultura representam a maior parcela deste potencial na região oeste, enquanto as regiões sudeste e centro-oriental possuem destaque quanto à suinocultura. Além dos dejetos, materiais indesejados e inerentes ao processo de produção animal devido à alimentação e manutenção das propriedades podem ser observados na mistura e, desta forma, inibir a digestão anaeróbia, como: • Areia proveniente de elementos minerais presentes na ração animal; • Serragem; • Solo; • Pelos, cerdas e penas; • Cordas, fios, plásticos e pedras em gera. Os dejetos líquidos dos suínos também podem ser responsáveis pela formação de material sedimentado no fundo de reatores anaeróbios, devido à presença de areia e de uma fração não digerida de vegetais como milho e outros grãos. Além disso, o elevado teor de cobre e zinco oriundos de aditivos na ração pode ser considerado um Digestão Anaeróbica: Características do Substrato, Principais Fontes e Etapas da Produção de Biogás 30 fator limitante à bioconversão destes dejetos. De forma geral, ácidos orgânicos, antibióticos, quimioterápicos, acidificantes, desinfetantes encontrados nas dejeções podem inibir e até interromper o processo de digestão anaeróbia. 3.5.2. Abatedouros A contribuição brasileira para a produção mundial de bovinos, suínos e aves cresce anualmente, com produçãoesperada para atender 44.5% da demanda global em 2020. De acordo com o IBGE, 7,5 milhões de bovinos e 10,5 milhões de suínos foram abatidos apenas no primeiro trimestre de 2018 (Vilvert et al., 2020). As características físico-químicas dos resíduos variam em função das condições climáticas, tipo de alimentação, idade e peso do animal (Quadro 10). Quadro 10 - Características físico-químicas de diferentes resíduos do processo de abate Resíduo pH ST (%) SV (%) Nitrogênio total (%) Lipídeos (%) Proteínas (%) Rumem bovino 6.1 14.9 89.4 2.2 N.I. N.I. Sangue bovino 7.4 19.8 75.0 15.0 N.I. N.I. Resíduos do abate de bovinos N.I. 53.2 98.8 1.0 86.6 65.7 Conteúdo estomacal de suínos N.I. 18.2 98.3 7.8 47.8 36.8 Resíduos do abate de suínos 6.2 N.I. N.I. N.I. N.I. N.I. Fonte: Adaptado de Díaz (2015). N.I.: não identificado. Os resíduos de abatedouros englobam os efluentes líquidos e resíduos sólidos provenientes do abate e processamento de produtos de origem animal. Estes resíduos se caracterizam por serem ricos em energia (moléculas de proteínas e lipídeos) e, portanto, são uma fonte potencial para a geração de biogás. De forma geral são gerados principalmente os seguintes tipos de resíduos em abatedouros: esterco, urina, vômito, sangue, vísceras não comestíveis, gorduras, aparas, pelos/penas e efluentes líquidos de lavagem de caminhões. Digestão Anaeróbica: Características do Substrato, Principais Fontes e Etapas da Produção de Biogás 31 A digestão das moléculas de proteína, por exemplo, pode favorecer a formação de amônia (NH3) e inibir a atividade biológica das arqueas metanogênicas. A baixa degradabilidade dos lipídeos pode causar problemas operacionais como entupimento de bombas, flotação de lodo e geração de odor. Uma das alternativas aplicadas para solucionar este problema é a mistura dos resíduos de abatedouros com outros resíduos para equilibrar a relação C/N e minimizar a formação de amônia durante o tratamento. O potencial de produção de metano de diferentes tipos de resíduos gerados em abatedouros é apresentado no Quadro 11. Quadro 11 - Potencial metanogênico de diferentes resíduos do processo de abate. Resíduo de abatedouro Temperatura de operação Condição de operação Potencial metanogênico (L / kg SV) Fração sólida de abate de bovinos 55oC Mistura completa 410 Fração sólida e líquida do abate de bovino/suíno (mistura) 35oC Batelada 274-302 Abate de suínos 35oC Batelada 460 Abate de aves 35oC Batelada 580 35oC Mistura completa 520-580 Fonte: Adaptado de Díaz (2015). 3.5.3. Laticínios A indústria alimentícia se caracteriza pela geração de quantidades significativas de resíduos com alto elevados teores de matéria orgânica facilmente biodegradável. O Brasil é o quarto maior produtor mundial de leite e este ramo da agroindústria está entre as quatro maiores commodities agrícolas produzidas no País. Atenção: Se por um lado os resíduos de abatedouros apresentam elevado potencial de geração de biogás em plantas de tratamento, por outro lado, o alto teor de proteínas e lipídeos destes substratos pode acarretar problemas durante a digestão anaeróbia. Digestão Anaeróbica: Características do Substrato, Principais Fontes e Etapas da Produção de Biogás 32 Entre os principais produtos gerados pelos laticínios estão o leite pasteurizado, leite UHT, leite em pó, iogurtes, queijos, requeijão, manteiga e doce de leite e são formados principalmente pelo soro do leite e do queijo e, ainda, resíduos de leite rejeitado para o processamento industrial devido a contaminações. De forma geral, são gerados entre 3 a 5 litros de efluentes por cada quilograma de produto. As características físico-químicas dos efluentes gerados pelos laticínios varia em função do tipo de produto fabricado. Estes efluentes podem ser ricos em gorduras, carboidrato (lactose) e proteínas. Para a produção de 1 kg queijo por exemplo, estima-se a utilização de 10 kg de leite, resultando na geração de 9 kg de resíduos. As principais características do soro do leite são apresentadas no Quadro 12. Quadro 12 - Principais características físico-químicas do soro do leite Parâmetro Valor Sólidos totais 5,7% Sólidos voláteis 95% Proteína 1,4% Carboidratos 3,6% Lipídeos 0,2% Lipídeos 0,2% Fonte: Adaptado de Martínez-Ruano et al. (2019). O soro do leite possui entre 10-15% da proteína 70-75% da lactose presente no leite e , por este motivo, possui potencial para o aproveitamento energético a partir do biogás, pois além da alta biodegradabilidade, o elevado teor de alcalinidade faz deste um substrato importante para a co-digestão anaeróbia (Antonelli et al., 2015). O soro do leite vem sendo utilizado como ingrediente funcionais tanto na indústria alimentícia quanto farmacêutica. Porém, se não tratado adequadamente, principalmente em países sem tecnologia ou demanda para estes subprodutos, este tipo de resíduo pode representar uma fonte significativa de poluição hídrica. A demanda química de oxigênio (DQO) deste tipo de resíduo pode chegar a 70.000 mg/L (Martínez- Ruano et al., 2019). Digestão Anaeróbica: Características do Substrato, Principais Fontes e Etapas da Produção de Biogás 33 3.5.4. Cervejarias O Brasil é o terceiro maior produtor de cervejas do mundo, com aproximadamente 100 milhões de hectolitros anuais, atrás apenas da China com 381 e os Estados Unidos com 215 milhões de hectolitros ao ano (Statistica, 2020). A geração de efluentes líquidos é da ordem de 2 a 6 litros por cada litro de cerveja produzido. A DQO deste tipo de efluente varia entre 2.000 a 6.000 mg/L e cerca de 50 a 70% da matéria orgânica presente nos efluentes é biodegradável, o que torna a digestão anaeróbia uma técnica de tratamento atrativa para este tipo de efluente. Os principais componentes dos efluentes líquidos são os açúcares, etanol e amido solúvel. A geração de metano a partir do lodo de cervejaria em reator tipo batelada resultou em 306 L CH4 kg/VS (Agler et al., 2010). O bagaço de malte é o principal subproduto sólido gerado nas cervejarias, representar até 75% do total. Além disso, são gerados em menores quantidades o bagaço de cevada, levedura e pó de malte. Parte destes subprodutos são incorporados pela indústria alimentícia ou para a produção de ração. A principais características dos efluentes líquidos gerados nas cervejarias são apresentadas no Quadro 13. Quadro 13 - Principais características físico-químicas do efluente de cervejarias Parâmetros Valor médio Sólidos totais 1,2 mg/L Sólidos voláteis 1,1 mg/L Sólidos sedimentáveis 270 mg/L Nitrogênio total 17,4 mg/L Relação C/N 80 Fonte: Adaptado de Dos Santos et al. (2017). Exemplo Potencial Metanogênico do Soro do Leite → 168 – 174 L CH4 kg/SV (Antonelli et al., 2015) → 163 L CH4 kg/SV (Amon et al., 2007) → 149 -268 L CH4 kg/SV (Lehtomaki et al., 2007) Digestão Anaeróbica: Características do Substrato, Principais Fontes e Etapas da Produção de Biogás 34 4. CONCLUSÃO A digestão anaeróbia é uma tecnologia aplicada ao tratamento de resíduos. Além de degradar a matéria orgânica, reduzindo seu potencial poluidor, gera dois produtos altamente consumíveis na atual situação energética e econômica. Trata-se do biogás e do digestato. O biogás inserido na matriz energética torna-se uma opção para geração de energia, elétrica, térmica e/ou veicular, e o digestato que dependendo de suas características serve para enriquecimento de nutriente do solo. Contudo, para um melhor aproveitamento desses produtos, conhecer suas etapas e especificidades dos microrganismos torna-se necessário. Além também dos tipos de substratos e como, em função dos seus compostos químicos, ocorrerá a degradação dos materiais. Outroimportante ponto avaliado é a questão de conhecer as principais fontes de biomassa do setor agroindustrial que estão disponíveis para produção do biogás. O setor agroindustrial é importante para o desenvolvimento do país e em todas regiões algum tipo de industrial está instalada. Ou seja, existe a possibilidade de produção de biogás em todas regiões com diversos tipos de substratos. Diante disso conclui-se a importância do uso da digestão anaeróbia, primeiro para tratamento de resíduos e segundo como fonte de geração de dois produtos, o biogás e o digestato. Digestão Anaeróbica: Características do Substrato, Principais Fontes e Etapas da Produção de Biogás 35 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AL SAEDI, T., LORENZEN, J. IEA Bioenergy Task 37 Energy from Biogas: Denmark Country Report -2019. IEA Bioenergy: 2019. ANDRE, L., PAUSS, A., RIBEIRO, T. Solid anaerobic digestion: State-of-art, scientific and technological hurdles. 2018. Bioresource Technology. 247, 1027-1037. BORGES, E. A. M. A., DOS SANTOS, A. S. P. Desenvolvimento da aplicação dos reatores anaeróbios de manta de Lodo (UASB) no Brasil. 2017. Revista Internacional de Ciências. 07, 247-264. BRASIL. 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