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FILOSOFIA DO DIREITO 
STEPHAN KIRSTE
COLEÇÃO 
DIREITO E JUSTIÇA
Este livro de Stephan Kirste ocupa-se de distinguir as especificidades da filosofia do 
direito. Para ele, o objeto dessa disciplina são 
os fundamentos do direito posto e as três 
partes que a compõem são: a teoria da ciência 
do direito, a teoria do direito e a ética jurídi-
ca. Para esclarecer suas teses, esta Introdução 
procura apresentar, sistematizar e esclarecer 
os problemas mais importantes da filosofia do 
direito, aí incluindo sua evolução histórica. Em 
primeiro lugar, enfrenta o conceito de filosofia 
do direito, investigando suas relações com a 
filosofia e o problema de sua utilidade prática. 
Depois, na teoria da ciência do direito, analisa 
se esta é efetivamente uma ciência, quais suas 
disciplinas e seus métodos, qual sua relação com 
as demais ciências e como pensam os profissio-
nais do direito no exercício de seu mister. Em 
seguida a obra apresenta a teoria do direito, 
sua concepção de norma jurídica e os proble-
mas de conceito, validade e obrigatoriedade 
do direito. Finalmente, coloca as questões da 
ética jurídica, ligada ao bem-estar da comuni-
dade, decompondo o complexo conceito de 
justiça em seus três elementos: a dignidade 
da pessoa humana, a liberdade e a igualdade.
JOÃO MAURÍCIO ADEODATO
editora
ISBN 978-85-60519-32-3
Introdução à FILO
SO
FIA D
O
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IREITO
STEPH
AN
 KIRSTE
Introdução à
COLEÇÃO 
D & J
STEPHAN KIRSTE
Estudou nas Universidades de Re-
gensburg e Friburgo (Alemanha). 
Obteve o título de Doutor em 
Direito em 1997, em Friburgo. Na 
Universidade de Heidelberg, tra-
balhou como Professor Assisten-
te e concluiu sua livre-docência 
em 2004, recebendo autorização 
para lecionar em Direito Público, 
Filosofia do Direito, História do 
Direito Público e Sociologia do 
Direito. Foi Professor Titular na 
Faculdade de Ciências Compa-
radas Jurídicas e do Estado, na 
Universidade Andrássy, de língua 
alemã, em Budapeste, sendo atu-
almente membro do seu Conse-
lho. Em 2012, assumiu a cadeira 
de Filosofia do Direito e Ciências 
Sociais na Universidade de Salz-
burg. Desde 2010, é o Presidente 
da seção alemã da Associação 
Internacional de Filosofia do 
Direito e Filosofia Social (IVR). 
É um dos dois chefes editoriais 
da Enciclopédia de Filosofia em 
Direito e Filosofia Social. Foi pro-
fessor visitante na Universidade 
da Virgínia e em várias universi-
dades brasileiras.
A contribuição do professor Ste-
phan Kirste para a academia bra-
sileira começou em 2001, quan-
do de sua primeira visita ao país. 
De lá para cá, podemos inseri-lo 
no quadro dos acadêmicos que 
contribuem para a construção 
do pensamento jurídico filosófi-
co brasileiro. Ele tem, portanto, 
circulado em nosso sangue, va-
lendo-me da metáfora antropo-
fágica de Oswald de Andrade. 
Tenho que uma das característi-
cas centrais da cultura brasileira 
é a capacidade de assimilar o es-
trangeiro e torná-lo parte de si. 
É nesse sentido que a Introdução 
à Filosofia do Direito causa-nos a 
impressão de que é escrito es-
pecialmente para tratar dos de-
safios a que os juristas brasileiros 
se propõem. Mas não só por isso 
incentivo a leitura deste livro. O 
professor Kisrte é hoje uma das 
maiores referencias da filosofia 
do direito em âmbito ociden-
tal. Ninguém melhor consegue 
conectar a tradição jurídica mo-
derna com os problemas emer-
gentes do tempo presente, o que 
me sugeriria apresentá-lo como 
uma espécie de Hans Staden do 
século XXI. 
LUCAS DE 
ALVARENGA GONTIJO
Introdução à 
FILOSOFIA DO DIREITO 
1Introdução à 
FILOSOFIA DO DIREITO
STEPHAN KIRSTE
PAULA MARIA NASSER CURY
tradução e notas:
MARCELO CAMPOS GALUPPO
apresentação
Copyright © 2018, D’Plácido Editora.
Copyright © 2018, Stephan Kirste.
Copyright © 2018, Paula Maria Nasser Cury.
Editor Chefe
Plácido Arraes
Produtor Editorial
Tales Leon de Marco
Capa, projeto gráfico
Letícia Robini
(Imagem por Yuichi Kageyama, via Unsplash)
Diagramação
Enzo Zaqueu Prates
Revisão
João Maurício Adeodato
Coleção Direito e Justiça
Coordenador: Plácido Arraes
Editora D’Plácido
Av. Brasil, 1843, Savassi
Belo Horizonte – MG
Tel.: 31 3261 2801
CEP 30140-007
Todos os direitos reservados. 
Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida, 
por quaisquer meios, sem a autorização prévia 
do Grupo D’Plácido.
W W W . E D I T O R A D P L A C I D O . C O M . B R
Catalogação na Publicação (CIP)
Ficha catalográfica
Kirste, Stephan.
Introdução à filosofia do direito / Stephan Kirste. Tradução: Paula Maria 
Nasser Cury – Belo Horizonte: Editora D’Plácido, 2018.
309 p.
Título original: Einführung in die Rechtsphilosophie
ISBN: 978-85-60519-32-3
1. Direito. 2. Filosofia do Direito. I. Título.
CDD340.12
CDU340.1
1
Sou especialmente grato a Marcelo Campos Galuppo, 
que não apenas teve a ideia de traduzir minha Introdução 
para o Português, como também tornou possível sua publi-
cação, a João Maurício Adeodato pela interlocução e pela 
apresentação e a Paula Nasser, pelo seu excelente trabalho 
de tradução.
Agradecimentos
1
PREFÁCIO À EDIÇÃO BRASILEIRA 15
PREFÁCIO À EDIÇÃO DE 2010 19
PREFÁCIO À EDIÇÃO DE 2018 21
APRESENTAÇÃO 23
INTRODUÇÃO 29
CAPÍTULO 1
Conceito de Filosofia do Direito 33
1.1. Introdução 33
1.1.1. A questão sobre o conceito de Filosofia 
do Direito pode ser respondida 
através do seu objeto? 33
1.1.2. Determinação do conceito de Filosofia 
do Direito com base em sua forma 37
1.1.2.1. Filosofia do Direito como 
parte da Filosofia 37
Sumário
1.2. Filosofia do Direito como Filosofia 38
1.3. Três âmbitos da Filosofia do Direito 41
1.3.1. Teoria da Ciência do Direito 41
1.3.2. Teoria do Direito 41
1.3.3. Ética do Direito 43
1.4. Sobre a utilidade da Filosofia do Direito 45
1.4.1. Continuidade em tempos 
de reviravolta 46
1.4.2. Função crítica 47
1.4.3. Função de ponte 48
1.4.4. Demais contribuições da 
Filosofia do Direito 49
1.5. Resumo 50
CAPÍTULO 2
Teoria da Ciência do Direito 51
2.1. Introdução 51
2.2. A Ciência do Direito é uma ciência? 51
2.2.1. A Ciência do Direito é condicionada 
pelo seu objeto de conhecimento? 52
2.2.1.1. A objeção à cientificidade devido à 
contingência do Direito 52
2.2.1.2. A objeção da dependência da Ciência 
do Direito em relação a valorações 55
2.2.1.3. Ciência do Direito como mera praxis 
ou como ciência prática? 56
2.2.2. Sobre o conceito de ciência 59
2.2.3. A cientificidade da Ciência do Direito 62
2.2.3.1. Construção de teorias na 
Ciência do Direito 62
2.2.3.2. A busca da verdade na 
Ciência do Direito 63
2.2.3.3. Construção do sistema na 
Ciência do Direito 67
2.2.4. A qual grupo de ciências pertence 
a Ciência do Direito? 69
2.2.4.1. Ciência do Direito como Ciência 
do Espírito ou da Cultura 69
2.2.4.2. Ciência do Direito como 
Ciência Social 69
2.2.4.3. Ciência do Direito como 
Ciência Normativa 70
2.3. As subdisciplinas jurídico-científicas 71
2.3.1. A dogmática jurídica 71
2.3.1.1. O conceito de dogmática jurídica 71
2.3.1.2. As subdisciplinas da 
dogmática jurídica 77
2.3.1.3. As disciplinas fundamentais da 
Ciência do Direito 85
2.4. Resumo 87
2.5. Métodos Jurídicos 87
2.5.1. Generalidades 87
2.5.2. Métodos da Ciência do Direito 89
2.5.2.1. O método da dogmática jurídica 
como interpretação 90
2.5.2.2. Espécies de métodos 90
2.5.3. Métodos da praxis jurídica 93
2.5.3.1. Estabelecimento de objetivos dos 
métodos da praxis jurídica 93
2.5.3.2. Vinculação jurídica dos 
métodos da praxis 94
2.5.3.3. Princípios da interpretação 98
2.5.3.4. Relação dos métodos de 
interpretação entre si 115
2.5.3.5. Desenvolvimento judicial 
do Direito 117
2.5.4. Resumo 121
CAPÍTULO 3
Teoria do Direito 123
3.1. Introdução 123
3.2. O conceito de Direito 124
3.2.1. A perspectiva 124
3.2.2. Crítica à construção de conceitos de 
Direito 126
3.2.2.1. Não precisamos de qualquer conceito 
de Direito? 126
3.2.2.2. Problemas da construção do 
conceito de Direito 127
3.2.3. Critérios do conceito de Direito 131
3.2.3.1. Conceitos materiais de Direito132
3.2.3.2. Conceitos formais de Direito 146
3.2.4. Resumo 167
3.3. O Direito como norma 170
3.3.1. Normas 171
3.3.1.1. O conceito de norma 171
3.3.1.2. Resumo 183
3.3.2. Norma e valor 184
3.3.3. A norma jurídica 186
3.3.3.1. A norma geradora do Direito 186
3.3.3.2. As normas de aplicação 
compulsória do Direito 188
3.3.3.3. Normas primárias e secundárias, 
normas de ação e de imposição 189
3.3.4. O ordenamento jurídico 191
3.3.4.1. Duas dimensões do 
ordenamento jurídico 191
3.3.4.2. Significado do ordenamento 
jurídico 194
3.4. A delimitação de normas jurídicas 
e de outras normas 195
3.4.1. Introdução 195
3.4.2. A validade e a vinculação 197
3.4.2.1. O que é validade jurídica? 197
3.4.2.2. A validade fática 198
3.4.2.3. A validade moral do Direito 200
3.4.2.4. Validade e vinculatividade 
do Direito 204
3.4.3. Direito positivo 204
3.4.4. Costume, costume jurídico 
e Direito costumeiro 205
3.4.5. Direito natural 208
3.4.5.1. O significado do Direito natural 208
3.4.5.2. A forma do Direito natural 209
3.4.5.3. Direito natural e moral 209
3.4.5.4. Significados de Direito natural 210
3.4.5.5. Resumo 211
CAPÍTULO 4
Ética do Direito 213
4.1. Introdução 213
4.2. O que é a Ética do Direito? 214
4.3. Justiça 215
4.3.1. Introdução 215
4.3.2. Perspectivas de agrupamento 
das teorias da justiça 216
4.3.3. Linhas de desenvolvimento do 
pensamento sobre a justiça 217
4.3.3.1. Os Sofistas 219
4.3.3.2. Platão 220
4.3.3.3. Aristóteles 222
4.3.3.4. Tomás de Aquino 224
4.3.3.5. Thomas Hobbes 226
4.3.3.6. Immanuel Kant 227
4.3.3.7. Justiça utilitarista 229
4.3.4. Aspectos do discurso atual 
sobre a justiça 230
4.3.4.1. John Rawls 230
4.3.4.2. Ronald Dworkin 234
4.3.4.3. O igualitarismo rigoroso 
de Thomas Nagel 236
4.3.4.4. A teoria libertária da justiça 238
4.3.5. Ceticismo perante a justiça material 239
4.3.6. Teorias procedimentais da justiça 241
4.3.7. Resumo 243
4.4. Dignidade humana 244
4.4.1. O conceito de dignidade 244
4.4.2. A dignidade do homem 245
4.4.3. O conceito de dignidade 
humana no Direito 248
4.4.4. A dignidade jurídica do homem como 
proteção de sua personalidade 249
4.4.4.1. O conceito jurídico de 
dignidade humana 249
4.4.4.2. A pessoa de Direito 250
4.4.4.3. Dignidade humana e 
pessoa de Direito 252
4.4.4.4. Pretensão de respeito e proteção da 
dignidade humana 255
4.5. Liberdade jurídica 257
4.5.1. Liberdade jurídica e 
direitos subjetivos 258
4.5.2. Dimensões da liberdade jurídica 259
4.5.3. O status jurídico e a liberdade 261
4.6. Igualdade jurídica 264
4.6.1. Introdução 264
4.6.2. Igualdade jurídica 264
4.6.3. Desigualdade natural e 
historicamente constituída 266
4.6.4. Sobre a estrutura da 
igualdade jurídica 269
4.6.5. O Direito como instrumento 
da igualdade 271
4.6.6. Igualdade e status jurídico 271
4.7. O bem comum do Direito 274
4.7.1. Introdução 274
4.7.2. O bem comum jurídico 275
4.7.3. Interesse individual – interesse 
público – bem comum 276
4.7.4. O conteúdo do bem comum 280
4.7.4.1. Bem comum e status negativus 281
4.7.4.2. Bem comum e status activus 282
4.7.4.3. Bem comum e status positivus 283
CONCLUSÃO 285
REFERÊNCIAS 287
ÍNDICE DE PESSOAS 307
ÍNDICE TEMÁTICO 311
15
1
A tradução de uma obra própria para um outro 
idioma é sempre motivo de grande satisfação para o au-
tor. A tradução da minha Introdução à Filosofia do Direito 
para o Português tem, contudo, uma grande importância 
pessoal para mim! Desde 2001, quase todos os anos tive 
a oportunidade de proferir palestras e ministrar cursos 
sobre questões de Filosofia do Direito e de Direito Cons-
titucional em diferentes universidades brasileiras. Neles, 
foram abordados vários temas que também são tratados 
neste pequeno livro: a interdisciplinaridade das Ciências 
do Direito e a questão sobre a Jurisprudência ser, afinal, 
uma ciência; o contexto entre Direito e tempo e a questão 
sobre o conceito de Direito, bem como a validade do Di-
reito e da Constituição; o princípio da dignidade humana, 
o problema da liberdade e como estes se relacionam com 
o conceito de justiça. Com essas questões, são perquiridos, 
simultaneamente, os três âmbitos da Filosofia do Direito: 
a Teoria da Ciência do Direito, a Teoria do Direito e a 
Ética do Direito. A Teoria da Ciência do Direito deve 
responder à questão de o Direito ser ou não uma ciência 
e, em caso afirmativo, determinar que tipo de ciência é 
a Jurisprudência – e não se preocupem: ela é uma! A te-
oria do Direito responde à questão sobre o conceito de 
Direito e sua validade, bem como diferencia o Direito de 
Prefácio à 
Edição Brasileira
16
normas como, por exemplo, aquelas da moral e aquelas 
do Direito natural. A Ética do Direito investiga a justiça, 
como ela está contida no Direito positivo, e a reconduz a 
seus princípios fundamentais. A Filosofia do Direito analisa 
o pensamento jurídico, o modo como ele se apresenta 
nesses três âmbitos, e os agrupa em um sistema. 
Há alguns anos, a Introdução vem apresentando um 
bom resultado nas classes sobre Filosofia do Direito em 
Heidelberg e Salzburg. Ela foi pensada especialmente para 
a continuação do estudo após as classes e para a preparação 
para o exame final com vistas à obtenção de crédito na 
área das disciplinas fundamentais. Entretanto, uma vez que 
ela oferece, sistematica e concisamente, uma visão geral 
sobre toda a Filosofia do Direito, ela também se mostrou 
de grande ajuda para a preparação para os exames públicos 
– e isso pode se aplicar também à prova de Filosofia do 
Direito do exame da OAB.
Os exemplos utilizados, para os quais, diante da pe-
quena dimensão desta Introdução, houve pouco espaço, 
foram retirados sobretudo do ordenamento jurídico ale-
mão e do Direito Constitucional Comparado. Estou ciente 
de que há diversos institutos jurídicos em que os orde-
namentos jurídicos alemão e brasileiro diferem. Porém, 
tenho a impressão de que, por ocasião da preparação da 
Constituição brasileira de 1988 e, ainda mais fortemente, 
desde a sua entrada em vigor, o diálogo entre cientistas 
do Direito alemães e brasileiros ganhou em intensidade. 
Com isso, ambos os ordenamentos jurídicos parecem estar 
também em processo de aproximação. Gostaria de escla-
recer, nesta oportunidade, que, pelo fato de nem sempre 
haver boas traduções para o Português à disposição, as 
citações originais contidas na Introdução foram traduzidas 
livremente pela minha tradutora.
Para esta Introdução, a aproximação entre Brasil e 
Alemanha vale ainda mais: também a versão alemã foi 
17
consideravelmente beneficiada pelas discussões que eu 
tive a oportunidade de conduzir em cursos e palestras no 
Brasil. Com bastante frequência, eu teria preferido escutar 
as interessantes exposições de meus ouvintes brasileiros, 
ao invés de proferir uma palestra. Adquiri a impressão de 
que muitos debates jurídico-filosóficos são conduzidos 
ainda mais intensa e apaixonadamente no Brasil do que 
o são na Alemanha. Para mim, seria motivo de alegria se, 
com esta Introdução, eu pudesse, ainda assim, contribuir 
um pouco para a Filosofia do Direito no Brasil.
Agradeço a diversos colegas, aos quais estou ligado 
por laços de amizade, como Juliana Neuenschwander Ma-
galhães, João Maurício Adeodato, Ingo Wolfgang Sarlet e 
Marcelo Campos Galuppo pelo fato de, nos últimos anos, 
poder ter participado tão frequentemente das discussões 
jurídico-filosóficas no Brasil. À iniciativa deste último e às 
artes tradutórias de Paula Maria Nasser Cury dedico, porém, 
meu especial agradecimento por, através desta Introdução, 
passar a ter, eu também, uma voz nessa discussão. 
Heidelberg, Março de 2013.
Stephan Kirste
19
1
Esta “Introdução à Filosofia do Direito” nutre-se 
do diálogo com alunos em seminários e classes e com 
colegas. A parceria de discussões que já existe há mais de 
dez anos com Winfried Brugger e Michael Anderheiden 
na Universidade de Heidelberg possibilitou-me adquirir 
a experiência de que, em quase todas as questões, as pes-
soas são de opiniões diversase travam frutíferos diálogos 
exatamente sobre elas. Os fundamentos nos quais o livro 
se baseia derivam, porém, já de meu tempo em Freiburg, 
onde meu interesse pela dimensão histórica da Filosofia 
do Direito foi despertado por Alexander Hollerbach 
e Ernst-Wolfgang Böckenförde. A confecção do livro 
foi acompanhada também pelas reuniões do “Grupo de 
trabalho História das Ideias da Ciência do Direito”, no 
qual especialmente Rolf Gröschner e Manfred Walther 
ajustaram algumas teses mais arrojadas. Chris Thomale e 
Christoph Wassermann examinaram o livro criticamente. 
Ingrid Baumbusch corrigiu as provas do manuscrito. A 
todos eles, merecidamente, o meu muito obrigado.
A elaboração de um livro como este exige, além 
da atividade de ministrar aulas, sacrifícios de tempo li-
vre. É evidente que o autor dedica-se a essa tarefa com 
gosto. O maior ônus decorrente da escrita deste livro 
foi suportado pela minha família. Não por pathos, mas 
1. Prefácio à 
Edição de 2010
20
simplesmente por reconhecimento, dedico, portanto, a 
Introdução a Angel, Sophia e Leander. 
Stephan Kirste
21
1
É para mim uma grande satisfação realizar esta 2ª 
Edição brasileira de minha Introdução à Filosofia do Direito. A 
1ª Edição já está totalmente esgotada há alguns anos. Com 
base nela, desde 2013 venho ministrando muitos cursos e 
palestras no Brasil. Meus ensaios brasileiros foram escritos 
possuindo o seu referencial. Nomeio alguns: Autonomia 
e direito à autolesão. Para uma crítica do Paternalismo. 
Tradução do alemão por Marcos Augusto Maliska e Fe-
lipe Bley Folly. Revista Direitos Fundamentais e Democracia, 
UniBrasil, Curitiba, v. 14, n. 14.1, p. 73-86, 2013; O direito 
como memória cultural. In: Ney Fayet Jr. (Org.). Prescrição 
Penal. Temas Atuais e Controvertidos. Porto Alegre, Livraria 
do Advogado, 2015, v. 5. p. 21-35; e O Direito Humano 
Fundamental à Democracia. Revista Direitos Fundamentais 
e Democracia, UniBrasil, Curitiba, v. 20, n. 20, p. 5-38, 2016. 
Esta 2ª Edição não seria possível sem o apoio dos meus 
queridos amigos brasileiros: João Maurício Adeodato, Lucas 
de Alvarenga Gontijo e Marcelo Campos Galupo. A eles o 
meu especial obrigado. À Editora d’Plácido sou grato pela 
admissão em sua programação. Fica o meu agradecimento 
à Paula Maria Nasser Crury pela tradução. E sem a espon-
tânea ajuda de Rosana Helena Maas este livro não estaria 
pronto a tempo: a ela agradeço afetuosamente. Sobretudo, 
agradeço novamente àqueles queridos amigos brasileiros 
Prefácio à Edição 
de 2018
22
que já havia agradecido no Prefácio da 1ª Edição e aos 
posteriores amigos e amigas, bem como colegas que esse 
país me proporcionou e que o trouxeram para tão perto 
de mim, com suas calorosas pessoas, grande potencial e 
contexto político-social, que posso dizer: o Brasil tornou-
-se a minha segunda casa acadêmica, um enorme presente 
em minha vida! Meus amigos e amigas brasileiros dedico 
a vocês essa segunda edição.
Salzburg, 12 de outubro de 2018
Stephan Kirste
23
1
Participei pela primeira vez do Congresso Mundial 
de Filosofia do Direito e Filosofia Social da Internationale 
Vereinigung für Rechts- und Sozialphilosophie (IVR) em Ams-
terdam, no verão europeu de 2001. Foi nesse congresso 
que a professora Juliana Neuenschwander Magalhães apre-
sentou-me ao professor Stephan Kirste. Desde então, o 
professor Kirste tem visitado o Brasil com certa frequência 
e tornamo-nos amigos mais do que fraternos com o passar 
do tempo. E agora me incumbe a honra de apresentá-lo 
àqueles que não puderam (ainda) assistir às conferências e 
seminários que ele tem realizado no Brasil. 
Stephan Kirste defendeu sua tese de doutorado em 
1997 e sua tese de livre docência em 2004. Foi professor 
na Universidade de Heidelberg, onde colaborou com o 
professor Winfried Brugger. Assumiu em 2009 a titula-
ridade de Filosofia do Direito na Universidade Andrássy 
de língua alemã, em Budapeste, onde também exerceu a 
direção do curso de Direito. Em 2011, tornou-se professor 
titular de Filosofia do Direito na Universidade de Salzburg. 
Atuou inúmeras vezes como professor visitante, sobretudo 
no Brasil (em Porto Alegre, Belo Horizonte, Rio de Ja-
neiro e Recife), Estados Unidos da América e Alemanha. 
Desde 2010, é o presidente da seção alemã da IVR. Com 
inúmeros artigos e livros publicados em alemão e inglês, 
o professor Kirste agora nos brinda com a publicação em 
Apresentação
24
português de seu livro Introdução à Filosofia do Direito, que 
o leitor ora tem em mãos. 
Sendo um legítimo representante da tradição das 
Geisteswissenschaften, que o alinha à posição jurídica de 
Heidelberg, juntamente com Hesse, Müller, Häberle, Hol-
lerbach e Brugger, o professor Kirste foi também profun-
damente influenciado pelo pensamento de Böckenförde, 
que se insere da tradição do decisionismo jurídico de Carl 
Schmitt, a cujos seminários assistiu na Universidade de 
Freiburg, durante sua graduação. O fato de pertencer de 
algum modo a ambas as tradições (ainda que a tradição 
de Heidelberg seja mais notável em seu pensamento) faz 
do autor um pensador único, com um olhar multiface-
tado sobre a realidade jurídica, influenciado por Platão, 
Aristóteles, Kant, Kelsen, Cassirer, Luhmann, Habermas 
e, sobretudo, Hegel, entre outros. Por isso, quando pedi à 
professora Juliana Neuenschwander Magalhães que descre-
vesse o professor Kirste com uma palavra, ela respondeu: 
“ousado”. A ousadia do professor Kirste aparece em seu 
fazer jusfilosófico, pois tem a coragem de olhar aquilo que 
convenientemente tendemos a negligenciar e de dizer o 
que geralmente omitimos. 
Outra caraterística notável do professor Kirste é o 
comprometimento radical com sua vocação docente. Em 
alemão, orientador é chamado de Doktorvater, literalmente 
um Doutor Pai. O professor Kirste é, acima de tudo, um pai 
intelectual para seus alunos. A maneira como acolhe, incen-
tiva e inspira seus alunos, muito além dos estreitos limites 
da sala de aula, é notável. Inúmeras vezes pude ver como 
seus alunos têm-no como uma referência, não somente 
intelectual e teórica. Posso testemunhar, por exemplo, 
como ele acolheu como sua orientanda de doutorado em 
Heidelberg e, posteriormente, em Salzburg, a professora 
Paula Nasser, egressa do Mestrado em Teoria do Direito da 
PUC Minas e tradutora deste livro. Nesse seu modo único 
25
de ser professor, podemos perceber a grande influência 
que Winfried Brugger exerceu sobre Kirste, sobretudo em 
seu esforço em ser o mais claro possível ao expor ideias, 
qualidade muito rara em Filósofos. Por isso, quando pedi 
ao professor Ingo Wolfgang Sarlet que definisse o professor 
Kirste, ele respondeu: “Ele é um autêntico professor”. 
Finalmente, uma terceira característica que faz com 
que o professor Stephan Kirste destaque-se é o modo 
como exerce sua indiscutível liderança no meio acadêmico 
jurídico alemão e internacional. A meu ver, existem dois 
tipos de líderes: aqueles que constroem muros e aqueles que 
constroem pontes. Por sua lealdade e espírito conciliador, o 
professor Stephan Kirste consegue produzir uma profun-
da integração entre pessoas de formação diferente e com 
projetos díspares, sendo capaz de reestabelecer o diálogo 
onde ele havia cessado e unindo tradições aparentemente 
tão diferentes, mas de fato tão semelhantes, como Brasil 
e Alemanha. Por isso, quando o professor João Maurício 
Adeodato o descreveu, usou a palavra: “pacificador”.
– X –
De certo modo, pudemos ver no Brasil a gestação das 
ideias que orientam este livro. Em 2006, convidei os pro-
fessores João Maurício Adeodato, Juliana Neuenschwander 
Magalhães, Ingo Wolgang Sarlet e Stephan Kirste a partici-
parem de um seminário no Programa de Pós-graduação em 
Direito da PUC Minas, ocasião em que ele pôde conversar 
com meus alunos sobre o tema do Paternalismo de Estado. 
No encerramento do seminário, o (então) aluno Daniel 
Vieira Sarapu perguntou, frente aos difíceis problemas que 
o professor Kirste apresentara em sua conferência,qual 
seria a tarefa da Filosofia do Direito. E a resposta foi que 
a Filosofia do Direito não possui uma única tarefa, mas 
três. A primeira delas é uma tarefa epistemológica: em que 
medida e como é possível conhecermos racionalmente o 
26
sistema positivo de direito de uma sociedade. A segunda 
tarefa é uma tarefa prática, de aclarar os conceitos utilizados 
no processo de interpretação jurídica e de formulação da 
decisão que resolve os problemas que são submetidos à 
atividade do jurista: o que significa, por exemplo, norma 
jurídica e como podemos compreender sua validade e 
obrigatoriedade. Finalmente, a terceira tarefa é uma tarefa 
sobre o tema da justiça e de sua relação com o Direito e 
da relação entre poder e justiça (tão cara à tradição jusfilo-
sófica e constitucionalista de Heidelberg desde os ensinos 
pós-guerra de Radbruch e de Hesse). Se agregarmos a 
esses três temas uma discussão inicial sobre o sentido da 
própria Filosofia do Direito, temos a estrutura básica desta 
Introdução à Filosofia do Direito. 
Perpassa todo o livro a questão da relação entre a ati-
vidade dos operadores jurídicos e o saber acadêmico sobre 
o direito. O autor concebe a ciência do direito ao mesmo 
tempo como independente e como serva da praxis jurídica, 
e a Filosofia do Direito como guardiã da complexa relação 
que se estabelece entre ambas. Ainda que exista no Direito 
uma relativa independência entre Ciência e Praxis, aquela 
é, antes de tudo, um meio para se atingir os fins do direito, 
estabelecidos pela praxis jurídica. Perguntar sobre essa relação 
entre meios e fins no direito é perguntar pela própria Justiça, 
e somente a Filosofia pode responder a essa questão. 
A discussão sobre a relação entre poder e justiça no 
Direito dá unidade a toda a obra. O autor anuncia, desde 
as primeiras páginas da obra, que “A justiça não é um tema 
extrínseco ao Direito positivo, ao qual alguém se poderia 
dedicar ou não” (p. 32). Mas, evitando cair em um jusna-
turalismo vazio, o autor lembra em seguida que “o Direito 
emancipou-se das exigências de correção moral e não pode, 
consequentemente, ser totalmente compreendido a partir 
da justiça” (p. 32). Paradoxal? Não, para aquele que analisa 
os argumentos apresentados pelo autor.
27
Além do mérito de integrar todos esses temas, o li-
vro possui duas qualidades únicas. Em primeiro lugar, ele 
renuncia a uma estruturação puramente sistemática da 
abordagem dos temas, tanto quanto a uma abordagem 
puramente histórica, mostrando-nos que é na História 
que o Sistema se forma e desenvolve. Em segundo lugar, 
o livro, apesar da profundidade das ideias apresentadas e 
analisadas, é extremamente claro, razão pela qual quando o 
editor perguntou-me se se tratava de um livro para alunos 
ou para pesquisadores e eu não soube respondê-lo. Pela 
sua linguagem e articulação didática, diria que se destina 
ao aluno. Mas pelos temas escolhidos e o criativo enfoque 
dado a eles, certamente se destina ao pesquisador.
– X –
A estatura moral e intelectual do professor Stephan 
Kirste e a singularidade do livro tornam sua publicação 
mais do que necessária, em um cenário de profunda re-
valorização da Filosofia do Direito, como o que vivemos 
no Brasil. É para mim um grande prazer, portanto, poder 
apresentar este livro, não só por seus méritos intrínsecos, 
quanto também pelos laços fraternos que me unem ao 
autor, e que me fazem pensar em quão correto estava Aris-
tóteles, tão caro para nós dois, para quem ter um amigo é 
como ter uma alma habitando em dois corpos.
Julho de 2013.
Prof. Dr. Marcelo Campos Galuppo1 
1 Professor da Faculdade Mineira de Direito da PUC Minas. Profes-
sor da Faculdade de Direito da UFMG. Presidente da Associação 
Brasileira de Filosofia do Direito e Sociologia do Direito.
29
1
Esta “Introdução à Filosofia do Direito” deve con-
duzir o leitor aos problemas da Filosofia do Direito e 
acompanhá-lo em algumas de suas questões fundamentais. 
Ela aposta na disposição do leitor para deixar-se levar, o 
que, na Filosofia, também significa examinar criticamente 
os pensamentos apresentados. Talvez ela logre êxito não 
apenas em disponibilizar informações úteis para os crédi-
tos fundamentais do curso de Direito ou para um crédito 
complementar – o que também é almejado –, mas em 
encorajar um envolvimento com os temas abordados de 
modo mais aprofundado do que, aqui, é possível.
Introdução Sistemática
A exposição é estruturada sistematicamente. Direito 
e Filosofia do Direito são, entretanto, marcados pela his-
tória das ideias. A exposição deve levar isso em considera-
ção. O leitor pode, assim, tomar parte na argumentação e 
também criticá-la, especialmente quando os argumentos 
não se mostrarem consistentes. Aqui, o significado de um 
fenômeno não consiste em sua descrição externa, mas sim 
em sua reconstrução interna, com base em conceitos. Por 
conseguinte, diferentes teorias científicas sobre o Direito 
serão examinadas, para que se observe o que os seus con-
ceitos abrangem. 
1. Introdução
30
Perspectiva
O tema de uma investigação científica não se deli-
mita por si; ele é definido pela perspectiva através da qual 
é observado. O Direito tem sempre a ver com questões 
de forma: deve-se apresentar um pedido formal para que 
se obtenha a prestação de um serviço por parte de um 
departamento público – um sorriso amigável e um bu-
quê de flores são formas menos apropriadas para alcançar 
este objetivo. Quem deseja expor um argumento em um 
processo judicial não pode fazê-lo tarde demais pois, nesse 
caso, tal argumento não será ouvido: ele deve observar a 
forma temporal. Os exemplos são vários. 
Forma e matér ia
Se, contudo, no Direito, a questão da forma através 
da qual uma determinada matéria será regulamentada, 
decidida, executada, tem desde o primeiro momento um 
grande significado, então é evidente que se deve investigar 
o Direito através da perspectiva de forma e substância. 
Esses conceitos são, porém, fortemente deturpados pela 
história das ideias. Por isso, é bom que se especifique o 
que se quer dizer com eles.
Por forma, deve ser compreendido aquele fator 
de um objeto que produz sua unidade e sua ordem. A 
forma é, assim, abstraída intelectualmente de um objeto 
em exame. Essa forma é caracterizada pela sua função de 
unificação do objeto. Através dela, a diversidade existente 
entre seus elementos é inserida em uma ordem e o objeto 
pode ser diferenciado de outros. Matéria é, por outro 
lado, um conceito negativo: ele designa, em cada caso, 
aquilo que resta quando subtraímos, intelectualmente, a 
forma de um objeto de conhecimento. Forma e matéria 
são, assim, artificialmente separadas por meio de nosso 
pensamento. Elas podem, então, ser investigadas indivi-
31
dualmente e, em sequência, ser mais uma vez intelectu-
almente reunidas. Desse modo, através da reconstrução 
analítica e sintética, o objeto – o Direito – ressurge como 
produto de nosso pensamento.
Objeção metafísica
Quanto a uma possível objeção metafísica, deve ser 
aqui enfatizado que nós, pelo menos, não efetuamos qual-
quer hipostasiação: não dizemos que isto ou aquilo “é” a 
forma e é sempre e apenas forma, e que essa ou aquela 
outra “é” a matéria e é sempre e apenas matéria. O leitor 
é, antes, convidado a observar o mundo do Direito a partir 
da perspectiva de forma e matéria. Exatamente na medida 
em que não identificamos um determinado objeto com 
a forma ou a substância, podemos pesquisá-lo ora sob o 
aspecto da forma, ora sob o aspecto da substância. Em um 
ordenamento jurídico, isso é especialmente útil: uma lei 
promulgada pelo parlamento estabelece uma forma para 
decisões administrativas. Assim, um mapa de zoneamento 
só pode ser elaborado em conformidade às formas previs-
tas no código de posturas. Se nos perguntamos, porém, se 
essa lei é conforme à Constituição, então a Constituição 
é a forma e a lei, o conteúdo, o qual será examinado com 
relação à sua conformidade a essa forma.
Organização
O exemplo dos conceitos“forma e matéria” já de-
monstra, porém, a importância do esclarecimento quanto 
à perspectiva a partir da qual observamos um objeto. Esse 
é o motivo porque o pensar sobre o Direito precisa, pri-
meiramente, entender-se consigo mesmo: esta é a tarefa 
do primeiro capítulo “Conceito de Filosofia do Direito”. Ao 
final, será sugerido um conceito de Filosofia do Direito. 
Ela compreende a teoria da Ciência do Direito, a Teoria do 
Direito e a Ética do Direito. Correlativamente, examinare-
32
mos, no segundo capítulo, se e em que medida a Ciência do 
Direito é uma ciência. Será demonstrado que, para tanto, o 
seu procedimento metodológico é decisivo. Apenas quan-
do as especificidades metodológicas do Direito se tornam 
claras, podemos nos dedicar a este objeto com a pergunta: 
o que é, realmente, o Direito? Este é o tema da Teoria do 
Direito, que compõe o terceiro capítulo. No final do capítulo 
“Teoria do Direito”, encontra-se um conceito de Direito. 
Determinante para ele é, em primeiro lugar, que o Direito é 
constituído por normas; em segundo lugar, que essas normas 
não são formuladas por meio de quaisquer processos, mas 
em processos ordenados; finalmente, em terceiro lugar, que 
a aplicação compulsória dessas normas, quando alguém que 
está obrigado a observá-las não basear sua conduta nelas, tem 
lugar em um processo igualmente ordenado. 
E a justiça? Por mais legítima que seja essa questão, 
deve ser esclarecido se ela é uma questão moral ou jurí-
dica. Em outras palavras, o Direito injusto deixa de ser 
Direito, ou ele é apenas um Direito ruim, mas ainda assim 
Direito, o qual, de acordo com a situação, também deve 
ser observado e pode ser aplicado compulsoriamente em 
caso de não-observância? Também esta questão só pode ser 
respondida com base no conceito de Direito. O Direito 
moderno preenche, de fato, diversas exigências da justiça. 
Revelar os princípios fundamentais dessa justiça, do modo 
como eles estão contidos no Direito positivo, é a tarefa 
da Ética do Direito, que será trabalhada no último capítulo. 
Somente quando o conteúdo do Direito – como o filósofo 
idealista Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831) o deno-
mina – também houver sido trazido ao conceito, teremos 
cumprido a tarefa da Filosofia do Direito, que consiste em 
compreender o que é o Direito.
FILOSOFIA DO DIREITO 
STEPHAN KIRSTE
COLEÇÃO 
DIREITO E JUSTIÇA
Este livro de Stephan Kirste ocupa-se de distinguir as especificidades da filosofia do 
direito. Para ele, o objeto dessa disciplina são 
os fundamentos do direito posto e as três 
partes que a compõem são: a teoria da ciência 
do direito, a teoria do direito e a ética jurídi-
ca. Para esclarecer suas teses, esta Introdução 
procura apresentar, sistematizar e esclarecer 
os problemas mais importantes da filosofia do 
direito, aí incluindo sua evolução histórica. Em 
primeiro lugar, enfrenta o conceito de filosofia 
do direito, investigando suas relações com a 
filosofia e o problema de sua utilidade prática. 
Depois, na teoria da ciência do direito, analisa 
se esta é efetivamente uma ciência, quais suas 
disciplinas e seus métodos, qual sua relação com 
as demais ciências e como pensam os profissio-
nais do direito no exercício de seu mister. Em 
seguida a obra apresenta a teoria do direito, 
sua concepção de norma jurídica e os proble-
mas de conceito, validade e obrigatoriedade 
do direito. Finalmente, coloca as questões da 
ética jurídica, ligada ao bem-estar da comuni-
dade, decompondo o complexo conceito de 
justiça em seus três elementos: a dignidade 
da pessoa humana, a liberdade e a igualdade.
JOÃO MAURÍCIO ADEODATO
editora
ISBN 978-85-60519-32-3
Introdução à FILO
SO
FIA D
O
 D
IREITO
STEPH
AN
 KIRSTE
Introdução à
COLEÇÃO 
D & J
STEPHAN KIRSTE
Estudou nas Universidades de Re-
gensburg e Friburgo (Alemanha). 
Obteve o título de Doutor em 
Direito em 1997, em Friburgo. Na 
Universidade de Heidelberg, tra-
balhou como Professor Assisten-
te e concluiu sua livre-docência 
em 2004, recebendo autorização 
para lecionar em Direito Público, 
Filosofia do Direito, História do 
Direito Público e Sociologia do 
Direito. Foi Professor Titular na 
Faculdade de Ciências Compa-
radas Jurídicas e do Estado, na 
Universidade Andrássy, de língua 
alemã, em Budapeste, sendo atu-
almente membro do seu Conse-
lho. Em 2012, assumiu a cadeira 
de Filosofia do Direito e Ciências 
Sociais na Universidade de Salz-
burg. Desde 2010, é o Presidente 
da seção alemã da Associação 
Internacional de Filosofia do 
Direito e Filosofia Social (IVR). 
É um dos dois chefes editoriais 
da Enciclopédia de Filosofia em 
Direito e Filosofia Social. Foi pro-
fessor visitante na Universidade 
da Virgínia e em várias universi-
dades brasileiras.
A contribuição do professor Ste-
phan Kirste para a academia bra-
sileira começou em 2001, quan-
do de sua primeira visita ao país. 
De lá para cá, podemos inseri-lo 
no quadro dos acadêmicos que 
contribuem para a construção 
do pensamento jurídico filosófi-
co brasileiro. Ele tem, portanto, 
circulado em nosso sangue, va-
lendo-me da metáfora antropo-
fágica de Oswald de Andrade. 
Tenho que uma das característi-
cas centrais da cultura brasileira 
é a capacidade de assimilar o es-
trangeiro e torná-lo parte de si. 
É nesse sentido que a Introdução 
à Filosofia do Direito causa-nos a 
impressão de que é escrito es-
pecialmente para tratar dos de-
safios a que os juristas brasileiros 
se propõem. Mas não só por isso 
incentivo a leitura deste livro. O 
professor Kisrte é hoje uma das 
maiores referencias da filosofia 
do direito em âmbito ociden-
tal. Ninguém melhor consegue 
conectar a tradição jurídica mo-
derna com os problemas emer-
gentes do tempo presente, o que 
me sugeriria apresentá-lo como 
uma espécie de Hans Staden do 
século XXI. 
LUCAS DE 
ALVARENGA GONTIJO

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