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1 Aline David – ATM 2025/B PATOLOGIA II – AULA 11 ❖ Tanto vias biliares quanto pâncreas são muito clínica. Precisa da patologia para diagnóstico diferencial de doenças malignas. ❖ São doenças bastante prevalentes, mas são coisas do dia a dia e cirúrgicas. ❖ Murphy positivo em colecistite e colangite. VIAS BILIARES ANATOMIA/HISTOLOGIA ❖ Ductos biliares intra e extra hepáticos e ducto biliar. - Ducto cístico: via de entrada e saída da vesícula. - Ducto hepático biliar se junta com o ducto pancreático e desemboca no duodeno pela ampola de Vater. - ❖ Bile: enzimas responsáveis pela emulsificação da gordura alimentar na luz intestinal e eliminação da bilirrubina, excesso de colesterol. - Alimentação gordurosa estimula muito mais a bile. - Deposição tecidual se torna visível (icterícia) pela retenção de bilirrubina (porção insolúvel em água no pH fisiológico). ❖ Bilirrubina: é produto da degradação da heme. - Icterícia: superprodução de bilirrubina, hepatite (lesão de fígado) ou obstrução ao fluxo da bile. - Acúmulo pode ser de bilirrubina conjugada ou não conjugada. • Não conjugada (indireta): ligada à albumina sérica, insolúvel em água em pH fisiológico, não é excretada na urina; relacionada a intoxicação cerebral em neonatos (kernicterus). Pensar em anemias hemolíticas e aumento da degradação do grupo heme. - Kernicterus: doença de neonatos que pode ser por várias doenças, a principal é por eritroblastose fetal. Aumento de bilirrubina indireta, icterícia que pode se depositar no cérebro e ser muito neurotóxica. Pode inclusive levar à óbito. • Conjugada (direta): solúvel no plasma, atóxica, excretada na urina. Paciente pode ter colúria e acolia. Pensar mais em colestase, obstrução de vias biliares e hepatite. - Níveis séricos normais: 0,3 – 1,2 mg/dL. - Hemácias, grupo heme degradada dentros dos macrófagos, que podem estar principalmente no baço, mas podem estar na MO e no fígado. Grupo heme é degradado em biliverdina depois se transforma em bilirrubina sempre ligada à albumina. Através da corrente sanguínea, entra no fígado, se desfaz a ligação com a albumina, entra nos hepatócitos e fazem glicorunídeos de 2 Aline David – ATM 2025/B bilirrubina. Caem dentro das vias biliares, ampola de vater e duodeno. Através das vias digestivas caem no colon e vão ser transformadas em urobilinogênio, tanto nas fezes quanto na urina (cor verde escura). Uma parte é reabsorvida. Em condições normais, o tanto que a gente excreta é igual o tanto que reabsorvemos e o tanto que é produzido. Só vai aumentar quando tiver algum problema em alguma das vias. ❖ Vesícula biliar tem fundo cego: bile entra e sai pelo mesmo lugar (ducto cístico). - Tem uma via só para obstruir e não tem por onde sair. - Porção de células colunares, responsáveis por produção de muco para proteger o epitélio da vesícula dessa bile. Evitar que se ativem e degradem a vesícula. As células têm algumas microvilosidades que são chamadas de células em escova. Tem uma camada muscular, uma serosa e uma adventícia. A drenagem linfática ocorre da camada muscular para baixo, bem como os vasos sanguíneos. COLESTASE ❖ Defeitos na formação de bile e no fluxo biliar, com acúmulo do pigmento no parênquima hepático (bilirrubina). - O depósito de pigmentos ocorre da obstrução para cima. Parênquima hepático vai ficar cheio de bilirrubina: mucosa oral, esclera, nas crianças se deposita em zonas, da cabeça aos pés (zonas de Kramer). - Pode ser causada por obstrução intra ou extra-hepática das vias biliares, ou por defeito na secreção biliar dos hepatócitos. ❖ Achado laboratorial característico: elevação de gama-GT e fosfatase alcalina (enzimas canaliculares). ❖ Dx é clínico. Não precisa biopsiar para saber que é colestase. Dx é por parâmetro laboratorial e por US. ❖ Microscopia: acúmulo de pigmento biliar no interior do parênquima hepático (visível dentro dos hepatócitos), dilatação de canalículos biliares com tampões verde- acastanhados alongados de bile, células de Kupfer (macrófagos do fígado) com pigmento biliar em seu citoplasma (fagocitose), hepatócitos com aparência fina, espumosa (“degeneração plumosa”), com pigmentos biliares. - Canalículo gigante com acúmulo de bilirrubina dentro dos hepatócitos e das células de Kupfer. - A seta aponta um canalículo biliar com um tampão → tampão biliar. - Bastante acúmulo de pigmento dentro das células, por fagocitose. Mais vacuolizado por degeneração plumosa. Não é padrão de vidro fosco porque não é em todo ele e não é contínuo. COLANGIOCARCINOMA ❖ Principal doença que precisa de biópsia das vias biliares. ❖ Segundo tumor maligno primário mais comum do fígado. Apesar disso, não é comum. - Em algumas regiões como nordeste da Tailândia, Laos e Camboja, há infestação do fígado por vermes endêmica (aumentam a chance), sendo o colangiocarcinoma mais comum. ❖ Ductos biliares intra (10% dos colangiocarcinomas) e extra-hepáticos (tumores peri-hilares: Klatskin (próximos ao hilo hepático → junção do ducto cístico e do ducto hepático), 50-60%; distais: 20-30% - porções finas do colédoco). ❖ Fatores de risco: infestação hepática por vermes (Ásia), doença inflamatória crônica dos grandes ductos biliares, hepatites virais B e C, DHGNA. ❖ Prognóstico ruim, sobrevida 15% em 2 anos para extra- hepáticos e expectativa média de 6 meses para tumores intra-hepáticos (prognóstico muito ruim). ❖ Macroscopia: nódulos cinza, firmes, no interior da parede do ducto. ❖ Microscopia: costuma ocorrer em fígados não cirróticos; adenocarcinomas típicos, podendo produzir mucina; estruturas glandulares bem diferenciadas, bem definidas; é comum haver invasão perineural e linfática. - Colangiocarcinoma intra hepático, enrijecido. 3 Aline David – ATM 2025/B - Proliferação aumentada de ductos disformes, porções glandulares que produzem mucina. - Costumam invadir bastante locais perineurais. Nervo central com bastante proliferação celular e glandular ao redor, invadindo a porção neural. COLELITÍASE ❖ Cálculos da vesícula biliar; ❖ Prevalência é gigante e a maioria dos pacientes são assintomáticos. ❖ Vesícula biliar armazena a bile entre as refeições (capacidade ~50 mL) – secretados aproximadamente 1000 mL/dia pelo fígado. - Vesícula está em trabalho constante. O tempo inteiro entrando e saindo bile ali. ❖ Mais de 95% das doenças do trato biliar são atribuídas à colelitíase. ❖ Afeta 10-20% da população dos países desenvolvidos. ❖ > 80% dos cálculos são “silenciosos” → assintomáticos. ❖ 2 tipos gerais: cálculos de colesterol (contém mais de 50% de monoidrato de colesterol cristalino), e cálculos pigmentados (compostos predominantemente de sais de bilirrubinato de cálcio). - Cálculos de colesterol puro são muito raros. Cálculos pigmentados sem colesterol são mais comuns. ❖ Fatores de risco diversos, sendo os mais clássicos os “5 F’s”, do inglês: - Females (mulheres) - Fat (obesidade) - Fertile (idade fértil) - Forty (faixa dos 40 anos de idade) - Family (história de colelitíase na família) ❖ Quando vê homens, são obesos e com hábitos alimentares ruins. ❖ Cálculos de colesterol surgem exclusivamente na vesícula biliar, podem ser de 50% a 100% (puro, raro) de colesterol. - Radiolucentes: US é mais sensível do que TC → quanto mais colesterol tiver, menos chance de aparecer em uma TC. ❖ Os de pigmento podem ser intra-hepáticos ou no ducto biliar. ❖ Macroscopia: de colesterol são amarelados, redondos a ovoides, com superfície dura e finamente granular; os que tem mais carbonato de cálcio, fosfatos e bilirrubina são mais branco-acinzentados a pretos; em geral são múltiplos, com diversos tamanhos. - Cálculos pigmentados variam do marrom (associados a ductos infectados) ao preto (associados a vesícula biliar estéril), contém pequenas quantidades de carbonato de cálcio, fosfato de cálcio, mucina, poucoscristais de colesterol monoidratados, estearato de cálcio e de colesterol; geralmente são múltiplos, raramente > 1,5 cm, são bastante friáveis. - Marrom são radiolucentes, negros são radiopacos. Quanto mais escuros, mais cálcio e maior é a chance da tomografia ser sensível e enxergar esse cálculo. - Cálculo biliar. Vesícula com parede um pouco espessado. ❖ 70-80% dos pacientes permanecem assintomáticos; ❖ Cólica biliar: dor em hipocôndrio direito que inicia após refeição copiosa, gordurosa, que força a saída de cálculo contra a saída da vesícula biliar; não fica completamente sem dor, sempre fica com um pouco de dor/desconforto abdominal em epigástrio e hipocôndrio direito. É uma falsa cólica. A dor vem pela forçada da bile para sair da vesícula. ❖ Cálculos menores são os mais perigosos, pois conseguem sair pelo ducto cístico e impactam em árvore biliar; ❖ Cálculos >3cm tem maior associação com carcinoma de vesícula biliar; não se sabe o porquê. ❖ São poucos que vão fazer complicações como colecistite. QUESTÕES 4 Aline David – ATM 2025/B a) Existe um mito de que todo paciente que tem cálculo precisa de indicação cirúrgicas. Existe critérios para que seja indicado, pois a grande maioria dos pacientes são assintomáticos. Colangite e pancreatite podem ocorrer como complicação de pedra e fazem parte da indicação de colecistectomia. b) Vesícula biliar em porcelana e pólipos com diâmetro > 1 cm, aumentam a chance de encontrar adenocarcinoma de vesícula biliar. Por isso sempre precisa avaliação de cirurgião → vai ter que remover a vesícula. c) Paciente não vai ficar completamente sem dor. Fica com desconforto. d) Não é do ducto cístico é do ducto biliar/colédoco. e) Hepatocarcinoma não. Pessoas sem vesícula vão ter mais diarreia, pois não conseguem degradar as gorduras adequadamente. Não tem prejuízo maior além desse. Tumor de Klatskin → vários tipos, mas pega acima da junção com o ducto cístico e pega a confluência com os dois ductos hepáticos. COLECISTITE ❖ Colecistite: inflamação da vesícula biliar; ❖ Quase sempre associada a colelitíase, principalmente quando é colicistite aguda. AGUDA: ❖ 90% dos casos precedidos por obstrução do colo da vesícula ou de ducto cístico por um cálculo; - Pode ser obstrução parcial, total, fixa ou passageira. ❖ Complicação primária de cálculos biliares, razão mais comum para colecistectomia de urgência → se o cálculo está impactando, vesícula inflamada pode virar colangite, ter infecção e paciente ficar séptico; - Inflamação: suporte clínico; - Quando começa a ter infecção associada, o risco aumenta muito, paciente não melhora com suportes clínicos, dor piora muito ou muita febre → colecistectomia de urgência. ❖ Colecistite acalculosa corresponde a 10% dos casos, pode ocorrer em pacientes com doenças graves (pacientes de UTI, choque séptico, CIVD, SIRS) – resultante provavelmente de isquemia na vesícula (a porção da vascularização da vesícula fica prejudicada – vesícula sofre porque a irrigação vem de um único lugar); ❖ Vesícula biliar obstruída inicia processo de inflamação de mucosa, com perda de muco protetor e exposição de epitélio à ação direta dos sais biliares; ❖ Macroscopia: vesícula aumentada e tensa, com paredes espessadas, coloração vermelho-brilhante com porções violáceas ou verde-enegrecidas, conferidas por hemorragias subserosas (hiperemiada); - Serosa coberta por esxudato fibrinoso, pode ser fibrinopurulento em casos graves; - Calculosa: cálculos em seu interior; - Se houver exsudato em seu interior, com purulência evidente, é chamada de empiema vesicular; - Pode ocorrer perfurações em sua parede, passando a ser chamada de colecistite gangrenosa; - Presença de bactérias formadoras de gás pode ocasionar colecistite enfisematosa aguda; é um achado radiológico, da TC → ar dentro da vesícula. • Duas possibilidades para ar dentro da vesícula: bactérias formadoras de gás ou vesícula perfurada formando uma fístula para o duodeno e isso explica o ar. 1 – Vesícula de tamanho normal, atrás do fígado, protegida pelo epiplo. 2 – Vesícula aumentada, epiplo retirado, fígado retraído para cortar no ducto cístico. Vesícula vermelha, inflamada e com pontinhos pretos de necrose (inflamação muito importante, quase ulcerando a parede da vesícula – perde muco (proteção), sais biliares começam a corroer e pode supurar). ❖ Dor em quadrante superior direito ou epigástrio, progressiva, pode ou não ter relação com alimentação, podendo ser associada ou não a picos febris, sudorese, náuseas, vômitos, anorexia; maioria de pacientes não tem icterícia; - Se a pedra impacta mais para frente pode fazer outros processos além da colecistite (causa icterícia). Na colecistite impacta no ducto cístico ou na porção parcial de saída (não dá icterícia). ❖ Leucocitose leve a moderada, com aumento de fosfatase alcalina; ❖ Casos leves podem ceder espontaneamente, em torno de 7 a 10 dias (geralmente em 24/48h – paciente já não sente nada); porém, até 25% dos casos desenvolvem quadros graves como colangite e perfuração (risco de óbito); Chamar cirurgião para avaliar se tem critérios de colecistectomia. - Recorrência em caso de recuperação espontânea é frequente; - Cirurgia é indicada em casos de colecistite complicada ou piora a despeito de tratamento clínico; CRÔNICA ❖ Pode ser sequela de surtos repetidos de colecistite aguda, mas em muitos casos não estão associadas; ❖ 90% dos pacientes têm história de colelitiase; ❖ Obstrução do fluxo biliar não é pré-requisito, patogenia incerta. - Mutações e perda da barreira protetora podem estar associadas. ❖ Macroscopia: alterações muitas vezes mínimas; serosa lisa e brilhante, mas pode estar apagada por fibrose subserosa (processos crônico de longa data fibrosa a porção externa da vesícula – mais opaca); parede espessada, opaca, brancoacinzentada; interior com muco verde-amarelado e cálculos; - Parede endurecida com fibrose. Parede não está tão espessa (parede espessa ocorre mais na aguda). Está dilatada e menos brilhante. 5 Aline David – ATM 2025/B ❖ Microscopia: grau de inflamação variável, podendo haver desde infiltrado linfocitário leve até infiltrado proeminente com fibrose subepitelial e subserosa proeminentes; - A proliferação reativa da mucosa e a fusão das pregas mucosas podem originar criptas encobertas de epitélio no interior da parede da vesícula › seios de Rokitansky- Aschoff; 1 – Núcleos indicando inflamação crônica por linfócitos. 2 – Mucosa pode formar seios de Rokitansky-Aschoff criptas que fazem invaginação porque o epitélio se prolifera tanto que começa a se dobrar em uma tentativa de aumentar a proteção do epitélio, que pode ter acúmulo de muco dentro. - Aqui não tem acúmulo de muco nos seios. - Epitélio com muito mais vilosidades. - Depósito de colágeno na serosa (rosinha). ❖ Clínica mais amena, com dor abdominal recorrente em epigástrio ou quadrante superior direito, mais leve, acompanhada de náuseas, vômitos, intolerância a alimentos gordurosos; aqui o paciente pode ter episódios de dor e episódios de alívio completo. - Difícil diagnosticar só pela clínica. Precisa de TC e US. ADENOCARCINOMA DE VESÍCULA BILIAR ❖ Neoplasia mais comum do trato biliar extra-hepático; não é uma neoplasia comum. ❖ É um tumor agressivo, com prognóstico ruim. São bastante letais, porque muitas das pessoas que tem morrem, mas não tem taxa de mortalidade muito alta porque não são muito prevalentes. ❖ Mais comum em mulheres ❖ Fator de risco mais importante: colelitíase (95% → mas muito poucos pacientes com colelitíase desenvolvem adenocarcinoma de vesícula) e tabagismo; - Apenas 1%-2% dos pacientes desenvolvem câncer da vesícula biliar; ❖ Sintomas semelhantes à colecistite; Dor mais leve, intolerância a alimentos gordurosos, associada a anorexia, perda de peso. Geralmente quando tem esses dois últimos sintomas já é irressecável.- Por isso é importante quando identifica vesícula de porcelana, pólipo >1cm e pedra > 3cm, tem que retirar porque já pode ter adenocarcinoma no epitélio, mesmo que o paciente não tenha sintomas. ❖ Diagnóstico costuma ser tardio, em fases irressecáveis - prognóstico péssimo, com sobrevida em 5 anos <10%; ❖ Macroscopia: padrão infiltrante - mais comum, espessamento e endurecimento difuso mural, com possíveis ulcerações (e fístulas); exofítico - massa irregular intraluminal em forma de couve-flor, que invade parede subjacente; - Adenocarcinoma mais exsofítico, com crescimento irregular que pode ulcerar e fazer fístula. Altera a espessura da parede biliar. ❖ Microscopia: padrão glandular com infiltração, fibrose associada. - Crescimento glandular desestruturado, com tamanhos diferentes, desorganizados, mas pode ter fibrose associada na região do tumor. PÂNCREAS ANATOMIA E HISTOLOGIA ❖ É a maior glândula do nosso corpo. ❖ Dividido em cabeça, pescoço, corpo e cauda. Entre a cabeça e o pescoço passam vários vasos e o ducto biliar que entra dentro do pâncreas e entra dentro do duodeno através do pâncreas. 6 Aline David – ATM 2025/B - Tumor de pâncreas é extremamente agressivo porque está muito próximo de estruturas nobres. Por isso a letalidade de tumor de pâncreas é muito alta. - Não é tão incomum de encontrar um ducto pancreático que não se divide. Não causa sintomas específicos, mas quando tem doenças é possível identificar. ❖ Pâncreas exócrino: 80-85% do órgão, composto por células acinares células epiteliais que contêm grânulos ricos em enzimas e proenzimas (zimogênio) digestivas (tripsinogênio, uimotripsinogênio etc.) - Enzimas e proenzimas são ativadas por clivagem proteolítica no trato gastrointestinal - entram no duodeno; o tripsinogênio é ativado em tripsina e começa toda a cascata de ativação das outras enzimas pancreáticas. - A pancreatite acontece com a ativação da tripsina dentro do próprio pâncreas, degradando o próprio parênquima pancreático. ❖ Pâncreas endócrino: aproximadamente 1 milhão de aglomerados celulares (ilhotas de Langerhans), espalhas por toda a glândula; - Secretam insulina, glucagon e somatostatina - 1-2% do órgão; - Ilhota de Langerhans no meio com células acinares bem bonitas. - Células acinares (células com formato piramidal que tem grânulos de zimogênio no ápice da célula, prontos para entrar nos ductos e ir para a via biliar). PANCREATITE ❖ Processo iniciado por lesões que levam à autodigestão do pâncreas por suas próprias enzimas; ❖ Sobrecarga ou mal funcionamento de mecanismos protetores pancreáticos; ❖ Enzimas sintetizadas como proenzimas, que necessitam da tripsina (que é ativada pela enteropeptidase duodenal) para ativá-las; ❖ Células acinares e ductais secretam inibidores de tripsina (deixam a tripsina inativada – tripsinogênio), que limitam sua atividade intrapancreática; outro mecanismo pode ser por obstrução, fazendo com que as enzimas não consigam sair do pâncreas → mecanismos protetores não dão conta do tanto de enzimas que se ativaram dentro do pâncreas; pode ocorrer por trauma (camada adventícia ou serosa bem fininha, podendo sofrer ruptura e liberar enzimas). ❖ Aguda: lesão reversível do pâncreas; crônica: lesão irreversível. AGUDA ❖ Lesão reversível do parênquima pancreático associada a inflamação; ❖ Diversas etiologias possíveis: toxicidade (álcool, medicamentos), obstrução de ducto pancreático, defeitos genéticos herdados, lesão vascular, infecções; Triglicerídeos muito alto (> 500); ❖ Alcoolismo e doenças do trato biliar são >80%; ❖ Proporção entre homens e mulheres é de 1:3 (mais comum em mulheres) no caso de doenças biliares e 6:1 no alcoolismo (mais comum em homens). ❖ Ativação e liberação inadequadas de enzimas pancreáticas, que destroem o tecido pancreático e estimulam reação inflamatória aguda; - Inicialmente ocorre a ativação da tripsina; - Processo inflamatório importante que pode levar a necrose do parênquima e essa necrose pode virar bolsas e caldo de cultura para proliferação de bactérias e infectar. ATB pode piorar a pancreatite. ❖ Obstrução de ductos pancreáticos é mais comumente causada por cálculos e lama biliar; pode ser por neoplasias periampulares (de cabeça de pâncreas – cistos ou neoplasia → podem comprimir o ducto colédoco e fazer pancreatite; parasitas (áscaris), pâncreas divisum; 7 Aline David – ATM 2025/B - Chance de acometer pancreatite por pedra é menos comum, mas a porção de saída pelo ducto de Wirsung pelo esfíncter secundário, acumula mais enzimas dentro do pâncreas porque a via de saída acaba ficando menor, fazendo mais pancreatite. - Edema com acúmulo de líquido rico em enzimas no interstício → aumenta cada vez mais o tamanho da lesão. - Edema também compromete fluxo sanguíneo local, com consequente isquemia; ❖ Lesão primária de células acinares pode ocorrer por intoxicações: álcool, hipercalcemia; ❖ Álcool também pode causar contração transitória do esfíncter de Oddi (obstrução); ❖ Hipertrigliceridemia (>500 pelo menos, em geral >1000); - Soro de paciente com hipertrigliceridemia. Tem que ser muito triglicerídeo para causar pancreatite. - Álcool pode fazer obstrução porque ocasiona espasmos do ducto de Oddi. - Como ocorre a impactação no colédoco para fazer pancreatite. Geralmente as pedras são únicas. Acúmulo de enzimas, ativação da tripsina, digestão pancreática. Ducto pancreática dilatada, pode fazer colicistite, pode fazer hepatite (icterícia). A pancreatite em si costuma fazer icterícia porque obstrui o ducto de saída. Dependendo do grau de obstrução a icterícia vai ser pior ou melhor. ❖ Macroscopia: inflamação e edema em casos leves, necrose extensa e hemorragia em casos mais graves; - Alterações básicas: (1) extravasamentos microvasculares e edema, (2) necrose gordurosa, (3) inflamação aguda, (4) destruição do parênquima pancreático, e (5) destruição dos vasos sanguíneos e hemorragia intersticial - extensão depende da severidade do processo e da duração da causa; - Pontinhos de calcificação no parênquima pancreático normal. 8 Aline David – ATM 2025/B - Áreas de necrose gordurosa e hemorragia, em um pâncreas aumentado de tamanho. ❖ Microscopia: pancreatite aguda intersticial (forma mais leve) ocasiona inflamação leve, edema intersticial, podendo haver áreas de necrose gordurosa focais no pâncreas e no tecido peripancreático; - Áreas mais branca de necrose; bastante núcleo celular com inflamação. Bem à esquerda tem parênquima normal. - Pancreatite necrosante aguda é forma mais grave, com necrose de tecidos acinares e ductais, bem como de ilhotas; lesões vasculares podem ocasionar hemorragias → mesmo assim é reversível. ❖ Dor abdominal de forte intensidade, com irradiação para o dorso ("em faixa") é manifestação principal; pode vir acompanhada de anorexia, náuseas, vômitos; - Se houver infecção associada, pode ocorrer febre, leucocitose; - Elevação expressiva de enzimas pancreáticas frequentemente ocorre; - Pode haver alterações em exames de imagem (TC,US); - Pode fazer coleções líquidas no meio do pâncreas dependendo do grau de extensão de acometimento, que podem se transformar pseudocistos mais para frente. ❖ Dx: dor abdominal característica, elevação de enzimas pancreáticas (amilase e lipase), alterações de exames de imagem → precisa de 2 dos 3 critérios para o dx de pancreatite. - A amilíase e a lipase ficam aumentadas por um período, depois tem tanta lesão que começa a cair por falta de células para liberar aquelas enzimas. Lipase é a primeira que sobe (até 72hrs nível elevado). A amilase sobe quase junto e é a primeira que cai (elevada até 24hrs). ❖ Gravidade de pancreatite aguda: lesão de outro órgão, principalmente lesão renal aguda associada; pode desenvolver choque porperda de líquido; lesão pulmonar parecida com SARA; CIVD com trombose; qualquer uma delas desencadeia pancreatite aguda grave. - Emergência médica, pacientes podem desenvolver lesões orgânicas como LRA (lesão renal aguda), choque hipovolêmico, síndrome da angústia respiratória aguda, coagulação intravascular disseminada etc. - Quanto menos intervir/invadir no paciente melhor. QUESTÕES - Questão muito ilustrativa de pancreatite. Deixa o paciente em jejum e dá muito líquido. - Pancreatite crônica que estivesse entrando em insuficiênciaa pancreática poderia pensar em hipoglicemia. - Paciente tem desvio à esquerda (> 5% de bastões). - Atresia biliar causa mais sintomas de obstrução. CRÔNICA ❖ Inflamação prolongada do pâncreas associada a destruição irreversível do parênquima exócrino, com fibrose associada; em casos avançados, ocorre destruição também do parênquima endócrino; ❖ Mais comum em homens de meia-idade; ❖ Causa mais comum: abuso crônico de álcool (não necessariamente precisa ser em grandes quantidades); - Outras causas possíveis são obstrução prolongada por cálculos ou neoplasia, lesão autoimune, pancreatite hereditária (defeitos genéticos hereditários); ❖ Em geral ocorre após repetidos episódios de pancreatite aguda; 9 Aline David – ATM 2025/B - Lesão em cima de lesão começa a gerar fibrose. Tem vários mecanismos, o principal é o álcool que ativa cascata inflamatória principalmente por TGF-B que estimula produção de colágeno e hiperplasia de células fibrosas estreladas (miofibroblastos) até atingir a fibrose crônica (irreversível). ❖ Macroscopia: rigidez e atrofia pancreática, dilatação variável de ductos contendo calcificações; ❖ Microscopia: fibrose, destruição de ácinos, infiltrado inflamatório crônico; epitélio atrofiado ou hiperplásico, pode haver metaplasia escamosa (predispõem a formação de neoplasias); ilhotas de Langerhans geralmente estão preservadas, incorporadas em meio ao tecido fibroso, podendo parecer ampliadas por se fundirem (doenças avançadas também são perdidas). - Dilatação ductal com concreções proteicas e calcificações intraluminais; - Pâncreas bem reduzido de tamanho, áreas mais escuras de parênquima não funcionante. Dilatação de ductos (parênquima atrofiado comprime o ducto em algumas porções). - Perda total da arquitetura glandular e deposição de colágeno (fibrose). - Ilhota preservada (redondo) e perda de arquitetura dos ductos (branco) com conteúdo bem mucinoso com bastante fibrose (colágeno) ao redor. - Glândula feia com muco dentro e fibrose ao redor. ❖ Clínica pode ser de diversos episódios de dor abdominal moderada (que passa e toma porre volta) a grave até dores persistentes; álcool e alimentos gordurosos são os principais fatores desencadeantes de dor; - Alguns pacientes podem ser assintomáticos até que ocorra insuficiência hepática com manifestação de diabetes melito; 10 Aline David – ATM 2025/B - Se houver destruição excessiva de parênquima, dor abdominal pode não vir acompanhada de elevação de enzimas pancreáticas - diagnóstico depende de alta suspeição clínica; ❖ Amilase e lipase geralmente não estarão aumentados por destruição do parênquima pancreático. ❖ TC e US: atrofia de pâncreas, calcificações, dilatações de ductos. ❖ Prognóstico melhor do que pancreatite aguda, mas a longo prazo não é boa: 50% de sobrevida em 20-25 anos; ❖ Existem complicações associadas que levam a morbidade importante: diabetes melito, dor crônica grave, formação de pseudocistos pancreáticos (10%); ❖ Não se sabe ao certo se pancreatite crônica aumenta o risco de neoplasia maligna, mas acredita-se que tem maior risco de fazer adenocarcinoma de pâncreas. - Diabete por acometimento da porção endócrina. - Derrame pleural à direita: inflamação pode encostar no diafragma e derramar líquido. Pode ter amilase e lipase no derrame pleural. - Ascite (mais difícil). - Dor crônica por inflamação/fibrose perineural e formação de pseudocistos (complicações mais frequentes e mais importantes). PSEUDOCISTO PANCREÁTICO ❖ Lesões não neoplásicas. ❖ Coleções líquidas localizadas de material necrótico e hemorrágico, ricas em enzimas pancreáticas (bolinhas de líquido bem delimitadas sem material ao redor); - Não possuem revestimento epitelial - "pseudo"; 75% de todos os cistos pancreáticos ❖ Surgem após pancreatites agudas /trauma; - Áreas de necrose hemorrágica da gordura intra ou peripancreática são isoladas por tecido fibroso e tecido de granulação (2-30cm); ❖ Geralmente solitários, dentro do pâncreas ou envolvendo o saco omental menor ou o retroperitônio; ❖ Resolvem espontaneamente, na maioria das vezes; - Camada ao redor que é fibrose do parênquima, não é revestimento epitelial. - Não tem camada própria da membrana do cisto. Parênquima pancreático e gordura ao redor. Coleção líquida que pode ser necrótica ou hemorrágica. Pode romper e extravasar para dentro do parênquima e do abdome complicando o quadro. - Mais fibrose ao redor e não tem uma camada bonita de células epiteliais revestindo. Tem deposição de colágeno. NEOPLASIAS CÍSTICAS ❖ Tem proliferação, mas podem ser malignas ou benignas. ❖ Neoplasias pancreáticas podem ser císticas ou sólidas ❖ Podem ser de origem neuroendócrina ❖ Algumas benignas, outras entre as mais letais de todas as neoplasias; ❖ Neoplasias císticas podem ser cistos benignos até lesões pré-malignas; ❖ Menos de 5% de todas as neoplasias do pâncreas; NEOPLASIAS CÍSTICAS SEROSAS: ❖ Benignas (sem poder de malignização), multicísticas, ocorrem na cauda do pâncreas; ❖ Mais comuns em mulheres, 6"7" década de vida; ❖ Cistos pequenos (1-3mm), contêm liquido fino, claro, seroso; - Cisto neoplásico seroso → multilobulado. 11 Aline David – ATM 2025/B - Vários pequenos buraquinhos com conteúdo hialino dentro → aspecto cor de palha. NEOPLASIAS CÍSTICAS MUCINOSAS: ❖ Mais comuns em mulheres (95%), podem ser pré- malignas (mas ainda são benignas); ❖ Massas de crescimento lento, indolores, que costumam afetar porção caudal; ❖ Cavidades císticas maiores do que serosas, preenchidas por mucina espessa; - Revestimento de epitélio colunar produtor de mucina, com estroma denso, semelhante ao ovário → reação desmoplásica; ❖ 30% das que são ressecadas possuem adenocarcinoma associado; - Multilobulado, bem delimitado, cavidades preenchidas com mucina. - Células glandulares bem hiperplásicas e hipertrofiadas. Células produtoras de mucina. Parecido com epitélio ovariano. NEOPLASIAS INTRADUCTAIS PAPILARES MUCINOSAS (NIPMS/IPMNS): ❖ Comprometem ductos pancreáticos, também produtoras de mucina (pré-malignas); ❖ Mais frequentes em homens, acometendo a cabeça do pâncreas; ❖ 10-20% são multifocais; não possuem estroma denso semelhante ao ovariano, como as anteriores; - Eventualmente quando são múltiplas podem se espalhar até a cauda; ❖ Podem progredir para câncer invasivo, embora incomum; ❖ Indicação não é retirar na hora, mas sim exames seriados para ver a progressão da lesão. O mais comum é ela não se transformar em maligna. - Papilar → proeminências papilares. Acomete ducto principal. - Várias papilas no meio da lesão. CARCINOMA PANCREÁTICO ❖ Adenocarcinoma ductal infiltrante; ❖ Alta taxa de mortalidade, apesar de não ser muito prevalente, eles são bastante letais; - Quarta causa mais comum de morte por câncer nos EUA (pulmão, cólon, mama → muito mais prevalentes do que CA de pâncreas) - taxa de sobrevida em 5 anos é de apenas 5% (prognóstico muito ruim → quando é detectado já está muito avançado); ❖ 80% ocorrem entre 60-80 anos, mais comum em afrodescendentes ou em pacientes com predisposição genéticas; ❖ Tabagismo é fator de risco importante; pancreatite crônica e DM são fatores de risco e complicações; ❖ Evolução a partir de lesões precursoras: neoplasia intraepitelial pancreática (NIpan); ❖ Possuem alteraçõeshistológicas semelhantes às do adenocarcinoma de pâncreas; - Epitélio normal cuboide. ❖ Macroscopia: 60% surgem na cabeça pancreática, 15% no corpo, 5% na cauda; 20% envolvem difusamente a glândula; - Geralmente rígidos, branco-acinzentados, estrelados, mal definidos; - Costumam invadir tecidos peripancreáticos, provocando reação intensa com formação de fibrose densa (reação desmoplásica); - Maioria das lesões de cabeça obstrui ducto biliar comum distal, com marcada distensão da árvore biliar em cerca de 50% > icterícia; dor abdominal e febre (eventualmente); 12 Aline David – ATM 2025/B - Tumores de cauda e corpo não interferem em vias biliares, podendo crescer muito e se disseminar antes de provocar sintomas; ❖ Microscopia: aparência de adenocarcinoma moderadamente a pouco diferenciado, com formação de aglomerados celulares que podem lembrar estruturas tubulares, com padrão de crescimento agressivo e infiltrativo; - Provocam reação desmoplásica com fibrose estromal densa (pode dificultar interpretação de biópsias); - Tumores de cabeça de pâncreas podem obstruir a papila de Vater, causando icterícia. - Lesão branca que está comprometendo o ducto, o qual está bem dilatado. - Glândulas bastante disformes, sem arquitetura. Núcleos diferenciados e com cromatina descondensada. Deposição de colágeno. ❖ Em geral assintomáticos até que haja invasão de estruturas adjacentes; ❖ Mesmo tumores precoces tem alto potencial de invasão, são muito agressivos; ❖ Dor costuma ser primeiro sintoma, pode haver icterícia obstrutiva associada; perda de peso, anorexia, fraqueza; ❖ Costuma invadir retroperitônio, baço, adrenais, estômago, cólon transverso, linfonodos; ❖ Metástases podem ocorrer principalmente para fígado e pulmões; ❖ Dói quando invade estruturas adjacentes. ❖ Menos de 20% dos tumores são ressecáveis ao diagnóstico; - Quando resseca a taxa de recidiva é muito alta. QUESTÕES - Abdome em tábua → agudo e cirúrgico. - A poderia, mas C é mais comum. - Pseudocisto não tem células ao redor → sem revestimento. Líquido claro não é mucina.
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