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REALIZAÇÃO REALIZAÇÃO CÁLCULO LOMBADA = 24,10mm = 2,41 cm capa + lombada + contracapa SUMÁRIO Unidade 1 | aSPeCTOS MeRCadOLÓGICOS dO naRCOTRÁFICO e dO CRIMe ORGanIZadO Unidade 2 | CRIMe, ORGanIZaÇÕeS CRIMInOSaS e naRCOTRÁFICO 1.1 Economia das drogas 2.1 Crime organizado 1.2 Mercados ilegais 2.2 Organizações criminosas (características e peculiaridades de uma ORCRIM) 13 13 44 aPReSenTaÇÃO 12 Unidade 3 | eLeMenTOS HISTÓRICOS, SOCIOeCOnÔMICOS e nORMaTIVOS dO CRIMe ORGanIZadO e dO naRCOTRÁFICO 3.1 Violência e drogas no Brasil e no mundo 3.2 Caracterização da criminalidade no Brasil 54 1.3 Redução da oferta de drogas 24 36 2.3 Narcotráfico/tráfico de drogas 44 48 51 3.3 Peculiaridades do Sistema de Justiça Criminal brasileiro 54 58 62 ReFeRÊnCIaS 69 MÓdULO 1 Unidade 1 | LÓGICa de MeRCadO (nÍVeL MaCRO): PROdUÇÃO, dISTRIBUIÇÃO e COnSUMO de dROGaS Unidade 2 | LÓGICa de MeRCadO (nÍVeL MICRO) 1.1 Economia das drogas 2.1 Abordagens psicossociais sobre os atores do varejo de drogas ilícitas 1.2 Produção, distribuição e consumo de drogas 2.2 Influência social: Teoria do Comportamento Planejado (atitude, norma subjetiva e controle comportamental percebido) 81 81 100 aPReSenTaÇÃO 80 Unidade 3 | RedUÇÃO da deManda e da OFeRTa de dROGaS 3.1 Redução da demanda 3.2 Redução da oferta 131 91 2.3 Vulnerabilidades socioeconômicas e outros preditores do envolvimento com o tráfico de drogas e o crime organizado 100 114 122 131 135 2.4 Subculturas criminais 127 MÓdULO 2 Unidade 4 | LaVaGeM de dInHeIRO e FInanCIaMenTO de ORGanIZaÇÕeS CRIMInOSaS 4.1 Financiamento de organizações criminosas 4.2 Lavagem de dinheiro 143 143 147 ReFeRÊnCIaS 154 Unidade 1 | O CRIMe ORGanIZadO COMO FenÔMenO LOCaL e GLOBaL Unidade 2 | a MÁFIa 1.1 Entendimento preliminar do fenômeno 2.1 A máfia italiana 1.2 A globalização do crime organizado e das organizações criminosas 2.2 A omertà 172 172 183 183 aPReSenTaÇÃO 171 174 186 Unidade 3 | ORGanIZaÇÕeS CRIMInOSaS naS aMÉRICaS 3.1 Estados Unidos: o movimento sindical e os sindicatos criminais 203 203 206 2.3 A máfia no século XX 2.4 Metástase: a máfia italiana em solo norte-americano 190 192 3.3 Principais organizações criminosas latino-americanas (Parte 1) 209 224 3.2 Um parelelo com o Brasil 3.4 Principais organizações criminosas latino-americanas (Parte 2) MÓdULO 3 Unidade 4 | OUTRaS ORGanIZaÇÕeS CRIMInOSaS de ReLeVÂnCIa 4.1 Máfia russa, “firmas” britânicas e grupos albaneses 4.2 Tríades (China), Yakuza (Japão), grupos organizados sul-africanos e nigerianos 237 237 242 ReFeRÊnCIaS 254 Unidade 1 | CRIMInaLIdade FaCCIOnada nO BRaSIL: enTendIMenTO Unidade 2 | a CRIMInaLIdade FaCCIOnada nO BRaSIL e SUaS PRInCIPaIS ORGanIZaÇÕeS 1.1 Criminalidade faccionada no Brasil e abertura do mercado consumidor de drogas 2.1 O Primeiro Comando da Capital (PCC) 2.2 O Comando Vermelho (CV) 266 267 278 aPReSenTaÇÃO 265 1.2 Criminalidade faccionada no Brasil, a guerra nos presídios e o mercado (atacadista e varejista) de drogas 275 2.3 Algumas diferenças entre o PCC e o CV 280 290 293 ReFeRÊnCIaS 303 2.4 As milícias 2.5 Outras organizações criminosas de origem brasileira 294 300 MÓdULO 4 Unidade 1 | aTIVIdade POLICIaL: COMPOnenTeS da PRÁTICa, enVOLVIMenTO eM PROCeSSOS JUdICIaIS e aTIVIdade PRISIOnaL Unidade 2 | eMPReGO da InTeLIGÊnCIa PaRa RePReSSÃO aO naRCOTRÁFICO e aO CRIMe ORGanIZadO 1.1 Componentes da prática: técnica, tática e estratégia policial 2.1 Doutrina Nacional de Inteligência de Segurança Pública (DNISP) 1.2 Envolvimento em processos judiciais: meios de prova e meios de obtenção de prova 2.2 Atividade de investigação e atividade de Inteligência de Segurança Pública 314 314 332 332 aPReSenTaÇÃO 313 321 334 2.3 Técnicas Operacionais de Inteligência de Segurança Pública 337 1.3 Atividade prisional 327 MÓdULO 5 Unidade 3 | nOÇÕeS BÁSICaS de anÁLISe CRIMInaL anTIdROGaS 3.1 Breve histórico da Análise Criminal 343 343 3493.2 Fundamentos da Análise Criminal Investigativa Unidade 4 | COnVenÇÕeS e enTIdadeS InTeRnaCIOnaIS de COnTROLe de dROGaS e RePReSSÃO dO naRCOTRÁFICO 4.1 Convenções das Nações Unidas sobre Drogas (1961, 1971 e 1988) 4.2 Convenção de Palermo 359 359 368 ReFeRÊnCIaS 381 4.3 Entidades internacionais 1: CND e UNODC (ONU); Comissão Europeia; CICAD (OEA) 4.4 Entidades internacionais 2: INTERPOL, EUROPOL e AMERIPOL 371 375 MÓDULO 1 INTRODUÇÃO GOVERNO FEDERAL MINISTÉRIO DA JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA SECRETARIA NACIONAL DE POLÍTICAS SOBRE DROGAS SECRETÁRIO NACIONAL Luiz Roberto Beggiora DIRETOR DE POLÍTICAS PÚBLICAS E ARTICULAÇÃO INSTITUCIONAL Gustavo Camilo Baptista COORDENADOR-GERAL DE PESQUISA E FORMAÇÃO Carlos Timo Brito CONTEUDISTAS George Felipe Lima Dantas Isângelo Senna da Costa REVISÃO DE CONTEÚDO Carlos Timo Brito Fernanda Flavia Rios dos Santos APOIO Ana Carolina Pastorino Magalhães Daphne Sarah Gomes Jacob Eurides Branquinho da Silva Maria Aparecida Alves Dias Maria de Fatima Pinheiro de Moura Barros Tatiana Almeida Santos EXPEDIENTE Baixe o aplicativo Zappar no seu celular ou tablet REALIDADE AUMENTADA (RA) Nas páginas deste material encontram-se códigos como este ao lado que dão acesso a conteúdos extras. Para visualizá-los, baixe o aplicativo Zappar no seu celular ou tablet e enquadre os códigos no aplicativo (você precisa ter conexão à internet). Todo o conteúdo do Curso FRoNt - Fundamentos para Repressão ao Narcotráfico e ao Crime Organizado, da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD), Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) do Governo Federal - 2021, está licenciado sob a Licença Pública Creative Commons Atribuição - Não Comercial- Sem Derivações 4.0 Internacional. BY NC ND UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA (SEAD) SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Luciano Patrício Souza de Castro labSEAD COORDENAÇÃO GERAL Luciano Patrício Souza de Castro FINANCEIRO Fernando Machado Wolf SUPERVISÃO TÉCNICA EAD Giovana Schuelter SUPERVISÃO DE PRODUÇÃO DE MATERIAL Francielli Schuelter SUPERVISÃO DE MOODLE Andreia Mara Fiala SECRETARIA ADMINISTRATIVA Caroline da Rosa Gabriela Cassiano Abdalla DESIGN INSTRUCIONAL Supervisão: Milene Silva de Castro Danrley Mauricio Vieira Márcia Melo Bortolato Marielly Agatha Machado DESIGN GRÁFICO Supervisão: Fabrício Sawczen Heliziane Barbosa Juliana Jacinto Teixeira Luana Pillmann de Barros Vinicius Alves Jacob Simões REVISÃO TEXTUAL Supervisão: Cleusa Iracema Pereira Raimundo Isadora da Silveira Calônico PROGRAMAÇÃO Supervisão: Alexandre Dal Fabbro Cleberton de Souza Oliveira Thiago Assi AUDIOVISUAL Supervisão: Rafael Poletto Dutra Fabíola de Andrade Luiz Felipe Moreira Silva Oliveira Renata Gordo Corrêa TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Dalmo Tsuyoshi Venturieri Wilton Jose Pimentel Filho SUMÁRIO Unidade 1 | aSPeCTOS MeRCadOLÓGICOS dO naRCOTRÁFICO e dO CRIMe ORGanIZadO Unidade 2 | CRIMe, ORGanIZaÇÕeS CRIMInOSaS e naRCOTRÁFICO 1.1 Economia das drogas 2.1 Crime organizado 1.2 Mercados ilegais 2.2 Organizações criminosas (características e peculiaridades de uma ORCRIM) 13 13 44 aPReSenTaÇÃO 12 Unidade 3 | eLeMenTOS HISTÓRICOS, SOCIOeCOnÔMICOS e nORMaTIVOS dO CRIMe ORGanIZadO e dO naRCOTRÁFICO 3.1 Violência e drogas no Brasil e no mundo 3.2 Caracterização da criminalidade no Brasil 54 1.3 Redução da oferta de drogas 24 36 2.3 Narcotráfico/tráfico de drogas 44 48 51 3.3 Peculiaridades do Sistema de Justiça Criminal brasileiro 54 58 62 ReFeRÊnCIaS 69 Curso FRoNt MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO 12 aPReSenTaÇÃO Olá, cursista! Seja bem-vindo ao nosso primeiro módulo do curso. Neste módulo, trataremos da problemática do narcotráfico e do crime organizado, por meio de uma abordagem multidisciplinar que leva em conta, por exemplo, aspectos econômicos, sociais, culturais e psico- lógicos. Nesse sentido,apresentaremos reflexões que nos permitam entender no que consiste a economia das drogas e quais os elementos que compõem o mercado das drogas. Outros pontos abordados no módulo dizem respeito a concepções nacionais e internacionais do que vem a ser o crime organizado e as organizações criminosas em suas interfaces com a violência e com o Sistema de Justiça Criminal. OBJeTiVOS dO MÓdULO � Descrever noções e conceitos essenciais à temática narcotráfico e crime organizado. � Examinar a problemática do mercado das drogas em seus diferentes níveis e interfaces com áreas do conhecimento como Direito, Economia e Psicologia. � Identificar os contornos conceituais da violência com enfoque em suas interações com a temática das drogas. � Discutir aspectos relevantes do Sistema de Justiça Criminal brasileiro em face de fenômenos relativos ao narcotráfico e ao crime organizado. Enquadre no seu celular ou tablet o código de REALIDADE AUMENTADA do aplicativo Zappar para assistir ao vídeo de apresentação do módulo. RA Curso FRoNt MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO 13 UnIdade 1 aSPeCTOS MeRCadOLÓGICOS dO naRCOTRÁFICO e dO CRIMe ORGanIZadO Nesta unidade, apresentaremos as principais noções e conceitos re- lacionados aos aspectos mercadológicos do crime organizado e do narcotráfico, assim como os aspectos relacionados à oferta de drogas. Para compor nossa reflexão, vamos nos valer de aspectos econômicos, sociais, culturais e psicológicos que circundam o problema. Para entender como se estrutura o sistema de economia das drogas, avance para o próximo tópico. COnTexTUaLiZandO 1.1 eCOnOMia daS dROGaS A questão das drogas é um tema bastante presente e controver- tido politicamente na vida contemporânea. Você já deve ter ouvido discussões que perpassam esse assunto, em ambientes diferentes, por diversas pessoas. De fato, o problema das drogas causa pressão nas áreas da saúde, educação, segurança pública, gestão prisional e assistência social, entre outras. Foto: © [Haider] / Adobe Stock. Os hospitais, presídios e centros de recuperação de dependentes químicos mostram uma face grotesca do que começa com a produção de substâncias de uso ilícito, normalmente Cannabis e cocaína, seu transporte e depois tráfico de forma pulverizada nas áreas urbanas da maior parte do mundo, uma verdadeira epidemia silenciosa. Curso FRoNt MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO 14 Nas ruas da maioria das capitais do país, usuários de drogas são vistos nas sinaleiras, numa situação degradante, pedindo moedas e mendigando qualquer centavo para compra de droga. (SOUZA; CALVETE, 2017) Você perceberá, ao longo deste módulo, que a questão das drogas é bastante complexa, a começar por sua natureza sanitária, social e econômica. A dependência química é uma doença com várias ex- pressões e com relação a diferentes drogas. O Código Internacional de Doenças (2013), em sua décima edição, aponta os vários diagnósticos correspondentes (disponível em: https://cid10.com.br/). Saiba MaiS Para falarmos da relação entre economia e drogas, é necessário falarmos de Gary Becker (Prêmio Nobel de Ciências Econômicas de 1992) e sua contribuição para o estudo da chamada Economia do Crime. Em 2004, Becker e colaboradores focaram o tema específico da Teoria Econômica dos Bens Ilegais: o Caso das Drogas. Veja: Becker (1974, p. 4) pressupõe que o crime é uma atividade ou ‘indústria’ economicamente relevante, conquanto negligenciada pelos economistas; conjectura, na sequência, que a negligência resulta de atitude que concebe a atividade ilegal como demasiadamente imoral para que receba uma atenção científica sistemática. (CARDOSO, 2018, p. 185) A ideia da descriminalização das drogas foi levantada por Becker e colaboradores. O famoso e premiado economista, juntamente com outros dois pesquisadores da Universidade de Cambridge, Inglaterra, estimaram teoricamente que os custos sociais da criminalização das drogas poderiam superar seus efeitos benéficos (BECKER; MURPHY; GROSSMAN, 2006, p. 38 apud CARDOSO, 2018, p. 185). https://cid10.com.br/ Curso FRoNt MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO 15 “The Business of Drugs”, em inglês original, ou “Drogas: oferta e demanda”, em português, é uma série, disponível no aplicativo Netflix desde 2020. A apresentadora da série é uma ex-analista da Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos da América que esteve por vários anos no enfrentamento da questão das drogas. No trailer da série, a apresentadora declara que a única maneira de acabar com a guerra contra as drogas é entendendo a economia que a impulsiona. Dica DE MíDia Vale ressaltar que a modelagem utilizada por Becker e colaboradores é estritamente econométrica, ou seja, tem o objetivo de entender as variáveis capazes de interferir em uma relação de causa e efeito. Portanto, não tem provisão sobre as muitas variáveis intervenientes, como é o caso na relação entre liberação de drogas e menores custos econômicos e sociais, passíveis de atuarem sobre o complexo fenô- meno estudado: as drogas ilícitas. Passadas algumas décadas das reflexões teóricas e das projeções de Becker acerca dos eventuais benefícios da descriminalização das drogas, hoje é possível comparar fatos sobre a aplicação das duas políticas: a política de descriminalização e a política de proibição legal. Os Estados Unidos da América constituem um bom exemplo a ser estudado nesse sentido. Enquadre no seu celular ou tablet o código de REALIDADE AUMENTADA do aplicativo Zappar para assistir ao vídeo sobre Economia do Crime. RA WASHINGTON OREGON CALiFÓRNiA NEVADA COLORADO iLLiNOiS MiCHiGAN VERMONT MAiNE MASSACHUSETTS ALASKA Estados que liberam o consumo recreativo da Cannabis nos EUA: Califórnia, Colorado, Oregon, Massachusetts, Washington, Maine, Nevada, Illinois, Michigan, Vermont, Alasca e Maine. Foto: Adaptado de © [sutowo] / Adobe Stock. ESTaDOS EM qUE O USO REcREaTivO Da MacONha é lEgalizaDO NOS EUa | Curso FRoNt MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO 16 Lá as unidades federativas possuem legislações distintas, ao con- trário do Brasil, país onde prevalece uma legislação federal única. Em função disso, as políticas de liberação de uso e comercialização legal de drogas podem assumir posições extremamente díspares. Loja de maconha no Colorado (Native Roots Marijuana Dispensary). Foto: © [Kristina Blokhin] / Adobe Stock. No estado do Colorado, por exemplo, houve um aumento em todas as taxas criminais desde que as leis liberando a maconha foram aprovadas (FURTON, 2018). Por outro lado, uma pesquisa mostrou que, na cidade de Denver, também no Colorado, a presença de pontos de venda de maconha se correlacionou positivamente com uma redução de 17 crimes por mês a cada 10.000 residências nos bairros onde foram instalados. Veja os dados relativos à queda dos crimes na capital do Colorado: Redução de 19% na taxa média dos crimes na cidade de Denver, Colorado. Porém, há que se ressaltar que correlações não são, necessariamente, relações de causa e efeito. Algo digno de nota está no fato de o Colorado ser conhecido nos Es- tados Unidos da América pelo ethos libertário de seus locais. Curiosa- mente, a cidade de Boulder no Colorado foi ranqueada pela National Geographic Society como sendo a mais feliz dos EUA. glossáRio Correlação é uma medida do relacionamento linear entre duas variáveis. Essas variáveis podem estar positivamente relacionadas, negativamente relacionadas ou não relacionadas. Ethos é o conjunto de traços e modos de ser que dão contorno identitário de um determinado grupo social. Libertário é a filosofia política que abrange a não agressão como valor fundamental e os direitos de propriedade como seu núcleo. Os libertários estão associados ao anarquismo e livre mercado. Curso FRoNt MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO 17 Como a cidade mais feliz dos EUA, é seguro dizer que Boulder encontrou seu equilíbrio. Esta cidade descontraída no sopé das Montanhas Rochosas pontua em vários níveis da escalapara hierarquizar a felicidade. (GUPTON, 2017) No sentido oposto à política de abertura para a liberação do comércio de drogas, está o recrudescimento da repressão ao tráfico em países como Filipinas e Indonésia. A guerra declarada pelo presidente fili- pino Rodrigo Duterte contra o tráfico continua bastante popular no país, ainda que tenha um alto índice de mortes relacionadas a essa política, segundo o artigo de Martin Petty (2019). Situação semelhante ocorre na Indonésia, país que até mesmo já executou brasileiros envolvidos com o narcotráfico internacional. A opção pela redução da oferta de drogas ao povo indonésio pela via da repressão é perceptível em falas do presidente Joko Widodo. As drogas estão entrando nas aldeias, arruinando nossos jovens, estão sendo vendidas nos campi; até as universidades têm problemas com drogas. Isto é uma emergência. (JOKO WIDODO) A questão tem se tornado tão séria que o governo brasileiro tem alertado os viajantes brasileiros dos riscos de se ingressar na Indonésia portando drogas, veja as Instruções para Viajantes Brasileiros (BRASIL, 2020). É importante ressaltar que o crime de tráfico de drogas é punido na Indonésia com pena de morte. Cidadãos brasileiros já foram condenados por tráfico de drogas na Indonésia e sentenciados à pena de morte e executados. Recorda-se a todos os viajantes brasileiros com destino ao país que as punições para tráfico de drogas são extremamente severas e que sua aplicabilidade é de total competência das autoridades locais. Nesse sentido, viajantes devem conhecer bem o conteúdo de qualquer pacote, presente, envelope ou contêiner levado à Indonésia. Convém, ainda, evitar transportar encomendas, sobretudo de desconhecidos. Não há garantias de que as autoridades indonésias venham a promover suspensão de pena de morte por questões judiciais. PoDCAsT TRaNScRiTO Curso FRoNt MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO 18 Se a imoralidade do tema tráfico e do uso de drogas é fato ou não, em face das ciências, nem por isso a economia das drogas deixou de ser tratada por diversas ciências, incluindo a própria economia. E para você entender a economia das drogas, é necessário ter em conta, inicialmente, a noção do que é a expressão “economia”. Economia traduz o processo pelo qual bens e serviços são produzidos, vendidos e comprados pelos agentes econômicos em um determinado tempo e lugar. Neste ponto, também se faz necessário compreender a expressão “droga” no contexto deste curso. A Organização Mundial de Saúde (OMS) define ‘droga’ como sendo ‘toda substância, natural ou sintética, capaz de produzir, em doses variáveis, os fenômenos de dependência psicológica ou dependência orgânica’. (OMS, 2008 apud ROCHA, 2015, p. 20) Já o Departamento de Narcóticos da Polícia Civil do Paraná define o termo “droga” ligeiramente diferente, para ele “droga é o nome gené- rico dado a todos os tipos de substâncias, naturais ou não, que ao serem ingeridas provocam alterações físicas e psíquicas” (DENARC, 2020). Correspondentemente, drogas de uso ilícito são produzidas em certos locais, sendo depois transportadas e finalmente vendidas e compradas: � No mesmo local. � Numa região específica. � Globalmente. Trata-se, portanto, de uma atividade de cunho translocalizado, ou que pode acontecer sequencialmente em lugares diferentes, no todo ou em parte. Enquadre no seu celular ou tablet o código de REALIDADE AUMENTADA do aplicativo Zappar para assistir ao vídeo que apresenta uma classificação das drogas. RA Curso FRoNt MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO 19 14 165 CANADÁ EUA EUROPA BRASiL REGiÃO DOS ANDES 124 Principais produtores de cocaína Consumo de cocaína (em toneladas métricas) Tráfico de cocaína (em toneladas métricas) 140 60 15 6 17 MÉXiCO ÁFRiCA OCiDENTAL ÁFRiCA DO SUL CARiBE VENEZUELA 14 165 C A N A D Á EUA EU R O PA BR A SiL R EG ià O D O S A N D ES 124 Principais produtores de cocaína Consum o de cocaína (em toneladas m étricas) Tráfico de cocaína (em toneladas m étricas) 14 0 60156 17 M ÉX iC O Á FR iC A O C iD EN TA L Á FR iC A D O SU L C A R iBE V EN EZU ELA 14 165 CANADÁ EUA EUROPA BRASiL REGiÃO DOS ANDES 124 Principais produtores de cocaína Consumo de cocaína (em toneladas métricas) Tráfico de cocaína (em toneladas métricas) 140 60 15 6 17 MÉXiCO ÁFRiCA OCiDENTAL ÁFRiCA DO SUL CARiBE VENEZUELA Fonte: Adaptado de UNODC (2011). PRiNciPaiS flUXOS glObaiS DE cOcaíNa| O termo “droga” teve origem na palavra droog, proveniente do ho- landês antigo, cujo significado é folha seca (DENARC, 2020), por conta dos medicamentos que antigamente eram feitos com plantas. Hoje, a terminologia ‘droga’ se refere a toda substância que tem propriedade de afetar a estrutura e produzir efeitos no organismo, segundo a OMS. Curso FRoNt MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO 20 Chamamos de drogas psicotrópicas aquelas que atuam diretamente no funcionamento do sistema cerebral e causam modificações no estado mental. Drogas psicotrópicas, também conhecidas por substâncias psicoa- tivas, são aquelas que atuam diretamente sobre o cérebro, alterando de alguma maneira o psiquismo. Elas dividem-se em três grupos: drogas depressoras, drogas estimulantes e drogas perturbadoras. glossáRio A terminologia “psicotrópico” é composta por duas palavras: psico e trópico. Psico está relacionado ao psiquismo, que abarca todas as funções do sistema nervoso central (SNC), e “trópico” significa ter atração por, em direção a. É importante ressaltar que os usuários dessas drogas podem ser clas- sificados de acordo com o padrão de consumo. As classificações são: � Experimental. � Ocasional. � Usuários de abuso. � Usuários crônicos. As drogas psicotrópicas são altamente viciantes, podendo levar o indivíduo à dependência química, física e psicológica, e, dentre outras coisas, pode resultar na morte do usuário (DENARC, 2020). DROGAS DEPRESSORAS DROGAS ESTiMULANTES DROGAS PERTURBADORAS Seu efeito é diminuir a atividade cerebral. Elas diminuem a atividade psicomotora do organismo, assim como a atenção, a concentração, a capacidade de memorização e intelectual. Seu efeito é acelerar a atividade cerebral, trazendo como consequência um estado de alerta exagerado, insônia, sentimento de perseguição e aceleração dos processos psíquicos. Seu efeito é distorcer ou modificar a atividade cerebral, causando delírios, alucinações e alterações na sensopercepção (efeito sinestésico). As drogas perturbadoras também são chamadas de alucinógenas. Curso FRoNt MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO 21 crack cocaína substância droga dependência risco crime narcótico heroína vidavício abuso Veja a seguir os detalhes do surgimento da Cocaína e da Heroína. 1.1.1 COCaÍna e HeROÍna Em um ensaio informativo intitulado “Doses Diárias: cocaína, a droga glamourosa dos anos 70 está de volta”, o site do Instituto para Pesquisas em Ciências Sociais da Universidade de Queensland (Austrália) traça, em breves linhas, a trajetória da cocaína ao longo da história. Um trecho desse ensaio referindo-se a um dos derivados mais perigosos da cocaína, o crack, está traduzido a seguir: O crack de cocaína é processado com amônia ou bicarbonato de sódio, produzindo uma versão sólida em pedra da droga que pode ser fumada. Não só o crack foi mais potente, mas os efeitos da droga (normalmente após o fumo) foram sentidos mais rapidamente. (FERRIS; WOOD; COOK, 2018) Ainda de acordo com o autor, o fato de a droga ser muito mais ba- rata permitiu que ela se espalhasse rapidamente nas comunidades mais carentes. Em 1985, seu uso tornou-se uma epidemia que teve duração de 10 anos. É um tipo de apresentação da cocaína sob forma solidificada em cristais. O nome da droga deriva do ruído característico produzido ao ser aquecido. SObRE O CRACk| Curso FRoNt MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO 22 Nos Estados Unidos da América, surge também a heroína, uma droga derivada da papoula e, assim comoa morfina, é um pó de cor branca. A ela também foi associado um glamour, como na descrição do pe- riódico “The Dispatch” da Universidade de Nova Iorque: Em 1990, a heroína chique se tornou o auge do vício em drogas na mídia, principalmente na indústria da moda, onde a estética andrógina era procurada por designers, fotógrafos e marcas, acreditando que, quanto mais doente você parece, mais as pessoas olham para você. Com uma indústria forjada pelo vício em drogas, treze designers se uniram para derrubar o sentimento com a formação de Designers Against Addiction. (THE DISPATCH, 2018) Seja por glamour, por ponderações econômicas ligadas à política criminal ou por qualquer outro motivo, no Brasil também há um forte apelo para a abolição das restrições ao comércio de drogas. Em manifestação recente, o icônico advogado criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro afirmou que há necessidade de descriminalizar todas as drogas (JORNAL O MOSSOROENSE, 2020). Contudo, essa intenção não se restringe a manifestações na mídia e em eventos acadêmicos. Não é de hoje que sentenças judiciais e mesmo a lei penal vêm paulatinamente incorporando a agenda defendida com veemência por Almeida Castro. Um exemplo disso está na profunda alteração da Lei de Drogas ocorrida em 2006. Antes Lei nº 6.368 21 de outubro de 1976 Art. 16. Adquirir, guardar ou trazer consigo, para o uso próprio, substâncias entorpecentes ou que determine dependência física ou psíquica, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar. Pena: Detenção, de seis meses a dois anos, e pagamento de vinte a cinquenta dias-multa. Curso FRoNt MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO 23 Depois Lei nº 11.343 23 de agosto de 2006 Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas: I . advertência sobre os efeitos das drogas; II. prestação de serviços à comunidade; III. medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo. Nesse sentido, observando-se a evolução da taxa de homicídios no Brasil, percebe-se um ponto de inflexão com o aumento de mortes por armas de fogo justamente após o advento da Lei nº 11.343/2006, a qual, na prática, despenalizou o consumo de drogas no país. Os aspectos psicossociais e econômicos relacionados à liberação das drogas serão retomados com maior profundidade ao longo deste curso. 60.000 Homicídio POR OUTROS MEIOS Homicídio POR ARMA DE FOGO 50.000 40.000 30.000 20.000 10.000 0 34.147 47.510 19 80 19 81 19 82 19 83 19 84 19 85 19 86 19 87 19 88 19 89 19 9 0 19 9 1 19 9 2 19 9 3 19 9 4 19 9 5 19 9 6 19 9 7 19 9 8 19 9 9 20 0 0 20 0 1 20 0 2 20 0 3 20 0 4 20 0 5 20 0 6 20 0 7 20 0 8 20 0 9 20 10 20 11 20 12 20 13 20 14 20 15 20 16 20 17 60.000 Homicídio POR OUTROS MEIOS Homicídio POR ARMA DE FOGO 50.000 40.000 30.000 20.000 10.000 0 34.147 47.510 19 80 19 81 19 82 19 83 19 84 19 85 19 86 19 87 19 88 19 89 19 9 0 19 9 1 19 9 2 19 9 3 19 9 4 19 9 5 19 9 6 19 9 7 19 9 8 19 9 9 20 0 0 20 0 1 20 0 2 20 0 3 20 0 4 20 0 5 20 0 6 20 0 7 20 0 8 20 0 9 20 10 20 11 20 12 20 13 20 14 20 15 20 16 20 17 60.000 Homicídio POR OUTROS MEIOS Homicídio POR ARMA DE FOGO 50.000 40.000 30.000 20.000 10.000 0 34.147 47.510 19 80 19 81 19 82 19 83 19 84 19 85 19 86 19 87 19 88 19 89 19 9 0 19 9 1 19 9 2 19 9 3 19 9 4 19 9 5 19 9 6 19 9 7 19 9 8 19 9 9 20 0 0 20 0 1 20 0 2 20 0 3 20 0 4 20 0 5 20 0 6 20 0 7 20 0 8 20 0 9 20 10 20 11 20 12 20 13 20 14 20 15 20 16 20 17 Fonte: Adaptado de Romano (2019) TaXa DE hOMicíDiO NO bRaSil DE 1980 a 2017| Curso FRoNt MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO 24 Veja a seguir como funciona o mercado do tráfico, e o que dizem os indicadores. 1.1.2 MeRCadO dO TRÁFiCO Várias décadas após Gary Becker estabelecer as bases da Economia do Crime, são diversos os autores e instituições da área econômica que também passaram a tratar do tema. Até mesmo importantes indicadores econômicos já são associados a atividades ilícitas. A exemplo disso, estão os documentos de organizações UNODC, UNDP, OMS etc., que trazem referências a atividades ilícitas em sua articulação com indicadores macroeconômicos. Segue abaixo um excerto de estudo do Banco Mundial a esse respeito, especificamente no que concerne a atividades ilícitas na Colômbia: glossáRio Os indicadores macroeconômicos são medidas que indicam as variáveis agregadas de todo o país, ao contrário dos indicadores microeconômicos, que focam em empresas ou setores específicos. O artigo articula um conjunto de dados cujos componentes principais são estimativas de renda ilícita advinda do tráfico de drogas e criminalidade comum. Rendas ilícitas aumentaram drasticamente até 2001, atingindo um máximo de aproximadamente 12 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) e então decresceram para menos de dois por cento em 2013. No período de declínio estão superpostos um período de alto crescimento econômico e a fase posterior a implementação do Plano Colômbia. (VILLA; MISAS; LOYAZ; 2020) Entendidos os conceitos básicos sobre economia e drogas, é possível imaginar a existência de uma economia das drogas. Ela envolve diversos processos, incluindo a lavagem de dinheiro. Muitas vezes feita em laboratórios remotos e caseiros. Produção Drogas de uso ilícito. Compra e venda Rede complexa de transporte e de transações financeiras. Transporte Tema sempre presente na mídia contemporânea. Lavagem de dinheiro PROCESSOS ENVOLViDOS NA ECONOMiA DAS DROGAS Lorem ipsum PROcESSOS ENvOlviDOS Na EcONOMia DaS DROgaS| Curso FRoNt MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO 25 A lavagem de dinheiro é o processamento de recursos criminais para disfarçar sua origem ilegal. Esse processo é crucial para as operações do crime organizado, porque os infratores seriam descobertos facil- mente se não pudessem “mesclar” seu dinheiro ilegal em um negócio jurídico, banco ou imobiliário (SOUDIJN, 2014). Por exemplo, um traficante de drogas pode comprar um restaurante para disfarçar os lucros das drogas com os lucros legítimos do restaurante. Dessa maneira, os lucros das drogas são lavados pelo restaurante para fazer com que a renda pareça ter sido obtida legalmente. NA PRáTICA Tendo compreendido que a economia é um sistema e que envolve a produção, o transporte, a compra e a venda de bens e serviços, emerge a questão do mercado, seja ele tangível ou intangível (virtual, por exemplo). É nele que os agentes econômicos trocam ou vendem seus bens e serviços, valendo-se de unidades monetárias ou de outros bens. É importante saber que os agentes econômicos que atuam no mer- cado são indivíduos e organizações de indivíduos, o que chamamos de crime organizado, quando referente a drogas de uso ilícito. Ou seja, são seres humanos que fazem escolhas, sozinhos ou em grupo. Portanto, um mercado é determinado pelo conjunto das interações humanas que nele ocorrem. “Na economia global do século XXI, há uma tendência inexorável nas organizações criminosas a se desen- volverem como pequenos grupos de empreendedores que têm apenas conexões tênues, ou como ela sugere, crime em rede.” (POTTER, 2007). Curso FRoNt MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO 26 Assim como em qualquer outro mercado, o processo que constitui o mercado das drogas ilícitas reflete questões macroestruturais, como produção, distribuição, lucratividade, liquidez e segurança, e também questões próprias do nível do indivíduo, de seu ambiente e de seus grupos imediatos. Isso vale para a oferta, para a procura e para as ações de prevenção e repressão a esse mercado. Considerando que as escolhas individuais são relevantes para a compreensão da dinâmica do mercado das drogas, fica explícito que as ciências comportamentais também podem contribuir paraa compreensão e implementação de estratégias que possam desarticulá-lo. Veja a seguir algumas informações sobre os mercados ilegais. 1.2 MeRCadOS iLeGaiS No glossário de termos organizado pela Gerência de Desenvolvimento Econômico da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal, há uma versão adicional sobre o termo “mercado”. Mercado deve ser entendido como o ‘local’ em que operam as forças da oferta e demanda, através de vendedores e compradores, de tal forma que ocorra a transferência de propriedade da mercadoria através de operações de compra e venda. (EMATER-DF, 2020) Você já deve ter entendido que, conforme referido anteriormente, a ideia de mercado não pressupõe um local específico, mas um espaço ou região em que compradores e vendedores se relacionam, de tal forma que os preços de um mesmo bem (incluindo drogas ilícitas) tendem, rapidamente, a serem iguais. Mercado municipal Mercado on-line Mercado das drogas Mercado financeiro Curso FRoNt MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO 27 Nesse sistema e na seara das drogas ilícitas, cabe destacar os for- necedores de substâncias, os usuários e as próprias drogas ilícitas. Kuhns (2007) estabelece um diferencial também na maneira como os mercados de drogas estão dispostos: crescimento populacional intersecção entre mercados legais e ilegais urbanização novas tecnologias mistura de múltiplas substâncias aumento crescente da criação e utilização de substâncias precursoras (necessárias para produção de certas drogas) tráfico de diferentes drogas e poliusuários (usuários de drogas diferentes) novas substâncias chegando ao mercado de drogas renda São mercados onde qualquer um pode comprar ou vender, num determinado local. Frequentemente estão localizados em áreas de trânsito pesado (esquinas, bairros, bares e assim por diante), onde os usuários podem facilmente encontrar vendedores e vice-versa. Ou mercados discretos são aqueles onde um número finito de indivíduos compram, vendem e usam as drogas, com acesso aos vendedores estritamente controlado. Se desenvolvem quando os vendedores restringem suas vendas a clientes conhecidos ou clientes que são referidos por outros conhecidos ou vendedores, em um esforço para reduzir o risco, minimizar negócios que terminam mal e evitar conflitos nas transações. MERCADOS ABERTOS MERCADOS FECHADOS MERCADOS SEMiABERTOS algUNS faTORES qUE favOREcEM a EXPaNSãO DO MERcaDO glObal DE DROgaS | Curso FRoNt MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO 28 As substâncias psicoativas, hoje consideradas drogas ilícitas, estão difundidas por todo globo. Sua difusão e respectivos mercados, corres- pondentemente, aconteceu globalmente e desde tempos imemoriais. A Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu o Protocolo de Drogas Sintéticas de 1948, ou Protocolo de Paris. Tal protocolo, en- tretanto, não é inovador sobre o tema, já que a Liga das Nações (que antecedeu a ONU) também tratou da questão. Fumante de ópio de Xangai na década de 1920. Foto: Facts and Details. A produção e uso de drogas, ainda que imemorial, tem alguns marcos clássicos. O período que compreendeu as décadas de 1840 e 1850 foi marcado por conflitos entre o Reino Unido e o Império Chinês em razão do comércio do ópio. Foram as denominadas Guerras do Ópio. Veja mais sobre o assunto no artigo “Guerras do Ópio” (disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/ historiag/guerras-do-opio.htm). Saiba MaiS Originado na Ásia e derivado da flor da papoula (papaverum somni- ferum), o ópio tem efeitos analgésicos e era largamente consumido na Europa e na América no século XIX. A morfina, importante droga analgésica, é o mais conhecido dos alcaloides contidos no ópio. https://brasilescola.uol.com.br/historiag/guerras-do-opio.htm https://brasilescola.uol.com.br/historiag/guerras-do-opio.htm Curso FRoNt MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO 29 Segunda Guerra do Ópio. Foto: © [Archivist] / Adobe Stock. Alguns textos específicos e atuais do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime trazem informações importantes sobre o cres- cimento das substâncias ilegais em circulação e a realidade do número de usuários no mundo. Relatório Mundial sobre Drogas do UNODC 2020. Fonte: UNODC (2020). A seguir, apresentaremos informações relacionadas às drogas de uso ilícito, usuários e fornecedores. Curso FRoNt MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO 30 Nos anos 1990, cerca de 230 substâncias psicoativas estavam sob controle internacional. Dessas 230, algumas dominavam os mercados globais de maneira mais saliente: Cannabis (ou maconha), cocaína, ópio, heroína, anfetaminas e êxtase. Duas décadas depois, a situação mudou, considerando a quantidade de drogas que passaram a estar disponíveis no mercado. O número de novas substâncias psicoativas (NSP) sintéticas cresceu de 166 para 950 substâncias, no período que compreende o ano de 2005 até o final de 2019. Mundialmente, em anos recentes, as autoridades identificaram mais de três vezes a quantidade de NSP quanto ao número de substâncias psicoativas já sob controle internacional. Em função da velocidade do surgimento de novas substâncias, os sistemas nacionais de controle colocaram um número crescente de substâncias sob controle. Dessa forma, uma certa quantidade dessas substâncias teve seu status legal modificado num curto espaço de tempo. PoDCAsT TRaNScRiTO Entre as substâncias que emergiram no mercado, na última década, podemos citar: canabinoides sintéticos, catinonas, fenetilaminas, piperazinas e várias substâncias análogas ao fentanil, que resul- taram em um incremento na classificação dessas substâncias em nível internacional. 1.2.2 USUÁRiOS de dROGaS iLÍCiTaS Sobre os usuários e as consequências do consumo de drogas ilícitas para a saúde, o World Drug Report 2020 do UNODC apresenta os seguintes dados: 1.2.1 dROGaS de USO iLÍCiTO Veja o que nos diz o UNODC acerca do mercado de drogas ilícitas: Curso FRoNt MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO 31 Ainda de acordo com o documento da ONU, 11 milhões de pessoas injetam drogas e, entre elas: HIV HePaTiTe C HIV + HePaTiTe C 1,4 milhão de usuários de drogas injetáveis vivem com HIV 5,5 milhões de usuários têm Hepatite C 1,2 milhão de usuários estão vivendo com Hepatite C e HIV NÚMERO DE USUÁRiOS NO ANO DE 2018 EM MiLHÕES 192 Cannabis Anfetaminas e Estimulantes de prescrição Cocaína Ecstasy Opioides e Opiáceos 27 19 21 58 88 30 Fonte: Adaptado do Relatório Mundial sobre Drogas do UNODC (2020). NúMERO DE USUÁRiOS NO aNO DE 2018 EM MilhõES| Curso FRoNt MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO 32 Você sabia que os altos índices de transmissão de HIV e hepatite C fazem com que esses vírus sejam considerados epidemias globais? As pessoas que injentam drogas (PWID) são uma das populações mais vulneráveis afetadas por essas doenças infecciosas. A prevalência de HIV e hepatite C é desproporcionalmente alta nesse grupo e é responsável por uma uma parte significativa de novos infec- tados por HIV e por hepatite C em todo o mundo (UNODC, 2020, p. 11). glossáRio PWID é a sigla em inglês para people who inject drugs. 1.2.3 FORneCedOReS Finalmente, considerando o componente “fornecedores” do mercado de drogas, os documentos do UNODC dizem o seguinte: Com relação ao suprimento de drogas, o mesmo relatório do UNODC destaca que a Cannabis continua sendo a droga mais amplamente produzida em todo o mundo, e esse mercado está passando por transição e diversificação em países que permitem o uso não medicinal de Cannabis. O cultivo global da folha de coca mostrou uma clara tendência ascendente no período de 2013 a 2017, aumentando em mais de 100%. Já a produção ilícita global estimada de cocaína atingiu uma alta histórica de 1.976 toneladas em 2017. No mesmo ano, cerca de 70% da área cultivada com coca foi localizada na Colômbia, 20% no Peru e 10% no Estado plurinacional da Bolívia. Ao mesmo tempo, a quantidade global de cocaína apreendida em 2017 aumentou 13% em relação ao ano anterior, ajudando a mantero suprimento de cocaína sob controle, embora o uso de cocaína esteja aumentando na América do Norte e na Europa Ocidental e Central. Em 2018, houve um declínio no cultivo de papoula, principalmente como resultado de uma seca no Afeganistão, que, no entanto, foi novamente o país responsável pela grande maioria do cultivo e produção ilícita de papoula do ópio no mundo naquele ano” (UNODC, 2020). PoDCAsT TRaNScRiTO Dos mencionados relatórios do UNODC, é possível mensurar e qua- lificar o avanço, a complexidade e a extensão do mercado de drogas no plano internacional. Curso FRoNt MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO 33 CANADÁ EUA RÚSSiA JAPÃO AUSTRÁLiA CHiNA ÁFRiCA DO SUL BRASiL AMÉRICA CENTRAL AMÉRICAAAMÉMÉRICARICA CENTRALCENCEN LL AnfetaminasCannabis Ecstasy CocaínaOpiáceos Produção e consumo interno País ou região produtiva País ou região de trânsito Destino SUDESTE ASiÁTiCO ÁSiA CENTRAL REGIÃO DOS ANDES Fonte: Adaptado de Mundo Estranho (2018). Em síntese, nos últimos trinta anos vem ocorrendo em todo o mundo um crescimento vertiginoso da quantidade e da variedade de drogas ilícitas que se encontram difundidas pelo planeta. Entre essas subs- tâncias, a Cannabis é a mais consumida e os opioides são as drogas mais danosas à saúde. Boa parte da totalidade de cocaína mundial é produzida em três países que fazem fronteira com o Brasil: Colômbia, Peru e Bolívia. EXTENSãO DO MERcaDO DE DROgaS iNTERNaciONal| Curso FRoNt MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO 34 Para saber mais sobre o desenvolvimento do mercado da maconha, vale a pena ver o vídeo “Evolução do Mercado de Maconha” (disponível em: https://www.uniad.org.br/ galeria-de-videos/evolucao-do-mercado-de-maconha- ronaldo-laranjeira-bloco-a-2-6/). Dica DE MíDia Esses números são refletidos nos altos índices de prisões provisórias relacionadas ao crime de tráfico de drogas ou a crimes correlatos. Veja o percentual no gráfico a seguir: PERCENTUAL DE PRESOS PROViSÓRiOS POR TiPO DE CRiME PRATiCADO Tráfico de Drogas ou Indução, Instigação ou Auxílio ao Uso de Drogas Roubo Homicídio Crime do Sistema Nacional de Armas Furto Receptação Crime de Ameaça Latrocínio Violência Doméstica Estupro de Vulneráveis Organização Criminosa Crime Tentado - Assunto 5555 Estupro Extorsão Estelionato Sequestro Violação da Obrigação de Alimentos Crimes previstos no ECA Não Informado Não Classificado 29% 26% 13% 8% 7% 4% 2% 2% 2% 2% 1% 1% 1% 1% 0% 0% 0% 0% 9% 6% Fonte: Adaptado de Tribunal de Justiça (2017). Vamos relembrar os pontos principais? Veja uma síntese dos pontos mais importantes relacionados ao aumento das substâncias ilegais em circulação e a realidade dos números de usuários no mundo. PERcENTUal DE PRESOS PROviSóRiOS POR cRiME PRaTicaDO| https://www.uniad.org.br/galeria-de-videos/evolucao-do-mercado-de-maconha-ronaldo-laranjeira-bloco-a-2-6/ https://www.uniad.org.br/galeria-de-videos/evolucao-do-mercado-de-maconha-ronaldo-laranjeira-bloco-a-2-6/ https://www.uniad.org.br/galeria-de-videos/evolucao-do-mercado-de-maconha-ronaldo-laranjeira-bloco-a-2-6/ Curso FRoNt MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO 35 No próximo tópico, você vai entender o panorâma geral das políticas de redução de drogas no Brasil. Curso FRoNt MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO 36 1.3 RedUÇÃO da OFeRTa de dROGaS A Política Nacional sobre Drogas, instituída pelo Decreto nº 9.761/2019, nomeou a redução da oferta de drogas como um de seus principais eixos de atuação, com ações prioritárias sumarizadas pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública. Segundo a Política Nacional sobre Drogas, as iniciativas de redução da oferta incluem ações de Segurança Pública, defesa, inteligência, regulação de substâncias precursoras, de substâncias controladas e de drogas lícitas, repressão da produção não autorizada, operações especiais, bem como a recuperação de ativos que financiem ou sejam resultados dessas atividades criminosas. Veja a seguir as ações previstas no eixo de redução de oferta: Repressão ao uso de drogas ilícitas. Identificação e desmantelamento das organizações criminosas. Combate ao narcotráfico, à corrupção, à lavagem de dinheiro, ao crime organizado e crimes conexos. Erradicação e apreensão permanentes de tais substâncias produzidas no território nacional ou estrangeiro. Gestão de ativos criminais gerados pelo narcotráfico, apreendidos pelo Estado. Bloqueio do ingresso das drogas oriundas do exterior, destinadas ao consumo interno ou ao mercado internacional. Curso FRoNt MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO 37 Com base no princípio da responsabilidade compartilhada, o combate às drogas ilícitas vinculadas ao crime organizado deve priorizar as regiões com maiores indicadores de homicídios. Entende-se que a redução dos crimes relacionados ao tráfico e uso de drogas ilícitas proporcionará melhoria substancial nas condições de segurança e bem-estar de comunidades, de famílias e dos cidadãos, de um modo geral. Uma atribuição central da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas é assessorar o Ministro de Estado da Justiça e Segurança Pública e prestar assistência aos órgãos do ministério quanto às políticas sobre drogas relacionadas com a redução da oferta, a repressão da produção não autorizada e o combate ao tráfico ilícito de drogas, respeitadas as competências de outras entidades da Administração Direta e Indireta. Fonte: Divulgação/PRF. As unidades de operações especiais, tanto das forças armadas quanto das forças policiais brasileiras, figuram como importante recurso para o enfrentamento repressivo da oferta de drogas. Comando de Operações Táticas do Departamento da Polícia Federal. Foto: © [André Gustavo Stumpf] / Flickr. Enquadre no seu celular ou tablet o código de REALIDADE AUMENTADA do aplicativo Zappar para assistir ao vídeo sobre o Comando de Operações Táticas. RA Curso FRoNt MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO 38 Dentre os principais termos técnicos e conceitos empregados no texto do Ministério da Justiça e Segurança Pública sobre a redução da oferta de drogas que serão abordados ao longo dos tópicos deste módulo, um deles é as operações especiais. Este tipo de unidade está presente nas forças militares (Exército, Marinha e Aeronáutica) e nas demais instituições de polícia mundo afora, mesmo naquelas de estética civil. Nesse sentido, um tipo de unidade que figura como espécie do gênero forças especiais é a SWAT. Segundo Davidson (2007), a formação de unidades de operações especiais SWAT marcou uma ruptura nos serviços policiais tradi- cionais e trouxe um novo método de gerenciamento de crises pelos executivos policiais modernos. Foi possível perceber que a utilização de uma equipe especializada, com policiais especialmente armados, treinados e excepcionalmente bem liderados, reduziu os danos sobre a população, com pouca ou nenhuma perda de vidas quando confron- tados com criminosos pesadamente armados. Nesse sentido, quando as ocorrências tinham um desfecho favorável aos policiais, principalmente as que haviam cobertura midiática, foi possível produzir bons efeitos de relações públicas. William H. McRaven, por sua vez, ao definir sobre operações espe- ciais, escreveu: Uma operação especial é conduzida por forças especialmente adestradas, equipadas e apoiadas visando um alvo específico, cuja destruição, eliminação ou resgate (no caso de reféns) constitui-se em imposição política ou militar. (MCRAVEN, 1996) No contexto brasileiro, o Curso de Ações de Comandos se destaca na formação dos integrantes das unidades de operações especiais do Exército Brasileiro. Comando de Operações Táticas, a unidade de operações especiais da Polícia Federal. Foto: © [Alfredo Carrijo] / Revista Diálogo América. Enquadre no seu celular ou tablet o código de REALIDADE AUMENTADA do aplicativo Zappar para assistir ao vídeo animado sobre as operações especiais e sua relevância no enfrentamento aos grupos organizados. RA Curso FRoNt MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO 39 No contexto das polícias militares, as unidadesde operações es- peciais são representadas pelos Batalhões de Operações Especiais (BOPEs). Por sua vez, no combate ao narcotráfico nos níveis federal e internacional, destaque-se o Comando de Operações Táticas (COT), da Polícia Federal. No contexto americano de operações especiais, a Joint Pub. 3-05 estabelece as missões de ação direta projetadas para a obtenção de resultados específicos. Para saber mais, leia na íntegra a publicação da Joint Pub. 3-05 (disponível em: www.jcs.mil/Doctrine/DOCNET/JP- 3-05-Special-Operations). Saiba MaiS Veja mais vídeos sobre as operações especiais nas dicas de mídia a seguir: Assista ao vídeo “Curso de Ações de Comandos” (disponível em: https://youtu.be/ilvUX5LMlJ8). Você também pode ter acesso aos trabalhos da BOPE, no vídeo “BOPE Policia Militar- DF” (disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=QXlpRdg4scg). Para entender mais sobre o Comando de Operações Táticas, assista ao vídeo da Polícia Federal (disponível em: https://youtu.be/fc1q9Hj4D2s). Veja o vídeo institucional de conclusão do módulo Resposta Tática do III Curso de Operações Especiais da Polícia Rodoviária Federal (disponível em: https://www. youtube.com/watch?v=glGazqxfdDQ). Dica DE MíDia https://www.jcs.mil/Doctrine/DOCNET/JP-3-05-Special-Operations/ https://www.jcs.mil/Doctrine/DOCNET/JP-3-05-Special-Operations/ https://youtu.be/ilvUX5LMlJ8 https://www.youtube.com/watch?v=QXlpRdg4scg https://www.youtube.com/watch?v=QXlpRdg4scg https://youtu.be/fc1q9Hj4D2s https://www.youtube.com/watch?v=glGazqxfdDQ https://www.youtube.com/watch?v=glGazqxfdDQ Curso FRoNt MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO 40 Isso se torna ainda mais relevante porque a Inteligência de Segurança Pública está intimamente relacionada à execução de ações para prever, prevenir, neutralizar e reprimir atos criminosos de qualquer natureza. Lei nº 9883 de 7 de dezembro de 1999 Art. 1º § 2º, que instituiu o Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN) “[...] entende-se como inteligência a atividade que objetiva a obtenção, análise e disseminação de conhecimentos dentro e fora do território nacional sobre fatos e situações de imediata ou potencial influência sobre o processo decisório e a ação governamental e sobre a salvaguarda e a segurança da sociedade e do Estado.” Veja que essa definição está relacionada diretamente a questões de Estado, ou seja, a referida lei trata eminentemente de Inteligência de Estado. Por sua vez, como já mencionado, os recursos a serem em- pregados pelas agências de Segurança Pública, tanto na prevenção quanto no combate à prática de ilícitos como tráfico de drogas, sempre serão melhores dosados se forem precedidos de ações de Inteligência de Segurança Pública. A atividade de Inteligência de Segurança Pública (ISP) é a sistemati- zação de ações especializadas para identificar, avaliar e acompanhar ameaças reais ou potenciais na esfera de Segurança Pública. Além disso, suas ações servem de orientação para subsidiar os tomadores de decisão, no planejamento e execução de uma política de Segurança Pública, com ações voltadas para previsão, prevenção, neutralização e repressão de atos criminosos de qualquer natureza que atentem à ordem pública, à segurança das pessoas e do patrimônio. Conheça algumas finalidades da ISP a seguir: Você sabe o que significa a expressão latina ultima ratio? Ela é uma das expressões mais conhecidas no contexto das operações especiais. Ultima ratio significa literalmente última razão, ou, em termos mais práticos, último recurso. Tratando-se de uma alternativa tática, seja no contexto macro do combate ao crime organizado, seja no contexto específico do enfrentamento de narcotraficantes, as ações envolvendo o emprego de forças especiais precisam ser precedidas do trabalho de inteligência. Curso FRoNt MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO 41 FiNALiDADES DA iSP Proporcionar diagnósticos e prognósticos sobre a evolução de situações do interesse da Segurança Pública, subsidiando seus usuários no processo decisório. Contribuir para que o processo interativo entre usuários e profissionais de Inteligência aumente o nível de eficiência dos usuários e de suas respectivas organizações. Subsidiar o planejamento estratégico integrado do sistema de Segurança Pública e a elaboração de planos específicos para as diversas organizações que o compõem. Assessorar as operações de prevenção e repressão da Segurança Pública, com informações relevantes. Proteger a produção do conhecimento de ISP. Por sua vez, a Doutrina de Inteligência de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro (DISPERJ, 2015), precursora da própria Doutrina Nacional de Segurança Pública (DNISP), define a atividade de Inteli- gência de Segurança Pública (ISP), em seus dois ramos, Inteligência e Contrainteligência, da seguinte forma: O exercício permanente e sistemático de ações especializadas para identificar, avaliar e acompanhar ameaças reais ou potenciais na esfera de Segurança Pública, basicamente orientadas para produção e salvaguarda de conhecimentos necessários para subsidiar os tomadores de decisão, para o planejamento e execução de uma política de Segurança Pública e das ações para prever, prevenir, neutralizar e reprimir atos criminosos de qualquer natureza que atentem à ordem pública, à incolumidade das pessoas e do patrimônio. (DISPERJ, 2015) Aqui cabe refletir sobre os contornos conceituais da Doutrina Nacional de Inteligência de Segurança Pública (DNISP). Segundo a DNISP (2015), a doutrina é um “conjunto de conceitos, características, princípios, valores, normas, métodos, procedimentos, ações e técnicas que orientam e disciplinam as atividades de ISP.” Curso FRoNt MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO 42 Propõe uma linguagem especializada entre os profissionais da ativi- dade de ISP, de modo que as relações de comunicação essenciais ao seu exercício ocorram sem distorções ou incompreensões. Dentro dessa perspectiva, a doutrina deve ser capaz de padronizar a atuação das agências que integram o Sistema de Inteligência de Segurança Pública (SISP), visando maximizar os seus padrões de eficácia e eficiência, convertendo-se em importante instrumento de assessoria às políticas e ações relacionadas à área de Segurança Pública. Ainda dentro da temática “inteligência”, para mais informações sobre proteção de conhecimentos sensíveis e sigilosos, bem como outros assuntos correlatos, sugere-se a consulta ao “Caderno de Legislação da Agência Brasileira de Inteligência” (disponível em: https://www.gov.br/abin/pt-br/centrais-de-conteudo/ publicacoes/Col3v3.pdf). Saiba MaiS Finalmente, para encerrar este tópico sobre elementos relevantes para a política de redução da oferta de drogas, convém elucidar o que vem a ser o “princípio da responsabilidade compartilhada”. Mais de 11 mil militares e 33 agências governamentais atuam no combate ao crime nas fronteiras. Fonte: IDESF. No contexto da Política Nacional sobre Drogas, esse princípio está relacionado com a necessidade de se canalizarem esforços em nível local, regional, nacional e internacional com vistas ao combate do cultivo, da produção e do tráfico de drogas (ciclo logístico). https://www.gov.br/abin/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/Col3v3.pdf https://www.gov.br/abin/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/Col3v3.pdf Curso FRoNt MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO 43 Ou seja, é preciso adotar estratégias de cooperação mútua e de arti- culação de esforços entre governo, iniciativa privada, terceiro setor e cidadãos de modo geral, com foco na priorização de regiões que apresentam taxas de homicídios mais elevadas. Em outras palavras, os múltiplos atores envolvidos nos esforços de redução da oferta de drogas devem agir de forma mais organizada que aqueles que atuam na atividade criminal. Parafraseando as palavras de Rudy Giuliani, ex-prefeito da cidade de Nova Iorque, já é tempo de as ações de redução da oferta de drogas passarem a ser tão organizadas quanto o crime organizado. Curso FRoNt MÓDULO 1 -INTRODUÇÃO 44 Unidade 2 CRIMe, ORGanIZaÇÕeS CRIMInOSaS e naRCOTRÁFICO COnTexTUaLiZandO Nesta unidade, você conhecerá as principais noções e conceitos re- lacionados ao crime organizado e ao narcotráfico, sempre conside- rando os contornos legais e gerenciais desses conceitos, tendo em perspectiva aspectos econômicos, sociais, culturais e psicológicos. 2.1 CRiMe ORGaniZadO O crime organizado constitui um tema de alta complexidade e de imenso interesse social, político, cultural e econômico. O assunto está constantemente na pauta jornalística, na agenda de pesquisa das ciências sociais aplicadas, nas audiências judiciais e também possui forte inserção em filmes e programas televisivos. Foto: © [Maxim_Kazmin] / Adobe Stock. O crime organizado tornou-se um verdadeiro ícone da cultura popular, objeto de atenção da sociedade civil e assunto de Estado. Isso tanto na seara interna quanto internacional. Trata-se de algo bem sintetizado por Sydney Mufamadi, Ministro da Segurança e Proteção do Governo de Unidade Nacional da África do Sul entre 1994 e 1999: Curso FRoNt MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO 45 O crime organizado passou a ser, individualmente, a maior ameaça global desde o final da Guerra Fria. (POTTER, 2007, p. 887) No entanto, o crime organizado continua sendo um dos termos re- lacionados ao crime mais difíceis de definir com qualquer grau de precisão. A “Enciclopédia Britânica” define o crime organizado como um empreendimento complexo e altamente centralizado constituído para práticas de atividades ilegais. Trata-se de um tipo de organização que envolve delitos, como sub- tração de cargas, fraudes, roubos, sequestros mediante resgate e demanda por pagamentos por proteção. A principal fonte de lucro para os sindicatos do crime é o suprimento de bens e serviços que, não obstante serem ilegais, são demandados continuamente pelo público, tais como drogas, prostituição, agiotagem e jogatinas. Klaus von Lampe, professor de Criminologia na Escola de Economia, Lei e Direito de Berlim, em uma revisão sistemática da literatura da área, colacionou mais de 200 definições para a expressão crime organizado. Lampe argumenta que muitas das definições empregadas para a expressão crime organizado nem mesmo podem ser tomadas por definições no sentido exato da palavra. Em verdade, a maioria das expressões não passariam de meras descrições. Isso porque, segundo o autor, a definição pressupõe o delineamento das fronteiras do objeto. Contudo, no caso do crime organizado, nem sempre as definições empregadas obedecem esses critérios (LAMPE, 2016). Ainda de acordo com Lampe, existem diferentes definições de crime organizado, separados por perspectivas elementares. Na primeira perspectiva, o que tornaria o crime organizado seria a natureza dos crimes praticados ou os criminosos por trás deles. Assim, para uma atividade ser classificada como organizada, ela deveria apresentar um certo nível de sofisticação, continuidade, racionalidade e dano. | Perspectiva 1 Curso FRoNt MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO 46 Na segunda perspectiva, não importam os crimes praticados em si, o que importa é como os criminosos se vinculam e se associam uns com os outros. “O crime organizado estaria relacionado a qualquer grupo que possui alguma estrutura formal cujo objetivo primeiro seja obter dinheiro oriundo de atividades ilegais (FBI apud LAMPE, 2016). | Perspectiva 2 A terceira perspectiva estaria relacionada à concentração de poder ilegítimo nas mãos de criminosos. Assim, os criminosos poderiam criar um tipo de governo no submundo criminoso que controla, regula e taxa atividades ilegais. | Perspectiva 3 A quarta perspectiva, chama-se condição sistêmica, que acontece quando o crime organizado influencia as instâncias legítimas das sociedade, ou as toma em acordo com a elite política e financeira que governa um país. Nessa perspectiva, os criminosos exerceriam influência sobre a sociedade legítima, substituindo o governo formal ou estabelecendo alianças com políticos corruptos e com a elite empresarial com a finalidade de manipular a ordem constitucional em vantagem própria. Lampe denomina essa perspectiva também de condição sistêmica. | Perspectiva 4 Como você viu, a condição sistemática, quarta perspectiva de crime organizado, tem um processo muito semelhante às fases do processo mapeado por Juliet Berg e descortinado para o público brasileiro por Dantas. Veja: � 1° Estágio: Confronto O Estado passaria por uma situação de confronto em relação ao crime organizado, utilizando métodos policiais para destruí-lo, na tentativa de erradicar as ilicitudes por ele praticadas. Enquadre no seu celular ou tablet o código de REALIDADE AUMENTADA do aplicativo Zappar para assistir ao vídeo animado sobre as quatro perspectivas para definição do crime organizado. RA Curso FRoNt MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO 47 � 2° Estágio: Aquiescência Ao perceber a incapacidade de adotar uma estratégia bem-sucedida contra o crime organizado, o Estado seria forçado a aceitar a prevalência de atividades ilegais daquelas organizações em seu território nacional. � 3° Estágio: Conveniência tática Nesse estágio, seria eleita pelo Estado a opção de tirar proveito das operações ilícitas, na medida em que beneficiassem a economia, a sociedade, ou mesmo os funcionários da Segurança Pública. � 4° Estágio: Encorajamento Membros do Estado, beneficiários diretos das atividades ilícitas do crime organizado, passariam a prevenir ou sabotar estratégias de contenção, para garantir os benefícios por eles auferidos. Um exemplo de condição sistêmica no crime organizado foi o nar- cotraficante Pablo Escobar, eleito como deputado suplente do Par- lamento colombiano. Fonte: La Parola. Em suma, entre os principais elementos que configuram o crime organizado, estão: A interação social entre indivíduos que compõem um grupo criminoso. A busca de lucro, principalmente por meio da prática de crimes. Curso FRoNt MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO 48 A condução de negócios ilícitos em um ambiente favorável, permeado por corrupção, demanda de mercado e suporte social. A realização de atividades ilícitas caracterizadas por continuidade e persistência. O uso de ameaças de violência e corrupção política como meio de realização de negócios e proteção do empreendimento criminoso. Na sequência, veja as características das organizações criminosas. 2.2 ORGaniZaÇÕeS CRiMinOSaS (CaRaCTeRÍSTiCaS e PeCULiaRidadeS de UMa ORCRIM) A legislação brasileira não define o que é crime organizado. O texto legal limita-se a descrever os requisitos formais que caracterizam uma organização criminosa (ORCRIM). Lei nº 12.850 de 2 de agosto de 2013 Art. 1° § 1º “Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional.” Dentro das categorias sintetizadas por Klaus Von Lampe, nossa le- gislação foca em definir organizações criminosas e em como os criminosos vinculam-se uns aos outros. Curso FRoNt MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO 49 Até 2013, o conceito de grupo ou organização criminosa utilizado pela área jurídica era extraído da Convenção de Palermo, a qual foi internalizada no ordenamento jurídico pátrio pelo Decreto nº 5.015, de 12 de março de 2004. Decreto nº 5.015 de 12 de março de 2004 Art. 2° (alínea A) Grupo criminoso organizado: grupo estruturado de três ou mais pessoas, existente há algum tempo e atuando concertadamente com o propósito de cometer uma ou mais infrações graves ou enunciadas na presente Convenção, com a intenção de obter, direta ou indiretamente, um benefício econômico ou outro benefício material. Note que a definição antiga era mais rígida, pois alcançava grupos formadospor apenas três criminosos, diferentemente do atual requi- sito mínimo para preenchimento do tipo penal atual, que considera organização criminosa os grupos constituídos de quatro pessoas. O que resta estabelecido legalmente é que o primeiro requisito para a configuração de uma organização criminosa (ORCRIM) é a associação de quatro ou mais pessoas. Um segundo requisito para o mesmo fim é a divisão de tarefas. Isso, inclusive, pressupõe a existência de relações hierárquicas dentro da organização criminosa. Por fim, como terceiro requisito fundamental para a configuração de uma ORCRIM, é necessário que haja o uso instrumental de atividades criminosas (condutas tipificadas como crime), para o alcance de vantagens. É importante frisar que os crimes praticados pela ORCRIM precisam ter penas máximas superiores a quatro anos. Por fim, além das questões jurídicas relacionadas à definição e aos requisitos necessários para a configuração de uma ORCRIM, é necessário considerar também o ambiente em que esses grupos estão inseridos e os fatores psicológicos internos aos indivíduos que os compõem. Neste último aspecto, por exemplo, há fenômenos como o comportamento dissocial, que é muito presente entre os participantes de organizações criminosas. O comportamento dissocial (categorizado no CID-10) é um transtorno de personalidade que leva os indivíduos a serem extremamente violentos com grupos antagônicos, mas chegam a cultuar e demonstrar respeito cerimonial ao próprio grupo. PoDCAsT TRaNScRiTO Curso FRoNt MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO 50 Assim como ocorre em organizações mafiosas mundo afora, o com- portamento dissocial é uma marca bem presente na criminalidade faccionada no Brasil. Organizações criminosas do narcotráfico, como o Comando Vermelho e o Primeiro Comando da Capital, apresentam rígidos códigos de hierarquia e disciplina reforçados por rituais e protocolos não escritos que são reforçados pelo grupo o tempo todo, quase sempre por estímulos negativos (punição). Leia mais sobre a história do PCC e das facções criminosas, seus códigos de ética e as regras de conduta dentro da organização (disponível em: https://www.politize.com. br/pcc-e-faccoes-criminosas/). Saiba MaiS Assim, para o reforço das regras informais que mantêm a estrutura organizada dos empreendimentos criminosos, o emprego da violência extrema como recurso é a regra. Portanto, torturas, esquartejamentos e decapitações são eventos sempre presentes nos relacionamentos com clientes (como dependentes químicos que não pagam suas dívidas com tráfico), com rivais, com as forças de segurança do Estado e com os próprios membros da ORCRIM que violam as regras do grupo. Agora, pense no que você viu até aqui e faça a seguinte reflexão: A associação de quatro pessoas que, por meio da divisão de tarefas, se utilizam do crime de tráfico de drogas para enriquecimento ilícito configura uma organização criminosa, cuja pena máxima é de 15 anos, nos termos da lei brasileira. Por outro lado, por questão de política criminal, a associação de pessoas visando à geração de lucros com o jogo do bicho é caracterizada como contravenção penal, com pena máxima de um ano e não configura uma ORCRIM. NA PRáTICA Siga para o próximo tópico, no qual falaremos sobre narcotráfico e tráfico de drogas como sinônimos, e suas implicações legais segundo a legislação brasileira. https://www.politize.com.br/pcc-e-faccoes-criminosas/ https://www.politize.com.br/pcc-e-faccoes-criminosas/ Curso FRoNt MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO 51 Lei nº 11.343 de 23 de agosto de 2006 Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena: reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa. § 1º - Nas mesmas penas incorre quem: I. importa, exporta, remete, produz, fabrica, adquire, vende, expõe à venda, oferece, fornece, tem em depósito, transporta, traz consigo ou guarda, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à preparação de drogas; II. semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, de plantas que se constituam em matéria-prima para a preparação de drogas; III. utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a propriedade, posse, administração, guarda ou vigilância, ou consente que outrem dele se utilize, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, para o tráfico ilícito de drogas. 2.3. naRCOTRÁFiCO/TRÁFiCO de dROGaS O Escritório Sobre Drogas e Crimes da ONU define o tráfico de drogas como sendo um “comércio global ilícito que envolve cultivo, fabri- cação, distribuição e venda de substâncias que sejam proibidas por leis de drogas” (UNODC, 2010). Ou seja, as expressões “narcotráfico” e “tráfico de drogas” são equi- valentes. O crime de tráfico de drogas é tipificado pela legislação brasileira nos termos da Lei nº 11.343/2006. Confira: O caput do artigo 33 é aceito pelos doutrinadores como o tipo funda- mental do tráfico de drogas. Porém, as condutas arroladas no § 1º do art. 33 e nos artigos de 34 a 36 da mesma lei também são equiparadas ao crime de tráfico de drogas. Curso FRoNt MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO 52 Pela leitura do texto legal, você pode concluir que o crime de tráfico de drogas é tipificado no Brasil como um crime de múltiplas condutas. Essas condutas são expressas pelos seguintes verbos: importar exportar remeter preparar produzir vender expor à venda ter em depósito transportar trazer consigo guardar prescrever ministrar entregar a consumo ou fornecer drogas A lei ainda acrescenta que o crime de tráfico pode ser configurado mesmo que as ações que o caracterizam sejam realizadas gratuita- mente, contanto que sejam práticas “sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar” (SILVA, 2010). Se é possível traçar seus contornos legais nos limites da lei brasileira, a mesma coisa não se pode dizer da cadeia logística do narcotráfico. BRASIL SURINAME GUIANA FRANCESA VENEZUELA COLÔMBIA EQUADOR PERU BOLÍVIA CHILE ARGENTINA URUGUAI PARAGUAI As fronteiras brasileiras incluem dez nações, entre elas, os três principais produtores de cocaína: Peru, Bolívia e Colômbia. A cocaína produzida nesses países corresponde a 75% da produção mundial. | GEOGRAFIA DO BRASIL GUIANA Fonte: Adaptado de Roehrich (2014). gEOgRafia DO bRaSil| Curso FRoNt MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO 53 Sobre o caráter transnacional do tráfico de drogas e a necessidade de cooperação internacional para seu enfrentamento, vale a pena a leitura do trecho sobre o assunto, presente no livro “Lei de Drogas Comentada”, de César Dario Mariano da Silva (2010). Veja: A cooperação internacional segue o espírito das Convenções das Nações Unidas e o princípio da justiça universal, considerando ser obrigação de todos os países participar do enfrentamento ao crime organizado, visto como um mal universal. A Lei de Drogas não fugiu a essa finalidade, deixando evidente que o Brasil deve cumprir as convenções e tratados internacionais dos quais faça parte para o combate ao narcotráfico. O Brasil é signatário de diversos acordos e tratados para o combate ao narcotráfico, especialmente com países da América Latina, podemos citar Chile, Equador, Argentina e Cuba, entre outros. O Brasil também firmou acordos internacionais com os Estados Unidos e com alguns países da Europa, além de ser signatário da Convenção das Nações Unidas Contra o Crime Organizado Transnacional, realizada em novembro de 2000, na cidade de Nova Iorque. Assim, cabe ao Brasil prestarauxílio às outras nações e organismos internacionais, assim como solicitar apoio em diversas áreas relacionadas ao combate ao tráfico de drogas e outros delitos conexos, como o tráfico de armas, lavagem de dinheiro e o desvio de produtos químicos para a produção de drogas. As áreas de inteligência, sem as quais esses delitos não podem ser combatidos, também são alcançadas pelo dispositivo. As informações são elementos essenciais para o combate às organizações criminosas. PoDCAsT TRaNScRiTO Você pode perceber que o narcotráfico, ou tráfico de droga, somente se viabiliza por ações interdependentes que são puníveis pelas legis- lações internas dos países, mas que, para serem reprimidas de fato, exigem respostas articuladas interna, regional e internacionalmente. Enquadre no seu celular ou tablet o código de REALIDADE AUMENTADA do aplicativo Zappar para assistir ao vídeo que apresenta o contexto do combate ao tráfico de drogas no Brasil. RA Curso FRoNt MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO 54 Unidade 3 eLeMenTOS HISTÓRICOS, SOCIOeCOnÔMICOS e nORMaTIVOS dO CRIMe ORGanIZadO e dO naRCOTRÁFICO Nesta unidade, apresentaremos o panorama da violência no Brasil e no mundo, e a relação entre violência e a temática das drogas. 3.1 ViOLÊnCia e dROGaS nO BRaSiL e nO MUndO Como já citado neste curso, uma das características mais marcantes do modus operandi das organizações criminosas ligadas ao narco- tráfico no Brasil e no mundo é a demonstração de força por meio do emprego de violência extrema. No início de 2019, imagens chocaram o país durante as rebeliões ocorridas nos presídios da região Norte. Nesses episódios, abriram-se para o mundo as assinaturas macabras que as ORCRIM do narcotráfico conceberam para não deixar dúvidas de quem estava no comando das rebeliões. COnTexTUaLiZandO Curso FRoNt MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO 55 Jennifer Woodhull, do Departamento de Estudos Religiosos da Universidade da Cidade do Cabo, apresenta a raiz etimológica da palavra violência (título original: “Etymological Root of the Word ‘Violence’”, disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=GfBirU1GLiw). Dica DE MíDia Quando se pensa no uso da força no contexto da violência, é razoável imaginar situações como as mencionadas na abertura do presente tópico. Diante de circunstâncias tão extremas quanto bárbaras, parece ser fácil delimitar o conceito de violência. Entretanto, para o bem da sociedade, a vida não é feita somente de extremos, pelo contrário. O que dizer das consequências sociais, comunitárias e para a saúde dos indivíduos mais vulneráveis que sofrem com a violência psico- lógica, por exemplo? As origens etimológicas do termo violência sintetizam o conceito de violência como a agressão (força) exercida contra alguém. Por mais direto e objetivo que seja o conceito empregado por Jennifer Woodhull, aspectos relevantes envolvendo a violência acabam não sendo contemplados. https://www.youtube.com/watch?v=GfBirU1GLiw Curso FRoNt MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO 56 A Organização Mundial da Saúde, ao definir o termo violência, abrange uma ampla gama de atos, como a violência interpessoal, o compor- tamento suicida ou conflito armado. Indo mais além dos atos físicos para incluir ameaças e intimidações. Veja: Essa definição da OMS apresenta diferentes facetas da violência: Esses diferentes tipos de violência possuem elementos bem presentes A Organização Mundial da Saúde define violência como: o uso intencional da força física ou poder, por intermédio de ameaça ou de fato, contra o próprio indivíduo, contra outra pessoas ou grupo ou comunidade, que resulte ou tenha grande probabilidade de resultar em ferimento, morte, ou dano psicológico, prejuízo ao desenvolvimento ou privação. Além de morte e ferimentos, a definição também inclui uma miríade de consequências menos óbvias de comportamentos violentos, tais como prejuízo psicológico, privação e prejuízo ao desenvolvimento que compromete o bem-estar dos indivíduos, famílias e comunidades. (WHO, 2002) Foto: © [Adragan] / Adobe Stock. O que dizer da violência que é fruto da ameaça, como é o caso de comunidades inteiras subjugadas por meio do medo por conta das demonstração de força dos cartéis de drogas? Curso FRoNt MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO 57 no quotidiano das cidades brasileiras, que, como já citado, se expan- diram e continuam a se expandir rapidamente e de forma desordenada. O tipo de força empregada (física ou poder). A tangibilidade do recurso empregado (ameaça ou poder de fato). O sujeito que recebe a ação (o próprio indivíduo, outro indivíduo, grupo ou comunidade). E o tipo de resultado (ferimento, morte, dano psicológico, prejuízo ao desenvolvimento, ou privação). Tudo isso é ainda mais agravado pelo advento de fenômenos como o do crack, como bem aduzem De La Rosa, Lambert e Cooper (1990). Ainda acerca da conexão entre tráfico de drogas ilícitas e violência, mais uma vez convém recorrer ao posicionamento da OMS sobre o tema: A economia do crack aumentou enormemente o número de traficantes de drogas em várias comunidades dos centros de cidade: a tecnologia e a disponibilidade de cocaína coincidiram com um encolhimento das oportunidades de trabalho decente em muitas dessas comunidades. Segundo evidências recentes, o tráfico de crack quase invariavelmente envolve violência; traficantes ameaçam uns aos outros e à comunidade (Johnson et al., no prelo). Mas o papel das quadrilhas nesta economia em expansão do crack ainda é questionável e pouco compreendido. (DE LA ROSA; LAMBERT; COOPER, 1990, p. 171) Curso FRoNt MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO 58 Veja no próximo tópico os aspectos históricos e sociais do Brasil em relação à criminalidade e ao fenômeno do tráfico de drogas. O que será A violência e o uso de drogas ilícitas representam grandes desafios à saúde pública. A OMS identifica fortes associações entre ser vítima ou autor de violência e o uso de drogas ilícitas. Além disso, os relacionamentos interpessoais, a comunidade e o nível social foram identificados como fatores de risco que aumentam a chance de o indivíduo sofrer violência relacionada a drogas. Embora exista uma clara relação entre drogas e comportamento violento, a natureza dessa relação de causalidade é multifacetada e poucos estudos examinaram tal relação. Essa relação existe por várias razões, algumas diretas, como o próprio efeito farmacológico dos medicamentos, e outras indiretas, como a violência que ocorre para obter drogas, violência nos mercados de drogas ilícitas e uso de drogas como resultado de uma vida como vítima de atos violentos. Apesar de uma série de evidências sugerir ligações entre várias categorias de drogas e comportamento violento, existe uma falta de ações preventivas destinadas à redução de violência, especificamente voltada para o tema tráfico de drogas. Embora esse seja um problema tradicionalmente considerado exclusivo da Justiça Criminal, ele é mais abrangente do que isso. A abordagem da saúde em face da violência relacionada às drogas oferece uma maneira de melhor entendimento, resposta e, finalmente, prevenção da violência relacionada ao uso de drogas ilícitas. PoDCAsT TRaNScRiTO que as taxas de criminalidade nos dizem? 3.2 CaRaCTeRiZaÇÃO da CRiMinaLidade nO BRaSiL É impossível dissociar a explosão da criminalidade da rápida e de- sordenada expansão urbana e populacional experimentada pelo país. Sachsida et al. (2010) apresentam em seu artigo algumas correlações positivas entre desemprego, taxa de crescimento urbano e aumento no número de crimes no Brasil. De forma semelhante, Cavalcanti e Gonçalves (2010) encontraram correlações positivas entre o IDH e a quantidade de homicídios na Região Metropolitana de Brasília. Curso FRoNt MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO 59 Veja a figura a seguir, extraída do relatório da Segurança Pública do Projeto Brasília 2060 (IBICT, 2015). Região Metropolitana São Paulo Rio de Janeiro Belo Horizonte Porto Alegre Recife AMB População (1970)
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