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Prévia do material em texto

Esta obra aborda os aspectos que envolvem a violência, a 
segurança pública e a criminalidade. Diretamente relacionado 
à violência, o narcotráfico representa um grave problema nas 
áreas de saúde e segurança, prejudicando o desenvolvimento 
econômico do país. 
O terrorismo é outro grave problema mundial. São abordados 
conceitos, histórico, tipos e formas de combate, além de uma 
discussão sobre as armas de destruição em massa, com 
potencial de aniquilação de milhares de vidas. 
A fim de propiciar uma visão abrangente e moderna da violência 
e do fenômeno criminológico, são analisados os riscos e as 
ameaças globais à segurança. Dentre os crimes modernos, 
estão os crimes digitais, também conhecidos como virtuais ou 
cibernéticos. Mergulhando no submundo da internet – a Deep 
Web e a Dark Web – é feita uma análise dos criminosos digitais, 
suas características e formas de atuação. 
Fruto de intensa pesquisa científica, em fontes nacionais 
e internacionais, devidamente temperada pela experiência 
profissional do autor (no Brasil e no exterior), esta obra traz um 
conteúdo interessante, atual e de fácil entendimento. 
Código Logístico
59231
Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-6595-0
9 7 8 8 5 3 8 7 6 5 9 5 0
Terrorismo, narcotráfico, 
organizações criminosas 
e crimes digitais 
Claudionor Agibert
IESDE BRASIL
2020
Todos os direitos reservados.
IESDE BRASIL S/A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
© 2020 – IESDE BRASIL S/A. 
É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito do autor e do 
detentor dos direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Fer Gregory/igorstevanovic/Torin55/Shutterstock
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO 
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
A213t
Agibert, Claudionor
Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais / 
Claudionor Agibert. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE, 2020. 
106 p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-6595-0
1. Criminologia. 2. Segurança pública. 3. Violência - Aspectos sociais. 
4. Crime - Aspectos sociais. I. Título.
20-62213 CDD: 364
CDU: 343.9
Claudionor Agibert Especialista em Administração Pública pela 
Faculdade Educacional Araucária (Facear); em Direito 
Administrativo Disciplinar pela Universidade Tuiuti do 
Paraná (UTP); em Aperfeiçoamento de Oficiais Policiais 
Militares; em Polícia Judiciária Militar e em Instrução 
de Armas de Fogo pela Academia Policial Militar 
do Guatupê (APMG) e em Proteção de Dignitários 
pelo Instituto de Tática Defensiva ISIS. Bacharel em 
Direito pela UTP e graduado no Curso de Formação 
de Oficiais Policiais Militares da APMG. Membro da 
Academia de Letras dos Militares Estaduais do Paraná 
(Almepar). Professor de graduação e pós-graduação 
em instituições de ensino superior. Capitão da reserva 
remunerada e instrutor de armas de fogo da Polícia 
Militar do Paraná. Advogado, consultor e parecerista, é 
membro da Comissão de Direito Militar da OAB/PR e da 
Associação Internacional de Chefes de Polícia e autor 
de livro sobre segurança executiva e de autoridades.
Agora é possível acessar os vídeos do livro por 
meio de QR codes (códigos de barras) presentes 
no início de cada seção de capítulo.
Acesse os vídeos automaticamente, direcionando 
a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet 
para o QR code.
Em alguns dispositivos é necessário ter instalado 
um leitor de QR code, que pode ser adquirido 
gratuitamente em lojas de aplicativos.
Vídeos
em QR code!
SUMÁRIO
1 Criminalidade, violência e segurança pública 9
1.1 Criminalidade e violência no mundo 9
1.2 Criminalidade e violência no Brasil 15
1.3 Organizações criminosas e grupos terroristas 19
2 Narcotráfico e suas implicações 27
2.1 Histórico do narcotráfico 27
2.2 Narcotráfico: conceitos, classificação e legislação 34
2.3 O problema das drogas e suas consequências 41
3 Terrorismo e destruição em massa 45
3.1 Conceito e histórico do terrorismo 45
3.2 A tipologia e os aspectos do terrorismo 47
3.3 Armas de destruição em massa 53
4 Segurança e globalização 68
4.1 Os riscos e as ameaças globais à segurança 68
4.2 A criminalidade e a violência modernas 73
4.3 Os novos desafios de segurança na globalização 77
5 Crimes digitais e o submundo da internet 86
5.1 Histórico dos crimes digitais 86
5.2 Conceitos, legislação e dificuldades de investigação 91
5.3 O submundo da internet 97
Esta obra aborda os aspectos que envolvem a violência, a segurança 
pública e a criminalidade, por meio de uma discussão sobre o terrorismo, as 
organizações criminosas, o narcotráfico e os crimes digitais.
No primeiro capítulo, discorremos sobre as questões da violência, 
da criminalidade e da segurança pública, nos níveis mundial e nacional. A 
violência tem como expressão máxima o crime de homicídio, cujos dados 
– mais de 450 mil por ano – indicam a gravidade do problema, fortemente 
impactado pelo tráfico de drogas.
No segundo capítulo, tratamos do narcotráfico, ilustrado, nesta obra, 
por meio de quadros, estatísticas e relatórios. Discutimos acerca de seu 
histórico (no mundo, na América Latina e no Brasil), perpassando conceitos 
e classificações, e fazemos uma análise de toda a legislação aplicável. Ao 
final, apresentamos um estudo sobre o grave problema que as drogas 
representam, bem como suas consequências nas áreas da saúde e segurança 
e para o desenvolvimento econômico do país. 
No terceiro capítulo, abordamos o conceito e o histórico do terrorismo, 
seus tipos e formas de combate, além de elencarmos os Estados considerados 
patrocinadores do terrorismo no mundo. Por fim, estudamos as armas de 
destruição em massa (químicas, biológicas, radiológicas e nucleares), com 
potencial de aniquilação de milhares de vidas em um único evento, e o debate 
sobre a sua proliferação, sob o manto dos diversos tratados internacionais 
existentes sobre o tema. 
A fim de propiciar uma visão abrangente e moderna da violência e do 
fenômeno criminológico, no quarto capítulo, analisamos os riscos e as 
ameaças globais à segurança, com foco na criminalidade e na violência 
modernas, e os desafios dos órgãos de segurança (pública e nacional) em um 
cenário permeado pela globalização. 
No quinto capítulo, tratamos dos crimes digitais – também conhecidos 
como virtuais ou cibernéticos –, incluindo seu histórico, conceitos e a legislação 
brasileira atualmente vigente sobre o assunto, além das dificuldades de 
investigação. Em seguida, apresentamos o submundo da internet – a Deep 
Web e a Dark Web – e fazemos uma análise dos criminosos digitais, suas 
características e formas de atuação. 
APRESENTAÇÃO
Fruto de intensa pesquisa científica, em fontes nacionais e internacionais, 
devidamente temperada pela experiência profissional (no Brasil e no 
exterior), esta obra pretende trazer um conteúdo interessante, atual e de fácil 
entendimento. 
Bons estudos!
Criminalidade, violência e segurança pública 9
Os temas criminalidade, violência e segurança pública são ex-
tremamente importantes e atuais, seja por causa de certa conexão 
existente entre eles, seja pelos impactos causados à sociedade.
Nesse sentido, estudá-los e compreendê-los servirá como ca-
talisador de uma postura tendente a mitigar as mazelas causadas 
pelas atividades ilícitas às comunidades.
Neste capítulo, serão abordadas as questões da violência, da 
criminalidade e da segurança pública, tanto sob uma perspectiva 
mundial quanto sob um prisma brasileiro, passando pelas origens, 
pela natureza humana inclinada à violência, entre outros fatores. 
Ao final, serão discutidos os aspectos das organizações criminosas 
e dos grupos terroristas, incluindo a legislação aplicável.
Criminalidade, violência 
e segurança pública
1
1.1 Criminalidade e violência no mundo 
Vídeo Antes de entrarmos no tema propriamente dito, é importante co-nhecer o conceito de violência. E, sem sombra de dúvidas, a definição 
mais adequada e compatível com as nuances do tema pode ser encon-
trada no World Report on Violence and Health:
O uso intencional de força física ou poder, de forma atual ou 
iminente, contra si mesmo(a), outra pessoa, ou contra um grupo 
ou comunidade, que tanto pode resultar ou tenha grande pro-
babilidade de resultar em ferimentos, morte, dano psicológico, 
desenvolvimento deficitário ou privação. (WORLD..., 2002, p. 5, 
tradução nossa)
É importante notar que a violência, por conseguinte, implica inten-
ção de usar força física ou poder, inclusive contra si mesmo, podendo 
ou tendendo a resultar em danos, mortes, entre outros. Pela análise do 
10 Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais
conceito, podemos verificar, ainda, que até o comportamento suicida, 
além dos conflitos armados e da agressão interpessoal, caracteriza-se 
como violência.
Dessa maneira, a violência incorpora não apenas atos que possam 
afetar a integridade física ou a vida de uma pessoa, mas também seu 
bem-estar psicológico, bem como o estado de desenvolvimento e de 
sustentabilidade de uma sociedade ou grupo.
A origem da criminalidade perpassa, necessariamente, a análise da 
natureza humana. Seria o ser humano por natureza inclinado à violên-
cia? Para responder a essa questão, recorremos ao texto de introdução 
à Encyclopedia of Genocide and Crimes Against Humanity, no qual verifi-
ca-se que:
Os seres humanos cometeram atrocidades uns contra os outros, 
demonstraram compaixão e altruísmo, e perpetraram e com-
bateram a opressão por pelo menos tanto tempo quanto se 
têm registro. O arquivo arqueológico bem como provas foren-
ses modernas revelam o incêndio de cidades, massacres, a es-
cravização e torturas infligidas nos dominados. O preâmbulo da 
Convenção contra o Genocídio de 1948 assinala que “em todos 
os períodos da história o genocídio infligiu grandes perdas à hu-
manidade”. É igualmente verdadeiro para crimes contra a huma-
nidade. Ao mesmo tempo, textos religiosos e filosóficos de todas 
as partes do mundo contêm variações na “Regra de Ouro”: trate 
os outros como você gostaria de ser tratado. Talvez seja impossí-
vel entender ou chegar a conclusões sobre essas “teses” antagô-
nicas da história humana para determinar se a natureza humana 
é inatamente boa ou intrinsecamente direcionada à violência e 
ao poder. (SHELTON, 2005, p. 11, grifos nossos, tradução nossa)
É interessante observar que, de acordo com a enciclopédia, existem 
muitos exemplos da “bondade” ou da “maldade” humana, de tal sorte 
que seria um tanto difícil definir exatamente a natureza do ser huma-
no, ou seja, se agressivo ou pacífico, se violento ou sereno.
Um outro tema relativo – porém não diretamente essencial – é a 
questão da violência humana e da guerra. Muitos estudos objetivaram 
compreender a lógica e a racionalidade da guerra. Em outros tempos, 
a guerra estava relacionada a território, poder e glória. Para Keegan 
(2006), a guerra está ligada à economia, à diplomacia e à política, em-
bora essa ligação não queira dizer que sejam semelhantes; afinal, a 
guerra é completamente diferente da diplomacia e da política, por ser 
Atividade 1
Descreva o conceito de 
violência, indicando se atos 
suicidas podem também ser 
enquadrados nesse conceito.
Criminalidade, violência e segurança pública 11
travada por aqueles que não possuem as mesmas habilidades de po-
líticos e diplomatas. “São valores de um mundo à parte, um mundo 
muito antigo, que existe paralelamente ao mundo do cotidiano, mas 
não pertence a ele” (KEEGAN, 2006, p. 16).
A explicação de Keegan revela que os participantes diretos de uma 
guerra possuem valores, critérios e características próprias, já que, em 
um cenário de guerra, alguns comportamentos considerados absurdos 
podem ser admitidos. É interessante notar que o mesmo autor, ao ini-
ciar seu conceito de guerra, explica que
“a guerra não é a continuação da política por outros meios”. 
O mundo seria mais fácil de compreender se essa frase de 
Clausewitz fosse verdade. [...] Nas duas formas, no entanto, o 
pensamento de Clausewitz, está incompleto. Ele implica a exis-
tência de Estado, de interesses de Estado e de cálculos racionais 
sobre como eles podem ser atingidos. Contudo, a guerra prece-
de o Estado, a diplomacia e a estratégia por vários milênios. A 
guerra é quase tão antiga quanto o próprio homem e atinge os 
lugares mais secretos do coração humano, lugares em que o ego 
dissolve os propósitos racionais, onde reina o orgulho, onde a 
emoção é suprema, onde o instinto é rei. (KEEGAN, 2006, p. 18)
Ao contra-argumentar Clausewitz, Keegan reforça o pensamento 
anterior, para acrescentar que os sentimentos, os sentidos e até a pró-
pria racionalidade na guerra não seguem uma lógica tradicional, pois 
parece ser inato no ser humano uma certa agressividade, uma tendên-
cia à guerra e ao conflito.
Seguindo essa linha de raciocínio, Grotius (2004, p. 101) entende 
que “entre os princípios naturais primitivos não há um sequer que seja 
contrário à guerra”. Seguindo esse raciocínio, muito antes de Keegan, 
Grotius igualmente aborda essa tendência natural do ser humano para 
a guerra, ou seja, para atos de violência. Nessa esteira, talvez o ser hu-
mano seja propenso à agressividade, mas essa possível natureza não 
implica, por si só, em criminalidade.
Muito se discute sobre a origem da criminalidade. Quais causas a 
explicam? Quais razões levam o homem a cometer delitos? Quais moti-
vações impulsionam tais atos? O que ocorre em uma sociedade em que 
algumas pessoas obedecem às normas e outras não?
Vemos que as teorias modernas sobre a criminalidade são ine-
ficazes em conseguir determinar uma única causa ou a origem do 
12 Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais
comportamento criminoso. Torna-se plausível, por conseguinte, 
conceber que existem inúmeras variáveis que contribuem para a 
criminalidade. Dentre elas, segundo Soares (apud VERGARA, 2002), 
pode-se mencionar o indivíduo, a sociedade, os controles, a cultura 
e até questões econômicas.
 Existem, de fato, peculiaridades dos indivíduos (personalidade, 
educação, criação etc.), peculiaridades da sociedade (casa, escola, am-
bientes sociais), mecanismos de controle (autocontrole e controle ex-
terno), mecanismos culturais (tais como as regras de convivência de 
um determinado grupo ou comunidade) e mecanismos econômicos 
que concorrem – em maior ou menor intensidade – para o cometimen-
to de delitos. 
Nessa perspectiva, o World Report on Violence and Health dispõe que:
Nenhum fato isolado explica porque uma pessoa e não outra age 
de maneira violenta. Nessa análise, o World Report on Violence and 
Health usa um modelo ecológico que leva em conta a multiplicida-
de dos fatores biológicos, sociais, culturais, econômicos e políticos 
que influenciam a violência. (WORLD, 2002, p. 12, tradução nossa)
O mesmo documento informa que há quatro níveis para o modelo: 
individual, relacionamentos, comunidade e sociedade. No que diz res-
peito ao nível individual, fatores biológicos e pessoais são estudados 
para tentar determinar a possibilidade de um indivíduo se tornar vítima 
ou agressor, considerando-se critérios como idade, educação, renda, 
desordens psicológicas ou de personalidade, abuso de substâncias e 
histórico de abuso.
Com relação ao nível relacionamentos, são estudadas as relações 
com familiares, amigos, parceiros e colegas e como essas relações po-
dem interferir no indivíduo. Também são pesquisadas as característi-
cas da comunidade na qual ocorrem as relações sociais, como escolas, 
igrejas, locais de trabalho e vizinhança, bem como a existência de tráfi-
co de drogas e padrões de mobilidade urbana, entre outros.
No quarto nível, sociedade, são abordadas as questões relativas às 
normas existentes e às políticas econômicas, educacionais, sociais e sa-
nitárias com o respectivo clima criado por elas, isto é,se inibidores ou 
estimuladores da violência. Dois exemplos sobre políticas públicas que 
podem inibir ou não a violência podem ser verificados a seguir:
Atividade 2
O ser humano é naturalmente 
agressivo? Essa possível carac-
terística tem relação direta com 
a prática de delitos violentos? 
Justifique.
Criminalidade, violência e segurança pública 13
 • A colocação de árvores com folhagem densa, com copas muito fe-
chadas ao longo de uma via, pode causar pontos cegos, com bai-
xa luminosidade, o que pode atrair criminosos a praticar delitos.
 • Muitas vezes, a ineficiência do Estado no fornecimento de itens 
básicos para a população de uma determinada localidade (como 
saneamento, energia elétrica, saúde, entre outros) ou o fato de 
fornecê-los de forma deficitária, pode contribuir para que essas 
pessoas sejam condescendentes com os criminosos daquela área 
– e, em casos mais graves, até os apoiem.
Geralmente, há muitas discussões sobre como 
mensurar a violência. Seria unicamente pelos crimes 
violentos? E, dentro deles, quais tipos de crimes?
Dentre os bens jurídicos mais importantes, estão 
a vida e a integridade física. Assim, quando se estuda 
a questão da violência, normalmente utiliza-se como 
parâmetro os dados estatísticos relativos ao crime 
de homicídio, uma vez que a violência se materializa 
mais propriamente nesse tipo de delito. Nesse senti-
do, compreender o homicídio, suas causas e variáveis 
auxilia de maneira significativa na análise, reflexão e 
raciocínio sobre a violência e a criminalidade.
Para a Organização das Nações Unidas (ONU, 
2019, p. 9), o homicídio intencional é caracterizado pela “morte ilegítima 
infligida em uma pessoa com a intenção de causar morte ou lesão gra-
ve”. Há, portanto, três elementos: o objetivo (somente um ser humano 
pode praticar homicídio contra outro); o subjetivo (a vontade de matar 
ou lesionar seriamente a vítima); e o legal (a morte contraria a lei).
Observando-se o Global Study on Homicide 2019, da ONU (2019), po-
de-se verificar que, em 2017, globalmente houve 6,1 homicídios para 
cada 100 mil habitantes; nas Américas, 17,2; na África, 13; na Ásia, 2,3; 
na Europa, 3, e na Oceania, 2,8. Já quando se fala em números absolu-
tos, tem-se 173 mil homicídios nas Américas; 163 mil na África; 104 mil 
na Ásia; 22 mil na Europa; e mil na Oceania. Outro aspecto relevante é 
que, de acordo com a mesma fonte, 54% (238.804) deles foram causa-
dos por arma de fogo 1 .
Figura 1
Ruas e becos com ilumina-
ção pública insuficiente se 
tornam um chamariz para 
criminosos oportunistas
Bu
rd
un
 Il
iya
/S
hu
tte
rs
to
ck
Houve registro de 464 mil 
homicídios em 2017 no mundo 
todo. No cálculo daqueles 
causados por arma de fogo, 
estão excluídos cerca de 23 
mil que foram causados por 
mecanismos desconhecidos.
1
14 Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais
Nessa análise, merece destaque a informação de que a maioria dos 
homicídios tem relação com o narcotráfico, de onde deriva uma refle-
xão: combater o narcotráfico pode contribuir significativamente para 
a diminuição da violência no mundo? Acredita-se que sim. O combate 
inteligente, estratégico, jurídico e técnico ao tráfico de drogas terá im-
pacto, sem sombra de dúvidas, nas taxas de homicídio.
No que diz respeito à posição do Brasil, em comparação com o mun-
do, artigo muito esclarecedor de Eugenio Goussinsky, intitulado Em 
ranking mundial de homicídios, Brasil ocupa 13º lugar, esclarece que, por 
exemplo, o Brasil ocupa o 13º lugar no mundo, com uma média de 27,8 
homicídios a cada 100 mil habitantes e, em números absolutos, cerca 
de 58 mil homicídios.
O Brasil, portanto, encontra-se em uma situação problemática, tendo 
em vista o elevado número de homicídios, que revela a violência des-
medida existente. Inúmeros fatores podem ser determinantes para tal 
situação, contudo, eles demandam análise específica em outro capítulo. 
A Tabela 1 2 , a seguir, demonstra os 20 países com maiores taxas de 
homicídio no mundo.
Tabela 1
Violência no Mundo
Brasil
• 13º lugar em taxa de homicídios
• 27,8 por 100 mil habitantes em 2016
País Região Número absoluto
Taxa de 
homicídios 
(por 100 mil)
Ano
1 El Salvador América Latina 3.954 60.0 2017
2 Jamaica América Latina 1.616 56.0 2017
3 Venezuela América Latina 16.046 53.7 2017
4 Honduras América Latina 3.791 42.8 2017
5 S. Cristóvão e Nevis América Latina 23 42.0 2017
6 Lesotho África 897 41.2 2015
7 Belize América Latina 142 37.2 2017
8 Trindade e Tobago América Latina 494 36.0 2017
9 São Vicente e Granadinas América Latina 39 35.5 2016
10 África do Sul África 18.673 34.3 2015
11 Santa Lúcia América Latina 57 34.0 2017
12 Bahamas América Latina 123 31.0 2017
13 Brasil América Latina 57.395 27.8 2016
14 Guatemala América Latina 4.410 26.1 2017
GOUSSINSK, E. Em ranking 
mundial de homicídios, Brasil 
ocupa 13º lugar. R7. Disponível 
em: https://noticias.r7.com/
internacional/em-ranking-
-mundial-de-homicidios-bra-
sil-ocupa-13-lugar-20072018. 
Acesso em: 7 nov. 2019.
2
(Continua)
Criminalidade, violência e segurança pública 15
País Região Número absoluto
Taxa de 
homicídios 
(por 100 mil)
Ano
15 Antígua e Barbuda América Latina 20 25.0 2017
16 Colômbia América Latina 10.200 22.0 2017
17 México América Latina 25.339 20.4 2017
18 Porto Rico América Latina 670 19.4 2017
19 Namíbia África 372 17.2 2012
20 República Dominicana América Latina 12 16.7 2013
1.2 Criminalidade e violência no Brasil 
Vídeo É de fundamental importância compreender o desenvolvimento 
histórico da violência no Brasil. Sobre o tema, Andrade (2018) discorre 
que na época do Brasil Colônia,
a violência se destaca no extermínio indígena, na violência e no 
racismo da escravidão e na subjugação das mulheres. Todos 
Fonte: Goussinsky, 2018.
Nota-se que o Brasil, infelizmente, encontra-se entre os países mais 
violentos do mundo, o que deve chamar à reflexão os administradores 
públicos e, igualmente, toda a sociedade, com o objetivo de modificar 
essa condição.
Goussinsky, ao tratar da repercussão e das possíveis razões da vio-
lência no Brasil, assim conclui:
A violência no País está repercutindo no mundo. Artigo do The 
New York Times, de junho último, ressaltou que, entre 1996 e 
2015, o Brasil gastou pelo menos cerca de R$ 450 bilhões, já que 
o país perde cerca de R$ 550 mil em cada assassinato de jovens 
entre 16 e 25 anos. Tais números podem ser explicados em parte 
por causa das dificuldades em se implantar uma política de se-
gurança preventiva, com investimentos em educação ainda in-
suficientes para reduzir essas taxas em curto e médio prazos. 
(GOUSSINKSY, 2018)
A situação da violência no Brasil é tema de artigos e matérias na 
imprensa internacional, sem contar os grandes custos que demanda, 
que sobrecarregam os cofres públicos e que, inversamente, poderiam 
ser usados em outras áreas, evitando-se os gastos com saúde pública.
Com essas informações em mente, faz-se necessário um estudo da 
criminalidade e violência no Brasil – ainda que de maneira superficial – 
para um melhor entendimento das variáveis envolvidas.
O 13º Anuário Brasileiro 
de Segurança Pública, de 
2019, apresenta material 
rico, condensado, bem re-
digido, com rigor científico 
e ilustrado com inúmeras 
nuances da violência no 
Brasil.
13º ANUÁRIO BRASILEIRO DE 
SEGURANÇA PÚBLICA 2019. São 
Paulo: Fórum Brasileiro de Segu-
rança Pública, 2007. Disponível em: 
http://www.forumseguranca.org.
br/wp-content/uploads/2019/10/
Anuario-2019-FINAL_21.10.19.pdf.
Site
16 Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais
esses foram territórios marcados pelas relações de dominação 
baseadas na violência e que se perpetuam no Império brasilei-
ro (1822-1889) a exemplo das revoltas e rebeliões, tais como a 
Revolta dos balaios, Cabanagem, Sabinada e a Guerra dos Farra-
pos. Na República Velha (1889-1930) [...], se consolidaram os co-
ronéis, que pautam seu poder na violência contra as populações 
do campo, a desigualdade sociale a pobreza aumentam a violên-
cia nos centros urbanos e a perseguição aos partidos políticos.
O Brasil, então, passa por uma fase de surgimento das primeiras 
comunidades, das quais egressam alguns criminosos que, pela inefi-
ciência do poder público, acabam exercendo grande influência sobre 
os integrantes de algumas delas.
Analisando o histórico da violência no Brasil, fica fácil inferir porque 
ela é tão presente em nossa sociedade atual, no século XXI. Infelizmen-
te, deve-se reconhecer até uma certa anestesia social com relação às 
notícias de diversos crimes praticados.
Parece que nada mais agride e nada mais surpreende a sociedade 
brasileira, de tão acostumada que está a cenas de violência e barbárie. 
Por isso, não se pode perder a capacidade de se indignar com a vio-
lência e dar sua parcela de contribuição para prevenir e/ou reprimir 
esses episódios. A providência preliminar a tomar é adotar um compor-
tamento preventivo, prestando mais atenção ao entrar e sair de casa, 
não fornecendo informações pessoais por telefone e não transitando 
com grandes somas de dinheiro em espécie.
A tabela a seguir apresenta os seguintes dados sobre homicídios 
nos Estados brasileiros.
Tabela 2
Dados de homicídios por Estado do Brasil
Distribuição dos estados brasileiros por faixa de taxas de 
homicídio/100 mil habitantes (mvi), em 2018
60-70/100.000 Roraima
50-60/100.000
Rio G. do Norte – Alagoas – Ceará – Sergipe – Amapá – Amazonas 
– Pará – (Acre)
40-50/100.000 Bahia – Pernambuco – Rio de Janeiro
30-40/100.000 Goiás – Mato Grosso – Espírito Santo – Paraíba
20-30/100.000 Paraná – Rondônia – Maranhão – Rio Grande do Sul – Tocantins
10-20/100.000 Mato Grosso do Sul – Piauí – Santa Catarina – Distrito Federal
0-10/100.000 São Paulo
Fonte: 13º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 2019.
Criminalidade, violência e segurança pública 17
Observamos que São Paulo, mesmo sendo o estado mais populo-
so, é o que apresenta o menor número de homicídios a cada 100 mil 
habitantes, sendo, portanto, o menos violento. Os estados do Sul apre-
sentam, em geral, índices de homicídio mais baixos que os estados do 
Norte e do Nordeste.
Outro aspecto muito importante é o custo da violência, ou seja, 
quanto de dinheiro público é gasto com as variáveis consequentes da 
criminalidade. Seguindo essa linha, o Atlas da Violência 2019 trata a 
violência como um grande problema, que afeta, ainda, a economia do 
país, uma vez que afeta o preço dos bens e serviços, além de inibir a 
acumulação de capital físico e humano, bem como o desenvolvimento. 
Há também o gasto do estado para manter o sistema de segurança 
pública e prisional, além dos recursos destinados ao sistema público 
de saúde e de assistência social para o pagamento de pensões, licenças 
médicas e aposentadorias para atender às vítimas de violência. Com 
tudo isso, estima-se que o custo social da violência no Brasil “seria algo 
equivalente a 5,9% do PIB” (IPEA, 2019).
Os impactos são sentidos em todos os campos, seja na saúde, na 
economia ou na educação. A seguir, a Tabela 3 ilustra graficamente o 
cenário do custo da violência.
Tabela 3
Custo econômico da violência no Brasil
Componente Ano de cálculo
Percentual 
do PIB
Bilhões 
de R$ (PIB 
2016)
Custos privados (I) 4,2% 262
Custos intangíveis com homicídios* 2012 2,5% 157
Gastos com segurança privada e seguros 2004 1,7% 105
Despesas públicas (II) 1,7% 111
Sistema de saúde 2003 0,1% 9
Segurança pública (polícia) 2015 1,4% 88
Sistema prisional* 2013 0,2% 14
Custo da violência no Brasil (I+II) 5,9% 373
Fonte: Diest/lpea. Trata-se de uma aproximação com base em Cerqueira (2014) e Cerqueira et al. (2007), atualizados com base no 
PIB corrente de 2016. *Consideramos os valores apurados pela CPI do sistema carcerário brasileiro (2015, p. 67) para os Estados e 
acrescentamos os gastos diretos da União.
O Atlas da Violência 2019 
apresenta em detalhes 
um diagnóstico da cri-
minalidade no Brasil, 
contendo gráficos, esta-
tísticas, tabelas, além de 
textos de grande valia, 
com fundamentação cien-
tífica.
IPEA - Instituto de Pesquisa Econô-
mica Aplicada. ATLAS DA VIOLÊNCIA 
2019. Brasília; Rio de Janeiro; 
São Paulo: Instituto de Pesquisa 
Econômica Aplicada; Fórum Brasi-
leiro de Segurança Pública, 2019. 
Disponível em: http://www.ipea.
gov.br/atlasviolencia/download/12/
atlas-2019.
Saiba mais+
18 Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais
Verificamos, por conseguinte, que a violência gera desafios enor-
mes para o sistema. Inegavelmente, a situação deficitária dos órgãos 
de segurança pública – o que aumenta a demanda para a segurança 
privada – associada às mudanças ocorridas nas últimas décadas, seja 
pela adoção de determinadas políticas públicas, seja pelas mutações 
da própria criminalidade, traz um panorama de preocupação.
Nesse sentido, Manso (2019, p. 32) analisa a situação brasileira con-
temporânea da seguinte forma:
Nos anos 80 e 90, a violência atingia o país de forma diferente 
da atual. Os estados do Norte e do Nordeste, por exemplo, ti-
nham as menores taxas de homicídios do Brasil. [...] Os seis pri-
meiros colocados do ranking de homicídios ficavam no Sudeste 
e Centro-Oeste [...]. A situação começou a mudar principalmente 
depois dos anos 2000. A transformação mais profunda ocorreu 
em São Paulo. O estado paulista se tornou o menos violento do 
ranking brasileiro, mantendo uma queda consistente que dura 
pelo menos 18 anos. Já os estados do Norte e do Nordeste viram 
a situação degringolar. As taxas de homicídios explodiram e os 
estados da região assumiram as dez primeiras posições entre as 
27 unidades da federação no Brasil. 
Portanto, é possível perceber uma transformação da violência no 
Brasil ao longo das últimas décadas. O mesmo autor faz uma reflexão 
muito pertinente:
As mudanças regionais na violência, o crescimento e a queda 
atual dos homicídios em 2018, são resultado do processo de 
transformação na cena criminal que produziu uma nova dinâmi-
ca de estratégia e relacionamento dentro e fora das prisões. Essa 
nova dinâmica foi sendo moldada a partir de políticas públicas 
implantadas nas últimas décadas, resultado de erros, acertos, 
omissões e excessos. Policiamento ostensivo, melhoria na ges-
tão das polícias, aprisionamentos em flagrante, no final das con-
tas, acabaram produzindo efeitos colaterais inesperados, como 
o aprisionamento massivo e a perda do controle no interior das 
prisões. Ou melhor: a terceirização do controle para os presos, 
que precisaram estabelecer um esquema de autogestão para 
sobreviver naqueles ambientes que o estado não parecia ter 
competência, dinheiro ou até mesmo interesse de administrar. 
(MANSO, 2019, p. 33)
Criminalidade, violência e segurança pública 19
É importante enfatizar que a cultura e o comportamento coletivo 
também impactam a questão da violência. Assim, podemos inferir que 
o aumento nos índices de violência reflete, em primeiro lugar, a crise 
do estado (CHESNAIS, 1999).
Claro que a evolução, o desenvolvimento e o amadurecimento so-
ciais são alcançados ao longo do tempo, de maneira que sociedades 
mais recentes precisam de mais experiência para atingir índices de vio-
lência menos preocupantes e mais razoáveis.
Com essas considerações, entendemos que, mesmo havendo ainda 
um longo caminho a trilhar, existe possibilidade de melhoria significati-
va da segurança pública brasileira. Para isso, faz-se necessária uma mu-
dança efetiva na consciência social do povo brasileiro, de modo a não 
aceitar atos de violência de qualquer natureza. Além disso, é necessário 
um esforço intenso das autoridades públicas para a adoção de políticas 
públicas de segurança que sejam sustentáveis, de médio e longo prazo, 
dentro de uma compreensão sistêmica do processo criminológico.
Deixando de lado uma visão maniqueísta ou simplista do fenôme-
no, na próxima seção estudaremos a violência sob uma perspectiva 
mais ampla e abrangente, isto é, como um fenômeno criminológico vin-
culadoa organizações criminosas e a grupos terroristas.
1.3 Organizações criminosas e grupos terroristas 
Vídeo Indiscutivelmente, a criminalidade, com o tempo, começou a ocor-
rer de maneira concatenada, coordenada e integrada. A globalização 
trouxe inúmeros benefícios, como a rápida conexão entre as pessoas, 
o acesso relâmpago a todo tipo de informação e a troca de experiência 
em vários campos profissionais. Todavia, tal fenômeno ocorreu tam-
bém no mundo do crime, pois, como aponta Valente (2019), o crime 
organizado assimilou as transformações e as combinou com as inova-
ções tecnológicas advindas da globalização e a especialização cada vez 
mais intensa de membros especialistas em diversas áreas, como em 
informática, transações comerciais etc.
20 Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais
No Brasil, pode-se encontrar o conceito de organização criminosa 
na Lei Federal n. 12.850, de 2 de agosto de 2013:
Art. 1º. Esta Lei define organização criminosa e dispõe sobre a 
investigação criminal, os meios de obtenção da prova, infrações 
penais correlatas e o procedimento criminal a ser aplicado. 
§ 1º Considera-se organização criminosa a associação de 4 (qua-
tro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada 
pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo 
de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natu-
reza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máxi-
mas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter 
transnacional. (BRASIL, 2013)
Uma observação relevante é que essa lei também é aplicada nos 
seguintes casos:
I – às infrações penais previstas em tratado ou convenção interna-
cional quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou 
devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente; 
II – às organizações terroristas, entendidas como aquelas voltadas 
para a prática dos atos de terrorismo legalmente definidos. (BRASIL, 
2013)
Dessa maneira, pode-se compreender que as organizações terroris-
tas também são consideradas, por extensão, organizações criminosas 
e, portanto, sujeitas às disposições da legislação vigente.
Verificamos, por conseguinte, que as organizações criminosas têm 
características de organização, como hierarquia em sua estrutura, pla-
nejamento, lucros como objetivo, tecnologias avançadas, recrutamen-
to de pessoas, divisão das atividades, além de “oferta de prestações 
sociais, divisão territorial das atividades, alto poder de intimidação, 
alta capacitação para a fraude, conexão local, regional, nacional ou 
internacional com outras organizações etc.” (VALENTE, 2019).
Assim, constata-se que as organizações criminosas estão cada vez 
mais se “profissionalizando” com funções executivas, gerenciais e de 
execução. Além disso, o sistema de recrutamento propicia a participa-
ção de diversos personagens, incluindo autoridades públicas. O plane-
jamento se assemelha, em muito, ao das grandes multinacionais, com 
claro objetivo de lucros.
Não podemos esquecer que o crime organizado transnacional, 
como os cartéis de drogas do México e da Colômbia, deve ser conside-
Atividade 3
Qual é o conceito de organiza-
ções criminosas?
Criminalidade, violência e segurança pública 21
rado. Nesse sentido, esclarecendo os tratados internacionais dos quais 
o Brasil é signatário – e que foram devidamente incorporados ao Direi-
to interno –, Anselmo (2017) ensina:
Deve-se destacar que o Brasil ratificou diversos instrumentos 
nos últimos tempos que buscam coibir o crime organizado 
transnacional, como: a Convenção das Nações Unidas contra 
o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e Substâncias Psicotrópicas 
(Convenção de Viena), promulgada pelo Decreto 154, de 26 de 
julho de 1991; a Convenção das Nações Unidas Contra o Crime 
Organizado Transnacional (Convenção de Palermo), promulga-
da pelo Decreto 5.015, de 12 de março de 2004; e a Convenção 
das Nações Unidas contra a Corrupção (Convenção de Mérida), 
promulgada pelo Decreto 6.587, de 31 de janeiro de 2006.
Pode-se observar, portanto, que o Brasil está sim preocupado com 
as associações criminosas, fazendo sua parte no que diz respeito ao 
ambiente internacional.
No que tange aos modelos de organizações criminosas, Clementino 
(2018) apresenta-nos quatro modelos: organizações criminosas tradi-
cionais; rede; empresarial; e endógena.
Para o mesmo autor, as organizações criminosas tradicionais:
apresentam estrutura hierárquico-piramidal, possuem rituais 
de inicialização para a investidura de seus membros, impera a 
omertà (lei do silêncio), são quase sempre baseadas no etno-
centrismo, há o controle de dado território por cada família, e 
os seus integrantes devem obedecer cegamente a algumas re-
gras específicas estipuladas quando de sua entrada na organi-
zação. (CLEMENTINO, 2018)
Cumpre ressaltar que essas corporações tradicionais têm raízes na 
criminalidade italiana, japonesa, russa e americana. No que diz respei-
to ao modelo rede, o autor aponta seu surgimento junto ao processo 
de globalização, entre os anos 1980 e início do século XXI. Em relação 
à organização, o modelo rede não apresenta hierarquia bem-definida, 
rituais ou estrutura permanente. Ao contrário da máfia, são grupos 
que se organizam temporariamente em decorrência da existência de 
oportunidades específicas e depois se desfazem. Esse modelo apre-
senta maior dificuldade de investigação para os órgãos policiais, uma 
vez que surge de acordo com situações pontuais e específicas.
22 Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais
Outro modelo importante é o empresarial, que, segundo Clemen-
tino (2018), “é constituído nos moldes de uma empresa lícita, porém 
para a prática de atividades ilegais. Ou seja, atividades legais são de-
senvolvidas por meio de lucros obtidos através de negócios escusos”. 
Dessa forma, existe uma aparência de licitude, mas, na realidade, há 
raízes na reiterada prática de crimes.
E, por fim, há o modelo endógeno, que consiste em organizações 
criminosas que atuam dentro das instituições públicas, sendo, por-
tanto, o modelo mais lesivo ao Estado, pois incorpora integrantes da 
própria Administração Pública. Atingindo todas as esferas do poder, o 
modelo endógeno é constituído principalmente de funcionários públi-
cos que praticam delitos contra a Administração Pública.
Importante notar a origem das organizações criminosas no Brasil. 
Sobre o tema, Clementino explica que talvez o primeiro exemplo de 
organização criminosa tenha sido o cangaço, sob a chefia de Lampião, 
apelido de Virgulino Ferreira da Silva, que comandava uma estrutura 
hierarquizada e permanente. 
Para outros, entretanto, a prática do jogo do bicho foi conside-
rada a primeira infração penal organizada no país. Ela foi criada 
no início do século XX pelo Barão de Drumond, que a idealizou 
com a finalidade de conseguir dinheiro para salvar os bichos do 
Jardim Zoológico no Rio de Janeiro. [...]. Nas palavras de Severino 
Coelho Viana: [...] a ideia popularizou-se e passou a ser patroci-
nada por grupos organizados, os quais monopolizaram o jogo, 
corrompendo policiais e políticos. Consta que, na década de 80, 
o jogo do bicho movimentou cerca de R$ 500.000 por dia com as 
apostas realizadas, sendo que de 4% a 10% deste montante foi 
destinado aos banqueiros. (CLEMENTINO, 2018)
Nota-se que a própria forma das organizações criminosas passou 
por etapas e modificações. Em complementação, Silva e Costa (2018) 
ensinam que durante o regime militar, por consequência da Lei de Se-
gurança Nacional, opositores do regime foram presos e dividiram es-
paço com criminosos comuns, resultando no aprendizado acerca de 
táticas de guerrilha, formas de organização, hierarquização, comando e 
clandestinidade repassados a eles pelos presos políticos. “Daí a nomen-
clatura de crime organizado e a ciência de porque as organizações mais 
perigosas no Brasil originaram-se dentro das prisões” (SILVA; COSTA, 
2018, p. 6, grifos do original).
Criminalidade, violênciae segurança pública 23
Realmente, os estabelecimentos prisionais aglutinaram diferentes 
tipos de criminosos, acarretando, como consequência, uma “mistura 
de habilidades”, o que acelerou ainda mais o processo de organização 
criminosa para os modelos atualmente conhecidos.
O crime organizado no Brasil, então, é basicamente centralizado 
nas atividades de tráfico de drogas, formação de milícias, roubos e até 
homicídios – tanto entre facções inimigas quanto os decorrentes das 
decisões dos chamados “tribunais do crime”.
No que diz respeito aos grupos terroristas, embora não existam 
muitos no mundo, eles foram responsáveis por mais de 10.600 mortes 
em 2017. Sobre eles, Ruic (2018) aponta o Estado Islâmico como res-
ponsável por 4.350 mortes, o Talibã por 3.571, o Al Shabaab por 1.457 
e o Boko Haram por 1.254. O Estado Islâmico registrou um número 
muito grande de mortes e, em que pese sua possível extinção, exerceu 
suas atividades com muita opressão e crueldade.
O número de mortes por ataques terroristas ao redor do mundo so-
fre uma concentração no Afeganistão, Iraque e Nigéria, como se pode 
visualizar no Gráfico 1 a seguir.
Gráfico 1
Número de mortes por ataques terroristas de 1998-2017
Desde o pico em 2014, o número de mortes por ataques terroristas caiu 44%.
40.000
35.000
30.000
25.000
20.000
15.000
10.000
5.000
0
1998 2002 2006 2010 201620142000 2004 2008 2012
Resto do 
Mundo
AfeganistãoIraque Nigéria
Europa e 
América do 
Norte
Fonte: Institute For Economics And Peace, 2018
24 Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais
Podemos notar que houve um aumento das mortes na Nigéria a par-
tir de 2012, seguindo com leve queda a partir de 2014. O Afeganistão, por 
sua vez, que também responde por grande número de mortes por ata-
ques terroristas, ficou em segundo lugar, mantendo essa posição. Depois 
do pico de mortes em 2014, houve uma queda de 44%, o que sugere a 
eficiência de algumas medidas tomadas pela comunidade internacional.
Dessa maneira, verificamos que os grupos terroristas são extre-
mamente perigosos. Exatamente por isso existem diversos estudos e 
políticas de Estado – principalmente dos Estados Unidos – voltadas ao 
combate e até à extinção dessas organizações.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Foi possível estudar a violência e a criminalidade tanto no espectro 
mundial quanto no brasileiro. Com efeito, a criminalidade sofre interferên-
cia de inúmeros fatores – pessoais, sociais, culturais e econômicos, entre 
outros –, podendo ainda migrar para outros locais.
No Brasil, por um lado, talvez a subcultura de “levar vantagem sem-
pre” tenha feito com que muitas pessoas utilizassem a violência como 
demonstração de poder. Por outro, a sobrecarga para os órgãos de segu-
rança pública provocou o aumento da demanda por segurança privada, 
com o surgimento dos “feudos modernos”, a exemplo dos condomínios 
residenciais e shopping centers.
No Brasil, as organizações criminosas surgiram nas prisões, sendo res-
ponsáveis pelo tráfico de drogas, utilizado como uma das fontes de finan-
ciamento, que também sustenta grupos terroristas.
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Criminalidade, violência e segurança pública 25
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https://jus.com.br/revista/edicoes/2018/7/19
https://jus.com.br/revista/edicoes/2018/7
https://jus.com.br/revista/edicoes/2018
26 Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais
GABARITO
1. Uso de força física, intencional, seja atual ou por ameaça, contra a própria pessoa ou 
contra outra, contra grupo ou comunidade, que possa causar morte, lesões corporais 
ou danos psicológicos. Sim, atentar contra a própria vida é considerado violência.
2. Como explica HugoGrotius (2004), existe uma certa agressividade natural no ser 
humano, um tipo de tendência inata à violência. Todavia, essa condição não pode, por 
si só, criar uma relação direta com a criminalidade, já que esta deriva da influência de 
inúmeras variáveis.
3. A “associação de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada 
pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou 
indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações 
penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de 
caráter transnacional”, nos termos do parágrafo 1º do artigo 1º da Lei Federal n. 
12.850, de 2 de agosto de 2013.
Narcotráfico e suas implicações 27
Neste capítulo, serão abordadas as questões sobre o 
narcotráfico, incluindo histórico, conceitos, classificação e 
legislação. Por meio da análise a ser empreendida aqui, será 
possível conhecer com maior profundidade o tema.
Ademais, o percurso deste estudo levará em conta o nível 
mundial, o panorama na América Latina e no Brasil, estudando 
como o tráfico de drogas se desenvolveu nessas regiões e como 
está o cenário atualmente.
Por fim, você conhecerá as nuances do uso de substâncias 
entorpecentes, bem como suas consequências.
Narcotráfico e suas 
implicações
2
2.1 Histórico do narcotráfico 
Vídeo Usualmente, ao ouvirmos a palavra droga, logo a associamos a 
substâncias que podem causar dependência, tornando seu usuário 
um viciado.
Contudo, é importante ressaltar que existem dois tipos de drogas: 
as lícitas e as ilícitas. As drogas lícitas são aquelas que podem causar 
dependência, mas que têm sua produção, comercialização e consumo 
autorizados por lei, por questões de política de Estado. Os principais 
exemplos de drogas lícitas são o álcool e o cigarro, além de uma série 
de medicamentos, como os anabolizantes, os descongestionantes na-
sais, os benzodiazepínicos (tranquilizantes), os xaropes e os anorexíge-
nos (medicamentos para inibição do apetite), dentre outros.
Por outro lado, as drogas ilícitas são aquelas que, também por ques-
tões de política de Estado, não têm sua fabricação, produção, comer-
cialização e distribuição permitidas. Dentre as drogas ilícitas, temos a 
cocaína, o crack, o ecstasy etc.
28 Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais
Exatamente pelo fato de que a licitude ou ilicitude de determinada 
substância é objeto de política de Estado é que existem diversos deba-
tes atualmente sobre a legalização de tais drogas, com destaque para 
a maconha (Cannabis sativa). Sobre esse assunto, a Figura 1 ilustra a 
situação da legalização da maconha no mundo.
Figura 1
Legalização da maconha no mundo
Legalizada 
(uso medicinal e recreativo)
Legalizada (uso medicina)
Legalização em andamento 
(uso medicinal)
Fonte: Marijuana Stox, 2019.
Observando o mapa, notamos que muitos países já tornaram lícita 
a produção e a comercialização de maconha, como o Uruguai, na Amé-
rica do Sul, e o Canadá, na América do Norte, além de vários estados 
americanos. Nesses locais a maconha pode ser usada para fins recrea-
tivos, bem como para uso medicinal.
Em outros casos, como no Brasil e na Austrália, a maconha pode ser 
usada para fins medicinais ou terapêuticos. Ainda há muitos países nos 
quais o processo de legalização está em andamento, como é o caso da 
Inglaterra, por exemplo. 
Não obstante, ainda que se considere que a análise sobre as drogas 
lícitas seja bem importante, o foco deste estudo é discorrer sobre as 
drogas ilícitas, em seus múltiplos aspectos, e sobre o narcotráfico, isto 
é, o comércio de drogas ilícitas.
2.1.1 Narcotráfico no mundo
De acordo com o World Drug Report (2018), estima-se que cerca de 
275 milhões de pessoas usaram drogas ilícitas em 2016. Segundo da-
dos da Global Financial Integrity (2017), o mercado ilegal das drogas ti-
Atividade 1
Somente as drogas ilícitas 
causam dependência? Justifique 
sua resposta.
Narcotráfico e suas implicações 29
nha um valor estimado, em nível mundial, de aproximadamente U$ 426 
a 652 bilhões em 2014.
Ainda segundo a mesma fonte, a maconha é responsável pela maior 
parte desse mercado, seguida pela cocaína, pelos opiáceos e estimu-
lantes baseados em anfetamina. Mas quando iniciou essa busca por 
substâncias hoje proibidas?
O uso de drogas é bastante antigo. Sobre sua história, Cordeiro 
(2019) afirma que
[o]s primeiros registros de consumo de drogas datam de 4.800 
anos atrás: inscrições da Suméria relacionam o ópio aos sím-
bolos que significam “alegria”. A maconha também é milenar 
– acompanha rituais religiosos desde pelo menos o terceiro mi-
lênio antes de Cristo, nos atuais Leste Europeu, Oriente Médio, 
Índia e China. Mais adiante, por volta de 1000 a.C., os antigos 
egípcios também aderiram.
Dessa maneira, verificamos que a questão remete a tempos remo-
tos e que o uso nem sempre foi visto como um problema, tal como 
é hoje. Até que essas substâncias se tornassem ilegais, houve várias 
convenções internacionais sobre as drogas, como se pode observar 
no artigo Drogas: Marco Legal, do Office on Drugs and Crime (Escritório 
sobre Drogas e Crime) da ONU, pelo seu Escritório de Ligação e Par-
ceria no Brasil:
Convenção Única sobre Entorpecentes, 1961 (emedada em 
1972): Esta convenção tem o objetivo de combater o abuso de 
drogas por meio de ações internacionais coordenadas. Existem 
duas formas de intervenção e controle que trabalham juntas: a 
primeira é a limitação da posse, do uso, da troca, da distribuição, 
da importação, da exportação, da manufatura e da produção de 
drogas exclusivas para uso médico e científico; a segunda é com-
bater o tráfico de drogas por meio da cooperação internacional 
para deter e desencorajar os traficantes;
Convenção sobre Substâncias Psicotrópicas, 1971: Esta con-
venção estabelece um sistema de controle internacional para 
substâncias psicotrópicas, e é uma reação à expansão e diversifi-
cação do espectro do abuso de drogas. A convenção criou ainda 
formas de controle sobre diversas drogas sintéticas de acordo, 
por um lado, a seu potencial de criar dependência, e por outro 
lado, a poder terapêutico; 
Convenção Contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e Subs-
tâncias Psicotrópicas, 1988: Essa convenção fornece medidas 
Figura 2
Cannabis sativa, planta de 
origem da maconha
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30 Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais
abrangentes contra o tráfico de drogas, inclusive métodos contra 
a lavagem de dinheiro e o fortalecimento do controle de percus-
sores químicos. Ela também fornece informações para uma co-
operação internacional por meio, por exemplo, da extradição de 
traficantes de drogas, seu transporte e procedimentos de trans-
ferência. (ONU, 2019a)
Nesse sentido, notamos o reconhecimento do mal causado pelas 
drogas à sociedade e um esforço global por parte da comunidade inter-
nacional para combater seu uso/abuso, bem como o tráfico.
No que se referte à produção, os estimulantes baseados em anfe-
tamina e a maconha são produzidos no mundo todo, enquanto a pro-
dução de cocaína e opiáceos está concentrada na América do Sul e no 
Afeganistão. Organizações criminosas, cartéis de drogas e grupos 
terroristas estão todos envolvidos com o narcotráfico.
Agora, merecem atenção especial duas drogas semissintéticas im-
portantes: a cocaína e a heroína. A cocaína foi desenvolvida em 1859 
pelo químico alemão Albert Niemann.
Figura 4
Erythroxylon coca, a planta que contém o alcaloide de cocaína.
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Atividade 2
Qual é a relação entre o tráfico 
de drogas e as organizações 
criminosas e o terrorismo?
Figura 3
Papaver somniferum, planta da qual se obtém o ópio.
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Narcotráfico e suas implicações 31
Como esclarece Cordeiro (2019), a colombiana Griselda Blanco seria 
a pioneira no tráfico de cocaína ao se mudar em 1970 para Nova Ior-
que, sendo considerada madrinhado Cartel de Medellín, na Colômbia.
A heroína é produzida a partir da morfina, que por sua vez deriva do 
ópio, um tipo de líquido esbranquiçado retirado da cápsula da flor da 
papoula. Foi sintetizada pela primeira vez em 1874 pelo químico inglês 
Charles Romley Alder Wright e utilizada pelos químicos alemães Felix 
Hoffman e Heinrich Dreser no laboratório Bayer (ANDREWS, 2017). 
Atualmente, a maior parte de sua produção se concentra no Afeganis-
tão, no México, em Laos e na Tailândia.
Segundo o World Drug Report (2018), o Afeganistão representou 86% 
da produção global de ópio em 2017. De acordo com a mesma fonte, 
da quantidade de drogas apreendidas no mundo, destaca-se a maco-
nha, com 53% das apreensões, os derivados de anfetamina (16%), os 
opioides (15%) e a coca/cocaína (10%).
Tendo visto o panorama da questão do narcotráfico no mundo, 
passemos a analisar a América Latina.
2.1.2 Narcotráfico na América Latina
De acordo com Moraes (2016), a desigualdade social é um dos prin-
cipais motivos pelo qual se formam grupos que praticam atividades 
criminosas, entre as quais se encontra o narcotráfico. Esses grupos sur-
gem “principalmente em populações mais pobres, nas favelas e perife-
rias, por falta de oportunidades de vida, sem acesso 
à educação, trabalho, moradia e segurança” 
(MORAES, 2016, p. 14).
Esse foi um dos fatores que influenciou de modo 
decisivo a substituição dos cultivos tradicionais pela 
implantação da coca e da maconha na América Lati-
na a partir dos anos 1970, depois da queda dos pre-
ços internacionais dos produtos agrícolas tropicais. 
Nesse período, ocorreu, ainda, o estabelecimento 
de uma aliança entre traficantes e guerrilheiros, que 
começaram a demonstrar interesse no mercado 
norte-americano.
O documentário Cocaine 
Cowboys trata do surgi-
mento do narcotráfico 
em Miami nas décadas de 
1970 e 1980. Nele, pode-
-se constatar a ligação da 
importação de cocaína 
com o crescimento da 
economia local, impul-
sionada pelo dinheiro do 
comércio ilegal da droga, 
com o desenvolvimento 
de negócios legais, inclu-
sive de alto padrão, e o 
crescimento da violência. 
Diretor: Billy Corben. Produção: 
Alfred Spellman, Billy Corben e 
David Cypkin. New York: Magnolia 
Pictures, 2006. 
Filme
Saiba mais+
Sabe-se que nos Andes as pessoas mascam a folha da coca para 
enfrentar os efeitos da altitude e melhorar a disposição física há 
muito tempo. Mas descobertas arqueológicas no Peru mostram 
que a prática é muito mais antiga do que se imaginava: chegam 
a datar de 8 mil anos atrás.
Folhas de coca
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32 Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais
Acerca da produção de drogas na América Latina, dados do Depar-
tamento de Estado dos Estados Unidos (2019) apontam os países que 
mais produzem ópio: a Colômbia produziu 24 toneladas em 2015; Gua-
temala, sete toneladas em 2016; e México, 944 toneladas em 2017.
Ainda segundo dados do Departamento, no que se refere à pro-
dução de heroína pura, os maiores produtores são: a Colômbia, com 
três toneladas em 2015; a Guatemala, com uma tonelada em 2016; e o 
México, com 111 toneladas em 2017.
Por fim, os maiores produtores de cocaína pura são: a Colômbia, 
com 921 toneladas em 2017; o Peru, com 491 toneladas em 2017; e a 
Bolívia, com 249 toneladas no mesmo ano.
Dessa maneira, verifica-se a ligação da desigualdade social e o 
desenvolvimento do narcotráfico nos países da América Latina, hoje 
grandes produtores de substâncias entorpecentes, especialmente ma-
conha, cocaína e heroína, distribuindo-as ao redor do mundo.
2.1.3 Narcotráfico no Brasil
Controlar e combater o narcotráfico no Brasil não é uma tarefa fácil, 
afinal, o nosso país faz fronteira com outros dez países, dos quais três 
são grandes produtores de cocaína (Bolívia, Peru e Colômbia). Embora 
o Brasil seja caracterizado como um país consumidor, por sua extensão 
territorial, acaba por servir de rota para o tráfico e refúgio para trafican-
tes em fuga. Além disso, ele é provedor dos materiais químicos para a 
produção e base para a lavagem de dinheiro.
De acordo com Cordeiro (2019), o narcotráfico se desenvolveu no 
Brasil com o surgimento da Falange Vermelha, que, no início dos anos 
1980, por causa da ascensão do tráfico na Bolívia e no Peru, começou a 
refinar e distribuir drogas para dar sustentação à sua estrutura.
Cabe ressaltar que até a década de 1970 o Brasil era basicamente 
consumidor de drogas. Depois, com o desenvolvimento das organiza-
ções criminosas brasileiras – como o Comando Vermelho e o Primeiro 
Comando da Capital (PCC) –, o tráfico se tornou organizado no país.
A história do narcotráfico no Brasil é recente – cerca de 50 anos. Sua 
organização em nosso país se deu a partir da ascensão de organizações 
criminosas e é responsável pelo financiamento das ações dessas orga-
nizações e de grupos terroristas.
Esse livro apresenta com 
detalhes a história da 
proibição das drogas, o 
surgimento do narcotrá-
fico e o funcionamento 
da chamada guerra às 
drogas. Aborda, também, 
a formação dos grupos 
narcotraficantes no Brasil, 
no México, na Colômbia e 
na Argentina e discute o 
tema da legalização.
RODRIGUES, T. Política e drogas 
nas Américas: uma genealogia do 
narcotráfico. São Paulo: Desatino, 
2017. 
Livro
Narcotráfico e suas implicações 33
Segundo dados do II Levantamento Nacional de Álcool e Drogas 
(Lenad) de 2012, observa-se a relação do consumo de drogas no Brasil 
entre adolescentes e adultos, conforme tabela a seguir.
Tabela 1
Proporção de indivíduos que utilizaram determinada 
substância alguma vez na vida
Substância
(Consumo na vida)
Adolescentes Adultos
% N % N
Cocaína 2,3 316.040 3,8 5.131.954
Estimulantes 1,3 182.302 2,7 3.694.737
Ritalina 0,6 87.050 0,4 568.249
Crack 0,8 108.867 1,3 1.766.438
OXI 0,5 66.454 0,3 420.099
Tranquilizantes 2,5 342.209 9,6 12.842.014
Solventes 2 275.460 2,2 2.907.375
Ecstasy 0,5 70.985 0,7 949.804
Morfina 0,1 14.258 0,8 1.105.167
Heroína 0,2 25.854 0,2 208.958
Esteroides 0,8 112.212 0,6 862.833
Alucinógenos 1,4 191.646 0,9 1.208.616
Anestésicos 0,4 52.091 0,5 695.600
Cristal 0,3 40.079 0,3 364.322
Maconha 4,3 597.510 6,8 7.831.476
TOTAL 13.947.197 134.370.019
Fonte: INPAD, 2012.
Podemos notar que a maconha é a droga mais consumida no Brasil, 
seguida de perto pela cocaína, enquanto a heroína é bem pouco con-
sumida. Os alucinógenos e os esteroides têm grande adesão entre os 
adolescentes, por causa dos efeitos experimentados.
O Brasil ainda é um país que tem se esforçado para tratar o consu-
mo e o tráfico de entorpecentes de maneira satisfatória. Ainda que a 
Lei Federal n. 11.343/2006 seja relativamente recente, a Política sobre 
Drogas no Brasil trouxe muitas mudanças no sistema, como um trata-
mento diferenciado ao usuário.
34 Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais
Na legislação anterior o usuário estava sujeito a penas privativas de 
liberdade, enquanto a atual norma prevê tratamento para essa situa-
ção. Vejamos o que dispõe a Lei Federal n. 11.343/2006:
Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar 
ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autoriza-
ção ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar 
será submetido às seguintes penas: 
I – advertência sobre os efeitos das drogas; 
II – prestação de serviços à comunidade; 
III – medida educativa de comparecimento a programa ou curso 
educativo. 
§ 1º. Às mesmas medidas submete-se quem, para seu consumo 
pessoal, semeia, cultiva ou colhe plantas destinadas à prepara-
ção de pequena quantidade de substância ou produto capaz de 
causar dependência física ou psíquica. (BRASIL, 2006)
O tráfico de drogas é uma atividade extremamente prejudicial, tanto 
para a saúde das pessoas usuárias de drogas como para a estabilidade 
da sociedade. Assim, a sociedade deve se engajar na conscientização 
preventiva sobre o abuso de drogas e o tráfico deve ser combatido com 
rigor pelas autoridadescompetentes.
2.2 Narcotráfico: conceitos, 
classificação e legislação Vídeo
Nesta seção, conheceremos os tipos de drogas ilícitas e sua classifi-
cação. Para iniciar, é preciso saber que existem fundamentalmente as 
drogas naturais, produzidas a partir de plantas – como a maconha –, as 
drogas chamadas sintéticas, desenvolvidas totalmente em laboratório 
– como o LSD –, e as ditas semissintéticas, produzidas em laboratório, 
mas derivadas de plantas – como a heroína e a cocaína.
É interessante notar que a dependência química é considerada um 
problema de saúde, devidamente catalogado na Classificação Inter-
nacional de Doenças (CID) na categoria “transtornos mentais de com-
portamento”, sendo considerada uma doença crônica e recidivante (o 
doente tem recaídas), caracterizada pela busca e consumo compulsivo.
Analisando o CID-F, serão encontradas as seguintes substâncias que 
causam dependência: álcool, opiáceos, canabinoides, sedativos e hip-
Narcotráfico e suas implicações 35
nóticos, cocaína, outros estimulantes, como a anfetamina e a cafeína, 
alucinógenos, tabaco e solventes voláteis.
São exemplos de substâncias depressoras o álcool, os barbi-
túricos (soníferos), os ansiolíticos (tranquilizantes), os sedativos 
(calmantes), o ópio, a morfina, os xaropes e gotas para tosse, e os 
inalantes ou solventes (colas, tintas, removedores). Sobre os efeitos 
das drogas depressoras, Frazão (2019) explica que elas diminuem a 
capacidade de raciocínio e de concentração, potencializam a sensa-
ção de calma e tranquilidade. Há ainda a sensação de relaxamento 
exagerado e bem-estar, e podem provocar aumento da sonolência, 
diminuição dos reflexos, maior resistência à dor e dificuldade em 
fazer movimentos delicados.
Esses efeitos se relacionam, ainda, com a diminuição da capa-
cidade para dirigir, da capacidade de aprendizagem na escola e 
da rentabilidade no trabalho. Pode-se notar, portanto, que as dro-
gas depressoras tendem a diminuir as tensões e o estresse, dando 
sensação de bem-estar e de despreocupação.
Os principais exemplos de substâncias estimulantes são as an-
fetaminas, a nicotina (presente no cigarro) e a cocaína. Sobre os efei-
tos das drogas estimulantes, Frazão (2019) comenta que podem ser 
observadas intensa euforia e sensação de poder, estado de excita-
ção, muita atividade e energia, diminuição do sono e perda do ape-
tite, além de fala muito rápida, aumento da pressão e da frequência 
cardíaca, descontrole emocional e perda da noção da realidade.
Por outro lado, as drogas estimulantes darão energia para o 
usuário, fazendo com que ele se sinta um super-humano, que apa-
rentemente não precisa dormir, comer ou descansar.
Dentre os principais exemplos de substâncias alucinógenas, te-
mos a maconha, o ecstasy e o LSD. Sobre os efeitos das drogas per-
turbadoras, é comum o usuário relatar alucinações, principalmente 
visuais como alteração das cores, formas e contornos dos objetos, 
percepção alterada de tempo e espaço, sensação de enorme prazer 
ou de medo intenso, suscetibilidade a entrar em pânico ou se exal-
tar, delírios relacionados à perseguição.
Albert Hofmann (1906-2008) 
foi o cientista responsável 
pela sintetização do LSD em 
1938, quando trabalhava 
no isolamento de princípios 
ativos presentes no fungo ergo, 
um parasita do centeio.
Dr. Albert Hofmann, em 
2006, com 100 anos.
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Saiba mais+
36 Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais
Figura 5
Narcóticos e sua interação no sistema nervoso central
Depressoras 
Diminuem a atividade cerebral, deixando o indivíduo 
“desligado”. Reduzem a tensão emocional, a 
atenção, a concentração, a memória e a capacidade 
intelectual. Podem causar sonolência, embriaguez e 
em casos extremos o coma.
Estimulantes
Aumentam a atividade do cérebro, fazendo com que 
a pessoa fique “ligada”, “elétrica”. Podem inibir as 
sensações de fome, cansaço e sono, podendo produzir 
estados de excitação e aumento da ansiedade. 
Perturbadoras 
Também chamadas de alucinógenas, modificam 
a qualidade da atividade do cérebro, que passa a 
funcionar de forma anormal. Alteram a percepção 
e o pensamento e produzem alucinações e 
delírios. 
Narcotráfico e suas implicações 37
As drogas ilícitas mais comuns são a maconha, o ecstasy, o LSD, a 
heroína, a cocaína e o crack. Vamos conhecer cada uma delas, bem 
como seus respectivos efeitos.
2.2.1 Maconha
Maconha é o nome dado no Brasil à Cannabis sativa. As folhas 
podem ser fumadas ou ingeridas. Há também o haxixe, pasta semi-
sólida obtida por meio de grande pressão nas inflorescências, pre-
paração com maiores concentrações de THC (tetra-hidrocanabinol 
– causadora dos efeitos).
Há efeitos físicos e psíquicos (agudos e crônicos) que podem ser 
observados. Dentre os efeitos psíquicos agudos, é comum relatos de 
uma sensação de bem-estar acompanhada de calma e relaxamento, 
angústia, atordoamento, ansiedade e medo de perder o autocontro-
le, tremores associados à sudorese, entre outros.
Dentre os efeitos psíquicos crônicos, observa-se interferência na 
capacidade de aprendizagem e memorização e indução a um estado 
de diminuição da motivação, que pode chegar à síndrome amotiva-
cional, caracterizada pela passividade, apatia, isolamento e perda da 
capacidade de expressar emoção ou entusiasmo com as coisas, falta 
de cuidado com a aparência, bem como diminuição da capacidade 
de concentração, atenção e memória.
No que se refere aos efeitos físicos agudos, verifica-se a hipere-
mia conjuntival (olhos ficam avermelhados), diminuição da produ-
ção de saliva (sensação de secura na boca) e taquicardia.
No tocante aos efeitos físicos crônicos, problemas respiratórios 
são comuns, uma vez que a fumaça produzida pela maconha con-
tém alto teor de alcatrão (maior que o tabaco) e nele pode existir 
uma substância chamada benzopireno, conhecido agente cancerí-
geno. Ocorre ainda uma diminuição de 50% a 60% na produção de 
testosterona dos homens, e pode causar infertilidade.
A maconha é a droga mais consumida no Brasil, seja pela facili-
dade de acesso, seja pela “tolerância” ao uso recreativo devido às 
manifestações pró-legalização.
38 Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais
2.2.2 Cocaína e crack
A cocaína, como já dito em seção anterior, é obtida a partir da folha 
da coca. Depois de devidamente preparada a folha, são adicionados 
solventes, como gasolina, e ácido sulfúrico, dando origem à pasta-base 
da cocaína.
Depois dessa fase, a pasta-base da cocaína é tratada com solventes 
e ácido clorídrico, dando origem à cocaína sob a forma de pó – 
cloridrato de cocaína –, que pode ser aspirado ou dissolvido em água e 
injetado. Como subprodutos da última fase, restam a merla e o crack. 
A merla e o crack podem ser fumados.
A cocaína é a segunda droga mais usada no Brasil, perdendo ape-
nas para a maconha. O crack é utilizado cerca de três vezes menos 
que a cocaína. Dentre os efeitos da cocaína, pode-se observar sensação 
intensa de euforia e poder, estado de excitação, hiperatividade, insônia, 
falta de apetite e perda da sensação de cansaço. 
Já o crack causa os seguintes efeitos físicos: perda de apetite, taqui-
cardia, aumento da pressão sanguínea e da temperatura corporal, vasos 
sanguíneos contraídos, aumento do ritmo respiratório e pupilas dilata-
das. Dentre os efeitos comportamentais, observa-se padrões de sono 
perturbados; hiperestimulação da atividade motora; comportamento bi-
zarro, errático, algumas vezes violento; alucinações, hiperexcitabilidade, 
irritabilidade; alucinações tácteis que criam a ilusão de insetos a rastejar 
debaixo da pele; euforia intensa; ansiedade e paranoia; depressão; ânsia 
intensa da droga; pânico e psicose.
Notamos, portanto, que a cocaína e o crack são extremamente no-
civos à saúde, merecendo atenção e preocupação do governo e da 
sociedade.
Tendo verificado quais são as drogas ilícitas mais comuns, agora es-
tudaremos um pouco sobre o narcotráfico, isto é, o comérciode drogas 
ilícitas, processo que se inicia com o cultivo (se aplicável), seguido pela 
produção e distribuição, finalizando com a venda ao consumidor.
É notoriamente conhecida a informação de que o narcotráfico está 
relacionado ao financiamento de organizações criminosas e até terro-
ristas. Consequentemente, ele está ligado ao alto índice de homicídio 1 , 
uma vez que há, segundo Portella et al. (2016, p. 6, tradução nossa), 
“uma associação estatisticamente significativa entre o coeficiente do 
Atividade 3
Qual é o conceito de 
narcotráfico?
O índice de homicídios é 
considerado parâmetro para 
aferição do nível de violência 
de uma determinada localidade 
por ser o delito que atinge o 
bem jurídico mais importante 
(a vida). 
1
Narcotráfico e suas implicações 39
homicídio intencional e o tráfico de drogas, o índice de pobreza e a pro-
porção entre afro-descentes masculinos entre 15 e 49 anos”.
No que se refere à legislação, podemos afirmar que, em termos ge-
rais, no mundo todo o narcotráfico é considerado atividade ilícita e, 
portanto, crime passível de condenação – em alguns países até com a 
pena de morte.
No Brasil, o Sistema Nacional de Políticas Públicas Sobre Drogas (Sis-
nad) foi instituído pela Lei Federal n. 11.343, de 23 de agosto de 2006, trou-
xe diversas modificações, dando tratamento diferenciado ao usuário e 
prevendo punições rigorosas para o traficante, entre outras providências.
Com relação à proibição em território brasileiro:
Art. 2º. Ficam proibidas, em todo o território nacional, as dro-
gas, bem como o plantio, a cultura, a colheita e a exploração de 
vegetais e substratos dos quais possam ser extraídas ou produ-
zidas drogas, ressalvada a hipótese de autorização legal ou re-
gulamentar, bem como o que estabelece a Convenção de Viena, 
das Nações Unidas, sobre Substâncias Psicotrópicas, de 1971, 
a respeito de plantas de uso estritamente ritualístico-religioso. 
(BRASIL, 2006)
Fica bastante claro, por conseguinte, que no Brasil a maioria das drogas 
é absolutamente proibida, ressalvadas algumas exceções. Nessas exceções 
entram, por exemplo, o álcool e o tabaco, drogas denominadas lícitas.
Também são vedados o plantio, o cultivo, a colheita e a exploração 
de vegetais dos quais podem ser produzidas drogas. Nessa situação 
se enquadram a coca, a papoula e a cannabis, com 
uma excepcionalidade: plantas utilizadas em cultos 
religiosos.
Sob esse enfoque, inclui-se, por exemplo, o ci-
pó-mariri (Banisteriopsis caapi), o qual, combinado 
com outras plantas, resulta na bebida denominada 
ayahuasca 2 , utilizada nas religiões ayahuasqueiras, 
como o Santo Daime e a Barquinha, entre outras.
A utilização da ayahuasca foi regulamentada 
pelo Conselho Nacional de Políticas Sobre Drogas 
(Conad), por meio da Resolução n. 001/2010, ficando 
vedados a produção da bebida para fins lucrativos, 
seu comércio e exploração turística.
Figura 6
Banisteriopsis caapi, planta nativa da região amazônica.
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O vocábulo ayahuasca pode se 
referir tanto à bebida quanto 
à planta.
2
40 Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais
Um outro aspecto relevante da Lei n. 11.343/2006 é a matéria relati-
va aos crimes. Pela leitura do artigo 28, observa-se o seguinte:
Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar 
ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autoriza-
ção ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar 
será submetido às seguintes penas: 
I – advertência sobre os efeitos das drogas; 
II – prestação de serviços à comunidade; 
III – medida educativa de comparecimento a programa ou curso 
educativo. 
§ 1º. Às mesmas medidas submete-se quem, para seu consumo 
pessoal, semeia, cultiva ou colhe plantas destinadas à prepara-
ção de pequena quantidade de substância ou produto capaz de 
causar dependência física ou psíquica. (BRASIL, 2006)
Aqui fica muito clara a política brasileira sobre o uso/consumo pes-
soal de qualquer droga, no sentido de que o usuário deve ser conside-
rado uma pessoa doente e que precisa de tratamento. Um ponto de 
grande controvérsia, no entanto, é a caracterização do consumidor/
usuário pessoal, uma vez que não existem critérios objetivamente defi-
nidos para tanto.
Isso quer dizer que, dependendo das circunstâncias, uma pessoa 
com “grande” quantidade de droga pode ser considerada usuária, ao 
mesmo tempo que alguém portando uma pequena quantidade de dro-
ga pode ser considerada traficante.
Assim, nos termos da Lei Federal n. 11.343/2006, o critério quantitati-
vo não pode ser determinante isoladamente, mas deve estar agregado a 
outros critérios, como o local, a conduta do agente e seus antecedentes, 
entre outros, como se vê no texto do artigo 28, parágrafo 2º:
Para determinar se a droga destinava-se a consumo pessoal, o 
juiz atenderá à natureza e à quantidade da substância apreen-
dida, ao local e às condições em que se desenvolveu a ação, às 
circunstâncias sociais e pessoais, bem como à conduta e aos an-
tecedentes do agente. (BRASIL, 2006)
Em relação ao que a lei considera como crimes previstos, os artigos 
33 e 36 assim enunciam:
Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, 
adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, trans-
portar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar 
a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem 
Para mais informações sobre 
o ayahuasca, ver ZUBEN, M. V. 
von. Ayahuasca – bebida sagra-
da com potencial farmacológico. 
Disponível em: http://www.
toxicologia.unb.br/?pg=desc-
-noticias_foco&id=40.
Saiba mais+
Embora a lei de drogas 
brasileira não seja per-
feita, ela tem o mérito de 
estabelecer um novo sis-
tema ao tratar de manei-
ra diferenciada usuário, 
dependente e traficante 
de drogas. Fundamental 
para a melhor compreen-
são do tema, esse livro se 
embasa na melhor doutri-
na e jurisprudência, com 
vistas a analisar a Lei n. 
11.343, de 23 de agosto 
de 2006. 
SILVA, C. D. M. da. Lei de drogas 
comentada. 2. ed. São Paulo: As-
sociação Paulista do Ministério Pú-
blico, 2016. Disponível em: http://
www.mpsp.mp.br/portal/page/
portal/Escola_Superior/Biblioteca/
Biblioteca_Virtual/Livros_Digitais/
APMP%203330_Lei_de_dro-
gas_Cesar%20Dario.pdf.
Livro
http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/Escola_Superior/Biblioteca/Biblioteca_Virtual/Livros_Digitais/APMP%203330_Lei_de_drogas_Cesar%20Dario.pdf
http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/Escola_Superior/Biblioteca/Biblioteca_Virtual/Livros_Digitais/APMP%203330_Lei_de_drogas_Cesar%20Dario.pdf
http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/Escola_Superior/Biblioteca/Biblioteca_Virtual/Livros_Digitais/APMP%203330_Lei_de_drogas_Cesar%20Dario.pdf
http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/Escola_Superior/Biblioteca/Biblioteca_Virtual/Livros_Digitais/APMP%203330_Lei_de_drogas_Cesar%20Dario.pdf
http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/Escola_Superior/Biblioteca/Biblioteca_Virtual/Livros_Digitais/APMP%203330_Lei_de_drogas_Cesar%20Dario.pdf
http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/Escola_Superior/Biblioteca/Biblioteca_Virtual/Livros_Digitais/APMP%203330_Lei_de_drogas_Cesar%20Dario.pdf
Narcotráfico e suas implicações 41
autorização ou em desacordo com determinação legal ou regu-
lamentar: Pena – reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e paga-
mento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa. 
[...]
Art. 36. Financiar ou custear a prática de qualquer dos crimes 
previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 desta Lei: Pena – reclu-
são, de 8 (oito) a 20 (vinte) anos, e pagamento de 1.500 (mil e 
quinhentos) a 4.000 (quatro mil) dias-multa. (BRASIL, 2006)
Pela análise dos delitos previstos na referida legislação e as penas a 
eles aplicáveis, concluímos que no Brasil existe uma política de repres-
são intensa ao narcotráfico, com penas relativamente altas, multas pe-
sadas e expropriação de bens móveis e imóveis utilizados nos crimes.
Na próxima seção, você conhecerá as nuances do uso de substân-

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