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3 Modalidades e transmissões das obrigações

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Modalidades e transmissões das obrigações
Prof.ª Fernanda Paes Leme
false
Descrição
As diversas modalidades obrigacionais e as formas de transmissão das
obrigações.
Propósito
A compreensão das espécies obrigacionais e das formas de
transmissão das obrigações é fundamental para a qualificação jurídica
dos diversos negócios que são realizados, bem como para a adequada
atração da normativa jurídica aplicável.
Preparação
Antes de iniciar a leitura do presente conteúdo, tenha em mãos o Código
Civil.
Objetivos
Módulo 1
Obrigação de dar, fazer e não fazer
Analisar as obrigações de dar, fazer e não fazer.
Módulo 2
Obrigações alternativas, divisíveis,
indivisíveis e solidárias
Distinguir as obrigações alternativas, divisíveis, indivisíveis e
solidárias.
Módulo 3
Cessão de crédito e assunção de dívida
Identificar a cessão de crédito e a assunção de dívida.
Neste conteúdo, examinaremos as principais formas quanto ao
perfazimento das obrigações nos casos concretos.
Assim, o presente estudo verificará de que forma as obrigações
podem ser adimplidas em seus aspectos positivos e negativos de
agir, como podem ser eventualmente repactuadas e fracionadas e,
ainda, de que forma pode-se operar a transferência quanto ao
posicionamento de credores e devedores.
Introdução
1 - Obrigação de dar, fazer e não fazer
Ao �nal deste módulo, você irá analisar as obrigações de dar, fazer e não fazer.
Primeiras palavras
A estrutura da relação jurídica obrigacional é composta por três
elementos essenciais:

O elemento subjetivo

O elemento objetivo

O vínculo jurídico
Cada um desses elementos possui características e funções próprias.
O elemento objetivo, especificamente, corresponde ao objeto da relação
obrigacional, que é a prestação, a qual representa, a um só tempo, o
dever principal do devedor e o direito do credor em decorrência daquele
vínculo estabelecido entre as partes da relação.
Obrigações de dar, fazer e não fazer
Vamos compreender quais são as principais características e o regime
jurídico dessas obrigações?
A classificação das obrigações a partir do critério objetivo, qual seja, da
prestação, objeto da relação jurídica obrigacional, já se fazia presente no
direito romano, e até os dias atuais é adotada por algumas codificações,
dentre elas, o nosso atual Código Civil. Trata-se de uma classificação
que segue as três condutas esperadas do devedor, quais sejam: dar,
fazer ou não fazer.
Comentário
É importante destacar que tais classificações ou modalidades têm por
fim facilitar a qualificação dos negócios jurídicos eventualmente
celebrados entre as partes e/ou a sistematização da disciplina jurídica
aplicável, sendo determinante para indicar a forma de cumprimento e,
consequentemente, a caracterização de eventual inadimplemento,
atraindo ou afastando certas consequências jurídicas específicas,
delimitando a divisão dos riscos etc.
Assim, em uma compreensão inicial, com foco no objeto da prestação
em si, as obrigações reverberam-se em prestações positivas,
envolvendo obrigações de dar (coisa certa ou incerta) e fazer. Noutro

giro, as obrigações podem ser negativas, isto é, envolvem uma postura
de abstenção, ligada às obrigações de não fazer.
Obrigações de dar
Aqui o devedor tem como prestação principal colocar à
disposição do credor certo bem jurídico, como no caso da
compra e venda, quando o devedor se obriga a entregar ao credor
o bem, objeto do negócio realizado.
Obrigações de fazer
Já nas obrigações de fazer, o devedor se obriga a prestar um
serviço ou a realizar certa atividade para o credor. Podemos citar
como exemplo o caso da prestação de serviços advocatícios.
Obrigações de não fazer
Por fim, nas obrigações de não fazer, o devedor é obrigada a
abster-se de realizar algo que, a princípio, poderia ter a faculdade
de fazer, por exemplo, quando certo artista se vincula com
exclusividade à determinada marca.
A distinção entre obrigações de dar e de fazer, usualmente, é simples,
pois, enquanto a primeira modalidade sempre envolverá um bem/coisa
como prestação principal, a segunda sempre envolverá uma atividade
propriamente dita como finalidade primordial.
No entanto, algumas situações podem figurar-se mais complexas
quando, por exemplo, contrata-se alguém para prestar um serviço que
se materializará na entrega de uma coisa. A título de ilustração, a
contratação de um marceneiro para a fabricação de um móvel ou de um
costureiro para confecção de determinada roupa.
Nas situações em que o devedor realiza uma atividade e entrega uma
coisa, resultado dessa mesma atividade, surge a dúvida acerca da
correta qualificação da obrigação, de dar ou de fazer.
Nesses casos, é necessário verificar a intenção das partes do negócio,
especialmente sob a perspectiva do credor, a fim de identificar o que era
mais relevante, a atividade ou a entrega da coisa, independentemente de
quem a realizou.
Reitera-se a importância da correta qualificação da modalidade
obrigacional estabelecida pelas partes em razão da disciplina jurídica
aplicável a uma ou outra modalidade ser distinta e, principalmente, em
razão das consequências jurídicas de eventual inadimplemento e, até
mesmo, para fins de configuração da extinção da obrigação.
Exemplo
Se é uma obrigação de fazer personalíssima e o devedor vem a falecer
antes do termo, haverá a extinção, sendo certo que, se a obrigação
fosse de dar, haveria a possibilidade, como regra, de transmissão da
obrigação.
De toda forma, qualquer que seja a modalidade, as obrigações devem
atender a alguns requisitos para que se perfaçam. Devem ser
materialmente possíveis, ou seja, a prestação deve ser alcançável, sob
pena de se tornar nula.
Além disso, devem ser determináveis, significando dizer que, ainda que
a prestação não seja determinada, deve ser capaz de ser determinável
por meio de critérios objetivos, como gênero, quantidade e qualidade.
Por fim, a prestação deve expressar patrimonialidade, verificada por
meio de algum valor pecuniário; assim, mesmo que a prestação seja
extrapatrimonial, deve ser capaz de ser convertida em algum valor
econômico.
Obrigação de dar
A obrigação de dar é aquela cuja prestação principal consiste na entrega
ou disponibilização de certa coisa móvel ou imóvel pelo devedor ao
credor, com a finalidade de transferir posse ou domínio, facultar o uso
da coisa, constituir direito real, aperfeiçoar contratos reais ou restituir
um bem.
Trata-se de um gênero que comporta três espécies:

Obrigação de dar coisa certa

Obrigação de dar coisa incerta

Obrigação de restituir
Comentário
Sobre a obrigação de restituir, as especificidades serão abordadas nos
subitens a seguir.
Usualmente, a obrigação de dar tem como fonte geradora um contrato,
como a compra e venda, a locação, o comodato ou o depósito, por
exemplo.
No entanto, em razão do modelo adotado pelo ordenamento jurídico
brasileiro, a obrigação de dar, por si só, não confere a transferência da
propriedade, a qual dependerá da tradição, no caso de bens móveis, ou
do registro, no caso de bens imóveis. Isto porque o direito obrigacional
confere eventual direito de crédito à coisa, ao passo que só o direito real
confere direito sobre a coisa.
Consequentemente, o direito obrigacional assegura o direito ao bem,
mas não a sua propriedade. Isso porque o direito obrigacional confere
eventual direito de crédito à coisa, ao passo que só o direito real confere
direito sobre a coisa. Consequentemente, o direito obrigacional
assegura o direito ao bem, mas não a sua propriedade.
Exemplo
A título exemplificativo, a obrigação de dar se verifica tipicamente nos
contratos de compra e venda, em que o sujeito passivo (devedor) se
compromete a entregar a coisa (móvel ou imóvel), enquanto o sujeito
ativo (credor) tem a obrigação de pagar o preço acordado.
O contrato de compra e venda assegura o direito ao crédito ou à coisa,
sendo o instrumento pelo qual se pactuou a transferência, mas não
transferea propriedade, pois esta dependerá de uma formalidade
exigida para tal, qual seja, a tradição no caso de bens móveis ou o
registro na hipótese de imóveis, como já referido.
Por fim, cumpre destacar que, sendo a obrigação de dar caracterizada
pela prestação principal consistir na entrega ou disponibilização de um
bem, as classificações dos bens jurídicos (arts. 79 a 103, CC 2002) são
de extrema importância para a compreensão da extensão, dos limites e
das especificidades dessa modalidade obrigacional.
Obrigação de dar coisa certa – arts. 233 a 242, CC 2002.
A obrigação de dar coisa certa diz respeito à obrigação devidamente
individualizada e especificada. Significa dizer que, quando da
constituição do vínculo jurídico obrigacional, já se sabe, com exatidão, a
coisa que será entregue, considerando a plena identificação da coisa
dentro do seu gênero.
Ressalta-se que os bens imóveis serão sempre
infungíveis, ou seja, únicos e insubstituíveis. Assim,
toda obrigação que tiver como prestação principal dar
coisa imóvel será uma obrigação de dar coisa certa.
Já os bens móveis podem ser fungíveis ou infungíveis e,
consequentemente, a caracterização de uma obrigação que tiver como
prestação principal dar coisa móvel poderá ser de dar coisa certa ou
incerta, o que dependerá da plena individualização ou não do bem.
Ademais, se o bem móvel for infungível, a obrigação será de dar coisa
certa.
A título de ilustração, a compra e venda de uma casa é,
necessariamente, obrigação de dar coisa certa. Já a compra de um bem
móvel poderá ser classificada como de dar coisa certa ou incerta, pois
dependerá da exata individualização do bem, como já referido.
A compra de um automóvel novo será de dar coisa incerta quando se
houver indicado apenas a marca, modelo e ano; e será de dar coisa
certa quando, além desses elementos, tiver sido identificado o chassi.
Ressalta-se que a classificação de um bem em fungível (caracterizado
pela espécie, qualidade e quantidade) ou infungível (insubstituível)
dependerá da natureza do bem ou da relação jurídica na qual ele se
insere.
Exemplo
Em certas modalidades contratuais, como na locação e no comodato,
há a transferência temporária da posse de um bem e a obrigação de
restituição desse mesmo bem após determinado tempo. Em tais casos,
o bem, em razão da relação jurídica na qual está inserido, é infungível.
Nesse sentido, não surpreende que a obrigação de restituir (ver arts. 238
a 242 do CC 2002) seja uma espécie de obrigação de dar coisa certa,
pois o que caracteriza tal obrigação é justamente o fato de o devedor ter
como prestação devolver coisa de propriedade do credor que se
encontrava em sua posse direta em razão de um título específico.
Tudo isso porque, dentre outras coisas, nas obrigações de dar coisa
certa incide o princípio da identidade da obrigação (art. 313, CC 2002),
pelo qual o credor de coisa certa não pode ser obrigado a receber outra,
ainda que mais valiosa. Assim, o devedor não pode modificar
unilateralmente o objeto da prestação, bem como o credor não pode
exigir coisa diferente, ainda que menos valiosa.
A relevância do princípio da identidade da coisa incidente nas
obrigações de dar coisa certa repousa ainda no fato de ser justamente
sobre a coisa certa, objeto da prestação principal, que recai o interesse
das partes: do credor, de receber a coisa; e do devedor, de entregá-la e
adimplir a sua obrigação.
Consequentemente, a eventualidade da perda ou da deterioração da
coisa tem consequências específicas a depender do momento e/ou da
culpa pela perda ou pela deterioração.
Inicialmente, deve-se distinguir as hipóteses de perda e de deterioração
da coisa.
Perda
Verifica-se a perda quando há destruição do bem ou quando, ainda
que o bem subsista, não possui suas qualidades essenciais, não
sendo mais útil para o fim a que se destinava.
Deterioração
Já a deterioração seria uma espécie de perda parcial, uma
diminuição das qualidades essenciais e/ou da utilidade da coisa
para a finalidade a qual se destinava.
Em seguida, com o objetivo de identificar quem deve suportar os riscos
pela perda ou pela deterioração, deve-se verificar em que momento
ocorreu a perda ou a deterioração, diga-se, antes ou após a tradição, e
se foi ou não resultante de ato ou fato imputável a uma das partes, ou
seja, se houve culpa.
Isso porque a distribuição dos riscos pela perda ou deterioração da
coisa, objeto de obrigação de dar coisa certa, é guiada por duas regras.

1ª regra
A coisa perde-se para o seu dono (res perit domino).

2ª regra
Ninguém responde pelo fortuito.

Vamos entender um pouco mais sobre a perda na obrigação de dar
coisa certa?
Na obrigação de dar coisa certa, “se a coisa se perder, sem culpa
do devedor, antes da tradição, ou pendente a condição
suspensiva, fica resolvida a obrigação para ambas as partes”
(art. 234, CC 2002). Neste caso, restará configurado o caso
fortuito ou a força maior.
Inexistindo culpa do devedor, a obrigação se resolve, retornando
ambas as partes ao status quo anterior. Consequentemente, o
credor nada receberá e o devedor nada entregará.
Além disso, antes da tradição e/ou do implemento da condição
suspensiva, a coisa permanece sob o domínio do seu
proprietário e, conforme a primeira regra da distribuição dos
riscos, a coisa se perde para o seu dono.
Por outro lado, se a perda resultar de culpa do devedor, este
responderá pelo equivalente da coisa em pecúnia e mais perdas
e danos, que correspondem a todo prejuízo suportado pelo
credor, englobando os danos emergentes e os lucros cessantes,
como preceitua o art. 402 do Código Civil de 2002.
As consequências jurídicas da perda da coisa se justificam pelo fato de
que a obrigação de dar coisa certa implica obrigação anexa de
conservar a coisa que deverá ser dada. Assim, se a coisa perder-se por
culpa do devedor, significa que este dever implícito foi descumprido e,
por essa razão, surge o dever sucessivo de responder por perdas e
danos.
Já no caso de deterioração (perda parcial) na obrigação de dar, caberá
ao credor escolher entre:
I) resolver a obrigação, por não lhe interessar receber o bem
danificado.
Sem culpa do devedor 
Por culpa do devedor 
II) ou aceitá-la no estado em que se encontrar, com abatimento
do preço proporcional à deterioração (art. 235, CC 2002), na
hipótese de a deterioração não ter sido por culpa do devedor
ou aceitá-la.
Havendo culpa do devedor pela deterioração, o credor terá as mesmas
opções, mas com direito, em qualquer caso, à indenização das perdas e
danos (art. 236, CC 2002).
Se a obrigação de dar coisa certa for da modalidade de restituir, as
consequências pela perda ou deterioração da coisa serão as mesmas,
devendo-se atentar apenas para o fato de que o dono da coisa é o
credor, e não o devedor.
Assim, da mesma forma como ocorre na obrigação de
dar coisa certa, na obrigação de restituir, a perda da
coisa frustra a obrigação e, se a perda ocorreu sem
culpa do devedor, a obrigação será resolvida. Contudo,
como a coisa é de propriedade do credor, ele é quem
suportará o ônus da sua perda, afinal a coisa perde-se
para o seu dono.
Já ao devedor cumprirá arcar com os pagamentos decorrentes do uso
da coisa e até eventual contrapartida que tenha recebido, na hipótese de
a obrigação de restituir ter sido assumida a título oneroso (art. 238, CC
2002). Se a perda da coisa, no entanto, resultar de culpa do devedor,
este responderá pelo equivalente acrescido das perdas e danos (art.
239, CC 2002).
Se, ao invés da perda total, a perda for apenas parcial, e a deterioração
não resultar de culpa do devedor, o credor a receberá sem direito à
indenização, ou seja, suportará o ônus da deterioração. Já na
eventualidade de a perda parcial resultar de culpa do devedor, terá o
credor direito à indenização pelas perdas e danos.
Obrigação de dar coisa incerta (arts. 243 a 246, CC 2002)
As obrigações de dar coisa incerta são aquelas nas quais a prestação
principal é indeterminada,porém determinável, visto ser indicada pelo
gênero e pela quantidade (art. 243, CC 2002). A rigor, a expressão “coisa
incerta” indica que a obrigação tem objeto indeterminado, mas
determinável antes do momento do seu cumprimento.
Na obrigação de dar coisa incerta, o objeto da prestação é
indeterminado no momento da constituição do vínculo. Porém, como o
devedor não pode entregar gênero e quantidade para o credor, a
prestação precisa ser determinada antes da execução da obrigação.
Essa determinação ou individuação é usualmente denominada por
concentração ou especificação.
A individuação ou a concentração se dá por escolha pelo devedor, como
regra, da coisa que será entregue ao credor. Essa escolha deve respeitar
o gênero e a quantidade e, também, seguir a regra do meio-termo, pois
não poderá o devedor dar a coisa pior, bem como não será obrigado a
prestar a melhor (art. 244, CC 2002).
Além disso, nas obrigações de dar coisa incerta, não há que se falar em
perda ou deterioração da coisa antes da concentração, pois o gênero
nunca perece (art. 246, CC 2002).
Porém, uma vez realizada a escolha e tendo sido dada ciência ao credor,
a coisa torna-se certa e a obrigação passa a ser regulada como
obrigação de dar coisa certa (art. 245, CC 2002), inclusive nos que diz
respeito à perda ou deterioração da coisa.
Obrigação de fazer (arts. 247 a 249, CC 2002)
As obrigações de fazer têm como prestação principal a realização de
alguma tarefa, atividade ou serviço, por parte do devedor (obligatio ad
faciendum). A obrigação de fazer pode se assemelhar à obrigação de
dar; no entanto, o fazer exige necessariamente o desempenho de
alguma atividade comissiva, enquanto o dar se traduz em mera entrega
de coisa.
Essa distinção impõe regulamentação jurídica distinta e implica
consequências diversas. A título de ilustração, a princípio, o
cumprimento da obrigação de dar pode ser realizado por terceira
pessoa, ao passo que, na obrigação de fazer, a prestação pode ser
personalíssima, o que não permite o cumprimento por terceira pessoa.
Além disso, nas obrigações de fazer, surge o problema da execução
específica.
Espécies de obrigação de fazer
A obrigação de fazer pode ser personalíssima (intuitu personae) ou
infungível, ou impessoal ou fungível, a depender da exigibilidade ou não
de o cumprimento só poder ser prestado pelo próprio devedor.
Será fungível ou impessoal quando puder ser cumprida por qualquer
pessoa. Verifica-se quando inexiste exigência de a execução ficar a
cargo de uma pessoa específica, visto não depender de qualidades
pessoais do devedor, podendo ser realizado por terceiro. Nesse caso,
restará adimplida a obrigação se prestada por terceiro, a mando do
devedor e, na hipótese de inadimplemento, poderá o credor exigir a
execução específica às custas do devedor, tendo ainda direito às perdas
e aos danos (art. 249, CC 2002), se o inadimplemento for culposo.
A obrigação de fazer será personalíssima ou infungível quando o seu
cumprimento só puder ser realizado pelo próprio devedor. A
infungibilidade pode decorrer da própria natureza da obrigação ou do
acordo estabelecido entre as partes, hipótese em que for
convencionado que o devedor deverá cumprir pessoalmente a
prestação.
Exemplo
Quando se contrata determinado artista para a realização de um show, a
obrigação só será adimplida se esse mesmo artista realizar a
apresentação contratada. Consequentemente, caso não preste,
incorrerá na obrigação de indenizar por perdas e danos (art. 247, CC
2002).
Inadimplemento da obrigação de fazer
O inadimplemento da obrigação de fazer pode decorrer da
impossibilidade fática ou jurídica do cumprimento da obrigação ou da
voluntariedade do devedor em não prestar a obrigação.
A pandemia do covid-19 nos deu vários exemplos nesse sentido, com a
suspensão de eventos que já haviam sido comercializados e que se
tornaram juridicamente impossíveis de serem cumpridos.
Podemos imaginar também a hipótese de uma doença ou internação
hospitalar que torne fisicamente impossível a participação de
determinado advogado em uma reunião na qual havia se comprometido.
Em qualquer das hipóteses, deve-se observar a concorrência culposa do
devedor, bem como a natureza da prestação, se fungível ou infungível.
De uma forma geral, inexistindo culpa do devedor, a obrigação será
resolvida para ambas as partes e, em havendo culpa, serão devidos
perdas e danos (art. 248, CC 2002).
Na hipótese de inadimplemento culposo, para além das perdas e danos,
como forma de tutelar de forma ampla o credor, deve-se averiguar
também a possibilidade de execução específica e, para tanto, é
necessário qualificar a obrigação de fazer em fungível ou infungível.
Se a obrigação for fungível, poderá o credor exigir a execução específica
às custas do devedor (art. 249, CC 2002), como já referido, além das
perdas e danos. Se a obrigação de fazer for personalíssima, não será
possível a execução forçada, na medida em que é inadmissível compelir
alguém a fazer algo que não queria.
Por outro lado, o credor deve ser amplamente tutelado, especialmente
nas hipóteses em que a conversão da obrigação em perdas e danos,
nos termos do art. 247 do Código Civil de 2002, não for suficiente ou
satisfatória para o atendimento dos interesses do credor.
Assim, a solução para tais casos será a prestação substitutiva, quando
outra pessoa prestará aquela obrigação às custas do devedor,
possibilidade extraída da leitura conjunta do art. 247 do Código Civil de
2002 com os artigos 497 e seguintes do Código de Processo Civil de
2015.
Obrigação de não fazer (arts. 252 a
256, CC 2002)
A obrigação de não fazer é aquela que tem por objeto uma abstenção,
razão pela qual é comumente apresentada como obrigação negativa. O
devedor de uma obrigação de não fazer se obriga a não praticar um ato
que poderia livremente fazer, caso não houvesse se obrigado.
Destaca-se que estas são as únicas que se relacionam
com condutas negativas propriamente ditas por parte
do devedor. Nesse sentido, eventual descumprimento
por parte do devedor se traduz em ações consideradas
vedadas pela relação obrigacional.
Cite-se, a título de exemplo, a formalização dos contratos de
confidencialidade, também conhecidos como Non Disclosure
Agreements (NDA).
Nessas hipóteses, é inteiramente vedado o compartilhamento de
determinadas informações acordadas entre as partes contratantes,
devendo se absterem, portanto, de qualquer comunicação externa. Caso
uma das partes venha a inadimplir tal obrigação, violará a obrigação
pactuada.
Haverá o descumprimento da obrigação de não fazer quando o devedor
praticar o ato que havia se obrigado a não realizar, situação na qual
importará verificar se o inadimplemento foi ou não culposo. Inexistindo
culpa, como por exemplo, quando o devedor está cumprindo a
determinação da autoridade competente, a obrigação será extinta (art.
250, CC 2002).
Por outro lado, se o inadimplemento for culposo, poderá o credor exigir
que o devedor desfaça o ato, caso seja possível, além da
responsabilização por perdas e danos (art. 251, CC 2002).
Vem que eu te explico!
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo
que você acabou de estudar.
Obrigação de dar coisa certa
2:30 min.
Inadimplemento da obrigação de fazer
2:35 min.



MÓDULO 1
Vem que eu te explico!
Obrigação de dar coisa certa
2:30 min.
I di l t d b i ã d f
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Guilherme, publicitário renomado, celebra contrato com Matheus,
empresário no ramo de cosméticos, para divulgação em outdoors de
uma nova linha de produtos. Inclui-se na celebração do contrato a
impossibilidade de Guilherme trabalhar com divulgação de produtos
concorrentes de Matheus, ao prazo de cinco anos. Passados três anos
desde a divulgação, Matheus toma conhecimento de que Guilherme
atuou na campanha comercial de TV de um de seus principais
concorrentes. Irresignado,Matheus
A
pode ensejar a obrigação de não fazer em face de
Matheus, eis que violou de formal cabal o contrato
celebrado, requerendo, ainda, que assim desfaça sua
conduta, mas não podendo se falar em perdas e
danos uma vez requerido a tempo.
B
deve aceitar a situação, pois a cláusula não
contemplou de forma correta as possibilidades de não
atuação com concorrentes, sendo, portanto, as
propagandas com destinações distintas, isto é,
outdoor e TV.
d j b i ã d ã f f d

C
pode ensejar a obrigação de não fazer em face de
Matheus, eis que violou de formal cabal o contrato
celebrado, requerendo, ainda, que assim desfaça sua
conduta.
D
a obrigação de não fazer neste caso resta extinta,
uma vez que Matheus deverá verificar a real intenção
de Guilherme em violar o contrato, podendo Guilherme
ter agido sem culpa.
E
em caso de urgência, Matheus somente poderá
requerer a obrigação de não fazer, mediante
propositura de ação judicial.
Parabéns! A alternativa C está correta.
Trata-se da literalidade do art. 251, CC 2002, em que, praticado o ato pelo devedor, cuja abstenção se obrigara, o
credor pode exigir que se desfaça, sob pena de se desfazer à sua custa, ressarcindo o culpado em perdas e
danos.
Questão 2
Gabriel, empresário do ramo artístico, celebra contrato de prestação de
serviços com Joaquim, famoso cantor de rock, para uma apresentação
a ser realizada em um festival. No dia de sua performance, Joaquim
acaba desistindo de ir ao festival em razão de ter outro compromisso
que havia esquecido.
Seu agente, então, contata Gabriel, informando que enviará um
substituto, também cantor de rock, para a apresentação, mesmo não
havendo qualquer previsão contratual nesse sentido. Diante desse
cenário, Gabriel
A
deve aceitar o envio de uma pessoa para substituir a
apresentação de Joaquim, uma vez que são cantores
de mesmo gênero, sendo obrigação fungível.
B
trata-se de obrigação personalíssima, isto é, somente
Joaquim poderia realizar a apresentação, logo, Gabriel
pode requerer perdas e danos por culpa de Joaquim.
ainda que se trate de obrigação personalíssima, em
J i d i li
2 - Obrigações alternativas, divisíveis, indivisíveis e solidárias
Ao �nal deste módulo, você irá distinguir as obrigações alternativas, divisíveis, indivisíveis e
solidárias.
Primeiras palavras
Tendo como ponto de partida a complexidade estrutural das obrigações,
C que somente Joaquim poderia realizar a
apresentação, em razão de ter tido outro
compromisso, a obrigação se torna resolvida.
D
como foi avisado a tempo não poderá requerer
qualquer medida, devendo aceitar a substituição de
Joaquim.
E
deve ajuizar ação objetivando a reparação de danos,
por se tratar, nesse caso, de obrigação de não fazer.
Parabéns! A alternativa B está correta.
Conforme preconiza os arts. 247 e 248, em se tratando de obrigação de fazer em que somente o devedor
poderia realizar (obrigação intuitu personae), Gabriel pode requerer perdas e danos pelo inadimplemento da
obrigação.

seja no elemento subjetivo ou objetivo, este módulo se dedicará a
algumas classificações de extrema relevância prática:

Inicialmente, em atenção à complexidade ou multiplicidade objetiva, ou
seja, do objeto da relação, que é a prestação principal, trataremos das
obrigações alternativas.

Em seguida, considerando a complexidade subjetiva, ou seja, do
elemento subjetivo da relação obrigacional, estudaremos as obrigações
divisíveis, indivisíveis e as obrigações solidárias.
Obrigações alternativas (arts. 252 a 256, CC
2002)
Dessa forma, as obrigações alternativas têm por conteúdo duas ou mais
prestações, das quais apenas uma será escolhida (pelo devedor, em
regra) para pagamento ao credor. Assim, em que pese a multiplicidade
de objetos, o devedor exonera-se com o cumprimento de apenas uma
delas.
Depreende-se, portanto, que as obrigações alternativas ostentam uma
indeterminação relativa do objeto, pois até o momento (concentração)
não se sabe qual prestação será entregue para o cumprimento da
obrigação. Usualmente, a alternatividade decorre da vontade das partes,
mas também pode resultar de lei, como no caso do contrato estimatório
(ver. art. 534 e seguintes, CC 2002).
A concentração da prestação é ato de extrema
relevância nas obrigações alternativas, pois finda o
estado de indeterminação relativa do objeto e, sendo
assim, é definidor da disciplina jurídica aplicável para
fins, sobretudo, de configuração do adimplemento ou
do inadimplemento da relação.
A concentração é a escolha da prestação que será cumprida, dentre as
opções indicadas no momento do nascimento da obrigação. A escolha
ou concentração perfaz um ato jurídico em sentido estrito e deve ser
realizada antes do termo final, pois é pressuposto para o cumprimento
da obrigação.
A escolha, como regra, cabe ao devedor, observando os parâmetros
ditados pelo legislador (art. 252, CC 2002), mas nada impede que as
partes convencionem que a opção será do credor. Destaca-se que, se a
escolha competir ao devedor e esse não a fizer antes do termo, manterá,
a princípio, o seu direito, porém restará configurada a mora, pela qual
responderá.
Vejamos algumas nuances:
Escolha do credor
Se a escolha couber ao credor e esse não a realizar antes do
termo, não poderá o devedor cumprir a obrigação, mas em
razão da omissão do credor não restará configurada a mora
do devedor. Nesta hipótese, o credor deverá ser citado para
realizar a escolha, sob pena de perder esse direito e de ser
depositada a coisa que o devedor escolher (art. 342, CC
2002).
Impossibilidade da prestação
A impossibilidade da prestação traz consequências diversas,
a depender de a quem compete a escolha e do momento da
perda da coisa. De pronto, se antes da escolha uma das
prestações se tornar impossível, subsistirá à obrigação o
débito em relação à outra (art. 253, CC 2002). Aqui,
independe se a impossibilidade é originária ou
superveniente, e se decorreu ou não de culpa. A
impossibilidade de uma das prestações, portanto, perfaz a
concentração na remanescente.
Impossibilidade de ambas prestações sem culpa do
devedor
Na eventualidade de impossibilidade de ambas as
prestações, sem culpa do devedor, seguindo a regra geral de
que ninguém responde pelo fortuito, a obrigação será
extinta, sem ônus para o devedor (art. 256, CC 2002).
Impossibilidade da prestação por culpa do devedor
Por outro lado, se a impossibilidade da prestação decorrer
de culpa do devedor, os efeitos serão diversos a depender do
momento da perda e do direito de escolha. Assim, se a
escolha for do devedor e a impossibilidade de uma das
prestações restar configurada antes da escolha,
necessariamente, deverá o devedor realizar a concentração
na prestação possível e, assim, adimplir a obrigação.
Impossibilidade de ambas prestações com escolha
do devedor
No entanto, se a impossibilidade for de ambas as prestações
e a escolha couber ao devedor, ficará este obrigado a pagar
o valor da última que se impossibilitou, além das perdas e
danos.
Impossibilidade da prestação com escolha do
credor
Em outro giro, havendo a perda de uma das prestações por
culpa do devedor e restando a escolha ao credor, poderá
este exercer o seu direito como melhor lhe aprouver. Assim,
se apenas uma das prestações tiver se tornado impossível,
poderá o credor exigir a remanescente ou o equivalente da
que se perdeu, acrescido de perdas e danos. Caso opte pela
remanescente, não haverá perdas e danos.
Obrigações divisíveis e indivisíveis
(arts. 257 a 263, CC 2002)
A classificação das obrigações em divisíveis ou fracionárias e em
indivisíveis pressupõe a pluralidade subjetiva, pois se a obrigação for
subjetivamente simples (só possuir um sujeito no polo ativo e um
sujeito no polo passivo), a obrigação será indivisível, qualquer que seja o
seu objeto, em decorrência do princípio da unidade da prestação (art.
314, CC 2002).
No entanto, havendo pluralidade subjetiva em qualquer dos polos, a
atenção voltarápara o objeto da prestação, que indicará a divisibilidade
ou indivisibilidade.
Da leitura conjunta dos arts. 257 e 258 do Código Civil de 2002,
concluímos:
Divisível
Será divisível a obrigação que tiver mais de um devedor ou mais de um
credor, e cujo objeto seja passível de divisão.
Indivisível
Será indivisível se, havendo pluralidade subjetiva, o objeto da obrigação
não for suscetível de divisão.
O legislador estabeleceu como regra a divisibilidade das obrigações (art.
257, CC 2002) e, excepcionalmente, a indivisibilidade, diante da
impossibilidade física ou natural, econômica ou jurídica da divisão (art.
258, CC 2002).
Impossibilidade de ambas prestações por culpa do
devedor
Já na eventualidade de ambas terem se perdido por culpa do
devedor, poderá o credor exigir o valor de qualquer das duas,
além da indenização por perdas e danos (art. 255, CC 2002).
Assim, o parâmetro definidor da divisibilidade ou indivisibilidade da
obrigação será a prestação e a sua possibilidade física ou natural,
econômica ou jurídica de divisão, como previsto no art. 258 do Código
Civil de 2002, em harmonia com os arts. 87 e 88 do mesmo diploma.
Nas obrigações de dar, a divisibilidade ou indivisibilidade dependerá
essencialmente da natureza do objeto, sendo sempre possível a
indivisibilidade decorrente da vontade das partes ou da lei. Assim, se o
devedor se obriga a entregar 10 sacas de café a dois credores será
divisível, mas se a obrigação for de dar um carro aos mesmos dois
credores, será indivisível.
O mesmo raciocínio vale para as obrigações de fazer e de não fazer,
com a especificidade de que, nessas obrigações, a prestação principal
será uma atividade ou uma abstenção.
A identificação da divisibilidade ou não da obrigação
tem consequências práticas importantes, pois, sendo
divisível, a prestação “presume-se dividida em tantas
obrigações, iguais e distintas, quantos os credores ou
devedores” (art. 257, CC 2002).
Consequentemente, havendo pluralidade subjetiva em uma obrigação
divisível, cada credor tem direito à sua quota, da mesma forma que cada
devedor só responde por ela, desonerando-se com o pagamento desta, e
a insolvência de um não aumenta a dívida dos demais. Já se a
obrigação for indivisível, cada devedor responderá por toda a dívida,
assim como cada credor fará jus a todo o crédito.
Assim, podemos entender da seguinte maneira:
Obrigação indivisível com pluralidade de devedores
Na obrigação indivisível com pluralidade de devedores, cada
um deles será obrigado pela dívida toda, mas aquele que pagar
se sub-rogará no direito do credor em relação aos demais
coobrigados (art. 259, CC 2002). Isso porque o pagamento
integral por um devedor apenas é exigência da natureza da
obrigação, mas cada um dos devedores só é obrigado pela sua
parte.
Obrigação indivisível com pluralidade de credores
Já na obrigação indivisível com pluralidade de credores, cada
um deles poderá exigir a dívida inteira, mas o devedor, a fim de
que o pagamento gere o efeito exonerativo pretendido, deverá
pagar a todos conjuntamente ou a um deles, desde que este
prove que está recebendo em nome dos demais (art. 260, CC
2002).
Quitação por parte de um credor
E, na eventualidade de um credor receber a prestação integral,
aos demais credores assistirá o direito de exigir as suas
quotas-partes em dinheiro (art. 261, CC 2002).
Perda de obrigação por parte do devedor
Na eventualidade de o objeto de uma obrigação indivisível se
perder por culpa de um ou de alguns dos devedores, será
convertida em perdas e danos. Neste caso, ao invés do objeto,
será entregue o valor em espécie correspondente do mesmo
acrescido de perdas e danos. Como o objeto indivisível é
transformado em dinheiro, haverá a perda da indivisibilidade.
Nesse caso, importará verificar se todos os devedores foram
culpados pela perda do objeto ou se a culpa foi de um só. Isto
porque, se apenas um devedor for o culpado, apenas este é que
responderá por perdas e danos (art. 263, CC 2002).
Perdão da dívida pro parte do credor
Por fim, se um dos credores perdoar a dívida, a obrigação
permanece com relação aos demais credores, sendo apenas
abatido o valor perdoado (a parcela que cabia ao credor
remitente), independentemente de a obrigação ser divisível ou
indivisível.
O objeto, um dos elementos constitutivos da obrigação,
deve ser economicamente aferível. E, isto permite que,
mesmo uma obrigação indivisível, seja, em parte, perdoada
(art. 262, CC 2002).
Obrigações solidárias (art. 264 a 285,
CC 2002)
Obrigações solidárias
Antes de entrarmos no assunto, a professora Fernanda Paes tratará
neste vídeo as obrigações solidárias e o seu regime jurídico.
A solidariedade também pressupõe a multiplicidade de sujeitos da
obrigação em um ou em ambos os polos, e impacta diretamente a
execução da obrigação.
Dessa forma:
Solidariedade ativa
A solidariedade será ativa quando houver pluralidade de credores.
Solidariedade passiva
Quando houver pluralidade de devedores, podendo ainda existir
solidariedade em ambos os polos da relação.
A solidariedade manifesta-se nas relações externas, ou seja, entre as
partes da relação jurídica obrigacional, determinando que ambos os
credores têm direito a receber a integralidade da prestação, bem como
todos os devedores são obrigados pelo todo. Neste ponto, a
solidariedade assemelha-se à indivisibilidade, mas é importante
destacar que não se confundem.

De fato, a solidariedade e a indivisibilidade permitem ao credor exigir de
um único devedor o pagamento total da obrigação, bem como obrigam
cada um dos devedores ao pagamento integral a um único credor, como
referido anteriormente.
No entanto, na obrigação solidária, cada devedor solidário pode ser
compelido a pagar, sozinho, a dívida inteira, por ser devedor do todo, ao
passo que, na obrigação indivisível, o codevedor só deve a sua quota-
parte, sendo a possibilidade de um codevedor ser compelido ao
pagamento da totalidade da obrigação devido à natureza indivisível da
obrigação.
Essa importante distinção é explicada pelo fato de a
solidariedade não dizer respeito ao objeto da obrigação,
mas derivar de uma fonte que pode ser a lei ou a vontade
das partes solidariedade.
Assim, haverá solidariedade obrigacional quando, em decorrência da lei
ou da vontade das partes, todos os credores tiverem direito à
integralidade do crédito e todos os devedores forem obrigados pela
totalidade da dívida (art. 264, CC).
Disso deriva outra importante diferença entre a indivisibilidade e a
solidariedade. A obrigação indivisível perde essa característica,
tornando-se divisível, quando resolvida em perdas e danos, já que a
prestação se torna divisível.
Na solidariedade, no entanto, mesmo que a obrigação venha a se
resolver em perdas e danos, seu objeto continua sendo indivisível e cada
devedor continuará responsável pelo pagamento integral do equivalente
em dinheiro do objeto perecido.
Ademais, a solidariedade nunca será presumida, mas resultante da lei
ou da vontade das partes (art. 265, CC 2002).
Afirmar que a solidariedade nunca será presumida significa dizer que, se
diante da pluralidade subjetiva, inexistir fonte específica para a
solidariedade, esta restará afastada e, consequentemente, a atenção
retornará para o objeto da prestação com vistas a identificar eventual
divisibilidade ou indivisibilidade da obrigação.
Solidariedade ativa
A solidariedade ativa, como já mencionado, envolve a multiplicidade de
credores, facultando a cada um deles exigir a prestação integral, como
se fosse o único credor (art. 267, CC 2002). Diferentemente do que se
verifica na indivisibilidade (art. 260, CC 2002), na solidariedade ativa
cada um dos credores tem direito ao crédito integral.
Consequentemente, o pagamento feito pelo devedor a um dos credores
solidários terá o efeito liberatório, não sendo necessário exigir
comprovação de que o credor está recebendo pelos demais (art. 268,
CC 2002).
Se cada um dos credores solidáriosé legítimo credor da integralidade
da prestação, tem também a possibilidade de remir a dívida no todo ou
em parte (art. 272, CC 2002).
Concedida a remissão ou o perdão por parte de um dos credores
solidários, a obrigação será extinta, porém a relação interna entre os
cocredores subsistirá, pois o credor remitente responderá aos demais
credores pela parte que lhes cabia.
A solidariedade refere-se às pessoas e não ao objeto da
prestação, que é único e independentemente de sua
natureza.
Consequentemente, a solidariedade perdura por toda a existência da
relação, inclusive se ela for convertida em perdas e danos (art. 271, CC
2002), mas não se transmite aos herdeiros na hipótese de falecimento
de um dos cocredores.
Neste caso, cada um dos herdeiros do credor solidário falecido terá
direito a receber a quota do crédito correspondente ao seu quinhão
hereditário, salvo se a obrigação for indivisível (art. 270, CC 2002).
Por fim, cabe mencionar os efeitos da solidariedade ativa em juízo. Os
credores solidários podem atuar judicialmente de forma conjunta, em
litisconsórcio facultativo, bem como sozinhos, na medida em que cada
um tem direito ao crédito integral.
Na eventualidade de atuação individual, teremos como primeiro efeito a
prevenção, que significa dizer que, uma vez ajuizada a demanda por um
dos credores solidários, o devedor deverá pagar a este credor, sob pena
de, em pagando a outro, não alcançar o efeito liberatório.
Além disso, o devedor só poderá opor, como matéria de defesa, as
exceções comuns, oponíveis a todos, como, por exemplo, prescrição,
não sendo possível opor as exceções pessoais que eventualmente
seriam oponíveis aos outros credores (art. 273, CC 2002).
Exemplo
Suponhamos que A seja devedor de B e C, credores solidários, e que B
tenha ajuizado a demanda para satisfação do crédito. A não poderá
alegar, como matéria de defesa, a incapacidade de C, pois essa é uma
exceção pessoal.
Ainda considerando a hipótese de atuação individual de um dos
credores solidários, temos que o aproveitamento da sentença aos
demais credores dependerá de ter sido a mesma favorável ou não. Se
favorável, salvo se fundada em exceção pessoal, aproveita a todos. Se
desfavorável, só atinge o litigante.
Suponhamos que a sentença determine o pagamento do principal,
acrescido de juros e indenizações. Estes acréscimos valem para todos
os credores, e não só para quem moveu a ação.
Solidariedade passiva
A solidariedade passiva envolve a multiplicidade de devedores em razão
da lei, como na hipótese de solidariedade entre os fornecedores de bens
e serviços de consumo (art. 13, CDC) ou da vontade das partes (art. 265,
CC 2002), e impõe a cada um dos devedores a responsabilidade pela
dívida inteira, como se fosse o único devedor (art. 275, CC 2002). A
solidariedade passiva instrumentaliza verdadeiro favor ao crédito. Isso
porque, como é sabido, a responsabilidade civil é patrimonial, recaindo
sobre o patrimônio do devedor a função de garantia geral do crédito (art.
391, CC 2002).
Assim, na hipótese de solidariedade passiva, teremos
tantos patrimônios quanto o número de devedores
solidários exercendo a função de garantia geral daquele
crédito.
Consequentemente, é facultado ao credor exigir a dívida total ou parcial
de um ou de todos os devedores, bem como pode optar por perdoar a
dívida ou mesmo extinguir a solidariedade (art. 275 e art. 282, CC 2002).
Eventuais obrigações adicionais estipuladas apenas entre o credor e um
dos devedores solidários não poderão agravar a posição dos demais
(art. 278, CC 2002).
Na eventualidade de o credor exigir de um dos devedores somente parte
da dívida ou remir a dívida de um dos devedores solidários, os demais
devedores continuam solidariamente responsáveis pelo restante. No
entanto, se o pagamento for total, restará extinta não só a solidariedade,
como a própria obrigação.
Exemplo
Suponhamos três devedores solidários da quantia de R$150.000,00. Se
o credor remir parte da dívida ou receber o pagamento parcial, digamos
no valor de R$50.000,00, os três devedores continuarão solidariamente
responsáveis e devedores dos R$100.000,00 restantes (art. 277, CC
2002).
Em outro giro, se um dos devedores pagar integralmente a dívida, a
obrigação será extinta para todos, e, se a remissão for parcial e em favor
de um devedor, especificamente, os demais devedores continuarão
solidariamente obrigados ao restante.
Além disso, a propositura da ação em face de um dos devedores não
importa em renúncia da solidariedade, o que significa dizer que os
demais devedores continuam responsáveis, subsistindo a possibilidade
de o credor acionar os demais para reaver o seu crédito (art. 275,
parágrafo único, CC 2002).
A rigor, a renúncia à solidariedade passiva em favor de um, de alguns ou
de todos os devedores é possível, como já referido. No entanto, a
renúncia deve ser expressa e não importará em remissão da dívida, mas
tão somente na extinção da solidariedade.
Assim, se a renúncia for parcial, ou seja, em favor de um ou de alguns
devedores apenas, a solidariedade subsistirá entre os demais
codevedores, só ficando liberado aquele a quem a renúncia favoreceu.
Se a renúncia for total, cada devedor passará a responder pela sua
quota-parte do débito (art. 282, CC 2002).
Mesmo na hipótese de renúncia à solidariedade em favor de um
devedor, este não ficará totalmente exonerado, pois, na eventualidade de
um dos devedores solidários remanescentes tornar-se insolvente,
aquele que havia sido beneficiado pela renúncia poderá ser chamado
novamente a responder pelo todo (art. 284, CC 2002).
Assim como a solidariedade ativa perdura por toda a existência da
relação, a passiva também, inclusive na eventualidade de conversão em
perdas e danos, havendo ainda a sua transmissibilidade aos herdeiros
do devedor falecido.
No caso de falecimento de um dos devedores solidários, seguindo a
regra de que a herança responde pelo pagamento das dívidas do
falecido (art. 1.997, CC 2002), haverá a transmissão da obrigação, mas
não haverá solidariedade entre os herdeiros. Significa dizer que a
herança, antes da partilha, responde pela dívida.
Entretanto, uma vez realizada a partilha, cada um dos herdeiros
responderá proporcionalmente ao seu quinhão hereditário, e todos
reunidos representarão aquele devedor solidário falecido (art. 276, CC
2002).
Tornando-se impossível a prestação por culpa de um dos devedores
solidários, a obrigação subsistirá para todos, os quais permanecerão
solidariamente responsáveis pelo equivalente, porém só o culpado
responderá pelas perdas e danos (art. 279, CC 2002). Isso porque a
solidariedade diz respeito à relação entre as pessoas ocupantes dos
polos da relação, e não ao objeto.
Consequentemente, ainda que a prestação seja
divisível, o que se dá com a sua conversão em pecúnia,
todos os devedores são obrigados à integralidade. Mas
a culpa, como é cediço, é pessoal e, sendo assim, só o
devedor culpado responderá pelos acréscimos
decorrentes da indenização cabível.
Já na hipótese de inadimplemento parcial, em decorrência da unidade
da prestação, todos os devedores solidários, na relação externa, ou seja,
perante o credor, respondem pelos juros ou acréscimos moratórios,
mesmo que apenas um deles tenha sido demandado (art. 280, CC
2002).
Como já mencionado, a solidariedade manifesta-se nas relações
externas, determinando que ambos os credores têm direito a receber a
integralidade da prestação, bem como todos os devedores são
obrigados pelo todo. Mas na relação interna, qual seja, a estabelecida
entre os credores e/ou entre os devedores, prevalece a responsabilidade
individual.
Assim, na hipótese de inadimplemento parcial, ainda que qualquer dos
devedores responda ao credor pelos juros, na relação interna somente o
culpado arcará por esse acréscimo. Da mesma forma, sempre que um
dos devedores solidários satisfizer a dívida por inteiro, poderá exigir de
cada um dos codevedores a sua quota-parte (art.283, CC 2002).
Vem que eu te explico!
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo
que você acabou de estudar.
Obrigações alternativas
2:51 min.
Obrigações divisíveis e indivisíveis
2:57 min.
MÓDULO 2
Vem que eu te explico!
Obrigações alternativas
2:51 min.
Obrigações divisíveis e indivisíveis
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1
Amanda e Natália, irmãs coproprietárias de um apartamento na Zona
Sul de São Paulo, decidem alienar o imóvel para Maria, parcelando a
prestação em 24 vezes. Logo após a obtenção de um aumento em seu
capital pessoal, Maria decide adimplir de uma vez todas as parcelas



remanescentes, e efetua o pagamento diretamente para Amanda. Diante
desse cenário:
A
Natália deve exigir de Maria o adimplemento de sua
parte, como cocredora de Amanda.
B
Para que o pagamento surta efeito com relação à
Natália, Maria deveria ter requerido a expressa
anuência de Natália.
C
Ainda que Natália possua direito à sua parcela devida,
ela deve requerer o pagamento à Maria, pois Amanda
permanece sendo credora.
D
Natália poderá requerer perdas e danos em face de
Amanda e Maria por não ter sido cientificada do
pagamento.
E Assiste à Natália exigir o que lhe é devido à Amanda.
Parabéns! A alternativa E está correta.
Nos termos do art. 261, CC 2002, se um dos credores receber a prestação por inteiro, a cada um dos outros
credores assistirá o direito de exigir dele em dinheiro a parte que lhe caiba no total.
Questão 2
Acerca da solidariedade ativa das obrigações:
A
Cada um dos credores solidários tem direito a exigir
do devedor o cumprimento da prestação por inteiro.
B
Se o adimplemento for efetuado diretamente a um
cocredor, o devedor permanece inadimplente perante
os demais cocredores.
Em havendo solidariedade ativa em determinada
3 - Cessão de crédito e assunção de dívida
Ao �nal deste módulo, você irá identi�car a cessão de crédito e assunção de dívida.
Primeiras palavras
Neste módulo, estudaremos as modalidades ou formas de transmissão
das obrigações. Ultrapassada a noção romana de obrigação como
C obrigação, torna-se impossível o arranjo da prestação
perante a pluralidade de devedores.
D
O adimplemento de determinada prestação deve ser
sempre realizado de forma equânime entre os
cocredores, por parte do devedor.
E
Enquanto nenhum cocredor exigir o adimplemento da
prestação, o devedor deverá seguir a ordem de
preferência sobre a que credor lhe deve mais.
Parabéns! A alternativa A está correta.
Trata-se da literalidade do art. 267, CC 2002: todos os cocredores possuem direito a exigir por inteira a
prestação perante o devedor.

vínculo pessoal, especialmente a partir da migração da
responsabilidade para o viés patrimonial, foi possível identificar a
dinamicidade das obrigações, tanto em seu conteúdo quanto na sua
movimentação, integrando o trânsito jurídico.
Assim, como parte da construção jurídica contemporânea, foi
reconhecida a possibilidade e até mesmo a conveniência da
transmissão das obrigações. Significa dizer, a possibilidade de uma
relação jurídica obrigacional ser integralmente transmitida para outro
sujeito ativo ou passivo.
Não se trata de uma novação, mas tão somente da manutenção da
mesma relação com a alteração de um dos seus polos, o subjetivo, na
hipótese da cessão de crédito, ou o passivo, na hipótese de assunção de
dívida.
Cessão de crédito (arts. 286 a 298, CC
2002)
Cessão de crédito
Vamos aprofundar nosso conceito nessa temática? Acompanhe a
professora Fernanda Paes no vídeo a seguir.
Como você pôde observar, cessão de crédito nada mais é do que a
possibilidade de determinado credor transferir a outro indivíduo,
estranho à relação obrigacional original, sua posição de credor. Em tais
casos, o credor primitivo (cedente) passa adiante a sua qualidade a um
novo credor (cessionário), enquanto o devedor (cedido) obriga-se agora
a adimplir a prestação perante a este.
Cumpre destacar que, diferentemente do que ocorre nas
hipóteses de sub-rogação e novação, aqui não há extinção

do vínculo obrigacional original, apenas uma alteração no
polo ativo.
Assim, trata-se de negócio jurídico por ato entre vivos pelo qual o credor
originário transfere o seu crédito tal como contraído, incluindo-se todos
os elementos principais e acessórios, a um terceiro.
A cessão tem como fonte mais usual a vontade das partes, mas
também pode derivar da lei. Além disso, em regra, todos os créditos
podem ser objeto de cessão. Não poderão ser cedidos,
excepcionalmente, em razão da natureza da obrigação (alimentos), da
lei (direito de preferência) ou do acordo entre as partes (art. 286, CC
2002).
Dentre as vedações legais, temos a proibição da cessão do crédito
penhorado. Isto porque, após a penhora, o crédito vincula-se à execução
judicial e fica inalienável (art. 298, CC 2002).
No que diz respeito à sua abrangência, a cessão pode ser parcial ou
total e, como regra, abarca todos os seus acessórios, como o direito de
escolha nas obrigações alternativas e as garantias reais ou fidejussórias
(art. 287, CC 2002), sendo esta uma importante distinção com a
novação que, em razão de resultar na extinção da obrigação principal,
extingue os acessórios.
A cessão envolve três figuras:

O cedente, que é o credor originário, que transfere o seu crédito.

O cessionário, que é o terceiro a quem é transmitido o crédito.

O cedido, que é o devedor, a quem incumbe cumprir a obrigação.
Apesar de envolver e afetar essas três figuras, a cessão é realizada
apenas entre os dois primeiros, cedente e cessionário, não sendo
exigida forma especial para que produza os efeitos entre as partes, visto
tratar-se de ato consensual.
Contudo, temos algumas nuances:
Operações perante terceiros
Caso as partes pretendam que o negócio opere efeitos perante
terceiros, deverá ser celebrada mediante instrumento público
ou particular revestido das solenidades exigidas (art. 288, CC
2002).
Participação do cedido
O cedido não participa da cessão, que será válida
independentemente da sua anuência, tanto que desde logo o
cessionário pode exercer os atos conservatórios do seu direito
(art. 293, CC 2002).
Noti�cação da cessão
No entanto, o cedido ou devedor deverá ser notificado da
cessão, a fim de possibilitar que realize o pagamento ao credor
de direito, bem como para oportunizar ao devedor a oposição
de exceções ao cedente e ao cessionário (art. 294, CC 2002).
A notificação ao devedor é requisito de eficácia da cessão perante o
devedor (art. 290, CC 2002), e pode ser feita pelo cessionário ou pelo
cedente. Ainda que a lei não determine o momento exato para a
realização da notificação, o indicado é que seja feita tão logo ocorra a
cessão, a fim de evitar que o devedor efetue o pagamento ao devedor
originário.
A rigor, o maior interessado em notificar é cessionário, pois a notificação
perfaz uma forma de proteção do seu crédito recém adquirido. Afinal,
caso o cedido não seja notificado da cessão e efetue o pagamento ao
credor primitivo, esse pagamento terá efeito liberatório (art. 292, CC
2002).
Como regra, o cedente não se responsabiliza pela solvência do devedor,
cabendo assim ao cessionário ser diligente antes da realização da
cessão (art. 295, CC 2002). Nada impede, no entanto, que essa
responsabilidade pela solvência do cedido seja expressamente
assumida (art. 297, CC 2002).
O cedente se responsabiliza pela existência do crédito que está sendo
transferido (art. 296, CC 2002). Assim, se o cedente transferiu
onerosamente um título nulo ou inexistente, deverá ressarcir os
prejuízos causados ao cessionário. Se a cessão tiver sido efetuada a
título gratuito, o cedente só responde se tiver procedido de má fé.
Assunção de dívida
Da mesma forma que é permitido ao credor alienar seu crédito, é
também permitida a substituição do polo passivo da obrigação, com
outro devedor o assumindo. Trata-se da assunção de dívidaou cessão
de débito, negócio jurídico bilateral pelo qual um novo devedor substitui
o devedor originário, mantido inalterado o objeto da relação jurídica
obrigacional.
Assunção x novação
A assunção de dívida, portanto, opera mediante a transferência da
posição de devedor a outrem, mas, neste caso, mediante anuência do
credor. Similarmente à cessão de crédito, a assunção de dívida não se
confunde com novação subjetiva passiva, eis que a relação obrigacional
é mantida integralmente.
Dentre as formas de sua deflagração, tem-se a possibilidade de ser
transmitida espontaneamente, em que o devedor originário pode se
exonerar inteiramente de sua obrigação ou ainda passar a ser
solidariamente responsável com um novo devedor à relação
obrigacional.
Ainda, a assunção de dívida pode ser delegada, mediante transferência
do débito a terceiro, alheio à relação obrigacional, com a anuência do
credor.
Requisitos para a assunção
As condições para a assunção de dívida são praticamente as mesmas
da cessão de crédito, salvo a necessidade de expresso consentimento
do credor. Assim, poderá ocorrer a assunção de dívida quando a lei e a
natureza da obrigação permitirem e o acordo entre as partes não proibir.
Exemplificativamente, não será possível a assunção se o negócio
jurídico originário contiver cláusula proibitiva ou versar sobre obrigações
personalíssimas; além disso, ninguém pode ser obrigado a assumir uma
dívida de outrem.
Como já referido, é requisito fundamental para a assunção da dívida a
anuência expressa do credor, a qual pode ser pode ser por escrito ou
verbal, ou seja, não se exige forma específica, mas tão somente a
anuência expressa e inequívoca.
Tal requisito justifica-se porque o credor precisa concordar com tal
alteração, afinal é o patrimônio do devedor que exerce a função de
garantia do seu crédito. Nesse sentido, a exigência de anuência
expressa do credor é mecanismo que visa evitar a fraude contra ele.
Ademais, com a assunção da dívida por terceiro, extinguem-se as
garantias especiais, reais ou fidejussórias, originariamente dadas pelo
devedor primitivo ao credor, salvo se expressamente assentir em sua
manutenção (art. 300, CC 2002).
Exemplo
Suponhamos que A é devedor de B e dá como garantia de pagamento
um bem seu. C assume a dívida de A. O bem dado por A deixa de
garantir a dívida assumida por C, exceto se A expressamente concordar
que o seu bem continue garantindo a dívida.
A única exceção ao requisito da anuência expressa do credor é na
hipótese de adquirente de imóvel hipotecado (art. 303, CC 2002),
quando o silêncio do credor importará anuência. Tal exceção justifica-se
pelo fato de que a garantia é a hipoteca incidente sobre o próprio imóvel.
Além disso, como não poderia deixar de ser, a assunção de dívida deve
observar os parâmetros impostos pela boa-fé.
Consequentemente, a exoneração do devedor originário fica
condicionada à anuência do credor com a substituição do polo passivo
e a solvência do novo devedor ao tempo da assunção, pois se ele for
insolvente, e sendo tal fato desconhecido do credor, o devedor originário
não será exonerado da dívida (art. 299, CC 2002).
Por fim, na eventualidade de invalidação da assunção, o negócio
originário é restaurado com todas as suas garantias, salvo as prestadas
por terceiros de boa-fé, entendido como aquele que desconhecia do
vício (art. 301, CC 2002). Significa dizer que, se o terceiro que participou
da substituição como garantidos conhecia o vício, as garantias dadas
por ele permanecem na obrigação primitiva que foi restaurada.
Vem que eu te explico!
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo
que você acabou de estudar.
Assunção x novação de dívida
2:49 min.
Requisitos para a assunção de dívida
2:56 min.
MÓDULO 3
Vem que eu te explico!
Assunção x novação de dívida
2:49 min.
Requisitos para a assunção de dívida
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
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Questão 1
No que tange à cessão de crédito, é correto afirmar que:
A
Salvo disposição em contrário, as obrigações
acessórias não acompanham a obrigação principal.
B
Salvo disposição em contrário, o cedente responde
pela solvência do devedor.
C
O credor pode ceder o seu crédito, se a isso não se
opuser a natureza da obrigação, a lei, ou a convenção
com o devedor.
D
A cláusula proibitiva de cessão poderá ser oposta ao
cessionário de boa-fé, mesmo constando no
instrumento da obrigação.
E
O cessionário nunca poderá exercer os atos
conservatórios do direito cedido, por ser intransferível.
Parabéns! A alternativa C está correta.
Trata-se da previsão contida no art. 286, CC 2002. O credor poderá ceder seu crédito, desde que tal cessão não
se oponha à natureza da obrigação, da lei ou de convenção pactuada com o devedor.
Questão 2
Sobre a assunção de dívida, é incorreto afirmar que:
A
Para que terceiros assumam a obrigação do devedor,
é necessário o consentimento expresso do credor.
B
Uma vez transferida a dívida, o devedor primitivo
permanece solidário ao adimplemento da obrigação,
mesmo não sendo insolvente anteriormente.
Considerações �nais
Uma vez verificadas modalidades e formas de transmissão das
obrigações, o conteúdo relativo ao estudo do direito das obrigações se
torna efetivamente mais compreensível, na medida em que podemos
analisar, diante de situações mais próximas da habitualidade, a
aplicação da teoria e lógica por trás da consolidação das obrigações.
Espera-se que o material abordado seja produtivo e útil ao dia a dia do
estudante de Direito, pois o assunto possui expressiva aplicação prática
e rotineira. A exemplo das demandas de dar, fazer e não fazer, diversas
são as hipóteses e nuances a serem examinadas no que se refere à
tutela dos direitos e às garantias de credores e devedores.
No que tange às obrigações alternativas, divisíveis, indivisíveis e
solidárias, fomos deparados com a plasticidade e a complexidade das
relações e obrigações, e de que modo repercutem sobre a efetiva
prestação, justa e adequada.
Já quanto às hipóteses de cessão de crédito e assunção de dívida, fica
clara a observância do caráter perfeitamente transferível das
C
Qualquer das partes pode assinar prazo ao credor
para que consinta na assunção da dívida,
interpretando-se o seu silêncio como recusa.
D
Salvo disposição em contrário, consideram-se extintas
as garantias especiais originárias dadas ao credor.
E
Como regra, se a substituição do devedor vier a ser
anulada, restaura-se o débito, com todas as garantias,
salvo aquelas prestadas por terceiros.
Parabéns! A alternativa B está correta.
De acordo com o art. 299, CC 2002, uma vez havendo a assunção de dívida, o devedor primitivo se exonera da
obrigação; salvo se, ao tempo da assunção, era insolvente e o credor o ignorava.
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obrigações, principalmente quando pautadas no caráter essencialmente
patrimonial da prestação em si.
Podcast
Neste bate-papo, a professora Fernanda Paes demonstrará as principais
características de cada espécie de obrigação, buscando diferenciá-las.
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Referências
GOMES, O. Obrigações. Rio de Janeiro, RJ: Grupo GEN, 2019.
Consultado na internet em: 19 jun. 2021.
GONÇALVES, C. R. Direito civil brasileiro v 2 - teoria geral das
obrigações. São Paulo, SP: Saraiva, 2019. Consultado na internet em: 24
jun. 2021.
MIRAGEM, B. Direito civil - Direito das obrigações. Rio de Janeiro, RJ:
Grupo GEN, 2021. Consultado na internet em: 24 jun. 2021.
MONTEIRO, W. B. Curso de direito civil. v. 3. São Paulo, SP: Saraiva,
1982.
NORONHA, F. Direito das obrigações. 3. ed. São Paulo, SP: Saraiva,
2010.
POTHIER, R. J. Tratado das obrigações. Campinas, SP: Servanda, 2002.
RIZZARDO, A. Direitos das obrigações. 9. ed. Rio de Janeiro, RJ: Grupo
GEN, 2018. Consultado na internet em: 24 jun. 2021.
STOLZE, P.; FILHO, R.P. Novo curso de direito civil 2 - obrigações. São
Paulo: Editora Saraiva, 2019. Consultado na internet em: 24 jun. 2021.
TARTUCE,F. Direito Civil - Direito das Obrigações e Responsabilidade
Civil - Vol. 2. Rio de Janeiro, RJ: Grupo GEN, 2021. Consultado na
internet em: 24 jun. 2021.
TEPEDINO, G. Fundamentos do Direito Civil - Obrigações - Vol. 2. Rio de
Janeiro, RJ: Grupo GEN, 2020. Consultado na internet em: 24 jun. 2021.
Explore +
Para saber mais sobre os assuntos explorados neste conteúdo:
Leia o texto As obrigações e os contratos, de Ruy Rosado Aguiar Júnior,
publicado na Revista CEJ.
Aumente seu conhecimento com a leitura de A obrigação como
processo, de Clovis V. Couto e Silva.
Saiba mais com a leitura do texto A funcionalização das relações
obrigacionais: interesse do credor e patrimonialidade da prestação, de
Carlos Nelson Konder e Pablo Rentería.
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