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Modalidades e transmissões das obrigações Prof.ª Fernanda Paes Leme false Descrição As diversas modalidades obrigacionais e as formas de transmissão das obrigações. Propósito A compreensão das espécies obrigacionais e das formas de transmissão das obrigações é fundamental para a qualificação jurídica dos diversos negócios que são realizados, bem como para a adequada atração da normativa jurídica aplicável. Preparação Antes de iniciar a leitura do presente conteúdo, tenha em mãos o Código Civil. Objetivos Módulo 1 Obrigação de dar, fazer e não fazer Analisar as obrigações de dar, fazer e não fazer. Módulo 2 Obrigações alternativas, divisíveis, indivisíveis e solidárias Distinguir as obrigações alternativas, divisíveis, indivisíveis e solidárias. Módulo 3 Cessão de crédito e assunção de dívida Identificar a cessão de crédito e a assunção de dívida. Neste conteúdo, examinaremos as principais formas quanto ao perfazimento das obrigações nos casos concretos. Assim, o presente estudo verificará de que forma as obrigações podem ser adimplidas em seus aspectos positivos e negativos de agir, como podem ser eventualmente repactuadas e fracionadas e, ainda, de que forma pode-se operar a transferência quanto ao posicionamento de credores e devedores. Introdução 1 - Obrigação de dar, fazer e não fazer Ao �nal deste módulo, você irá analisar as obrigações de dar, fazer e não fazer. Primeiras palavras A estrutura da relação jurídica obrigacional é composta por três elementos essenciais: O elemento subjetivo O elemento objetivo O vínculo jurídico Cada um desses elementos possui características e funções próprias. O elemento objetivo, especificamente, corresponde ao objeto da relação obrigacional, que é a prestação, a qual representa, a um só tempo, o dever principal do devedor e o direito do credor em decorrência daquele vínculo estabelecido entre as partes da relação. Obrigações de dar, fazer e não fazer Vamos compreender quais são as principais características e o regime jurídico dessas obrigações? A classificação das obrigações a partir do critério objetivo, qual seja, da prestação, objeto da relação jurídica obrigacional, já se fazia presente no direito romano, e até os dias atuais é adotada por algumas codificações, dentre elas, o nosso atual Código Civil. Trata-se de uma classificação que segue as três condutas esperadas do devedor, quais sejam: dar, fazer ou não fazer. Comentário É importante destacar que tais classificações ou modalidades têm por fim facilitar a qualificação dos negócios jurídicos eventualmente celebrados entre as partes e/ou a sistematização da disciplina jurídica aplicável, sendo determinante para indicar a forma de cumprimento e, consequentemente, a caracterização de eventual inadimplemento, atraindo ou afastando certas consequências jurídicas específicas, delimitando a divisão dos riscos etc. Assim, em uma compreensão inicial, com foco no objeto da prestação em si, as obrigações reverberam-se em prestações positivas, envolvendo obrigações de dar (coisa certa ou incerta) e fazer. Noutro giro, as obrigações podem ser negativas, isto é, envolvem uma postura de abstenção, ligada às obrigações de não fazer. Obrigações de dar Aqui o devedor tem como prestação principal colocar à disposição do credor certo bem jurídico, como no caso da compra e venda, quando o devedor se obriga a entregar ao credor o bem, objeto do negócio realizado. Obrigações de fazer Já nas obrigações de fazer, o devedor se obriga a prestar um serviço ou a realizar certa atividade para o credor. Podemos citar como exemplo o caso da prestação de serviços advocatícios. Obrigações de não fazer Por fim, nas obrigações de não fazer, o devedor é obrigada a abster-se de realizar algo que, a princípio, poderia ter a faculdade de fazer, por exemplo, quando certo artista se vincula com exclusividade à determinada marca. A distinção entre obrigações de dar e de fazer, usualmente, é simples, pois, enquanto a primeira modalidade sempre envolverá um bem/coisa como prestação principal, a segunda sempre envolverá uma atividade propriamente dita como finalidade primordial. No entanto, algumas situações podem figurar-se mais complexas quando, por exemplo, contrata-se alguém para prestar um serviço que se materializará na entrega de uma coisa. A título de ilustração, a contratação de um marceneiro para a fabricação de um móvel ou de um costureiro para confecção de determinada roupa. Nas situações em que o devedor realiza uma atividade e entrega uma coisa, resultado dessa mesma atividade, surge a dúvida acerca da correta qualificação da obrigação, de dar ou de fazer. Nesses casos, é necessário verificar a intenção das partes do negócio, especialmente sob a perspectiva do credor, a fim de identificar o que era mais relevante, a atividade ou a entrega da coisa, independentemente de quem a realizou. Reitera-se a importância da correta qualificação da modalidade obrigacional estabelecida pelas partes em razão da disciplina jurídica aplicável a uma ou outra modalidade ser distinta e, principalmente, em razão das consequências jurídicas de eventual inadimplemento e, até mesmo, para fins de configuração da extinção da obrigação. Exemplo Se é uma obrigação de fazer personalíssima e o devedor vem a falecer antes do termo, haverá a extinção, sendo certo que, se a obrigação fosse de dar, haveria a possibilidade, como regra, de transmissão da obrigação. De toda forma, qualquer que seja a modalidade, as obrigações devem atender a alguns requisitos para que se perfaçam. Devem ser materialmente possíveis, ou seja, a prestação deve ser alcançável, sob pena de se tornar nula. Além disso, devem ser determináveis, significando dizer que, ainda que a prestação não seja determinada, deve ser capaz de ser determinável por meio de critérios objetivos, como gênero, quantidade e qualidade. Por fim, a prestação deve expressar patrimonialidade, verificada por meio de algum valor pecuniário; assim, mesmo que a prestação seja extrapatrimonial, deve ser capaz de ser convertida em algum valor econômico. Obrigação de dar A obrigação de dar é aquela cuja prestação principal consiste na entrega ou disponibilização de certa coisa móvel ou imóvel pelo devedor ao credor, com a finalidade de transferir posse ou domínio, facultar o uso da coisa, constituir direito real, aperfeiçoar contratos reais ou restituir um bem. Trata-se de um gênero que comporta três espécies: Obrigação de dar coisa certa Obrigação de dar coisa incerta Obrigação de restituir Comentário Sobre a obrigação de restituir, as especificidades serão abordadas nos subitens a seguir. Usualmente, a obrigação de dar tem como fonte geradora um contrato, como a compra e venda, a locação, o comodato ou o depósito, por exemplo. No entanto, em razão do modelo adotado pelo ordenamento jurídico brasileiro, a obrigação de dar, por si só, não confere a transferência da propriedade, a qual dependerá da tradição, no caso de bens móveis, ou do registro, no caso de bens imóveis. Isto porque o direito obrigacional confere eventual direito de crédito à coisa, ao passo que só o direito real confere direito sobre a coisa. Consequentemente, o direito obrigacional assegura o direito ao bem, mas não a sua propriedade. Isso porque o direito obrigacional confere eventual direito de crédito à coisa, ao passo que só o direito real confere direito sobre a coisa. Consequentemente, o direito obrigacional assegura o direito ao bem, mas não a sua propriedade. Exemplo A título exemplificativo, a obrigação de dar se verifica tipicamente nos contratos de compra e venda, em que o sujeito passivo (devedor) se compromete a entregar a coisa (móvel ou imóvel), enquanto o sujeito ativo (credor) tem a obrigação de pagar o preço acordado. O contrato de compra e venda assegura o direito ao crédito ou à coisa, sendo o instrumento pelo qual se pactuou a transferência, mas não transferea propriedade, pois esta dependerá de uma formalidade exigida para tal, qual seja, a tradição no caso de bens móveis ou o registro na hipótese de imóveis, como já referido. Por fim, cumpre destacar que, sendo a obrigação de dar caracterizada pela prestação principal consistir na entrega ou disponibilização de um bem, as classificações dos bens jurídicos (arts. 79 a 103, CC 2002) são de extrema importância para a compreensão da extensão, dos limites e das especificidades dessa modalidade obrigacional. Obrigação de dar coisa certa – arts. 233 a 242, CC 2002. A obrigação de dar coisa certa diz respeito à obrigação devidamente individualizada e especificada. Significa dizer que, quando da constituição do vínculo jurídico obrigacional, já se sabe, com exatidão, a coisa que será entregue, considerando a plena identificação da coisa dentro do seu gênero. Ressalta-se que os bens imóveis serão sempre infungíveis, ou seja, únicos e insubstituíveis. Assim, toda obrigação que tiver como prestação principal dar coisa imóvel será uma obrigação de dar coisa certa. Já os bens móveis podem ser fungíveis ou infungíveis e, consequentemente, a caracterização de uma obrigação que tiver como prestação principal dar coisa móvel poderá ser de dar coisa certa ou incerta, o que dependerá da plena individualização ou não do bem. Ademais, se o bem móvel for infungível, a obrigação será de dar coisa certa. A título de ilustração, a compra e venda de uma casa é, necessariamente, obrigação de dar coisa certa. Já a compra de um bem móvel poderá ser classificada como de dar coisa certa ou incerta, pois dependerá da exata individualização do bem, como já referido. A compra de um automóvel novo será de dar coisa incerta quando se houver indicado apenas a marca, modelo e ano; e será de dar coisa certa quando, além desses elementos, tiver sido identificado o chassi. Ressalta-se que a classificação de um bem em fungível (caracterizado pela espécie, qualidade e quantidade) ou infungível (insubstituível) dependerá da natureza do bem ou da relação jurídica na qual ele se insere. Exemplo Em certas modalidades contratuais, como na locação e no comodato, há a transferência temporária da posse de um bem e a obrigação de restituição desse mesmo bem após determinado tempo. Em tais casos, o bem, em razão da relação jurídica na qual está inserido, é infungível. Nesse sentido, não surpreende que a obrigação de restituir (ver arts. 238 a 242 do CC 2002) seja uma espécie de obrigação de dar coisa certa, pois o que caracteriza tal obrigação é justamente o fato de o devedor ter como prestação devolver coisa de propriedade do credor que se encontrava em sua posse direta em razão de um título específico. Tudo isso porque, dentre outras coisas, nas obrigações de dar coisa certa incide o princípio da identidade da obrigação (art. 313, CC 2002), pelo qual o credor de coisa certa não pode ser obrigado a receber outra, ainda que mais valiosa. Assim, o devedor não pode modificar unilateralmente o objeto da prestação, bem como o credor não pode exigir coisa diferente, ainda que menos valiosa. A relevância do princípio da identidade da coisa incidente nas obrigações de dar coisa certa repousa ainda no fato de ser justamente sobre a coisa certa, objeto da prestação principal, que recai o interesse das partes: do credor, de receber a coisa; e do devedor, de entregá-la e adimplir a sua obrigação. Consequentemente, a eventualidade da perda ou da deterioração da coisa tem consequências específicas a depender do momento e/ou da culpa pela perda ou pela deterioração. Inicialmente, deve-se distinguir as hipóteses de perda e de deterioração da coisa. Perda Verifica-se a perda quando há destruição do bem ou quando, ainda que o bem subsista, não possui suas qualidades essenciais, não sendo mais útil para o fim a que se destinava. Deterioração Já a deterioração seria uma espécie de perda parcial, uma diminuição das qualidades essenciais e/ou da utilidade da coisa para a finalidade a qual se destinava. Em seguida, com o objetivo de identificar quem deve suportar os riscos pela perda ou pela deterioração, deve-se verificar em que momento ocorreu a perda ou a deterioração, diga-se, antes ou após a tradição, e se foi ou não resultante de ato ou fato imputável a uma das partes, ou seja, se houve culpa. Isso porque a distribuição dos riscos pela perda ou deterioração da coisa, objeto de obrigação de dar coisa certa, é guiada por duas regras. 1ª regra A coisa perde-se para o seu dono (res perit domino). 2ª regra Ninguém responde pelo fortuito. Vamos entender um pouco mais sobre a perda na obrigação de dar coisa certa? Na obrigação de dar coisa certa, “se a coisa se perder, sem culpa do devedor, antes da tradição, ou pendente a condição suspensiva, fica resolvida a obrigação para ambas as partes” (art. 234, CC 2002). Neste caso, restará configurado o caso fortuito ou a força maior. Inexistindo culpa do devedor, a obrigação se resolve, retornando ambas as partes ao status quo anterior. Consequentemente, o credor nada receberá e o devedor nada entregará. Além disso, antes da tradição e/ou do implemento da condição suspensiva, a coisa permanece sob o domínio do seu proprietário e, conforme a primeira regra da distribuição dos riscos, a coisa se perde para o seu dono. Por outro lado, se a perda resultar de culpa do devedor, este responderá pelo equivalente da coisa em pecúnia e mais perdas e danos, que correspondem a todo prejuízo suportado pelo credor, englobando os danos emergentes e os lucros cessantes, como preceitua o art. 402 do Código Civil de 2002. As consequências jurídicas da perda da coisa se justificam pelo fato de que a obrigação de dar coisa certa implica obrigação anexa de conservar a coisa que deverá ser dada. Assim, se a coisa perder-se por culpa do devedor, significa que este dever implícito foi descumprido e, por essa razão, surge o dever sucessivo de responder por perdas e danos. Já no caso de deterioração (perda parcial) na obrigação de dar, caberá ao credor escolher entre: I) resolver a obrigação, por não lhe interessar receber o bem danificado. Sem culpa do devedor Por culpa do devedor II) ou aceitá-la no estado em que se encontrar, com abatimento do preço proporcional à deterioração (art. 235, CC 2002), na hipótese de a deterioração não ter sido por culpa do devedor ou aceitá-la. Havendo culpa do devedor pela deterioração, o credor terá as mesmas opções, mas com direito, em qualquer caso, à indenização das perdas e danos (art. 236, CC 2002). Se a obrigação de dar coisa certa for da modalidade de restituir, as consequências pela perda ou deterioração da coisa serão as mesmas, devendo-se atentar apenas para o fato de que o dono da coisa é o credor, e não o devedor. Assim, da mesma forma como ocorre na obrigação de dar coisa certa, na obrigação de restituir, a perda da coisa frustra a obrigação e, se a perda ocorreu sem culpa do devedor, a obrigação será resolvida. Contudo, como a coisa é de propriedade do credor, ele é quem suportará o ônus da sua perda, afinal a coisa perde-se para o seu dono. Já ao devedor cumprirá arcar com os pagamentos decorrentes do uso da coisa e até eventual contrapartida que tenha recebido, na hipótese de a obrigação de restituir ter sido assumida a título oneroso (art. 238, CC 2002). Se a perda da coisa, no entanto, resultar de culpa do devedor, este responderá pelo equivalente acrescido das perdas e danos (art. 239, CC 2002). Se, ao invés da perda total, a perda for apenas parcial, e a deterioração não resultar de culpa do devedor, o credor a receberá sem direito à indenização, ou seja, suportará o ônus da deterioração. Já na eventualidade de a perda parcial resultar de culpa do devedor, terá o credor direito à indenização pelas perdas e danos. Obrigação de dar coisa incerta (arts. 243 a 246, CC 2002) As obrigações de dar coisa incerta são aquelas nas quais a prestação principal é indeterminada,porém determinável, visto ser indicada pelo gênero e pela quantidade (art. 243, CC 2002). A rigor, a expressão “coisa incerta” indica que a obrigação tem objeto indeterminado, mas determinável antes do momento do seu cumprimento. Na obrigação de dar coisa incerta, o objeto da prestação é indeterminado no momento da constituição do vínculo. Porém, como o devedor não pode entregar gênero e quantidade para o credor, a prestação precisa ser determinada antes da execução da obrigação. Essa determinação ou individuação é usualmente denominada por concentração ou especificação. A individuação ou a concentração se dá por escolha pelo devedor, como regra, da coisa que será entregue ao credor. Essa escolha deve respeitar o gênero e a quantidade e, também, seguir a regra do meio-termo, pois não poderá o devedor dar a coisa pior, bem como não será obrigado a prestar a melhor (art. 244, CC 2002). Além disso, nas obrigações de dar coisa incerta, não há que se falar em perda ou deterioração da coisa antes da concentração, pois o gênero nunca perece (art. 246, CC 2002). Porém, uma vez realizada a escolha e tendo sido dada ciência ao credor, a coisa torna-se certa e a obrigação passa a ser regulada como obrigação de dar coisa certa (art. 245, CC 2002), inclusive nos que diz respeito à perda ou deterioração da coisa. Obrigação de fazer (arts. 247 a 249, CC 2002) As obrigações de fazer têm como prestação principal a realização de alguma tarefa, atividade ou serviço, por parte do devedor (obligatio ad faciendum). A obrigação de fazer pode se assemelhar à obrigação de dar; no entanto, o fazer exige necessariamente o desempenho de alguma atividade comissiva, enquanto o dar se traduz em mera entrega de coisa. Essa distinção impõe regulamentação jurídica distinta e implica consequências diversas. A título de ilustração, a princípio, o cumprimento da obrigação de dar pode ser realizado por terceira pessoa, ao passo que, na obrigação de fazer, a prestação pode ser personalíssima, o que não permite o cumprimento por terceira pessoa. Além disso, nas obrigações de fazer, surge o problema da execução específica. Espécies de obrigação de fazer A obrigação de fazer pode ser personalíssima (intuitu personae) ou infungível, ou impessoal ou fungível, a depender da exigibilidade ou não de o cumprimento só poder ser prestado pelo próprio devedor. Será fungível ou impessoal quando puder ser cumprida por qualquer pessoa. Verifica-se quando inexiste exigência de a execução ficar a cargo de uma pessoa específica, visto não depender de qualidades pessoais do devedor, podendo ser realizado por terceiro. Nesse caso, restará adimplida a obrigação se prestada por terceiro, a mando do devedor e, na hipótese de inadimplemento, poderá o credor exigir a execução específica às custas do devedor, tendo ainda direito às perdas e aos danos (art. 249, CC 2002), se o inadimplemento for culposo. A obrigação de fazer será personalíssima ou infungível quando o seu cumprimento só puder ser realizado pelo próprio devedor. A infungibilidade pode decorrer da própria natureza da obrigação ou do acordo estabelecido entre as partes, hipótese em que for convencionado que o devedor deverá cumprir pessoalmente a prestação. Exemplo Quando se contrata determinado artista para a realização de um show, a obrigação só será adimplida se esse mesmo artista realizar a apresentação contratada. Consequentemente, caso não preste, incorrerá na obrigação de indenizar por perdas e danos (art. 247, CC 2002). Inadimplemento da obrigação de fazer O inadimplemento da obrigação de fazer pode decorrer da impossibilidade fática ou jurídica do cumprimento da obrigação ou da voluntariedade do devedor em não prestar a obrigação. A pandemia do covid-19 nos deu vários exemplos nesse sentido, com a suspensão de eventos que já haviam sido comercializados e que se tornaram juridicamente impossíveis de serem cumpridos. Podemos imaginar também a hipótese de uma doença ou internação hospitalar que torne fisicamente impossível a participação de determinado advogado em uma reunião na qual havia se comprometido. Em qualquer das hipóteses, deve-se observar a concorrência culposa do devedor, bem como a natureza da prestação, se fungível ou infungível. De uma forma geral, inexistindo culpa do devedor, a obrigação será resolvida para ambas as partes e, em havendo culpa, serão devidos perdas e danos (art. 248, CC 2002). Na hipótese de inadimplemento culposo, para além das perdas e danos, como forma de tutelar de forma ampla o credor, deve-se averiguar também a possibilidade de execução específica e, para tanto, é necessário qualificar a obrigação de fazer em fungível ou infungível. Se a obrigação for fungível, poderá o credor exigir a execução específica às custas do devedor (art. 249, CC 2002), como já referido, além das perdas e danos. Se a obrigação de fazer for personalíssima, não será possível a execução forçada, na medida em que é inadmissível compelir alguém a fazer algo que não queria. Por outro lado, o credor deve ser amplamente tutelado, especialmente nas hipóteses em que a conversão da obrigação em perdas e danos, nos termos do art. 247 do Código Civil de 2002, não for suficiente ou satisfatória para o atendimento dos interesses do credor. Assim, a solução para tais casos será a prestação substitutiva, quando outra pessoa prestará aquela obrigação às custas do devedor, possibilidade extraída da leitura conjunta do art. 247 do Código Civil de 2002 com os artigos 497 e seguintes do Código de Processo Civil de 2015. Obrigação de não fazer (arts. 252 a 256, CC 2002) A obrigação de não fazer é aquela que tem por objeto uma abstenção, razão pela qual é comumente apresentada como obrigação negativa. O devedor de uma obrigação de não fazer se obriga a não praticar um ato que poderia livremente fazer, caso não houvesse se obrigado. Destaca-se que estas são as únicas que se relacionam com condutas negativas propriamente ditas por parte do devedor. Nesse sentido, eventual descumprimento por parte do devedor se traduz em ações consideradas vedadas pela relação obrigacional. Cite-se, a título de exemplo, a formalização dos contratos de confidencialidade, também conhecidos como Non Disclosure Agreements (NDA). Nessas hipóteses, é inteiramente vedado o compartilhamento de determinadas informações acordadas entre as partes contratantes, devendo se absterem, portanto, de qualquer comunicação externa. Caso uma das partes venha a inadimplir tal obrigação, violará a obrigação pactuada. Haverá o descumprimento da obrigação de não fazer quando o devedor praticar o ato que havia se obrigado a não realizar, situação na qual importará verificar se o inadimplemento foi ou não culposo. Inexistindo culpa, como por exemplo, quando o devedor está cumprindo a determinação da autoridade competente, a obrigação será extinta (art. 250, CC 2002). Por outro lado, se o inadimplemento for culposo, poderá o credor exigir que o devedor desfaça o ato, caso seja possível, além da responsabilização por perdas e danos (art. 251, CC 2002). Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. Obrigação de dar coisa certa 2:30 min. Inadimplemento da obrigação de fazer 2:35 min. MÓDULO 1 Vem que eu te explico! Obrigação de dar coisa certa 2:30 min. I di l t d b i ã d f Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Guilherme, publicitário renomado, celebra contrato com Matheus, empresário no ramo de cosméticos, para divulgação em outdoors de uma nova linha de produtos. Inclui-se na celebração do contrato a impossibilidade de Guilherme trabalhar com divulgação de produtos concorrentes de Matheus, ao prazo de cinco anos. Passados três anos desde a divulgação, Matheus toma conhecimento de que Guilherme atuou na campanha comercial de TV de um de seus principais concorrentes. Irresignado,Matheus A pode ensejar a obrigação de não fazer em face de Matheus, eis que violou de formal cabal o contrato celebrado, requerendo, ainda, que assim desfaça sua conduta, mas não podendo se falar em perdas e danos uma vez requerido a tempo. B deve aceitar a situação, pois a cláusula não contemplou de forma correta as possibilidades de não atuação com concorrentes, sendo, portanto, as propagandas com destinações distintas, isto é, outdoor e TV. d j b i ã d ã f f d C pode ensejar a obrigação de não fazer em face de Matheus, eis que violou de formal cabal o contrato celebrado, requerendo, ainda, que assim desfaça sua conduta. D a obrigação de não fazer neste caso resta extinta, uma vez que Matheus deverá verificar a real intenção de Guilherme em violar o contrato, podendo Guilherme ter agido sem culpa. E em caso de urgência, Matheus somente poderá requerer a obrigação de não fazer, mediante propositura de ação judicial. Parabéns! A alternativa C está correta. Trata-se da literalidade do art. 251, CC 2002, em que, praticado o ato pelo devedor, cuja abstenção se obrigara, o credor pode exigir que se desfaça, sob pena de se desfazer à sua custa, ressarcindo o culpado em perdas e danos. Questão 2 Gabriel, empresário do ramo artístico, celebra contrato de prestação de serviços com Joaquim, famoso cantor de rock, para uma apresentação a ser realizada em um festival. No dia de sua performance, Joaquim acaba desistindo de ir ao festival em razão de ter outro compromisso que havia esquecido. Seu agente, então, contata Gabriel, informando que enviará um substituto, também cantor de rock, para a apresentação, mesmo não havendo qualquer previsão contratual nesse sentido. Diante desse cenário, Gabriel A deve aceitar o envio de uma pessoa para substituir a apresentação de Joaquim, uma vez que são cantores de mesmo gênero, sendo obrigação fungível. B trata-se de obrigação personalíssima, isto é, somente Joaquim poderia realizar a apresentação, logo, Gabriel pode requerer perdas e danos por culpa de Joaquim. ainda que se trate de obrigação personalíssima, em J i d i li 2 - Obrigações alternativas, divisíveis, indivisíveis e solidárias Ao �nal deste módulo, você irá distinguir as obrigações alternativas, divisíveis, indivisíveis e solidárias. Primeiras palavras Tendo como ponto de partida a complexidade estrutural das obrigações, C que somente Joaquim poderia realizar a apresentação, em razão de ter tido outro compromisso, a obrigação se torna resolvida. D como foi avisado a tempo não poderá requerer qualquer medida, devendo aceitar a substituição de Joaquim. E deve ajuizar ação objetivando a reparação de danos, por se tratar, nesse caso, de obrigação de não fazer. Parabéns! A alternativa B está correta. Conforme preconiza os arts. 247 e 248, em se tratando de obrigação de fazer em que somente o devedor poderia realizar (obrigação intuitu personae), Gabriel pode requerer perdas e danos pelo inadimplemento da obrigação. seja no elemento subjetivo ou objetivo, este módulo se dedicará a algumas classificações de extrema relevância prática: Inicialmente, em atenção à complexidade ou multiplicidade objetiva, ou seja, do objeto da relação, que é a prestação principal, trataremos das obrigações alternativas. Em seguida, considerando a complexidade subjetiva, ou seja, do elemento subjetivo da relação obrigacional, estudaremos as obrigações divisíveis, indivisíveis e as obrigações solidárias. Obrigações alternativas (arts. 252 a 256, CC 2002) Dessa forma, as obrigações alternativas têm por conteúdo duas ou mais prestações, das quais apenas uma será escolhida (pelo devedor, em regra) para pagamento ao credor. Assim, em que pese a multiplicidade de objetos, o devedor exonera-se com o cumprimento de apenas uma delas. Depreende-se, portanto, que as obrigações alternativas ostentam uma indeterminação relativa do objeto, pois até o momento (concentração) não se sabe qual prestação será entregue para o cumprimento da obrigação. Usualmente, a alternatividade decorre da vontade das partes, mas também pode resultar de lei, como no caso do contrato estimatório (ver. art. 534 e seguintes, CC 2002). A concentração da prestação é ato de extrema relevância nas obrigações alternativas, pois finda o estado de indeterminação relativa do objeto e, sendo assim, é definidor da disciplina jurídica aplicável para fins, sobretudo, de configuração do adimplemento ou do inadimplemento da relação. A concentração é a escolha da prestação que será cumprida, dentre as opções indicadas no momento do nascimento da obrigação. A escolha ou concentração perfaz um ato jurídico em sentido estrito e deve ser realizada antes do termo final, pois é pressuposto para o cumprimento da obrigação. A escolha, como regra, cabe ao devedor, observando os parâmetros ditados pelo legislador (art. 252, CC 2002), mas nada impede que as partes convencionem que a opção será do credor. Destaca-se que, se a escolha competir ao devedor e esse não a fizer antes do termo, manterá, a princípio, o seu direito, porém restará configurada a mora, pela qual responderá. Vejamos algumas nuances: Escolha do credor Se a escolha couber ao credor e esse não a realizar antes do termo, não poderá o devedor cumprir a obrigação, mas em razão da omissão do credor não restará configurada a mora do devedor. Nesta hipótese, o credor deverá ser citado para realizar a escolha, sob pena de perder esse direito e de ser depositada a coisa que o devedor escolher (art. 342, CC 2002). Impossibilidade da prestação A impossibilidade da prestação traz consequências diversas, a depender de a quem compete a escolha e do momento da perda da coisa. De pronto, se antes da escolha uma das prestações se tornar impossível, subsistirá à obrigação o débito em relação à outra (art. 253, CC 2002). Aqui, independe se a impossibilidade é originária ou superveniente, e se decorreu ou não de culpa. A impossibilidade de uma das prestações, portanto, perfaz a concentração na remanescente. Impossibilidade de ambas prestações sem culpa do devedor Na eventualidade de impossibilidade de ambas as prestações, sem culpa do devedor, seguindo a regra geral de que ninguém responde pelo fortuito, a obrigação será extinta, sem ônus para o devedor (art. 256, CC 2002). Impossibilidade da prestação por culpa do devedor Por outro lado, se a impossibilidade da prestação decorrer de culpa do devedor, os efeitos serão diversos a depender do momento da perda e do direito de escolha. Assim, se a escolha for do devedor e a impossibilidade de uma das prestações restar configurada antes da escolha, necessariamente, deverá o devedor realizar a concentração na prestação possível e, assim, adimplir a obrigação. Impossibilidade de ambas prestações com escolha do devedor No entanto, se a impossibilidade for de ambas as prestações e a escolha couber ao devedor, ficará este obrigado a pagar o valor da última que se impossibilitou, além das perdas e danos. Impossibilidade da prestação com escolha do credor Em outro giro, havendo a perda de uma das prestações por culpa do devedor e restando a escolha ao credor, poderá este exercer o seu direito como melhor lhe aprouver. Assim, se apenas uma das prestações tiver se tornado impossível, poderá o credor exigir a remanescente ou o equivalente da que se perdeu, acrescido de perdas e danos. Caso opte pela remanescente, não haverá perdas e danos. Obrigações divisíveis e indivisíveis (arts. 257 a 263, CC 2002) A classificação das obrigações em divisíveis ou fracionárias e em indivisíveis pressupõe a pluralidade subjetiva, pois se a obrigação for subjetivamente simples (só possuir um sujeito no polo ativo e um sujeito no polo passivo), a obrigação será indivisível, qualquer que seja o seu objeto, em decorrência do princípio da unidade da prestação (art. 314, CC 2002). No entanto, havendo pluralidade subjetiva em qualquer dos polos, a atenção voltarápara o objeto da prestação, que indicará a divisibilidade ou indivisibilidade. Da leitura conjunta dos arts. 257 e 258 do Código Civil de 2002, concluímos: Divisível Será divisível a obrigação que tiver mais de um devedor ou mais de um credor, e cujo objeto seja passível de divisão. Indivisível Será indivisível se, havendo pluralidade subjetiva, o objeto da obrigação não for suscetível de divisão. O legislador estabeleceu como regra a divisibilidade das obrigações (art. 257, CC 2002) e, excepcionalmente, a indivisibilidade, diante da impossibilidade física ou natural, econômica ou jurídica da divisão (art. 258, CC 2002). Impossibilidade de ambas prestações por culpa do devedor Já na eventualidade de ambas terem se perdido por culpa do devedor, poderá o credor exigir o valor de qualquer das duas, além da indenização por perdas e danos (art. 255, CC 2002). Assim, o parâmetro definidor da divisibilidade ou indivisibilidade da obrigação será a prestação e a sua possibilidade física ou natural, econômica ou jurídica de divisão, como previsto no art. 258 do Código Civil de 2002, em harmonia com os arts. 87 e 88 do mesmo diploma. Nas obrigações de dar, a divisibilidade ou indivisibilidade dependerá essencialmente da natureza do objeto, sendo sempre possível a indivisibilidade decorrente da vontade das partes ou da lei. Assim, se o devedor se obriga a entregar 10 sacas de café a dois credores será divisível, mas se a obrigação for de dar um carro aos mesmos dois credores, será indivisível. O mesmo raciocínio vale para as obrigações de fazer e de não fazer, com a especificidade de que, nessas obrigações, a prestação principal será uma atividade ou uma abstenção. A identificação da divisibilidade ou não da obrigação tem consequências práticas importantes, pois, sendo divisível, a prestação “presume-se dividida em tantas obrigações, iguais e distintas, quantos os credores ou devedores” (art. 257, CC 2002). Consequentemente, havendo pluralidade subjetiva em uma obrigação divisível, cada credor tem direito à sua quota, da mesma forma que cada devedor só responde por ela, desonerando-se com o pagamento desta, e a insolvência de um não aumenta a dívida dos demais. Já se a obrigação for indivisível, cada devedor responderá por toda a dívida, assim como cada credor fará jus a todo o crédito. Assim, podemos entender da seguinte maneira: Obrigação indivisível com pluralidade de devedores Na obrigação indivisível com pluralidade de devedores, cada um deles será obrigado pela dívida toda, mas aquele que pagar se sub-rogará no direito do credor em relação aos demais coobrigados (art. 259, CC 2002). Isso porque o pagamento integral por um devedor apenas é exigência da natureza da obrigação, mas cada um dos devedores só é obrigado pela sua parte. Obrigação indivisível com pluralidade de credores Já na obrigação indivisível com pluralidade de credores, cada um deles poderá exigir a dívida inteira, mas o devedor, a fim de que o pagamento gere o efeito exonerativo pretendido, deverá pagar a todos conjuntamente ou a um deles, desde que este prove que está recebendo em nome dos demais (art. 260, CC 2002). Quitação por parte de um credor E, na eventualidade de um credor receber a prestação integral, aos demais credores assistirá o direito de exigir as suas quotas-partes em dinheiro (art. 261, CC 2002). Perda de obrigação por parte do devedor Na eventualidade de o objeto de uma obrigação indivisível se perder por culpa de um ou de alguns dos devedores, será convertida em perdas e danos. Neste caso, ao invés do objeto, será entregue o valor em espécie correspondente do mesmo acrescido de perdas e danos. Como o objeto indivisível é transformado em dinheiro, haverá a perda da indivisibilidade. Nesse caso, importará verificar se todos os devedores foram culpados pela perda do objeto ou se a culpa foi de um só. Isto porque, se apenas um devedor for o culpado, apenas este é que responderá por perdas e danos (art. 263, CC 2002). Perdão da dívida pro parte do credor Por fim, se um dos credores perdoar a dívida, a obrigação permanece com relação aos demais credores, sendo apenas abatido o valor perdoado (a parcela que cabia ao credor remitente), independentemente de a obrigação ser divisível ou indivisível. O objeto, um dos elementos constitutivos da obrigação, deve ser economicamente aferível. E, isto permite que, mesmo uma obrigação indivisível, seja, em parte, perdoada (art. 262, CC 2002). Obrigações solidárias (art. 264 a 285, CC 2002) Obrigações solidárias Antes de entrarmos no assunto, a professora Fernanda Paes tratará neste vídeo as obrigações solidárias e o seu regime jurídico. A solidariedade também pressupõe a multiplicidade de sujeitos da obrigação em um ou em ambos os polos, e impacta diretamente a execução da obrigação. Dessa forma: Solidariedade ativa A solidariedade será ativa quando houver pluralidade de credores. Solidariedade passiva Quando houver pluralidade de devedores, podendo ainda existir solidariedade em ambos os polos da relação. A solidariedade manifesta-se nas relações externas, ou seja, entre as partes da relação jurídica obrigacional, determinando que ambos os credores têm direito a receber a integralidade da prestação, bem como todos os devedores são obrigados pelo todo. Neste ponto, a solidariedade assemelha-se à indivisibilidade, mas é importante destacar que não se confundem. De fato, a solidariedade e a indivisibilidade permitem ao credor exigir de um único devedor o pagamento total da obrigação, bem como obrigam cada um dos devedores ao pagamento integral a um único credor, como referido anteriormente. No entanto, na obrigação solidária, cada devedor solidário pode ser compelido a pagar, sozinho, a dívida inteira, por ser devedor do todo, ao passo que, na obrigação indivisível, o codevedor só deve a sua quota- parte, sendo a possibilidade de um codevedor ser compelido ao pagamento da totalidade da obrigação devido à natureza indivisível da obrigação. Essa importante distinção é explicada pelo fato de a solidariedade não dizer respeito ao objeto da obrigação, mas derivar de uma fonte que pode ser a lei ou a vontade das partes solidariedade. Assim, haverá solidariedade obrigacional quando, em decorrência da lei ou da vontade das partes, todos os credores tiverem direito à integralidade do crédito e todos os devedores forem obrigados pela totalidade da dívida (art. 264, CC). Disso deriva outra importante diferença entre a indivisibilidade e a solidariedade. A obrigação indivisível perde essa característica, tornando-se divisível, quando resolvida em perdas e danos, já que a prestação se torna divisível. Na solidariedade, no entanto, mesmo que a obrigação venha a se resolver em perdas e danos, seu objeto continua sendo indivisível e cada devedor continuará responsável pelo pagamento integral do equivalente em dinheiro do objeto perecido. Ademais, a solidariedade nunca será presumida, mas resultante da lei ou da vontade das partes (art. 265, CC 2002). Afirmar que a solidariedade nunca será presumida significa dizer que, se diante da pluralidade subjetiva, inexistir fonte específica para a solidariedade, esta restará afastada e, consequentemente, a atenção retornará para o objeto da prestação com vistas a identificar eventual divisibilidade ou indivisibilidade da obrigação. Solidariedade ativa A solidariedade ativa, como já mencionado, envolve a multiplicidade de credores, facultando a cada um deles exigir a prestação integral, como se fosse o único credor (art. 267, CC 2002). Diferentemente do que se verifica na indivisibilidade (art. 260, CC 2002), na solidariedade ativa cada um dos credores tem direito ao crédito integral. Consequentemente, o pagamento feito pelo devedor a um dos credores solidários terá o efeito liberatório, não sendo necessário exigir comprovação de que o credor está recebendo pelos demais (art. 268, CC 2002). Se cada um dos credores solidáriosé legítimo credor da integralidade da prestação, tem também a possibilidade de remir a dívida no todo ou em parte (art. 272, CC 2002). Concedida a remissão ou o perdão por parte de um dos credores solidários, a obrigação será extinta, porém a relação interna entre os cocredores subsistirá, pois o credor remitente responderá aos demais credores pela parte que lhes cabia. A solidariedade refere-se às pessoas e não ao objeto da prestação, que é único e independentemente de sua natureza. Consequentemente, a solidariedade perdura por toda a existência da relação, inclusive se ela for convertida em perdas e danos (art. 271, CC 2002), mas não se transmite aos herdeiros na hipótese de falecimento de um dos cocredores. Neste caso, cada um dos herdeiros do credor solidário falecido terá direito a receber a quota do crédito correspondente ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indivisível (art. 270, CC 2002). Por fim, cabe mencionar os efeitos da solidariedade ativa em juízo. Os credores solidários podem atuar judicialmente de forma conjunta, em litisconsórcio facultativo, bem como sozinhos, na medida em que cada um tem direito ao crédito integral. Na eventualidade de atuação individual, teremos como primeiro efeito a prevenção, que significa dizer que, uma vez ajuizada a demanda por um dos credores solidários, o devedor deverá pagar a este credor, sob pena de, em pagando a outro, não alcançar o efeito liberatório. Além disso, o devedor só poderá opor, como matéria de defesa, as exceções comuns, oponíveis a todos, como, por exemplo, prescrição, não sendo possível opor as exceções pessoais que eventualmente seriam oponíveis aos outros credores (art. 273, CC 2002). Exemplo Suponhamos que A seja devedor de B e C, credores solidários, e que B tenha ajuizado a demanda para satisfação do crédito. A não poderá alegar, como matéria de defesa, a incapacidade de C, pois essa é uma exceção pessoal. Ainda considerando a hipótese de atuação individual de um dos credores solidários, temos que o aproveitamento da sentença aos demais credores dependerá de ter sido a mesma favorável ou não. Se favorável, salvo se fundada em exceção pessoal, aproveita a todos. Se desfavorável, só atinge o litigante. Suponhamos que a sentença determine o pagamento do principal, acrescido de juros e indenizações. Estes acréscimos valem para todos os credores, e não só para quem moveu a ação. Solidariedade passiva A solidariedade passiva envolve a multiplicidade de devedores em razão da lei, como na hipótese de solidariedade entre os fornecedores de bens e serviços de consumo (art. 13, CDC) ou da vontade das partes (art. 265, CC 2002), e impõe a cada um dos devedores a responsabilidade pela dívida inteira, como se fosse o único devedor (art. 275, CC 2002). A solidariedade passiva instrumentaliza verdadeiro favor ao crédito. Isso porque, como é sabido, a responsabilidade civil é patrimonial, recaindo sobre o patrimônio do devedor a função de garantia geral do crédito (art. 391, CC 2002). Assim, na hipótese de solidariedade passiva, teremos tantos patrimônios quanto o número de devedores solidários exercendo a função de garantia geral daquele crédito. Consequentemente, é facultado ao credor exigir a dívida total ou parcial de um ou de todos os devedores, bem como pode optar por perdoar a dívida ou mesmo extinguir a solidariedade (art. 275 e art. 282, CC 2002). Eventuais obrigações adicionais estipuladas apenas entre o credor e um dos devedores solidários não poderão agravar a posição dos demais (art. 278, CC 2002). Na eventualidade de o credor exigir de um dos devedores somente parte da dívida ou remir a dívida de um dos devedores solidários, os demais devedores continuam solidariamente responsáveis pelo restante. No entanto, se o pagamento for total, restará extinta não só a solidariedade, como a própria obrigação. Exemplo Suponhamos três devedores solidários da quantia de R$150.000,00. Se o credor remir parte da dívida ou receber o pagamento parcial, digamos no valor de R$50.000,00, os três devedores continuarão solidariamente responsáveis e devedores dos R$100.000,00 restantes (art. 277, CC 2002). Em outro giro, se um dos devedores pagar integralmente a dívida, a obrigação será extinta para todos, e, se a remissão for parcial e em favor de um devedor, especificamente, os demais devedores continuarão solidariamente obrigados ao restante. Além disso, a propositura da ação em face de um dos devedores não importa em renúncia da solidariedade, o que significa dizer que os demais devedores continuam responsáveis, subsistindo a possibilidade de o credor acionar os demais para reaver o seu crédito (art. 275, parágrafo único, CC 2002). A rigor, a renúncia à solidariedade passiva em favor de um, de alguns ou de todos os devedores é possível, como já referido. No entanto, a renúncia deve ser expressa e não importará em remissão da dívida, mas tão somente na extinção da solidariedade. Assim, se a renúncia for parcial, ou seja, em favor de um ou de alguns devedores apenas, a solidariedade subsistirá entre os demais codevedores, só ficando liberado aquele a quem a renúncia favoreceu. Se a renúncia for total, cada devedor passará a responder pela sua quota-parte do débito (art. 282, CC 2002). Mesmo na hipótese de renúncia à solidariedade em favor de um devedor, este não ficará totalmente exonerado, pois, na eventualidade de um dos devedores solidários remanescentes tornar-se insolvente, aquele que havia sido beneficiado pela renúncia poderá ser chamado novamente a responder pelo todo (art. 284, CC 2002). Assim como a solidariedade ativa perdura por toda a existência da relação, a passiva também, inclusive na eventualidade de conversão em perdas e danos, havendo ainda a sua transmissibilidade aos herdeiros do devedor falecido. No caso de falecimento de um dos devedores solidários, seguindo a regra de que a herança responde pelo pagamento das dívidas do falecido (art. 1.997, CC 2002), haverá a transmissão da obrigação, mas não haverá solidariedade entre os herdeiros. Significa dizer que a herança, antes da partilha, responde pela dívida. Entretanto, uma vez realizada a partilha, cada um dos herdeiros responderá proporcionalmente ao seu quinhão hereditário, e todos reunidos representarão aquele devedor solidário falecido (art. 276, CC 2002). Tornando-se impossível a prestação por culpa de um dos devedores solidários, a obrigação subsistirá para todos, os quais permanecerão solidariamente responsáveis pelo equivalente, porém só o culpado responderá pelas perdas e danos (art. 279, CC 2002). Isso porque a solidariedade diz respeito à relação entre as pessoas ocupantes dos polos da relação, e não ao objeto. Consequentemente, ainda que a prestação seja divisível, o que se dá com a sua conversão em pecúnia, todos os devedores são obrigados à integralidade. Mas a culpa, como é cediço, é pessoal e, sendo assim, só o devedor culpado responderá pelos acréscimos decorrentes da indenização cabível. Já na hipótese de inadimplemento parcial, em decorrência da unidade da prestação, todos os devedores solidários, na relação externa, ou seja, perante o credor, respondem pelos juros ou acréscimos moratórios, mesmo que apenas um deles tenha sido demandado (art. 280, CC 2002). Como já mencionado, a solidariedade manifesta-se nas relações externas, determinando que ambos os credores têm direito a receber a integralidade da prestação, bem como todos os devedores são obrigados pelo todo. Mas na relação interna, qual seja, a estabelecida entre os credores e/ou entre os devedores, prevalece a responsabilidade individual. Assim, na hipótese de inadimplemento parcial, ainda que qualquer dos devedores responda ao credor pelos juros, na relação interna somente o culpado arcará por esse acréscimo. Da mesma forma, sempre que um dos devedores solidários satisfizer a dívida por inteiro, poderá exigir de cada um dos codevedores a sua quota-parte (art.283, CC 2002). Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. Obrigações alternativas 2:51 min. Obrigações divisíveis e indivisíveis 2:57 min. MÓDULO 2 Vem que eu te explico! Obrigações alternativas 2:51 min. Obrigações divisíveis e indivisíveis Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Amanda e Natália, irmãs coproprietárias de um apartamento na Zona Sul de São Paulo, decidem alienar o imóvel para Maria, parcelando a prestação em 24 vezes. Logo após a obtenção de um aumento em seu capital pessoal, Maria decide adimplir de uma vez todas as parcelas remanescentes, e efetua o pagamento diretamente para Amanda. Diante desse cenário: A Natália deve exigir de Maria o adimplemento de sua parte, como cocredora de Amanda. B Para que o pagamento surta efeito com relação à Natália, Maria deveria ter requerido a expressa anuência de Natália. C Ainda que Natália possua direito à sua parcela devida, ela deve requerer o pagamento à Maria, pois Amanda permanece sendo credora. D Natália poderá requerer perdas e danos em face de Amanda e Maria por não ter sido cientificada do pagamento. E Assiste à Natália exigir o que lhe é devido à Amanda. Parabéns! A alternativa E está correta. Nos termos do art. 261, CC 2002, se um dos credores receber a prestação por inteiro, a cada um dos outros credores assistirá o direito de exigir dele em dinheiro a parte que lhe caiba no total. Questão 2 Acerca da solidariedade ativa das obrigações: A Cada um dos credores solidários tem direito a exigir do devedor o cumprimento da prestação por inteiro. B Se o adimplemento for efetuado diretamente a um cocredor, o devedor permanece inadimplente perante os demais cocredores. Em havendo solidariedade ativa em determinada 3 - Cessão de crédito e assunção de dívida Ao �nal deste módulo, você irá identi�car a cessão de crédito e assunção de dívida. Primeiras palavras Neste módulo, estudaremos as modalidades ou formas de transmissão das obrigações. Ultrapassada a noção romana de obrigação como C obrigação, torna-se impossível o arranjo da prestação perante a pluralidade de devedores. D O adimplemento de determinada prestação deve ser sempre realizado de forma equânime entre os cocredores, por parte do devedor. E Enquanto nenhum cocredor exigir o adimplemento da prestação, o devedor deverá seguir a ordem de preferência sobre a que credor lhe deve mais. Parabéns! A alternativa A está correta. Trata-se da literalidade do art. 267, CC 2002: todos os cocredores possuem direito a exigir por inteira a prestação perante o devedor. vínculo pessoal, especialmente a partir da migração da responsabilidade para o viés patrimonial, foi possível identificar a dinamicidade das obrigações, tanto em seu conteúdo quanto na sua movimentação, integrando o trânsito jurídico. Assim, como parte da construção jurídica contemporânea, foi reconhecida a possibilidade e até mesmo a conveniência da transmissão das obrigações. Significa dizer, a possibilidade de uma relação jurídica obrigacional ser integralmente transmitida para outro sujeito ativo ou passivo. Não se trata de uma novação, mas tão somente da manutenção da mesma relação com a alteração de um dos seus polos, o subjetivo, na hipótese da cessão de crédito, ou o passivo, na hipótese de assunção de dívida. Cessão de crédito (arts. 286 a 298, CC 2002) Cessão de crédito Vamos aprofundar nosso conceito nessa temática? Acompanhe a professora Fernanda Paes no vídeo a seguir. Como você pôde observar, cessão de crédito nada mais é do que a possibilidade de determinado credor transferir a outro indivíduo, estranho à relação obrigacional original, sua posição de credor. Em tais casos, o credor primitivo (cedente) passa adiante a sua qualidade a um novo credor (cessionário), enquanto o devedor (cedido) obriga-se agora a adimplir a prestação perante a este. Cumpre destacar que, diferentemente do que ocorre nas hipóteses de sub-rogação e novação, aqui não há extinção do vínculo obrigacional original, apenas uma alteração no polo ativo. Assim, trata-se de negócio jurídico por ato entre vivos pelo qual o credor originário transfere o seu crédito tal como contraído, incluindo-se todos os elementos principais e acessórios, a um terceiro. A cessão tem como fonte mais usual a vontade das partes, mas também pode derivar da lei. Além disso, em regra, todos os créditos podem ser objeto de cessão. Não poderão ser cedidos, excepcionalmente, em razão da natureza da obrigação (alimentos), da lei (direito de preferência) ou do acordo entre as partes (art. 286, CC 2002). Dentre as vedações legais, temos a proibição da cessão do crédito penhorado. Isto porque, após a penhora, o crédito vincula-se à execução judicial e fica inalienável (art. 298, CC 2002). No que diz respeito à sua abrangência, a cessão pode ser parcial ou total e, como regra, abarca todos os seus acessórios, como o direito de escolha nas obrigações alternativas e as garantias reais ou fidejussórias (art. 287, CC 2002), sendo esta uma importante distinção com a novação que, em razão de resultar na extinção da obrigação principal, extingue os acessórios. A cessão envolve três figuras: O cedente, que é o credor originário, que transfere o seu crédito. O cessionário, que é o terceiro a quem é transmitido o crédito. O cedido, que é o devedor, a quem incumbe cumprir a obrigação. Apesar de envolver e afetar essas três figuras, a cessão é realizada apenas entre os dois primeiros, cedente e cessionário, não sendo exigida forma especial para que produza os efeitos entre as partes, visto tratar-se de ato consensual. Contudo, temos algumas nuances: Operações perante terceiros Caso as partes pretendam que o negócio opere efeitos perante terceiros, deverá ser celebrada mediante instrumento público ou particular revestido das solenidades exigidas (art. 288, CC 2002). Participação do cedido O cedido não participa da cessão, que será válida independentemente da sua anuência, tanto que desde logo o cessionário pode exercer os atos conservatórios do seu direito (art. 293, CC 2002). Noti�cação da cessão No entanto, o cedido ou devedor deverá ser notificado da cessão, a fim de possibilitar que realize o pagamento ao credor de direito, bem como para oportunizar ao devedor a oposição de exceções ao cedente e ao cessionário (art. 294, CC 2002). A notificação ao devedor é requisito de eficácia da cessão perante o devedor (art. 290, CC 2002), e pode ser feita pelo cessionário ou pelo cedente. Ainda que a lei não determine o momento exato para a realização da notificação, o indicado é que seja feita tão logo ocorra a cessão, a fim de evitar que o devedor efetue o pagamento ao devedor originário. A rigor, o maior interessado em notificar é cessionário, pois a notificação perfaz uma forma de proteção do seu crédito recém adquirido. Afinal, caso o cedido não seja notificado da cessão e efetue o pagamento ao credor primitivo, esse pagamento terá efeito liberatório (art. 292, CC 2002). Como regra, o cedente não se responsabiliza pela solvência do devedor, cabendo assim ao cessionário ser diligente antes da realização da cessão (art. 295, CC 2002). Nada impede, no entanto, que essa responsabilidade pela solvência do cedido seja expressamente assumida (art. 297, CC 2002). O cedente se responsabiliza pela existência do crédito que está sendo transferido (art. 296, CC 2002). Assim, se o cedente transferiu onerosamente um título nulo ou inexistente, deverá ressarcir os prejuízos causados ao cessionário. Se a cessão tiver sido efetuada a título gratuito, o cedente só responde se tiver procedido de má fé. Assunção de dívida Da mesma forma que é permitido ao credor alienar seu crédito, é também permitida a substituição do polo passivo da obrigação, com outro devedor o assumindo. Trata-se da assunção de dívidaou cessão de débito, negócio jurídico bilateral pelo qual um novo devedor substitui o devedor originário, mantido inalterado o objeto da relação jurídica obrigacional. Assunção x novação A assunção de dívida, portanto, opera mediante a transferência da posição de devedor a outrem, mas, neste caso, mediante anuência do credor. Similarmente à cessão de crédito, a assunção de dívida não se confunde com novação subjetiva passiva, eis que a relação obrigacional é mantida integralmente. Dentre as formas de sua deflagração, tem-se a possibilidade de ser transmitida espontaneamente, em que o devedor originário pode se exonerar inteiramente de sua obrigação ou ainda passar a ser solidariamente responsável com um novo devedor à relação obrigacional. Ainda, a assunção de dívida pode ser delegada, mediante transferência do débito a terceiro, alheio à relação obrigacional, com a anuência do credor. Requisitos para a assunção As condições para a assunção de dívida são praticamente as mesmas da cessão de crédito, salvo a necessidade de expresso consentimento do credor. Assim, poderá ocorrer a assunção de dívida quando a lei e a natureza da obrigação permitirem e o acordo entre as partes não proibir. Exemplificativamente, não será possível a assunção se o negócio jurídico originário contiver cláusula proibitiva ou versar sobre obrigações personalíssimas; além disso, ninguém pode ser obrigado a assumir uma dívida de outrem. Como já referido, é requisito fundamental para a assunção da dívida a anuência expressa do credor, a qual pode ser pode ser por escrito ou verbal, ou seja, não se exige forma específica, mas tão somente a anuência expressa e inequívoca. Tal requisito justifica-se porque o credor precisa concordar com tal alteração, afinal é o patrimônio do devedor que exerce a função de garantia do seu crédito. Nesse sentido, a exigência de anuência expressa do credor é mecanismo que visa evitar a fraude contra ele. Ademais, com a assunção da dívida por terceiro, extinguem-se as garantias especiais, reais ou fidejussórias, originariamente dadas pelo devedor primitivo ao credor, salvo se expressamente assentir em sua manutenção (art. 300, CC 2002). Exemplo Suponhamos que A é devedor de B e dá como garantia de pagamento um bem seu. C assume a dívida de A. O bem dado por A deixa de garantir a dívida assumida por C, exceto se A expressamente concordar que o seu bem continue garantindo a dívida. A única exceção ao requisito da anuência expressa do credor é na hipótese de adquirente de imóvel hipotecado (art. 303, CC 2002), quando o silêncio do credor importará anuência. Tal exceção justifica-se pelo fato de que a garantia é a hipoteca incidente sobre o próprio imóvel. Além disso, como não poderia deixar de ser, a assunção de dívida deve observar os parâmetros impostos pela boa-fé. Consequentemente, a exoneração do devedor originário fica condicionada à anuência do credor com a substituição do polo passivo e a solvência do novo devedor ao tempo da assunção, pois se ele for insolvente, e sendo tal fato desconhecido do credor, o devedor originário não será exonerado da dívida (art. 299, CC 2002). Por fim, na eventualidade de invalidação da assunção, o negócio originário é restaurado com todas as suas garantias, salvo as prestadas por terceiros de boa-fé, entendido como aquele que desconhecia do vício (art. 301, CC 2002). Significa dizer que, se o terceiro que participou da substituição como garantidos conhecia o vício, as garantias dadas por ele permanecem na obrigação primitiva que foi restaurada. Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. Assunção x novação de dívida 2:49 min. Requisitos para a assunção de dívida 2:56 min. MÓDULO 3 Vem que eu te explico! Assunção x novação de dívida 2:49 min. Requisitos para a assunção de dívida Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 No que tange à cessão de crédito, é correto afirmar que: A Salvo disposição em contrário, as obrigações acessórias não acompanham a obrigação principal. B Salvo disposição em contrário, o cedente responde pela solvência do devedor. C O credor pode ceder o seu crédito, se a isso não se opuser a natureza da obrigação, a lei, ou a convenção com o devedor. D A cláusula proibitiva de cessão poderá ser oposta ao cessionário de boa-fé, mesmo constando no instrumento da obrigação. E O cessionário nunca poderá exercer os atos conservatórios do direito cedido, por ser intransferível. Parabéns! A alternativa C está correta. Trata-se da previsão contida no art. 286, CC 2002. O credor poderá ceder seu crédito, desde que tal cessão não se oponha à natureza da obrigação, da lei ou de convenção pactuada com o devedor. Questão 2 Sobre a assunção de dívida, é incorreto afirmar que: A Para que terceiros assumam a obrigação do devedor, é necessário o consentimento expresso do credor. B Uma vez transferida a dívida, o devedor primitivo permanece solidário ao adimplemento da obrigação, mesmo não sendo insolvente anteriormente. Considerações �nais Uma vez verificadas modalidades e formas de transmissão das obrigações, o conteúdo relativo ao estudo do direito das obrigações se torna efetivamente mais compreensível, na medida em que podemos analisar, diante de situações mais próximas da habitualidade, a aplicação da teoria e lógica por trás da consolidação das obrigações. Espera-se que o material abordado seja produtivo e útil ao dia a dia do estudante de Direito, pois o assunto possui expressiva aplicação prática e rotineira. A exemplo das demandas de dar, fazer e não fazer, diversas são as hipóteses e nuances a serem examinadas no que se refere à tutela dos direitos e às garantias de credores e devedores. No que tange às obrigações alternativas, divisíveis, indivisíveis e solidárias, fomos deparados com a plasticidade e a complexidade das relações e obrigações, e de que modo repercutem sobre a efetiva prestação, justa e adequada. Já quanto às hipóteses de cessão de crédito e assunção de dívida, fica clara a observância do caráter perfeitamente transferível das C Qualquer das partes pode assinar prazo ao credor para que consinta na assunção da dívida, interpretando-se o seu silêncio como recusa. D Salvo disposição em contrário, consideram-se extintas as garantias especiais originárias dadas ao credor. E Como regra, se a substituição do devedor vier a ser anulada, restaura-se o débito, com todas as garantias, salvo aquelas prestadas por terceiros. Parabéns! A alternativa B está correta. De acordo com o art. 299, CC 2002, uma vez havendo a assunção de dívida, o devedor primitivo se exonera da obrigação; salvo se, ao tempo da assunção, era insolvente e o credor o ignorava. obrigações, principalmente quando pautadas no caráter essencialmente patrimonial da prestação em si. Podcast Neste bate-papo, a professora Fernanda Paes demonstrará as principais características de cada espécie de obrigação, buscando diferenciá-las. Referências GOMES, O. Obrigações. Rio de Janeiro, RJ: Grupo GEN, 2019. Consultado na internet em: 19 jun. 2021. GONÇALVES, C. R. Direito civil brasileiro v 2 - teoria geral das obrigações. São Paulo, SP: Saraiva, 2019. Consultado na internet em: 24 jun. 2021. MIRAGEM, B. Direito civil - Direito das obrigações. Rio de Janeiro, RJ: Grupo GEN, 2021. Consultado na internet em: 24 jun. 2021. MONTEIRO, W. B. Curso de direito civil. v. 3. São Paulo, SP: Saraiva, 1982. NORONHA, F. Direito das obrigações. 3. ed. São Paulo, SP: Saraiva, 2010. POTHIER, R. J. Tratado das obrigações. Campinas, SP: Servanda, 2002. RIZZARDO, A. Direitos das obrigações. 9. ed. Rio de Janeiro, RJ: Grupo GEN, 2018. Consultado na internet em: 24 jun. 2021. STOLZE, P.; FILHO, R.P. Novo curso de direito civil 2 - obrigações. São Paulo: Editora Saraiva, 2019. Consultado na internet em: 24 jun. 2021. TARTUCE,F. Direito Civil - Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil - Vol. 2. Rio de Janeiro, RJ: Grupo GEN, 2021. Consultado na internet em: 24 jun. 2021. TEPEDINO, G. Fundamentos do Direito Civil - Obrigações - Vol. 2. Rio de Janeiro, RJ: Grupo GEN, 2020. Consultado na internet em: 24 jun. 2021. Explore + Para saber mais sobre os assuntos explorados neste conteúdo: Leia o texto As obrigações e os contratos, de Ruy Rosado Aguiar Júnior, publicado na Revista CEJ. Aumente seu conhecimento com a leitura de A obrigação como processo, de Clovis V. Couto e Silva. Saiba mais com a leitura do texto A funcionalização das relações obrigacionais: interesse do credor e patrimonialidade da prestação, de Carlos Nelson Konder e Pablo Rentería. Baixar conteúdo javascript:CriaPDF()
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