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DESCRIÇÃO Abordagem conceitual e prática dos modos de extinção da relação obrigacional, que ocorrem por meio do adimplemento ou do inadimplemento. PROPÓSITO Compreender que essa é uma das principais matérias das quais resultam demandas discutidas em ações judiciais, sendo, portanto, um assunto de grande viés prático e operabilidade para o exercício das profissões jurídicas que o aluno irá exercer no futuro. PREPARAÇÃO Tenha o Código Civil (CC) atualizado em mãos. OBJETIVOS MÓDULO 1 Reconhecer os conceitos básicos de pagamento MÓDULO 2 Analisar as principais regras do adimplemento obrigacional MÓDULO 3 Identificar as modalidades de inadimplemento e suas consequências INTRODUÇÃO Na sociedade contemporânea, as obrigações constituem um tipo de relação de muita intensidade e que são muito comuns. As principais obrigações são aquelas que resultam de contratos e de atos ilícitos e constituem grande número de ações judiciais que visam a discutir tais obrigações ou, então, exigir seu cumprimento. Daí a importância de compreender em detalhes como se dá o cumprimento de uma obrigação (adimplemento) e quando tal cumprimento não ocorre (inadimplemento), pois as consequências sociais e jurídicas podem servir de campo fértil para o desenvolvimento profissional do aluno que está sendo formado. Com o objetivo de colaborar com o futuro exercício da profissão, aqui se pretende apresentar conceitos e demonstrar como eles se aplicam para a solução de problemas que resultam do não cumprimento da obrigação. Para isso, primeiro será apresentado o cumprimento natural ou normal de uma obrigação, o chamado pagamento. Em seguida, serão apresentadas modalidades de extinção da obrigação sem que tenha havido o cumprimento das prestações. Por fim, será apresentado o regime jurídico do inadimplemento, ou seja, quando fica caracterizado o não cumprimento da prestação e quais as consequências de tal ato. javascript:void(0) ATOS ILÍCITOS Por meio dos atos ilícitos, exsurge, em função da responsabilidade civil, a obrigação de reparação dos prejuízos e danos causados. Podemos citar como exemplo uma batida de automóveis, em que um deles deu causa ao ocorrido. MÓDULO 1 Reconhecer os conceitos básicos de pagamento O CUMPRIMENTO DIRETO DE UMA OBRIGAÇÃO Para uma melhor compreensão deste módulo, o especialista Gilberto Silvestre apresentará a distinção inicial entre pagamento direto e indireto. PAGAMENTO A primeira coisa que você precisa saber é que a palavra “pagamento”, no Direito Civil, não significa, necessariamente, pagar em dinheiro algo que é dado ou feito em favor do credor. A obrigação é constituída, sempre, por prestações ( dar, fazer e não fazer). O pagamento significa o cumprimento das prestações de uma relação obrigacional. javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) DAR Obrigação de dar: está disposta nos arts. 233 ao 246 do CC. FAZER Obrigação de fazer: prevista nos arts. 247 ao 249 do CC. NÃO FAZER Obrigação de não fazer: regulada pelos arts. 250 e 251 do CC. PAGAR SIGNIFICA DAR, FAZER OU NÃO FAZER AQUILO QUE ESTÁ ESTABELECIDO EM UMA OBRIGAÇÃO. Por exemplo, pense em um cantor contratado para realizar uma apresentação em uma festa de formatura. Foto: Shutterstock.com. Ao comparecer ao baile de formatura e fazer (Prestação de fazer.) o show, esse cantor pagou (É o chamado adimplemento.) sua prestação e cumpriu a obrigação. Após pagar sua prestação de fazer, receberá o cachê ajustado previamente: o dono do baile irá dar (Prestação de dar.) uma quantia em dinheiro ao cantor, o que corresponde ao pagamento da sua parte na obrigação. Foto: Shutterstock.com. Foto: Shutterstock.com. Portanto, pagamento é cumprir as prestações e, lembre-se, existem três tipos de prestações: dar, fazer e não fazer. Independentemente de envolver a entrega de uma quantia em dinheiro (dar), também haverá pagamento quando o devedor executa sua prestação de fazer ou não fazer. Os últimos conceitos iniciais para você compreender o assunto são que o pagamento é o cumprimento das prestações, o que ocasiona o adimplemento. Com o adimplemento, diz-se que a obrigação foi solvida, ou seja, foi executada, atingiu seus objetivos. ATENÇÃO Embora com significados técnicos diferentes, solver, pagar, adimplir, cumprir, quitar são sinônimos de que as prestações foram executadas e a obrigação foi cumprida. Da mesma maneira, solvência, pagamento, adimplemento, cumprimento, quitação indicam o fenômeno de que a obrigação foi executada. QUEM DEVE PAGAR O cumprimento da prestação devida é a forma natural de extinção do vínculo obrigacional. O adimplemento ocorre com o pagamento, que consiste no ato de dar, fazer ou não fazer, cumprindo o débito do devedor. Esse pagamento, de acordo com o caput do art. 304 do Código Civil, pode ser feito: Pelo devedor Por um terceiro interessado Por um terceiro não interessado Veja, então, que qualquer interessado na extinção da dívida pode pagá-la, usando, se o credor se opuser, dos meios conducentes à exoneração do devedor. Nas obrigações impessoais, independentemente de quem pagar, a obrigação será solvida. Assim, a prestação pode ser cumprida por qualquer pessoa, pois o interesse do credor é exclusivamente no objeto da prestação, e não em quem está pagando (cumprindo a prestação). O mesmo não ocorre, porém, em se tratando de obrigação intuitu personae (personalíssima ou pessoal), na qual somente o devedor pode pagar, e um terceiro (por exemplo, um fiador), no máximo, pagará as perdas e os danos pelo inadimplemento. Em se tratando de pagamento por terceiro: Caso o credor se oponha ao pagamento a ser feito, o terceiro poderá usar dos meios que o devedor tem ao seu dispor para se exonerar da obrigação, como, por exemplo, a consignação em pagamento (arts. 334 a 345 do Código Civil e arts. 539 a 549 do Código de Processo Civil). Se aquele que paga, porém, for um terceiro não interessado, terá direito a um reembolso a ser pago pelo devedor, ou seja, o devedor deverá reembolsar o terceiro que pagar sua dívida. Se o terceiro adimplir dívida vencida, pode exigir do devedor o reembolso. Há, porém, uma hipótese em que o devedor estará desonerado de reembolsar o terceiro que paga, que será quando desconhecia ou se opôs ao pagamento por tal terceiro (art. 306 do CC). Mas não basta o desconhecimento ou oposição do devedor. O art. 306 adiciona um terceiro requisito, qual seja, a possibilidade de o devedor ilidir a ação. ILIDIR A AÇÃO SIGNIFICA QUE O DEVEDOR PODERIA IMPUGNAR O DÉBITO, OPONDO, POR EXEMPLO, EXCEÇÃO, COMO A PRESCRIÇÃO. A transmissão de propriedade por meio da entrega de um objeto é chamada de tradição. A tradição somente poderá ser feita por quem tem legitimidade para alienar o bem, ou seja, pode o transferir para outra pessoa. Foto: Shutterstock.com. A QUEM SE DEVE PAGAR O pagamento deve ser feito ao próprio credor em pessoa ou como ele estipular (por exemplo, depósito em conta bancária). Também será solvida a dívida se for paga a quem representa o credor, como, por exemplo, seu mandatário (“procurador”), seu preposto, seu tutor ou curador. Caso o pagamento seja feito a terceiro sem prévia anuência do credor, a solvência do devedor dependerá de: RATIFICAÇÃO POR PARTE DO CREDOR O credor deverá confirmar o recebimento da prestação pelo terceiro, ou seja, aceitar o pagamento posteriormente. O TERCEIRO REVERTEU O QUE FOI RECEBIDO EM FAVOR DO CREDOR Ocorre quando aquele que recebeu o pagamento incorpora a prestação recebida ao patrimônio do credor, ou, então, transformou a prestação em algum benefício em favor do credor. Existe o caso, ainda, de o pagamento ser realizado a um “credor putativo”, que é alguém que parece ser o credor, mas não é. Se o devedor pagar o débito a um credor putativo, ficará exonerado da obrigação se o fizer de boa-fé. javascript:void(0) javascript:void(0) EXEMPLO Indicações com erro no instrumento da obrigação; mandatário que não apresentao instrumento de revogação; ou cessão de crédito não notificada por escrito. Mesmo que se comprove que aquele que recebe não era credor, o devedor, se não tinha como saber de seu erro, se dá por solvido. Nesse caso, o credor verdadeiro deverá cobrar o valor do credor putativo. Se um terceiro portar o título de quitação assinado pelo credor (por exemplo, um recibo) há a presunção de que esse terceiro foi autorizado pelo credor a receber o pagamento. Agora, observe o art. 312 do Código Civil, o qual se trata do pagamento de crédito penhorado ou impugnado. A situação ali descrita ocorre quando o credor que faz jus ao pagamento é devedor em outras obrigações, tendo credores. Por exemplo: Foto: Shutterstock.com. A tem o valor de R$ 25 mil para receber de B, referente à venda de um carro, e deve R$ 20 mil ao Banco C, referente a um empréstimo. No caso de o Banco C penhorar na execução o crédito que A tem para receber de B, o devedor B, se notificado de tal penhora (intimado), terá que pagar seu débito não a A, mas ao credor Banco C. Foto: Shutterstock.com. Foto: Shutterstock.com. Tal pagamento poderá ocorrer, por exemplo, com depósito judicial ou diretamente ao executante Banco C, se o juiz assim determinar. Se, porém, mesmo notificado da penhora, o devedor B realizar o pagamento diretamente ao seu credor A, não ficará exonerado da dívida penhorada perante o executante Banco C. Foto: Shutterstock.com. Foto: Shutterstock.com. Isso significa que terá que cumprir novamente sua prestação, mas agora em favor do Banco C. Terá, porém, o direito de reaver do credor aquilo que indevidamente lhe pagou. OBJETO DO PAGAMENTO O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, mesmo que essa prestação seja mais valiosa (art. 313, CC). Deve-se dar, fazer ou não fazer em favor do credor aquilo que consta na obrigação. Porém, ao credor é dado o direito de aceitar prestação diversa, se consentir expressa ou tacitamente (art. 356, CC). As obrigações podem conter prestação executável de imediato (execução imediata, à vista) ou de trato sucessivo ou a longo prazo. Esta última pode ser: PRESTAÇÃO DIFERIDA O pagamento ocorre no futuro, porém, em um único ato, ou seja, uma só vez, integralmente. Nesse caso, a prestação é indivisível. PRESTAÇÃO CONTINUADA O pagamento ocorre no futuro, em duas ou mais partes, ou seja, é pago parceladamente. Aqui, a prestação é divisível. javascript:void(0) javascript:void(0) Se o acordo da obrigação era o pagamento integral de prestação que poderia ser divisível, não podem o credor e o devedor ser compelidos a aceitar e realizar, respectivamente, pagamento parcelado. No caso das obrigações de trato sucessivo, é possível convencionar o aumento progressivo das prestações. O credor e o devedor poderão convencionar o aumento do valor nominal da prestação em dinheiro. EXEMPLO Reajuste da parcela da prestação com base na inflação. De acordo com o art. 315 do CC, as dívidas em dinheiro deverão ser pagas no vencimento, em moeda corrente e pelo valor nominal. Em regra, pagamento em dinheiro deve obedecer a três regras básicas: A exigibilidade se dá no vencimento (exceto no caso do art. 333, CC). A moeda deverá ser a corrente, ou seja, a moeda nacional. Pagamento em moeda estrangeira é proibido (art. 318, CC). O valor deve ser o nominal (o que consta escrito em um título obrigacional), e não o real (aquele que considera os efeitos da inflação sobre o crédito). Os arts. 316 a 326 podem relativizar essas regras dispostas no art. 315, CC. São nulas as convenções de pagamento em ouro ou em moeda estrangeira (art. 318, CC). O pagamento de prestação pecuniária deve ser feito em moeda nacional corrente. O ouro e a moeda estrangeira podem ser, evidentemente, objeto de uma prestação (por exemplo, compra e venda comercial de barra de ouro). O art. 317 do CC prevê a possibilidade de, por motivos imprevisíveis, se sobrevier desproporção entre o valor da prestação devida e o valor da prestação a ser pago no momento de sua execução, o juiz corrigir, a pedido da parte, de modo que assegure, quanto possível, o valor real da prestação. Trata-se da chamada Teoria da Imprevisão. Quando houver onerosidade excessiva da prestação, que se caracteriza pela desproporção do valor nominal originalmente fixado no título e o valor do momento da execução, a parte poderá propor ação revisional para que o juiz ajuste (corrija) o referido valor da prestação, para garantir o equilíbrio obrigacional. Esses são os elementos caracterizadores da revisão do art. 317 do CC: Objeto da revisão Apenas se revisa o valor da prestação. Resolução Não prevista. Causa da onerosidade Fatores imprevisíveis. Fundamento É um direito do devedor previsto na lei. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Quadro: Elementos do art. 317. Elaborado por: Gilberto Fachetti Silvestre. AS DESPESAS DO PAGAMENTO CABEM AO DEVEDOR, EXCETO SE O CREDOR ASSUMIU TAL RESPONSABILIDADE (ART. 325). PROVA DO PAGAMENTO O principal instrumento de prova de que um pagamento foi feito se dá pela quitação (art. 319 do CC), que é o documento emitido pelo credor que comprova o cumprimento da prestação pelo devedor. É a prova de que foi solvida a obrigação. A quitação deve ser escrita, pois não poderá ser comprovada exclusivamente pela via testemunhal. É lícito ao devedor reter o pagamento enquanto o credor não lhe der a quitação a que tiver direito. Requisitos da quitação: Ser escrita (particular ou pública). Conter o valor. Descrever a dívida cumprida e referências à obrigação. Ter o nome do devedor ou quem pagou por ele. Ter a data do pagamento. Indicar o lugar em que foi cumprida a prestação. Ter a assinatura do credor. ATENÇÃO A ausência de um desses requisitos não anula o título de quitação. Pode ser que a quitação se dê por meio da devolução do título, como ocorreria, por exemplo, na devolução de um cheque quitado. A inutilização do título perdido pela declaração do credor pode ser aperfeiçoada pela ação especial prevista no art. 259 do Código de Processo Civil (ação de anulação e substituição de títulos ao portador). Quando o pagamento for em quotas periódicas, a quitação da última estabelece, até prova em contrário, a presunção juris tantum de estarem solvidas as quotas anteriores (art. 322 do CC). A entrega do título pelo credor ao devedor faz presumir a quitação (art. 324 do CC). Tal presunção é juris tantum, pois o credor pode provar a falta de pagamento em até 60 dias após a entrega do título. LUGAR DO PAGAMENTO Em regra, o local de pagamento é o domicílio do devedor, mas há exceções a essa regra: Convenção das partes. Determinação legal (exemplo: quando se tratar de um imóvel – art. 328 do CC). Natureza da obrigação (exemplo: a contratação de uma agência de viagens, que cumprirá seus deveres na cidade para onde se levará a excursão). Circunstâncias (exemplo: um hotel somente pode cumprir sua prestação na cidade onde estiver situado). Havendo dois ou mais lugares possíveis para o pagamento, é direito do credor escolher o local de pagamento se o título da obrigação indicar mais de um local possível. Ocorrendo motivo grave para que se não efetue o pagamento no lugar determinado, poderá o devedor fazê-lo em outro, sem prejuízo para o credor (art. 329 do CC): REQUISITO DESCRIÇÃO Motivo grave Situação de risco de dano pessoal ou patrimonial, ou um fortuito, que impossibilita o cumprimento no local devido. Exemplo: o devedor, doente, não pode ir até o domicílio do credor. Ausência de prejuízo ao credor Não pode o cumprimento em lugar diverso causar prejuízo ao credor. Exemplo: se a excursão para a Europa não pode ser realizada, não pode a agência de turismo cumprir sua prestação no nordeste brasileiro. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Quadro: Requisitos do art. 329. Elaborado por: Gilberto Fachetti Silvestre.Foto: Shutterstock.com. O pagamento reiteradamente feito em outro local faz presumir renúncia do credor relativamente ao previsto no contrato (art. 330). Com a finalidade de garantir um comportamento coerente entre as partes, decorrente da boa-fé objetiva (art. 422), o pagamento reiterado em local diverso do estabelecido, sem oposição do credor, levará à renúncia em receber o local previamente fixado. Trata-se de supressio para o credor (extinção do direito, por meio de uma renúncia tácita em razão do comportamento) e de surrectio para o devedor (surgimento de um direito de pagar em local diverso do inicialmente fixado). TEMPO DO PAGAMENTO A regra é que, não sendo fixado termo a quo (Data de início.) para o cumprimento da prestação, a execução da obrigação será imediata. Isso significa que sua exigibilidade tem começo desde a conclusão do fato gerador do vínculo obrigacional. Na obrigação condicional suspensiva (aquela que libera a eficácia do negócio), o início do cumprimento da prestação se dá na data da ocorrência do fato condicionante da produção de efeitos. Foto: Shutterstock.com. A emprestará apartamento para B caso este seja aprovado no vestibular. Trata-se de uma condição suspensiva, pois B somente pode exigir o apartamento se ocorrer sua aprovação. Foto: Shutterstock.com. Se B for aprovado no vestibular, como não foi fixada qualquer data (por exemplo, em até 30 dias após a divulgação do resultado), tão logo seja divulgado o resultado, B tem direito que A lhe entregue o imóvel. O art. 333 do CC fixa possibilidades de antecipação do vencimento da dívida como forma de garantia ao credor. Em situações de risco de insolvência do devedor (não ter patrimônio para saldar a dívida), é lícito ao credor antecipar o vencimento da dívida nas seguintes hipóteses: Falência do devedor Concurso de credores do devedor Penhora dos bens dados em garantia na execução de outros credores Insuficiência ou extinção de garantias (fiança, aval, hipoteca, penhor, anticrese) Ausência de reforço à garantia insuficiente ou extinta A possibilidade de antecipação não se aplica no caso de obrigação solidária passiva, pois os outros credores podem não incorrer nas hipóteses do art. 333 do CC. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. JOÃO TEM O VALOR DE R$ 5 MIL PARA RECEBER DE MARIA, REFERENTE A ALUGUÉIS ATRASADOS, E DEVE R$ 40 MIL A LUÍS, REFERENTE A UM EMPRÉSTIMO. JUDICIALMENTE, LUÍS CONSEGUE PENHORAR BENS DE JOÃO, DENTRE ELES O CRÉDITO QUE TEM A RECEBER DE MARIA. SOBRE ESSA SITUAÇÃO, ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA: A) Se, mesmo notificada da penhora, Maria realizar o pagamento diretamente ao seu credor João, solverá sua obrigação, continuando a penhora do crédito entre João e Luís. B) Se, mesmo notificada da penhora, Maria realizar o pagamento diretamente ao seu credor João, deverá pagar novamente o valor de sua prestação, mas agora em favor de Luís. C) Se Maria for notificada da penhora, terá que pagar seu débito a João e comunicar a Luís que realizou o pagamento. D) Se Maria for notificada da penhora do crédito, terá solvida sua obrigação para com João se pagar seu débito a Luís, mesmo Luís não sendo seu credor. E) Se Maria não for notificada da penhora do crédito e efetuar o pagamento a João, Maria deverá pagar novamente a Luís e depois terá ação regressiva para reaver de João o que pagou. 2. SOBRE O PAGAMENTO DE UMA DÍVIDA FEITO POR TERCEIRO, ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA: A) O Código Civil não admite que se realizem pagamentos por terceiros, devendo a prestação ser cumprida pelo devedor perante o credor. B) Quando o interesse do credor é exclusivamente quanto ao objeto da prestação, a obrigação será solvida independentemente de quem pagar. C) As obrigações de fazer são intuitu personæ e, como tal, não admitem pagamento por terceiro. D) Se o terceiro adimplir dívida vencida, não poderá exigir do devedor o reembolso do que foi pago. E) Se aquele que paga for um terceiro não interessado, não terá direito a um reembolso a ser pago pelo devedor. GABARITO 1. João tem o valor de R$ 5 mil para receber de Maria, referente a aluguéis atrasados, e deve R$ 40 mil a Luís, referente a um empréstimo. Judicialmente, Luís consegue penhorar bens de João, dentre eles o crédito que tem a receber de Maria. Sobre essa situação, assinale a alternativa correta: A alternativa "B " está correta. A resposta está no art. 312 do Código Civil: “Art. 312. Se o devedor pagar ao credor, apesar de intimado da penhora feita sobre o crédito, ou da impugnação a ele oposta por terceiros, o pagamento não valerá contra estes, que poderão constranger o devedor a pagar de novo, ficando-lhe ressalvado o regresso contra o credor”. Trata-se do pagamento de crédito penhorado ou impugnado. 2. Sobre o pagamento de uma dívida feito por terceiro, assinale a alternativa correta: A alternativa "B " está correta. Embora o caput do art. 304 preveja que qualquer interessado na extinção da dívida pode pagá-la, tal não se aplica àquelas obrigações que somente podem ser cumpridas, exclusivamente, pela outra parte. Essas obrigações são chamadas de pessoais ou intuitu personæ, pois não podem ser cumpridas por qualquer um. Exemplo: o show de um cantor famoso só pode ser realizado por este cantor, pois a contratação foi por causa das suas características; logo, o cantor não pode ser substituído na hora de realizar o show. Por outro lado, as obrigações impessoais podem ser cumpridas por qualquer pessoa, pois o interesse é no objeto, e não na pessoa de quem cumpre a prestação. É a ela que se refere o caput do art. 304. Exemplo: na compra e venda de um carro, interessa ao vendedor o dinheiro do negócio, o qual pode ser entregue por qualquer pessoa. MÓDULO 2 Analisar as principais regras do adimplemento obrigacional AS DIFERENTES FORMAS DE ADIMPLEMENTO Para melhor compreensão do módulo, vamos assistir à breve introdução do especialista sobre pagamento indireto. NOVAÇÃO, COMPENSAÇÃO, CONFUSÃO E REMISSÃO DE DÍVIDA O Código Civil contempla algumas formas de solvência da obrigação que, porém, não são caracterizadas pelo cumprimento da prestação (pagamento propriamente dito). A obrigação é considerada adimplida, mas isso não ocorre por meio do cumprimento efetivo da prestação fixada originariamente na obrigação. É o chamado pagamento indireto. A novação, a compensação, a confusão e a remissão de dívida levam à solvência, mas de modo diverso do previamente fixado. Foto: Shutterstock.com. NOVAÇÃO Ocorre quando uma nova obrigação é constituída para substituir um débito originário. É ato com caráter duplo: é extintiva, pois resolve a primeira obrigação; e jurígena, pois faz surgir uma nova obrigação. A prestação originária à qual o credor fazia jus é extinta, surgindo para ele um novo direito creditório. Somente é possível novar uma obrigação que existe, senão a novação será um contrato novo. Necessariamente, terá que criar uma nova dívida, uma nova obrigação. Assim, haverá um novo direito de crédito para o polo ativo (credor), e um novo débito para o polo passivo (devedor). Como a novação extingue a obrigação, então também são extintos os acessórios e as garantias da dívida original, afinal, o acessório segue o principal (art. 364, CC). Por exemplo, se o fiador não consentir com a novação, a fiança é extinta (art. 366, CC). Embora a novação permita que haja um novo credor e um novo devedor, não haverá cessão ou assunção do crédito/débito primitivo, mas uma nova dívida. Também não há o pagamento do débito por alguém que assume os direitos do credor perante o devedor (sub-rogação). Dependendo do que foi novado, ou seja, objeto da novação, é possível classificar a novação nos seguintes tipos: NOVAÇÃO DESCRIÇÃO Objetiva Quando se altera a prestação ou o objeto da prestação. É a hipótese do inciso I do art. 360 do Código Civil. Exemplos: mutuário toma novo empréstimo bancário com a instituição bancária para saldar empréstimo anterior; renegociação de uma dívida,com redução ou desconto de juros ou aumento de parcelas. Subjetiva Uma nova dívida surge e há alteração na titularidade do polo ativo ou passivo. Tem- se: Novação subjetiva passiva: novo devedor. É a hipótese prevista no inciso II do art. 360. Novação subjetiva ativa: novo credor. É a hipótese prevista no inciso III do art. 360. Há possibilidade de novação subjetiva mista (ativa e passiva), quando ocorrem simultaneamente as situações dos incisos II e III. Exemplos: De novação subjetiva passiva: o familiar que assume perante o credor do parente uma nova dívida para saldar a primitiva. Imagine a situação em que o filho toma 100 sacas de café emprestadas e posteriormente fica impossibilitado de devolvê-las e pagar os juros. Seu pai, então, emite uma duplicata em favor do credor (mutuante das sacas de café) assumindo uma dívida para resolver a obrigação do filho para com o mutuante. De novação subjetiva ativa: uma determinada instituição financeira pagará o empréstimo de alguém feito com um banco. O mutuário, agora, passará a dever à instituição. De novação subjetiva mista: o pai assina duplicata a pagar para uma instituição financeira pagar a dívida do filho com um banco. Mista Quando há mudança do objeto da prestação e do polo ativo e passivo. Exemplo:o fazendeiro paga a dívida do seu vizinho de terra com a condição de este cuidar dos cavalos do primeiro. Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal Quadro: Espécies de novação. Elaborado por: Gilberto Fachetti Silvestre. Foto: Shutterstock.com. Foto: Shutterstock.com. Foto: Shutterstock.com. Fonte:Shutterstock Um requisito para a novação é o animus novandi, que é a vontade de novar, quer dizer, a novação depende de manifestação de vontade em criar dívida nova. De acordo com o art. 361, CC, não havendo ânimo de novar inequívoco, a segunda obrigação criada simplesmente confirma a primeira. A manifestação dessa vontade de novar pode ser expressa ou, então, tácita, esta última quando se presume pelas atividades dos envolvidos. EXEMPLO Um exemplo de animus tácito: o pai, que nunca se manifestou expressamente, deposita mensalmente as parcelas da dívida do filho. Quando se tratar de novação por substituição do devedor (novação subjetiva passiva), essa pode ser efetuada independentemente de consentimento do devedor substituído. O consentimento até pode ser dado, mas não é obrigatório. Diferentemente da novação do credor, a substituição do devedor e solvência de seu débito podem acontecer com ou sem sua anuência. Existem duas espécies de novação subjetiva passiva: POR EXPROMISSÃO O devedor primitivo é substituído sem seu conhecimento e concordância e o terceiro assumirá uma dívida para solver o débito do devedor. POR DELEGAÇÃO Devedor e credor consentem com a substituição do primeiro por um terceiro. A novação operada quanto a um dos codevedores solidários não aproveita aos demais. Extingue o débito do devedor primitivo, mas persiste a obrigação para os outros codevedores. O credor tem a opção de aceitar ou recusar o novo devedor. Se o devedor for insolvente, mas o credor nada opôs à novação subjetiva, não poderá o credor exigir o débito do devedor primitivo. Se, porém, o devedor primitivo conhecia a insolvência do seu substituto e nada comunicou ao credor (má- fé), terá o credor ação regressiva contra ele para haver as perdas e os danos. De acordo com o art. 367 do CC, a novação cabe nas seguintes situações: QUANDO A NOVAÇÃO É POSSÍVEL Obrigação já existente Obrigação anulável A novação tem por finalidade solver uma obrigação que já existe, e sobre ela firmar É possível novar uma obrigação anulável, especialmente para lhe dar validade, por meio da javascript:void(0) javascript:void(0) nova dívida. confirmação (art. 172). QUANDO A NOVAÇÃO É IMPOSSÍVEL Obrigação já extinta Obrigação ainda não existente Obrigação nula Uma obrigação já solvida não tem motivo para ser extinta porque não foi constituída. Não se pode (i)novar uma obrigação que ainda não foi constituída porque o contrato não foi firmado. O nulo não pode produzir efeitos. Se produziu alguma eficácia, tem que ser desfeita (art. 182). Além disso, o que é nulo não convalesce (art. 169). Obrigação nula é, por exemplo, uma que viole a lei, por exemplo, estabelecendo trabalhos forçados. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Quadro: Cabimento da novação. Elaborado por: Gilberto Fachetti Silvestre. Foto: Shutterstock.com. COMPENSAÇÃO É uma forma de pagamento pela qual dívidas recíprocas entre o devedor e o credor serão extintas por se neutralizarem proporcionalmente aos seus valores. Não há compensação com terceiro ou feita por terceiro (art. 376 do CC). As dívidas a serem neutralizadas devem ser: LÍQUIDAS javascript:void(0) Valor já determinado, conhecido, sabido. VENCIDAS Ambas já atingiram o prazo do pagamento, ou seja, chegaram ao vencimento e não foram pagas. FUNGÍVEIS Quando o objeto da prestação for bem fungível (substituível). A título de exemplo: 1 Imagine, agora, que A é fiador de B em uma dívida que este tem com C. Imagine, ainda, que A deva um valor a B que tomou emprestado anteriormente. 2 Se B for inadimplente perante C, o fiador A terá que saldar a dívida. De acordo com o art. 371, pagando a dívida de B para com C, A estará compensando (neutralizando) a dívida do empréstimo que tem com B. 3 É a compensação pelo fiador: se o fiador pagar a dívida do afiançado (devedor), estará compensando dívidas que tenha para com ele. Não se procederá à compensação se as partes livremente a ela renunciarem (art. 375) bilateralmente (feita por ambas as partes) ou unilateralmente (uma parte, previamente, declara não aceitar uma compensação futura). O art. 377 assim dispõe sobre a oposição do devedor à compensação: Devedor notificado da cessão de crédito Ocorre uma espécie de “preclusão”: o devedor não poderá opor a compensação perante o terceiro cessionário (aqui, “opor” tem o sentido de alegar e exigir). Assim, deverá cumprir seu débito em favor do cessionário e javascript:void(0) javascript:void(0) compensável entre seu credor e terceiro e que não se manifestou contrariamente a tal cessão (aqui, “não se opôs” está no sentido de tentar impedir). exigir do cedente o crédito a que faz jus receber deste. Por que o credor- cedente faria isso? Pode ser uma estratégia maliciosa para prejudicar o devedor originário em caso de inadimplência: receberá um valor do cessionário para reverter em outras vantagens e benefícios e não cumprir seu débito para com o devedor. Nem sempre poderá caracterizar fraude contra credores porque pode não haver consilium fraudis entre ele e o cessionário. Devedor não notificado da cessão de crédito que a outra parte fez a terceiro. Poderá opor (no sentido de alegar e exigir) a compensação perante o terceiro cessionário: seu débito será resolvido para com seu antigo credor. Assim, o cessionário deverá se entender com o cedente quanto aos seus possíveis prejuízos. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Quadro: Sistematização da oposição do devedor à cessão de crédito compensável. Elaborado por: Gilberto Fachetti Silvestre. Pode ser que exista um problema para a compensação, qual seja, as dívidas terem pagamento em lugares diversos. Nesse caso, as despesas da operação em outro lugar são deduzidas do valor a compensar, ou seja, também são compensadas (art. 378). É preciso observar restrições à compensação (art. 380): Se a compensação prejudicar terceiro: por exemplo, a compensação deixará uma das partes inadimplente pera um terceiro, do qual é devedor (art. 168). Penhora do crédito compensável: não há compensabilidade após ocorrer a penhora. Foto: Shutterstock.com. CONFUSÃO Ocorre quando, no âmbito de uma mesma obrigação, o devedor se torna seu próprio credor, ou o credor se tornaseu próprio devedor. Essa situação resolverá a obrigação por causa da confusão patrimonial e também porque ninguém é obrigado perante si mesmo. EXEMPLO Uma empresa X deve a uma empresa Y. Contudo, X incorpora ou se funde com Y, assumindo as obrigações uma da outra. Tonar-se devedora de si própria. A confusão poderá ser: TOTAL Diz respeito a todo o débito, caso em que resolve a obrigação e as partes se darão por solvidas. PARCIAL Quando somente parcela do débito é extinta. Nesse caso, a obrigação persiste quanto à parcela não confundida. Caso a confusão seja desfeita, a obrigação é restabelecida, inclusive no que diz respeito a seus acessórios. Foto: Shutterstock.com. REMISSÃO DE DÍVIDAS javascript:void(0) javascript:void(0) É quando o credor perdoa o débito do devedor, ou seja, dá por solvida a obrigação sem o cumprimento efetivo da prestação (art. 385, CC). O credor não receberá seu crédito. É uma desoneração do devedor. O CREDOR QUE PERDOA É CHAMADO DE REMITENTE E O DEVEDOR PERDOADO É O REMIDO. Se a remissão for representar um prejuízo a terceiro (por exemplo, alguém que seja credor do credor- remitente ou do devedor-remido), não produzirá efeitos. A remissão precisa do consentimento do devedor, que se não aceitar o perdão, persistirá o débito. Uma forma de desoneração ocorre pela devolução do título (art. 386, CC) que representa a obrigação. A remissão pode se dar sobre a garantia da dívida, situação em que se mantém o débito. EXEMPLO Remissão da fiança, do aval, do penhor. No caso de penhor, sua característica principal é a posse do bem dado em garantia, que será entregue ao credor pignoratício. Se o credor que tem a posse do bem devolver a coisa do devedor, presume-se a remissão da garantia (penhor), e não do débito principal (a dívida permanecerá). Quando se tratar de pluralidade passiva, ou seja, dois ou mais devedores, a remissão em relação a um dos codevedores não solve o débito, que persistirá proporcionalmente para os demais devedores. Fala-se em proporcionalmente porque será abatida do débito total a parcela que competia ao remido. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. A MODALIDADE DE SOLVÊNCIA DE UMA OBRIGAÇÃO CARACTERIZADA PELO SURGIMENTO DE UM NOVO CREDOR PARA EXIGIR NOVO CRÉDITO CONSTITUI A: A) Novação B) Sub-rogação C) Confusão D) Compensação E) Remissão 2. ANA TEM UM CRÉDITO PARA RECEBER DE JOSÉ. ELE VEM A FALECER E SUA HERANÇA DEVE SALDAR A DÍVIDA PARA COM OS CREDORES. OCORRE QUE ANA É HERDEIRA DE JOSÉ, E DEVERÁ SALDAR AS DÍVIDAS QUE ELE DEIXOU NOS LIMITES DE SUA HERANÇA. NESSE CASO, A OBRIGAÇÃO ENTRE ANA E JOSÉ É CONSIDERADA SOLVIDA PORQUE OCORREU A: A) Compensação B) Novação objetiva C) Novação subjetiva D) Remissão E) Confusão GABARITO 1. A modalidade de solvência de uma obrigação caracterizada pelo surgimento de um novo credor para exigir novo crédito constitui a: A alternativa "A " está correta. Na novação, constitui-se um novo débito, que poderá: 1) ter o mesmo credor e o mesmo devedor da obrigação primitiva; 2) ter um novo credor para exigir novo crédito perante o devedor primitivo; ou 3) manter o credor primitivo, que tem o direito de exigir nova dívida perante um novo devedor. 2. Ana tem um crédito para receber de José. Ele vem a falecer e sua herança deve saldar a dívida para com os credores. Ocorre que Ana é herdeira de José, e deverá saldar as dívidas que ele deixou nos limites de sua herança. Nesse caso, a obrigação entre Ana e José é considerada solvida porque ocorreu a: A alternativa "E " está correta. Ana se tornou credora de si própria. A confusão ocorre quando, no âmbito de uma mesma obrigação, o devedor se torna seu próprio credor, ou o credor se torna seu próprio devedor. MÓDULO 3 Identificar as modalidades de inadimplemento e suas consequências O INADIMPLEMENTO DE UMA OBRIGAÇÃO Para melhor aproveitamento dos conhecimentos transmitidos ao longo desse módulo, assista à explicação do especialista Gilberto Fachetti acerca da distinção inicial entre as modalidades de inadimplemento. INADIMPLEMENTO Inadimplemento é o ato ilícito obrigacional, ou seja, quando o dever da prestação não é cumprido. Desse descumprimento resulta um prejuízo ao credor, de natureza patrimonial, que poderá exigir a reparação de tal dano. O INADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES O credor pode exigir o cumprimento extemporâneo da prestação, se houver possibilidade e interesse. Com base no art. 475, é possível verificar que, ante o inadimplemento, o credor tem dois direitos: RESOLVER A OBRIGAÇÃO E EXIGIR PERDAS E DANOS A obrigação será extinta, mas o devedor deverá indenizar o credor no prejuízo sofrido pela insolvência total da obrigação e por outros prejuízos do atraso. O credor somente poderá resolver a obrigação no caso de inadimplemento absoluto, que é quando a prestação não pode mais ser cumprida ou não há interesse no seu cumprimento extemporâneo. EXIGIR O CUMPRIMENTO DA PRESTAÇÃO Se houver interesse e possibilidade, o credor pode exigir que o devedor cumpra e prestação, mesmo que extemporaneamente. Nesse caso, o credor poderá exigir as perdas e os danos inerentes a esse atraso. Existem três tipos ou modalidade de inadimplemento, isto é, formas de descumprimentos dos deveres de uma obrigação. Antes, porém, é preciso identificar as duas modalidades de deveres de um complexo obrigacional: DEVERES PRESTACIONAIS DEVERES ACESSÓRIOS OU ANEXOS DEVERES PRESTACIONAIS São os deveres típicos da obrigação, ou seja, a prestação em si (o dar, o fazer e o não fazer); e (observe que é “e” e não “ou”) DEVERES ACESSÓRIOS OU ANEXOS O art. 422 do Código Civil determina que as partes devem agir com boa-fé na execução do contrato. Quer dizer, ao pagar a prestação, os obrigados não apenas deverão cumprir o dever principal da obrigação (prestação), mas também deveres de probidade, confiança, honestidade, coerência, informação, cooperação, verdade, para o correto cumprimento da prestação. Assim, não basta cumprir a prestação; é preciso cumpri-la de modo cooperativo, para que ambas as partes alcancem suas finalidades. A título de exemplo do descumprimento desses deveres impostos pela boa-fé, tem-se: Médico que não informa e não utiliza tratamento menos doloroso em seu paciente, tão eficaz quanto os tradicionais, mas sofríveis. Cantor que faz um show sentado em uma mesa. Alimento entregue excessivamente salgado. A partir disso, identificam-se três modalidades de inadimplemento: INADIMPLEMENTO DEVER DESCUMPRIDO DESCRIÇÃO Absoluto Principais Quando a prestação (dar, fazer ou não fazer) não é (prestacionais) cumprida e não há mais possibilidade e interesse do credor no cumprimento extemporâneo dessa prestação. Consequência: a obrigação se resolve e o devedor deverá pagar o valor equivalente da prestação, mais as perdas e os danos, juros e a multa pelo seu não cumprimento. Relativo ou mora Principais (prestacionais) Quando a prestação (dar, fazer ou não fazer) não é cumprida no momento, local ou maneira estabelecidos na obrigação. Mas aqui há possibilidade e interesse do credor no cumprimento extemporâneo dessa prestação. Consequência: a prestação será cumprida posteriormente ao inadimplemento (após o vencimento), acrescida dos valores de perdas e danos, juros e multa pelo seu não cumprimento na data do vencimento. Violação positiva do contrato Acessórios ou anexos (boa-fé) Quando a prestação (dar, fazer e não fazer) é cumprida, porém em desacordo com os deveres de cooperação estabelecidos pela boa-fé e de honestidade impostos pela probidade. A prestação é cumprida, mas com prejuízo ao credor porque o devedor não agiu com a diligência necessária para que a obrigação fosse benéfica à outra parte. Esse inadimplemento dos deveres anexos é chamado de violação positiva do contrato. É positiva porque a prestação principal foi cumprida, quer dizer, não há inadimplemento absoluto ou relativo; e é violação porque seu cumprimento se deu em desacordo com a boa-fé e a probidade, causandoprejuízos ao credor, apesar de ter sido cumprida a prestação. Consequência: o devedor deverá indenizar os prejuízos que o credor sofrer pelo cumprimento incorreto da prestação. Aliás, se a prestação se tornar desinteressante ao credor, poderá resolver a obrigação e exigir perdas e danos. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Quadro: Modalidades de inadimplemento. Elaborado por: Gilberto Fachetti Silvestre. Sendo o inadimplemento um ato ilícito obrigacional, sua consequência é a responsabilidade civil, caracterizada pelo dever de reparar o dano causado. Tal dano é patrimonial, ou seja, representa perdas e danos. Havendo inadimplemento, são devidas ao credor as seguintes verbas: Perdas e danos: arts. 402 a 405, CC Juros: arts. 406 e 407, CC Multa (cláusula penal): arts. 408 a 416, CC Perda das arras: arts. 417 a 420, CC Todas essas verbas se submetem à correção monetária. O inadimplemento nas modalidades de obrigação se configura da seguinte maneira: OBRIGAÇÃO INADIMPLEMENTO Dar A partir do dia em que a coisa deveria ser entregue e não foi, ou então a partir do momento em que a quantia deveria ser paga e não foi. O termo inicial do inadimplemento é o dia seguinte ao do vencimento. Fazer Quando o ato não é executado pelo devedor no dia ajustado. O termo inicial será o dia seguinte ao do vencimento. Não fazer Desde o momento em que o devedor praticou o ato que não deveria praticar. Não há data de vencimento nesse caso. Pode haver termo final da prestação, mas não vencimento. Por isso, o inadimplemento se inicia tão logo o devedor começa a fazer algo que deveria se omitir de realizar. Intuitu personæ Quando a prestação não é executada pela pessoa que foi a causa do vínculo obrigacional. Ainda que prestada por outra pessoa, haverá inadimplemento da prestação. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Quadro: Caracterização do inadimplemento em cada modalidade de prestação. Elaborado por: Gilberto Fachetti Silvestre. Pelo inadimplemento das obrigações respondem todos os bens do devedor (art. 391). Trata-se do princípio da responsabilidade patrimonial do devedor. Não há penalidades a serem aplicadas ao devedor de um débito não pago além da responsabilidade civil. É o patrimônio do devedor que responderá por suas dívidas. O art. 392 cria a seguinte diferença entre a responsabilidade das partes por inadimplemento: CONTRATOS BENÉFICOS Parte a quem o contrato aproveite Parte a quem o contrato não favoreça Segundo o artigo, responde por simples culpa. Significa que se o beneficiário agir com dolo não irá responder? Óbvio que não. Então, na verdade, o dispositivo diz que o beneficiário responde até por culpa simples, ou seja, responde no mínimo por culpa simples. Assim, responde por culpa leve, por dolo e por culpa grave (que se equipara ao dolo). Exemplo: o comodatário, ao devolver o carro ao comodante, esquece de acionar o freio de mão na ladeira, o que faz com que o carro desça e seja abalroado em um muro. O comodatário indenizará o comodante no dano sofrido. Irá responder perante o beneficiário apenas se agiu com dolo, isto é, fez o negócio consciente do prejuízo que causaria à outra parte. A leitura “nas entrelinhas” do artigo implica em ler que ele responder por, no mínimo, dolo. Considerando que a culpa grave se equipara ao dolo, pode-se dizer que também responde por culpa grave. Exemplo: o doador transfere ao donatário um bem que se encontra penhorado após sua intimação. CONTRATOS ONEROSOS Ambas as partes (credor e devedor) Nesse caso, ambas as partes respondem, seja por dolo seja por culpa (de qualquer grau). Exemplos: para todos os casos abaixo considere um contrato de compra e venda de um carro: Culpa do vendedor: responde pelos prejuízos do comprador se alienou o carro antes de ser intimado da penhora ou se esqueceu de entregá-lo na data ajustada. Culpa do comprador: não pagou uma das parcelas da prestação do carro porque estava viajando e esqueceu o número da conta bancária do vendedor para depósito. Dolo do vendedor: aliena carro do qual não é dono, sabendo dessa situação (venda a non domino), ou então aliena carro que não existe. Dolo do comprador: compra e não paga porque se encontra insolvente (o famoso “devo não nego, pago quando puder”). Culpa do vendedor e do comprador: o comprador atrasa o pagamento por mero esquecimento e o vendedor também se esquece que é o último dia do prazo para entregar o carro. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Quadro: Sistematização do art. 392. Elaborado por: Gilberto Fachetti Silvestre. Há duas maneiras de se dar o incumprimento da prestação e, por causa disso, fala-se em dois tipos de inadimplemento: Foto: Shutterstock.com. Inadimplemento voluntário ou inadimplemento culposo: Decorre de culpa do devedor (dolo ou culpa em sentido estrito), quer dizer, quando o devedor poderia evitar o inadimplemento porque está consciente da situação, tendo controle sobre a prestação. Foto: Shutterstock.com. Inadimplemento involuntário: O incumprimento acontece sem culpa do devedor, por razões que o impedem de adimplir. Tais razões são fatores sobre os quais o devedor não tem controle. Os fatores que o art. 393 do CC considera como fora do controle do devedor são o caso fortuito e a força maior. O caso fortuito e a força maior têm um ponto em comum: a inevitabilidade, ou seja, a impossibilidade de evitar pode ocorrer por causa da imprevisibilidade (quando sua ocorrência não se pode prever) ou, mesmo que previsível, não será possível impedir que os malefícios de seus efeitos. Veja as diferenças: Foto: Shutterstock.com. CASO FORTUITO É o acontecimento originado da conduta humana que impede o cumprimento da prestação. Exemplos seriam as greves, as paralisações, as manifestações, os assaltos, os atos ilícitos, ataque de animais domésticos. Foto: Shutterstock.com. FORÇA MAIOR São circunstâncias alheias à conduta humana, como eventos naturais. Exemplos: enchentes, raios, granizo, ataques de animais selvagens, erupções vulcânicas, terremotos, tsunamis, ressacas marítimas, doenças, morte natural. Em ambos os casos, haverá exclusão de responsabilidade do devedor perante o credor. Isso significa que o devedor não responde por prestação, perdas e danos resultantes do incumprimento causado por caso fortuito e de força maior. O credor sofrerá os prejuízos. Mas a exclusão, apesar da ocorrência do caso fortuito e da força maior, poderá não ocorrer em duas hipóteses: O devedor expressamente assume a responsabilidade ainda que tais excludentes ocorram: ele responde por perdas e danos porque assume esse compromisso. O devedor expressamente assume a responsabilidade ainda que tais excludentes ocorram: ele responde por perdas e danos porque assume esse compromisso. O caso fortuito ou de força maior não é verificado no fato necessário: significa que as excludentes atingem situações que não impedem a ocorrência do adimplemento. Fato necessário é aquele que é o único que permite o cumprimento da prestação. Assim, não pode o devedor alegar caso fortuito para não pagar perdas e danos por causa de greve dos bancários se as casas lotéricas recebem o pagamento de contas. O caso fortuito ou de força maior não é verificado no fato necessário: significa que as excludentes atingem situações que não impedem a ocorrência do adimplemento. Fato necessário é aquele que é o único que permite o cumprimento da prestação. Assim, não pode o devedor alegar caso fortuito para não pagar perdas e danos por causa de greve dos bancários se as casas lotéricas recebem o pagamento de contas. Se o caso fortuito e a força maior atingirem a prestação durante a mora do devedor, não haverá a exclusão de responsabilidade. Há uma exceção no art. 399: se o devedor conseguir provar que o caso fortuito ou a força maior atingiriam o objeto da prestaçãomesmo se ele tivesse realizado o pagamento, então sua responsabilidade será excluída. Exemplo: o devedor está em mora na entrega de um cavalo, que morre por causa de uma doença. Se provar que o cavalo morreria mesmo se tivesse entregue ao credor, não precisará pagar as perdas e os danos. A mora, ou o inadimplemento relativo, é o incumprimento da obrigação em razão de: Não ter sido cumprida a prestação no tempo correto (até o vencimento ou o prazo assinado pelo credor). A prestação não foi solvida no local estabelecido para seu cumprimento. A prestação não aconteceu da maneira acordada ou da maneira típica para seu cumprimento. Em todos os casos, a prestação poderá ser cumprida em outro momento (extemporaneamente) se houver possibilidade (física e jurídica) e interesse por parte do credor. É aqui, neste ponto, que reside a diferença entre mora e inadimplemento absoluto, pois, nesse último, não há como cumprir a prestação extemporaneamente. A mora pode ser: DO DEVEDOR Quando, culposamente, não cumpre. É chamada de mora debendi ou mora solvendi ou mora debitoris; ou DO CREDOR Quando o credor não recebe, sem justa causa, a prestação a que faz jus. É chamada de mora accipiendi ou mora creditoris ou mora credendi. A mora se caracteriza pelo incumprimento correto da prestação quanto ao tempo, ao lugar e à forma, elementos que podem ser assim caracterizados: Tempo Toda obrigação tem um prazo para ser cumprida. Esse prazo pode ser: Determinado: quando já estabelecido no momento da formação do vínculo obrigacional; ou javascript:void(0) javascript:void(0) Indeterminado: não há prazo pré-estipulado, mas o credor assinará prazo ao devedor para que este saiba quando deve cumprir, isto é, o credor determinará o prazo posteriormente, notificando o devedor. A data de vencimento é o dies ad quem (termo final) para que a prestação seja paga. Nesse caso, o devedor incorre em mora no dia seguinte ao do vencimento. (Deve-se observar as regras do art. 132). Lugar A maioria das obrigações precisam ser pagas em algum lugar. Esses lugares poderão ser: O local da constituição do vínculo obrigacional: por exemplo, o local da formação do contrato (art. 435). Onde se localizar o imóvel: quando a obrigação diz respeito a coisa imóvel (art. 328). Eleição de foro: quando voluntariamente as partes escolhem um determinado local para cumprir a prestação (caput art. 327 do Código Civil c/c § 1º do art. 47 do Código de Processo Civil). Em caso de outras obrigações, tanto faz onde são cumpridas, como, por exemplo, depósito em conta bancária. Então, mesmo que cumprida a prestação no prazo estabelecido, mas em local diverso do escolhido, fica caracterizada a mora e, consequentemente, a responsabilidade do devedor pelas perdas e pelos danos, que podem ser expressos simplesmente por meio de multa e juros. Forma Refere-se a tudo o que deve ser observado no pagamento e que não diz respeito ao tempo e ao lugar. O pagamento deve ocorrer da maneira estipulada ou da maneira típica daquele vínculo obrigacional. Não se refere ao modo como a prestação deve ser cumprida, pois isso seria violação positiva do contrato, mas à maneira como a prestação é cumprida de acordo com o vínculo. Tem a ver com as qualidades do objeto, as características do devedor, a quantidade estipulada, a espécie da coisa. Embora cumprida a prestação no tempo e no lugar corretos, se feita de forma incorreta, haverá mora e o devedor deve arcar com as perdas e danos do devedor. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Quadro: Caracterização da mora. Elaborado por: Gilberto Fachetti Silvestre. Nos casos de mora solvendi, surgem para o credor os seguintes direitos (art. 395, CC): DIREITOS DO CREDOR RESPONSABILIDADE DO DEVEDOR Exigir o cumprimento da prestação O devedor deverá pagar ao credor: A prestação. As perdas e os danos pelo atraso. Nesse caso, esse valor já poderá ser pré-liquidado no instrumento da obrigação a título de multa (cláusula penal). Os juros. A correção monetária do período de incumprimento (atualização do valor a partir dos índices oficiais de inflação). Os honorários advocatícios, para o caso de assistência dada ao credor por profissional da advocacia (ação, consulta ou parecer). Todos esses valores são cumulativos. Resolver a obrigação Caso o credor enjeite a prestação que se tornou inútil aos seus interesses, o devedor terá que pagar ao credor: As perdas e os danos referentes à prestação (o valor correspondente). Todas as verbas do caput do art. 395. Esses valores são cumulativos. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Quadro: Direitos do credor em caso de mora. Elaborado por: Gilberto Fachetti Silvestre. Porém, o art. 396 prevê a hipótese de exclusão da mora solvendi. Em caso de inadimplemento involuntário do devedor, esse não é considerado inadimplente, ou em mora, e não responde por perdas e danos e o credor suporta os prejuízos. Em se tratando de obrigação negativa (não fazer), o devedor incorre em mora desde o dia em que executou o ato de que se devia abster (art. 390, CC). Já quanto ao início da mora nas obrigações positivas e líquidas, há dois tipos: MORA EX RES É a prevista no caput do art. 397. A data de vencimento já está prevista desde a formação do vínculo obrigacional. O devedor, assim, conhece desde o início a data para o pagamento da prestação. Dessa maneira, o devedor não precisa ser notificado do seu dever de pagar, incorrendo em mora automaticamente se não cumprir a prestação no tempo já fixado. A interpelação se dá de pleno direito, conforme o brocardo dies interpellat pro homine. MORA EX PERSONÆ Ocorre na hipótese do parágrafo único do art. 397, quando não há prazo pré-fixado para o pagamento da prestação (sem data de vencimento). Tal prazo será determinado pelo credor por meio de notificação ao devedor (interpelação pessoal). A notificação pode ser feita: Pela via judicial: por meio do procedimento de jurisdição voluntária dos arts. 726 a 729 do Código de Processo Civil (ação de notificação e interpelação), que, segundo o § 2º do art. 726, se aplica aos casos de protesto judicial; ou Pela via extrajudicial: feita por protesto em cartório, seguindo o procedimento administrativo da Lei nº 9.492/1997 (Lei do Protesto). E QUANDO SE TRATAR DE OBRIGAÇÃO DECORRENTE DE ATO ILÍCITO, OU SEJA, CASOS DE INDENIZAÇÃO (ART. 186 C/C CAPUT DO ART. 927 DO CÓDIGO CIVIL)? RESPOSTA Segundo o art. 398, considera-se o devedor em mora, desde que praticou o ato ilícito. Estando em mora o agente causador do dano, incidirão sobre a prestação devida, a título de indenização, juros de mora. No caso dos danos patrimoniais, é possível saber e consignar os juros, afinal, o valor da indenização pode ser pré-liquidado por uma operação matemática de subtração. Já no caso do dano moral, cujo valor deve ser arbitrado, torna-se difícil se prevenir da incidência dos juros. Entende o Superior Tribunal de Justiça (STJ) que a incidência dos juros moratórios ocorre desde o momento do evento danoso em todos os casos de responsabilidade extracontratual, inclusive os de dano moral. DICA Veja a Súmula nº 54: “Os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, em caso de responsabilidade extracontratual”. Havendo mora do credor (mora accipiendi), não há responsabilidade a ser aplicada ao devedor. O credor não pagará juros ao devedor, mas terá que o ressarcir em possíveis prejuízos. As consequências da mora creditoris são as seguintes: O devedor não terá responsabilidade pelos riscos e danos da coisa, exceto se agir com dolo para que ocorra o dano. O devedor não tem dever de conservação da coisa. O credor deverá ressarcir as despesas que o devedor tiver para conservar a coisa após o vencimento. Tratando-se de prestação cujo valor oscila (por exemplo: cotação do dólar), o devedor tem o direito de escolher o valor que lhe é mais favorável ao pagar extemporaneamenteao credor. Existe a possibilidade de purgação da mora, que consiste no cumprimento extemporâneo da prestação não cumprida na data do vencimento. Ocorre da seguinte maneira: PURGAÇÃO DA MORA Mora solvendi Mora accipiendi Cumprimento da prestação + Pagamento das verbas do art. 395 Recebimento da prestação + Pagamento das verbas do art. 400 Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Quadro: Formas de purgação da mora. Elaborado por: Gilberto Fachetti Silvestre. PERDAS E DANOS O dano patrimonial, também chamado de dano material ou perdas e danos, consiste no prejuízo econômico-pecuniário sofrido pelo credor em razão do inadimplemento. Existem duas espécies de danos patrimoniais: DANO EMERGENTE Tradicionalmente designado damnum emergens, toma por referência o patrimônio do credor ao momento do dano, isto é, do inadimplemento. Será a redução do valor pecuniário do patrimônio causada pelo inadimplemento. A liquidação se dá por meio da diferença: o valor patrimonial anterior ao dano subtraído pelo valor do patrimônio após o inadimplemento. Então, por exemplo, se o crédito que compõe o patrimônio do credor não for pago pelo devedor, representará uma redução do seu patrimônio (ele não deixa de ganhar porque o direito de crédito compõe seu patrimônio, só que não foi cumprido). Veja, então, que dano emergente é o valor que o credor efetivamente perdeu. LUCRO CESSANTE Ou lucrum cessans, corresponde ao prejuízo que o credor teve por causa do que deixou de lucrar em razão do inadimplemento. O art. 402 do Código Civil deixa claro que se trata do lucro não auferido pelo credor, e não o que deixou de ganhar. Lucrar é o que efetivamente incrementaria seu patrimônio após debatidos custos e despesas. Trata-se, então, do valor que razoavelmente deixou de adentrar ao patrimônio do credor. Por exemplo: o comodatário não devolve o caminhão emprestado ao dono (comodante) na data ajustada, impedindo este de transportar coisas e receber o lucro da sua atividade. A indenização de perdas e danos causados pelo inadimplemento não consiste em toda a gama de prejuízos que o credor possa vir a sofrer, mas tão somente aqueles que direta e imediatamente decorrem do não pagamento (art. 403, CC). Nesse caso, o Código Civil adotou a teoria do dano direto e imediato do nexo de causalidade, por meio da subteoria da necessariedade, pela qual o inadimplemento tem que ser a causa necessária das perdas e danos. Dano imediato É o que ocorre sem qualquer outro dano intermediário entre o inadimplemento e o prejuízo sofrido; em uma cadeia de prejuízos, o dano imediato é aquele que está mais próximo como consequência sem permeio do inadimplemento. Dano direto É aquele que não é um meio para outros danos, o inadimplemento já é um dano per se. Foto: Shutterstock.com. JUROS LEGAIS Os juros podem ter duas finalidades: Remunerar alguém que permitiu a outrem o uso de seu capital (juros remuneratórios). Compensar perdas e danos do credor e sancionar o devedor por causa do inadimplemento (juros moratórios). Os juros moratórios indenizam o credor pelo inadimplemento. Podem ser fixados de duas maneiras: POR CONVENÇÃO ENTRE AS PARTES POR DETERMINAÇÃO LEGAL POR CONVENÇÃO ENTRE AS PARTES No momento da constituição do vínculo obrigacional, fica estabelecido entre as partes o pagamento de juros pela mora. São os juros convencionais ou convencionados. Conforme o art. 406, os juros convencionados podem ter: Taxa fixada pelas partes; ou As partes convencionam a incidência de juros, mas não determinam seu percentual. POR DETERMINAÇÃO LEGAL Quando a lei estabelece a incidência de juros independentemente de convenção das partes, como ocorre, por exemplo, no art. 404. Sobre a taxa dos juros moratórios, a legislação fixa limitações: JUROS TAXA Convencionados, com taxa pré- determinada pelas partes Pode ser estipulada até o dobro da taxa dos juros legais, conforme o Decreto nº 22.626/33 (Lei de Usura): “Art. 1º. É vedado, e será punido nos termos desta lei, estipular em quaisquer contratos taxas de juros superiores ao dobro da taxa legal”. Conforme determina o decreto, a fixação de taxa superior constitui crime de usura: “Art. 13. É considerado delito de usura, toda a simulação ou prática tendente a ocultar a verdadeira taxa do juro ou a fraudar os dispositivos desta lei, para o fim de sujeitar o devedor a maiores prestações ou encargos, além dos estabelecidos no respectivo título ou instrumento. Penas - prisão por (6) seis meses a (1) um ano e multas de cinco contos a cinquenta contos de réis. No caso de reincidência, tais penas serão elevadas ao dobro. Parágrafo único. Serão responsáveis como coautores o agente e o intermediário, e, em se tratando de pessoa jurídica, os que tiverem qualidade para representá-la”. Legais Fixados segundo a taxa para a mora dos impostos devidos à Fazenda Nacional. Convencionados, sem taxa pré- determinada pelas partes Fixados segundo a taxa para a mora dos impostos devidos à Fazenda Nacional. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Quadro: Taxas de juros. Elaborado por: Gilberto Fachetti Silvestre. Foto: Shutterstock.com. CLÁUSULA PENAL A cláusula penal é um acordo acessório à obrigação principal, expresso em uma cláusula, adendo ou aditivo contratual, pelo qual as partes fixam um valor pecuniário (multa ) para o caso de inadimplemento. Trata-se de penalidade convencional, geralmente, fixada em dinheiro, mas que pode consistir em outra obrigação, como, por exemplo, dar uma coisa ou fazer algo (art. 425). O inadimplente incorre de pleno direito na multa, ou seja, a multa é “automática” em caso de inadimplemento. Isso quer dizer que a multa independe de notificação ao devedor, prova do dano e ocorrência efetiva do dano. Pode ser de dois tipos: COMPENSATÓRIA Para o caso de incumprimento total da obrigação. Corresponde, então, às perdas e aos danos que o credor sofre equivalentes à prestação (art. 410). MORATÓRIA É a sanção pela mora ou descumprimento de alguma cláusula que não signifique o inadimplemento absoluto (art. 411). Em razão dessa classificação, é possível identificar as seguintes características das formas de cláusula penal: javascript:void(0) javascript:void(0) CLÁUSULA PENAL Compensatória Moratória Aplica-se no caso de inadimplemento absoluto da obrigação. Aplica-se no caso de descumprimento parcial da obrigação, ou seja, a mora. Tem função ressarcitória ou reparatória, para indenizar o credor pelos prejuízos ocasionados pela falta de pagamento. Por isso, tem caráter de pré-liquidação das perdas e danos do credor. Também cabe em caso de lucro cessante. Tem função coercitiva, ou seja, objetiva desestimular o inadimplemento. Por essa razão, também é chamada de cláusula penal compulsória. A função coercitiva é secundária. A função indenizatória é secundária. O cumprimento da prestação não é mais possível de ocorrer ou não há mais interesse do credor no pagamento. O cumprimento da prestação ainda é possível de ocorrer e há interesse do credor. O pagamento será extemporâneo. Não é cumulativa: o credor não pode exigir a multa e o cumprimento extemporâneo da prestação. Quer dizer, ou um ou outro. Isso é óbvio, pois a multa compensatória é devida em caso da impossibilidade ou desinteresse no cumprimento posterior ao vencimento da prestação (art. 410). Aqui, então, exige-se a prestação ou a multa (compensatória). É cumulativa: o credor poderá exigir o cumprimento extemporâneo da prestação, adicionado o valor da multa (art. 411). Aqui, então, exige-se a prestação e a multa (moratória). Geralmente, o valor pecuniário da multa é maior, equivalente à prestação ou a parcelas dessa prestação. Geralmente, o valor pecuniário da multa é menor, equivalente à penalidade pelo atraso. Já representa todos os prejuízos sofridos pelo credor. Por isso, não se pode cumular com perdas e danos.Se os prejuízos forem superiores ao valor da multa, então o credor poderá renunciar ao seu recebimento e exigir judicialmente as perdas e os danos que efetivamente sofreu. Sobre o valor da multa ou de perdas e danos poderá incidir juros e atualização monetária (ajuste inflacionário ou deflacionário) em razão do atraso no seu pagamento (atraso no pagamento da multa, e não da prestação). Pode ser cumulada com outros valores indenizatórios, como perdas e danos, juros, correção monetária (ex.: arts. 395 e 404). Exemplo: multa de R$ 300,00 pelo no show em reserva de hotel, quando não for dada garantia de não comparecimento). Exemplo: multa de 10% sobre o valor do aluguel se este não for pago na data do vencimento. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Quadro: Tipos de cláusula penal. Elaborado por: Gilberto Fachetti Silvestre. A multa pelo inadimplemento absoluto não pode ser cumulada com o pedido de cumprimento extemporâneo da prestação (art. 475, CC). Trata-se, portanto, de uma obrigação alternativa, cabendo ao credor optar pela obrigação que melhor atende aos seus interesses. Sobre o valor dessa multa, incidem os juros e a atualização monetária (ajuste inflacionário ou deflacionário) em razão do atraso no seu pagamento. O atraso, aqui, é quanto ao pagamento da multa, e não da prestação, pois, no valor da multa, já se encontram inclusos os possíveis juros do incumprimento da prestação. Foto: Shutterstock.com. Se o credor experimentar prejuízo patrimonial superior ao valor da multa, pode renunciar a ela e propor uma ação de indenização por perdas e danos, caso não tenha sido convencionada a possibilidade de complementação (parágrafo único do art. 416). O valor da multa decorrente da cláusula penal convencionada não pode ultrapassar o valor da prestação. Contudo, ao valor da multa podem ser adicionados outros valores (arts. 389 e 395 e caput do art. 404), uma vez que esses não têm o mesmo caráter punitivo, como juros, correção monetária, honorários de advogado e custas processuais e cartorárias. O art. 413 do CC prevê a possibilidade de redução do valor da multa que fora livremente fixado pelas partes. A redução é feita pelo juiz e pode ser ex officio, independentemente de requerimento do devedor. A redução deve ser equitativa, o que significa que o valor reduzido: Embora diminuído, não pode deixar de cobrir as perdas e os danos do credor originadas do inadimplemento. Não podem significar um enriquecimento (sem causa) do credor à custa do empobrecimento do devedor. A isso o art. 413 designa de “montante manifestamente excessivo”. A redução deve considerar, ainda, “se a obrigação principal tiver sido cumprida em parte”, isto é, se houve cumprimento parcial da prestação, pois isso representaria uma diminuição do prejuízo do credor, que teve parte de seu interesse atendido. Tem que analisar a natureza do negócio, isto é, se é oneroso ou gratuito, se é aleatório ou comutativo, se é contrato paritário ou de adesão, se é crédito parcelado decorrente de ato ilícito, se é negócio modal em benefício de terceiro necessitado. Também se verifica a conveniência da redução a depender da finalidade do negócio, ou seja, se a intenção é lucro, se trata de um negócio mais benéfico ao devedor. Nos casos de indivisibilidade passiva da obrigação, o inadimplemento de um dos devedores gera o dever de pagar a multa a todos os devedores, independentemente de culpa no inadimplemento (art. 414, CC). O credor pode demandar a multa tanto do devedor culpado quanto dos outros devedores. No caso de serem demandados a pagar a multa originada por culpa de um dos codevedores, eles somente pagarão o valor proporcional à sua quota. Os codevedores guardam ação regressiva em face do devedor culpado, para receber o que pagaram pelo seu inadimplemento culposo. Já nos casos de divisibilidade passiva da obrigação, cada devedor inadimplente responde pela multa que lhe couber. Se a obrigação for totalmente inadimplida, o devedor responde proporcionalmente à sua quota na prestação. EM TODOS OS CASOS, O CREDOR NÃO NECESSITA PROVAR QUE SOFREU PREJUÍZO OU QUE SEU PREJUÍZO É REALMENTE O VALOR FIXADO NA MULTA. SE CONVENCIONADA A MULTA, O VALOR É DEVIDO TAL QUAL ESTIPULADO, INDEPENDENTEMENTE DE O CREDOR TER SOFRIDO DANO. Às vezes, o valor da multa compensatória (reparatória) não é suficiente para cobrar o prejuízo efetivo do credor. Isso pode acontecer, por exemplo, se a previsão inicial era apenas quanto a danos emergentes, mas o inadimplemento também provocou lucro cessante, dano moral ou outros prejuízos que não foram previamente previstos na obrigação. Nesse caso, tem o credor direito a uma indenização suplementar que realmente compense seus prejuízos. Só que essa multa suplementar será demandada de formas diversas, a depender de sua previsão no título da obrigação: SUPLEMENTAÇÃO DO VALOR DA MULTA Quando não há indenização suplementar prevista em cláusula convencionada entre credor e devedor: Foi convencionada cláusula entre devedor e credor prevendo a indenização complementar: O credor não poderá exigir o complemento da multa com o valor suplementar. Deverá renunciar à multa compensatória e demandar judicialmente o valor integral de perdas e danos. O credor pode demandar tão somente o excedente necessário para compensar todos os seus prejuízos efetivamente sofridos. Então, o valor da multa previamente estipulado é tido por “mínimo da indenização”, o que parece significar “início do pagamento”. Caberá ao credor provar o excedente necessário à sua indenização integral. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Quadro: Suplementação de valor da multa. Elaborado por: Gilberto Fachetti Silvestre. Foto: Shutterstock.com. ARRAS OU SINAL Constituem uma garantia da execução de um contrato. Ao concluir um contrato, isto é, quando as negociações terminam e ele é celebrado, é comum uma das partes entregar à outra um valor como forma de garantir a execução do contrato ou a indenização para o caso de arrependimento. Não é obrigatório, mas é comum. Pode ocorrer a perda das arras por inadimplemento absoluto (art. 418). Dependendo da parte inadimplente, a perda das arras poderá ocorrer de modos diferentes: INADIMPLEMENTO ABSOLUTO Da parte que deu as arras Da parte que recebeu as arras Haverá a perda das arras para a parte que as prestou, pois a outra parte tem o direito de retê-las. A parte que as recebeu deverá restituí-las em dobro (“exigir sua devolução mais o equivalente”), acrescidas de correção monetária, juros e honorários de advogado. Em todos os casos, a parte prejudicada pelo inadimplemento poderá resolver o contrato. Trata-se, então, de inadimplemento absoluto, porque, se fosse mora, o contrato seria cumprido e as arras permaneceriam tendo o caráter de início de pagamento. Se a parte prejudicada não resolver o contrato, não haverá perda ou restituição em dobro das arras, mas o pagamento de multa. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Quadro: Sistemática das arras em caso de inadimplemento absoluto. Elaborado por: Gilberto Fachetti Silvestre. Se as arras retidas pela parte prejudicada ou as arras recebidas em dobro pela parte não solvida, a que se refere o art. 418, não forem suficientes para ressarcir as perdas e os danos, pode a parte prejudicada exigir indenização suplementar, devendo provar o prejuízo e seu valor. Diferentemente do que ocorre com a multa no art. 416, a parte prejudicada não terá que renunciar às arras a que faz jus, tendo o direito de pleitear o valor restante e servindo o sinal dado como início do pagamento da indenização (valor mínimo). Nos casos de inadimplemento relativo, se a parte prejudicada optar por exigir o cumprimento da prestação, as arras servirão de mínimo indenizatório por perdas e danos causados pela execução extemporânea da prestação. Contudo,dada sua natureza compensatória, as arras, aqui, assumem papel de pena pecuniária (multa). Por isso, deverá atender ao requisito do art. 412 e poderá ter seu valor reduzido pelo juiz conforme o art. 413 do CC. As partes podem convencionar entre si o direito de arrependimento, o que irá impedir a celebração do contrato. Se houver arrependimento, fixado em cláusula convencional de retratabilidade e revogabilidade, as arras assumem caráter indenizatório pela desistência do contrato. Não se trata de inadimplemento, inexecução, mas de arrependimento, que é o direito de extinguir o vínculo antes do cumprimento da prestação. A indenização se faz necessária em razão das legítimas expectativas criadas pela outra parte. Não caberá indenização suplementar, valendo as arras por si só. O caráter indenizatório das arras em caso de arrependimento se dará do seguinte modo: DIREITO DE ARREPENDIMENTO Arrependimento da parte que prestou as arras: Quem deu as arras irá perdê-las para quem recebeu; esta parte poderá reter a quantia em dinheiro ou o bem móvel recebido em garantia, como forma de indenização. Arrependimento da parte que recebeu as arras: Quem recebeu as arras irá devolvê-las em dobro (“devolvê-las-á, mais o equivalente”) à parte que as prestou. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. JOÃO É UM MOTORISTA DE APLICATIVO COM SEU CARRO PRÓPRIO. GANHA, POR DIA, A QUANTIA DE R$ 250,00 E TRABALHA SETE DIAS POR SEMANA. GASTA EM MÉDIA, TAMBÉM POR DIA, O VALOR DE R$ 65,00 COM COMBUSTÍVEL E O VALOR DE R$ 35,00 COM A LIMPEZA DO CARRO. PEDRO, CERTO DIA, BATEU NO CARRO DE JOÃO PORQUE ULTRAPASSOU O SINAL VERMELHO. O VALOR DO CONSERTO DO CARRO DE JOÃO CUSTOU R$ 2.000,00 E DEMOROU 20 DIAS. NESSE PERÍODO, JOÃO NÃO PÔDE TRABALHAR. JOÃO QUER COBRAR DE PEDRO TODOS OS PREJUÍZOS QUE SOFREU. NESSE CASO, O VALOR DA INDENIZAÇÃO PATRIMONIAL QUE PEDRO DEVE A JOÃO SERÁ DE: A) R$ 2.000,00 B) R$ 3.000,00 C) R$ 7.000,00 D) R$ 5.000,00 E) R$ 4.000,00 2. QUANDO OCORRE O INADIMPLEMENTO POR CULPA DO DEVEDOR, ESTE DEVERÁ PAGAR AO CREDOR: A) As perdas e os danos, os juros, a correção monetária e os honorários advocatícios nos casos de inadimplemento absoluto e mora. B) As perdas e os danos são devidos ao atraso da prestação, motivo pelo qual não são devidas na hipótese de inadimplemento absoluto. C) Os juros não serão devidos no caso de mora, caso a prestação seja cumprida posteriormente. D) A prestação, nas hipóteses de inadimplemento absoluto e mora. E) A correção monetária será devida por todo o período de incumprimento. GABARITO 1. João é um motorista de aplicativo com seu carro próprio. Ganha, por dia, a quantia de R$ 250,00 e trabalha sete dias por semana. Gasta em média, também por dia, o valor de R$ 65,00 com combustível e o valor de R$ 35,00 com a limpeza do carro. Pedro, certo dia, bateu no carro de João porque ultrapassou o sinal vermelho. O valor do conserto do carro de João custou R$ 2.000,00 e demorou 20 dias. Nesse período, João não pôde trabalhar. João quer cobrar de Pedro todos os prejuízos que sofreu. Nesse caso, o valor da indenização patrimonial que Pedro deve a João será de: A alternativa "D " está correta. Deve-se identificar os danos patrimoniais sofridos por João, que foram os seguintes: • Dano emergente: R$ 2.000,00 que João teve que pagar pelo conserto do carro. • Lucro cessante: deve-se somar o que João não lucrou (ou seja, valor não incorporado ao seu patrimônio) durante os 20 dias, já que trabalhava todos os dias da semana. Aqui não se soma o que ele ganhava por dia, mas o que ele lucrava. O lucro é obtido após subtrair as despesas. Suas despesas eram de R$ 100,00 por dia; logo, ele lucrava R$ 150,00. Assim, durante os 20 dias em que o carro esteve parado, ele deixou de lucrar R$ 3.000,00. O dano patrimonial será o somatório dos valores do lucro cessante (R$ 3.000,00) e do dano emergente (R$ 2.000,00), ou seja, R$ 5.000,00. 2. Quando ocorre o inadimplemento por culpa do devedor, este deverá pagar ao credor: A alternativa "E " está correta. A correção monetária é uma forma de impedir a desvalorização inflacionária das indenizações devidas. Logo, é devida em todas as hipóteses e durante todo o período em que o credor não recebe sua indenização. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS O conteúdo estudado foi destinado a demonstrar as consequências pelo não cumprimento das prestações pertinentes às obrigações. A abordagem realizada foi destinada a apresentar não somente aspectos teóricos, mas também, e principalmente, os aspectos práticos. É preciso ter em mente que o não cumprimento das obrigações é uma das principais matérias discutidas em ações judiciais. Logo, é um campo fértil de atuação profissional. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS CAVALIERI FILHO, S. Programa de Responsabilidade Civil. 14. ed. São Paulo: Atlas, 2020. DINIZ, M. H. Curso de Direito Civil Brasileiro. Vol. 2 – Teoria Geral das Obrigações. 35. ed. São Paulo: Saraiva, 2020. FARIAS, C. C. de; ROSENVALD, N. Curso de Direito Civil. Vol. 2 – Obrigações. 15. ed. Salvador: Juspodivm, 2021. GOMES, O. Obrigações. Rio de Janeiro: Forense, 2008. GONÇALVES, C. R. Direito Civil Brasileiro. Vol. 2 – Teoria Geral das Obrigações. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2020. EXPLORE+ Para saber mais sobre os assuntos explorados neste conteúdo, leia: COUTO E SILVA, C. V. do. A obrigação como processo. Rio de Janeiro: FGV, 2006, Cap. 1. Texto clássico sobre a matéria que apresenta os princípios da relação obrigacional, disponível no site Apoio às disciplinas, da USP. DIDIER JR., F.; BRAGA, P. S. A obrigação como processo e a responsabilidade patrimonial. Revista Internacional de Estudios sobre Derecho Procesal y Arbitraje, n. 3, p. 1-16, 2008. Esse texto apresenta a obrigação como um processo de cooperação entre as partes e permite compreender como a responsabilidade patrimonial que decorre das diversas modalidades de inadimplemento. KONDER, C. N. Boa-fé objetiva, violação positiva do contrato e prescrição. Revista Trimestral de Direito Civil, v. 50, p. 217-236, abr-jun. 2012. O texto apresenta entendimentos sobre a violação positiva do contrato e se encontra disponível no site da Konder sociedade de advogados. CONTEUDISTA Gilberto Fachetti Silvestre
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