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1 Fundamentos das obrigações

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Fundamentos das obrigações
Profª. Fernanda Paes Leme
false
Descrição
A relação obrigacional, seus elementos estruturantes, funções e
principais classificações.
Propósito
A compreensão da relação obrigacional, de seus elementos e espécies é
fundamental para o entendimento de toda a disciplina de obrigações,
que é a base de todas as relações privadas patrimoniais.
Preparação
Antes de iniciar seu estudo, tenha em mãos o Código Civil (CC) para
acompanhar os artigos citados ao longo do conteúdo.
Objetivos
Módulo 1
O direito das obrigações
Analisar a história, a autonomia e os princípios do direito das
obrigações.
Módulo 2
Fontes e causas das obrigações
Reconhecer as fontes e as causas das obrigações.
Módulo 3
Atos unilaterais, fato jurídico nas
obrigações e contratos
Identificar os atos unilaterais e o fato jurídico nas obrigações e nos
contratos.
O direito das obrigações é uma disciplina de extrema relevância,
pois é a base das mais diversas relações que são estabelecidas
nos âmbitos pessoal e profissional de todos. Assim, a
compreensão da dogmática do direito das obrigações se impõe,
sendo certo que tal entendimento pressupõe conhecer a
historicidade desse ramo do Direito, seus princípios norteadores e
os fundamentos dessa relação.
Nessa perspectiva, trataremos da historicidade do direito das
obrigações, com o objetivo de compreender os traços mais
marcantes e em perspectiva evolutiva das obrigações em geral,
assim como seus princípios norteadores. Em seguida, tendo como
parâmetro norteador a teoria dos fatos jurídicos, apresentaremos
as fontes das obrigações e, por fim, cuidaremos dos atos
unilaterais e não negociais de vontade.
Como será visto, a delimitação dos contornos jurídicos de todos
esses aspectos essenciais do direito das obrigações é diretamente
influenciada e determinada por opções legislativas de cada época e
também pela releitura de institutos tradicionais a partir de
princípios informadores.
Introdução
1 - O direito das obrigações
Ao �nal deste módulo, você será capaz de analisar a história, a
autonomia e os princípios do direito das obrigações.
História, autonomia e
princípios do direito das
obrigações
Neste módulo, trataremos da historicidade do direito das obrigações, de
seus princípios mais importantes e de sua autonomia no campo do
direito privado.
Atenção
Não faremos aqui uma reconstrução histórica do direito das obrigações,
tarefa mais apropriada aos historiadores, mas tão somente
destacaremos as especificidades mais marcantes e relevantes ao longo
do tempo responsáveis pela configuração do direito das obrigações na
contemporaneidade e contextualizado no ordenamento jurídico
brasileiro.
Em relação aos princípios, foram selecionados aqueles que, na
atualidade, respondem pelo dinamismo e pela conformação do direito
das obrigações. Certamente, outros princípios poderiam ter sido
também elencados, mas selecionamos aqueles que entendemos ser
mais relevantes.
Por fim, sobre a autonomia do direito das obrigações, cabe-nos
consignar que ela se traduz na disciplina específica para esse
importante ramo do Direito, cuja aplicabilidade se dá, de forma exclusiva
ou complementar, com a disciplina de outras áreas.
Atenção
Além disso, é importante destacar que, pela sistemática adotada pelo
CC de 2002, procedeu-se a uma unificação parcial do direito privado,
com a reunião das obrigações civis e mercantis no livro do direito das
obrigações, que inaugura a parte especial do CC.
Historicidade do direito das
obrigações
A compreensão dos institutos jurídicos perpassa sua historicidade, não
com o objetivo de uma exata e pormenorizada reconstrução histórica,
mas de conhecer a dinâmica evolutiva e, principalmente, as
transformações ao longo do tempo.
Nessa perspectiva, podemos indicar três marcos principais na evolução
das obrigações:

Fase romana.

Fase moderna.

Fase contemporânea e constitucionalizada.
Essa divisão não indica que tenham existido três diferentes obrigações,
mas apenas que em cada uma dessas fases é possível destacar certas
características mais marcantes.
Na fase romana, o conceito de obrigação era bem-definido, com a
distinção entre os direitos de crédito e os direitos reais e com o
estabelecimento do vínculo pessoal entre os sujeitos da relação
obrigacional. Note que a pessoalidade do vínculo, em um primeiro
momento, estava particularmente atrelada à Lei das XII Tábuas, e o não
cumprimento das obrigações pactuadas assumia um caráter delitual.
Assim, a título ilustrativo, entre as possíveis consequências do
inadimplemento, havia a possibilidade de se tornar escravo, ter uma
parte do corpo cortada ou ainda ser morto. Essas espécies arcaicas de
autotutela tiveram seu fim com a Lex Poetelia Papiria, trazendo a
distinção essencialmente relevante de patrimônio e pessoa natural do
devedor, projetando a responsabilidade sobre o patrimônio e originando
a responsabilidade patrimonial, tal como prevista em nosso
ordenamento jurídico atual (art. 391 do CC).
O extremo formalismo é outra característica marcante das obrigações
na época romana. Vejamos alguns pontos:
Lex Poetelia Papiria
A Lex Poetelia Papiria foi uma lei da República romana que aboliu o nexum, ou seja, o acordo pelo qual um devedor dava como
garantia de um empréstimo a escravidão de si próprio em nome do credor em troca da extinção do débito.
Importantes manifestações
Os ritos e as cerimônias eram mais importantes do que a
manifestação da vontade em si.
Extremismo atenuado
No entanto, com o passar do tempo e a evolução da
categoria, tanto o formalismo quanto a pessoalidade
extrema foram se tornando mais brandos.
De fato, se a responsabilidade se torna patrimonial e não mais incidente
sobre a pessoa do devedor, as obrigações deixam de ter caráter
personalíssimo, passo importante na evolução das obrigações como um
todo.
A partir daí, outras evoluções e transformações foram experimentadas,
sendo a principal o deslocamento da primazia do formalismo para a
vinculação da vontade e a sujeição do devedor a uma prestação, e não
mais a uma sujeição física e de seu próprio corpo. Essa nova concepção
de obrigação já se fazia presente no Corpus Iuris Civilis, no século XVI.
Ainda nessa perspectiva da vinculação da vontade, mas já sob a
influência do Direito Canônico, o não cumprimento da obrigação se
confundia com a ideia de falha moral e até mesmo de pecado, e foi
instituído, na época, o princípio do pacta sunt servanda (os pactos
devem ser cumpridos), denotando o compromisso pela palavra
empenhada.
O Direito moderno resgata a noção de obrigações do Direito romano,
mas distante daquela primeira concepção de vínculo pessoal, quiçá
personalíssimo, e adicionando a ideia da força vinculante da vontade.
Nessa perspectiva, Pothier (2002, p. 24), em atenção ao Code Civil
francês, definiu obrigação como “um vínculo de direito que nos restringe
a dar a outro alguma coisa, ou ainda, a fazer ou não fazer tal ou qual
Evolução
Esse fato permitiu a evolução para a responsabilidade
patrimonial, como já referido, e a própria transmissão das
obrigações, com os institutos que hoje conhecemos como
cessão de crédito e assunção de dívida, por exemplo.
coisa”, destacando ser da essência das obrigações que exista uma
causa para essa obrigação, que existam pessoas entre as quais se
contrate e que exista alguma coisa que seja seu objeto (POTHIER, 2002,
p. 29).
Essa definição, até pelo protagonismo francês da época, influenciou
outras codificações e pode ser compreendida como uma boa ilustração
da concepção moderna de obrigações.
Comentário
Destaca-se que ainda prevalecia a noção de vínculo estático entre
credor e devedor, e de sujeição deste último ao primeiro, mas não uma
sujeição pessoal, e sim patrimonial, na medida em que a
responsabilidade pelo inadimplemento recaía sobre o patrimônio.
Em termos de história recente, por muito tempo se acreditou que as
obrigações permaneceriam quase inalteradas em suaessência,
revelando aqui a preponderância de seu aspecto estático. Essa visão de
estabilidade das obrigações se traduz no vínculo jurídico, que confere ao
credor o direito de exigir do devedor o cumprimento de determinada
obrigação, ao passo que o devedor estaria obrigado a realizar a
prestação ao credor.
No entanto, novas transformações surgiram, e, mais
contemporaneamente, verificamos uma terceira fase evolutiva nas
obrigações, com destaque para uma concepção dinâmica do vínculo
jurídico obrigacional e da relação como um todo. Essa nova concepção
pode, em alguma medida, ser compreendida como consequência direta
da própria reformulação da noção de autonomia privada, tanto de seus
contornos quanto de seus limites.
A noção de autonomia da vontade, concebida como dogma na teoria
clássica, é substituída pela de autonomia privada, sendo certo que não
se tratou de mera alteração semântica, mas de reformulação de fundo,
no que tange aos contornos e, principalmente, aos limites da autonomia.
Sob a influência de princípios constitucionais, notadamente o da
dignidade da pessoa humana e o da solidariedade social, altera-se a
concepção de autonomia, e ela então se distancia de uma ideia de
liberdade parcamente limitada para a ideia de uma liberdade
funcionalizada ao atendimento de interesses e valores socialmente
relevantes. Como consequência dessa alteração, novos institutos e
princípios jurídicos emergiram, como a figura do abuso do direito e os
princípios da boa-fé objetiva e da função social dos contratos.
No campo das obrigações, especificamente, isso impôs uma renovada
concepção da obrigação, a qual passa a ser compreendida como um
vínculo dinâmico, complexo, enfim, como um processo de cooperação
entre as partes e com vistas ao adimplemento. Essa nova concepção só
foi possível porque, primeiro, abandonou-se o formalismo exacerbado e
típico do Direito romano e, a partir daí, privilegiou-se o aspecto funcional
da relação.
Vale dizer que, preservados seus aspectos estruturais,
adota-se uma postura que privilegia a função da
relação obrigacional, que vem a ser toda a sua
existência orgânica direcionada ao adimplemento.
Consequentemente, a relação obrigacional passa a ser apreciada em
sua totalidade, e, nessa perspectiva, não apenas o débito e o crédito são
relevantes, mas todos os direitos, deveres, ônus, exceções, enfim, todas
as situações jurídicas subjetivas têm papel de destaque, posto que se
interligam, tornando a relação uma totalidade orgânica, complexa e
dinâmica, cujo fim é o adimplemento.
Certamente, o credor ainda tem o direito de exigir do devedor a
satisfação de seu crédito. Essa possibilidade é da essência do próprio
vínculo obrigacional. No entanto, o credor também tem deveres ao longo
dessa relação, e ambos devem cooperar para seu fim pretendido, que é
o adimplemento.
Princípios do direito das
obrigações
O direito das obrigações disciplina, essencialmente, três situações:

As relações negociais, de troca de bens e serviços entre as pessoas.

A reparação dos danos civis.

Os atos unilaterais de vontade relacionados com hipóteses de
benefícios indevidamente auferidos.
Essa delimitação nos indica os princípios mais relevantes no âmbito do
direito das obrigações, quais sejam, o princípio da autonomia privada, o
princípio da boa-fé objetiva e o princípio da função social dos contratos.
Princípio da autonomia
privada
O que é a autonomia privada? Vamos conhecer seu conceito e
características juntamente com a professora Fernanda Paes Leme
assistindo ao vídeo a seguir?
Como você deve ter observado no vídeo, a autonomia privada, em seu
sentido técnico, é o poder de autorregulamentação dos próprios
interesses. Trata-se, portanto, de poder reconhecido aos sujeitos de
direito para a produção de efeitos jurídicos em decorrência de ato de
sua própria vontade e em conformidade com o ordenamento. Tem como
seu fundamento genérico a liberdade jurídica e encontra no negócio
jurídico o local próprio para sua realização.
Ainda sobre o tema, vejamos algumas diferenças entre as autonomias:
Autonomia privada patrimonial

Tratando-se da autonomia privada patrimonial, a liberdade se
especifica na livre iniciativa, nos termos do art. 170 da Constituição
Federal de 1988 (CF/1988), fundamento próprio para atos dessa
natureza.
Autonomia não patrimonial
Já para os atos de autonomia não patrimonial, o fundamento se
desloca para a cláusula geral de tutela da pessoa humana. A
liberdade deve ser harmonizada com os substratos que
conformam o princípio da dignidade da pessoa humana.
No entanto, são os limites que se opõem a essa liberdade que melhor
explicam, ao longo do tempo e do espaço, sua concepção e
abrangência, e também foi a partir da imposição de limites que se deu a
grande transformação do conteúdo da autonomia.
Vamos descobrir quais são eles?
O primeiro limite imposto à autonomia privada é o negativo,
consubstanciado no critério da licitude/ilicitude. Este sempre
existiu e corresponde ao princípio da legalidade, que determina
não ser possível fazer aquilo que a lei proíbe. Esse limite persiste
e pode ser observado em diversas passagens da legislação,
como no parágrafo único do art. 170 da CF/1988, ao determinar
que, em alguns casos, o exercício da livre iniciativa dependerá de
prévia autorização do poder público; no próprio requisito da
licitude do objeto para a validade dos negócios jurídicos; na
proibição de o tutor adquirir bens do tutelado; na
indissolubilidade do vínculo de afinidade em linha reta, que traz
como consequência direta o impedimento matrimonial; entre
outros.

Limite negativo 
Contudo, em um ordenamento promocional, a licitude não é
critério bastante para a valoração, em termos positivos, do ato de
autonomia, razão pela qual se adiciona o critério da legitimidade
e, consequentemente, adota-se também o juízo de merecimento
de tutela do ato.
Assim, o segundo limite genérico à autonomia privada é o critério
da legitimidade. Trata-se de outro limite negativo, que determina
que os atos de autonomia, além de lícitos, têm que ser exercidos
em conformidade com sua função. Trata-se de um controle de
abusividade ou de disfuncionalidade do ato. Os parâmetros para
esse controle de legitimidade são aqueles estabelecidos pelo
legislador no art. 187 do CC de 2002, a saber, fim econômico ou
social, boa-fé e bons costumes.
Há ainda um terceiro limite genérico, consistente na
funcionalização do ato de autonomia, que se trata do privilégio
ao aspecto funcional dos institutos jurídicos como um todo e do
ato de autonomia especificamente, a fim de permitir tanto o
controle do ato quanto, principalmente, sua adequação ao
atendimento dos interesses sociais relevantes.
Princípio da boa-fé objetiva
Critério da legitimidade 
Funcionalização do ato de autonomia 
O princípio da boa-fé objetiva foi inserido no ordenamento jurídico
brasileiro pelo Código de Defesa do Consumidor (CDC), e,
posteriormente, o legislador de 2002, por meio de três dispositivos (arts.
113, 187 e 422), irradiou a força do princípio para as demais relações.
De forma geral, pode-se dizer que a boa-fé objetiva
impõe aos contratantes a observância de certo padrão
de comportamento ético, o qual será um parâmetro
utilizado pelo julgador quando da interpretação,
integração e solução das controvérsias submetidas à
sua análise.
A doutrina brasileira, seguindo a classificação alemã e em observância
ao texto codificado, identifica uma tríplice função para a vertente
objetiva da boa-fé:
Função integrativa da boa-fé
Essa função objetiva (art. 422 do CC) estabelece a obrigação acessória
de agir segundo a probidade e a boa-fé.
Função limitativa
A função limitativa (art. 187 do CC) visa a impedir o exercício abusivo
das posições jurídicas.
Função interpretativa
Essa função (art. 113 do CC) determina que o contrato seja interpretado
segundo a boa-fé.
No âmbito de sua função integrativa, a boa-fé objetiva impõe deveresgenéricos de recíproca cooperação ou colaboração entre as partes,
impondo, portanto, deveres positivos de conduta, os quais foram
determinantes para a transformação da concepção de obrigação. A
rigor, esses deveres, por si só, impuseram a complexidade objetiva das
obrigações e dotaram a relação de um dinamismo que a caracteriza na
contemporaneidade.
A função limitativa permite a verificação da abusividade do exercício do
direito, a partir da análise da presença de elementos objetivos acerca da
cooperação entre as partes, bem como do exercício desarrazoado de
certa posição jurídica, compreendido como aquele contrário ao padrão
de colaboração e retidão. Ao equilíbrio compete verificar a
proporcionalidade entre as obrigações existentes.
A título de ilustração, suponha um contrato de compra e venda a prazo
de automóvel entre particulares, no qual, após o pagamento de uma
parcela considerável do contrato, o devedor ficasse inadimplente. Na
eventualidade de o credor pretender exercer seu direito potestativo à
resolução, poderia incidir o controle, por meio da boa-fé objetiva, com
vistas a impedir a resolução.
Por fim, a função interpretativa, atribuída à boa-fé objetiva, impõe a
adoção de standards de comportamento para fins de interpretação das
diferentes relações jurídicas. Trata-se de comando normativo
direcionado ao julgador, no sentido de que adote o parâmetro da boa-fé
objetiva para a interpretação das situações postas à sua análise.
Princípio da função social dos
contratos
O princípio da função social dos contratos foi introduzido no
ordenamento jurídico brasileiro pelo CC de 2002, que, por meio do art.
421, determinou que a “a liberdade de contratar será exercida em razão
e nos limites da função social do contrato”. Mais recentemente, a
Declaração de Direitos de Liberdade Econômica (Lei nº 13.874/2019)
alterou a redação do art. 421, suprimindo o “em razão” do caput,
substituindo a expressão “liberdade de contratar” por “liberdade
contratual” e acrescentando um parágrafo único ao dispositivo.
Se existe um consenso acerca da função social dos contratos é o de
que o princípio encerra uma espécie de critério de controle de
legitimidade da liberdade contratual, impondo às partes contratantes a
observância e o atendimento aos valores socialmente úteis, quando da
busca pela realização de seus próprios interesses. Isso não significa
ignorar a função econômica do contrato, transformando-o em
instrumento de realização de interesses exclusivamente coletivos, e/ou
desprezar a vontade das partes.
A função social dos contratos impõe uma nova forma de composição
dos interesses envolvidos, um plus às funções econômicas em geral e
específicas das relações obrigacionais como um todo e do contrato,
especificamente.
Vem que eu te explico!
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo
que você acabou de estudar.
Princípio da boa-fé objetiva
2:57 min.
Princípio da função social dos contratos
1:58 min.
MÓDULO 1
Vem que eu te explico!
Princípio da boa-fé objetiva
2:57 min.
Princípio da função social dos contratos
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1
Acerca dos princípios fundamentais que regem o direito das obrigações,
é possível afirmar que:
A
Não há diferença, em termos práticos, entre
autonomia privada e autonomia da vontade, limitando-
se a uma distinção meramente semântica.



B
Entende-se como boa-fé objetiva a identificação
particular de determinadas partes, isto é, vincula-se a
intenção do agente, contrapondo-se à má-fé.
C
A função social do contrato se traduz na definição de
um controle de legitimidade da liberdade contratual,
pautado por interesses socialmente relevantes.
D
A compreensão do direito das obrigações, na
contemporaneidade, rechaça toda a noção existente
no Direito romano, pois este se vinculava tão somente
à inexistência de distinção entre o patrimônio e a
pessoa.
E
O princípio do pacta sunt servanda como princípio
contratual contemporâneo significa a observância de
cumprir determinada obrigação, desde que estejam
previstas as circunstâncias devidas.
Parabéns! A alternativa C está correta.
Trata-se da exata definição do princípio da função social do contrato.
Questão 2
Acerca das funções exercidas pela boa-fé objetiva, de acordo com as
doutrinas alemã e brasileira, entende-se que:
A
Reverbera-se em uma tríplice função, sendo ela:
disjuntiva, limitativa e interpretativa.
B
A função integrativa se coaduna com a visão
contemporânea e dinâmica das obrigações,
observando a cooperação entre as partes.
C
Tem como função exclusiva a identificação de valores
socialmente relevantes.
2 - Fontes e causas das obrigações
Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer as fontes e as
causas das obrigações.
Notas introdutórias
A fonte ou causa de uma obrigação corresponde a seu fato gerador ou
originário e, consequentemente, ao fundamento jurídico do vínculo
obrigacional. Assim, identificar uma fonte ou causa de uma obrigação é
D
A função interpretativa se traduz no dever de leitura
integral de determinado contrato, sob pena de não ser
considerado válido.
E
A função disjuntiva diz respeito à separação
necessária entre o cumprimento de uma obrigação,
pelo lado do devedor, e o direito de exigi-la, pelo lado
do credor.
Parabéns! A alternativa B está correta.
Trata-se da escorreita compreensão da função integrativa, que, juntamente com as funções limitativa e
interpretativa, corrobora a tríplice função da vertente objetiva da boa-fé.

o mesmo que identificar a origem dessa mesma obrigação e seu
fundamento.
Exemplo
A título ilustrativo, uma obrigação oriunda do descumprimento de um
dever originário ou de um ato ilícito enseja, uma vez preenchidos todos
os pressupostos para tal, uma relação de responsabilidade civil, com
características e especificidades próprias, como prazo prescricional e
termo inicial para contagem de juros, por exemplo. Por outro lado, uma
relação obrigacional oriunda de um vínculo jurídico contratual está
diretamente relacionada com esse título, no qual, por exemplo, podem
ter sido incluídas uma cláusula limitativa e, dependendo do contrato, até
mesmo exonerativa de responsabilidade.
Com esses exemplos, meramente ilustrativos, pretendeu-se destacar a
importância da identificação das fontes ou causas das obrigações.
Trata-se de um aspecto instrumental e de extrema relevância prática,
pois influencia diretamente diversos aspectos técnicos derivados do
vínculo estabelecido.
A relevância da identificação das fontes ou causa das obrigações deriva
das especificidades que serão próprias a cada uma das diversas
relações obrigacionais possíveis em razão de sua fonte.
Resumindo
Em síntese, as fontes ou causas das obrigações revelam sua
importância a partir da compreensão das circunstâncias que ensejam o
vínculo jurídico obrigacional de determinada relação.
Como visto no módulo anterior, as obrigações têm historicidade própria
e longa evolução, a qual também influencia a identificação das possíveis
fontes ou causas das obrigações. Assim, adotaremos aqui os mesmos
marcos temporais indicados no módulo anterior, quais sejam, a fase
romana, a fase moderna e a fase contemporânea.
Algumas palavras sobre cada uma dessas fases:
Ao longo da fase romana, foram enumerados como fontes das
obrigações o contrato, o como contrato, o delito, o como delito e
o direito próprio, com alterações nessas indicações, a fim de
acomodar situações e categorias novas que surgiram com o
passar do tempo.
Essa classificação romana foi adotada, já na fase moderna, pelo
Código de Napoleão, por obra direta de Pothier (2002, p. 29), que
Fase romana 
afirmava como causas das obrigações “os contratos, os quase
contratos, os delitos e os quase delitos e, às vezes, a lei ou a
simples equidade”. Observa-se que as ideias de “como contrato”
e “como delito” do Direito romano são denominadas, na fasemoderna, “quase contrato” e “quase delito”.
Na construção francesa, incorporada no Código de Napoleão, o
contrato seria uma espécie de convenção, cujo objeto era um
compromisso. Já os quase contratos seriam o que hoje
compreendemos como atos unilaterais, a exemplo da aceitação
de herança e do pagamento indevido (POTHIER, 2002, p. 111). Já
o delito seria o ato intencional e doloso que causasse dano a
outrem, e o quase delito, o ato culposo que gerasse o mesmo
resultado lesivo. Por fim, a lei era, e ainda é, apresentada como
fonte mediata de todas as obrigações, além de causa imediata
de algumas obrigações específicas.
Como sabemos, a fase moderna foi marcada por um amplo
movimento de codificações, e não foram todos os ordenamentos
que seguiram essa classificação francesa. Ao contrário, foram
observadas adaptações e reformulações nessas classificações.
De forma geral, verificou-se o abandono das figuras do quase
contrato e do quase delito, sendo o primeiro substituído pela
categoria dos atos unilaterais de vontade, e o segundo, fundido
na categoria geral do delito ou ato ilícito.
Além disso, sob a influência germânica, substituiu-se, em certa
medida, o contrato pela categoria mais ampla de negócio
jurídico, na qual o contrato está inserido. Já a lei, em que pese
Fase moderna 
existirem críticas nesse sentido, majoritariamente, é indicada
como uma das fontes das obrigações, mediata ou imediata.
Como fonte mediata, pois a lei é, em última instância, o
fundamento de todas as relações obrigacionais, e imediata, nas
hipóteses em que a obrigação nasce diretamente da lei, como no
caso de obrigação alimentar.
Já em nossa fase atual, contemporânea, reconhecemos como
fontes ou causas das obrigações o ato ilícito, o negócio jurídico,
os atos unilaterais de vontade e a lei. Assim, pode-se afirmar que
a obrigação resulta de fonte heterônoma, por intermédio da lei,
ou de fonte autônoma, resultante da vontade humana,
manifestada no contrato, na declaração unilateral ou na prática
de ato ilícito.
Derivando um pouco mais essas categorias, temos que as obrigações
podem ser originadas de contratos ou atos unilaterais de vontade (atos
jurídicos); atos ilícitos, dolosos e/ou culposos; e da lei, que usualmente é
apontada como fonte primária e mediata de todas as obrigações, mas
que também pode figurar como fonte imediata.
À exceção da lei, as demais fontes das obrigações pertencem à
categoria mais ampla de fatos jurídicos, que são os acontecimentos,
dependentes ou não da ação humana consciente e voluntária e que
produzem consequências jurídicas. Entre as possíveis consequências
ou efeitos jurídicos do fato está, justamente, a relação obrigacional. Daí
a afirmativa de que tais fatos jurídicos são fontes ou causas das
obrigações.
O gênero fato jurídico é subdivido em algumas espécies:
Fase contemporânea 
I
O fato jurídico em sentido estrito.
Esses três últimos, juntamente com a lei, conformam as fontes ou
causas das obrigações.
Atos jurídicos: atos em
sentido estrito e negócios
jurídicos
O ato jurídico é a ação humana voluntária e consciente, ou seja,
destinada à produção de determinado efeito pretendido, que gera
consequências jurídicas. Essa categoria se subdivide em atos jurídicos
em sentido estrito e em negócios jurídicos, e ambos derivam da vontade
humana criadora. No entanto, o espaço de liberdade ou de autonomia
do agente difere em uns e em outros.
Nos atos jurídicos em sentido estrito, todos os efeitos derivam da
própria lei. Assim, o espaço de autonomia se resume à escolha entre
praticar ou não o ato, mas, uma vez praticado, não há espaço para
qualquer modulação volitiva. Nesse sentido, afirma-se que o ato jurídico
em sentido estrito é a exteriorização consciente da vontade, cuja
eficácia é predeterminada pela lei.
II
O ato jurídico, que se subdivide em ato jurídico em sentido
estrito e em negócio jurídico.
III
O ato lícito.
Exemplo
Podemos citar a adoção, a fixação de domicílio e a constituição em
mora.
Já no negócio jurídico o espaço para o exercício da autonomia e para a
inovação no mundo jurídico é bastante amplo, na medida em que o
negócio jurídico é o instrumento por excelência da autonomia privada,
visto que é por meio dele que o sujeito de direito manifesta sua vontade,
direcionada à produção de efeitos pretendidos.
Resumindo
Em síntese, o negócio jurídico é o instrumento próprio para que os
sujeitos de direito autorregulem seus interesses, na medida em que
seus efeitos não são determinados pela norma, embora sejam por ela
limitados.
A depender das partes envolvidas, o negócio jurídico pode ser unilateral
ou bilateral, e na categoria dos negócios bilaterais se insere a principal
fonte das obrigações, que é o contrato. Este último pode ser
compreendido como uma relação jurídica subjetiva, derivada do acordo
de vontades e em conformidade com a lei, por meio do qual os sujeitos
de direito, no exercício de suas autonomias, podem alterar a realidade
jurídica, perfazendo acordos volitivos em torno de bens e interesses
patrimoniais juridicamente reconhecidos.
Os atos negociais unilaterais ou negócios jurídicos unilaterais são
aqueles que se aperfeiçoam e criam uma obrigação, a partir da
declaração de apenas uma vontade negocial.
A título de ilustração, podemos citar os títulos de crédito, documentos
autônomos de natureza obrigacional inter partes, predominantes nas
relações interempresariais (arts. 887 e segs. do CC), e a promessa de
recompensa, disciplinada nos arts. 854 a 860 do CC.
Exemplo
Um exemplo de promessa de recompensa bastante comum em nossa
sociedade é o programa de milhagens de companhias aéreas ou de
pontos de determinada marca de produtos ou serviços.
Existem, por fim, os atos unilaterais não negociais, aos quais nos
dedicaremos no Módulo 3 e que se distinguem dos atos ou negócios
jurídicos unilaterais exatamente por serem desprovidos de caráter
negocial, mas que, por derivarem de ações humanas voluntárias,
reverberam em uma obrigação.
Atos ilícitos
Vamos assistir agora a professora Fernanda Paes discorrer sobre os
atos ilícitos e suas classificações.
Atos ilícitos
O ato ilícito está inserido na categoria dos atos jurídicos, ao lado dos
atos jurídicos em sentido estrito, cujos efeitos decorrem diretamente da
lei, independentemente da vontade dos agentes e dos negócios
jurídicos, cujos efeitos decorrem da vontade em conformidade com a
lei.
A diferença entre os atos jurídicos em sentido estrito e
o ato ilícito repousa justamente na qualificação
específica deste último, que é sua antijuridicidade, pois
os efeitos dos atos ilícitos também derivam da lei.
O ilícito, portanto, significa que aquela ação humana é contrária ao
Direito e, assim, antijurídica. Trata-se de uma caracterização objetiva,
visto depender apenas da contrariedade ao Direito. O ato ilícito é um
comportamento voluntário que infringe um dever jurídico.

Assim, em termos práticos, para caracterizar um ato como ilícito,
devemos indagar o que a pessoa fez, observar a conduta, a ação ou
omissão e valorar essa conduta em conforme ou não conforme ao
Direito. Sendo não conforme ou contrária ao Direito, será antijurídica e,
consequentemente, ilícita.
A vida em sociedade impõe a adoção de certos comportamentos
objetivos e também de certos deveres negativos, tal qual o dever
genérico de não causar danos a outrem. A inobservância desses
deveres, somada à causação de danos injustos, configura o ato ilícito,
cujo efeito principal é o indenizante ou reparatório. Repousa, nesse
ponto, a relevância dos atos ilícitos como fonte de obrigações, posto
que, em muitos casos, serão fonte geradora da relação de
responsabilidade civil.
A correlação entre ato ilícito e responsabilidade civil é tão estreita que,
tradicionalmente, o conceito de ato ilícito foi concebido como o conjunto
dos pressupostos da responsabilidade civil subjetiva, como se
depreende do teor do art. 186 do CC, que dispõe: “Aquele que, poração
ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e
causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato
ilícito.”
Contemporaneamente, no entanto, essa correlação deve ser vista com
mais cautela, pois, conforme a sistemática adotada pelo CC de 2002, o
ato ilícito passa a ser um gênero que tem como espécies o ato ilícito em
sentido estrito ou subjetivo (art. 186 do CC) e o ilícito em sentido amplo
ou objetivo, que é o abuso do direito (art. 187 do CC).
A cautela se faz necessária porque, enquanto o ilícito
subjetivo, de fato, relaciona-se de forma muito estreita
com a responsabilidade civil, o ilícito objetivo ou abuso
do direito tem como função primordial exercer um
controle dos atos de autonomia, visando à coibição de
exercícios disfuncionais do direito.
Certamente, o cometimento de um ilícito objetivo pode gerar uma
relação de responsabilidade civil. Inclusive, tal previsão é expressa no
caput do art. 927 do CC, no qual se afirma que: “Aquele que, por ato
ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.”
No entanto, considerando a função primordial do abuso do direito,
devemos ter em mente que o efeito reparatório ou indenizante, para
essa espécie de ato ilícito, não é o principal.
Espécies de ato ilícito
Como referido no item anterior, o CC de 2002 ampliou a noção de ato
ilícito, incluindo nessa categoria o abuso do direito. Consequentemente,
foi necessário extrair do conceito de ato ilícito (gênero) a culpabilidade,
reduzindo sua conceituação a uma conduta ou comportamento humano
que viola o ordenamento jurídico, infringindo um dever jurídico
específico ou geral, tal qual o de não causar danos a outrem ou de não
agir em desconformidade com o próprio direito que titulariza.
Assim, diante da sistemática do CC de 2002, duas são as espécies de
ato ilícito:

Ato ilícito em sentido estrito ou subjetivo, previsto no art. 186 do CC.

Ato ilícito objetivo ou abuso do direito, previsto no art. 187 do CC.
O ilícito subjetivo em sentido estrito ou subjetivo pode ser
compreendido como a qualificação de uma conduta humana voluntária,
culposa ou reprovável, praticada conscientemente por uma pessoa,
violadora de um dever jurídico e que causa dano a terceiros.
Depreende-se desse conceito que o núcleo central do ilícito subjetivo é
conformado pela antijuridicidade e pela imputabilidade:
\
Antijuridicidade
A antijuridicidade é o aspecto objetivo do conceito e que nos impõe
investigar o que a pessoa fez, pois será antijurídica a conduta
voluntária, comissiva ou omissiva, contrária ao ordenamento jurídico.
Imputabilidade
A imputabilidade é o aspecto subjetivo do conceito e que indica a
necessidade de investigar quem praticou o ato ilícito, premissa para a
própria reprovabilidade da conduta e para a imputabilidade, que é a
possibilidade jurídica de atribuição de autoria ou de responsabilidade
pelo fato. Imputável pelo ato, portanto, será a pessoa a quem se pode
atribuir a conduta antijurídica, sendo exigido para tal o discernimento.
Por isso é que, em nosso ordenamento jurídico, o incapaz pode praticar
conduta antijurídica, mas não comete ato ilícito, pois é inimputável.
O ato ilícito em sentido amplo, objetivo ou abuso do direito pode ser
compreendido como conduta antijurídica, mas sem qualquer referência
ao elemento subjetivo. Assim, observa-se apenas a conduta, se
contrária ao ordenamento jurídico.
Essa é uma distinção muito importante:
Ato ilícito em sentido subjetivo
O ato ilícito em sentido estrito ou subjetivo precisa do elemento
subjetivo da culpa.
Ato ilícito em sentido objetivo
Já o ilícito objetivo ou abuso nasce da incompatibilidade entre o
direito subjetivo e seu exercício.
Em outras palavras: o ato ilícito objetivo dispensa o elemento volitivo, na
medida em que, para a configuração do abuso, exige-se apenas a
comprovação objetiva de que o comportamento adotado contraria a
função para a qual o direito subjetivo foi concedido.

A função precípua do abuso do direito, como já referido, é exercer um
controle do exercício dos atos de autonomia. A valoração da
abusividade é tarefa complexa, pois só pode ser feita em concreto e em
atenção à função do próprio direito. A rigor, temos um direito que está
sendo exercido por seu titular, que, durante esse exercício, por não
observar ou respeitar a função do próprio direito, abusa do direito e, com
isso, comete ato ilícito. A configuração do abuso do direito resulta do
exercício disfuncional do direito.
Em comum, ambas as espécies congregam a desconformidade da
conduta com o direito e a reprovabilidade dessa mesma conduta.
Porém, no ilícito subjetivo, a reprovabilidade da conduta corresponde à
culpa, exteriorizada pela negligência, imprudência e imperícia. Já no
ilícito objetivo ou abuso do direito a reprovabilidade corresponde ao
exercício disfuncional de uma posição jurídica e é apreciada em
concreto, a partir dos parâmetros indicados pelo legislador, quais sejam,
seu fim econômico ou social, a boa-fé e os bons costumes.
Disso deriva outra importante distinção entre o ato ilícito subjetivo e o
objetivo ou abuso:
Ato ilícito em sentido subjetivo
O autor do ilícito viola diretamente uma norma ou um dever
jurídico; daí se afirmar que o ato ilícito em sentido estrito conforma
uma ilegalidade.
Ato ilícito em sentido objetivo
Não se verifica uma violação frontal à norma, o que resulta em ato
ilícito qualificado não pela ilegalidade estrita, mas, sim, pela
ilegitimidade da conduta.
Comentário
A violação frontal à norma não é verificada porque temos na hipótese do
ilícito objetivo, a rigor, o exercício irregular de direito, mas há um direito.
Uma dúvida natural, nesse ponto, é a razão de se falar em ato ilícito, se
não há ilegalidade propriamente dita. E a resposta é bastante simples,
em que pese não ser isenta de críticas. Porque essa foi a opção de
nosso legislador, qual seja, considerar ilícito aquele ato abusivo e não
merecedor de tutela jurídica. E isso porque o abuso é intolerável, e o

ordenamento não admite comportamentos violadores de princípios e
valores, ainda que tais comportamentos tenham aparência de licitude.
Assim, o ato ilícito clássico é uma violação ao corpo da legislação,
enquanto o abuso é uma violação à alma da legislação. O ato abusivo é
lícito na origem, mas é ilícito quanto ao resultado e à finalidade. Daí a
complexidade de sua configuração, a qual depende da apreciação em
concreto e de seu reconhecimento pelo juízo.
Atos justi�cados
Antes de terminar a discussão sobre atos ilícitos, precisamos analisar
os atos justificados, os quais, não obstante a ausência de ilicitude,
podem gerar uma obrigação de responsabilidade civil.
Os atos justificados são aqueles que derivam de conduta humana
voluntária e que geram danos a outrem, mas de que, por terem sido
praticados em circunstâncias tais que seria inexigível comportamento
diverso, a ilicitude da conduta é afastada. No entanto, a exclusão da
ilicitude não é, necessariamente, acompanhada da exclusão da
antijuridicidade, e, assim, em algumas hipóteses, haverá o dever de
reparar.
As consequências dos atos justificados são determinadas
exclusivamente pela lei, e, nesse sentido, eles se aproximam dos atos
ilícitos e dos atos jurídicos em sentido estrito.
Já a peculiaridade dos atos justificados é a potencialidade de gerarem o
dever de reparação civil, não obstante a ausência de ilicitude na conduta
de quem os praticou.
É a lei que determina quais as justificativas que afastam a ilicitude das
condutas e em quais circunstâncias haverá também a exclusão da
antijuridicidade. São justificados os atos praticados em legítima defesa,
no exercício regular de um direito reconhecido e em estado de
necessidade, como preceitua o art. 188 do CC. As condutas praticadas
em uma dessas circunstâncias, mesmo quando gerarem danos a
terceiros, serão lícitas, pois essas causas operam a exclusão da ilicitude
da conduta.
ResumindoAs excludentes de ilicitude tornam o fato aparentemente antijurídico e
ilícito em lícito. Certamente, o fato não se altera, porém, a existência de
razões que o justifiquem exclui a ilicitude da conduta, configurando
hipóteses de atos lesivos lícitos.
Já a configuração ou não da antijuridicidade e a consequente obrigação
de reparação civil dependerão, essencialmente, da participação da
vítima do dano na origem da conduta justificada.
De forma geral:
Se a vítima do dano tiver dado causa a situação ou circunstância
na qual foi praticado o ato justificado, não haverá o dever de
reparação civil.
Mas, por outro lado, se a vítima for terceira pessoa, totalmente
desvinculada da situação ou circunstância, haverá o dever de
reparação (arts. 929 e 930 do CC).

A título de ilustração, suponhamos a seguinte situação hipotética:
I
Um motorista conduz seu veículo automotor observando
todas as regras de trânsito e com toda a cautela quando
surge uma criança correndo na pista.
II
Com o intuito de evitar atropelar a criança, ele é obrigado a
frear bruscamente e a fazer uma manobra, e acaba
abalroando o carro de terceiro. A conduta desse motorista é
lícita, visto que justificada pelo estado de necessidade.
III
Não obstante, o terceiro não tem responsabilidade alguma
pelo fato e, por opção legislativa, não deve suportar o
prejuízo. Assim, ao motorista incumbirá o dever de
reparação dos danos.
No mesmo exemplo, suponhamos uma pequena alteração no cenário:
I
Imagine que a criança tenha saído correndo do carro de seu
representante legal, que tinha acabado de estacionar seu
veículo
II
Imagine também que o motorista, para evitar o
atropelamento, tenha feito uma manobra arriscada e
abalroado o carro do representante legal da mesma criança.
III
E ã d t d d id d d t é lí it
Lei
A lei é indicada como uma das fontes das obrigações pela maioria dos
autores que se dedicam ao tema, os quais sustentam que ela sempre
seria a fonte primária e mediata, podendo ainda ser a fonte imediata nas
hipóteses em que a obrigação resulta diretamente da lei, como na
prestação de alimentos.
Não obstante, há vozes dissidentes que, categoricamente, afirmam que
a lei não é fonte ou causa das obrigações, a exemplo de Fernando
Noronha (2010, p. 365). Os autores que assim se posicionam defendem
a tese de que a lei de per si não é fonte obrigacional, pois lhe falta a
autonomia da vontade para se perfazer ou concretizar. E, assim, a lei
abstratamente considerada não seria fonte de obrigações, mas, se
vinculada a fato jurídico, torna-se fonte obrigacional.
Ocorre que o inverso é igualmente verdadeiro, pois a juridicidade de um
contrato, por exemplo, deriva da lei que reconhece a vontade criadora de
efeitos jurídicos dessa natureza.
Exemplo
Além dos contratos tipicamente previstos, seja no CC, seja na legislação
especial, podemos celebrar contratos atípicos, e o que nos garante essa
Em razão do estado de necessidade, a conduta é lícita e,
nesse caso, foi o representante legal que deu ensejo à
situação de perigo; assim, a antijuridicidade da conduta
também restará afastada, não havendo, para o condutor, o
dever de reparar o dano.
possibilidade é a lei (art. 425 do CC).
O mesmo se pode dizer dos atos ilícitos, os quais configuram uma das
fontes geradoras de obrigações, porque a lei assim o determina. Isso
fica ainda mais evidente nas hipóteses de atos justificados, quando,
mesmo agindo licitamente, por opção legislativa, alguém é obrigado a
reparar um dano.
Em síntese, ainda que a lei preveja uma obrigação, tal qual a de prestar
alimentos aos filhos menores, a obrigação em si dependerá de um fato
que vá ao encontro da previsão legislativa e que, justamente por isso,
ganhe juridicidade, produzindo, como consequência, efeitos jurídicos.
Isso porque, quando o legislador cria uma lei e ela é sancionada e passa
a ter vigência, cria-se um direito objetivo e abstrato. E apenas quando
um fato se liga a uma situação descrita na lei é que se criam situações
jurídicas, ou seja, direitos e/ou deveres que são os efeitos jurídicos do
fato.
Nesse sentido, o fato de a lei determinar o dever de prestar alimentos
aos filhos menores a ninguém obriga, até que alguém tenha um filho.
Igualmente, ninguém é obrigado a reparar um dano decorrente da
prática de um ato ilícito se não cometer o ato ilícito, bem como não
serão produzidos os efeitos predeterminados pela norma para certo ato
jurídico em sentido estrito, sem que uma pessoa declare sua vontade
para a realização desse mesmo ato. Utilizando-se do exemplo dado
anteriormente, ainda que a lei determine todos os requisitos e efeitos da
adoção, esta só ocorrerá se alguém pretender adotar e declarar sua
vontade nesse sentido.
Em suma, parece-nos que, independentemente de qual seja a fonte ou
causa das obrigações, sempre teremos a coparticipação da lei e de um
fato jurídico, de sorte que o que podemos fazer é identificar qual das
fontes é a preponderante.
Vem que eu te explico!
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo
que você acabou de estudar.

Atos negociais unilaterais
3:05 min.
Atos justi�cados
2:32 min.
MÓDULO 2
Vem que eu te explico!
Atos negociais unilaterais
3:05 min.
Atos justi�cados
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
No que tange à compreensão francesa incorporada ao Código de
Napoleão, contrato, quase contrato, delito, quase delito e lei, é possível
afirmar que
A
os contratos seriam a formalização dos quase
contratos, eis que estes seriam o equivalente às
tratativas negociais preliminares.
B
os delitos e os quase delitos seriam os equivalentes
àquilo que se conhece em matéria de Direito Penal
como crimes e contravenções penais,
respectivamente.



C
a lei seria considerada fonte imediata de todas as
obrigações por excelência, eis que prescinde de
qualquer outro elemento necessário à formalização de
determinada obrigação.
D
os contratos, como convenção celebrada entre as
partes, derivam exclusivamente da vontade da lei.
E
os quase contratos seriam o que hoje
compreendemos como atos unilaterais, a exemplo da
aceitação de herança e do pagamento indevido.
Parabéns! A alternativa E está correta.
Os quase contratos se traduzem, essencialmente, na identificação de atos unilaterais, ou seja, são obrigações
resultantes da vontade de uma só pessoa, dispensando a certeza do credor.
Questão 2
A respeito dos atos justificados, como elemento criador de obrigações,
está correto afirmar que:
A
São atos derivados da conduta humana, que, não
obstante gerem danos a outrem, são considerados
justificados em razão da tolerância social para
condutas consideradas de menor potencial lesivo.
B
Trata-se de atos causadores de danos, mas
originados de condutas praticadas em circunstâncias
especiais, em que seria inexigível esperar
comportamento diverso, justificando-se a mitigação
da ilicitude.
C
São atos que geram danos a outrem, em razão de
conduta justificada no caso concreto, afastando-se,
necessariamente, a ilicitude e a antijuridicidade.
3 - Atos unilaterais, fato jurídico nas
obrigações e contratos
Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car os atos
unilaterais e o fato jurídico nas obrigações e nos contratos.
Atos unilaterais, fato
jurídico nas obrigações e
contratos
D
É possível convencionar entre as partes as
circunstâncias capazes de ensejar atos justificados na
ordem jurídica atual.
E
Na ordem jurídica atual, situações que envolvam a
legítima defesa ou o estado de perigo não são
capazes de se enquadrarem como atos justificados,
em razão de não ser permitida a violação a direito
alheio.
Parabéns! A alternativa B está correta.
Trata-se da exata definição de atos justificados, que, muito embora gerem danos a outrem, são capazes de ter
sua ilicitude afastada, pois impor a obrigação de adoção de postura diversa seria irrazoável.

Fatos jurídicos, fatos sociais e
obrigaçõesOs fatos sociais são acontecimentos naturais ou dependentes da ação
humana e que constituem a base para a concretização do direito. Isso
porque, quando o legislador promulga uma lei e ela passa a ter vigência,
temos a criação do direito objetivo e abstrato, o qual será concretizado a
partir do momento em que um fato, ou seja, um acontecimento, vá ao
encontro daquela previsão.
Assim, quando um fato se liga a uma situação descrita na lei, ganha
juridicidade, tornando-se um fato jurídico, e, assim, passa a produzir
efeitos ou consequências jurídicas.
Relembrando
A expressão “fato jurídico” é utilizada para denotar um gênero que
abarca algumas espécies, como já referido no módulo anterior.
Como já visto, entre as espécies de fatos jurídicos, o ato jurídico, o
negócio jurídico e o ato ilícito são fontes autônomas das obrigações.
Autônomas porque, relembrando, são derivadas de atos humanos e
conscientes de vontade. Inserido no gênero negócio jurídico, temos o
contrato como instrumento próprio para a criação de obrigações entre
as partes que o celebram.
A indagação a ser feita, nesse ponto, é sobre a relevância jurídica de
outros fatos derivados da ação humana voluntária e socialmente
reconhecidos, mas que, por não preencherem os requisitos gerais de
existência e validade dos atos e dos negócios jurídicos, não estariam
inseridos na categoria fato jurídico e, genericamente, são chamados de
situações de fato.
A título de ilustração, podemos citar as sociedades de fato, a
representação aparente, a posse de estado de fato, entre tantas outras
situações que, não obstante não preencherem os requisitos de
existência e validade dos atos jurídicos, podem e devem ser
reconhecidas, sendo esse o posicionamento de nossos tribunais.
Exemplo
Podemos supor a corriqueira situação de um adolescente de 15 anos
que celebra um contrato de transporte coletivo ou uma compra e venda
de um lanche.
A peculiaridade das situações de fato é a ausência de ato negocial
válido que lhe sirva de fonte constitutiva, ou até mesmo a dispensa de
manifestação de vontade negocial. Dito de outra forma, as situações de
fato correspondem a condutas negociais típicas, mas sem o
preenchimento dos requisitos de existência, validade e eficácia exigidos
pelo ordenamento (art. 10 do CC).
Consequentemente, na apreciação de tais situações, a discussão
concentra-se na admissão da autonomia privada para além do ato
negocial propriamente dito, e toda a atenção desloca-se para a conduta
típica e para seus efeitos. Nessas hipóteses, a conduta passa a ser
suficiente para a configuração da situação e para produção de efeitos
reconhecidos, a despeito da inexistência de ato negocial válido.
Exemplo
São os contratos socialmente aceitos, as relações contratuais de fato,
os comportamentos concludentes, as representações de fato, entre
outros.
É importante observar que o reconhecimento dessas situações de fato
que obrigam as partes não implica, necessariamente, a ampliação das
fontes das obrigações, mas a relevância jurídica dessas atividades e o
reconhecimento das obrigações dela decorrentes.
Atos unilaterais de vontade
Inexiste uma teoria geral sobre os atos unilaterais de vontade. A própria
conceituação é difícil, pois os ordenamentos jurídicos acabam por
agrupar, sob essa categoria, diversos fatos jurídicos que estejam
excluídos da seara dos contratos e da responsabilidade civil
extracontratual. A rigor, o que se verifica é o agrupamento de diversos
fatos jurídicos com características muito distintas, o que não contribui
para a compreensão e a caracterização de cada um deles.
O CC de 2002, por exemplo, reúne, sob o título “Dos atos unilaterais”, a
promessa de recompensa, que é um negócio jurídico unilateral; a gestão
de negócios, que é um ato jurídico em sentido estrito e que pode ser
configurado como ato ilícito; o pagamento indevido, que é um ato ilícito
para quem o recebeu; e o enriquecimento sem causa, que é um fato
jurídico em sentido estrito, que gera a obrigação de restituição ou de
indenização.
Considerando as espécies agrupadas pelo legislador sob o título atos
unilaterais e as observações já tecidas, devemos distinguir os atos
unilaterais negociais dos atos unilaterais não negociais:
Nuances
Ambos são espécies de atos jurídicos, o que significa dizer que são
derivados de ações humanas voluntárias.
Essa característica inclusive é o que justifica o enquadramento de tais
atos no conjunto de fontes das obrigações, em que pesem algumas
divergências, que serão tratadas mais adiante.
Distinções
A distinção entre eles reside na existência ou não de caráter negocial.
Assim, os atos unilaterais ou negócios unilaterais são providos de
caráter negocial, a exemplo da promessa de recompensa, enquanto
os atos unilaterais são desprovidos de tal caráter negocial.
Promessa de recompensa (arts.
854 a 860 do CC)
A promessa de recompensa é um negócio jurídico unilateral que se
aperfeiçoa no momento em que o declarante se compromete,
publicamente, a recompensar ou a gratificar quem preencher certas
condições ou realizar certo serviço, como se depreende do art. 854 do
CC.
Vejamos como funciona:
Em nosso cotidiano, somos impactados por diversas promessas de
recompensa, como programas de milhagens para aquisição de produtos
e passagens áreas, programas de fidelização em restaurantes,
cafeterias etc., concursos de direito privado em geral.
A configuração da promessa requer o preenchimento de três requisitos
específicos, extraídos do art. 854 do CC, além do requisito geral de
validade dos negócios jurídicos (art. 104 do CC).
Os requisitos específicos são:
A publicidade significa que a promessa tem que ser pública e
direcionada a pessoas indeterminadas, ainda que possa ser
Declaração pública
A obrigação do declarante de cumprir o prometido surge
com a declaração pública, independentemente de aceitação,
pois se trata de declaração não receptícia de vontade e
direcionada a uma coletividade.
Vínculo
Temos, portanto, que o promitente se vincula como devedor
ao público, e não à pessoa ou a pessoas determinadas.
Determinação do credor
Assim, no momento do surgimento da obrigação, o credor é
indeterminado, sendo individualizado apenas na fase
executiva, quando aquele que realizar o serviço ou preencher
a condição estabelecida requerer a recompensa prometida
(art. 855 do CC).
Publicidade da oferta 
dirigida a um grupo determinado, como alunos de determinada
faculdade ou turma, por exemplo.
A especificação da condição a ser preenchida ou do serviço a ser
prestado é essencial, pois sem tal informação não haveria
possibilidade fática da própria promessa. Por fim, a indicação da
recompensa também se mostra imprescindível, pois será a partir
do conhecimento desta que o público em geral vai avaliar o
interesse em tentar preencher a condição ou prestar o serviço.
A promessa de recompensa gera uma obrigação para aquele que
prometeu, e a justificativa para tal é a tutela da legítima
expectativa que tal promessa gera na coletividade. Assim, a
única forma de o promitente se exonerar do prometido será com
a revogação da promessa antes de alguém ter preenchido a
condição ou prestado o serviço, e pela mesma forma adotada
para a promessa, ou seja, a revogabilidade da promessa deve ter
igual publicidade (art. 856 do CC).
A revogabilidade da promessa, nos termos indicados, é possível porque,
em que pese já existir a vinculação do promitente, nascida no momento
em que publicizou a promessa, inexiste individualização do credor e,
consequentemente, ainda não há pretensão, já que ainda não se
conformou a exigibilidade do prometido.
Gestão de negócios (arts. 861 a
875 do CC)
A gestão de negócios é um ato jurídico em sentido estrito, unilateral e
não negocial, caracterizado pela intervenção de uma pessoa (gestor) em
negócio alheio, sem autorização do interessado (dono do negócio), mas
em conformidade com a vontade presumida do dono do negócio.
A gestão de negóciosse dá, usualmente, em virtude da atuação de
amigos e parentes na gestão total ou parcial de negócios de natureza
patrimonial de terceira pessoa, em razão da ausência desta última ou da
dificuldade ou impossibilidade de comunicação.
Especificação da condição 
Indicação da recompensa 
A título de ilustração, suponhamos que, durante um período de viagem
ou mesmo de uma internação hospitalar, verifique-se um vazamento na
casa de determinada pessoa e que, diante de tal situação, mesmo sem
poderes para tal, um vizinho providencie o reparo.
Os traços mais marcantes da gestão de negócios alheios são a
declaração de vontade e a atuação do gestor por sua exclusiva conta,
mas no interesse presumido do dono do negócio. É justamente a falta
de autorização ou de poderes de representação que diferencia a gestão
de negócios, ato unilateral de vontade, do mandato, negócio jurídico
bilateral de natureza contratual.
Inclusive, essa característica conforma a natureza jurídica da gestão,
qual seja, ato jurídico em sentido estrito e não negocial.
Vejamos a seguir como prosseguir em três diferentes cenários referente
à comunicação ao dono do negócio:
Comunicação
A vinculação do gestor deriva da lei, que determina, entre outros
deveres, que o gestor comunique ao dono do negócio a gestão
assumida (art. 864 do CC), permanecendo responsável pela gestão
enquanto o dono do negócio não se pronunciar, devendo atuar com
todo o zelo e diligência na salvaguarda dos interesses do dono do
negócio.
Anuência ou discordância
A comunicação ao dono do negócio se dá após o início da gestão, e,
na hipótese de sua anuência, haverá a ratificação de todos os atos
praticados desde esse momento, ou seja, do início da gestão (art. 873
do CC). Por outro lado, se o dono do negócio discordar da gestão, esta
deverá cessar imediatamente.
Não aparição
Já no interregno entre a comunicação e a resposta, ou seja, durante o
silêncio do dono do negócio, o gestor deverá zelar pelo negócio até
sua conclusão, pois não poderá abandonar o negócio livremente
iniciado.
É importante frisar que o ordenamento jurídico tolera a intromissão no
negócio alheio em razão de ela ser feita no interesse presumido do dono
do negócio. Assim, na eventualidade de ser exercida contra a vontade
presumida dele, a gestão poderá converter-se em ato ilícito, e o gestor
responderá até pelos casos fortuitos (art. 862 do CC), podendo o dono
do negócio exigir indenização pelos prejuízos decorrentes da gestão
(art. 863 do CC).
Por outro lado, se a gestão tiver sido utilmente administrada, o que
pressupõe que tenha sido exercida em seu interesse, o dono do negócio
assumirá as obrigações contraídas em seu nome e reembolsará o
gestor das despesas necessárias e úteis que tiver realizado durante a
gestão (art. 869 do CC).
Por fim, destaca-se que a gestão de negócios alheios pode consumar-se
na prestação de alimentos a quem deixou de receber diretamente do
devedor, por qualquer razão. Nesse caso, no entanto, o gestor poderá
reaver o que pagou, independentemente da ratificação pelo devedor
(dono do negócio), em razão da vedação ao enriquecimento sem causa
(art. 871 do CC).
Enriquecimento sem causa
Neste vídeo, a professora Fernanda Paes Leme discorre sobre o
enriquecimento sem causa e as razões de sua inadmissibilidade, dando
exemplos.
A ideia geral de inadmissibilidade de um acréscimo patrimonial às
custas de outrem e sem um fato jurídico que o justifique é traduzida na
vedação ao enriquecimento sem causa ou ao enriquecimento
justificado, ou, ainda, ao locupletamento ilícito, expressões sinônimas.
A configuração do enriquecimento sem causa depende da relação
material entre dois patrimônios, um enriquecido e outro empobrecido na
mesma proporção e sem causa justificadora. Diz-se sem causa em
razão da ausência de uma causa jurídica que justifique o
enriquecimento, e é justamente a ausência de causa jurídica que torna o
enriquecimento ilícito e faz nascer a obrigação de restituição.
O enriquecimento sem causa é um fato jurídico que se dá na relação
entre patrimônios, podendo ser resultante de atos jurídicos, mas
também de fatos involuntários, e que se projeta no âmbito do Direito de
duas formas:

Como princípio
Sempre foi reconhecido por nosso ordenamento, em que pese
sua previsão só ter sido incluída no CC de 2002. A justificativa
para seu reconhecimento estaria ligada às ideias de equidade e
justiça comutativa, para alguns juristas, e/ou aos preceitos
constitucionais acerca das relações obrigacionais, ou, ainda, ao
princípio da boa-fé objetiva, como defendem outros. Fato é que,
como já referido, a vedação ao enriquecimento sem causa, em
sua faceta principiológica, não é nenhuma novidade em nosso
ordenamento, figurando, não raras vezes, como razão de
decidir em diversas situações. Exemplos recorrentes na
jurisprudência são a adoção do princípio da vedação ao
enriquecimento sem causa como critério para a quantificação
do dano moral e para a redução equitativa da cláusula penal.
Como instituto jurídico
Aqui o enriquecimento sem causa se afigura como fonte da
obrigação de restituir, sendo, nesse sentido, a disciplina
incluída no CC de 2002. Essa faceta não é imune a críticas,
pois se argumenta que o cerne do enriquecimento sem causa
seria justamente a ausência de fonte obrigacional do benefício
auferido às custas do patrimônio de outrem. No entanto, essa
crítica não afasta a eficácia do instituto, o qual foi consagrado
no CC de 2002 como fonte de uma obrigação de restituição,
como se depreende do caput do art. 884: “Aquele que, sem
justa causa, se enriquecer à custa de outrem, será obrigado a
restituir o indevidamente auferido, feita a atualização dos
valores monetários.” Do art. 884, extraímos os requisitos para
configuração do enriquecimento sem causa, quais sejam: (i) o
enriquecimento de um (ii) às custas de outrem e a (iii) ausência
de causa jurídica.
Comentário
Em ambas as hipóteses, o enriquecimento sem causa perfaz um
instrumento de proteção do patrimônio.
O enriquecimento é elemento essencial para a configuração do instituto
e deve representar uma vantagem patrimonial, a qual pode derivar de
um aumento do ativo, mas também da diminuição do passivo e/ou do
não desembolso de uma despesa devida. Em síntese, o enriquecimento
patrimonial está ligado ao sujeito enriquecido e é calculado pela
diferença entre a situação do patrimônio antes e depois do fato que
gerou o enriquecimento.
Esse enriquecimento tem que se dar às custas de outrem, pois o
enriquecido está auferindo um proveito ou uma vantagem que caberia a
outra pessoa.
É importante frisar que não se trata, necessariamente,
do empobrecimento de alguém, pois não é essencial a
diminuição patrimonial do terceiro, mas apenas que o
enriquecido tenha vantagem sem causa jurídica às
custas de outra pessoa.
A título de ilustração, suponhamos a utilização não autorizada da
imagem de alguém com finalidade comercial. O titular da imagem não
teve diminuição em seu patrimônio, mas aquele que se utilizou
indevidamente da imagem obteve vantagem.
Por fim, o enriquecimento tem que ser dissociado de causa jurídica que
o justifique, residindo nesse ponto inclusive a justificativa para o
surgimento da obrigação de restituição. Frise-se que, nos termos do art.
885, a restituição será devida “não só quando não tenha havido causa
que justifique o enriquecimento, mas também se esta deixou de existir”.
Utilizando-se do mesmo exemplo anterior, podemos supor que existisse
um contrato de cessão de imagem, mas que após sua extinção, por
termo ou por distrato, por exemplo, a imagem continuou a ser utilizada.
Destaca-se que o enriquecimento sem causa foi disciplinado de forma
geral, podendo restar configurado em diversas situações, desde que
preenchidos seus requisitos.
Exemplo
Podemos citar transferências patrimoniais indevidas, como a hipótese
do pagamento indevido; exploração e/ou utilização de direitos ou bens
alheios etc.Como já referido, uma vez configurado o enriquecimento sem causa,
surge a obrigação de restituição, que poderá ser exigida no curso de
qualquer ação específica ou, subsidiariamente, em ação específica (art.
886 do CC). No caso de ações que objetivem cessar o enriquecimento
sem causa, é necessário demonstrar não apenas o enriquecimento de
quem está lucrando, mas que tal enriquecimento se deu às custas de
outrem, o nexo de causalidade entre as duas circunstâncias, a ausência
de causa jurídica, seja de contrato, seja de lei, além da inexistência de
ação específica para tanto.
Pagamento indevido (arts. 876 a
883 do CC)
O pagamento indevido constitui caso específico de aplicação do
princípio da vedação ao enriquecimento sem causa, originando o dever
de restituição daquilo que se recebeu a título de pagamento de dívida
inexistente, ou que deixou de existir, ou que existia, mas da qual quem
recebeu não era credor, ou ainda de dívida existente, porém pendente de
condição suspensiva.
Trata-se de ato jurídico unilateral e não negocial, em virtude do qual há a
obrigação de restituir o que houver recebido indevidamente. Percebe-se,
portanto, que, ao contrário do pagamento devido, o indevido não
extingue uma obrigação, mas, sim, faz surgir a obrigação de restituição.
É simples:
Analisando pela ótica de quem pagou, estamos diante de um erro
(art. 877 do CC).
Já pelo lado de quem recebeu, estamos diante de uma vantagem
indevida, resultando o dever de restituição.
A restituição pelo que se pagou indevidamente poderá ser requerida em
ação própria, que é a ação de repetição de indébito (art. 881 do CC), na
qual aquele que pagou indevidamente terá o ônus de demonstrar que o
pagamento foi realizado de forma voluntária e mediante erro.
É importante destacar que, sendo uma
especi�cação da vedação ao enriquecimento
sem causa, o objetivo também é o de
proteção do patrimônio.
Assim, se a dívida existia, não caberá dever de restituição, como na
hipótese de pagamento de dívida prescrita ou inexigível (art. 882 do CC).
Igualmente, não caberá repetição se a dívida existente foi paga por
quem não era o devedor. Nesse caso, o credor recebeu de boa-fé, e
quem pagou dívida que não era sua só poderá, se assim pretender,
propor ação regressiva contra o verdadeiro devedor e seu fiador.
Por fim, ressalta-se que, nas relações de consumo, em razão da
vulnerabilidade do consumidor, se o fornecedor cobrar indevidamente e
o consumidor pagar, fará jus à restituição em dobro daquilo que foi
indevidamente pago.
Vem que eu te explico!
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo
que você acabou de estudar.
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Promessa de recompensa
2:26 min.
Gestão de negócios
3:30 min.
MÓDULO 3
Vem que eu te explico!
Promessa de recompensa
2:26 min.
Gestão de negócios
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Acerca do enriquecimento sem causa, no âmbito do direito das
obrigações, está correto afirmar que:
A
A noção de enriquecimento sem causa pressupõe,
necessariamente, a relação entre uma parte detentora
de maior poder aquisitivo em detrimento de outra
parte considerada vulnerável, com poucos recursos
financeiros.
B
Existem algumas hipóteses em que se deflagra o
enriquecimento sem causa, mesmo diante de causas
que justifiquem seu enriquecimento.



C
O enriquecimento sem causa se dá, exclusivamente,
por atos considerados voluntários, eis que exigível o
elemento da vontade de se enriquecer em detrimento
de outrem.
D
Em sua faceta principiológica, o enriquecimento sem
causa pressupõe o respeito aos preceitos de equidade
e de justiça comutativa.
E
No âmbito jurisprudencial, reconhece-se na
impossibilidade de utilização do princípio do
enriquecimento sem causa como critério para a
quantificação do dano moral e para a redução
equitativa da cláusula penal.
Parabéns! A alternativa D está correta.
Como visto, o enriquecimento sem causa, como princípio, vincula-se às ideias de equidade e justiça comutativa,
para alguns juristas, e/ou aos preceitos constitucionais acerca das relações obrigacionais, ou, ainda, ao
princípio da boa-fé objetiva, como defendem outros.
Questão 2
Sobre os fatos sociais, a afirmativa correta é:
A
São atos vedados desconsiderados no âmbito da civil
law, eis que a lei visa a regular todo e qualquer fato
apto a se deflagrar na ordem jurídica.
B
Os fatos sociais são acontecimentos naturais ou
dependentes da ação humana e que constituem a
base para a concretização do direito.
C
Os fatos jurídicos derivam justamente da previsão
legal de quais fatos sociais são legítimos de ser
praticados.
Considerações �nais
Como visto nos módulos anteriores, as obrigações remontam ao
Império Romano, passando pela história moderna e trazendo elementos
relevantes à ordem jurídica contemporânea. Nesse sentido, elementos
inerentes à autonomia privada passam por sucessivas transformações,
de modo a basilar o que se conhece como as atuais obrigações
complexas, dinâmicas e pautadas por valores e princípios solidários,
éticos e socialmente relevantes.
Com relação às fontes e às causas das obrigações, identificaram-se
noções relevantes à formalização das obrigações, por meio de
elementos como fatos jurídicos, leis, atos unilaterais e atos ilícitos,
demonstrando que as obrigações podem deflagrar-se de forma
efetivamente dinâmica e, por vezes, inesperada.
Espera-se que, com o conteúdo apresentado, o aluno possa identificar,
de forma mais clara e compreensível, de que modo as relações
obrigacionais podem ser formalizadas, especialmente por se tratar de
estudo caro às relações patrimoniais e privadas, responsável, em parte,
pela unificação do direito privado em nosso ordenamento jurídico.
D
Entre as espécies de fatos jurídicos, o ato jurídico, o
negócio jurídico e o ato ilícito são fontes dependentes
das obrigações.
E
Os contratos, como instrumento de criação de
obrigações, somente podem ser formalizados nos
exatos termos em que a lei definir.
Parabéns! A alternativa B está correta.
Os fatos sociais são originados da ação humana, considerando que, como visto, ao se promulgar uma lei, tem-
se a criação de um direito objetivo e abstrato, o qual será concretizado por meio de determinado acontecimento
que vá de encontro àquela previsão.

Podcast
A professora Fernanda Paes fará agora uma breve revisão dos pontos
mais relevantes estudados até aqui.

Referências
GOMES, O. Obrigações. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2019.
GONÇALVES, C. R. Direito Civil brasileiro: teoria geral das obrigações.
São Paulo: Saraiva, 2019. v. 2.
MIRAGEM, B. Direito Civil: direito das obrigações. Rio de Janeiro: Grupo
GEN, 2021.
MONTEIRO, W. de B. Curso de Direito Civil. São Paulo: Saraiva, 1982. v.
3.
NORONHA, F. Direito das obrigações. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
POTHIER, R. J. Tratado das obrigações. Campinas: Servanda, 2002.
RIZZARDO, A. Direitos das obrigações. 9. ed. Rio de Janeiro: Grupo GEN,
2018.
STOLZE, P.; FILHO, R. P. Novo curso de Direito Civil 2: obrigações. São
Paulo: Saraiva, 2019.
TARTUCE, F. Direito Civil: direito das obrigações e responsabilidade civil.
Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2021. v. 2.
TEPEDINO, G. Fundamentos do Direito Civil: obrigações. Rio de Janeiro:
Grupo GEN, 2020. v. 2.
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Para saber mais sobre os assuntos estudados, consulte os seguintes
materiais:
AGUIAR JR., R. R. As obrigações e os contratos. Brasília, DF, Revista CEJ,
v. 3, n. 9, set./dez. 1999.
KONDER, C. N.; RENTERÍA, P. A funcionalização das relações
obrigacionais: interesse do credor e patrimonialidade da prestação.
Civilistica.com, Rio de Janeiro, ano 1, n. 2, jul./dez. 2012.
PEREIRA, C. M. da S. Instituições de Direito Civil. 25. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2013. v. II.
SILVA, C. V. do C. e. A obrigação como processo. Rio de Janeiro: Editora
FGV, 2006.
TEPEDINO, G.; BARBOZA, H. H.; MORAES, M. C. B. de. Código Civil
interpretado conforme a Constituiçãoda República: parte geral e
obrigações (arts. 1º a 420). Rio de Janeiro: Renovar, 2007. v. I.
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