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Direitos Humanos Professora Me. Jaqueline da Silva Paulichi EduFatecie E D I T O R A Reitor Prof. Ms. Gilmar de Oliveira Diretor de Ensino Prof. Ms. Daniel de Lima Diretor Financeiro Prof. Eduardo Luiz Campano Santini Diretor Administrativo Prof. Ms. Renato Valença Correia Secretário Acadêmico Tiago Pereira da Silva Coord. de Ensino, Pesquisa e Extensão - CONPEX Prof. Dr. Hudson Sérgio de Souza Coordenação Adjunta de Ensino Prof.ª Dra. Nelma Sgarbosa Roman de Araújo Coordenação Adjunta de Pesquisa Prof. Dr. Flávio Ricardo Guilherme Coordenação Adjunta de Extensão Prof. Esp. Heider Jeferson Gonçalves Coordenador NEAD - Núcleo de Educação a Distância Prof. Me. Jorge Luiz Garcia Van Dal Web Designer Thiago Azenha Revisão Textual Kauê Berto Projeto Gráfico, Design e Diagramação André Dudatt UNIFATECIE Unidade 1 Rua Getúlio Vargas, 333, Centro, Paranavaí-PR (44) 3045 9898 UNIFATECIE Unidade 2 Rua Candido Berthier Fortes, 2177, Centro Paranavaí-PR (44) 3045 9898 UNIFATECIE Unidade 3 Rua Pernambuco, 1.169, Centro, Paranavaí-PR (44) 3045 9898 UNIFATECIE Unidade 4 BR-376 , km 102, Saída para Nova Londrina Paranavaí-PR (44) 3045 9898 www.unifatecie.edu.br/site/ As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir do site ShutterStock https://orcid.org/0000-0001-5409-4194 2021 by Editora EduFatecie Copyright do Texto © 2021 Os autores Copyright © Edição 2021 Editora EduFatecie O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correção e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva dos autores e não representam necessariamente a posição oficial da Editora EduFatecie. Permitido o download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais. EQUIPE EXECUTIVA Editora-Chefe Prof.ª Dra. Denise Kloeckner Sbardeloto Editor-Adjunto Prof. Dr. Flávio Ricardo Guilherme Assessoria Jurídica Prof.ª Dra. Letícia Baptista Rosa Ficha Catalográfica Tatiane Viturino de Oliveira Zineide Pereira dos Santos Revisão Ortográ- fica e Gramatical Prof.ª Esp. Bruna Tavares Fernades Secretária Geovana Agostinho Daminelli Setor Técnico Fernando dos Santos Barbosa Projeto Gráfico, Design e Diagramação André Dudatt www.unifatecie.edu.br/ editora-edufatecie edufatecie@fatecie.edu.br Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP P327d Paulichi, Jaqueline da Silva Direitos humanos / Jaqueline da Silva Paulichi Paranavaí: EduFatecie, 2021. 69 p. : il. Color. ISBN 978-65-87911-40-3 1. Direitos humanos. 2. Direitos fundamentais. I. Faculdade de Tecnologia e Ciências do Norte do Paraná - UniFatecie. II. Núcleo de Educação a Distância. III. Título. CDD : 23 ed. 341.27 Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577 https://doi.org/10.33872/edufatecie.formsociocultural.2019 AUTORA Professora Mestra Jaqueline da Silva Paulichi ● Doutoranda em Ciências Jurídicas - Direitos da Personalidade pela Unicesumar- Maringá. ● Mestra em Ciências Jurídicas - Direitos da Personalidade pela Unicesumar - Maringá. ● Bacharela em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de Maringá-PR ● Especialista em Direito Civil e Processual Civil Pela Unicesumar - Maringá. ● Especialista em Direito Aplicado pela Escola da Magistratura do Paraná. ● Especialista em Direito Tributário e Direito Público pela Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal, UNIDERP ● Especialista em docência do Ensino Superior e Metodologias Ativas pela Unicesumar - Maringá. ● Pós Graduanda em Direito Digital. ● Professora de Direito. ● Advogada. Ampla experiência como professora no curso de direito e de cursos a distância. Advogada desde 2011, atuando principalmente na área do direito privado. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/8829469320241839 APRESENTAÇÃO DO MATERIAL Olá, caro(a) aluno(a), tudo bem? Vamos estudar sobre direitos humanos neste módulo, matéria que é de extrema relevância para o contexto social em que vivemos. Você já percebeu a quantidade de matérias jornalísticas relacionadas aos direitos humanos ultimamente? Por esse motivo a disciplina aqui em comento é tão necessária e tão importante no nosso dia a dia. Os direitos humanos são os direitos daquelas pessoas que se encontram em situações de vulnerabilidade, pessoas que foram ou ainda são tratadas de forma indig- na, protegendo seus direitos como cidadãos. Na Unidade I vamos estudar sobre a Gênese histórica dos direitos humanos, de- monstrando uma breve evolução histórica da disciplina e o seu Conceito no pensamento jusnaturalista moderno. Por fim, vamos aprender sobre a positivação dos direitos humanos no constitucionalismo moderno. Na Unidade II iremos abordar acerca dos direitos humanos no direito internacional contemporâneo, sua fundamentação e a crítica doutrinária que se faz acerca do conceito do que são os direitos humanos. Nenhum conceito doutrinário será o suficiente para abranger toda a complexidade de direitos que compreende essa disciplina, que é tão discriminada nos bancos acadêmicos. Na Unidade III iremos abordar a sua Polissemia conceitual, a ideia de gerações e suas críticas e os principais documentos. Também iremos discutir acerca das características (ou princípios) da universalidade em contraponto à relatividade. Por fim, na Unidade IV vamos analisar a proteção constitucional aos Direitos Huma- nos, bem como a sua Proteção internacional e os Direitos Fundamentais. Aproveito para reforçar o convite a você, para junto conosco percorrer essa jornada de conhecimento e multiplicar os conhecimentos sobre tantos assuntos abordados em nosso material. Esperamos contribuir para seu crescimento pessoal e profissional. Muito obrigado e bom estudo! SUMÁRIO UNIDADE I ...................................................................................................... 3 Introdução aos Direitos Humanos UNIDADE II ................................................................................................... 18 Fundamentos e Conceitos de Direitos Humanos UNIDADE III .................................................................................................. 32 Evolução dos Direitos Humanos UNIDADE IV .................................................................................................. 47 Direitos Humanos e Direitos Fundamentais 3 Plano de Estudo: ● Conceitos e Definições sobre Direitos Humanos, evolução histórica e filosófica, além da análise dos direitos humanos para o jusnaturalismo e o reconhecimento de documentos internacionais na ordem interna constitucional, e a positivação dos direitos humanos no Constitucionalismo Moderno. Objetivos da Aprendizagem: ● Conceituar e contextualizar a disciplina de Direitos Humanos; ● Discutir sobre os diferentes conceitos da disciplina; ● Analisar o objeto de estudo da disciplina, bem como sua evolução histórica e filosófica; ● Compreender as teorias que tratam sobre o jusnaturalismo e positivismo; ● Estudar a positivação dos direitos humanos no Constitucionalismo moderno. UNIDADE I Introdução aos Direitos Humanos Professora Me. Jaqueline da Silva Paulichi 4UNIDADE I Introdução aos Direitos Humanos INTRODUÇÃO Olá, estudante, tudo bem? Nesta unidade iremos estudar sobre os conceitos iniciais de direitos humanos, bem como a sua importância como disciplina autônoma para o direito. Iremos abordar também os diferentes conceitos da disciplina e entender o porquê essa matéria é considerada tão complexa pelos estudantes de direito. Vamos analisar a evolução histórica dos direitos humanos, o reconhecimento de documentos internacionais pela ordem jurídica interna, e também vamos ler e analisar os documentos internacionais que tratam sobre direitos humanos. Posteriormente, vamos estudar sobre o jusnaturalismo e sua importância para a disciplina, realizando breve comparaçãocom o positivismo. Por fim, iremos estudar sobre os direitos humanos na ordem constitucional moder- na, em que há o reconhecimento de documentos internacionais que tratam sobre direitos humanos na ordem jurídica interna, por meio do reconhecimento e positivação nas Consti- tuições. Veja os materiais complementares e as leituras recomendadas!!! Bom estudo! 5UNIDADE I Introdução aos Direitos Humanos 1. GÊNESE HISTÓRICA DOS DIREITOS HUMANOS 1.1 Introdução Direitos humanos é uma disciplina ligada ao direito internacional público, em que se estudam os direitos dos cidadãos previstos na ordem internacional. Dessa forma, a disciplina possui extrema relevância para a compreensão dos direitos que os cidadãos possuem no ordenamento jurídico brasileiro e na ordem internacional. Os direitos humanos compreendem um conjunto de normas de ordem internacional, que confere direitos e deveres às pessoas, reconhecendo a sua vulnerabilidade, dignidade e necessidade de proteção das minorias e grupos vulneráveis. Esta disciplina abrange muito mais que direitos das pessoas presas ou de pessoas que se encontram em situação de necessidade, eis que os direitos básicos previstos na Constituição Federal de 1988 decorrem de documentos internacionais que reconheceram, por exemplo, a necessidade de proteção ao consumidor, às crianças, às pessoas com deficiência, o direito ao voto, direito de propriedade, dentre outros. Esses direitos compreendem os direitos civis e políticos, os direitos difusos e co- letivos e direitos econômicos, sociais e culturais. Incluem os direitos à vida, à integridade física, à liberdade de ir e vir, liberdade de manifestação, opinião, voto, religiosa, associação, dentre outras, bem como o direito de propriedade, direito de ação, direito ao nome, ao desenvolvimento sustentável, dentre outros. 6UNIDADE I Introdução aos Direitos Humanos 1.2 Evolução dos Direitos Humanos Considerando que a pessoa humana é igual em todos os locais, independentemen- te de suas diversidades culturais, religiosas, geográficas etc., o tratamento dispensado às pessoas também deve ser igual. Dessa forma, o jusnaturalismo ressalta a pessoa humana como o fundamento absoluto, atemporal e global dos direitos humanos. O jusnaturalismo é amparado por diversos doutrinadores, como Dalmo de Abreu Dalari e Fábio Konder Com- parato. O jusnaturalismo, ou direito natural, é a teoria que fundamenta o direito no bom senso, racionalidade, equidade e pragmatismo. A partir do jusnaturalismo que se pode com- preender outras vertentes filosóficas do direito e, a partir dele, surgiram as outras correntes sobre o direito em si. De acordo com a doutrina do contratualismo, que remonta à filosofia grega, a socie- dade humana e o Estado originaram por um acordo ou contrato estabelecido entre cidadãos autônomos, valorizando, desta maneira, a liberdade individual. Pelo positivismo, todo o direito passa a ser positivo e o direito natural deixa de ser direito. Como diz Bobbio: “o direito positivo é direito, o direito natural não é direito”. Podemos destacar que a noção de direitos humanos foi cunhada ao longo dos últi- mos três milênios da civilização. Grande parte da doutrina afirma que os direitos humanos foram cunhados ao longo dos últimos três milênios da civilização. Dessa forma, o período de formação do eixo filosófico ou período axial dos direitos humanos abrange os anos de 800 antes de Cristo a 200 antes de Cristo, que marca parte da história em que a China ocidente e a Índia passaram a defender princípios filosóficos semelhantes. Também nesse período nasce a filosofia e a ideia de igualdade entre as pessoas. Bezerra Leite (2014, p. 2) explica em detalhes sobre o período citado: É possível adotar diversos critérios para estudar a História dos Direitos Hu- manos, como o mitológico, o religioso, o político, o filosófico, o sociológico e o jurídico. Nesta obra discorreremos sobre a origem dos Direitos Humanos com ênfase para a perspectiva jurídica. Do ponto de vista jurídico-normativo, va- mos encontrar as primeiras leis que, não obstante os rigorismos das sanções que previam em caso de sua inobservância, buscam enaltecer a necessidade da convivência harmônica entre as pessoas. Cronologicamente, podemos ci- tar as primeiras leis que, de certo modo, acabaram influenciando a formação histórica dos Direitos Humanos. Ei-las: • 1694 a. C. – Código de Hamurabi (Mesopotâmia) • 3000-1000 a. C. – Civilização Egeia • 1300-450 a. C. – Lei Mosáica (Pentateuco) • 1300-800 a. C. – Código de Manu (Hinduísmo) • 1000 a. C. – Leis Zoroastrianas • Séculos XV-XIV a. C. – surgem as Legis- lações Budista e Confuciana • 450 a. C. – Lei das XII Tábuas (Roma) • Séculos I a XV – Legislação Cristã • Século VII – Legislação Islâmica Entre os séculos VIII e II a. C., 7UNIDADE I Introdução aos Direitos Humanos Isto é, entre 600 e 480 a. C., coexistiram, embora desconhecendo-se uns aos outros, Zaratrusta (Pérsia), Buda (Índia), Lao-Tsê e Confúcio (China), Pitágoras (Grécia) e Isaías (Israel). É exatamente nesse período, chamado de axial, que surgem as primeiras formulações teóricas que abandonam as explicações mitológicas e propõem a elaboração dos grandes princípios e diretrizes fundamentais da vida humana, até hoje em vigor. O Cristianismo também contribuiu para a evolução dos direitos humanos, estabe- lecendo que os homens são iguais perante Deus. A partir do século XIV, com as transfor- mações decorrentes do iluminismo, houve alteração das estruturas da organização social e política da época. Destaca-se que o iluminismo1 ocorreu entre a Revolução Inglesa de 1688 e a Revolução Francesa de 1789. A Revolução Francesa trouxe os ideais que representariam os direitos humanos, como a liberdade, a igualdade e a fraternidade. Com o término da Segunda Guerra Mundial, as pessoas se conscientizaram acerca do tratamento digno ao ser humano. Consequentemente, houve a criação da Organiza- ção das Nações Unidas e na declaração de inúmeros Tratados Internacionais de Direitos Humanos, como “A Declaração Universal dos Direitos do Homem”, como ideal comum de todos os povos. 1 O iluminismo foi um movimento intelectual que começou na Europa a partir do século XVII e ganhou for- ça no século XVIII. A França é considerada o país que liderou intelectualmente o iluminismo europeu. Tinha como principais características a valorização da razão, considerada o mais importante instrumento para se conseguir qualquer tipo de conhecimento. Para os filósofos, o pensamento era a única luz capaz de iluminar as “trevas” (antigo regime). Os pensadores de grande reconhecimento dessa época foram René Descarts, Montesquieu, Voltaire, Jacques Rousseau, Denis Diderot, Adam Smith, etc. Foi um momento de contestar os ideais religiosos que eram predominantes na época, além da economia e política, provocando mudanças sociais e culturais. Chamado de “século das luzes”, o iluminismo trouxe ideias voltadas à razão para des- legitimar o modelo de estado predominante na época. Seu ideal era defender a liberdade, progresso, tole- rância, fraternidade, governo constitucional e afastamento entre igreja e estado. Junto com o iluminismo, a Revolução Industrial abriu caminhos para a grande mudança política determinada pela Revolução Francesa. O matemático francês René Descartes (1596-1650), considerado o pai do racionalismo, foi um dos precur- sores desse movimento. Em sua obra “Discurso do método”, que repercutiu na época, Descartes convida as pessoas a questionarem tudo o quanto for possível para se chegar à verdade. Para ele, somente através da dúvida é possível compreender o mundo. No final do século XVII e na primeira metade do século XVIII, a influência dominante sobre a ideologia do iluminismo veio das percepções mecanicistas (doutrina segundo a qual os seres vivos são analisados ou entendidos a partir de uma sucessão de causas). Neste âmbito, o filósofo da natureza mais influente foi o físicoinglês Isaac Newton. Contudo, na metade do século XVIII os iluministas iam se afastando pouco a pouco das ideias mecanicistas e começaram a se aproximar das teorias vitalistas. As teorias sociais e filosóficas desenvolvidas na segunda metade do século XVIII, por autores que contribuíram com o iluminismo como Denis Diderot e Johann Gottfried von Herder, entre muitos outros, tive- ram grande influência das obras de naturalistas Johann Friedrich Blumenbach (classificou o ser humano em raças). Algumas literaturas colocam o Iluminismo como uma escola filosófica, mas não existia somente um movimento. Pensadores e cientistas de áreas distintas colaboraram para as mudanças de pensamento es- tabelecidos pela época. Foi um momento de mentes brilhantes pesquisarem, escreverem e divulgarem suas descobertas e teorias. O iluminismo desempenhou grande influência sobre o aspecto político e intelectual de boa parte dos países ocidentais. Algumas mudanças políticas importantes aconteceram, bem como a implan- tação e formação de estados-nação, a ampliação de direitos civis, além da diminuição do poder da igreja. As ideias dos iluministas espalharam-se com rapidez pela sociedade. Até os reis absolutistas, na época, receo- sos de perderem seu posto, passaram a adotar algumas ideias do iluminismo. Esses reis eram chamados de Déspotas Esclarecidos, pois tentavam conciliar a maneira absolutista de governar com as ideias de avanço iluministas (MENDES, 2018). 1.3 Documentos Históricos O primeiro documento a tratar dos direitos humanos foi a Magna Carta, que subme- teu o governante a um corpo escrito de normas, ressaltando a inexistência de arbitrarieda- des na cobrança de impostos. A cobrança de uma multa ou ainda a prisão de uma pessoa necessitava de um julgamento justo. A Petition of Rights tenta incorporar os direitos previstos na Magna Carta, através da obrigatoriedade de consentimento do parlamento para a realização de inúmeros atos. O Habeas Corpus Act instituiu o direito à liberdade de locomoção a todos os indi- víduos. A Bill of Rights assegurou a supremacia do Parlamento sobre a vontade do Rei. A Declaração de Direitos do estado da Virgínia prevê que todos os homens são por natureza igualmente livres e independentes e têm certos direitos inatos de que, quando entram no estado de sociedade, não podem, por nenhuma forma, privar ou despojar de sua posteridade, nomea- damente o gozo da vida e da liberdade, com os meios de adquirir e possuir propriedade e procurar e obter felicidade e segurança. 2 A Declaração de Independência dos Estados Unidos da América (1776) e a Cons- tituição Federal EUA, de 1787, solidificam barreiras contra o Estado, como tripartição do poder e assegura alguns direitos fundamentais, como a igualdade entre os homens, a vida, a liberdade, a propriedade. As Emendas Constitucionais americanas permanecem em vigor até hoje, demons- trando o caráter atemporal desses direitos fundamentais. 1.4 As 11 emendas da Constituição dos EUA, promulgadas em 17983 Artigo 1º - O Congresso não fará lei relativa ao estabelecimento de religião ou proibindo o livre exercício desta, ou restringindo a liberdade de palavra ou de imprensa, ou o direito do povo de reunir-se pacificamente e dirigir petições ao governo para a reparação de seus agravos. Artigo 2º - Sendo necessária à segurança de um Estado livre a existência de uma milícia bem organizada, não se impedirá o direito do povo de possuir e portar armas. Artigo 3º - Nenhum soldado será, em tempo de paz, alojado em qualquer casa sem o consentimento do proprietário, nem em tempo de guerra, salvo pela forma prescrita em lei. Artigo 4º - Não será infringido o direito do povo à inviolabilidade de sua pessoa, ca- sas, papéis e haveres, contra buscas e apreensões irrazoáveis e não se expedirá mandado 2 DIREITO INTERNACIONAL, Legislação. Declaração de Direitos do Bom Povo da Virgínia, 12 de junho de 1776. Disponível em: <http://www.dhnet.org.br/direitos/anthist/decl776.htm>. Acesso em: 08.12.2020 3 Constituição dos Estados Unidos da América. http://www.dhnet.org.br/direitos/anthist/decl776.htm 9UNIDADE I Introdução aos Direitos Humanos a não ser mediante indícios de culpabilidade, confirmados por juramento ou declaração, e nele se descreverão particularmente o lugar da busca e as pessoas ou coisas que tiverem de ser apreendidas. Artigo 5º - Nenhuma pessoa será obrigada a responder por um crime capital ou infamante, salvo por denúncia ou pronúncia de um grande júri, exceto em se tratando de casos que, em tempo de guerra ou de perigo público, ocorram nas forças terrestres ou navais, ou na milícia, quando em serviço ativo; nenhuma pessoa será, pelo mesmo crime, submetida duas vezes a julgamento que possa causar-lhe a perda da vida ou de algum membro; nem será obrigada a depor contra si própria em processo criminal ou ser privada da vida, liberdade ou propriedade sem processo legal regular (“due process of law”); a propriedade privada não será desapropriada para uso público sem justa indenização. Artigo 6º - Em todos os processos criminais o acusado terá direito a julgamento rápido e público, por júri imparcial no Estado e distrito onde o crime houver sido cometido, distrito esse que será previamente delimitado por lei; a ser informado da natureza e causa da acusação; a ser acareado com as testemunhas que lhe são adversas; a dispor de meios compulsórios para forçar o comparecimento de testemunhas da defesa e a ser assistido por advogado. Artigo 7º - Nos processos segundo a “common law”, em que o valor da causa exceder US$ 20, será garantido o direito a julgamento pelo júri e os fatos julgados por este não serão reexaminados em nenhum tribunal dos Estados Unidos, a não ser de acordo com as regras da “common law”. Artigo 8º - Não se exigirão fianças exageradas, não se imporão multas excessivas, nem se infligirão penas cruéis e desusadas. Artigo 9º - A enumeração de certos direitos na Constituição não será interpretada de modo que se neguem ou restrinjam outros retidos pelo povo. Artigo 10º - Os poderes não delegados aos Estados Unidos pela Constituição, nem proibidos pela mesma aos Estados, são reservados aos Estados, respectivamente, ou ao povo. Artigo 11º - O poder judiciário dos Estados Unidos não se entenderá como extensivo a qualquer ação segundo a lei ou a equidade iniciada ou processada contra um dos Estados por cidadãos de outro Estado, ou por cidadãos ou súditos de qualquer estado estrangeiro. Emendas em vigor desde 8 de janeiro de 1798. Após a Revolução Francesa, de 1789, foi aprovada a “Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão”, que garante os direitos referentes à liberdade, propriedade, 10UNIDADE I Introdução aos Direitos Humanos segurança e resistência à opressão. Destaca o princípio da legalidade e da igualdade de todos perante a lei e da soberania popular. No século XX ocorreu a regulação dos direitos econômicos e sociais que passaram a incorporar as Constituições Nacionais. A primeira Carta Magna, a prever esses direitos econômicos, foi a Constituição Mexicana, de 1917. 11UNIDADE I Introdução aos Direitos Humanos 2. CONCEITO DE DIREITOS HUMANOS NO PENSAMENTO JUSNATURALISTA MODERNO O jusnaturalismo é a teoria que defende a existência de direitos inatos ao ser humano, independente de positivação pelos legisladores. Esse direito natural, por existir in- dependente da lei, é maior que o direito positivo, e, assim, em eventual conflito de normas, o jusnaturalismo deverá prevalecer. O jusnaturalismo afigura-se como uma corrente jurisfilosófica de fundamenta- ção do direito justo que remonta às representações primitivas da ordem legal de origem divina, passando pelos sofistas, estoicos, padres da igreja, esco- lásticos, racionalistas dos séculos XVII e XVIII, até a filosofia do direito natu- ral do século XX.Com base no magistério de Norberto Bobbio (1999, p. 22), podem ser vislumbradasduas teses básicas do movimento jusnaturalista. A primeira tese é a pressuposição de duas instâncias jurídicas: o direito positivo e o direito natural. O direito positivo corresponderia ao fenômeno jurídico con- creto, apreendido pelos órgãos sensoriais, sendo, desse modo, o fenômeno jurídico empiricamente verificável, tal como ele se expressa por meio das fontes de direito, especialmente aquelas de origem estatal. Por sua vez, o direito natural corresponderia a uma exigência perene, eterna ou imutável de um direito justo, representada por um valor transcendental ou metafísico de justiça. A segunda tese do jusnaturalismo é a superioridade do direito natural em face do direito positivo. Nesse sentido, o direito positivo deveria, conforme a doutrina jusnaturalista, adequar--se aos parâmetros imutáveis e eternos de justiça. O direito natural enquanto representativo da justiça serviria como referencial valorativo (o direito positivo deve ser justo) e ontológico (o direito positivo injusto deixar de apresentar juridicidade), sob pena de a ordem jurídi- ca identificar-se com a força ou o mero arbítrio. O direito vale caso seja justo e, pois, legítimo, daí resultando a subordinação da validade à legitimidade da ordem jurídica (SOARES, 2019, p. 141). 12UNIDADE I Introdução aos Direitos Humanos Assim, para o jusnaturalismo, os direitos humanos são direitos naturais do indivíduo, originários e inalienáveis, que existem independente do Estado. Cabe ao Legislador apenas o reconhecimento dos direitos humanos, eis que esses direitos existem independente do Estado. Nota-se que os direitos humanos na linha jusnaturalista seria o direito à vida, inte- gridade física, liberdades (e suas diversas vertentes), dentre outros direitos fundamentais do cidadão. Para os jusnaturalistas, existe a ideia de anterioridade dos direitos humanos em relação ao Estado. Alguns autores renomados procuram definir os direitos humanos para a corrente jusnaturalista, no qual colaciona-se a seguir (LEITE, 2014, p. 37): ● Pérez Luno define: “conjunto de faculdades e instituições que, em cada momento histórico, concretizam as exigências da dignidade, da liberdade e da igualdade humanas, as quais devem ser reconhecidas positivamente pelos ordenamentos jurídicos em nível nacional e internacional”. ● Maurice Cranston: “uma expressão do século XX tradicionalmente conhecida como direitos naturais, ou, simplesmente, direitos do homem”. ● Alexandre de Moraes: “sustenta que os direitos humanos fundamentais cons- tituem um conjunto institucionalizado de direitos e garantias do ser humano que tem por finalidade básica o respeito à sua dignidade, por meio de sua proteção contra o arbítrio do poder estatal e o estabelecimento de condições mínimas de vida e desenvolvimento da personalidade humana”. ● José Afonso da Silva: “reconhece a dificuldade de se conceituar direitos hu- manos, mas prefere a expressão direitos fundamentais do homem, porque além de referir-se a princípios que resumem a concepção do mundo e informam a ideologia política de cada ordenamento jurídico, é reservada para designar, no nível do direito positivo, aquelas prerrogativas e instituições que ele concretiza em garantias de uma convivência digna, livre e igual de todas as pessoas”. 13UNIDADE I Introdução aos Direitos Humanos 3. POSITIVAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO CONSTITUCIONALISMO MODERNO A era contemporânea dos direitos humanos pode ser destacada a partir da Revo- lução Francesa e, consequentemente, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789. A partir dessa declaração, inúmeras mudanças de impacto surgiram, como: a incorporação das previsões da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão nas Constituições; as decisões que se referem à Declaração como fonte de direito, reconhe- cendo a sua importância e legitimidade; e, por fim, a previsão nas Constituições acerca da Declaração. Esse reconhecimento da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789 pelas Constituições Nacionais demonstra a legitimidade e importância das Declarações que tratam sobre direitos humanos. Segue a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789: Os representantes do povo francês, reunidos em Assembléia Nacional, tendo em vista que a ignorância, o esquecimento ou o desprezo dos direitos do ho- mem são as únicas causas dos males públicos e da corrupção dos Governos, resolveram declarar solenemente os direitos naturais, inalienáveis e sagra- dos do homem, a fim de que esta declaração, sempre presente em todos os membros do corpo social, lhes lembre permanentemente seus direitos e seus deveres; a fim de que os atos do Poder Legislativo e do Poder Executivo, podendo ser a qualquer momento comparados com a finalidade de toda a instituição política, sejam por isso mais respeitados; a fim de que as reivindi- cações dos cidadãos, doravante fundadas em princípios simples e incontes- táveis, se dirijam sempre à conservação da Constituição e à felicidade geral. Em razão disto, a Assembléia Nacional reconhece e declara, na presença e sob a égide do Ser Supremo, os seguintes direitos do homem e do cidadão: 14UNIDADE I Introdução aos Direitos Humanos Art.1º. Os homens nascem e são livres e iguais em direitos. As distinções sociais só podem fundamentar-se na utilidade comum. Art. 2º. A finalidade de toda associação política é a conservação dos direitos naturais e imprescritíveis do homem. Esses direitos são a liberdade, a pro- priedade a segurança e a resistência à opressão. Art. 3º. O princípio de toda a soberania reside, essencialmente, na nação. Nenhuma operação, nenhum indivíduo pode exercer autoridade que dela não emane expressamente. Art. 4º. A liberdade consiste em poder fazer tudo que não prejudique o próxi- mo. Assim, o exercício dos direitos naturais de cada homem não tem por limi- tes senão aqueles que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos. Estes limites apenas podem ser determinados pela lei. Art. 5º. A lei não proíbe senão as ações nocivas à sociedade. Tudo que não é vedado pela lei não pode ser obstado e ninguém pode ser constrangido a fazer o que ela não ordene. Art. 6º. A lei é a expressão da vontade geral. Todos os cidadãos têm o direito de concorrer, pessoalmente ou através de mandatários, para a sua formação. Ela deve ser a mesma para todos, seja para proteger, seja para punir. Todos os cidadãos são iguais a seus olhos e igualmente admissíveis a todas as dignidades, lugares e empregos públicos, segundo a sua capacidade e sem outra distinção que não seja a das suas virtudes e dos seus talentos. Art. 7º. Ninguém pode ser acusado, preso ou detido senão nos casos deter- minados pela lei e de acordo com as formas por esta prescritas. Os que solici- tam, expedem, executam ou mandam executar ordens arbitrárias devem ser punidos; mas qualquer cidadão convocado ou detido em virtude da lei deve obedecer imediatamente, caso contrário torna-se culpado de resistência. Art. 8º. A lei apenas deve estabelecer penas estrita e evidentemente neces- sárias e ninguém pode ser punido senão por força de uma lei estabelecida e promulgada antes do delito e legalmente aplicada. Art. 9º. Todo acusado é considerado inocente até ser declarado culpado e, se julgar indispensável prendê-lo, todo o rigor desnecessário à guarda da sua pessoa deverá ser severamente reprimido pela lei. Art. 10º. Ninguém pode ser molestado por suas opiniões, incluindo opiniões religiosas, desde que sua manifestação não perturbe a ordem pública esta- belecida pela lei. Art. 11º. A livre comunicação das idéias e das opiniões é um dos mais precio- sos direitos do homem. Todo cidadão pode, portanto, falar, escrever, imprimir livremente, respondendo, todavia, pelos abusos desta liberdade nos termos previstos na lei. Art. 12º. A garantia dos direitos do homem e do cidadão necessita de uma força pública. Esta força é, pois, instituída para fruição por todos, e não para utilidadeparticular daqueles a quem é confiada. Art. 13º. Para a manutenção da força pública e para as despesas de adminis- tração é indispensável uma contribuição comum que deve ser dividida entre os cidadãos de acordo com suas possibilidades. Art. 14º. Todos os cidadãos têm direito de verificar, por si ou pelos seus repre- sentantes, da necessidade da contribuição pública, de consenti-la livremente, de observar o seu emprego e de lhe fixar a repartição, a coleta, a cobrança e a duração. Art. 15º. A sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente público pela sua administração. Art. 16.º A sociedade em que não esteja assegurada a garantia dos direitos nem estabelecida a separação dos poderes não tem Constituição. Art. 17.º Como a propriedade é um direito inviolável e sagrado, ninguém dela pode ser privado, a não ser quando a necessidade pública legalmente com- provada o exigir e sob condição de justa e prévia indenização (USP, s.d., on-line). 15UNIDADE I Introdução aos Direitos Humanos SAIBA MAIS Nações Unidas Neste site há alguns textos sobre direitos humanos que podem auxiliar nos estudos: https://nacoesunidas.org/direitoshumanos/ NAÇÕES UNIDAS. O que são direitos humanos? Disponível em: https://nacoesunidas.org/direitoshumanos/. Acesso em 18 ago. 2020. REFLITA “Os direitos humanos são, portanto, direitos protegidos pela ordem internacional (espe- cialmente por meio de tratados multilaterais, globais ou regionais) contra as violações e arbitrariedades que um Estado possa cometer às pessoas sujeitas à sua jurisdição. São direitos indispensáveis a uma vida digna e que, por isso, estabelecem um nível protetivo (standard) mínimo que todos os Estados devem respeitar, sob pena de responsabilidade internacional. Assim, os direitos humanos são direitos que garantem às pessoas sujei- tas à jurisdição de um dado Estado meios de vindicação de seus direitos, para além do plano interno, nas instâncias internacionais de proteção (v.g., em nosso entorno geográ- fico, perante a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, que poderá submeter a questão à Corte Interamericana de Direitos Humanos). Destaque-se, por fim, que, quando se trata da proteção dos direitos humanos, não im- porta a nacionalidade da vítima, bastando ter sido ela violada em seus direitos de índole internacional por ato de um Estado sob cuja jurisdição se encontrava. No que tange à proteção do sistema global (onusiano), não há maiores problemas, havendo dúvidas no que toca à proteção regional. Tout court, a competência do sistema regional (e do tribunal respectivo) para verificar a responsabilidade internacional de um Estado, está a depender da jurisdição (não do locus geográfico) em que tenha sido cometida a violação de direitos humanos, independentemente da nacionalidade da vítima (importando ape- nas de qual sistema de proteção faz parte o Estado). Assim, uma violação de direitos a cidadão francês no Brasil previne a competência do sistema interamericano de direitos humanos (Comissão e Corte Interamericanas de Direitos Humanos); já uma violação de direitos a cidadão brasileiro na Guiana Francesa (departamento ultramarino francês) previne a competência do sistema europeu de direitos humanos (Corte Europeia de Di- reitos Humanos)”. Fonte: Mazzuoli (2020, p. 20). https://nacoesunidas.org/direitoshumanos/ https://nacoesunidas.org/direitoshumanos/ 16UNIDADE I Introdução aos Direitos Humanos CONSIDERAÇÕES FINAIS Caro(a) estudante, nesta unidade analisamos a introdução aos Direitos Humanos, seu histórico e principais documentos que tratam da disciplina. Vimos, por exemplo, os principais eixos históricos e filosóficos, apresentado a teoria jusnaturalista e positivista sobre direitos humanos. Estudamos também a visão jusnaturalista dos direitos humanos, no qual esses direitos já existem, independente de positivação e/ou reconhecimento pelo Estado, eis que os direitos humanos são inerentes ao homem, possuindo as características de serem absolutos, perpétuos e intrínsecos. Ao se analisar os direitos humanos na perspectiva do direito constitucional contem- porâneo, percebe-se que a Revolução Francesa teve forte impacto nesta divisão da disci- plina. Assim, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789 trouxe inúmeras mudanças no direito Constitucional Contemporâneo, eis que as Constituições nacionais passaram a prever direitos da Declaração em seu texto, reconhecendo a sua importância no âmbito interno e internacional. 17UNIDADE I Introdução aos Direitos Humanos LEITURA COMPLEMENTAR LIVRO Título: Diário De Anne Frank Sinopse: O livro trata do diário de Anne Frank, uma garota judia que se viu obrigada a se esconder com a família durante a 2ª Guerra Mundial. No livro há relatos sobre seus dias, suas aflições, suas curiosidades em meio à Guerra. Trata de uma história real e profunda, que auxilia o aluno a entender o porquê dos direitos hu- manos, e a importância de tratar todo ser humano com dignidade. É uma leitura leve, mas que possui uma grande carga histórica. LIVRO Título: Temas de Direitos humanos Autor: Flávia Piovesan Editora: Saraiva Sinopse: O livro trata de temas sobre direitos humanos, dividido em três partes. A primeira parte do livro abrange a Constituição Brasi- leira de 1988 e os tratados internacionais de proteção dos direitos humanos, já a segunda parte abrange o sistema internacional de proteção dos direitos humanos e a terceira parte trata o sistema internacional de proteção dos direitos humanos e a redefinição da cidadania no brasil. FILME/VÍDEO Título: Direitos Humanos Ano: 2016 Sinopse: Vídeo que trata de breve explicação sobre o que são os direitos humanos, sua importância na sociedade e relevância. Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=hGKAaVoDlSs https://www.youtube.com/watch?v=hGKAaVoDlSs 18 Plano de Estudo: ● Conceitos e Definições sobre Direitos humanos no direito internacional contemporâneo; Fundamentação dos direitos humanos; Crítica ao conceito de direitos humanos. Objetivos da Aprendizagem: ● Conhecer a evolução da contabilidade e seus fundamentos históricos; ● Conceituar a contabilidade, seu objetivo e suas áreas de aplicação; ● Identificar os aspectos legais da contabilidade; ● Compreender as características da informação e quem as utiliza. UNIDADE II Fundamentos e Conceitos de Direitos Humanos Professora Me. Jaqueline da Silva Paulichi 19UNIDADE II Fundamentos e Conceitos de Direitos Humanos INTRODUÇÃO Olá, estudante, tudo bem? Nesta unidade iremos estudar sobre Direitos humanos no direito internacional contemporâneo, a Fundamentação dos direitos humanos e Crítica ao conceito de direitos humanos. É importante que você leia os materiais recomendados, assim como os tratados e convenções que iremos mencionar nesta apostila, pois irão auxiliar nos seus estudos. Veja os materiais complementares e as leituras recomendadas!!! Bom estudo! 20UNIDADE II Fundamentos e Conceitos de Direitos Humanos 1. DIREITOS HUMANOS NO DIREITO INTERNACIONAL CONTEMPORÂNEO Os Direitos Humanos no Direito Internacional têm início a partir do Pós Guerra, sendo considerado uma resposta às atrocidades realizadas durante o movimento nazista. Assim, procurou-se redesenhar os aspectos de dignidade e direitos humanos, elaborando um referencial teórico apto a orientar a ordem internacional contemporânea. Dessa forma, foi adotada a conversão dos direitos humanos em tema de legítimo interesse da comu- nidade internacional. Consequentemente, formou-se um sistema normativo internacional de proteção de direitos humanos, em âmbito regional e global. Esses documentos trazem rumos norteadores da proteção da pessoa, baseados no princípio da dignidade da pessoa humana (PIOVESAN, s.d.). O princípio da dignidade da pessoa humana está previsto no art. 1º, inc. III da Constituição Federal, elevando-o a fundamento da República Federativa do Brasil. Esse princípio é utilizado como fundamentação em diversosjulgados do STF e STJ. Veja alguns casos já decididos pelo STF: Deixar a cargo da mulher autora da representação a decisão sobre o início da persecução penal significa desconsiderar o temor, a pressão psicológica e econômica, as ameaças sofridas, bem como a assimetria de poder de- corrente de relações histórico-culturais, tudo a contribuir para a diminuição de sua proteção e a prorrogação da situação de violência, discriminação e ofensa à dignidade humana. Implica relevar os graves impactos emocionais impostos pela violência de gênero à vítima, o que a impede de romper com o estado de submissão. [...] Descabe interpretar a Lei Maria da Penha de forma dissociada do Diploma Maior e dos tratados de direitos humanos ratificados pelo Brasil, sendo estes últimos normas de caráter supralegal também aptas 21UNIDADE II Fundamentos e Conceitos de Direitos Humanos a nortear a interpretação da legislação ordinária. Não se pode olvidar, na atualidade, uma consciência constitucional sobre a diferença e sobre a es- pecificação dos sujeitos de direito, o que traz legitimação às discriminações positivas voltadas a atender as peculiaridades de grupos menos favorecidos e a compensar desigualdades de fato, decorrentes da cristalização cultural do preconceito. [...] Procede às inteiras o pedido formulado pelo PGR, bus- cando-se o empréstimo de concretude maior à CF. Deve-se dar interpretação conforme à Carta da República aos arts. 12, I; 16; e 41 da Lei 11.340/2006 – Lei Maria da Penha – no sentido de não se aplicar a Lei 9.099/1995 aos crimes glosados pela lei ora discutida, assentando-se que, em se tratando de lesões corporais, mesmo que consideradas de natureza leve, praticadas contra a mulher em âmbito doméstico, atua-se mediante ação penal pública incondicionada. [...] Representa a Lei Maria da Penha elevada expressão da busca das mulheres brasileiras por igual consideração e respeito. Protege a dignidade da mulher, nos múltiplos aspectos, não somente como um atributo inato, mas como fruto da construção realmente livre da própria personalida- de. Contribui com passos largos no contínuo caminhar destinado a assegurar condições mínimas para o amplo desenvolvimento da identidade do gênero feminino.[ADI 4.424, voto do rel. min. Marco Aurélio, j. 9-2-2012, P, DJE de 1º-8-2014.]= ARE 773.765 RG, rel. min. Gilmar Mendes, j. 3-4-2014, P, DJE de 28-4-2014, Tema 713 (BRASIL, 2008) [...] a dignidade da pessoa humana precede a Constituição de 1988 e esta não poderia ter sido contrariada, em seu art. 1º, III, anteriormente a sua vigên- cia. A arguente desqualifica fatos históricos que antecederam a aprovação, pelo Congresso Nacional, da Lei 6.683/1979. [...] A inicial ignora o momento talvez mais importante da luta pela redemocratização do País, o da batalha da anistia, autêntica batalha. Toda a gente que conhece nossa história sabe que esse acordo político existiu, resultando no texto da Lei 6.683/1979. [...] Tem razão a arguente ao afirmar que a dignidade não tem preço. As coisas têm preço, as pessoas têm dignidade. A dignidade não tem preço, vale para todos quantos participam do humano. Estamos, todavia, em perigo quando alguém se arroga o direito de tomar o que pertence à dignidade da pessoa humana como um seu valor (valor de quem se arrogue a tanto). É que, então, o valor do humano assume forma na substância e medida de quem o afirme e o pretende impor na qualidade e quantidade em que o mensure. Então o valor da dignidade da pessoa humana já não será mais valor do humano, de todos quantos pertencem à humanidade, porém de quem o proclame conforme o seu critério particular. Estamos então em perigo, submissos à tirania dos valo- res. [...] Sem de qualquer modo negar o que diz a arguente ao proclamar que a dignidade não tem preço (o que subscrevo), tenho que a indignidade que o cometimento de qualquer crime expressa não pode ser retribuída com a pro- clamação de que o instituto da anistia viola a dignidade humana. [...] O argu- mento descolado da dignidade da pessoa humana para afirmar a invalidade da conexão criminal que aproveitaria aos agentes políticos que praticaram crimes comuns contra opositores políticos, presos ou não, durante o regime militar, esse argumento não prospera. [ADPF 153, voto do rel. min. Eros Grau, j. 29-4-2010, P, DJE de 6-8-2010.] (BRASIL, 2010). A pesquisa científica com células-tronco embrionárias, autorizada pela Lei 11.105/2005, objetiva o enfrentamento e cura de patologias e traumatismos que severamente limitam, atormentam, infelicitam, desesperam e não raras vezes degradam a vida de expressivo contingente populacional (ilustrativa- mente, as atrofias espinhais progressivas, as distrofias musculares, a escle- rose múltipla e a lateral amiotrófica, as neuropatias e as doenças do neurônio motor). A escolha feita pela Lei de Biossegurança não significou um des- prezo ou desapreço pelo embrião in vitro, porém uma mais firme disposição para encurtar caminhos que possam levar à superação do infortúnio alheio. 22UNIDADE II Fundamentos e Conceitos de Direitos Humanos Isso no âmbito de um ordenamento constitucional que desde o seu preâm- bulo qualifica “a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça” como valores supremos de uma sociedade mais que tudo “fraterna”. O que já significa incorporar o advento do constitucionalismo fraternal às relações humanas, a traduzir verdadeira comunhão de vida ou vida social em clima de transbordante solidariedade em benefício da saúde e contra eventuais tramas do acaso e até dos golpes da própria natureza. Con- texto de solidária, compassiva ou fraternal legalidade que, longe de traduzir desprezo ou desrespeito aos congelados embriões in vitro, significa apreço e reverência a criaturas humanas que sofrem e se desesperam. Inexistência de ofensas ao direito à vida e da dignidade da pessoa humana, pois a pesquisa com células-tronco embrionárias (inviáveis biologicamente ou para os fins a que se destinam) significa a celebração solidária da vida e alento aos que se acham à margem do exercício concreto e inalienável dos direitos à felicidade e do viver com dignidade (ministro Celso de Mello). [...] A Lei de Biosseguran- ça caracteriza-se como regração legal a salvo da mácula do açodamento, da insuficiência protetiva ou do vício da arbitrariedade em matéria tão religiosa, filosófica e eticamente sensível como a da biotecnologia na área da medici- na e da genética humana. Trata-se de um conjunto normativo que parte do pressuposto da intrínseca dignidade de toda forma de vida humana, ou que tenha potencialidade para tanto. A Lei de Biossegurança não conceitua as categorias mentais ou entidades biomédicas a que se refere, mas nem por isso impede a facilitada exegese dos seus textos, pois é de se presumir que recepcionou tais categorias e as que lhe são correlatas com o significado que elas portam no âmbito das ciências médicas e biológicas. [ADI 3.510, rel. min. Ayres Britto, j. 29-5-2008, P, DJE de 28-5-2010.] (BRA- SIL, 2012). A proteção internacional dos direitos humanos traz um mecanismo de responsabili- zação e controle internacional que pode ser acionado toda vez que a ordem nacional interna não se mobilizar para corrigir as violações aos direitos humanos. Assim, quando o estado acolhe essa forma de proteção internacional, bem como se torna signatário das obrigações internacionais, ele passa a aceitar o monitoramento internacional. Consequentemente, os indivíduos se tornam sujeitos de direito internacional (PIOVESAN, s.d.). No Brasil, o marco inicial desse processo de incorporação dos documentos inter- nacionais que versam e protegem os direitos humanos foi a ratificação, em 1º de fevereiro de 1984, da Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação contra a Mulher (PIOVESAN, s.d.). Após a Constituição Federal de 1988, os tratados internacionais que versam sobre direitos humanos foram ratificados pelo Brasil, que são (PIOVESAN,s.d.).: a) a Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura, em 20 de julho de 1989; b) a Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos Cruéis, Desumanos ou De gradantes, em 28 de setembro de 1989; c) a Convenção sobre os Direitos da Criança, em 24 de setembro de 1990; d) o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, em 24 de janeiro de 1992; 23UNIDADE II Fundamentos e Conceitos de Direitos Humanos e) o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, em 24 de janeiro de 1992; f) a Convenção Americana de Direitos Humanos, em 25 de setembro de 1992; g) a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, em 27 de novembro de 1995. Nota-se que na Constituição Federal de 1988, com alteração da Emenda Constitu- cional 45 de 2004, existe a previsão sobre a incorporação dos tratados internacionais que versam sobre direitos humanos. Assim, caso algum tratado seja votado em dois turnos, nas duas casas do Congresso Nacional, por 3/5 dos votos de seus membros, o tratado internacional que versar sobre direitos humanos terá status de Emenda à Constituição. Já os tratados que não versarem sobre direitos humanos, possuem status de lei ordinária. Por fim, os tratados e convenções internacionais que tratam de direitos humanos, mas que foram incorporados pelo ordenamento jurídico antes da Emenda Constitucional 45 de 2004, possuem status de norma de sobredireito, acima das leis ordinárias e abaixo da Constituição Federal de 1988. Leia o parágrafo terceiro do art. 5º da Constituição Federal: § 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.(Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) (Atos aprovados na forma deste parágrafo: DLG nº 186, de 2008 ,DEC 6.949, de 2009 , DLG 261, de 2015 , DEC 9.522, de 2018) (BRASIL, 1988). http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc45.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc45.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/CONGRESSO/DLG/DLG-186-2008.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Decreto/D6949.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Decreto/D6949.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/CONGRESSO/DLG/DLG-261-2015.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2018/Decreto/D9522.htm 24UNIDADE II Fundamentos e Conceitos de Direitos Humanos 2. FUNDAMENTAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS Tratar da fundamentação dos direitos humanos significa a análise da razão de ser desta disciplina, o porquê de sua existência e seu fundamento primordial. Os direitos humanos nasceram para tutelar e proteger os interesses das pessoas, do ser humano. Em que pese toda a história mundial, em que realizaram inúmeras atrocidades contra vários grupos e minorias, deturpando o conceito de pessoa e diminuindo as suas existências, os direitos humanos surgem para proteger os cidadãos. Nota-se que, mesmo com a existência de leis, tratados internacionais, Constituições, dentre outros aspectos normativos, o ser humano ainda trata outros seres humanos como inferiores. É o que ocorre com as pessoas em situação de rua, com a população LGBTQIA+, com os índios, dependentes químicos, pobres, mulheres, negros, idosos, quilombolas, dentre outros grupos e minorias vulneráveis. Os direitos humanos retiram seu fundamento primordial do princípio da dignidade da pessoa humana (MAZZUOLI, 2017), em consonância com o que estabelece o art. 1.º da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948: “Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade”. A partir da Declaração Universal de 1948 podemos retirar três princípios basilares. A inviolabilidade da pessoa: o ser humano é inviolável, o que abrange o seu direito à vida e a integridade física, a vedação a tortura e ao tratamento degradante, assim como a proibição de condição análoga a de escravo. A pessoa humana não pode ser submetida a sacrifícios que irão resultar em benefícios, sejam patrimoniais ou pessoais, a outra pessoa. Ou seja, o ser humano deve ser considerado como um fim em si mesmo, e não como meio para se atingir algum outro resultado. 25UNIDADE II Fundamentos e Conceitos de Direitos Humanos A autonomia da pessoa; o ser humano é livre para ir e vir, para ter a liberdade de pensamento, liberdade religiosa, de convicções políticas e ideológicas. Assim, pode-se inferir que o sujeito é livre para fazer suas escolhas, desde que não interfira o direito de outros. A autonomia da pessoa é princípio previsto em todo ordenamento jurídico brasileiro. Por exemplo, no direito civil existe a previsão acerca da autonomia para contratar, ser contratado, liberdade para estabelecer suas obrigações, casamento, regime de bens, su- cessões, dentre outros. Assim, a autonomia da vontade, ou liberdade, é importante princípio que regulamenta o direito brasileiro. O terceiro princípio básico que podemos extrair é o da dignidade da pessoa hu- mana, que, por sua vez, é o núcleo rígido de todos os demais direitos da personalidade, direitos fundamentais, dentre outros. Dessa forma, a dignidade da pessoa humana traz o fundamento dos direitos humanos, e a partir dele podemos interpretar diversas outras normas jurídicas e definir sua aplicabilidade conforme o que é melhor ao ser humano. Leia a seguir um importante trecho de artigo publicado por Flávia Piovesan (2005, p. 132) acerca da dignidade da pessoa humana: No dizer de Hannah Arendt, os direitos humanos não são um dado, mas um construído, uma invenção humana, em constante processo de construção e reconstrução. Considerando a historicidade destes direitos, pode-se afirmar que a definição de direitos humanos aponta a uma pluralidade de significa- dos. Tendo em vista tal pluralidade, destaca-se neste estudo a chamada con- cepção contemporânea de direitos humanos, que veio a ser introduzida com o advento da Declaração Universal de 1948 e reiterada pela Declaração de Direitos Humanos de Viena de 1993. 2 Esta concepção é fruto do movimento de internacionalização dos direitos humanos, que constitui um movimento extremamente recente na história, surgindo, a partir do pós-guerra, como res- posta às atrocidades e aos horrores cometidos durante o nazismo. Apresen- tando o Estado como o grande violador de direitos humanos, a era Hitler foi marcada pela lógica da destruição e da descartabilidade da pessoa humana, que resultou no envio de 18 milhões de pessoas a campos de concentração, com a morte de 11 milhões, sendo 6 milhões de judeus, além de comunistas, homossexuais, ciganos, etc. O legado do nazismo foi condicionar a titularida- de de direitos, ou seja, a condição de sujeito de direitos, à pertinência a de- terminada raça - “a raça pura ariana”. No dizer de Ignacy Sachs, “o século XX foi marcado por duas guerras mundiais e pelo horror absoluto do genocídio concebido como projeto político e industrial”. 3 É neste cenário que se dese- nha o esforço de reconstrução dos direitos humanos, como paradigma e refe- rencial ético a orientar a ordem internacional contemporânea. Se a 2.ª Guerra significou a ruptura com os direitos humanos, o Pós-Guerra deveria significar a sua reconstrução este sentido, em 10 de dezembro de 1948, é aprovada a Declaração Universal dos Direitos Humanos, como marco maior do processo de reconstrução destes direitos. Introduz ela a concepção contemporânea de direitos humanos, caracterizada pela universalidade e indivisibilidade destes direitos. Universalidade porque clama pela extensão universal dos direitos humanos, sob a crença de que a condição de pessoa é o requisito único para a dignidade e titularidade de direitos. Indivisibilidade porque a garantia dosdireitos civis e políticos é condição para a observância dos direitos sociais, econômicos e culturais e vice-versa. Quando um deles é violado, os demais também o são. Os direitos humanos compõem assim uma unidade indivisível, interdependente e inter-relacionada, capaz de conjugar o catálogo de direitos civis e políticos ao catálogo de direitos sociais, econômicos e culturais. 26UNIDADE II Fundamentos e Conceitos de Direitos Humanos 3. CRÍTICA AO CONCEITO DE DIREITOS HUMANOS O conceito de direitos humanos que temos hoje não é o suficiente para abarcar toda a complexidade de direitos que envolvem a disciplina de direitos humanos. Nota-se que os direitos humanos tratam dos direitos do sujeito, da pessoa. Basta que seja pessoa humana que esta terá os seus direitos garantidos. No entanto, nem todo país adere às normas de direitos humanos ou aos tratados e convenções internacionais. Dessa forma, fica difícil discutir direitos das mulheres, por exemplo, em países que entendem que as mulheres são seres inferiores. Mesmo no Brasil, em que temos diversas normas que procuram tutelar e proteger os grupos e vulneráveis, ainda temos dificuldade em fazer valer os direitos dessas pessoas. Mazzuoli (2017, p. 47) explica o seguinte: Direitos humanos é uma expressão intrinsecamente ligada ao direito inter- nacional público. Assim, quando se fala em “direitos humanos”, o que tecni- camente se está a dizer é que há direitos que são garantidos por normas de índole internacional, isto é, por declarações ou tratados celebrados entre Es- tados com o propósito específico de proteger os direitos (civis e políticos; eco- nômicos, sociais e culturais etc.) das pessoas sujeitas à sua jurisdição.1 Tais normas podem provir do sistema global (pertencente à Organização das Nações Unidas, por isso chamado “onusiano”) ou de sistemas regionais de proteção (v.g., os sistemas europeu, interamericano e africano). Atualmente, o tema “direitos humanos” compõe um dos capítulos mais significativos do direito internacional público, sendo, por isso, objeto próprio de sua regula- mentação. O conceito da disciplina é basicamente a explicação de que essa matéria nasceu e se desenvolve para tratar dos assuntos conexos ao ser humano, a sua proteção e seus https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788530988852/epub/OEBPS/Text/08_chapter01.xhtml?favre=brett#pg20a2 27UNIDADE II Fundamentos e Conceitos de Direitos Humanos interesses, para que não ocorram as atrocidades que já vivenciamos anteriormente. Assim, tem-se atualmente os sistemas de proteção internacional e regional, além das normas internas de cada país que regulamentam sobre o assunto. Continuando, o autor aduz que: Destaque-se, por fim, que, quando se trata da proteção dos direitos huma- nos, não importa a nacionalidade da vítima, bastando ter sido ela violada em seus direitos de índole internacional por ato de um Estado sob cuja jurisdição se encontrava. No que tange à proteção do sistema global (onusiano), não há maiores problemas, havendo dúvidas no que toca à proteção regional. Tout court, a competência do sistema regional (e do tribunal respectivo) para ve- rificar a responsabilidade internacional de um Estado, está a depender da jurisdição (não do locus geográfico) em que tenha sido cometida a violação de direitos humanos, independentemente da nacionalidade da vítima (impor- tando apenas de qual sistema de proteção faz parte o Estado). Assim, uma violação de direitos a cidadão francês no Brasil previne a competência do sistema interamericano de direitos humanos (Comissão e Corte Interamerica- nas de Direitos Humanos); já uma violação de direitos a cidadão brasileiro na Guiana Francesa (departamento ultramarino francês) previne a competência do sistema europeu de direitos humanos (Corte Europeia de Direitos Huma- nos) (MAZZUOLI, 2017, p. 49). SAIBA MAIS Leia a Constituição Federal de 1988 para aprofundar seus estudos! http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm Sobre os tratados internacionais, acesse o site do Itamaraty e leia sobre o assunto: http://www.itamaraty.gov.br/pt-BR/perguntas-frequentes-artigos/19365-tratados-interna- cionais A recepção dos tratados internacionais que versam sobre direitos humanos é tema que precisa ser analisado, ante a sua relevância jurídica e prática. Sobre este tema, leia: http://revista.uepb.edu.br/index.php/datavenia/article/viewFile/22-37/1846 Os fundamentos dos direitos humanos estão vinculados ao princípio da dignidade da pessoa humana. Segue artigo sobre o tema para aprofundar seus estudos. http://www.dhnet.org.br/dados/cursos/edh/redh/01/02_marconi_pequeno_fundamento_ dh.pdf http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm http://www.itamaraty.gov.br/pt-BR/perguntas-frequentes-artigos/19365-tratados-internacionais http://www.itamaraty.gov.br/pt-BR/perguntas-frequentes-artigos/19365-tratados-internacionais http://revista.uepb.edu.br/index.php/datavenia/article/viewFile/22-37/1846 http://www.dhnet.org.br/dados/cursos/edh/redh/01/02_marconi_pequeno_fundamento_dh.pdf http://www.dhnet.org.br/dados/cursos/edh/redh/01/02_marconi_pequeno_fundamento_dh.pdf 28UNIDADE II Fundamentos e Conceitos de Direitos Humanos REFLITA “Os desastres humanos das guerras, especialmente aquilo que assistiu o mundo no período da Segunda Guerra Mundial, trouxe, primeiro, a dignidade da pessoa humana para o mundo do direito como contingência que marcava a essência do próprio sóciopo- lítico a ser traduzido no sistema jurídico” Fonte: Rocha (2004, p.12 ). 29UNIDADE II Fundamentos e Conceitos de Direitos Humanos CONSIDERAÇÕES FINAIS Caro(a) estudante, nesta unidade analisamos os direitos humanos em âmbito internacional, bem como o fundamento elementar da disciplina, qual seja, a dignidade da pessoa humana. O fundamento aqui analisado é utilizado nas mais diversas disciplinas que tratam da importância do ser humano e de seu tratamento digno perante a sociedade e perante o Governo. No entanto, apesar das inúmeras discussões sobre tratamento desiguais, a mudan- ça parte da iniciativa das pessoas. Ainda não temos o pleno tratamento igual perante a lei, ainda não temos o tratamento igual perante a sociedade. O conceito de direitos humanos ainda não é aplicado de forma ampla e irrestrita, necessitando que seja difundido em todas as classes sociais. 30UNIDADE II Fundamentos e Conceitos de Direitos Humanos LEITURA COMPLEMENTAR Artigo: A importância da dignidade da pessoa humana na Constituição Federal CHEMIN, Pauline de Moraes. Coluna: DIREITO DO HOMEM. Importância do prin- cípio da dignidade humana. Conjur, 23 de janeiro de 2009. Disponível em https://www. conjur.com.br/2009-jan-23/importancia_principio_dignidade_humana_constituicao_88. Acesso em: 18 ago. 2020. Artigo: Por que Respeitar a dignidade humana do preso? GUEDES, Néviton. Coluna: CONSTITUIÇÃO E PODER. Por que a sociedade deve respeitar a dignidade da pessoa humana do criminoso? Conjur, 2 de julho de 2018. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2018-jul-02/constituicao-poder-respeitar-dignida- de-pessoa-humana-criminoso. Acesso em: 18 ago. 2020. https://www.conjur.com.br/2018-jul-02/constituicao-poder-respeitar-dignidade-pessoa-humana-criminoso https://www.conjur.com.br/2018-jul-02/constituicao-poder-respeitar-dignidade-pessoa-humana-criminoso 31UNIDADE II Fundamentos e Conceitos de Direitos Humanos MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Temas de Direitos humanos Autor: Ricardo Castilho Editora: Saraiva Sinopse: A civilização é o resultado concreto da organização dos grupos dentro de uma ordem regulatória de deveres e de direitos. A condição de exercício da liberdade é o próprio direito, daí ter o autor conduzido sua pesquisa de acordo com esse valor supremo, sem o qual as existências individual e social não se justificam. Em todos os momentos da história e em todos os lugares, alguém se destacou em razão do altruísmo e do respeito pela pessoa,suas posses e sentimentos. Não importam os motivos: o mundo se mo- difica, e as urgências, demandas e contingências se substituem - a água do rio não é sempre a mesma a correr sob a ponte. Importam o empenho e a maneira como se obteve atenção para atitudes que precisavam ser aperfeiçoadas. Gente que pensava “direitos” - uma palavra deveria bastar, mas sua humanidade a sociedade precisou requalificar, daí ter ficado consolidada a expressão “direitos huma- nos”. FILME/VÍDEO Título: Histórias Cruzadas Ano: 2011 Sinopse: Filme que retrata a realidade das empregadas domésti- cas nos Estados Unidos nos anos 60. Importante analisar a história retratada com a disciplina, analisando a dignidade humana e o tratamento inferior que é dado às empregadas domésticas negras. 32 Plano de Estudo: ● Conceitos e Definições sobre a Polissemia conceitual; Ideia de gerações; e suas críticas; Principais documentos; Universalidade X Relatividade. Objetivos da Aprendizagem: ● Analisar os direitos humanos e sua polissemia conceitual;; ● Refletir sobre as gerações de direitos humanos; ● Discutir acerca dos principais documentos que versam sobre direitos humanos. ● Estudar sobre as características principais da disciplina. UNIDADE III Evolução dos Direitos Humanos Professora Me. Jaqueline da Silva Paulichi 33UNIDADE III Evolução dos Direitos Humanos INTRODUÇÃO Olá, estudante, tudo bem? Nesta unidade iremos estudar sobre os conceitos de direitos humanos e suas gerações. Iremos abordar as diferenças terminológicas e analisar as características da disciplina, como a universalidade e a relatividade cultural, no qual vamos abordar as características de um povo e as consequências para os direitos huma- nos. Também iremos estudar acerca das gerações de direitos humanos, como os direitos relativos à liberdade, à igualdade e à solidariedade, e os documentos internacionais que tratam de direitos humanos relativo aos temas. Veja os materiais complementares e as leituras recomendadas!!! Bom estudo! 34UNIDADE III Evolução dos Direitos Humanos 1. POLISSEMIA CONCEITUAL A polissemia quer dizer que existem inúmeros conceitos acerca do que se trata os direitos humanos. Ressalta-se que os direitos humanos tratam dos direitos das pessoas, basta ser sujeito de direitos, basta ser pessoa que estará protegido pelas leis nacionais e internacionais que tratam de direitos humanos. No entanto, existem diversos significados para mesma disciplina, pois deve ser analisada sob a ótica da proteção nacional, da proteção regional e da proteção interna- cional dos direitos humanos, além dos documentos que protegem os sujeitos em relação a tratamento degradante ou desumano, a condição análoga de escravo, a proteção das mulheres, proteção das crianças e dos adolescentes, proteção dos idosos, proteção das pessoas com deficiência, dentre outras minorias e grupos vulneráveis. Lembrando que tratamos do conceito de direitos humanos sobre a ótica da digni- dade da pessoa humana. Também tratamos dos direitos humanos sobre a ótica da análise das normas que regulamenta essa disciplina. Agora vamos analisar outros conceitos que tratam do tema. Leite (2014, p. 33) explica o conceito de direitos humanos para os juspositivistas da seguinte maneira: Os juspositivistas sustentam que os direitos humanos são fundamentais e essenciais, desde que reconhecidos pelo Estado, pelo Poder Político. Esta concepção identifica o direito com a lei formalmente posta. Nasce, assim, a ideia dos direitos humanos como direitos públicos subjetivos. Há, nesse caso, a ideologia constitutiva dos direitos humanos. A abordagem temática é feita no plano eminentemente jurídico-normativo. 35UNIDADE III Evolução dos Direitos Humanos Conforme já estudado em outras unidades, os jusnaturalistas defendem que: [...] a existência de direitos naturais do indivíduo, originários e inalienáveis, decorre da ideia de que ao Estado não incumbe outorgá-los, mas tão somen- te reconhecê-los e aprová-los formalmente. Jus divinum (Tomás de Aquino) e Contrato Social (Rousseau) são termos inerentes ao jusnaturalismo. Há para os jusnaturalistas a ideia de anterioridade dos direitos humanos em relação ao próprio Estado, sendo a sua abordagem estudada no plano filosófico (LEI- TE, 2014, p. 33). Perez Luno, autor contemporâneo, explica da seguinte maneira: [...] conjunto de faculdades e instituições que, em cada momento histórico, concretizam as exigências da dignidade, da liberdade e da igualdade huma- nas, as quais devem ser reconhecidas positivamente pelos ordenamentos jurídicos em nível nacional e internacional (LEITE, 2014, p. 34). Além da polissemia conceitual, insta salientar acerca da expressão utilizada para definir o que são esses direitos, no qual alguns autores preferem se utilizar “direitos funda- mentais do homem”, conforme citado: José Afonso da Silva reconhece a dificuldade de se conceituar direitos hu- manos, mas prefere a expressão direitos fundamentais do homem, por- que além de referir-se a princípios que resumem a concepção do mundo e in- formam a ideologia política de cada ordenamento jurídico, é reservada para designar, no nível do direito positivo, aquelas prerrogativas e instituições que ele concretiza em garantias de uma convivência digna, livre e igual de todas as pessoas (LEITE, 2014, p. 37). O conceito de Direitos Humanos é muito amplo. Pode ser considerado sob dois aspectos (SORONDO, s.d., on-line): ● constituindo um ideal comum para todos os povos e para todas as na- ções, seria então um sistema de valores; ● este sistema de valores, enquanto produto de ação da coletividade hu- mana, acompanha e reflete sua constante evolução e acolhe o clamor de justiça dos povos. Por conseguinte, os Direitos Humanos possuem uma dimensão histórica. Mas, então, o que são direitos humanos? De forma livre, podemos concluir que direitos humanos são a forma como você espera ser tratado pelos demais. De forma digna (SORONDO, s.d). Dessa forma, os direitos humanos possuem inúmeros conceitos e significados, o que demonstra a sua importância no âmbito jurídico e social. Eis que os diversos autores que tratam do tema se preocupam com o mesmo: a proteção do ser humano. Assim, pode- mos entender que os direitos humanos estudam e protegem o ser humano. 36UNIDADE III Evolução dos Direitos Humanos 2. IDEIA DE GERAÇÕES E SUAS CRÍTICAS As gerações de direitos humanos remetem os princípios filosóficos da revolução Francesa, quais sejam liberdade, igualdade e fraternidade. Assim, iremos abordar a gera- ções de direitos humanos e as suas consequências jurídicas, pois os autores que tratam do tema estabeleceram a divisão da evolução da disciplina em três ou mais gerações, delimitando a primeira geração como os direitos advindos da Liberdade e os seus docu- mentos históricos e normativos, a segunda geração como direitos advindos da igualdade e a terceira geração os direitos de fraternidade ou solidariedade. Leite (2014, p. 86) assevera que: Pode-se dizer que a primeira dimensão dos direitos humanos surgiu com as revoluções burguesas dos séculos XVII e XVIII. São direitos inerentes ao liberalismo clássico, encontrando, pois, inspiração no iluminismo racionalis- ta, base do pensamento ocidental entre os séculos XVI e XIX. São também chamados de direitos individuais, direitos subjetivos ou direitos de liberdade e têm por titulares os indivíduos isoladamente considerado. Os direitos civis e políticos, que também são chamados de direitos humanos de primeira geração ou dimensão, têm por fundamento a liberdade, segurança e a integridade psíquica e física da pessoa humana no qual é assegurado a participação na vida pública e também no governo. Os direitos humanos de primeira geração são exigíveis contra o esta- do, pois cabe a ele garantir a sua efetivação e a sua positivação no ordenamento jurídico. Apesar do Estado ser reconhecido como maior violador dos direitos humanos, cabe a ele a tutelae a proteção dos direitos humanos contra qualquer abuso de outra pessoa ou 37UNIDADE III Evolução dos Direitos Humanos outro órgão político. É importante destacar que os direitos humanos possuem aplicabilidade imediata, ou seja, tão logo sejam reconhecidos devem ser aplicados de forma efetiva aos sujeitos de direito. O Estado deve proporcionar à sociedade meios para que esses direitos sejam garantidos e efetivados, para que os direitos e garantias fundamentais não sejam apenas textos de lei e passem a ser garantias dos cidadãos brasileiros. Os direitos de primeira geração tratam do “não fazer”, ou seja, são garantias dos cidadãos de que o Estado não irá intervir nos seus atos, possuindo um status negativo. São exemplos de direitos civis e políticos (LEITE, 2014): ● direito à vida: contra a privação da vida e do “desaparecimento”; ● direito à integridade física: antitortura; ● direito à liberdade: contra a escravidão e detenção ilegal; ● direito à igualdade perante a lei; ● direito à liberdade de expressão; ● direito ao respeito da vida privada; ● direito de viver sem violência na família: proteção das mulheres, crianças e pes- soas idosas contra a violência doméstica; ● direito de acesso à informação; ● direito à livre circulação (refugiados, exilados, migrantes, pessoas deslocadas); ● direito a uma nacionalidade; ● direito a participar em qualquer atividade; ● direito de eleger e ser eleito; ● liberdade de reunião ou de associação; ● direito à honestidade administrativa (contra a corrupção praticada por servido- res públicos ou governantes). A segunda geração de direitos humanos diz respeito aos direitos sociais, econô- micos e culturais. Os direitos humanos de segunda geração possuem um status positivo, necessitando que o Estado realize atos, um dever de fazer, de contribuir, de ajudar por parte dos órgãos que compõem o Poder Público. Leite (2014, p. 88) explica que: A positivação desses direitos deu origem ao que se convencionou chamar de “Constitucionalismo Social”, a demonstrar que os direitos humanos de primei- ra dimensão, especialmente o direito de propriedade, quando do seu exercí- cio, têm que cumprir uma função social. 38UNIDADE III Evolução dos Direitos Humanos Assim, pode-se afirmar que os direitos de segunda dimensão se traduzem nos direitos de inclusão social, necessitando da efetivação de políticas públicas. São os direitos que tratam da igualdade entre pessoas. É importante assinalar que a Constituição brasileira de 1988 (art. 6o) prescre- ve que são direitos sociais: “a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados”. Esse rol dos direitos sociais previsto no artigo 6º não é exaustivo, na medida em que ele é complementa- do pelo Título VIII da mesma Constituição, que trata da Ordem Social (Cap. II), abrangendo o direito à seguridade social, à saúde, à previdência social e à assistência social; à educação, à cultura e ao desporto (Cap. III), à ciência e à tecnologia (Cap. IV); à comunicação social (Cap. V); ao meio ambiente (Cap. VI); além dos direitos da família, da criança e do adolescente (Cap. VII) e dos índios (Cap. VIII) (LEITE, 2014, p. 89). Os direitos humanos de terceira geração também são conhecidos como direitos de fraternidade ou de solidariedade, e ainda existem autores que denominam como jeito de interesses metaindividuais A ideia desse direito de terceira geração surge como um meio de conscientizar a so- ciedade de que o mundo é dividido em diferentes nações desenvolvidas e subdesenvolvidas e, por isso, defende-se que tais direitos decorrem de uma reflexão sobre os temas referentes ao desenvolvimento, à paz, ao meio ambiente, à relação de consumo, dentre outros. Esses direitos de terceira geração não se destinam à proteção ou a tutela do indiví- duo individualizado ou isoladamente considerado. Os direitos de solidariedade e fraternida- de tratam de pessoas indeterminadas ou indetermináveis, ou seja, seus destinatários são o gênero humano. O reconhecimento desses direitos decorre da passagem do estado liberal ao estado social que se observa uma transformação nas relações sociais, econômicas, políticas e jurídicas em escala mundial. Por esse motivo existe a preocupação com o meio ambiente, com relação de consumo, com questões de patrimônio histórico e social, com direitos coletivos e difusos, o extrato dos interesses da massa que passam a exigir do Estado a inserção do reconheci- mento no ordenamento jurídico. A Constituição Federal de 1988 reconhece os direitos difusos e coletivos, e confere a legitimação para tutelar esses interesses ao ministério público, ao cidadão e outros entes coletivos. Grande exemplo do reconhecimento, tutela e garantia dos direitos de solidariedade direitos de terceira geração de direitos humanos é o código de defesa do consumidor. 39UNIDADE III Evolução dos Direitos Humanos 3. PRINCIPAIS DOCUMENTOS Os principais Documentos internacionais que tratam de direitos humanos são (NAÇÕES UNIDAS BRASIL, s.d.): 1. Convenção para a prevenção e a repressão do crime de genocídio (1948). 2. Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de 3. Discriminação Racial (1965). 4. Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos (1966). 5. Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (1966). 6. Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação 7. contra as Mulheres (1979). 8. Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (1982). 9. Convenção sobre os Direitos da Criança (1989). 10. Tratado de Proibição Completa de Testes Nucleares (1996). 11. Convenção Internacional para a Supressão do Financiamento do Terrorismo (1999). 12. Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (2006). 40UNIDADE III Evolução dos Direitos Humanos 4. UNIVERSALIDADE X RELATIVIDADE Os direitos humanos se dirigem a todas as pessoas, independente da raça, religião, sexo, origem étnica, dentre outros. A universalidade nasce da percepção de que é necessá- rio ser pessoa, ser humano, para usufruir dos direitos humanos. Dessa forma, ao se afirmar que os direitos humanos são universais, estamos aplicando as normas de direitos humanos a todas as pessoas, sem discriminação. Inclusive aos sujeitos provenientes de países que não reconhecem os direitos humanos. É por esse motivo que existem as políticas de mino- rias e grupos vulneráveis. Leite (2014, p.67 )explica que: A característica da universalidade dos direitos humanos decorre da constata- ção de que a condição de pessoa é o único requisito para a titularidade de di- reitos, uma vez que o ser humano é um ser essencialmente moral, dotado de unicidade existencial e dignidade. Além disso, a universalidade dos direitos humanos é uma decorrência lógica das necessidades humanas universais, como a necessidade de respirar, de comer, de beber, de vestir-se, de amar, de ser respeitado etc. Nota-se que existe a diversidade cultural, ou seja, cada região possui suas caracterís- ticas peculiares, no qual alguns direitos podem não ter sentido para aquelas pessoas. Citam-se os casos de países que não reconhecem às mulheres os mesmos direitos que os homens. [...] a universalidade dos direitos humanos decorre de sua própria concepção, ou de sua captação pelo espírito humano, como direitos inerentes a todo ser humano, e a ser protegidos em todas e quaisquer circunstâncias. Não se questiona que, para lograr a eficácia dos direitos humanos universais, há que tomar em conta a diversidade cultural, ou seja, o substratum cultural das normas jurídicas; mas isto não se identifica com o chamado relativismo 41UNIDADE III Evolução dos Direitos Humanos cultural. Muito ao contrário, os chamados “relativistas” se esquecem de que as culturas não são herméticas, mas sim abertas aos valores universais,
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