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História Regional Ano X, N1 jan - 2015

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Prévia do material em texto

Publicação do corpo discente 
do Departamento de História 
da Universidade Federal de Ouro Preto 
Ano X, n.° 1, Junho de 2015
ISSN: 1980 – 0339
Cadernos de História
HISTÓRIA RegIoNAl: 
TeoRIA, meTodologIA, pRáTIcA.
contatos 
Revista eletrônica cadernos de História
http://www.ichs2.ufop.br/cadernosdehistoria/ojs/index.php/cadernosdehistoria/index
cadernosdehistoria@gmail.com
Rua do Seminário, s./n.o - mariana - minas gerais
cep: 35420-000
ISSN: 1980 – 0339
Cadernos de História
conselho editorial
Isaias gabriel Franco 
eduardo mognon Ferreira
Kaíque Ruan Rezende Santos
Sheila dos Santos Silva 
Augusto martins Ramires 
danilo Souza Ferreira 
polliana gerçossimo Vieira 
editora de mídias alternativas 
Augusto martins Ramires (comunicação Social)
Kaique Ruan Rezende Santos 
 
organizador convidado deste volume
durval muniz de Albuquerque Júnior (UFRN)
conselho consultivo
álvaro Antunes, UFop
Andréa lisly gonçalves, UFop
Ângelo Alves carrara, UFJF
António manuel Hespanha, Universidade Nova de lisboa
cláudia maria das graças chaves, UFop
christian edward cyril lynch, IeSp-UeRJ
cristina meneguello, UNIcAmp
Fábio duarte Joly, UFop
Fábio Faversani, UFop
Fernando Felizardo Nicolazzi, UFRgS
Helena miranda mollo, UFop
Íris Kantor, USp
Jonas marçal de Queiroz, UFV
João cézar de castro Rocha, UeRJ
João Fábio Bertonha, Uem
João paulo garrido pimenta, USp
José Arnaldo coêlho de Aguiar lima, UFop
marco Antônio Silveira, UFop
moema Vergara, mAST
pedro Spinola pereira caldas, UNIRIo
Renato pinto Venâncio, UFmg
Ronaldo pereira de Jesus, UFop
Sérgio Ricardo da mata, UFop
Sidney chalhoub, UNIcAmp
Valdei lopes de Araujo, UFop
Virgínia Albuquerque de castro Buarque, UFop
Wlamir José da Silva, UFSJ
Apresentação
 
8 Apresentação ao dossiê: 
Dossiê Temático
História Regional: Teoria, metodologia, prática
Artigos 
15 A demografia do comércio de escravos em santa Catarina: a praça mercantil de laguna e o comércio negreiro de cabotagem, primeiras 
décadas do século XIX.
André Fernandes Passos 
36 ”coronelismo”, cangaço, e a “honra” no romance Angústia de graciliano Ramos
Natália Augusta Fontes de Carvalho Ribeiro Rodrigues
55 Arquivo, preservação e memória em Tefé/ Am: registros paroquiais e periódicos (séculos XIX e XX)
Luciano Everton Costa Teles, Tenner Inauhiny de Abreu
66 O Conceito Geográfico de Região e sua integração com a História Regional: diálogos possíveis
Giam Cupello Miceli
Sumário
 
Dossiê Temático
História Regional: Teoria, metodologia, prática
Artigos 
76 “A interlândia ainda era mais profunda do que nos tempos atuais” - “o Alto Sertão e as leituras sobre uma região no interior brasileiro no século 
XIX.
Ana Sara Cortez
93 os itinerários de oswald de Andrade pela paulicéiaValdeci Cunha
119 A formação do colegio de História da Universidade Federal do paraná a Afirmação do debate sobre Região.
Mauro Cezar Camargo
Seção Livre
Artigos livres 
124 Relações inter-humanas na descoberta da América: os escritos de colombo e a percepção europeia do outro
Erick Bezerra Rodrigues
138 A assistência à alma na irmandade de São Vicente de Braga no século XVIIINorberto Tiago Gonçalves Ferraz
155 Filipe Nunes no universo dos tratatdos artísticos-científico quinhentista Renata Morais 
184 A assistência a alma à irmandade de São Vicente de Braga no século XVIIISarah Santos Araujo
202
219
Algumas perspectivas culturais na cidade do Rio de Janeiro como sede do vice-
reino de portugal
Lia Brusadin
As interferências e influencias no altântico português. - RESENHA
Isabel Camilo Camargo
apresentação 
 
8
Durval Muniz de Albuquerque Júnior
Professor da Universidade do Rio Grande do Norte
durvalaljr@gmail.com
O papel de um periódico científico é servir de veículo para que o estado da arte, 
em um dado campo do conhecimento, possa se explicitar, possa ser conhecido, 
debatido, analisado, criticado. Creio que o número da Revista Eletrônica Cadernos 
de História, que os apresento, cumpre bem esse papel, à medida que reúne, em 
seu dossiê, um conjunto de artigos que foram agrupados a partir do que seria seu 
pertencimento a um campo de estudos e pesquisas nomeado de “história regional”. 
Me parece que a experiência foi bem sucedida à medida que o conjunto de textos 
assim reunidos tornam explícitos alguns dos dilemas, das questões, dos impasses e 
das possíveis conquistas feitas a partir da adoção do que seria um recorte regional 
ou um critério regional para delimitar não apenas um dado recorte no plano da 
empiria, mas também um recorte que se pretende epistemológico ou teórico-
metodológico no campo dos estudos históricos. Esse dossiê repõe a questão sempre 
repetida quando se trata de praticar, de escrever, de delinear um perfil para o que 
seria uma “história regional”, ou seja, afinal qual o lugar da “história regional”? O 
que é uma “ história regional”? 
 Não surpreende que a um chamado para que se enviem artigos considerados 
de “história regional”, o corpus que se constituiu ao final tenha determinados traços, 
determinadas características que dizem muito dos dilemas e questões que esse 
campo de estudos costuma enfrentar e provocar. Não é surpreendente que o dossiê 
se caracterize pela diversidade temática, pela dispersão temporal e espacial, pela 
multiplicidade de enfoques e propostas de análise. Isso deixa patente que o conceito 
de “história regional” é bastante impreciso, que é um conceito que dá margem há 
Apresentação ao dossiê: Qual o lugar da história 
regional? 
Autor convidado
Enviado em 
25/11/2016
http://www.ichs2.ufop.br/cadernosdehistoria/ojs/index.php/cadernosdehistoria/index
9
diversas leituras, que é um conceito incapaz de delimitar claramente um campo de 
estudos ou uma dada postura teórica ou metodológica no campo da historiografia. 
Não é de estranhar, portanto, que, num dossiê como esse, esteja presente um artigo 
que busca mais uma vez discutir o próprio conceito de região e as implicações 
de sua utilização nos estudos históricos. A pouca precisão heurística oferecida 
pelo uso da noção de região aparece de forma clara no corpus composto por esse 
dossiê. A falta de clareza sobre o que define o que seria o regional, a diversidade de 
critérios que podem ser aventados para justificar e legitimar o recorte de uma dada 
regionalidade faz da chamada “história regional” um campo quase sempre amorfo, 
de difícil delimitação e fundamentação teórica e metodológica. 
 Como é comum os artigos oscilam entre duas posturas bastante distintas 
quando se trata de delimitar e definir o que seria a região, o regional com o qual 
trabalham. Alguns tomam a região como um espaço dado, como um espaço definido 
a partir de sua condição de um recorte político-administrativo inferior e interior 
ao recorte nacional. A região pode ser, assim, tanto o espaço correspondente a 
uma província do Império brasileiro, como um estado da República, ou um espaço 
municipal. Nessa forma de conceber o que seria a região vem se explicitar uma das 
mais questionáveis posturas e um dos mais problemáticos procedimentos daqueles 
que se colocam como “historiadores regionais” ou do “regional”: a “história 
regional” tende a reproduzir uma divisão nacional do trabalho historiográfico em 
que os historiadores dos estados e espaços considerados centrais no país fazem 
a “história nacional” e os historiadores dos estados e espaços considerados 
periféricos fazem a “história regional”. No dossiê que se segue de surpreendente 
mesmo só o artigo que trata a cidade de São Paulo como um espaço regional, já 
que esse espaço, junto com o do Rio de Janeiro, costumam ser tomados como 
espaços privilegiados da “história nacional”. Os demais artigos confirmam a regra: 
sempre que se fala em “história regional” essa se passa nos espaços que foram 
historicamentesubordinados econômica e politicamente no processo de construção 
da nação e do sistema econômico capitalista no país, ou seja, o Nordeste (região 
que emergiu nesse processo), o Sul e o Norte do país. 
 A naturalização das divisões regionais, definidas, quase sempre, a partir 
de recortes político-administrativos, muitas vezes não pertinentes ou relevantes 
para a temática que está sendo tratada, leva a que se cometa, de forma recorrente, 
anacronismos, ao remeter para dadas épocas delimitações espaciais que não 
estavam nela presentes. Embora encontrem na documentação outros conceitos 
espaciais, outras denominações e recortes de espaços, muitas vezes, os ditos 
Apresentação ao dossiê: História Regional
Revista Eletrônica Cadernos de História, ano 10, n.° 1, junho de 2015.
10
“historiadores regionais”, como trabalham com uma delimitação espacial prévia, 
como a região ou o regional é um parti pris de suas análises, não conseguem 
sequer perceber que a região a que fazem referência não se encontra presente nas 
fontes trabalhadas. Ao invés de conferir historicidade as categorias espaciais com 
que trabalham, obrigação primeira de um historiador, terminam por naturalizar 
e hipostasiar categorias espaciais que tiveram emergência histórica em um dado 
momento histórico preciso. Essa atitude é recorrente em relação ao conceito de 
Nordeste, ao recorte regional nordestino, que é, sem pejo, atirado para o período 
colonial, é remetido para o período monárquico quando só passou historicamente 
a existir no início do século XX. 
 Essa segunda postura, a de atentar para a historicidade das categorias 
espaciais que utiliza, é bem mais rara entre aqueles que dizem praticar uma “história 
regional”. A própria noção de região deve merecer uma abordagem histórica pois 
ela adquiriu distintos significados ao longo do tempo. Fruto, quase sempre, de 
embates políticos os recortes regionais adquirem significados cambiantes a medida 
que são investidos de sentidos políticos distintos, que são construídos através de 
símbolos, discursos, práticas políticas e de significação. Tomar a região como um 
mero cenário, como um recorte espacial prévio, onde apenas acontece a história, 
onde apenas se desenrola um dado processo histórico que não tem nenhuma 
repercussão sobre a própria elaboração mesma da ideia de região é continuar 
pensando o espaço como algo estático, como um a priori da experiência humana, 
como algo que não é fabricado e produzido pelas relações sociais, econômicas 
e políticas. Tomar o espaço para apenas situar o seu objeto sem que ele seja um 
elemento que faça parte da própria trama histórica é repor uma visão naturalizada 
do que seriam os espaços. Pensar que uma história é “regional” apenas porque 
acontece em uma dada região, definida a priori e que lhe serve apenas de cenário é 
negligenciar aquilo que faz uma história ser efetivamente “regional”, ou seja, a sua 
capacidade de dar historicidade, de tratar historicamente como um dado recorte 
regional emergiu, como uma dada região surgiu historicamente, de analisar como, 
por que e em que condições um dado recorte regional foi recortado, elaborado, 
legitimado em dado momento histórico. Para mim só há lugar para a “história 
regional” quando é a própria noção de região que está implicada num processo 
de historicização, quando um dado recorte regional está sendo recolocado em sua 
historicidade. Um dos artigos do dossiê deixa claro como o debate em torno do 
conceito de região, mas, acima de tudo, a abordagem histórica dos processos de 
formação, constituição e diferenciação dos espaços regionais é a tarefa de qualquer 
Durval Muniz
http://www.ichs2.ufop.br/cadernosdehistoria/ojs/index.php/cadernosdehistoria/index
11
grupo de historiadores que queira dar consistência epistemológica ao campo da 
chamada “história regional”. 
 O dossiê que vocês irão ler a seguir, composto de artigos de bom nível 
acadêmico, marcados pela diversidade de temas, abordagens e localização espacial, 
tem o mérito, entre outros, de repor a discussão acerca da própria legitimidade do 
campo de estudos de “história regional”. Numa época marcada pela globalização, 
em que alguns historiadores propõem a prática de uma “história-mundo”, uma 
história que abarque grandes recortes espaciais, qual o lugar existente para os 
estudos regionais? Qual a relevância, qual a pertinência dos estudos regionais? 
Para um historiador como Marc Bloch, os estudos regionais, como ele definia e 
praticava, nunca significaram o isolamento do regional em relação a processos 
mais globais, nunca significaram tomar uma região como um dado prévio, mas 
tratá-las historicamente em seu processo de invenção, de formação, na relação 
com o nacional e o internacional, sem que se negligenciasse, costume entre os 
historiadores, sequer as dimensões físicas, as dimensões ditas naturais dos espaços. 
Muitos estudos ditos “regionais” sequer se preocupam em delimitar fisicamente o 
que estão chamando de região, sequer se dedicam ao relato daquilo que seria a sua 
paisagem, conforme permita a documentação. A região termina por se resumir a 
seu nome, à sua designação, que serve para localizar espacialmente o objeto, mas 
nada mais é dito sobre esse espaço, ele não é descrito ou configurado em seus 
múltiplos aspectos. 
 Espero que esse número da Revista Eletrônica Cadernos de História possa 
relocar essas questões em debate, possa reacender a problematização do que seja 
realizar uma “história regional”. Mais do que oferecer certezas ou soluções para 
qualquer problema ou questão, um periódico científico deve se configurar em 
matéria para discussão e questionamento. Acolhemos, como organizador do dossiê 
desse número da revista, artigos de bom nível científico, sem que estejam isentos, 
no entanto, de figurarem entre aqueles que recaem em alguns dos problemas que 
foram aqui apontados. Creio que eles servem assim de material para reflexão e 
para o tratamento dessas e de outras questões afeitas ao campo historiográfico e, 
mais particularmente, ao campo que se denomina de “história regional”. 
Apresentação ao dossiê: História Regional
Revista Eletrônica Cadernos de História, ano 10, n.° 1, junho de 2015.
dossiê 
15
André Fernandes Passos
andrefpassos@msn.com
Resumo
Esse artigo visa colaborar com a questão demográfica do comércio negreiro em 
Santa Catarina, especialmente o que seguia até a praça mercantil de Laguna. 
Analisando o livro de registro de batismos de escravos da paróquia de Santo 
Antonio dos Anjos de Laguna e os registros dos códices de polícia e despachos de 
escravos da Corte pretende-se analisar a conjuntura 1809-1830, época de maior 
desembarque de africanos novos em Santa Catarina. Dessa maneira, procurou-se 
comparar a entrada de africanos novos em Laguna com as entradas de africanos 
novos em outras freguesias voltadas para o abastecimento interno para compreender 
as flutuações dos desembarques de cativos em Laguna; e a partir das características 
dos escravos, compreender as rotas de abastecimento interno do comércio negreiro.
Palavras-Chave
Tráfico de escravos; Economia de Abastecimento; Laguna.
Abstract
This article aims to collaborate with the demographics of the slave trade in Santa 
Catarina, especially that followed to the Market Square of Laguna. Analyzing the 
book of baptisms of slaves from Santo Antonio dos Anjos de Laguna and records 
found in police codices and the slave orders of captives who left the Court, it is 
intended to analyze the conjuncture 1809-1830, season was the highest landing 
Africans in Santa Catarina. In this way, an attempt here to compare the Africans 
input in Laguna with other parishes members of the internal supply, understanding 
the fluctuations of the slave landings in Laguna; and from the characteristics of 
slaves, understand the internal supply routes of the slave trade.
Key-Words
Slave trade; Supply economy; Laguna .
A demografia do comércio de escravos em Santa 
Catarina: a praça mercantilde Laguna e o comércio 
negreiro de cabotagem, primeiras décadas do século 
XIX.
Enviado em: 
26/05/2015
Aprovado em: 
02/06/2016
Revista Eletrônica Cadernos de História, ano 10, n.° 1, junho de 2015
16
Introdução:
O comércio de cabotagem que partia do Rio de Janeiro em direção ao sudeste/
sul da colônia se tornou objeto de estudos por autores que passaram a deslocar o 
foco das exportações e mirar no crescente mercado interno que se desenvolveu no 
interior da colônia na virada do século XVIII para o XIX, excepcionalmente através 
da redistribuição dos cativos adquiridos no continente africano por mercadores 
cariocas no mercado interno. (FRAGOSO, 1998; FRAGOSO & FLORENTINO, 
2001) Tal perspectiva de análise considerou o comércio de escravos como essencial 
para se entender os aspectos econômicos e sociais do Brasil durante o Brasil 
colônia e império. 
João Fragoso e Manolo Florentino procuraram demonstrar que a economia 
colonial possuía uma dinâmica interna que lhe era própria, o que a tornava não tão 
dependente assim das conjunturas internacionais e passaram a questionar então 
os primeiros modelos interpretativos da Historia Econômica do Brasil dados por 
Caio Prado, Celso Furtado e Fernando Novais, os quais juntos insistiam no caráter 
excessivo do “pacto-colonial” e na impossibilidade de se arregimentar fortunas 
locais antes da abertura dos portos para as Nações Amigas em 1809. (FRAGOSO, 
1998: 57-78; FRAGOSO & FLORENTINO, 2001: 23-59).
Considerando o comércio de escravos como o circuito interno de acumulação 
endógena que mais mobilizava recursos e consequentemente de onde se auferiam 
os maiores lucros, os defensores do “arcaísmo como projeto” passaram a considerar 
os mercadores de grosso trato (aqueles que se ocupavam em repor a mão de obra 
escrava via comércio transatlântico) como o topo da hierarquia econômico e social 
existente nessa sociedade. Nesse sentido, esses autores demonstraram também que 
aqueles que pertenciam à elite mercantil, faziam-se senhores de terras, de imóveis 
e de homens a partir da acumulação de capital advinda da mercancia. O tema 
proposto por esses autores influenciou novas pesquisas no interior de programas 
de pós-graduação de diferentes universidades (RIBEIRO, 2005; BERUTE, 2006) 
e serviram como aporte teórico e metodológico para o estudo da redistribuição do 
comércio de escravos através da navegação de cabotagem.
De acordo com os primeiros modelos interpretativos para a economia colonial 
catarinense teríamos em Santa Catarina uma área que acarretava enormes prejuízos 
em suas instalações por não se enquadrar nos modelos prepostos pelas economias 
de exportação, ou seja, teríamos neste local ausência da superexploração da mão 
de obra escrava, falta de proximidade dos grandes centros urbanos, tudo isso faria 
com que os custos inviabilizassem a superação de uma economia de subsistência, 
André Fernandes Passos
http://www.ichs2.ufop.br/cadernosdehistoria/ojs/index.php/cadernosdehistoria/index
17
inviabilizando as tentativas de colonização da área. A exceção a essa regra teria 
sido o Rio Grande pela possibilidade dos lucros com o apresamento do gado nos 
pampas. (FURTADO, 1977: 32) Desse modo, parece estar de acordo com Celso 
Furtado quando Cardoso (2000: 39) afirma que em Santa Catarina:
O preço das “peças” era muito alto e a mão de obra escrava 
tornava-se quase antieconômica nas regiões do Brasil que 
não podiam concorrer no mercado colonial de exportação. 
Economicamente não se justificaria, portanto, a utilização do 
negro na exploração das riquezas do Sul. 
Ao desconsiderar o uso da mão de obra africana em Santa Catarina, Fernando 
Henrique Cardoso contribuía de certa forma em dar ênfase à invisibilidade do 
negro na província, desconsiderando sua contribuição para a formação das 
primeiras fortunas locais, ao passo que reduzia a significância dos povos africanos 
e afrodescendentes à qualidade de mão de obra “coisificada”, que deveria servir 
mais como elemento sustentador de certo status social a quem os possuísse do que 
efetivamente viriam a contribuir para a formação das primeiras riquezas em Santa 
Catarina, na produção local voltada ao abastecimento interno, impulsionando as 
economias locais e contribuindo para um processo de formação econômica e social 
de Santa Catarina já no início do século XIX. 
Sendo assim, gostaria de enfatizar nesse artigo as possibilidades de cálculos 
que se poderia fazer para se obter alguns índices de entrada de africanos novos 
em freguesias de escassa documentação sobre o comércio de escravos, mas que 
possam se encontrar índices de batismos paroquiais de africanos novos a partir de 
1809. Para esclarecer tal questão, utilizam-se como fonte os registros de batismos 
de africanos novos de três paróquias de Santa Catarina: Lagoa, Ribeirão e Laguna. 
Ademais busquei cruzar excepcionalmente os dados referentes aos batismos da 
paróquia de Santo Antonio dos Anjos de Laguna com os encontrados nos códices 
de polícia e despachos de escravos da Corte os quais seguiam endereçados até essa 
mesma praça. Dessa maneira, procurei atentar à demografia escrava vigente em 
Laguna durante a fase de aceleração do comércio de escravos para o Brasil para 
assim compor - e até de certa forma “preencher” – a paisagem social da primeira 
metade do século XIX nessa freguesia bem como a participação de Laguna no 
mercado colonial.
As características dos escravos africanos encontrados nessa região (nação, 
idade, sexo) serviram para evidenciar algumas rotas comerciais que inseriam 
A demografia do comércio de escravos em Santa Catarina: a praça mercantil de Laguna e o comércio negreiro de cabotagem, primeiras décadas do 
século XIX. 
Revista Eletrônica Cadernos de História, ano 10, n.° 1, junho de 2015
18
Santa Catarina na economia de abastecimento da Corte e também para entender 
as características dos escravos preferidas pelos senhores. A seguir, apresento a 
demografia do comércio de escravos para a vila de Laguna, sacudindo a poeira 
dos arquivos com dados até então despercebidos e que nos ajudarão a entender um 
pouco mais sobre a presença africana nessa região.
A demografia do comércio de escravos na vila de Laguna
O comércio de escravos transferiu centenas de milhares de nativos escravizados no 
interior do continente africano. Paul Lovejoy estima que o comércio transatlântico 
de escravos espalhasse cerca de 7.438.000 (sete milhões, quatrocentos e trinta e 
oito mil) pessoas escravizadas ao longo dos séculos XVIII e XIX (LOVEJOY, 
2002: 51). Desses escravos se estima que 675.481 (seiscentos e setenta e cinco 
mil, quatrocentos e oitenta e um) foram desembarcados no Rio de Janeiro durante 
todo o transcorrer do século XVIII (CAVALCANTI, 2005: 63-65). Mas se no 
transcorrer desse século o porto do Rio de Janeiro detinha quase a metade das 
importações brasileiras, a partir de 1809 sua importância adquiriu níveis sem 
precedentes na colônia, variando entre 70% e 90% a posse das importações de 
todo o país. (FLORENTINO, 1997: 66). 
Alguns autores até tentaram estimar o volume do comércio de escravos desembarcados 
no Rio de Janeiro desde o início do século XIX até a sua respectiva proibição em 
1831(FLORENTINO, 1997: 44-50). Mas de acordo com o método e as fontes 
empregadas por cada autor, obviamente que chegaram a conclusões diferentes. Entre 
todos esses estudos os números parecem estar de acordo quando se aproximam da 
casa de 500.000 (quinhentos mil) africanos o numero de despachados neste século, 
considerando que o tráfico ilegal pode desembarcar ainda outros 57.800 africanos 
a partir de 1831. Entre essas estimativas, Manolo Florentino especula que o porto 
do Rio de Janeiro recebeu entre os anos de 1790 e 1830 o equivalente a 697.945 
(seiscentos e noventa e sete mil, novecentos e quarenta e cinco) africanos novos. 
Suas estimativas têm como fonte as entradas de navios negreiros provenientes da 
África as quais foram registradas em periódicos locais. Considerando as médias 
anuais dessas entradase cruzando-as com alguns outros registros navais o autor 
subdividiu o período em três partes, por achar momentos importantes e distintos 
que possibilitaram rupturas no comércio de escravos transatlântico para o Rio de 
Janeiro. São esses momentos: 1) O período que procede a abertura dos portos para 
as Nações Amigas em 1809. 2) O período posterior a 1826, quando as expectativas 
pelo o fim do tráfico ganhavam ânimo com o reconhecimento da independência 
André Fernandes Passos
http://www.ichs2.ufop.br/cadernosdehistoria/ojs/index.php/cadernosdehistoria/index
19
brasileira pela Grã-Bretanha que condicionava para a sansão do ato a abolição 
do tráfico de escravos pelo Atlântico. 3) A própria Lei Feijó, promulgada em 07 
de novembro de 1831, que passava a considerar a importação de escravos para o 
Brasil como atividade ilegal. Sendo assim, “vislumbrando o fim do tráfico, mas ao 
mesmo tempo, demonstrando grande capacidade de arregimentação de recursos, 
as elites escravocratas do Sudeste passaram à compra desenfreada de africanos.” 
(FLORENTINO, 1997: 38). 
Acompanhando os dados de Manolo Florentino para o comércio transatlântico 
com o Rio de Janeiro, temos uma relativa estabilidade do comércio negreiro até 
1809, quando a partir desse ano o numero de entradas de navios por ano quase 
que triplica até 1811, sofrendo uma relativa queda até 1815, para então crescer 
desenfreadamente até 1825, sendo que de finais deste ano até 1830 o índice de 
escravos desembarcados no Rio atinge patamares jamais vistos na história do 
tráfico mundial. (FLORENTINO, 1997: 44-69). Considerando esses dois sinais 
indicadores do trânsito de escravos (abertura dos portos e independência) como 
fatores econômicos e políticos que desencadearam em um maior volume de 
cativos desembarcados no Brasil, Manolo Florentino afirma que na primeira 
fase de estabilidade do tráfico (até 1809) a taxa de crescimento anual para os 
desembarques de cativos no Rio de Janeiro corresponde a + 0,37% a.a. ao passo 
que a etapa subsequente (até 1825) apresenta crescimento de + 2,32% a.a. e por 
fim os últimos cinco anos restantes de legalidade do tráfico apresentaram uma taxa 
de crescimento de + 3,6% a.a. (FLORENTINO, 1997: 46). 
De acordo com os dados extraídos da Gazeta do Rio de Janeiro sobre as embarcações 
que partiram do Rio em 1812, 12% delas tinham como destino o Rio Grande do 
Sul (principal parceiro comercial do Rio de Janeiro via navegação de cabotagem) 
e 9% partiam com destino a Santa Catarina, lembrando que o principal local de 
destinos desses africanos que aportavam no Rio de Janeiro era o caminho que se 
seguia por terra até as Minas Gerais, onde na segunda metade da década de 1820 
“Minas Gerais, com sua economia voltada para o abastecimento (isto é, com a 
predominância de camponeses donos de pequenos plantéis de cativos), aparecia 
como polo de absorção de 40% a 60% dos escravos que saíam do Rio de Janeiro.” 
(FLORENTINO, 1997: 38). 
Para começar a especular a quantidade de africanos novos que podem ter adentrado 
em Santa Catarina a partir de 1809 até 1830 pode-se começar na escassez de 
dados sobre o tema pela análise dos batismos de africanos novos existentes 
em diferentes freguesias do interior do local. Foram escolhidas para analise as 
A demografia do comércio de escravos em Santa Catarina: a praça mercantil de Laguna e o comércio negreiro de cabotagem, primeiras décadas do 
século XIX. 
Revista Eletrônica Cadernos de História, ano 10, n.° 1, junho de 2015
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freguesias localizadas na Ilha de Santa Catarina, Lagoa e Ribeirão e a vila de 
Laguna, localizada no extremo sul da costa litorânea catarinense. Esses locais 
são considerados como parte integrante do comércio de abastecimento local e tal 
análise procura entender as flutuações do comércio de escravos através do registro 
de africanos novos ao longo do período analisado.
Gráfico 1. Batizados de Africanos Novos (1809 – 1830):
Fonte: Livro de Batismos de Escravos das Paróquias de Santo Antônio dos Anjos da 
Laguna, Nossa Senhora da Lapa do Ribeirão e Nossa Senhora da Lagoa da Conceição.1
Pelo gráfico acima se pode perceber que a importação de africanos novos ocorria 
em todas as freguesias de forma contínua, anualmente, e no período de 1809 – 1830 
todas as paróquias registraram alguns surtos no batizado de africanos pelo menos 
duas vezes ao longo do período analisado. A Freguesia da Lagoa, por exemplo, na 
qual se vinham batizando pouco menos de cinco escravos anualmente, batizou em 
1811 e 1813 o numero de 14 e 12 escravos respectivamente, voltando a importar 
a quantidade anterior até 1826, ano em que eleva a importação de africanos aos 
patamares do surto ocorrido na década anterior, batizando nunca menos de cinco 
escravos africanos por ano até 1830. 
Seguindo com a paróquia do Ribeirão, esta mantinha os batismos de africanos 
regularmente em cerca de até cinco escravos por ano desde 1809 até que em 1817 
batiza 35 africanos, retornando a importar a quantidade em torno de cinco africanos 
até 1822, quando no ano seguinte eleva o numero para 23 africanos importados e 
1 As transcrições dos batismos da paróquia de Nossa Senhora da Lagoa 
e de Nossa Senhora da Lapa do Ribeirão foram realizadas por Fernanda 
Zimmermann e por Maria Helena Schweitzer e integram o acervo do Laboratório 
de História Social do Trabalho e da Cultura da UFSC.
André Fernandes Passos
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a partir do ano de 1826 eleva consideravelmente a importação regular anual de 
africanos. Apesar da lacuna existente para a paróquia de Laguna entre 1818 e 1828, 
as quais não existem mais os livros de batismos, pode-se admitir um maior índice 
na elevação dos batismos no período 1811-1815, onde provavelmente por uma 
saturação do mercado, tem nos anos seguintes uma retração nos desembarques. 
Compondo o crescimento percentual anual dos batismos de africanos novos 
de acordo com a faixa de tempo sugerida por Manolo Florentino, temos então 
para cada freguesia, o valor da incidência dos batismos e consequentemente do 
aumento da população de origem africana. Tendo como base os três momentos 
de rupturas no comércio de escravos propostos por Manolo Florentino (abertura 
dos portos, independência e proibição do tráfico) os batismos foram organizados 
para que se enquadrassem nessas conjunturas. Portanto, ao analisar os batismos 
temos em todas as freguesias três momentos distintos que podemos caracterizar 
como de ruptura na navegação costeira: 1) do processo de abertura dos portos até 
o primeiro surto de africanos novos em cada freguesia; 2) do primeiro surto de 
africanos novos até 1826, data da proclamação da república e 3) da proclamação 
a Lei Feijó. Sendo assim, para a freguesia da Lagoa esse fato acarretaria a melhor 
escolha o período 1809-181. Para a freguesia do Ribeirão esse período de maior 
entrada de africanos se daria só em 1817. Já para Laguna temos um alto índice de 
desembarque a partir de 1814, mas se comparado à freguesia de Lagoa e Ribeirão, 
podemos considerar uma maior movimentação de africanos novos no interior da 
freguesia de Laguna mesmo a partir de 1811. 
Como para Laguna há um espaço de tempo de dez anos sobre os quais as fontes 
de batismos se perderam, vamos cruzar esses dados com os códices de polícia e 
despachos de cativos da Corte para compor esses desembarques na vila de Laguna. 
Suponhamos que entre o espaço geográfico de que tratam nossas fontes é o local 
desde abaixo da freguesia de Vila Nova, local onde possuía uma pequena armação 
baleeira e as freguesias de Mirim e Maruim localizadas as margens da mesma 
lagoa onde fica a cidade de Laguna, além das freguesias de Tubarão e Araranguá 
localizadas na costa litorânea de onde seguia até o rio Mapituva, fronteira com o 
Rio Grande. 
Mapa 1. A cidade de Laguna, 1864:
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Revista Eletrônica Cadernos de História, ano 10, n.° 1, junho de 2015
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TEFÉ, Antonio Luis von Hoonholtz. Planta hydrographica da Laguna. [S.l.: s.n.], 1864. 1 
mapa, pb, 59,5 x 74,5. Disponível em: http://bndigital.bn.br Acesso em: 3 jul. 2015. 
Quanto aos registros de batismos, eles referem-se à paróquia de Laguna, portanto 
a região que circuncidava a cidade ou freguesia como era chamada essa região no 
início do século XIX. Há poucos batismos de escravos que envolvem moradores 
de freguesias mais próximas nos batismos da paróquia de Nosso Senhor dos Anjos 
da Laguna. Tais africanos poderiam ser batizados em capelas próximas do lugar 
André Fernandes Passos
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http://bndigital.bn.br
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de onde deveriam exercer seus ofícios - considerando que a finalidade última da 
compra do escravo é a mão de obra e não o batismo - pode-se pensar então, que 
em locais distantes dos centros urbanos, eles fossem registrados em capelas locais, 
como o casamento de Antonio Benguela e Maria Benguela, registrado pelo Vigário 
Francisco Xavier Sá Andrade e Almeida, na capela da Fazenda da Tapera, freguesia 
do Ribeirão da Ilha de Santa Catarina2
Podemos admitir que os batismos passassem a ser registrados com maior frequência 
a partir de 1809 não somente pelo aumento dos desembarques, mas também pela 
mudança no novo quadro social onde teremos uma crescente da população de 
origem africana, sendo necessário também aos olhos dos senhores possuírem certo 
registro do mando que exerciam sobre seus escravos frente ao aumento dessa 
população. Dessa maneira, a pia batismal não era só o local de arranjar os padrinhos 
para confortar a chegada do africano novo, mas também o local de registrar uma 
determinada legalidade sobre a posse cativa.
Gráfico 2. Batismos, despachos e estimativas de desembarque 
de africanos novos na vila de Laguna (1809-1831):
Fonte: Diocese de Tubarão. Livro de registro de batismos da paróquia de Santo Antonio dos Anjos 
de Laguna: 1790-1818 e 1828 – 1838. Códice 390: Receita dos direitos de despacho de escravos 
para os portos do Sul (1815-1826), volumes 1, 2, 3, 4, 5 e 6. Códice 411: Termos de fiança, ajuste, 
obrigação, lanço, etc. (1822-1834), volumes: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10 11, 12, 13 e 19. Códice 421: 
Passaportes: registro de pessoas que partem ou despacham escravos. (1829-1832). Volumes: 1, 2, 
9 e 18. Códice 424: Lançamento de atestados e remessa de escravos para várias localidades (1826-
1833), volumes 1, 2, 3, 4, 5, 8 e 9. Códice 425: Passaportes: registros de pessoas que partem ou 
despacham escravos (1822-1833), volume: 1.
2 (AHESC) Arquivo Histórico Eclesiástico de Santa Catarina. Livro de 
Batismos de escravos da Paróquia de Nossa Senhora da Lapa do Ribeirão. (1807-
1852) p. 31.
A demografia do comércio de escravos em Santa Catarina: a praça mercantil de Laguna e o comércio negreiro de cabotagem, primeiras décadas do 
século XIX. 
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Através do gráfico acima podemos perceber que os despachos até Laguna, quando 
comparado com os batismos, não se igualam diretamente no mesmo numero de 
africanos. Isto se deve ao fato de que poderia haver eventuais baixas durante o 
trajeto de redistribuição dos escravos, lembrando que a navegação de cabotagem 
ceifava em média a vida de mais de 11% da escravaria despachada (MELLO, 
1983: 172-173), ainda que os africanos remetidos até Laguna poderiam ainda ser 
negociados durante a viagem em algum outro porto em troca de abastecimento da 
nau negreira ou serem batizados nas próprias freguesias do interior de Laguna. 
Para calcular a porcentagem do desembarque anual de escravos nessas freguesias, 
pode-se de acordo com o período de tempo, pensar alguns métodos para analise. 
Com os limites e a escassez de fontes para se efetivar o registro de entrada 
desses cativos no interior da colônia e posteriormente império do Brasil, podem-
se iniciar os cálculos para a obtenção do índice de entrada de africanos novos 
tendo como base a chega desses africanos desde 1809 até o primeiro surto de 
entrada de africanos como vimos anteriormente, e a partir daí, seguir ao marco de 
independência de 1826, quando as sucessivas entradas de africanos novos passam 
a serem regularmente de maior volume e menos oscilantes para todo o império 
aparentemente. Por exemplo: a freguesia do Ribeirão, a partir do inicio de 1817 até 
finais de 1825 incorpora + 20,33% a.a. de cativos do que vinha batizando desde o 
inicio de 1809 até finais de 1816. Já para o ano de 1826-1830 a taxa de crescimento 
anual se reduz a + 7,73% a.a., mas batizando bem mais escravos regularmente do 
que o período que antecede o primeiro surto de africanos em 1817.
Para calcular tal índice para a freguesia de Laguna é um pouco mais complicado, 
pois as fontes nos fogem quando precisamos de dados acerca de determinado 
ano, apresentando certos limites para a formação de um cálculo mais conciso. As 
próprias fontes com quais trabalhamos são uma antítese: enquanto os batismos 
podem registrar somente alguns dos locais da freguesia, as remessas de cativos 
podem nos indicar o volume destinado a uma região maior que a freguesia, que 
seria a vila de Laguna. Mas ao mesmo tempo, os dados referentes aos despachos 
de cativos da Corte estão condicionados a algumas variáveis como vimos. Então 
mesmo sabendo do risco de tais armadilhas, vamos calcular o índice com base nos 
dados que nos estão propostos, sem alterar os valores de batismos para mais com 
base no índice de despacho. 
Para Laguna, o período 1811-1825 coincide, quando comparado com outras 
freguesias, como o período de maior entrada de africanos novos para Santa 
André Fernandes Passos
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25
Catarina. Mas considerando apenas o primeiro surto de africanos que ocorreu no 
interior da própria freguesia, pode-se considerar como o primeiro surto de africanos 
que ocorreu na própria freguesia como sendo nos anos que seguem 1814. Sendo 
assim, entre 1814 e 1825 o índice de entrada de africanos em Laguna comparado 
com o período anterior é de + 31,54% a.a, onde o período 1826-1831 segue-se 
a um índice de + 2,5% a.a. Portanto, podemos afirmar que a maior parte dos 
africanos reconduzidos até Santa Catarina foram despachados, sobretudo, a partir 
do processo de abertura dos portos, nos anos entre 1811 e 1826 e apesar de que a 
partir de 1826 tenha crescido em Santa Catarina o numero do desembarque médio 
anual de cativos em relação ao período que corresponde de 1809 até o primeiro 
surto de batismo da freguesia, o maior numero de africanos desembarcados na 
província de Santa Catarina ocorreu mesmo entre os anos de 1811 e 1824. 
Tabela 1. Distribuição anual de escravos enviados a Santa Catarina (1809 – 1832), 
por códices de despacho:
Anos Cód. 390 Cód. 411 Cód. 421 Cód. 424 Cód. 425 Total
1809 - - 36 - - 36
1811 - - 62 - - 62
1815 1 - - - - 1
1816 26 - - - - 26
1817 24 - - - - 24
1818 12 - - - - 12
1819 27 - - - - 27
1820 43 - - - - 43
1821 19 - - - - 19
1822 282 6 30 - - 318
1823 395 4 160 - - 559
1824 350 24 169 290 29 572
1825 - 9 - - - 9
1826 381 7 - 83 - 471
1827 - 21 - 79 - 100
1828 - 1 - 52 - 53
1829 - 3 - 83 - 86
1830 - 1 - 98 - 99
1831 - 1 - 7 - 8
1832 - 2 - 11 - 13
1833 - - - 1 - 1
Total 1560 79 457 414 29 2539
Fonte: Códice 390: Receita dos direitos de despacho de escravos para os portos do Sul (1815-1826), 
volumes 1, 2, 3, 4, 5 e 6. Códice 411: Termos de fiança, ajuste, obrigação, lanço, etc. (1822-1834), 
volumes: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10 11, 12, 13 e 19. Códice 421: Passaportes: registro de pessoas 
que partem ou despacham escravos. (1829-1832). Volumes: 1, 2, 9 e 18. Códice 424: Lançamento 
de atestados e remessa de escravos para várias localidades (1826-1833), volumes 1, 2, 3, 4, 5, 8 e 
9. Códice 425: Passaportes: registros de pessoas que partem ou despachamescravos (1822-1833), 
volume: 1.
Feitos os cálculos para a importação de africanos novos para a vila de Laguna, pode-
se agora tentar completar os anos que nos faltam para enfim compor a demografia 
do tráfico de escravos que partia em direção a esta vila durante a fase de aceleração 
do comércio de escravos para Santa Catarina. Para compor os anos que restavam 
A demografia do comércio de escravos em Santa Catarina: a praça mercantil de Laguna e o comércio negreiro de cabotagem, primeiras décadas do 
século XIX. 
Revista Eletrônica Cadernos de História, ano 10, n.° 1, junho de 2015
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(1819 e 1820) utilizamos o coeficiente de + 31,54% a.a. de entrada de africanos 
novos na vila de Laguna. Para os anos 1825 e 1826, utilizamos o coeficiente de + 
2,5%, índice que obtivemos de entrada anual de africanos a partir de 1825. Como 
a partir de 1825 as importações de africanos já estão em todas as freguesias em 
declínio em relação ao período antecedente (1824-1809), opta-se neste caso por 
fazer o caminho inverno para obter estimativa dos anos 1825 e 1826, partindo do 
total de cativos que encontramos em 1826 e contabilizando - 2,5% para o período 
antecessor e somando 2,5% para o período que o procede. Assim concluímos ter 
chegado até Laguna, na fase de aceleração do comércio de escravos para Santa 
Catarina (1809 – 1830) um total de 799 escravos de origem africana.
Pari passu, precisa-se compor a paisagem populacional da vila de Laguna para 
traçar o impacto do comércio de escravos na população local. Utilizaremos como 
ponto de partida o relato de Paulo Miguel José de Brito, ajudante de ordens do 
governo da capitania de Santa Catarina. Segundo Brito, (1829: 44) em 1816:
A Villa de Laguna e seu terreno contêm huma população de 
5.983 almas; a saber: homens brancos 2.251, mulheres 2.669; 
libertos de cor, de ambos os sexos, 86; escravos, homens 887, 
mulheres 490.
O primeiro problema para o relato acima consiste em que de acordo com as 
informações de Paulo Miguel de Brito, somando-se suas contas, teríamos um 
total de 6.383 habitantes e não 5.983. Pode ser que houve efetivamente erro 
de digitação da obra original, erro contábil ou até mesmo que o significado de 
“almas” estivesse restrito a alguma exigência quanto à fé católica; mas o fato 
é que 400 almas parecem penar ao calcular-se o total de pessoas moradoras na 
vila de Laguna. Para a freguesia do Ribeirão, seguindo com o mesmo exemplo, o 
numero diverge em apenas quatro “almas”. Já para a freguesia da Lagoa os dados 
populacionais correspondem à soma de 2.430 habitantes/almas. Mas na falta de 
maior especificação do erro acometido, ou melhor, dos limites da fonte, optei 
por fazer o calculo baseado na soma dos números em separados, e não sobre o 
cálculo chegado pelo autor. O segundo problema ao analisar os relatos de época 
baseado em dados censitários é que muitas pessoas podiam evitar os recenseadores 
temendo recrutamento forçado para períodos de guerra. Confundindo a presença 
do recenseador com a do recrutador algumas famílias poderiam até mesmo omitir 
algum ou outro indivíduo. 
De qualquer maneira, temos assim registrado em 1816 na vila de Laguna 
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uma população escrava que perfazia 21,57% do total da população local. Mas 
essa população de origem africana, como está sendo demonstrado, não tinha 
quantitativamente alcançado seu clímax. Ainda que se possa considerar que Paulo 
Miguel José de Brito tenha somado em suas contas os escravos que chegaram 
até finais de 1815, tem-se assim, um total de pelo menos mais 644 escravos de 
origem africana que entrariam até 1831. Considerando apenas uma década (até 
1825) em vista de manter o máximo possível inalterado o numero informado 
por Brito, desconsiderando o numero de nascimento de crioulos, luso-brasileiros 
e de possíveis novos imigrantes, podemos ter para Laguna no ano de 1826 um 
total de cerca de 30% da população como de origem africana, admitindo que a 
grande maioria dos escravos despachados da Corte até 1826 até o porto de Laguna 
permanecesse nas imediações do local. 
Gustavo Marangoni Costa, ao analisar os aspectos que antecederam a República 
Juliana (incluindo aí sua população) observou as proporções entre os extratos 
sociais de Laguna, que por vezes se confunde na documentação ao deixar de 
especificar se nos estão remetendo à cidade/freguesia ou à vila. Dessa maneira, 
com base em um senso de 1833, observa que nesse momento, Laguna contava 
com uma população escrava que perfazia 21,35% de sua população. (COSTA, 
2006: 16). Interessante notar que o numero de livres de cor passa de 86 escravos 
em 1816 para 346 no ano de 1823, ou seja, cresce o numero de libertos em 174% 
ao passo que a população livre cresce 43,64% no respectivo espaço de tempo. 
Pode ser que o índice de alforrias, a redistribuição dos cativos para outros locais 
e a imigração de pessoas livres mantivesse a população escrava em pouco mais 
de 20% da população total na vila de Laguna, ao passo que a descendência de 
indivíduos de origem africana e a incorporação de africanos novos na sociedade 
local passavam a aumentar.
As conexões mercantis e a origem dos africanos em Laguna
Seguindo com o propósito de analisar a demografia do comércio de escravos para a 
vila de Laguna, passam-se agora às rotas do comércio de escravos e à composição 
étnica da população africana.
Com relação às rotas utilizadas por esses mercadores pode-se afirmar que poucos 
foram os registros guardados de viagens transatlânticas que retornaram com 
escravos e que diretamente foram despachados em Santa Catarina. O caso do navio 
Boa Armonia (FLORENTINO, 1997: 79) e o do bergantim Nova Aventura são 
raros exemplos dessa rota comercial pouco explorada. Nova Aventura, comandado 
A demografia do comércio de escravos em Santa Catarina: a praça mercantil de Laguna e o comércio negreiro de cabotagem, primeiras décadas do 
século XIX. 
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pelo capitão Domingos Manoel Rodrigues Maia partiu do Rio de Janeiro em 08 de 
março de 1823 aportando primeiro em Benguela na África Central. Tal rota sugere, 
primeiramente, a existência de uma relação estreita dos mercadores das praças de 
Desterro e Laguna com os mercadores e donos de naus cariocas.
 Podemos imaginar que por essa rota comercial haveria a possibilidade, mesmo 
que remotas, de adiantamentos por parte de mercadores locais, que procuravam 
melhores preços financiando uma nau suficientemente grande que partia da Corte. 
Em seguida, podemos pensar que as mortalidades dos africanos na travessia 
atlântica eram frequentes e por causa delas alguns navios chegavam a perder até 
34% de seus escravos. (FLORENTINO, 1997: 144). O descobrimento de novas 
rotas que pudessem minimizar a quantidade de africanos perdidas nas longas 
travessias, poderia de imediato reduzir as mortalidades dos cativos durante a 
viagem em que uma grande quantidade desses escravos já estaria consignada ou 
comprometida com mercadores em Santa Catarina, fato que talvez tenha feito os 
capitães de navios e sua tripulação a garantirem a menor perda de vidas nessa 
longa viagem entre os dois continentes e a mudar a posição de suas velas e as 
rotinas de suas viagens negreiras no ultramar. Na África, o capitão Domingos 
Manoel Rodrigues Maia embarcou 390 escravos dos quais chegaram vivos 353, ou 
seja, sua carga desembarcou em Santa Catarina com 90,51% de seu investimento 
realizado em cativos.3 
O mais comum para o comércio de abastecimento de escravos em Santa Catarina 
era mesmo o comercio bilateral com o Rio de Janeiro envolvendo quase sempre 
mercadores situados em ambas às praças. No Rio de Janeiro o comerciante se dirigia 
ao porto toda vez que uma nau negreira chegava. Ofertados os respectivos cativos, 
ou recebidos os seus encomendados, a etapa seguinte se daria na redistribuição 
desses cativos no interior da própria colôniade acordo com a praça de atuação 
de cada comerciante, já que o mercado do século XIX não estava dominado pelo 
mercador especializado em determinado segmento de mercado (escravos, farinha, 
açúcar, etc.), mas sim por aquele especializado no comércio com determinada 
região (Portos do Sul, Rio Grande, Santa Catarina, etc.) (FRAGOSO, 1998: 207).
Analisando as rotas transatlânticas dos navios que aportavam no Rio de Janeiro 
entre os anos 1796-1830 Manolo Florentino observa que havia basicamente três 
macrorregiões de compra dos sujeitos escravizados na África: Ocidental, Oriental 
3 IHGB: Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (Rio de Janeiro, Brasil) Lata 82, pasta 
1, Vários ofícios sobre negócios do reino de Angola (1797-1828). Disponível em: http://www.
slavevoyages.org/tast/database. Acesso em: 26/05/2015.
André Fernandes Passos
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e Central Atlântica. A participação da África Ocidental já pequena entre 1796-1811 
correspondendo a 3% do total decresce em termos relativos até desaparecer por 
completo depois de 1816. Segundo o autor, todos os cativos provenientes dessa 
região batizados no Rio de Janeiro posteriormente a 1816 foram adquiridos via a 
província da Bahia, a qual sempre manteve um comércio intenso com essa região. 
A África Oriental se consolidou como grande fonte abastecedora do porto do Rio de 
Janeiro depois de 1811. De apenas quinze expedições a Moçambique entre 1795-
1811 passou-se para 235 a partir desse último ano. Nesse processo de consolidação 
dos portos da África Oriental como fonte abastecedora de escravos do Atlântico, 
consolidou-se a posição de Moçambique e dos portos ao sul, em especial o de 
Quilimane, os quais juntos exportaram 93% dos escravos provenientes dessa região. 
Partia da África Central Atlântica a grande maioria dos negreiros que aportavam 
no Rio de Janeiro, oito em cada dez navios aportados, considerando todo o período 
de 1795-1830. As maiores fontes foram os portos de Congo, Angola e Benguela 
até 1811, e a partir de então, portos da região setentrional como Cabinda passaram 
a deter mais de 50% dos cativos provenientes dessa região. (FLORENTINO, 1997: 
72-82).
Voltando nossa atenção para os africanos batizados na freguesia de Laguna e 
agora passando a compor o quadro referente ao lugar de origem dos africanos 
novos batizados na paróquia de Santo Antonio dos Anjos, considerando apenas os 
locais nos quais conseguimos identificar a procedência enquanto nações situadas 
na África Oriental, Ocidental, e Central Atlântica, sendo assim 271 batismos dos 
308 existentes, pode-se perceber que à África Ocidental perfizeram-se 6% dos 
batizados e todos foram classificados através do termo “mina”, sendo considerados 
assim os africanos que tinham como ponto de embarque da travessia transatlântica 
a região denominada como “Costa da Mina”. 
Mas se o Rio de Janeiro obtinha índices cada vez menores de desembarque de 
cativos provenientes dessa região a partir de viagens transatlânticas, como poderiam 
aumentar o numero desses cativos na vila de Laguna? Pode-se até considerar o 
incremento de alguma outra rota existente entre Santa Catarina e a África em 
decorrência da abertura dos portos, mas o que se pode acreditar é que haveria 
de ter algum fluxo interno de redistribuição desses cativos que não exatamente 
fosse o comércio existente entre África – Rio de Janeiro – Santa Catarina. Pode 
ser possível que em alguns momentos tivéssemos algumas rotas comerciais 
extraordinárias até a Bahia, local onde estes escravos eram majoritários, ou mesmo 
comerciantes cariocas encontrando escravos nessa província e redistribuindo-os 
A demografia do comércio de escravos em Santa Catarina: a praça mercantil de Laguna e o comércio negreiro de cabotagem, primeiras décadas do 
século XIX. 
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ao sul. Chegados a uma nova localidade, esses cativos poderiam ser inclusive 
rebatizados para que lhe fosse assegurado algum registro de sua posse.
Da África Oriental, mais precisamente de Moçambique e do Quelimane, provinha 
13% dos cativos que foram batizados em Laguna e seus batismos tornaram-se mais 
frequentes a partir de 1809. Na verdade o numero de cativos proveniente dessa 
região a partir da abertura dos portos é de 74% maior do que nos anos subsequentes. 
A grande maioria dos escravos encontrados sendo batizados na paróquia de Santo 
Antonio dos Anjos de Laguna foram os de nação Congo, os quais representaram 
juntos 43% dos escravos batizados. Os escravos provenientes da África Central 
Atlântica somaram-se todos 80% dos africanos batizados. Os escravos tidos 
como “Costa” não se sabe informar se eram provenientes da Costa da Mina ou da 
Costa da Guiné e por isso não compõem a base de dados quando distinguimos as 
principais macrorregiões do comércio de escravos na África.
 
Tabela 2. Nações dos africanos batizados em Laguna (1794-1851):
Ano/Nação 1794-1808 1809-1818 1828-1830 1831-1851 Total
Angola 1 2 3 2 8
Benguela 3 5 2 2 12
Cabinda - 25 1 6 32
Cassange - 3 1 3 7
Congo - 115 4 13 132
Monjolo - 14 1 3 18
Costa - 9 9 2 20
Mina 1 13 1 2 17
Moçambique 7 11 4 5 27
Rebolo - 4 - 3 7
Outros - 6 7 10 23
S.I 1 1 3 - 5
Total 13 208 36 51 308
Fonte: Diocese de Tubarão. Livro de registro de batismos da paróquia de Santo Antonio dos Anjos 
de Laguna: 1790-1818; 1828 – 1838 e 1838 – 1851.
Compondo as características demográficas dos escravos da vila de Laguna tem-se 
que do total de africanos batizados nessa paróquia 78,6% eram homens e 21,4% 
eram mulheres o que daria uma média de 3,6 homens para cada mulher. Os mesmos 
números indicam ainda que boa parte dos africanos que desembarcaram em Laguna 
estava em idade produtiva, considerando como crianças os escravos entre 0-14 e 
adultos aqueles que possuíam 15 anos ou mais, distinção que não implica outras 
questões para além do preparo com as atividades que lhes eram atribuídas no 
período. Além de que, na falta de registros, os proprietários de escravos poderiam 
manipular a idade de sua propriedade com vistas a atribuir ao escravo um valor 
superior no mercado. Assim temos a idade dos africanos batizados como sendo de 
63,7% composta por adultos se somados os que assim foram informados.
André Fernandes Passos
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31
Tabela 3. Idade dos africanos batizados: 
Idade/Sexo Masculino Feminino
Abs % Abs %
04-14 62 20,1 18 5,9
15-30 142 46,1 35 11,4
Adulto 14 4,6 5 1,6
Moleque 7 2,3 0 0
S. I. 17 5,5 8 2,5
Total 242 78,6 66 21,4
 
Fonte: Diocese de Tubarão. Livro de registro de batismos da paróquia de Santo Antonio dos 
Anjos de Laguna: 1790-1818; 1828 – 1838 e 1838 – 1851.
Quando deixamos de lado 16,5% dos africanos os quais não foi possível identificar 
com precisão sua idade por estarem batizados segundo uma “idade descritiva” 
e não de forma numérica, passando a contar então com 257 dos 308 batismos 
existentes, observa-se que era pequena a porcentagem de escravos com menos 
de dez anos, os infantes corresponderam a 0,8% dos africanos identificados. O 
maior grupo etário correspondia aos escravos e escravas que possuíam de 14 a 30 
anos e que juntos somavam 79,3% desses mesmos batismos. Homens e mulheres 
raramente foram encontrados em equilíbrio mesmo quando de acordo com a faixa 
etária mais próxima de suas idades o que pode dificultar o crescimento natural da 
população escrava. 
Os dados até aqui analisados possibilitaram o avanço na questão da demografia 
escrava atribuída às diversas freguesias de Santa Catarina. Analisando em especial 
a região denominada como Laguna que ora se apresentanas fontes enquanto a 
denominação de uma freguesia ora como vila, percebe-se nos registros da paróquia 
de Santo Antonio dos Anjos da Laguna o deslocamento de proprietários de escravos 
de freguesias vizinhas para registrar os seus escravos, e por vezes, o deslocamento 
do vigário responsável pela paróquia ao interior da vila em dias denominados como 
“quaresma”: época em que o vigário peregrinava as cidades vizinhas registrando 
os batismos de pessoas livres, libertas e escravos de todas as localidades sem 
acesso mais próximo a algum livro de notas. Podemos então concluir que os dados 
desta paróquia abrangiam uma região além da portuária e poderiam se estender 
para todos os moradores que habitavam a região desde o porto até o rio Mapituva, 
fronteira com o Rio Grande, onde se encerrava os limites geográficos do território 
catarinense ao lado sul, denominada toda essa região da fronteira sul catarinense 
como vila de Laguna.
Conclusão:
Considerando o período que procede a transferência da Corte para o Rio de Janeiro 
A demografia do comércio de escravos em Santa Catarina: a praça mercantil de Laguna e o comércio negreiro de cabotagem, primeiras décadas do 
século XIX. 
Revista Eletrônica Cadernos de História, ano 10, n.° 1, junho de 2015
32
e a posterior abertura dos portos em 1809 como o marco inicial de uma aceleração 
no ritmo das economias de abastecimento no interior da colônia, procurei 
demonstrar que o fato de haverem-se intensificado essas trocas comerciais já 
existentes entre Santa Catarina e o Rio de Janeiro acarretou em uma maior compra 
de cativos por parte de proprietários de escravos localizados em Laguna. Tais 
produtores investiam, sobretudo, na cultura da farinha de mandioca, milho, feijão, 
óleo de baleia, etc. Alguns ainda colocavam seus cativos para trabalhar em torno 
das regiões portuárias como escravos carregadores de mercadorias, vendedores 
ambulantes, carga e descarga, etc. (MAMIGONIAN & VIDAL, 2003).
Entre os cativos que foram despachados para a praça mercantil de Laguna, pode-
se considerar que eles poderiam não ficar próximos a região portuária onde 
eram desembarcados, mas que pudessem também seguir um caminho maior até 
o interior da própria vila. Teríamos então nas primeiras décadas do século XIX 
uma vasta rede de comerciantes que se estendia da Corte em direção as freguesias 
mais distantes do grande centro da redistribuição. Ao mesmo tempo em que os 
portos locais funcionavam como importadores de mão de obra funcionavam 
também como centro redistribuidores de mercadorias produzidas localmente para 
que chegassem até Desterro, ou para que fossem remetidos esses produtos para 
mercados até mais distantes. 
Na escassez de dados que permitam rastrear a evolução da população africana em 
Laguna e na falta de alternativa para os embaraços de muitos censos da época, 
tentei calcular a evolução dos desembarques de africanos na vila de Laguna 
mesmo sabendo dos limites que teria de enfrentar para tentar uma aproximação da 
demografia escrava em épocas de aceleração do comércio de escravos para Santa 
Catarina. De acordo com os resultados obtidos, pode-se perceber que o dinamismo 
econômico aumentava o índice da população escrava, mas que também atraiu 
inúmeras pessoas livres interessadas em ocupar as terras locais. A evolução da 
população livre em geral foi bem menor da dita liberta entre 1809 e 1831 fato que 
ajudava a manter a população escrava em torno dos 20% da população, mas que 
esta pode ter chegado ao cume de ser cerca de 30% da população em 1826.
Por último, verificamos as características dos escravos encontrados nos livros 
de registros de batismos da paróquia de Santo Antonio dos Anjos. Atentamos às 
nações dos africanos e as suas idades. Através das nações podemos evidenciar os 
principais locais de embarques desses cativos na costa do continente africano e a 
semelhança quando comparado com a população escrava do Rio de Janeiro. Esses 
dados periodizam a inserção da presença africana em Santa Catarina e revelaram 
André Fernandes Passos
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o impacto que o advento da mercancia causava sobre os aspectos demográficos da 
população em Laguna durante a primeira metade do século XIX.
Fontes impressas, manuscritas e banco de dados:
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Revista Eletrônica Cadernos de História, ano 10, n.° 1, junho de 2015
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André Fernandes Passos
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Natália A. Fontes de Carvalho R. R.
nataliaribeiro.rodrigues@yahoo.com.br
Resumo
Neste artigo são analisadas as temáticas da dominação “coronelista” e da relação 
entre “coronéis” e cangaceiros em romances sociais nordestinos brasileiros, com 
ênfase na averiguação destes elementos na obra Angústia de Graciliano Ramos. 
Os discursos acerca de tradição e modernização, associados respectivamente ao 
interior rural e à cidade, são constantes no romance da década de 1930 que se 
pretende estudar neste texto. Estas questõessão tratadas tendo em vista a conexão 
entre as esferas de saber da história e da literatura.
Palavras-Chave
Graciliano Ramos; Romance Angústia; relações “coronelistas”.
Abstract
This article analyzes the themes of political domination and the relationship 
between “colonels” and “cangaceiros” in Brazilian northeastern social novels, with 
emphasis on investigation of these elements in the novel Angústia of Graciliano 
Ramos. The discourses about “tradition” and “modernization”, respectively 
associated to the “country” (rural area) and the “city”, are constant in the novels 
of the 1930’s that are studied here. These issues are addressed considering the 
connection between the spheres of knowledge of History and Literature.
Key-Words
Graciliano Ramos; the novel Angústia; “coronelismo” as political domination
Coronelismo, cangaço e a “honra” no romance 
Angústia de Graciliano Ramos
Enviado em: 
26/05/2015
Aprovado em: 
02/06/2016
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Introdução: História, Letras e o regional
Este artigo versa sobre a terceira obra do escritor alagoano Graciliano 
Ramos, o romance Angústia, publicado em 1936. Ademais, buscar-se-á relacioná-
lo a outras crônicas e romances sociais nordestinos. O romance Angústia é narrado 
em primeira pessoa pelo protagonista Luís da Silva, um funcionário público de trinta 
e cinco anos de idade, frustrado com a carreira de escritor e com a vida amorosa. 
A trama se passa em Maceió, porém, recorrentemente, é rememorada a infância do 
personagem vivida no sertão alagoano. Ao longo da narrativa as temporalidades e 
espacialidades intercalam-se, ora se situa nos anos iniciais do século XX no sertão, 
ora em 1930 na capital alagoana. Passado e presente imbricam-se. O meio urbano 
transmuta-se em rural. Além dos planos presente e passado, Antonio Candido 
destaca uma terceira dimensão em Angústia, a dos devaneios de Luís da Silva.
 A proposta deste artigo é tecer algumas considerações acerca das memórias 
sertanejas do protagonista de Angústia. Na explanação do narrador repara-se 
uma característica comum em registros de memórias, a junção de eventos que 
não ocorreram concomitantemente. Sinha1 Germana surge xingando as escravas 
inexistentes e, poucos parágrafos adiante, já estava morta fazia um ano. A memória 
do narrador encontrava-se debilitada, assim como a de seus avós deslocados no 
tempo. Os lapsos nas memórias indicam saudosismo de uma velha ordem que 
deixou de existir. Para Luís da Silva feneceu a força e despotismo do avô que de 
certa forma lhe conferia segurança. Para a avó findou a exploração das escravas 
que lhe davam conforto. E para o avô pereceu a mulher silenciosa que cumpria 
todas suas ordens. 
Estas questões são tratadas através da conexão entre as esferas de saber da 
história e da literatura, pois se compreende a língua enquanto fenômeno histórico 
em constante processo de transformação realizada por aqueles que dela se utilizam. 
Como observou o linguista Mikhail Bakhtin: “A palavra é capaz de registrar as 
fases transitórias mais íntimas, mais efêmeras das mudanças sociais.” (BAKHTIN, 
2014:42). Deste modo, as formas como se constituem os discursos escritos 
indicam-nos sinais de determinadas épocas e experiências. A forma interposta 
de enunciações acerca de um passado e um presente no romance Angústia nos 
sugere a noção de transformação ocorrida ao longo do tempo e no espaço. Além 
da interpolação temporal há também oposição entre cidade e interior rural, tônica 
comum à literatura considerada “regionalista”. 
A temática dos costumes sertanejos na literatura é comumente designada 
por “regionalista”, esta habitual qualificação nos remete a distinção entre “centro” 
e “região”. Na concepção do historiador Raymond Williams a discriminação de 
1 Belmira Magalhães afirma sobre a grafia da palavra sinha: “Com a abolição da escravatura e o 
posterior desenvolvimento das relações de trabalho capitalistas, o termo sinhá adquire uma corruptela que 
designa as mulheres casadas, pobres, mas que merecem respeito. Para as damas da sociedade continua-
se usando o pronome de tratamento com letra maiúscula e com a tônica na última sílaba (si – nhá). Para 
as mulheres pobres, casadas e de respeito, a tonicidade está na penúltima sílaba e se escreve sempre com 
letra minúscula (sí – nha).” (MAGALHÃES, 2001:121). Esta forma de designar a personagem é mais uma 
evidência do empobrecimento da família do protagonista.
“Coronelismo”, cangaço, e a “honra” no romance Angústia de Graciliano Ramos
Revista Eletrônica Cadernos de História, ano 10, n.° 1, junho de 2015
38
literatura regional e literatura universal consiste na “expressão da dominação 
cultural centralizada”, ou seja, as obras em que as narrativas se passam em áreas 
tidas como “centrais”, em geral grandes metrópoles, atribui-se o caráter normativo 
de costumes; já as composições sobre as áreas “rurais” são identificadas como 
“exóticas”, características de determinadas “regiões” (Cf. WILLIAMS, 2014: 
299-313). A crítica literária Lígia Chiappini constatou a insuficiência de definir as 
literaturas regionalistas por obras em que haja “cor local” em oposição às obras 
universalistas, pois estes elementos estão presentes, de certa forma, em todo obra 
literária. Segundo Chiappini o que distingue as obras regionalistas das demais 
no Brasil é a resistência à homogeneização promovida pela estandardização da 
sociedade industrial do século XIX (Cf. CHIAPPINI, 1995: 153-159). 
Algumas obras e autores brasileiros foram reputados regionalistas já no 
século XIX, porém somente na década de 1930 ocorreu a descentralização da 
produção literária - até então predominante no Sudeste -, avultando o fenômeno 
da “regionalização” da literatura nacional2. Neste período, dentre outras produções 
literárias consideradas “regionalistas”, desenvolve-se o romance social nordestino3 
no qual se encontra constantemente a dicotomia litoral versus interior rural, sendo 
o interior geralmente associado à “tradição” e o meio urbano à “modernidade”. 
Alguns dos autores destes romances foram o supracitado Graciliano Ramos e 
Rachel de Queiroz, José Lins do Rego, Jorge Amado, Jorge de Lima, todos estes 
vivenciaram experiências no campo durante a infância e na fase adulta mudaram-
se para capitais. À época desta produção literária a população rural no Brasil era 
majoritária, e a migração para o meio urbano tornou-se um fenômeno comum
2 Alfredo Bosi observou que durante o século XIX José de Alencar explorou, 
dentre outros filões, o “regionalismo”, gênero também desenvolvido por Bernardo 
Guimarães, Alfredo Taunay e Franklin Távora. Porém, o marco destacado por Bosi, 
para a expansão da produção literária brasileira para além das regiões consideradas 
“centrais” é a publicação em 1928 do romance A bagaceira de José Américo. Cf. 
BOSI, 2006:140; 395. Cabe mencionar que estes marcos são apenas indicativos 
da difusão de obras produzidas fora da região Sudeste. Não se intenta restringir a 
produção literária das regiões brasileiras a apenas alguns autores situados em um 
determinado período histórico, mas registrar que esta geração de 1930 conquistou 
maior visibilidade no meio cultural nacional. 
3 Adota-se neste trabalho a noção de romance social nordestino como o 
fazem Antonio Candido, Alfredo Bosi e Luís Bueno, para especificar os romances 
produzidos no Nordeste brasileiro durante a década de 1930. CANDIDO, 2006; 
BOSI, 2006; BUENO, 2007.
Natalia Augusta Rodrigues
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devido à procura por melhores condições de vida nas cidades.4 Pode-
se observar, portanto, uma convergência entre as temáticas dos romances, as 
trajetórias dos autores, e fenômenos sociais comuns no período. 
O linguista Luís Bueno destacou que é comum ao romance de 1930 a 
presença de protagonistas “deslocados”, inadequados tanto à cidade quanto ao 
campo. Estabelece-se uma relaçãoconflitante de um não lugar ocupado pelos 
protagonistas nestas obras (Cf. BUENO, 2007). No romance Angústia é pungente 
esta inadequação do protagonista no meio social em que vivia na cidade, contudo 
as lembranças do município sertanejo - não denominado - do qual era oriundo, 
também o consternavam demasiadamente, como veremos ao longo deste texto.
O “coronel” Trajano e os “coronéis” no romance social nordestino
No romance Angústia o personagem Camilo Pereira da Silva, estimulado 
pela narrativa da aventura de Carlos Magno, devaneava com o partido de padre 
Inácio elevado à situação no quadro político estadual. O “coronel” Trajano, pai de 
Camilo, encontrava-se em estado senil, seu domínio esvaia-se junto a sua lucidez, 
em franca decadência o “coronel” desempenhava o papel de oposição política 
ao governo estadual. Durante a Primeira República o “coronel”, que galgava 
a condição de situação política, dispunha da designação de diversos cargos de 
funcionários públicos, e o investimento de verbas era direcionado a sua área de 
influência. O declínio do prestígio político repercutia na decadência material de um 
“coronel”. Na fazenda de Trajano: o cupim consumia a casa e o curral, a pecuária - 
principal atividade econômica da fazenda - encontrava-se debilitada, os agregados 
estavam reduzidos a apenas três pessoas (o capanga José Baía, Amaro vaqueiro 
4 Outros fatores que influenciaram o êxodo rural desde a década de 1920 
foram a diminuição do fluxo imigratório europeu e o emprego do trabalhador 
nacional na indústria, que passa atuar como substituto da mão de obra europeia. 
Contudo, a emigração nordestina já era uma prática constante desde o final do 
século XIX no Brasil devido à evasão por conta do jugo latifundiário, e no polígono 
das secas a flutuação climática também se constituiu enquanto um agravante. A 
migração de pessoas da região Nordeste para a Sudeste também é temática tratada 
em Angústia: “Sabia onde ficavam o Rio de Janeiro, São Paulo, Minas, lugares que 
me atraiam, que atraem a minha raça vagabunda e queimada pela seca. Resolvi 
desertar para uma dessas terras distantes.” RAMOS,1975:22.
“Coronelismo”, cangaço, e a “honra” no romance Angústia de Graciliano Ramos
Revista Eletrônica Cadernos de História, ano 10, n.° 1, junho de 2015
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e a parteira Sinha Terta5). A vitória de padre Inácio possibilitaria a retomada do 
domínio político ao grupo do “coronel” 6 e a melhoria da fazenda. Como se nota 
no fragmento a seguir.
Volto a ser criança, revejo a figura de meu avô, Trajano Pereira 
de Aquino Cavalcante e Silva, que alcancei velhíssimo. Os 
negócios na fazenda andavam mal. E meu pai, reduzido a 
Camilo Pereira da Silva, ficava dias inteiros manzanzando 
numa rede armada nos esteios do copiar, cortando palha de 
milho para cigarros, lendo o Carlos Magno, sonhando com a 
vitória do partido que padre Inácio chefiava. Dez ou doze reses, 
arrepiadas no carrapato e na varejeira, envergavam espinhaço 
e comiam mandacaru que Amaro vaqueiro cortava nos cestos. 
(RAMOS, 1975: 11- Grifos meus)
O personagem Camilo, filho do “coronel” Trajano, sonha com a vitória 
do partido de padre Inácio, como destacado no fragmento acima. Ora, se um 
personagem fantasia e anseia a ascensão política de determinado grupo, isto indigita 
que no momento este partido opõe-se ao governo vigente. A aliança entre o clã de 
Trajano e o partido do padre Inácio poderia reverter o ostracismo dos negócios da 
fazenda. O narrador após expressar o desejo de Camilo, fala do perecimento do 
gado de Trajano que já não tinha mais pasto para se alimentar. O definhamento 
do gado era um dos principais indícios materiais de que o “coronel” estava em 
derrocada, pois era o bem mais valioso no sertão. 
Não sem razão há esta associação no romance, pois se elencavam párocos 
nas juntas eleitorais. Durante a Primeira República a junta - formada por um Juiz 
5 A categoria de agregação é definida por Margarida Moura como “[...] a 
relação de morada de uma família na fazenda, implicando o desempenho de tarefas 
para o fazendeiro e a produção direta dos meios de vida para o agregado”. Moura 
admite também que esta categoria é familiar e masculina. MOURA, 1988:81. 
Apesar da definição de Moura da agregação ser masculina, admite-se no presente 
trabalho a personagem Sinha Terta enquanto agregada, pois no romance esta não é 
referida enquanto companheira de um agregado e também não é mencionada como 
criada na casa do “coronel”. A personagem é mencionada enquanto moradora da 
fazenda assim como o capanga e o vaqueiro.
6 A designação do título de “coronel” era concedida pela Guarda Nacional entre os 
anos de 1831 e 1870 aos chefes políticos locais, geralmente, os homens mais abastados dos 
municípios. Além do status conferido aos que possuíam o título de “coronel”, estes eram privados 
do encarceramento comum, caso fossem condenados em um processo criminal, possuíam largas 
funções policiais nos municípios, além de autonomia extralegal. Com a proclamação da República 
a Guarda Nacional fora extinta, no entanto, os títulos continuaram a ser empregados mesmo sem 
prerrogativas legais, e em muitos casos utilizado por chefes locais que jamais haviam possuído tal 
patente. Segundo o sociólogo Victor Nunes Leal o “coronelismo” foi um sistema de reciprocidade 
entre os chefes locais e os respectivos governos estaduais e federal. A Primeira República foi o 
período de derrocada política e material destes chefes, por isso houve a necessidade da manutenção 
de um sistema de apoio mútuo entre as esferas políticas locais, regionais e nacional (Cf. LEAL, 
2012).
Natalia Augusta Rodrigues
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de paz, uma autoridade policial e por um pároco - nomeava a composição da mesa 
eleitoral e apurava os votos. A lista de votantes era formada pela mesa eleitoral, 
esta também tinha por prática comum a fraudulência do processo. A adulteração 
das atas de votação era praxe através do voto de bico de pena que consistia em 
falsificar assinaturas de eleitores ausentes e até mesmo já mortos.7
Em Infância no conto “Padre João Inácio” o pároco de atitudes “despóticas”, 
cuidava de variolosos, chamava-se Albuquerque, e, assim como no romance 
Angústia, dirigia partido político e dizia o despropósito de que o povo era “raça 
de cachorro com porco” (RAMOS, 1975:15). Até mesmo Padre Cícero, de quem 
Padre Inácio fora condiscípulo, era mencionado pelo pároco de forma tímida, 
porque não era um Albuquerque. Pertencer a uma parentela de nome nobilitado 
além de conferir status também era um dos critérios para exercer chefia política. O 
acumulo de sobrenomes do personagem Trajano Pereira de Aquino Cavalcante e 
Silva indica-nos seu prestígio como “coronel”. Dentre os sobrenomes do “coronel” 
está o da família Cavalcante, de tão afamado domínio na região Nordeste que até 
mesmo compõe o adágio “Quem não é Cavalcante, é cavalgado”. As gerações 
descentes no romance Angústia têm os sobrenomes reduzidos, e o neto do “coronel” 
era apenas “um Luís da Silva qualquer” (RAMOS, 1975:20) com somente um 
sobrenome, e o mais popular de todos. Aos que não possuíam terras e sobrenome 
restava a subordinação aos “coronéis”.
Os “coronéis” encarnavam o papel de “benfeitores” aos quais os agregados 
submetiam-se por coação ou para serem auxiliados por medidas paternalistas. O 
acesso aos escassos recursos pelos agregados eram mediados pelo “coronel”. Esta 
mediação torna o acesso a direitos básicos como assistência médica, construção de 
escola, fornecimento de água, dentre outros serviços, enquanto “favores”. Estes 
serviços tornam-se objetos de barganha de voto. Até mesmo as eleições são feitas 
de forma a coagir os trabalhadores rurais a votarem no candidato do “coronel” – 
correndo o risco, caso não votassem, de serem expulsos da terra onde viviam e 
trabalhavam. Este tipo de coação era predominante no país, sobretudo nas áreas 
rurais8. 
A relação estabelecida entre “coronéis”

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