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Unidade III Estrutura da Libras Libras © by Editora Telesapiens Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora Telesapiens. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Libras Elton Castro Rodrigues dos Santos O AUTOR Elton Castro Rodrigues dos Santos Olá a todos! Meu nome é Elton Castro Rodrigues dos Santos, mas podem me chamar apenas de Elton Castro. Sou Bacharel em Administração (ICE) e Licenciado em Pedagogia (UFMT), Especialista em Educação Inclusiva – Libras (IFMT), Mestrado (UFMT) e Doutorado (Unesp) em Educação. Atualmente, estou no último semestre da Licenciatura em Letras Libras na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Tenho experiência docente em há mais de 17 anos na Educação e pude ministrar aulas na Educação Básica, Educação Profissionalizante, Educação Superior e Pós- Graduação. Atuei em diferentes instituições, como Secretaria Municipal de Educação (MT); Senai; UFMT; IFMT; Unemat; UAB; ICEC; Faspec. Sou apaixonado por estudar e busco sempre compartilhar o conhecimento da minha experiência de vida com aqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso fui convidado pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: INTRODUÇÃO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Configurações das mãos (CM) na Libras ...........................................10 Pronomes e Advérbios na Libras ..........................................................21 Verbos na Libras .......................................................................................... 27 Classificadores na Libras ..........................................................................31 7 UNIDADE 03 Libras 8 INTRODUÇÃO Você sabia que a Língua Brasileira de Sinais (Libras) tem gramática própria? Nesta unidade vamos iniciar os estudos sobre alguns dos aspectos gramaticais da Libras, como verbos, pronomes, advérbios e os classificadores. Nossa viagem rumo ao conhecimento sobre a Libras vai começar mostrando para você os cinco parâmetros da Libras que oferecem subsídio para analisar os sinais dessa língua. Ao longo desta unidade letiva você vai mergulhar neste universo! Libras 9 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 3. Nosso propósito é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes objetivos de aprendizagem até o término desta etapa de estudos: 1. Identificar as diferentes configurações das mãos (CM) na Libras; 2. Diferenciar os pronomes e advérbios na Libras da Língua Portuguesa; 3. Conceituar os verbos na Libras; 4. Demostrar os tipos de classificadores existentes na Libras. Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! Libras 10 Configurações das mãos (CM) na Libras INTRODUÇÃO: Ao término deste capítulo você será capaz de identificar os cincos parâmetros que compõem os sinais na Libras, formados por configuração de mãos, ponto de articulação, movimento, orientação e expressão corporal e facial. São de extrema importância para entendermos a Libras e conseguir sinalizar corretamente o que queremos. Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! Na língua portuguesa temos as palavras e na língua de sinais, os sinais, sendo esse termo “[...] utilizado para designar o mesmo que palavra ou item lexical como é nomeado nas línguas oral-auditivas”. Mas você sabe como são formados os sinais? Os sinais, segundo Klimsa e Klimsa (2011, p. 15), são estruturas que combinam com os movimentos que a pessoa realiza com as das mãos para sinalizar, “[...] com um determinado formato em um determinado lugar, que pode ser uma parte do corpo (testa, tórax, rosto etc.) ou um espaço em frente ao corpo (espaço neutro). O conjunto destas combinações é chamado de parâmetros”. Na Libras existem parâmetros que possibilitam entendermos cada sinal e sua composição na Libras. “Três são seus parâmetros principais ou maiores: a Configuração das Mãos (CM), o Movimento (M) e o Ponto de Articulação (PA); e outros constituem seus parâmetros menores: orientação de mão – (Or ou Om) e as expressões não manuais – faciais ou corporais (ENM)” PEREIRA (2010, p. 17). Inicialmente iremos apresentar a Configuração das Mãos (CM). Para Klimsa e Klimsa (2011, p. 15), as CM “[...] são formas das mãos, podendo ser datilologia (alfabeto manual) ou outras formas feitas pelas mãos. Estas formas podem ser feitas pela mão direita para os destros, esquerda para os canhotos ou por ambas”. Libras 11 Figura 1: Configuração das mãos (CM) Fonte: Elaborado pelo autor. Na tabela são apresentadas 60 configurações de mãos, mas dependendo do autor, as tabelas variam de quantidade. De acordo com Ferreira (et al, 2011, p. 37), as mãos desenvolvem um papel crucial na língua de sinais. Elas “[...] são as articuladoras dos sinais. Assim, a Configuração de Libras 12 Mão (CM) se refere às diferentes formas de posicioná-las na composição dos sinais”. Os mesmos autores explicam ainda que a “[...] execução dos sinais pode acontecer com apenas uma mão ou com as duas. Os sinais articulados com apenas uma mão são produzidos pela mão dominante, que pode ser a direita ou a esquerda, segundo a conveniência de quem os realiza” (FERREIRA et al2011, p. 37). SAIBA MAIS: Conheça mais as configurações de mãos clicando aqui. Para Klimsa e Klimsa (2011, p. 15), para realização de sinais pode- se utilizar tanto a mão direita (destro) como a mão esquerda (canhoto). Existem diferentes sinais realizados com a mesma configuração de mãos, um exemplo é a configuração em “Y”: Figura 2: Configuração em “Y” Fonte: Elaborado pelo autor. Veja outro exemplo de configurações de sinais com a configuração de mão igual, em “S”, como APRENDER/SÁBADO/LARANJA/DESODO- RANTE-SPRAY: Libras https://bit.ly/2Zjzebs 13 Figura 3: Configuração em “S” Fonte: Elaborado pelo autor. Observe que, além da configuração de mão em “S”, os sinais também contêm os movimentos de abrir e fechar, como se estivesse espremendo ou apertando algo. Basta imaginar que está espremendo uma laranja com as mãos para sair o sumo ou apertando o desodorante para sair o líquido. No caso do desodorante seria aquele de formato arredondado, com frasco de plástico. Os sinais apresentados em configuração de mão em “S”, na tabela, correspondem ao número 7, e são realizados em pontos diferentes do corpo. Isso nos remete ao segundo parâmetro da Libras: o Ponto de Articulação(PA). Ponto de articulação é o local onde o sinal é realizado no corpo ou em um espaço à frente da pessoa que sinaliza. Ferreira (et al, 2011, p. 33) esclarece que “para cada sinal existe um Ponto de Articulação (PA), isto é, o local onde ele é realizado ou iniciado. A execução dos sinais acontece no espaço que se situa diante do emissor, desde a linha da cintura até o alto da cabeça”. Silva (2015) nos apresenta dois exemplos importantes de ponto de articulação/locação: sinais iguais, sentidos diferentes e ponto de articulação diferente. Libras 14 Figura 4: Ponto de articulação/locação Fonte: Elaborado pelo autor. Nos dois sinais muda o ponto onde se realiza o sinal, sendo que em “aprender” o ponto de articulação é a testa e o sinal de “sábado” se realiza próximo à boca. A mesma autora mostra dois sinais que têm o mesmo ponto de articulação, mas são sinalizados diferentemente: Figura 5: Mesmo ponto de articulação/locação com sinais diferentes Fonte: Elaborado pelo autor. Perceba que o local onde o sinal se realiza é o mesmo: o queixo. Isso quer dizer que os dois sinais têm o mesmo ponto de articulação. Ferreira et al (2011, p. 33) contribuem com a explicação sobre o ponto de articulação e acrescentam que para a execução dos sinais pode-se tocar, por exemplo, cabeça, face, pescoço, tórax, braços, mas há “[...] sinais, Libras 15 porém, em que as mãos podem se tocar (ou não) sem tocar em outras partes do corpo. Nesse caso, dizemos que o sinal é executado em espaço neutro”. Figura 6: Sinal em espaço neutro Fonte: Elaborado pelo autor. Agora é a sua vez! Tente realizar os sinais de televisão, namorar, barco e inclusão. Conseguiu perceber que ao sinalizar as mãos não tocam no corpo de quem sinaliza? Por isso, o PA recebe o nome de espaço neutro. Movimento é outro parâmetro que iremos estudar. Compreende o deslocamento da mão no espaço para realizar um sinal. “É um parâmetro complexo porque, durante a realização do sinal, engloba o deslocamento de uma ou ambas as mãos no espaço, abrangendo também dedos, pulso, braço e antebraço” (FERREIRA et al, 2011, p. 33), como podemos observar nos sinais a seguir: Libras 16 Figura 7: Movimento Fonte: Elaborado pelo autor. Os exemplos acima são indicados por Ferreira et al (2011) e contribuem para observarmos como os sinais foram realizados. Se você voltar ao quadro de CM verá que o sinal “educação” é o número “38”, mas é realizado no braço, por isso dizemos que esse local é o PA. Quanto ao movimento, será direcional. Já no sinal de amigo o ponto de articulação é o peito, a configuração de mão é o número 57 da tabela e o movimento bidirecional no sentido horizontal. Com relação ao sinal de sapo, este tem como ponto de articulação o braço, com CM 30, movimento multidirecional para cima e para baixo, da direita para a esquerda, no sentido que vai do pulso até o cotovelo (FERREIRA et al, 2011). Os movimentos dos sinais na Libras podem ser retilíneo, angular, sinuoso, circular, semicircular e helicoidal. Você conhece cada um desses movimentos? Vamos ver como é cada um deles. Libras 17 Figura 8: Tipos de movimentos Fonte: ROSA (et al, 2016) Além dos tipos de movimentos apresentados, pode ser ainda unidirecional, em que se realiza o “movimento em uma direção no espaço, durante a realização de um sinal. [...] Multidirecional: movimentos que exploram várias direções no espaço, durante a realização de um sinal” (FERREIRA, 2010, p. 19). Para exemplificar melhor cada movimento, vamos observar o quadro a seguir: Figura 9: Movimentos unidirecional e multidirecional Libras 18 Libras 19 Fonte: Elaborado pelo autor. Agora que você já conhece os parâmetros: Configuração das Mãos, Ponto de Articulação e Movimentos, Ferreira (2010, p. 21) apresenta orientação de mão (Or ou On), ou seja, “trata-se da direção para a qual a palma da mão aponta na produção do sinal, para cima, para baixo, para o lado, para a frente etc.. Também pode ocorrer a mudança de orientação durante a execução de um sinal”. Ex.: sinal de QUERER e NÃO QUERER, GOSTAR e NÃO GOSTAR. Libras 20 O último parâmetro escolhido para ser apresentado em nossa trilha rumo ao conhecimento da Libras são as expressões não manuais (faciais e corporais) que podem ser executadas por meio de movimentos de face, olhos, cabeça ou tronco do sinalizante. Essas expressões têm a função de “marcação das construções sintáticas: sentenças interrogativas, orações reativas, topicalizações, concordância e foco; e diferenciação de itens lexicais: marcam referência específica, referência pronominal, partícula negativa, advérbio, grau ou aspecto” (FERREIRA, 2010, p. 21). RESUMINDO: Os parâmetros estão presentes em cada sinal na Libras, e entender cada um deles se faz necessário para que possamos caminhar para outras etapas do nosso estudo. Se ainda tem dúvidas, leia este material novamente e avance com segurança para os pronomes e advérbios na Libras. Libras 21 Pronomes e Advérbios na Libras INTRODUÇÃO: Ao término deste capítulo você será capaz diferenciar os pronomes e advérbios na Libras em língua portuguesa, entender como sinalizá-los. Vamos praticar mais um pouco dos sinais? Nesta etapa iremos iniciar as explicações pelos pronomes, que possuem características diferenciadas da língua portuguesa, pois não marcam gênero e representam a pessoa que “fala”. Podem ser: pessoal, singular, plural, demonstrativo, interrogativo, entre outros. Agora vamos exemplificar alguns tipos de pronomes, começando pelos pessoais na primeira pessoa, que representam a pessoas do discurso: Tabela 1: Pronomes Fonte: Ferreira (2010). A seguir veremos como ficaria cada sinal realizado com as respectivas configurações de mão para mostrar os pronomes pessoais: Libras 22 a)EU (Singular) – CM [G b) NÓS (Dual) – CM [P ou V] c) NÓS 3 (Trial) – CM [W] d) NÓS 4 (Quatrial) – CM [54] e) NÓS/TODOS (Plural) – CM [D] Libras 23 O movimento circular é realizado para determinar quem são as pessoas, por isso sempre vai se referir ao grupo que se deseja demonstrar. Quando se fala em pronomes possessivos, Felipe e Monteiro (2006, p. 22) explicam que não há um sinal específico. Por isso, para sinalizar dual, trial, quatrial e plural/grupo, emprestam as configurações de mãos dos pronomes pessoais exemplificados. Felipe e Monteiro (2006, p. 22) esclarecem ainda que, ao sinalizar a primeira pessoa MEU/MINHA, podem haver duas configurações de mão: uma é a mão aberta com os dedos juntos, que bate levemente no peito do emissor; a outra é a configuração da mão em “P” batendo no meio da mão, como no exemplo abaixo: Figura 10: Meu/minha Fonte: Elaborado pelo autor. Para segunda e terceira pessoas, segundo Felipe e Monteiro (2006, p. 22), o sinal muda um pouco, mas a CM é a mesma, em “P”. Assim, “a mão tem esta segunda configuração em P, mas o movimento é em direção à pessoa com que se fala (segunda pessoa) ou está sendo mencionada (terceira pessoa)”. Libras 24 Figura 11: Segunda e terceira pessoa Fonte: Elaborado pelo autor. Em todas as línguas há convenções a serem seguidas, e na Libras não é diferente, pois “quando uma pessoa surda está conversando, ela pode omitir a primeira pessoa porque, pelo contexto, as pessoas que estão interagindo sabem a qual das duas o contexto está relacionado, por isso, quando esta pessoa está sendo utilizada pode ser para dar ênfase à frase” (FELIPE; MONTEIRO, 2006, p. 85). Os pronomes interrogativos apresentam estruturas bem diferenciadas na Libras. Estão no início da frase, como QUE e QUEM, e adquirem sentidos diferenciados como “[...] ONDE e o pronome QUEM, quando está sendo usado com o sentido de “quem-é” ou “de quem é” são mais usados no final. Todos os três sinais têm uma expressão facial interrogativa feita simultaneamente com eles”. O pronome QUANDO é utilizadoem perguntas relacionadas a tempo. Ex.: Ana viajar quando [?] (FELIPE; MONTEIRO, 2006, p. 37). Libras 25 Figura 12: Pronomes interrogativos Fonte: Elaborado pelo autor. Ferreira (2010, p. 24) esclarece que existem pronomes indefinidos, como “NINGUÉM, que é utilizado somente quando se refere à pessoa, representado pelo sinal de ACABAR; NINGUÉM / NADA (1), e pode ser utilizado, além de pessoas, para se referir a coisas, no sentido de ACABAR”. Quanto aos advérbios, vamos exemplificar dois tipos mais utilizados na Libras: de modo e de tempo. O de tempo marca o momento em que a ação aconteceu. • Presente: AGORA/HOJE • Passado: ONTEM/ANTEONTEM • Futuro: AMANHÃ/FUTURO Sobre os advérbios de tempo, Brito (1995) explica que, na Libras, geralmente, ocupam o início da frase, mas pode acontecer de aparecerem também no final. Vai depender da formação da sentença frasal. Isso ocorre porque: [...] não há marca de tempo nas formas verbais, é como se os verbos ficassem na frase quase sempre no infinitivo. O tempo é marcado sintaticamente através de advérbios de tempo que indicam se a ação está ocorrendo no presente: HOJE, AGORA; Libras 26 ocorreu no passado: ONTEM, ANTEONTEM; ou irá ocorrer no futuro: AMANHÃ. (BRASIL, 1997, p. 58) O advérbio de lugar refere-se a pessoas e coisas, como na frase: CANETA ONDE? Exemplos de advérbios de lugar: AQUI/ ALI/ AÍ/ ESTE/ ESSE/ AQUELE/ LÁ/ ESSA/ ESTA/. Felipe e Monteiro (2006, p. 135) esclarecem que os advérbios de modo podem vir incorporados ao verbo “[...] através de uma mudança no seu movimento, um advérbio de modo e/ou um aspecto verbal que acrescenta essa informação à ação verbal”. RESUMINDO: Toda vez que você for estudar verbo, pronomes e expressões faciais, os advérbios estarão presentes, pois eles perpassam os assuntos na gramática da Libras. Por exemplo, “os pronomes demonstrativos e os advérbios de lugar estão relacionados às pessoas do discurso e representam, na perspectiva do emissor, o que está bem próximo, perto ou distante. Eles têm a mesma configuração de mãos dos pronomes pessoais, mas os pontos de articulação e as orientações do olhar são diferentes” (FELIPE; MONTEIRO, 2006, p. 89). Libras 27 Verbos na Libras INTRODUÇÃO: Ao término deste capítulo você será capaz de identificar os verbos em Libras e suas características, bem como o fato de os verbos na Libras não terem flexão e ficarem sempre no infinitivo. Vamos estudar! Pereira (2010, p. 29) recorre aos estudos de Quadros e Karnopp (2004): Tabela 2: Verbos em libras Fonte: Adaptado pelo autor. Libras 28 Dessa forma, pode-se entender sobre os verbos simples que “alguns desses verbos apresentam flexão de aspecto. Todos os verbos ancorados no corpo são verbos simples. Há também alguns que são feitos no espaço neutro” (PEREIRA, 2010, p. 28). Figura 13: Verbos simples Fonte: Elaborado pelo autor. Alguns verbos simples, nas palavras de Pereira (2010, p. 28), podem incorporar pontos espaciais, como no sinal de CASA e no sinal de PAGAR, em que “o sinal de casa foi estabelecido em um ponto no espaço (d) e o sinal do verbo foi realizado em cima deste mesmo ponto tornando a expressão definida e específica”. Libras 29 Quanto aos verbos de concordância, eles apresentam “[...] direcionalidade e orientação. A direcionalidade está associada às relações semânticas (source/goal). A orientação da mão voltada para o objeto da sentença está associada à sintaxe, marcando caso” (PEREIRA, 2010, p. 28). Exemplos: “Eu pergunto para você” e “Você pergunta para mim”. Sobre os verbos com concordância, Klimsa e Klimsa (2011, p. 37) esclarecem que podem ser de três tipos: concordância número-pessoal, concordância de gênero e concordância com a localização. No primeiro tipo “a orientação marca as pessoas do discurso. O ponto inicial concorda com o sujeito e o final com o objeto”. Exemplos: a) VERBO DAR Figura 14: Verbo “dar” Fonte: Elaborado pelo autor. Já os verbos que possuem concordância de gênero são chamados classificadores. Isso porque “[...] estão incorporados, através da configuração de mão, a uma concordância de gênero: PESSOA, ANIMAL ou COISA” (KLIMSA, KLIMSA, 2011, p. 37). Exemplos: Libras 30 Figura 15: Verbos classificadores Fonte: Elaborado pelo autor. Para explicar os verbos de concordância com a localização, Klimsa e Klimsa (2011, p. 37) apontam que “[...] começam ou terminam em um determinado lugar que se refere ao lugar de uma pessoa, coisa, animal ou veículo, que está sendo colocado, carregado etc. Portanto, o ponto de articulação marca a localização”. Os três tipos de verbos de concordância podem se apresentar na sinalização de um só verbo, como o verbo COLOCAR, que possui tanto concordância de gênero como de localização, e o verbo DAR, que apresenta concordância número-pessoal e de gênero (Klimsa e Klimsa, 2011, p. 39). A gramática da Libras ainda está em construção, pois não são muitos autores que se aventuram a escrever sobre essa língua. Dentre os nomes em destaque está o da Profa. Ronice Müller de Quadros, da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, autora de inúmeros livros sobre a Libras. Mesmo assim, pudermos estudar neste capítulo os verbos em Libras e suas características, como o fato de os verbos não terem flexão e ficarem sempre no infinitivo Libras 31 Classificadores na Libras INTRODUÇÃO: Ao término deste capítulo você será capaz de identificar e demonstrar na prática cada tipo de classificador e com- preender que na Libras existem inúmeros classificadores que contribuem para que a mensagem seja entendida. Os classificadores são muito utilizados na Libras, pois “são formas que estabelecem um tipo de concordância, que evidenciam uma característica física, atribuindo-lhe uma adjetivação, por meio da qual os elementos sinalizados são representados” (DIAS JÚNIOR; SOUZA, 2017, p. 13). • Os classificadores são estruturas que possibilitam um tipo de concordância na Libras, ou seja, são “[...] tipos de morfemas que representam objetos, pessoas e animais, descrevendo-os quanto à forma, ao tamanho e incorporando-lhes ações” (DIAS JÚNIOR; SOUZA, 2017, p. 13). Os classificadores são muito importantes na Libras, cujas configurações de mãos são interligadas “[...] ao movimento de certos tipos de verbos e que são obrigatórias, com os adjetivos descritivos que, nas línguas de sinais, por estas serem gesto-visuais, representam iconicamente qualidades de objetos” (FELIPE; MONTEIRO, 2006, p. 407). Para expressar algo por meio de classificadores, como “[...] formas de objetos, pessoas e animais, bem como os movimentos e as trajetórias percorridas por eles”, utilizam-se as configurações de mãos. (DIAS JÚNIOR; SOUZA, 2017, p. 13), por exemplo, FINO [CM 45]. Pizzio et al (2009, p. 14) conceituam o classificador como um tipo de morfema que se utiliza das configurações de mãos para realizar a representação de algo. Eles “[...] podem ser afixados a um morfema lexical (sinal) para mencionar a classe a que pertence o referente desse sinal, para descrevê-lo quanto à forma e ao tamanho, ou para descrever a Libras 32 maneira como esse referente se comporta na ação verbal (semântico)”. A seguir alguns exemplos de classificadores apresentados pela autora: a) . Fino – FIO DENTAL FINO [CM 44] b) Espessura grossa – LIVRO [CM 19] c) Arredondado – CANO [CM 21] Os classificadores, quando são utilizados para pessoas e animais, podem assumir a forma no plural. “Nesse caso, o plural é marcado ao se representar duas pessoas ou dois animais simultaneamente, com as duas mãos, ou fazendo um movimento repetido em relação ao número” (DIAS JÚNIOR; SOUZA, 2017, p. 13): Libras 33 a) Uma pessoa andando [CM 14] b) Duas pessoas andando [CM 49] Libras 34 c) Várias pessoas andando [Mão aberta ou alguns autores chamam de CM 61] Os classificadores também podem expressar movimento, “[...]para classificar o sujeito ou o objeto que está ligado à ação do verbo. Eles exercem a função de marcadores de concordância de gênero para pessoas, animais ou coisas” (DIAS JÚNIOR; SOUZA, 2017, p. 16). Existem alguns tipos de classificadores encontrados na língua de sinais, consequentemente na Libras, como: 1. Classificadores descritivos – Esse tipo de classificador permite captar as descrições visuais de acordo com a imagem do objeto (inanimados ou não). “Observam-se aspectos tais como: som, tamanho, textura, paladar, tato, cheiro, “olhar”, sentimentos ou formas visuais, bem como a localização e a ação incorporada ao classificador” (PIZZIO et al, 2009, p. 19). Os classificadores descritivos, nos estudos de Pizzio (et al, 2009, p. 20), podem assumir três dimensões diferentes: a) Dimensional, que retrata as dimensões adequadas do que está sendo visualizado; b) Bidimensional, que se “[...] dá o dobro das dimensões determinadas, adequando-as ao que está sendo visualizado; c) Tridimensional, que dá as três dimensões do que está sendo visualizado dando a sensação de penetração do relevo visual”. Libras 35 a) SENTIMENTO – Olhar de raiva b) MOVIMENTO- Sapo pulando No conjunto dos classificadores descritivos existe o tipo “[...] locativo, que envolve uma ação que determina o objeto em relação ao outro objeto, animado ou inanimado” (PIZZIO et al, 2009, p. 21). Para Felipe e Monteiro (2006, p. 406), “na Libras, os classificadores são formas que, substituindo o nome que as precedem, podem ser presas à raiz verbal para classificar o sujeito ou o objeto que está ligado à ação do verbo”. 2. Classificadores especificadores – Têm a função de descrever “[...] visualmente a forma, o tamanho, a textura, o paladar, o cheiro, os sentimentos, o ‘olhar’, os ‘sons’ do material, do corpo da pessoa e dos animais” (PIZZIO et al2009, p. 24). Como exemplo temos “a explosão de uma bomba”. 3. Classificadores de plural – Utiliza a configuração de mão para representar um objeto várias vezes. Ex.: ÁRVORE X FLORESTA. 4. Classificadores instrumentais – De acordo com Pizzio (et al, 2009, p. 30), esse classificador é definido pela “[...] incorporação do instrumento descrevendo a ação gerada por ele”. Ex.: ESCOVAR DENTES, PINTAR A PAREDE COM ROLO; ESCOVAR CABELO. 5. Classificadores de corpo – Esse classificador, como explica Dias Júnior e Souza (2017, p. 28), busca descrever “[...] como uma ação acontece por meio da expressão corporal de seres animados. Observe que todo o corpo do sinalizador é usado para representar Libras 36 pessoa ou animal”. Ex.: UM CÃO BRAVO. Esse classificador utiliza- se de expressões faciais e corporais para descrever a ação que se quer retratar. 6. Classificador parte do corpo – Nesse classificador se utilizam as mãos para demostrar a parte do corpo que se quer representar. “A parte do corpo é uma localização. Pode especificar tamanho e forma de parte do corpo (dentes na boca, listras de um tigre) e classificadores dos membros (mãos e antebraço; pernas e pé)” (DIAS JÚNIOR; SOUZA, 2017, p. 16). Ex.: DESCREVER UMA ZEBRA. RESUMINDO: Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido pronomes e advérbios na Libras, que são bem diferentes do que utilizamos na língua portuguesa. Também conseguiu perceber diferenças entre os verbos e suas funções na Libras e já consegue perceber cada tipo de classificador em uma sinalização em Libras. Ao final da viagem destinada à introdução da Libras, na última parte deste trajeto, diferenciamos pronomes e advérbios na Libras em contraposição ao que usamos na língua portuguesa, entendemos como sinalizá-los e o que compõe cada verbo nas frases em Libras, demonstrando cada tipo de classificador na prática. Libras 37 REFERÊNCIAS ALMEIDA, W. G. Introdução à Língua Brasileira de Sinais. 1. ed. Ilhéus: Editus, 2013. v. 1. 149p. Disponível em: http://www.santoandre.sp.gov.br/ pesquisa/ebooks/398613.pdf. Acesso em: 02 jun. 2020. BRASIL. Lei nº 10.436, de 24 abril de 2002. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/leis/l9394.htm. Acesso em: 01 jul. 2020. GIROTO, C. R. M.; MARTINS, S. E. S. de O.; BERBERIAN, A. P. (org.). Surdez e Educação Inclusiva. São Paulo: Cultura Acadêmica; Marília: Oficina Universitária, 2012. NUNES, S. da S.; SAIA, A. L.; SILVA, L. J.; MIMESSI, S. D. Surdez e educação: escolas inclusivas e/ou bilíngues? Revista Quadrimestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional, SP. Volume 19, Número 3, Setembro/Dezembro de 2015: 537-545. Disponível em: https:// www.scielo.br/pdf/pee/v19n3/2175-3539-pee-19-03-00537. Acesso em: 12 jul. 2020. QUADROS, R. M. de; SCHMIEDT, M. L. P. Ideias para ensinar português para alunos surdos. Brasília: MEC, SEESP, 2006. STAINBACK S.; STAINBACK W. Inclusão: Um guia para educadores. Porto Alegre: Artmed, 1999. Libras Configurações das mãos (CM) na Libras Pronomes e Advérbios na Libras Verbos na LIBRAS Classificadores na Libras
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