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HISTOLOGIA CONCEITOS BÁSICOS PREPARADO HISTOLÓGICO O que é um preparado histológico? Preparado histológico é uma lâmina retangular de vidro sobre a qual foram colocadas fatias extremamente finas de tecidos e órgãos. Para proteção, os cortes são cobertos por uma delgada lâmina de vidro colada à lâmina, denominada lamínula. A espessura das fatias de tecidos ou de órgãos é geralmente 5 a 10 µm de espessura, isto é, de 5 a 10 milionésimos de metro. Medidas usadas: 1 µm (1 micrômetro) = 1 milésimo de mm = 1 milionésimo de metro. Preparados histológicos permanentes são feitos para durarem muitos anos. Para a obtenção de um preparado permanente, fragmentos de tecidos e de órgãos ou células costumam passar por um processo denominado fixação. Este processo é feito por meios químicos (p. ex. com formaldeído) ou físicos (p. ex. por congelação). Os fragmentos de tecidos e órgãos são submetidos a vários procedimentos após os quais os podem ser cortados em um aparelho chamado micrótomo para obtenção das fatias que podem ser observadas em um microscópio de luz. Estas fatias são denominadas cortes histológicos. As células, assim como os cortes de tecidos e de órgãos são quase sempre incolores e precisam ser corados para que possam ser observados em um microscópio de luz. Finalmente, os cortes são cobertos por uma lamínula de vidro para sua proteção. As lâminas de vidro também são utilizadas para observação de células isoladas, bactérias, protozoários e outros objetos microscópicos. Fígado. Coloração: hematoxilina e eosina (HE). Aumento médio. PREPARADO HISTOLÓGICO VISTO AO MICROSCÓPIO A imagem é de um corte de um fígado observado ao microscópio em um aumento pequeno. Observe a grande área cor de rosa com pequenas manchas azuis, porém mais detalhes não podem ser percebidos neste aumento. Em cortes de outros órgãos observados nesse mesmo aumento, seria possível observar várias de suas estruturas características, p. ex. camadas que constituem o órgão, vasos sanguíneos e nervos calibrosos. Na imagem há muitos pequenos espaços claros. A maioria deles é o lúmen de vaso sanguíneo, isto é a cavidade central desta estrutura. Fígado. Hematoxilina e eosina (HE). Vista panorâmica. UM AUMENTO MAIOR Continuando a observar imagens do mesmo corte de fígado, agora em um aumento um pouco maior, pode-se ver uma rede cor de rosa e muitos círculos azuis pequenos. São células com citoplasma cor de rosa e núcleo azulado. Há também muitos espaços vazios, brancos, de formatos muito diferentes. São lúmens de vasos capilares sanguíneos, isto é, espaços vasculares de capilares sanguíneos. Fígado. Hematoxilina e eosina (HE). Aumento médio. NÚCLEO E CITOPLASMA As células predominantes no fígado são células do tecido epitelial chamadas hepatócitos. Esta imagem é um aumento grande de um corte de fígado. Observam-se vários círculos azuis ou roxos. São os núcleos dos hepatócitos. Os núcleos estão no interior do citoplasma das células. A coloração aplicada ao corte histológico que está sendo observado se denomina Hematoxilina e eosina. Após esta coloração os núcleos aparecem em cor azul-arroxeada e o citoplasma corado em rosa. Esta é a coloração mais utilizada para observar cortes histológicos. Na secção final deste módulo haverá mais informações sobre coloração de cortes. Fígado. Coloração: HE. Aumento grande. Note que os hepatócitos se organizam em forma de colunas ou cordões. Em cortes estes cordões aparecem como células enfileiradas, mas na verdade são placas tridimensionais de hepatócitos. Mais adiante veremos que os cortes muito delgados de estruturas tridimensionais necessitam ser adequadamente interpretados para se conhecer a verdadeira estruturação das células nos tecidos e órgãos. Entre as placas de hepatócitos há espaços por onde passa sangue. A barra situada na porção inferior direita da figura mede 20 μm. NÚCLEOS DE OUTROS TIPOS CELULARES Ao examinar um preparado histológico é importante prestar atenção nos inúmeros detalhes da imagem. Notou que além dos núcleos esféricos dos hepatócitos há núcleos de outros tipos celulares? Estão geralmente corados mais intensamente que os núcleos dos hepatócitos e a forma deles nem sempre é circular. FÍgado. Coloração: HE. Aumento grande. NUCLÉOLOS E CROMATINA Os nucléolos são visíveis sob a forma de objetos circulares intensamente corados em azul (após coloração por hematoxilina e eosina) no interior dos núcleos. Cada núcleo pode ter vários nucléolos. No entanto, nem todos são vistos nos cortes por que alguns estão presentes nas porções dos núcleos que ficaram fora dos cortes. Os nucléolos são relativamente grandes comparados com grânulos de heterocromatina. Efeito da imagem após passar o mouse ou clicar – veja nucléolos marcados em verde na figura. Além dos nucléolos, os núcleos contêm pequenos grânulos de formas e tamanhos muito variáveis que são parte da cromatina condensada. Os cromossomos desta parte de cromatina estão muito espiralizados e formam a heterocromatina. O restante do núcleo se cora em azul claro, de maneira homogênea e sem grânulos. Esta porção é formada de cromatina descondensada, cujos cromossomos estão em grande parte desespiralizados, constituindo a eucromatina. Núcleos que contêm grande quantidade de heterocromatina são muito corados e são chamados núcleos de cromatina densa. Vários dos núcleos de não-hepatócitos presentes na imagem têm cromatina densa. São núcleos geralmente alongados situados nas paredes dos espaços sanguíneos. Núcleos em que predomina eucromatina têm coloração mais clara e são chamados núcleos de cromatina frouxa. Os núcleos dos hepatócitos são geralmente de cromatina frouxa. Fígado. Coloração: HE. Aumento grande. LIMITES CELULARES Em esquemas e desenhos de tecidos e órgãos sempre vemos as células com seus limites bem definidos. No entanto, infelizmente estes limites nem sempre são vistos facilmente nos preparados histológicos. Uma contagem rápida de núcleos revela que há cerca de 100 células neste campo microscópico. Efeito da imagem – na imagem ao lado aparecem destacados os limites prováveis de alguns hepatócitos. Fígado. Coloração: HE. Aumento grande. Em alguns tecidos é bem mais fácil identificar os limites celulares. A imagem é do epitélio que reveste a cavidade interna (lúmen) do intestino delgado, no qual se observam limites de muitas células. Observe bem o corte e perceba que há várias outras células com limites visíveis. Intestino delgado. Coloração: HE. Aumento grande. CÉLULAS BINUCLEADAS Muitos tipos de células têm mais de um núcleo. As células dos músculos esqueléticos, por exemplo, podem ter centenas de núcleos. Os hepatócitos frequentemente têm dois, ou às vezes três ou quatro núcleos. Preste atenção na imagem e procure três células binucleadas, isto é, com dois núcleos cada uma. Já vimos que os limites destas células nem sempre são muito visíveis, porém os núcleos de células bi- ou multinucleadas ficam mais próximos entre si. Fígado. HE. Aumento grande INTERPRETANDO ESTRUTURAS PRESENTES EM CORTES HISTOLÓGICOS O estudo de cortes histológicos é sempre um desafio. Os cortes são fatias muito delgadas de um fragmento de tecido ou órgão. Estamos observando em (quase) duas dimensões fragmentos que originalmente têm três dimensões. Precisam ser analisados levando em consideração que: 1- cada corte é apenas uma amostra pequena de um objeto muitas vezes maior. 2- o corte não revela o que estava no interior do fragmento à frente e atrás daquele corte. 3- o corte nem sempre revela a maneira e o ângulo em que um objeto foi seccionado. Por estas razões, deve-se sempre examinar com muita atenção os cortes ao microscópio para tentar interpretar corretamente as estruturas e saber a real organização destas estruturas. MANEIRAS DE SECCIONAR UM ESPÉCIEQuando observamos cortes de objetos muito conhecidos é geralmente fácil entender de que maneira o objeto foi cortado e deduzir qual é a forma original do objeto. O mamão que está na parte superior da figura, obviamente foi seccionado longitudinalmente, isto é, ao longo de seu maior eixo. Por outro lado, o mamão na parte inferior foi cortado transversalmente, isto é, em um plano perpendicular ao seu maior eixo. Se tivéssemos uma série de vários cortes longitudinais e transversais de um mamão, mesmo uma pessoa que não conheça esta fruta seria capaz de deduzir com boa aproximação como um mamão é estruturado. O mesmo se pode fazer com cortes de tecidos e órgãos, para conhecer sua estrutura tridimensional. INTERPRETAÇÃO DE CORTES A imagem n.1 mostra a maneira “tradicional” de cortar um tomate – em cortes transversais ao cabo do tomate. Outras maneiras de corte também fornecem imagens facilmente identificáveis? Quem conhece bem um tomate poderá imaginar como as outras fatias foram cortadas. A imagem de n. 2 é de uma fatia seccionada longitudinalmente. A imagem de n. 3 é de um corte oblíquo feito na superfície do tomate. Com as células, tecidos e órgãos ocorre o mesmo. Muitos órgãos tiveram que ser submetidos a inúmeros cortes e em várias posições, para se deduzir a sua organização. Para facilitar o entendimento de cortes histológicos, nos próximos quadros iremos analisar de que maneira algumas estruturas tri-dimensionais são vistas quando seccionadas e observadas em um microscópio de luz. RACIOCINANDO EM 3 DIMENSÕES Que estrutura tridimensional ou forma geométrica é vista como um círculo após ter sido fatiada? Olhando somente para a imagem vista no microscópio não podemos facilmente conhecer a forma original antes do corte. Observando somente cortes, podemos confundir um cilindro com uma esfera, se o cilindro for seccionado transversalmente e se a esfera for seccionada no centro, pois as imagens de cortes de ambos são muito semelhantes. Você sabe que quando seccionamos uma esfera, obtemos fatias circulares ou elípticas, dependendo de como foi feito o corte. A figura mostra que um cilindro seccionado transversalmente oferece uma fatia circular. No entanto, se for seccionado obliquamente, origina uma fatia elíptica. Um cilindro oco ou um tubo, quando cortados transversalmente são vistos como anéis. Quando são feitos os cortes histológicos, na maioria dos casos as estruturas são seccionadas ao acaso. É infinito o número possível de incidências de cortes e, consequentemente, as fatias e imagens que se poderiam obter de um objeto. Um tubo oco de trajeto irregular pode ser cortado de muitas maneiras. Veja na imagem ao lado algumas destas maneiras e tente imaginar outras. Cada glândula sudorípara da pele têm a forma de um pequeno tubo oco cuja parede é constituída por células. Na porção mais profunda da glândula, chamada porção secretora, o túbulo é enovelado. Quando esta porção é seccionada para obter um corte histológico observa-se o tubo cortado várias vezes. Como a secção é feita de maneira aleatória, os cortes do tubo apresentam formatos diferentes, como mostrado na figura da página anterior. CÉLULAS SEM NÚCLEO E NÚCLEOS SEM NUCLÉOLOS A imagem ao lado é de um corte de cerebelo, um órgão do sistema nervoso situado no crânio junto ao cérebro. Além de pequenos neurônios podem ser observados três grandes neurônios de um tipo chamado célula de Purkinje. Em cortes de cerebelo, assim como em cortes da maioria dos outros órgãos, observam-se frequentemente células sem núcleos, ou com núcleos “apagados”. Em alguns núcleos se observa bem o nucléolo, porém outros núcleos parecem não ter nucléolo. Qual a razão de observarmos células do mesmo tipo com aspectos tão variados? Cerebelo. Coloração: HE. Aumento grande. CÉLULAS SECCIONADAS EM DIFERENTES NÍVEIS. Veja esta sequência de desenhos de células conforme poderiam ser observadas em um microscópio. Representam secções feitos em diferentes níveis das células. Algumas secções mostram somente citoplasma, outras mostram núcleo com nucléolo e outras secções núcleos sem nucléolo. No último desenho à direita, somente uma calota do núcleo está presente no corte e este tipo de núcleo é visto ao microscópio como um núcleo “apagado” ou fora de foco. Isto tudo ocorre por que as células são cortadas ao acaso em diferentes locais de sua espessura. Os vários níveis de secções resultam em diferentes imagens. FORMAS MAIS COMUNS DAS CÉLULAS Os diversos tipos de células do organismo têm formas bastante variadas e as suas formas quase sempre estão estreitamente associadas com as funções que exercem. 1- CÉLULAS PLANAS OU PAVIMENTOSAS. São achatadas como ladrilhos. Seu contorno pode ser oval ou alongado e seu núcleo geralmente é elíptico. Tudo isto dá a este tipo de forma o aspecto de um ovo frito em que a gema seria o núcleo. Muitas destas células têm prolongamentos. 2- CÉLULAS ESFÉRICAS. Só existem em meio líquido, como é o caso das células do sangue ou da linfa. Outras células do organismo, como por exemplo os macrófagos que são células livres e migratórias especializadas em fagocitose, podem ser mais ou menos esféricas, dependendo da sua posição e do contato com células ou estruturas vizinhas. 3- CÉLULAS CÚBICAS OU CUBOIDES. Poucas células são realmente cúbicas como mostrado na Fig. 3a. Na verdade elas são aproximadamente cúbicas e são chamadas cuboides. Geralmente têm várias pequenas faces como mostrado na Fig. 3b, em vez das seis faces de um cubo verdadeiro. São as faces de contato com células vizinhas. 4- CÉLULAS PRISMÁTICAS OU COLUNARES. Têm forma de paralelepípedos (Fig. 4a) e, como no caso das células cúbicas, têm várias pequenas faces (Fig. 4b). 5- CÉLULAS POLIÉDRICAS. As células que existem em grande quantidade no fígado (os hepatócitos), vistas nas primeiras páginas deste módulo, têm formas que variam entre aproximadamente esféricas e aproximadamente cúbicas. Este tipo de célula tem inúmeras pequenas faces resultantes do contato entre células vizinhas. Este tipo de formato é muito comum no organismo. 6- CÉLULAS FUSIFORMES. São células em forma de um fuso, isto é, alongadas e com as extremidades delgadas. Um exemplo é o das células musculares lisas. 7- CÉLULAS CILÍNDRICAS. Têm forma de cilindros com extremidades achatadas, mas não afiladas como as células fusiformes. As células musculares cardíacas e as esqueléticas são exemplos deste tipo de forma. DIMENSÕES EM MICROSCOPIA DE LUZ O objetivo das duas páginas deste tópico é oferecer uma compreensão sobre as dimensões das estruturas observadas em um microscópio de luz. Para um exame microscópico de um tecido ou órgão animal geralmente recolhemos pequenos fragmentos representativos do tecido ou órgão. Em um laboratório estes fragmentos serão submetidos a uma série de procedimentos ao fim dos quais será produzido um corte de alguns milímetros quadrados de área. Veja na figura que, na maioria dos casos, estamos observando uma fração muito pequena de um órgão. Quando se observam imagens diretamente ao microscópio ou imagens impressas ou imagens na tela de um monitor, é difícil para alguém não experiente avaliar em que aumento estão sendo visualizadas as estruturas do preparado. A unidade de medida usada para as dimensões de objetos vistos em microscopia de luz é o micrômetro. Sua abreviatura é µm. 1.000 µm cabem em 1 mm e 1.000 mm cabem em 1 m. Um micrômetro corresponde, portanto, a um milésimo de um milímetro e a um milionésimo de um metro. AVALIAR O TAMANHO DE OBJETOS A magnificação de imagens obtidas de microscópio geralmente é expressa por meio de: – sua magnificação final, indicando numericamente quantas vezes a imagem está aumentada em relação ao objeto real no corte – uma pequena barra desenhada na imagem, cujo comprimento indica uma medida para ser usada como referênciapara o tamanho de objetos da imagem. Veja exemplo na imagem. Fígado. Coloração: H&E. Aumento grande. No MOL é adotada uma maneira simplificada para indicar os aumentos de imagens (pequeno, médio, grande) que é suficiente para as suas finalidades didáticas. Uma maneira prática e simples para avaliar o tamanho de estruturas das imagens é a seguinte: um glóbulo vermelho ou um linfócito pequeno têm um diâmetro aproximado de 7 micrômetros. Da mesma forma, os diâmetros dos núcleos de um grande número de células medem de 7 a 10 micrômetros. Por comparação com o tamanho de uma hemácia, de um linfócito pequeno ou de um núcleo pode-se avaliar as medidas de outras estruturas presentes na imagem. COLORAÇÕES PARA MICROSCOPIA DE LUZ Tipos de corantes A maioria dos cortes histológicos é submetida a uma coloração para permitir seu estudo ao microscópio de luz. Para esta finalidade foram desenvolvidos ao longo do tempo inúmeras soluções de corantes e de misturas corantes. As misturas mais utilizadas são as que melhor distinguem os diversos componentes das células e da matriz extracelular (MEC) assim como corantes que demonstram tipos celulares específicos. Uma das técnicas mais utilizadas é a que reúne dois corantes chamados hematoxilina e eosina e a coloração é denominada abreviadamente HE ou H&E. Os cortes são habitualmente corados inicialmente com hematoxilina e em seguida com eosina. Corantes básicos As moléculas de muitos corantes são sais. As moléculas de corantes nos quais o seu cátion é dotado de cor tem caráter básico, como por exemplo o azul de toluidina e o azul de metileno. Por isso são também denominados corantes básicos. A hematoxilina, embora não seja um sal, se comporta na prática como um corante básico. A solução de hematoxilina cora em azul-arroxeado vários componentes das células e da matriz extracelular. De modo geral, as estruturas das células e da matriz dos cortes que contêm grupos ácidos têm afinidade pelos cátions coloridos dos corantes básicos. Por essa razão estas estruturas são denominados estruturas basófilas, devido a sua afinidade e coloração por corantes básicos. Exemplos de estruturas basófilas: – os núcleos têm grupamentos ácidos nos seus ácidos nucleicos e por isso são basófilos e se coram em roxo pela hematoxilina e por corantes básicos. – o ergastoplasma (correspondente no microscópio eletrônico ao retículo endoplasmático granuloso) contém muito ácido ribonucleico. – a matriz extracelular da cartilagem possui muitas moléculas com grupamentos ácidos (principalmente sulfatos). Corantes ácidos Outro importante grupo é o dos corantes de caráter ácido – os chamados corantes ácidos. Nestes a porção aniônica da molécula é colorida. Exemplos: eosina, orange G. Componentes dos cortes que se coram por corantes ácidos são chamados de estruturas acidófilas ou eosinófilas. Exemplos de estruturas acidófilas: – o citoplasma fundamental (citosol) e as mitocôndrias. Por esta razão, o citoplasma da maioria das células se cora em rosa-vermelho pela eosina após coloração por HE. – as fibras colágenas do tecido conjuntivo. Por esta razão a matriz extracelular, que na maioria dos tecidos possui muita proteína colágeno, se cora em rosa pela eosina. Avisos: Esta classificação de corantes ácidos e básicos não se aplica a todos corantes e misturas corantes. Além disto, a coloração por HE é genérica e não distingue os diversos componentes das células conhecidos como organelas, a não ser o núcleo, nucléolo e eventualmente o ergastoplasma. As diversas organelas necessitam ser tratadas por colorações ou técnicas especiais para serem observadas ao microscópio de luz. HEMATOXILINA E EOSINA A imagem é de um corte histológico de uma região da parede do intestino em corte corado por hematoxilina e eosina (HE). A porção direita da imagem é ocupada por um feixe de células musculares lisas. Estas células são fusiformes e paralelas entre si. Nesta figura os eixos longos das células musculares estão na maioria em posição vertical ou oblíqua. A porção esquerda da imagem é ocupada por tecido conjuntivo constituído por grande quantidade de fibras colágenas, que são acelulares e que fazem parte da matriz extracelular. As células deste tecido estão dispostas de maneira muito variada. Os núcleos de ambos tecidos têm grupamentos ácidos nos seus ácidos nucleicos e por isso são denominadas estruturas basófilas que se coram em roxo pela hematoxilina. Repare que a maioria dos núcleos das células do tecido conjuntivo se cora muito mais que as do tecido muscular sendo mais escuros. São chamados núcleos de cromatina densa. Os núcleos que se coram menos, como os das células musculares, são chamados núcleos de cromatina frouxa. Após colocar o mouse ou clicar sobre a imagem os núcleos de ambos tecidos ficarão corados em azul escuro. O citoplasma das células musculares lisas e da maioria dos outros tipos celulares se cora em cor de rosa ou alaranjado, por ter sido corado preferentemente pela eosina. Estruturas que se coram pela eosina e por outros corantes ácidos são chamadas de acidófilas ou eosinófilas. A maior parte da região corada em rosa no lado direito é citoplasma das células musculares. A porção esquerda da imagem, formada por tecido conjuntivo, também se cora bastante por eosina e é, portanto, eosinófila ou acidófila. Este tecido tem uma grande quantidade de fibras colágenas, que são as estruturas alongadas e tortuosas coradas pela eosina. As fibras colágenas são constituídas pela proteína colágeno e por outras proteínas. Intestino delgado. Coloração: HE. Aumento médio. Vários tipos de células, especialmente células que sintetizam muitas proteínas, possuem muitos ribossomos livres no seu citoplasma ou um retículo endoplasmático granuloso (REG) muito desenvolvido. Em células que possuem grandes conjuntos de cisternas do REG, seus aglomerados podem ser vistos ao microscópio de luz e recebem o nome de ergastoplasma. As regiões citoplasmáticas onde há acúmulos de ribossomos ou ergastoplasma se coram por hematoxilina e quando estas células são observadas por microscopia de luz elas apresentam cor azulada. Já foi mencionado que a afinidade de estruturas ácidas por corantes básicos é denominada basofilia. Portanto, estas regiões do citoplasma são basófilas. Um exemplo muito demonstrativo de basofilia citoplasmática pode ser visto nas células exócrinas do pâncreas. Estas células secretam suco pancreático, que é constituído de grande quantidade de proteínas. A forma geral destas células é piramidal ou piriforme (em forma de pera). Elas se reúnem em pequenos conjuntos esféricos chamados ácinos (mais detalhes no Módulo – Epitélios glandulares). A região destas células que contêm muito ergastoplasma fica na base da pirâmide. Como estas células contêm muitas proteínas ao lado de ácidos nucleicos, estas regiões mostram uma mistura de coloração por hematoxilina e por eosina, portanto uma cor arroxeada. Ao deslocar o mouse ou clicar sobre a figura, duas células exócrinas de um ácino aparecem demarcadas por linhas escuras. A porção basófila do seu citoplasma aparecerá demarcada em azul claro. Os núcleos aparecerão coloridos em um tom mais escuro de azul. A região da célula que ocupa todo o ápice da pirâmide está preenchida por grãos de secreção – que contêm suco pancreático. Este é constituído quase só de proteínas, que se coram preferentemente por corantes ácidos como a eosina – a região é, portanto, acidófila. O ápice da pirâmide aparecerá em cor de rosa após colocar o mouse ou clicar sobre a imagem. Aproveite para observar que estas células secretoras possuem nucléolos muito volumosos, ressaltados em alguns dos núcleos. Pâncreas. Coloração: HE. Aumento médio. MAIS SUTILEZAS DA COLORAÇÃO POR H&E Coloração da matriz extracelular O material que fica entre as células -chamado matriz extracelular- também é corado pelas colorações histológicashabituais. A composição química da matriz extracelular varia nos diversos tecidos e regiões do organismo. Se a matriz for constituída principalmente por proteínas, provavelmente será corada pela eosina e terá característica de acidofilia. Isto foi observado na página 1-24, onde as fibras colágenas estavam coradas por eosina. A imagem da página atual é de um corte de cartilagem hialina. As células cartilaginosas são também chamadas condrócitos. São vistos em azul escuro após movimentar o mouse ou clicar. Entre os condrócitos ou entre grupos de condrócitos existe matriz extracelular. Repare que em vez de ser acidófila (cor de rosa, corada pela eosina) como no caso da matriz rica em colágeno, a matriz da cartilagem se cora em azul-roxo pela hematoxilina e é, portanto, basófila. Isto acontece porque a matriz deste tipo de cartilagem contém muitas moléculas com grupamentos ácidos (principalmente sulfatos).#stes tem afinidade pela hematoxilina. Ela aparece em ressaltada em azul turquesa após movimentar o mouse, envolvendo os condrócitos. Em torno deste pequeno fragmento de cartilagem (próximo à borda esquerda e direita da figura) há matriz extracelular rica em colágeno o qual, como o colágeno de outros locais do organismo, se cora em vermelho ou rosa pela eosina e é acidófilo. PREPARAÇÃO DE TECIDOS DUROS – OSSO E DENTE A preparação de cortes histológicos de tecidos duros é um desafio que é resolvido por metodologias específicas. Osso e dente são tecidos rígidos devido à presença de sais minerais em sua composição. É o que se denomina mineralização. Como os sais depositados são principalmente moléculas de fosfato de cálcio, sob forma de cristais de um mineral denominado hidroxiapatita, esta deposição de sais é também denominada calcificação. Micrótomos comuns não têm capacidade de seccionar tecidos mineralizados, pois são muito duros. Há, porém micrótomos especiais que podem fazê-lo. Na prática, no entanto, a maioria dos laboratórios de Histologia não possuem um equipamento deste tipo. Nas páginas seguintes são descritos os principais métodos para obtenção de cortes delgados para observação de tecidos calcificados em microscópio de luz. DESCALCIFICAÇÃO Para possibilitar a obtenção de cortes delgados de osso e dente os tecidos podem ser submetidos a uma descalcificação. A descalcificação pode ser feita por várias maneiras, sendo a mais comum mergulhar dentes ou fragmentos de osso por períodos de tempo adequados em soluções que retiram os sais de cálcio. Soluções ácidas solubilizam os cristais de cálcio os quais abandonam os dentes ou fragmentos de osso e entram na solução. No entanto, soluções ácidas podem, em tempo prolongado, prejudicar a estrutura dos tecidos e fornecer imagens distorcidas por artefatos de técnica. Outra maneira é colocar os tecidos em soluções de certas substâncias, como o ácido etilenodiamino tetra-acético (EDTA), que têm ação quelante. Os quelantes são moléculas que têm grande afinidade por certos ions, entre os quais cálcio, chumbo e se ligam a eles. Íons presentes nos tecidos são deslocados gradativamente para a solução do quelante que fixa os íons e diminui a sua concentração na solução, induzindo a gradativa solubilidade dos íons dos tecidos. A ação de quelantes é mais delicada que a ação de ácidos e fornece imagens mais próximas da situação dos tecidos in vivo. Após a descalcificação a consistência dos tecidos diminui e eles podem ser submetidas a procedimentos rotineiros de preparação histológica, incluídos em parafina e seccionados em micrótomos. Os cortes podem ser corados pelas misturas corantes rotineiras em Histologia. A imagem é de um corte histológico de um fragmento de osso descalcificado. Como se pode observar, a descalcificação permite preservar muito bem a estrutura histológica do tecido. Detalhes das células e a matriz extracelular orgânica podem ser bem observados. Osso descalcificado e corado por HE. PREPARADOS POR DESGASTE Uma outra maneira de obter cortes muito delgados para observação em microscopia de luz é a preparação por desgaste. Fragmentos de ossos ou dentes são comprimidos contra um esmeril rotatório para lentamente desgastar o fragmento até obter fatias bastante delgadas que possam ser observadas ao microscópio de luz. Estas fatias podem ser observadas diretamente em microscópios comuns ou em microscópios de luz polarizada, sem uso de colorações, pois são tão delgadas que se tornam translúcidas. São chamadas de preparações por desgaste. No preparo dos tecidos mineralizados por desgaste tanto as células como matéria orgânica deixam de ser observados, mas o arcabouço formado pelo componente mineral é preservado e pode ser estudado ao microscópio. Preparação por desgaste.
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