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Material Específico – Ciências Contábeis – Tomo V – CQA/UNIP 1 CIÊNCIAS CONTÁBEIS Material do Aluno MATERIAL INSTRUCIONAL ESPECÍFICO TOMO V Material Específico – Ciências Contábeis – Tomo V – CQA/UNIP 2 CQA/UNIP – Comissão de Qualificação e Avaliação da UNIP CIÊNCIAS CONTÁBEIS MATERIAL INSTRUCIONAL ESPECÍFICO TOMO V Christiane Mazur Doi Doutora em Engenharia Metalúrgica e de Materiais, Mestra em Ciências - Tecnologia Nuclear, Engenheira Química e Licenciada em Matemática, com Aperfeiçoamento em Tópicos de Estatística. Professora titular da Universidade Paulista. Maria José Teixeira Mestra em Ciências Contábeis e Bacharela em Ciências Contábeis. Professora adjunta e Coordenadora Geral Técnica do curso de Ciências Contábeis da Universidade Paulista. Material Específico – Ciências Contábeis – Tomo V – CQA/UNIP 3 Questões 1 e 2 Questão 1.1 Pelas características qualitativas da informação contábil-financeira útil, são identificados os tipos de informação que muito provavelmente são reputados como os mais úteis para investidores, credores por empréstimos e outros credores, existentes e em potencial, para tomada de decisões acerca da entidade que reporta com base na informação de seus relatórios contábil-financeiros (informação contábil-financeira). As demonstrações contábeis retratam os efeitos patrimoniais e financeiros das transações e outros eventos, por meio do seu grupamento em classes amplas de acordo com as características econômicas. Essas classes são denominadas elementos das transações contábeis. Os elementos diretamente relacionados à mensuração da posição patrimonial e financeira no Balanço Patrimonial são os ativos, os passivos e o patrimônio líquido. COMITÉ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação de Relatório Contábil- Financeiro: CPC 00 (R1). Brasília, 2011 (com adaptações). Tendo como referência o exposto, suponha que uma indústria de alta tecnologia tenha descontinuado a produção de um componente eletrônico que era vendido a outras indústrias para a fabricação de microcomputadores e que a máquina instalada nessa linha de produção tenho sido concebida especialmente para fabricar esse componente. Considere, ainda, que dada a impossibilidade do uso desse componente em outras linhas de produção ou de sua venda no mercado de usados, o contador tenha baixado a máquina do ativo da empresa, cujo valor contábil na data da baixa era de R$1.300.000,00. Com base na situação apresentada, faça o que se pede nos itens a seguir. a) Justifique a decisão do contador de baixar a máquina do ativo da empresa, fundamentando-se na definição de ativo segundo as normas contábeis adotadas no Brasil. b) Supondo que o contador não tivesse baixado a máquina do ativo, descreva a consequência para a utilidade e a qualidade das informações contábeis reportadas pela empresa. Embase sua resposta nas Características Qualitativas Fundamentais. Questão 2.2 As Características Qualitativas Fundamentais, previstas na Estrutura Conceitual para Elaboração e Apresentação das Demonstrações Contábeis, são a relevância e a representação fidedigna. No que diz respeito a essas características, avalie as afirmativas a seguir. I. A informação contábil-financeira é relevante quando capaz de fazer diferença, com valor preditivo e/ou confirmatório, nas decisões. 1Questão Discursiva 5 – Enade 2015. 2Questão 15 – Enade 2015. Material Específico – Ciências Contábeis – Tomo V – CQA/UNIP 4 II. A informação pode ser capaz de fazer diferença em uma decisão ainda que alguns usuários decidam não a levar em consideração. III. Para ser representação fidedigna, a realidade retratada deve ser completa e neutra, e estar livre de erro. É correto o que se afirma em A. I, apenas. B. II, apenas. C. I e III, apenas. D. II e III, apenas. E. I, II, III. 1. Introdução teórica 1.1. Aspectos gerais da Estrutura Conceitual O Comitê de Pronunciamentos Contábeis emitiu, em 2011, o Pronunciamento Conceitual Básico (R1), que trata da Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação de Relatório Contábil-Financeiro, também denominado de CPC 00. De acordo com o prefácio desse pronunciamento, o International Accounting Standards Board (IASB), organização internacional que publica e atualiza as normas internacionais de contabilidade, está em pleno processo de atualização de sua Estrutura Conceitual, cujo projeto está sendo conduzido em fases, como reproduzido abaixo. À medida que um capítulo é finalizado, itens da Estrutura Conceitual para Elaboração e Apresentação das Demonstrações Contábeis, que foi emitido em 1989, vão sendo substituídos. Quando o projeto da Estrutura Conceitual for finalizado, o IASB terá um único documento, completo e abrangente, denominado Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação de Relatório Contábil-Financeiro (The Conceptual Framework for Financial Reporting). A Estrutura Conceitual está dividida em quatro capítulos, conforme segue. • Capítulo 1 – Objetivo do relatório contábil-financeiro de propósito geral. • Capítulo 2 – A entidade que reporta a informação (dado a ser acrescentado futuramente). • Capítulo 3 – Características qualitativas da informação contábil-financeira útil. • Capítulo 4 – Estrutura Conceitual para elaboração e apresentação das demonstrações contábeis (1989): texto remanescente. Material Específico – Ciências Contábeis – Tomo V – CQA/UNIP 5 O objetivo das demonstrações contábeis, segundo as determinações do Pronunciamento Conceitual Básico (R1) – (CPC 00), é fornecer informações que sejam úteis na tomada de decisões econômicas e nas avaliações por parte dos usuários em geral, não tendo o propósito de atender à finalidade ou à necessidade específica de determinados grupos de usuários. Essas regulamentações satisfazem, portanto, as necessidades comuns da maioria dos seus usuários. Segundo o Pronunciamento (CPC 00), os usuários utilizam as demonstrações contábeis para tomadas de decisões econômicas, tais como: a. decidir quando comprar, manter ou vender instrumentos patrimoniais; b. avaliar a administração da entidade quanto à responsabilidade que lhe tenha sido conferida e quanto à qualidade de seu desempenho e de sua prestação de conta; c. avaliar a capacidade de a entidade pagar seus empregados e proporcionar-lhes outros benefícios; d. avaliar a segurança quanto à recuperação dos recursos financeiros emprestados à entidade; e. determinar políticas tributárias; f. determinar a distribuição de lucros e dividendos; g. elaborar e usar estatísticas da renda nacional; ou h. regulamentar as atividades das entidades. Cabe ressaltar que a Estrutura Conceitual apresentada nesse pronunciamento estabelece conceitos que fundamentam a elaboração e a apresentação de demonstrações contábeis destinadas a usuários externos e não define normas ou procedimentos para qualquer questão particular sobre aspectos de mensuração ou divulgação. Nada nessa Estrutura Conceitual substitui qualquer Pronunciamento Técnico, Interpretação ou Orientação. Se algum conflito for observado, sempre as exigências do Pronunciamento Técnico, da Interpretação ou da Orientação específicos devem prevalecer sobre a Estrutura Conceitual. 1.2. Elementos das demonstrações contábeis O capítulo 4, Estrutura Conceitual para a Elaboração e a Apresentação das Demonstrações Contábeis do Pronunciamento Conceitual Básico (R1) – (CPC 00), determina que as demonstrações contábeis retratam os efeitos patrimoniais e financeiros das transações e outros eventos, por meio do grupamento dos mesmos em classes amplas de acordo com as suas características econômicas. Essas classes amplas são denominadas de elementos das demonstrações contábeis.Material Específico – Ciências Contábeis – Tomo V – CQA/UNIP 6 Os elementos diretamente relacionados à mensuração da posição patrimonial e financeira no balanço patrimonial são os ativos, os passivos e o patrimônio líquido. Os elementos diretamente relacionados com a mensuração do desempenho na demonstração do resultado são as receitas e as despesas. Os elementos das demonstrações contábeis são definidos do modo a seguir. • Ativo: é um recurso controlado pela entidade, como resultado de eventos passados, e do qual se espera que fluam futuros benefícios econômicos para a entidade. O benefício econômico futuro incorporado a um ativo é o seu potencial em contribuir, direta ou indiretamente, para o fluxo de caixa ou equivalentes de caixa para a entidade. • Passivo: é uma obrigação presente da entidade, derivada de eventos passados, cuja liquidação se espera que resulte na saída de recursos da entidade capazes de gerar benefícios econômicos. • Patrimônio Líquido: é o interesse residual nos ativos da entidade depois de deduzidos todos os seus passivos. É representado pelo capital social (recursos aportados pelos sócios), pelas reservas de retenções de lucros e pelas reservas que representam ajustes para manutenção do capital. • Receitas: são aumentos nos benefícios econômicos durante o período contábil, sob a forma de entrada de recursos ou de aumento de ativos ou diminuição de passivos, que resultam em aumentos do patrimônio líquido. • Despesas: são decréscimos nos benefícios econômicos durante o período contábil, sob a forma de saída de recursos ou de redução de ativos ou acréscimos de passivos, que resultam em decréscimo do patrimônio líquido. 1.3. Características qualitativas da informação contábil-financeira útil Conforme Pronunciamento Conceitual Básico (R1) do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC 00), as características qualitativas da informação contábil-financeira útil identificam os tipos e as informações importantes nas decisões de investidores, de credores por empréstimos e de outros credores existentes ou em potencial. Para que a informação contábil-financeira seja útil, ela precisa ser relevante e representar com fidedignidade o que se propõe a representar. A utilidade da informação contábil-financeira será melhorada se ela for comparável, verificável, tempestiva e compreensível. As características qualitativas dividem-se, portanto, em fundamentais e de melhoria. Material Específico – Ciências Contábeis – Tomo V – CQA/UNIP 7 1.3.1. Características qualitativas fundamentais As características qualitativas fundamentais são a relevância e a representação fidedigna, descritas abaixo. • Relevância: de acordo com o item QC6 do CPC 00, a informação contábil-financeira é relevante quando é capaz de fazer diferença nas decisões que possam ser tomadas pelos usuários, ainda se eles decidirem não a levar em consideração ou se já tiverem tomado ciência de sua existência por outras fontes. O item QC7 complementa que a informação contábil-financeira é capaz de fazer diferença nas decisões se tiver valor preditivo, valor confirmatório ou ambos. A informação contábil tem valor preditivo se puder ajudar os usuários a aumentarem a probabilidade de predizer futuros resultados e tem valor confirmatório se retroalimentarem ou servirem de feedback para a confirmação ou a alteração das avaliações prévias. • Representação fidedigna: a realidade é representada fidedignamente, segundo o item QC12 do CPC 00, quando apresenta três atributos: é completa, neutra e livre de erros. o Completa: o retrato da realidade econômica é completo quando inclui toda a informação necessária para que o usuário compreenda o fenômeno que está sendo retratado, incluindo todas as descrições e as explicações necessárias. o Neutra: um retrato neutro da realidade econômica, de acordo com o item QC14 do CPC 00, é desprovido de viés na seleção ou na apresentação da informação contábil-financeira. A realidade econômica não pode ser manipulada de modo que seja recebida pelos usuários de modo favorável ou desfavorável. o Livre de erros: a realidade econômica é livre de erros quando não há omissões ou erros no fenômeno retratado e quando o processo utilizado para produzir a informação reportada foi selecionado e aplicado também livre de erros. 1.3.2. Características qualitativas de melhoria As características qualitativas de melhoria são a comparabilidade, a verificabilidade, a tempestividade e a compreensibilidade, conforme explicações a seguir. • Comparabilidade: permite que os usuários identifiquem e compreendam similaridades e diferenças entre os itens. Material Específico – Ciências Contábeis – Tomo V – CQA/UNIP 8 • Verificabilidade: significa que diferentes observadores chegam a um mesmo consenso sobre determinada informação reportada, embora não cheguem necessariamente a um completo acordo. Segundo o Pronunciamento Conceitual Básico (R1), a verificação pode ser direta ou indireta. A verificação direta está relacionada à constatação fidedigna do montante ou está relacionada a outra representação por meio de uma observação direta, como, por exemplo, por meio da contagem de caixa. A verificação indireta implica checar os dados de entrada do modelo ou da fórmula e recalcular os resultados obtidos pela aplicação do mesmo método. O exemplo dado por Santos et al (2015) é a verificação do valor contábil dos estoques pela verificação dos dados de entrada (quantidades e custos) e pelo recálculo do saldo final dos estoques, utilizando a mesma premissa adotada no fluxo do custo (por exemplo, usando o método PEPS). • Tempestividade: nos termos do item QC29 do CPC 00, tempestividade significa ter informação disponível para tomadores de decisão a tempo de ser possível influenciá-los em suas decisões. Em geral, a informação mais antiga é a que tem menos utilidade. Contudo, certa informação pode ter o seu atributo tempestividade prolongado após o encerramento do período contábil em decorrência de alguns usuários que, por exemplo, necessitarem identificar e avaliar tendências. • Compreensibilidade: segundo o item QC31 do CPC 00, classificar, caracterizar e apresentar a informação com clareza e concisão tornam-na compreensível. Certos fenômenos são inerentemente complexos, mas a exclusão de informações sobre tais fenômenos dos relatórios contábil-financeiros, apesar de tornar a informação mais facilmente compreendida, implicaria relatórios incompletos e potencialmente distorcidos. Desse modo, o item QC32 do Pronunciamento Conceitual Básico (R1) explica que os relatórios contábil-financeiros são elaborados para usuários que têm conhecimento razoável de negócios e de atividades econômicas. 2. Padrão de resposta do INEP e análise das afirmativas Questão 1. Material Específico – Ciências Contábeis – Tomo V – CQA/UNIP 9 Questão 2. 3. Indicações bibliográficas • COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. Estrutura conceitual para elaboração e divulgação de relatório contábil-financeiro. Disponível em <http://static.cpc.mediagroup.com.br/Documentos/147_CPC00_R1.pdf>. Acesso em 17 nov. 2016. • SANTOS, J. L. dos, et al. Manual de práticas contábeis: aspectos societários e tributários. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2015. Material Específico – Ciências Contábeis – Tomo V – CQA/UNIP 10 Questão 3 Questão 3.3 As áreas do conhecimento embasam-se em pressupostos e métodos científicos de diversas escolas de pensamento. Especificamente na área da contabilidade, as escolas de pensamento norte-americana e italiana são as principais correntes em que se fundamenta a contabilidade brasileira. Acerca dessas escolas, assinale a opção correta. A. A italiana enfatiza a abordagem informacional, enquanto a escola norte-americana conferegrande importância à sistematização do plano de contas. B. A norte-americana adota a visão estabelecida pelo neopatrimonialismo, enquanto a escola italiana assume como principal foco a geração das informações contábeis para seus diversos usuários. C. A italiana prioriza as necessidades dos usuários das informações contábeis, enquanto a escola norte-americana demonstra excessiva preocupação em caracterizar a contabilidade como ciência. D. A norte-americana considera prioritário o conhecimento da teoria das contas, enquanto a escola italiana enfatiza a área de auditoria para garantir maior confiabilidade às informações geradas. E. A norte-americana considera a contabilidade uma fornecedora de informações econômicas relevantes para os diversos usuários, enquanto a escola italiana defende que a contabilidade deve estudar apenas os eventos que afetam o patrimônio das entidades. 1. Introdução teórica 1.1. A evolução do pensamento contábil A história da contabilidade indica que a preocupação do homem em controlar suas propriedades e suas riquezas foi um dos principais fatores para o avanço da teoria e da aplicação da ciência contábil. Para Iudícibus (2015), a preocupação com as propriedades e a riqueza é uma constante no homem da antiguidade (como hoje também o é), e ele teve de aperfeiçoar seus instrumentos de avaliação da situação patrimonial à medida que as atividades se desenvolveram em dimensão e em complexidade. 3Questão 10 – Enade 2015. Material Específico – Ciências Contábeis – Tomo V – CQA/UNIP 11 A evolução da contabilidade foi marcada pelo surgimento de várias escolas de pensamento contábil, e a obra de Luca Pacioli, publicada em 1494, representou a expressão do início da era moderna da Contabilidade. O livro de Pacioli, intitulado Summa de arithmetica, geometria, proportioni et proportionalitá e publicado em Veneza em 1494, apenas dois anos após a chegada de Colombo à América, era fundamentalmente um tratado de matemática, mas incluía uma seção sobre o sistema de escrituração por partidas dobradas, denominado Particularis de Computis et Scripturis. Essa seção foi o primeiro material publicado que descrevia o sistema de partidas dobradas e apresentava o raciocínio sobre o qual se baseavam os lançamentos contábeis (HENDRIKSEN, 2012). O surgimento do método das partidas dobradas e a sua divulgação por meio da obra de Luca Pacioli foram impulsos vigorosos para a expansão da escola italiana por toda a Europa e para o seu domínio no cenário contábil até o início do século XX. Em 1920, com a ascensão mundial dos Estados Unidos, surge a escola norte-americana. O Brasil, por não ter uma escola de pensamento contábil genuinamente nacional, sofreu a influência das duas escolas. No período de 1915 a 1964, a contabilidade brasileira foi influenciada pela escola italiana. A partir de 1964, com a chegada das empresas de auditoria anglo-americanas, a contabilidade brasileira passou a ser a influenciada pela escola norte-americana. Vale notar que o Decreto N° 2.627, primeira Lei das Sociedades por Ações, publicado em 1940, foi redigido segundo os princípios da escola italiana, e a Lei N° 6.404, a nova Lei das Sociedades por Ações, publicada em 1976, foi totalmente inspirada na escola norte- americana. 1.2. Escola italiana A escola italiana foi a primeira escola do pensamento de contabilidade que exerceu influência no cenário contábil mundial. Acontecimentos marcantes de naturezas diversas, nas esferas política, social e econômica, envolveram a Itália durante o século XV e XVI. Várias cidades italianas, como Veneza, Florença, Gênova e Pisa, destacavam-se pelo desenvolvimento do comércio na Europa e tornaram-se pontos de origem e pontos de chegada para grandes rotas comerciais do oriente. Material Específico – Ciências Contábeis – Tomo V – CQA/UNIP 12 Nesse cenário, Luca Pacioli, convivendo e aprendendo com os mercadores da época, escreveu e publicou a obra Summa de arithmetica, geometria, proportioni et proportionalitá, na qual expôs o método das partidas dobradas. Iudícibus (2015) menciona que é fácil entender o motivo pelo qual a Contabilidade teve seu progresso, como disciplina, em cidades italianas como Veneza, Gênova, Florença e Pisa. Essas e outras cidades europeias estavam em plenas atividades mercantis, econômicas e culturais a partir do século XIII até o início do século XVII. Várias correntes de pensamento contábil foram desenvolvidas na escola italiana. Sá (2010) comenta que as diversas correntes doutrinárias receberiam como denominação o que imaginavam ser a matéria e o objetivo predominante de estudos da contabilidade, conforme descrito a seguir. • Os contistas imaginavam que a contabilidade deveria dedicar-se ao estudo das contas. • Os personalistas defendiam o estudo dos aspectos de direitos e das obrigações que envolviam os donos da riqueza e tudo o que com esta se relacionasse. • Os controlistas admitiam que o objetivo era estudar a matéria sob o ângulo do controle da riqueza e o que de forma correlata com este se relacionasse. • Os aziendalistas admitiam que a instituição, a empresa, são os objetos de nosso estudo e que a contabilidade nada mais faz que inserir-se em um complexo de matérias que se aplicam ao campo celular social. • Os reditualistas observaram a predominância do lucro como objetivo, • Os patrimonialistas reconheceram que o objeto de estudos da contabilidade é o patrimônio, enquanto riqueza gerida para cumprir o fim aziendal. • Os neopatrimonialistas admitem que o objeto de estudos é o patrimônio das células sociais, mas estudado sob a ótica de funções sistemáticas, e estas em relação à eficácia (SÁ, 2010). Cada uma dessas escolas e correntes teve sua influência intelectual. Algumas delas ainda exercem influências em diversas partes do mundo. No Brasil, o pensamento determinante é o patrimonialismo. O patrimonialismo foi criado por Vincenzo Masi, em 1923, e é tido como a principal corrente do pensamento da escola italiana. Considera o patrimônio como objeto de estudo da contabilidade e divide-se em estática patrimonial, dinâmica patrimonial e relevação patrimonial. O patrimonialismo estuda os critérios, os métodos e os instrumentos necessários para a mensuração e o levantamento das demonstrações contábeis. Com base nas lições de Masi, o Sá (2010) organizou o neopatrimonialismo como escola, com as finalidades de ampliação e reforço do pensamento masiano, admitindo que, no patrimônio, tudo se transforma, tudo se relaciona, tudo se organiza em sistemas, tudo busca a eficácia e Material Específico – Ciências Contábeis – Tomo V – CQA/UNIP 13 nada pode estar alheio aos continentes da riqueza das células sociais. Com isso, esse pensador estabeleceu um processo lógico de construção de uma teoria geral que pudesse alimentar todas as demais. A partir de 1920, a escola italiana começa a entrar em declínio. Segundo Iudícibus (2015), os defeitos da escola europeia estão substanciados: 1) na relativa falta de pesquisa indutiva sobre a qual efetuar generalizações mais eficazes; 2) em se preocupar demasiadamente com a demonstração de que a Contabilidade é ciência, quando o mais importante é conhecer bem as necessidades informativas dos vários usuários da informação contábil e construir um sistema contábil de informação adequado; 3) na excessiva ênfase na teoria das contas, isto é, no uso exagerado das partidas dobradas, inviabilizando, em alguns casos, a flexibilidade, necessária, principalmente, na Contabilidade Gerencial; 4) na falta de aplicação de muitas das teorias expostas; 5) na queda de nível de algumas das principais faculdades, principalmente italianas, superpovoadas de alunos, com professores mal remunerados, dando expansão mais à imaginação do que à pesquisa séria de campo e de grupo. Com a decadência da escola italiana, surgea escola norte-americana, que se destacou pela proposta de novas ideias para a aplicação da contabilidade. Enquanto a escola italiana estudava, de modo geral, apenas a teoria contábil, a escola norte-americana focou- se na prática contábil. 1.3. Escola norte-americana A escola norte-americana começa a ganhar projeção a partir do início do século XX. A economia mundial foi estruturalmente modificada em função da consolidação do modelo capitalista. Segundo Iudícibus (2015), o surgimento das gigantescas corporations, o aprimoramento do mercado de capitais e o ritmo de desenvolvimento que os Estados Unidos experimentaram representaram terreno fértil para o avanço das teorias e das práticas contábeis norte-americanas no início do século XX. Além disso, os Estados Unidos herdaram da Inglaterra a tradição no campo de auditoria. O mercado mundial precisava de novas informações e a contabilidade, para adequar- se aos novos padrões, teve de desenvolver um modo de operação mais aprimorado e completo para atender a um número cada vez maior de usuários da informação contábil, preocupados na garantia da segurança de seus investimentos. Material Específico – Ciências Contábeis – Tomo V – CQA/UNIP 14 A quebra da bolsa de Nova York, em 1929, foi outro fator que contribuiu para o desenvolvimento da contabilidade nos Estados Unidos. Segundo Hendriksen (2012), a crise do mercado de ações de New York em 1929 gerou “ondas de choque” que continuaram a ser sentidas por seis décadas. Antes dessa crise, os investimentos na Bolsa de Valores de New York estavam em pleno crescimento, com a quadruplicação do volume médio negociado de 1922 a 1929. A partir de outubro de 1929, e em curto espaço de tempo, a expansão terminou e iniciou-se a grande depressão. A quebra da bolsa causou forte abalo na contabilidade e nas demonstrações contábeis e deixou explícito que as empresas adotavam diferentes métodos contábeis e que não havia regras definidas e padronizadas. Assim, contadores, auditores e a própria bolsa de valores foram alvo de severas críticas por parte dos investidores. Isso obrigou o governo norte-americano a tomar medidas reparadoras, que culminaram na criação da SEC (Securities and Exchange Commission), comissão que dispunha de poderes para fiscalizar as empresas abertas, para determinar procedimentos contábeis e para estabelecer a forma de as demonstrações financeiras serem feitas (as quais, obrigatoriamente, deveriam a ela ser entregues). A SEC também ficou incumbida de emitir procedimentos práticos de contabilidade e de auditoria. Adiciona-se, ainda, como fator decisivo no desenvolvimento da contabilidade nos Estados Unidos, o surgimento de associações profissionais responsáveis pela promoção de estudos, pesquisas e procedimentos de normas de contabilidade. Iudícibus (2015) comenta que a evolução da Contabilidade nos Estados Unidos apoia- se em sólido embasamento, como os apresentados a seguir. 1) O grande avanço e o refinamento das instituições econômicas e sociais. 2) O investidor médio deseja estar permanentemente bem informado, colocando pressões não percebidas no curtíssimo prazo, mas frutíferas no médio e longo prazos, sobre os elaboradores de demonstrativos financeiros, no sentido de que evidenciem tendências; 3) O governo, as universidades e os institutos de contadores empregam grandes quantias para pesquisas sobre princípios contábeis. 4) O Instituto dos Contadores Públicos Americanos tem sido órgão atuante em matéria de pesquisa contábil, desde muitas décadas. 5) Mais recentemente, a criação do Financial Accounting Standards Board (FASB), em 1.973, mesmo ano da criação do IASC, hoje IASB, e, há muitos anos, da SEC (a CVM deles), tem propiciado grandes avanços nas pesquisas sobre procedimentos contábeis. Material Específico – Ciências Contábeis – Tomo V – CQA/UNIP 15 2. Análise das alternativas 3. Indicações bibliográficas • HENDRIKSEN, E. S; BREDA, M. F. V. Teoria da Contabilidade. São Paulo: Atlas, 2012. • IUDÍCIBUS, S. de. Teoria da Contabilidade. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2015. • SÁ, A. L. Teoria da Contabilidade. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010. Material Específico – Ciências Contábeis – Tomo V – CQA/UNIP 16 Questão 4 Questão 4.4 Em janeiro de 2015, uma empresa solicitou empréstimo a determinada instituição financeira para pagamento em dez meses. Foi registrado na contabilidade o valor recebido em conta do Ativo e o valor total do empréstimo em conta do Passivo. Os encargos financeiros incidentes sobre o empréstimo foram debitados em uma conta redutora do Passivo, denominada “Encargos Financeiros a Transcorrer”, tendo sido essa conta posteriormente apropriada para despesas financeiras, no resultado, à medida do tempo transcorrido. Nessa situação, esse registro contábil dos encargos financeiros tem por base o princípio da A. entidade. B. prudência C. continuidade D. competência E. atualização monetária. 1. Introdução teórica 1.1. Conceitos de Princípios de Contabilidade Os Princípios de Contabilidade são normas gerais de observância obrigatória, cujo objetivo é orientar os profissionais de contabilidade no exercício de sua profissão. Representam a base teórica e doutrinária que sustenta e fundamenta a contabilidade. Com a finalidade de unificar os princípios de contabilidade, o Conselho Federal de Contabilidade publicou a Resolução CFC N° 750/93, atualizada pela Resolução CFC N° 1.282/10, que dispõe sobre os Princípios de Contabilidade. Segundo a Resolução CFC N° 750/93, com redação dada pela Resolução CFC N° 1.282/10, os Princípios de Contabilidade representam a essência das doutrinas e teorias relativas à Ciência da Contabilidade, consoante o entendimento predominante nos universos científico e profissional de nosso País. Concernem, pois, à Contabilidade no seu sentido mais amplo de ciência social, cujo objeto é o patrimônio das entidades. 4Questão 11 – Enade 2015. Material Específico – Ciências Contábeis – Tomo V – CQA/UNIP 17 1.2. Revogação da Resolução CFC N° 750/93 Os Princípios de Contabilidade aprovados pela Resolução N° 750/93 tiveram significativa importância para a melhoria da estrutura teórica e doutrinária da contabilidade no Brasil. Entretanto, em virtude das mudanças socioeconômicas ocorridas ao longo do tempo no cenário nacional e do processo de convergência das normas brasileiras às normas internacionais de contabilidade, essa resolução deixava, cada vez mais, de atender à unicidade de conceitos indispensáveis ao adequado às necessidades dos usuários da contabilidade em geral. Assim, o Conselho Federal de Contabilidade, por meio da Norma Brasileira de Contabilidade – NBC TSP Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação de Informação Contábil de Propósito Geral pelas Entidades do Setor Público –, emitida em 23/09/2016 com efeitos aplicados a partir de 01/01/2017, revogou a Resolução CFC N° 750/93 e, consequentemente, a Resolução CFC N° 1.282/10. O fato de a Resolução CFC N° 750/93 ter sido revogada não significa que os princípios de contabilidade deixaram de existir. Em 2008, para a melhor adequação dos princípios de contabilidade aos padrões internacionais, o Comitê de Pronunciamentos Contábeis emitiu o Pronunciamento Conceitual Básico – Estrutura Conceitual para Elaboração e Apresentação das Demonstrações Contábeis, aprovado pelo Conselho Federal de Contabilidade por meio da Resolução CFC N° 1.121/08 que aprovou a NBC TG Estrutura Conceitual. Esse pronunciamento introduziu reflexões para a revogação da Resolução N° 750/93. Decidiu-se, no entanto, pela não revogação da resolução, que seria realizada futuramente, quando houvesse a revisão de seu conteúdo para adaptação à norma brasileira de contabilidade. Em 2011,o Comitê de Pronunciamentos Contábeis preparou uma revisão desse pronunciamento, o que deu origem ao Pronunciamento Conceitual Básico (R1), também conhecido como CPC 00. Em função dessa revisão, o Conselho Federal de Contabilidade revogou a Resolução CFC N° 1.121/08 sendo substituída pela Resolução CFC N° 1.374/11. Com a aprovação desses instrumentos, passaram a existir duas orientações sobre as características da informação contábil, uma vez que a Resolução CFC N° 750/93 continuava em vigor, conforme explicitado. Costa, citado por Girotto, conclui que a Material Específico – Ciências Contábeis – Tomo V – CQA/UNIP 18 recente revogação da Resolução Nº 750/1993 não implica na extinção dos princípios contábeis no Brasil. Na verdade, após a aprovação da Resolução 1.374/2011, o Brasil passou a contar com uma Estrutura Conceitual (EC/11). Enquanto a Resolução Nº 750/1993 era estruturada em ‘princípios’, a EC/11 é estruturada em capítulos, como, por exemplo, o do objetivo ou o das características qualitativas. De maneira geral, podemos ver que todos os princípios mencionados na Resolução Nº 750/1993 também estão na EC, com exceção do da prudência. O ‘de/para’ da Resolução Nº 750/1993 é apresentado a seguir, com os respectivos parágrafos da Estrutura Conceitual entre parênteses: continuidade (4.1), oportunidade (QC12 e QC19), registro do valor original e outras bases de mensuração (4.54 a 4.56), competência (OB17 a OB20). Em relação ao princípio da entidade, a EC faz menção à “entidade que reporta a informação”. É importante destacar que uma versão revisada da EC deverá ser emitida em breve pelo International Accounting Standards Board (Iasb). A versão revisada dedicará um capítulo ao conceito de ‘entidade’ e deve reintroduzir o conceito de ‘prudência’, que não significa antecipar as ‘más notícias’ e postergar as ‘boas notícias’, mas, sim, exigir cautela em julgamentos sob condições de incerteza. Concluindo, existem formas diferenciadas de estruturar os conceitos fundamentais que temos em Contabilidade, mas tenham certeza de que sempre estarão vivos e continuarão sendo a estrela-guia para o desenvolvimento dos pronunciamentos e das decisões a serem tomadas pelos profissionais (COSTA apud GIROTTO, S/D). 1.3. Princípios de Contabilidade Para a adequada análise da questão, formalizada antes de a Resolução Nº 750/1993 ter sido revogada, faz-se necessário recorrer a ela. De acordo com tal Resolução, são Princípios de Contabilidade: o Princípio da Entidade, o Princípio da Continuidade, o Princípio da Oportunidade, o Princípio do Registro pelo Valor Original, o Princípio da Competência e o Princípio da Prudência. O Princípio da Entidade reconhece o patrimônio como objeto da Contabilidade, afirma a autonomia patrimonial e prevê a necessidade da diferenciação de um patrimônio particular do patrimônio de outras pessoas. Dispõe que o patrimônio da empresa não se confunde com o patrimônio dos seus sócios ou proprietários, assim como não se misturam as transações de uma empresa com as de outra, ainda que sejam do mesmo grupo empresarial. É oportuno destacar que o Capítulo 2, intitulado “A Entidade que Reporta a Informação”, ainda não foi acrescentado à Resolução CFC N° 1.374/2011. Nessa resolução, constam apenas o título e a indicação de que esse capítulo será acrescentado futuramente. Uma revisão está prevista pelo International Accounting Standards Board (IASB), que dedicará o Capítulo 2 ao conceito da Entidade. O Princípio da Continuidade pressupõe que a entidade continuará em operação no futuro e, portanto, a mensuração e a apresentação dos componentes do patrimônio levam Material Específico – Ciências Contábeis – Tomo V – CQA/UNIP 19 em conta que a atividade da empresa ocorrerá por tempo indeterminado. Quando existirem claras evidências de descontinuidade, a entidade deve avaliar seu patrimônio a valores de liquidação, como menciona o item 4.1 da Resolução CFC N° 1.374/2011, reproduzido a seguir. As demonstrações contábeis normalmente são elaboradas tendo como premissa que a entidade está em atividade (going concern assumption) e irá manter-se em operação por um futuro previsível. Desse modo, parte-se do pressuposto de que a entidade não tem a intenção, nem tampouco a necessidade, de entrar em processo de liquidação ou de reduzir materialmente a escala de suas operações. Por outro lado, se essa intenção ou necessidade existir, as demonstrações contábeis podem ter que ser elaboradas em bases diferentes e, nesse caso, a base de elaboração utilizada deve ser divulgada. O Princípio da Oportunidade refere-se ao processo de mensuração e apresentação dos componentes patrimoniais para a produção de informações fidedignas e tempestivas. As transações devem ser registradas no momento em que ocorrem e na sua totalidade, sem qualquer falta ou qualquer excesso. A representação fidedigna e a tempestividade estão previstas, respectivamente, nos itens QC12 e QC19 da Resolução CFC N° 1.374/2011. QC 12. Os relatórios contábil-financeiros representam um fenômeno econômico em palavras e números. Para ser útil, a informação contábil- financeira não tem só que representar um fenômeno relevante, mas tem também que representar com fidedignidade o fenômeno que se propõe representar. Para ser representação perfeitamente fidedigna, a realidade retratada precisa ter três atributos. Ela tem que ser completa, neutra e livre de erro. É claro, a perfeição é rara, se de fato alcançável. O objetivo é maximizar referidos atributos na extensão que seja possível. QC 19. Comparabilidade, verificabilidade, tempestividade e compreensibilidade são características qualitativas que melhoram a utilidade da informação que é relevante e que é representada com fidedignidade. As características qualitativas de melhoria podem também auxiliar a determinar qual de duas alternativas que sejam consideradas equivalentes em termos de relevância e fidedignidade de representação deve ser usada para retratar um fenômeno. O Princípio do Registro pelo Valor Original determina que os componentes do patrimônio devem ser, inicialmente, registrados pelos valores originais das transações, ou seja, pelo custo histórico, expresso em moeda nacional. A Resolução CFC N° 1.374/2011 determina, nos itens 4.54 e 4.55, o que segue. 4.54. Mensuração é o processo que consiste em determinar os montantes monetários por meio dos quais os elementos das demonstrações contábeis devem ser reconhecidos e apresentados no balanço patrimonial e na demonstração do resultado. Esse processo envolve a seleção da base Material Específico – Ciências Contábeis – Tomo V – CQA/UNIP 20 específica de mensuração. 4.55. Um número variado de bases de mensuração é empregado em diferentes graus e em variadas combinações nas demonstrações contábeis. Essas bases incluem o que segue: (a) Custo histórico. Os ativos são registrados pelos montantes pagos em caixa ou equivalentes de caixa ou pelo valor justo dos recursos entregues para adquiri-los na data da aquisição. Os passivos são registrados pelos montantes dos recursos recebidos em troca da obrigação ou, em algumas circunstâncias (como, por exemplo, imposto de renda), pelos montantes em caixa ou equivalentes de caixa se espera serão necessários para liquidar o passivo no curso normal das operações. (b) Custo corrente. Os ativos são mantidos pelos montantes em caixa ou equivalentes de caixa que teriam de ser pagos se esses mesmos ativos ou ativos equivalentes fossem adquiridos na data do balanço. Os passivos são reconhecidos pelos montantes em caixa ou equivalentes de caixa, não descontados, que se espera seriam necessários para liquidar a obrigação na data do balanço. (c) Valor realizável (valor de realização ou de liquidação). Os ativos são mantidos pelos montantes em caixa ou equivalentes de caixa que poderiam ser obtidos pela sua venda em forma ordenada. Os passivos sãomantidos pelos seus montantes de liquidação, isto é, pelos montantes em caixa ou equivalentes de caixa, não descontados, que se espera serão pagos para liquidar as correspondentes obrigações no curso normal das operações. (d) Valor presente. Os ativos são mantidos pelo valor presente, descontado, dos fluxos futuros de entradas líquidas de caixa que se espera seja gerado pelo item no curso normal das operações. Os passivos são mantidos pelo valor presente, descontado, dos fluxos futuros de saídas líquidas de caixa que se espera serão necessários para liquidar o passivo no curso normal das operações. O Princípio da Competência determina que os efeitos das transações e de outros eventos sejam reconhecidos nos períodos a que se referem, independentemente do recebimento ou do pagamento. Esse princípio pressupõe, também, a simultaneidade da confrontação de receitas e de despesas correlatas. Portanto, as despesas e as receitas devem ser registradas de acordo com o fato gerador e incluídas na apuração do resultado da empresa no período em que ocorrerem, simultaneamente quando existir correlação delas, independentemente do pagamento ou do recebimento. A aplicação desse princípio visa a evitar que as despesas e as receitas de um período provoquem alterações no resultado de outros exercícios, conforme item OB17 da Resolução CFC N° 1.374/201. OB17. O regime de competência retrata com propriedade os efeitos de transações e outros eventos e circunstâncias sobre os recursos econômicos e reivindicações da entidade que reporta a informação nos períodos em que ditos efeitos são produzidos, ainda que os recebimentos e pagamentos em caixa derivados ocorram em períodos distintos. Isso é importante em função de a informação sobre os recursos econômicos e reivindicações da entidade que reporta a informação, e sobre as mudanças nesses recursos econômicos e reivindicações ao longo de um período, fornecer melhor base de avaliação Material Específico – Ciências Contábeis – Tomo V – CQA/UNIP 21 da performance passada e futura da entidade do que a informação puramente baseada em recebimentos e pagamentos em caixa ao longo desse mesmo período. O Princípio da Prudência determina a adoção do menor valor para os componentes do ativo e do maior valor para os componentes do passivo, sempre que se apresentem alternativas igualmente válidas para a quantificação das mutações patrimoniais que alterem o patrimônio líquido. Esse princípio impõe, quando da existência de opções igualmente aceitáveis, a escolha daquela que resulte na obtenção do menor patrimônio líquido, ou seja, em condições de incerteza, deve-se exigir cautela nos julgamentos e na apuração dos valores. Para as receitas, deve-se considerar a receita de menor valor. Para as despesas, deve-se considerar a despesa de maior valor. Ou seja, na existência de passivos sujeitos à atualização monetária, havendo formas alternativas de cálculos para a obtenção dos novos valores atualizados, deve-se sempre optar por aquela forma que resulte em maior valor para o passivo, e, consequentemente, que registre uma despesa maior. Cabe lembrar que o Princípio da Prudência ainda não consta da Resolução CFC Nº 1.374/2011. Esse princípio será acrescentado futuramente. A revisão prevista pelo International Accounting Standards Board (IASB) deverá reintroduzir o conceito da Prudência. 2. Análise das alternativas Material Específico – Ciências Contábeis – Tomo V – CQA/UNIP 22 3. Indicações bibliográficas • CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Resolução CFC N° 750, de 29 de dezembro de 1993. Brasília. Disponível em <http://www2.cfc.org.br/sisweb/sre/detalhes_sre.aspx? Codigo=1993/000750&arquivo=RES_750.DOC>. Acesso em 15 dez. 2016. • _____________.Resolução CFC N° 1.282, de 28 de maio de 2010. Brasília. Disponível em <http://www2.cfc.org.br/sisweb/sre/detalhes_sre.aspx?Codigo=2010/001282& arquivo=Res_1282.doc>. Acesso em 15 dez. 2016. • ____________.Resolução CFC N° 1.374, de 08 de dezembro de 2011. Brasília. Disponível em <http://www2.cfc.org.br/sisweb/sre/detalhes_sre.aspx?Codigo=2011/ 001374&arquivo=Res_1374.doc>. Acesso em 29 jun. 2017. • ___________.NBCTSP – Estrutura Conceitual, de 23 de setembro de 2016. Brasília. Disponível em <http://www2.cfc.org.br/sisweb/sre/detalhes_sre.aspx?Codigo=2016/ NBCTSPEC&arquivo=NBCTSPEC.doc>. Acesso em 29 jun. 2017. • GIROTTO, M. Revogação da Resolução N° 750/1993: contexto e considerações. Disponível em <http://cfc.org.br/noticias/revogacao-da-resolucao-no-7501993-contexto- e-consideracoes/>. Acesso em 29 jun. 2017. • IUDÍCIBUS, S. de. Teoria da Contabilidade. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2015. Material Específico – Ciências Contábeis – Tomo V – CQA/UNIP 23 Questão 5 Questão 5.5 No Brasil, as normas internacionais de contabilidade tiveram como marco regulatório as publicações da Lei N° 11.638/2007 e da Lei N° 11.941/2009, que determinaram a adoção inicial aos padrões internacionais de contabilidade nas empresas brasileiras. Nesse sentido, a legislação societária determina que, no Balanço Patrimonial, os ativos e os passivos decorrentes de operações de longo prazo devem ser ajustados a valor presente, e, os demais, ajustados, quando houver A. efeito relevante. B. provisões de perdas. C. reversão de reservas. D. ajuste de avaliação patrimonial. E. teste de recuperabilidade de ativos. 1. Introdução teórica Até o advento da Lei N° 11.638/07, não existia, na legislação societária, cuja base é a Lei N° 6.404/76, a obrigatoriedade de registro, a valor presente, dos direitos e das obrigações da entidade. A Lei N° 11.638/2007 introduziu, como critério de avaliação de ativos e passivos, a obrigatoriedade de ajustar os ativos e os passivos decorrentes de operações de longo prazo a valor presente. O Art. 183 da Lei N° 6.404/76, que trata dos critérios de avaliação do ativo, inciso VIII, determina que os elementos do ativo decorrentes de operações de longo prazo serão ajustados a valor presente, sendo os demais ajustados quando houver efeito relevante. (Incluído pela Lei N° 11.638, de 2007 e vide Lei N° 12.973, de 2014) . Já, o Art. 184 da mesma lei, que trata dos critérios de avaliação do passivo, em seu inciso III, determina que as obrigações, os encargos e os riscos classificados no passivo não circulante serão ajustados ao seu valor presente, sendo os demais ajustados quando 5Questão 12 – Enade 2015. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Lei/L11638.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L12973.htm#art4 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L12973.htm#art4 Material Específico – Ciências Contábeis – Tomo V – CQA/UNIP 24 houver efeito relevante. (Redação dada pela Lei Nº 11.941, de 2009 e vide Lei Nº 12.973, de 2014). Conclui-se, portanto, que todos os itens classificados no ativo realizável a longo prazo e no passivo não circulante devem ser ajustados a valor presente e os demais ativos e passivos de curto prazo somente devem ser ajustados a valor presente caso esse ajuste tenha efeito relevante nas demonstrações contábeis. O termo relevante é definido pelo CPC 00 – Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação de Relatório Contábil-Financeiro – como a capacidade de a informação fazer diferença em uma decisão tomada pelos usuários da contabilidade. A informação contábil- financeira só será capaz de fazer diferença nas decisões se estiver revestida de valor preditivo, de valor confirmatório ou de ambos. A informação contábil tem valor preditivo se puder ajudar os usuários a aumentar a probabilidade de predizer futuros resultados e tem valor confirmatório se retroalimentar, servir de feedback para confirmar ou alterar as avaliações prévias. Os requisitos básicosa serem observados quando da apuração do Ajuste a Valor Presente (AVP) são estabelecidos pelo CPC 12 – Ajuste a Valor Presente. De acordo com esse Pronunciamento Técnico, o Ajuste a Valor Presente tem como objetivo demonstrar o valor presente de um fluxo de caixa futuro. Para determinar o valor presente de um fluxo de caixa, são exigidas três informações: o valor do fluxo futuro (considerando todos os termos e as condições contratados), a data do referido fluxo financeiro e a taxa de desconto aplicável à transação. O conceito de valor presente está associado ao valor do dinheiro no tempo. Para Martins et al (2013), a aplicação do ajuste a valor presente corrige o aspecto de tratar transações a prazo e à vista da mesma forma. O objetivo é determinar as parcelas de ativo e de passivo que não correspondem ao preço efetivo da transação, mas ao ajuste por conta do valor do dinheiro no tempo. O item 9 do Pronunciamento Técnico CPC 12 determina que ativos e passivos monetários com juros implícitos ou explícitos embutidos devem ser mensurados pelo seu valor presente quando do seu reconhecimento inicial, por ser este o valor de custo original dentro da filosofia de valor justo (fair value). Por isso, quando aplicável, o custo de ativos não monetários deve ser ajustado em contrapartida; ou então a conta de receita, despesa ou outra conforme a situação. Com a aplicação do Ajuste a Valor Presente (AVP), ao se expurgarem os juros embutidos nos valores das operações a prazo, esperam-se eliminar as distorções nas http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L11941.htm#art37 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L12973.htm#art5 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L12973.htm#art5 Material Específico – Ciências Contábeis – Tomo V – CQA/UNIP 25 demonstrações contábeis provocadas pela falta do reconhecimento das despesas e receitas financeiras incluídas nas operações apurando resultados distorcidos. Esse posicionamento é confirmado pelo item 2 do Pronunciamento Técnico CPC 12: a utilização de informações com base no valor presente concorre para o incremento do valor preditivo da Contabilidade; permite a correção de julgamentos acerca de eventos passados já registrados; e traz melhoria na forma pela qual eventos presentes são reconhecidos. Se ditas informações são registradas de modo oportuno, à luz do que prescreve a Estrutura Conceitual para a Elaboração e Apresentação das Demonstrações Contábeis, Pronunciamento Conceitual Básico deste CPC, em seus itens 26 e 28, obtêm- se demonstrações contábeis com maior grau de relevância - característica qualitativa imprescindível. 2. Análise das alternativas Material Específico – Ciências Contábeis – Tomo V – CQA/UNIP 26 3. Indicação bibliográfica • BRASIL. Lei N° 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as sociedades por ações. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6404consol.htm>. Acesso em 17 fev. 2017. • COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. Pronunciamento Conceitual Básico (R1), CPC 00. Disponível em <http://static.cpc.mediagroup.com.br/Documentos/ 147_CPC00_R1.pdf>. Acesso em 17 fev. 2017. • ________________________. Pronunciamento técnico CPC 12 – Ajuste a valor presente. Disponível em <http://static.cpc.mediagroup.com.br/Documentos/219_CPC_12.pdf>. Acesso em 17 fev. 2016. • ________________________. Pronunciamento técnico CPC 25 – Provisões, Passivos Contingentes e Ativos Contingentes. Disponível em <http://static.cpc.mediagroup.com.br/Documentos/304_CPC_25_rev%2006.pdf>. Acesso em 17 fev. 2016. • MARTINS, E. et al. Manual de Contabilidade Societária. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2013. • SANTOS, J. L. et al. Manual de práticas contábeis: aspectos societários e tributários. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2015. Material Específico – Ciências Contábeis – Tomo V – CQA/UNIP 27 Questão 6 Questão 6.6 O gráfico a seguir ilustra a situação de alavancagem financeira e de endividamento de uma empresa, de 2010 a 2014, estando nele representados o Grau de Alavancagem Financeira (GAF) e o Grau de Endividamento (GE). O quociente de GAF e GE é a razão do capital de terceiros sobre o patrimônio líquido. Com base nesse gráfico, avalie as afirmativas a seguir. I. De 2012 a 2014, o aumento do endividamento produziu alavancagem do patrimônio líquido. II. De 2011 a 2012, o retorno do capital próprio foi menor que o retorno dos ativos. III. De 2012 a 2014, nota-se aceleração do GAF em relação ao GE, efeito que pode ser resultado de captações de recursos de terceiros com juros cada vez menores. É correto o que se afirma em A. I, apenas. B. III, apenas. C. I e II, apenas. D. II e III, apenas E. I, II e III. 6Questão 29 – Enade 2015. Material Específico – Ciências Contábeis – Tomo V – CQA/UNIP 28 2. Introdução teórica 2.1. Grau de alavancagem financeira (GAF) A alavancagem financeira é a utilização de recursos de terceiros, a encargos financeiros fixos, produzindo efeitos sobre o retorno do patrimônio líquido. Matarazzo (2010) explica que a expressão alavancagem financeira significa o que a empresa consegue alavancar, ou seja, aumentar o lucro líquido por meio da estrutura de financiamentos. Uma empresa financia seus ativos com recursos próprios (capital próprio) ou com recursos de terceiros (capital de terceiros). Assaf Neto (2017) conceitua alavancagem financeira como o resultado da participação de recursos de terceiros na estrutura do capital da empresa. Quanto maior o grau de endividamento da empresa, maior o grau de alavancagem financeira (GAF) e, consequentemente, maior o risco financeiro, pois, para obter maiores lucros, a empresa terá de correr maiores riscos. O efeito do grau de alavancagem financeira pode ser positivo, negativo ou nulo. Isso depende da comparação entre o retorno sobre o patrimônio líquido, utilizando parte de capital de terceiros, e rentabilidade obtida caso os ativos fossem financiados exclusivamente por capital próprio. Logo, temos o que segue. • GAF > 1: alavancagem financeira positiva (favorável). • GAF < 1: alavancagem financeira negativa (desfavorável). • GAF = 1: alavancagem financeira nula. Em princípio, pode-se admitir que a utilização de capitais de terceiros só é vantajosa quando o seu custo for menor do que o retorno produzido pelos ativos adquiridos por esses passivos, pois só assim haverá geração de benefícios para os acionistas. Nesse caso, a taxa de retorno sobre o patrimônio líquido será maior do que a taxa de retorno sobre o ativo. Se o custo do capital de terceiros for maior do que o retorno produzido pelos ativos, a taxa de retorno sobre o patrimônio líquido será menor do que a taxa de retorno sobre o ativo. Esses indicadores são obtidos utilizando-se as fórmulas a seguir, já descritas na seção anterior. Lucro Líquido RsPL Patrimônio Líquido Médio = Material Específico – Ciências Contábeis – Tomo V – CQA/UNIP 29 Lucro Operacional(*) RsA Ativo Total Médio = Despesas Financeiras Custo de Capital de Terceiros Passivo Oneroso = RsPL GAF RsA = A aplicação dessas expressões será mais bem compreendida pelos exemplos a seguir. *Observação. Caso a empresa tenha incidência de imposto de renda, o lucro a ser considerado no cálculo do Retorno sobre o Ativo será o lucro depois do IR e antes dos juros que retrata, exatamente, o lucro gerado pelos ativos independente da forma de como foram financiados. Exemplo 1. Utilização de 100% de capital próprio. Considere uma empresa com investimento de R$100.000,00, dos quais R$40.000,00 foram aplicados em ativo circulante e R$60.000,00 foram aplicados em ativo não circulante, financiados totalmente por CapitalPróprio. A empresa gerou lucro operacional (antes dos juros e do imposto de renda) de R$15.000,00. Admita, nesse exemplo, que não há incidência de imposto de renda. Veja os dados do quadro 1. Quadro 1. Balanço patrimonial. ATIVO PASSIVO E PATRIMÔNIO LÍQUIDO Ativo Circulante 40.000,00 Financiamentos - Ativo Não Circulante 60.000,00 Patrimônio Líquido 100.000,00 Total 100.000,00 Total 100.000,00 Como não existem despesas financeiras, por não existir passivo oneroso, e considerando a inexistência de imposto de renda, o lucro antes dos juros e do imposto de renda (lucro operacional) será igual ao lucro líquido. = = = = = = 15.000,00 Retorno sobre o Patrimônio Líquido 15% 100.000,00 15.000,00 Retorno sobre o Ativo 15% 100.000,00 15% GAF 1,0 15% Material Específico – Ciências Contábeis – Tomo V – CQA/UNIP 30 A interpretação é que não existe capital de terceiros contribuindo para geração de retorno adicional sobre o patrimônio líquido. Exemplo 2. Utilização de 50% de capital próprio e 50% de capital de terceiros Utilizando os mesmos dados do exemplo 1, considere, agora, que os acionistas decidem investir, apenas, R$ 50.000,00 e financiar a outra parte dos ativos por meio de um financiamento tomado à taxa de 10% a.a. Suponha que continue não havendo incidência do imposto de renda. Veja os dados do quadro 2. Quadro 2. Balanço patrimonial. ATIVO PASSIVO E PATRIMÔNIO LÍQUIDO Ativo Circulante 40.000,00 Financiamentos 50.000,00 Ativo Não Circulante 60.000,00 Patrimônio Líquido 50.000,00 Total 100.000,00 Total 100.000,00 Nesse caso, o resultado da empresa é o apresentado no quadro 3. Quadro 3. Demonstração do resultado do exercício. Lucro antes dos juros e do imposto de renda (lucro operacional) 15.000,00 Despesas Financeiras (10% x $ 50.000,00) (5.000,00) Lucro após despesas financeiras 10.000,00 Ao se considerar essa situação, os indicadores são os calculados a seguir. = = = = = = = = 10.000,00 Retorno sobre o Patrimônio Líquido 20% 50.000,00 15.000,00 Retorno sobre o Ativo 15% 100.000,00 20% GAF 1,333 15% 5.000,00 Custo do Capital de Terceiros 10% 50.000,00 Material Específico – Ciências Contábeis – Tomo V – CQA/UNIP 31 O retorno sobre o ativo, obtido pela aplicação do lucro antes dos juros e do imposto de renda, ou seja, pelo lucro operacional, indica o retorno que os ativos conseguem gerar independentemente da forma como foram financiados. O índice traduz, portanto, o retorno efetivamente gerado pelas operações da empresa. Nota-se que o retorno sobre o patrimônio líquido subiu de 15% para 20%. Muito embora o lucro líquido tenha diminuído para R$10.000,00, o capital próprio investido pelos acionistas diminuiu 50%, passando para R$50.000,00. Esse é exatamente o conceito do grau de alavancagem financeira: os recursos de terceiros, tomados a um custo fixo de 10%, foram aplicados em ativos que geraram retorno de 15%. A diferença de 5% vai para os acionistas e altera, dessa forma, o retorno sobre o patrimônio líquido. Em consequência, há produção de grau de alavancagem financeira (GAF) positivo de 1,333. Isso significa que o retorno sobre o patrimônio líquido foi alavancado em 33,33% (de 15% para 20%), ou seja, com o uso de capitais de terceiros, o retorno dos acionistas foi multiplicado por 1,333. Conclui-se que, quando há grau de alavancagem financeira, o crescimento do endividamento aumenta o retorno sobre o patrimônio líquido. A interpretação é a seguinte: o capital de terceiros está contribuindo para gerar um retorno adicional de 33,33% sobre o patrimônio líquido. Para cada R$1,00 de recursos de terceiros, os acionistas ganham R$1,33. 2.2. Efeitos do imposto de renda no cálculo do grau de alavancagem financeira Para o cálculo do retorno sobre o ativo (RsA), utiliza-se o lucro operacional antes dos juros e do imposto de renda, o que, obviamente, torna-o diferente do lucro líquido usado para o cálculo do retorno sobre o patrimônio líquido (RsPL). Ao se considerar a existência de despesas financeiras (juros) sobre o capital de terceiros, sob o aspecto tributário, as despesas financeiras são dedutíveis para efeitos da apuração do imposto de renda. Quando a empresa financia seus ativos exclusivamente por capital próprio, não existem despesas financeiras dedutíveis e, dessa forma, o lucro contábil aumenta e, em consequência, maior é o imposto de renda ao pagar. Ao contrário, se empresa trabalhar com capital de terceiros, gerando despesas financeiras dedutíveis, o lucro tributável será menor e, em consequência, menor será o imposto de renda a pagar. Conclui-se, portanto, que as despesas financeiras produzem uma economia de imposto de renda equivalente à alíquota do imposto de renda sobre as despesas financeiras, não alterando o grau de alavancagem financeira. Material Específico – Ciências Contábeis – Tomo V – CQA/UNIP 32 No exemplo apresentado, admitindo-se uma alíquota de imposto de renda de 34%, a economia do imposto de renda sobre as despesas financeiras (juros) é de R$1.700,00 (resultado de 34%x5.000,00). Considerando-se os mesmos dados do exemplo anterior, a influência do imposto de renda pode ser numericamente ilustrada no quadro 4. Quadro 4. Demonstração do resultado do exercício. 100% dos ativos financiados por capital próprio 50% dos ativos financiados por capital de terceiros Lucro antes dos juros e do imposto de Renda (lucro operacional) 15.000,00 15.000,00 Imposto de renda (34%) (5.100,00) (5.100,00) Lucro após imposto de renda e antes dos juros 9.900,00 9.900,00 Despesas financeiras (juros) (5.000,00) (+) Economia do imposto de renda sobre os juros 1.700,00 Lucro Líquido do Exercício 9.900,00 6.600,00 Verifica-se que o lucro gerado pelos ativos, antes dos juros, mas já diminuído o imposto de renda, é de R$9.900,00, exatamente igual nas duas opções, ou seja, independentemente da forma de como esses ativos foram financiados. Dessa forma, os indicadores são os que seguem. = = = = = = − = = 6.600,00 Retorno sobre o Patrimônio Líquido .100% 13,20% 50.000,00 9.900,00 Retorno sobre o Ativo .100% 9,9% 100.000,00 13,20% GAF 1,333 9,9% 5.000,00 1.700,00 Custo do Capital de Terceiros .100% 6,6% 50.000,00 Portanto, a incidência do imposto de renda não altera o grau de alavancagem financeira, mas não pode ser ignorada na avaliação de resultados da empresa. Apesar de o retorno sobre o ativo ter diminuído de 15% para 9,9%, o custo efetivo do capital de terceiros também diminui, de 10% para 6,6%. Assim, o retorno sobre o ativo Material Específico – Ciências Contábeis – Tomo V – CQA/UNIP 33 continua sendo superior ao custo da dívida, gerando um retorno para os acionistas de 33,33%. 3. Análise das afirmativas Material Específico – Ciências Contábeis – Tomo V – CQA/UNIP 34 3. Indicações bibliográficas • ASSAF NETO, A. Estrutura e análise de balanços. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2015. • ASSAF NETO, A.; LIMA, F. G. Fundamentos de administração financeira. 3. ed. São Paulo, Atlas, 2017. • IUDÍCIBUS, S. de. Análise de balanços. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2014. • MÁLAGA, F. Análise de demonstrativos financeiros e da performance empresarial. 2. ed. São Paulo: Saint Paul, 2012. • MARQUES J. A. V. et al. Análise financeira das empresas. 2. ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2015. • MATARAZZO, D. C. Análise financeira de balanços. Abordagem gerencial. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2010. • PERES JUNIOR, J. H; BEGALI, G. A. Elaboração e análise das demonstrações contábeis. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2009. Material Específico – Ciências Contábeis – Tomo V – CQA/UNIP 35 Questão 7 Questão 7.7 O planejamentoda perícia é a etapa do trabalho pericial que antecede as diligências, pesquisas, cálculos e respostas aos quesitos. Nessa etapa, o perito do juízo estabelece a metodologia dos procedimentos periciais a serem aplicados, elaborando-a a partir do conhecimento do objeto da perícia. CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. NBC TP 01. Perícia contábil. Brasília, 2015. Entre os objetivos do planejamento da perícia, inclui-se I. conhecer o objeto e a finalidade da perícia, a fim de permitir a adoção de procedimentos que conduzam à revelação da verdade; II. definir a natureza, a oportunidade e a extensão dos procedimentos a serem aplicados, em consonância com o objeto da perícia; III. identificar fatos importantes para a solução da demanda, de forma que não passem despercebidos ou não recebam a atenção necessária. É correto o que se afirma em A. I, apenas. B. II, apenas. C. I e II, apenas. D. II e III, apenas E. I, II, III 1. Introdução teórica 1.1. Conceitos e objeto da perícia contábil Entende-se por perícia o trabalho de notória especialização feita com o objetivo de obter prova ou opinião para orientar uma autoridade formal no julgamento de um fato ou para desfazer um conflito de interesses de pessoas (MAGALHÃES, 2017). A perícia contábil é um instrumento que consiste em produzir provas técnicas sobre determinadas questões contábeis duvidosas ou controvertidas com o objetivo de esclarecer, por meio de laudo pericial, a veracidade sobre os fatos contestados, fornecendo ao juiz informações técnicas que o ajudem a sustentar sua decisão no julgamento e a solucionar o litígio. 7Questão 24 – Enade 2015. Material Específico – Ciências Contábeis – Tomo V – CQA/UNIP 36 A perícia judicial pode ser solicitada para efeito de prova ou opinião que exija conhecimento dessa área profissional, com o objetivo de auxiliar o juiz de direito no julgamento de uma lide, conforme prevê o Art. 156 do Código de Processo Civil: “quando a prova do fato depender de conhecimento técnico e científico, o juiz será assistido por perito...”. A perícia contábil está contida em um dos gêneros de prova pericial. Trata-se de uma das provas técnicas à disposição das pessoas naturais e jurídicas, com o objetivo de reunir provas sobre determinados fatos ou sobre questões patrimoniais controvertidas (ORNELAS, 2011). O Conselho Federal de Contabilidade, com o objetivo de dar suporte às questões relacionadas à perícia contábil, editou a Norma Brasileira de Contabilidade - NBC TP 01, em 27/02/2015. Essa norma, em seu item 2, conceitua perícia contábil conforme segue. 2. A perícia contábil constitui o conjunto de procedimentos técnico-científicos destinados a levar à instância decisória elementos de prova necessários a subsidiar a justa solução do litígio ou constatação de fato, mediante laudo pericial contábil e/ou parecer técnico-contábil, em conformidade com as normas jurídicas e profissionais e com a legislação específica no que for pertinente. Os juízes nem sempre são conhecedores de todos os assuntos técnicos nos diferentes ramos do saber. Para subsidiar o juiz com informações, cálculos numéricos e esclarecimentos sobre os pontos controvertidos, essa autoridade, à sua livre escolha, pode nomear um perito, de sua total confiança, que apresente capacidade técnica e reconhecidos conhecimentos sobre a matéria da perícia, que o habilitem a executar a prova pericial. É no momento da nomeação que o juiz designa o prazo para que o perito entregue o laudo pericial, e é, portanto, nesse momento, que se inicia o envolvimento desse profissional com o processo. O objeto da perícia contábil é o patrimônio das entidades físicas ou jurídicas. É na contabilidade que o perito contábil encontra os meios disponíveis para buscar esclarecimentos e provas sobre a matéria examinada. A perícia contábil tem por objeto central os fatos contábeis relacionados à causa (aspecto patrimonial), os quais devem ser verificados. Por isso, são submetidos à apreciação técnica do perito certos limites essenciais, ou “características essenciais”, independentemente dos procedimentos a serem adotados (MARCELO, 2013). Material Específico – Ciências Contábeis – Tomo V – CQA/UNIP 37 1.2. Planejamento do trabalho pericial O planejamento do trabalho judicial inicia-se com a leitura atenta dos autos do processo, ocasião em que o perito deve, também, identificar a época dos fatos alegados e relatados pelas partes. É fundamental que o perito junte todos os documentos que servirão de suporte para elaboração do laudo pericial. Em decorrência da própria leitura dos autos, o perito deve recorrer à pesquisa bibliográfica, incluindo a leitura de livros, artigos técnicos, leis e normas contábeis, a fim de consolidar o conhecimento necessário para a completa finalização do trabalho judicial. Costa (2017) esclarece que, à medida que o perito desenvolve a leitura dos autos, ele deve transcrever os elementos mais importantes nos papéis de trabalho, de forma a evidenciar as etapas da perícia e o tempo necessário para cada atividade. O Item 30 da Norma Brasileira de Contabilidade – NBC TP 01 – define planejamento da forma abaixo. 30. O planejamento da perícia é a etapa do trabalho pericial que antecede as diligências, pesquisas, cálculos e respostas aos quesitos, na qual o perito do juiz estabelece a metodologia dos procedimentos periciais a serem aplicados, elaborando-o a partir do conhecimento do objeto da pesquisa. A referida norma também trata, no item 31, dos objetivos do planejamento da perícia. 31. Os objetivos do planejamento da perícia são: (a) Conhecer o objeto e a finalidade da perícia, a fim de permitir a adoção de procedimentos que conduzam à revelação da verdade, a qual subsidiará o juízo, o árbitro ou o interessado a tomar a decisão a respeito da lide. (b) Definir a natureza, a oportunidade e a extensão dos procedimentos a serem aplicados, em consonância com o objeto da perícia. (c) Estabelecer condições para que o trabalho seja cumprido no prazo estabelecido. (d) Identificar potenciais problemas e riscos que possam vir a ocorrer no andamento da perícia. (e) Identificar fatos importantes para a solução da demanda, de forma que não passem despercebidos ou não recebam a atenção necessária. (f) Identificar a legislação aplicável ao objeto da perícia. (g) Estabelecer como ocorrerá a divisão das tarefas entre os membros da equipe de trabalho, sempre que o perito necessitar de auxiliares. (h) Facilitar a execução e a revisão dos trabalhos. Material Específico – Ciências Contábeis – Tomo V – CQA/UNIP 38 2. Análise das afirmativas 3. Indicações bibliográficas • CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE - CFC. Norma Brasileira de Contabilidade - NBC TP 01, de 27 de fevereiro de 2015. Disponível em <http://www1.cfc.org.br/sisweb/sre/detalhes_sre.aspx?Codigo=2015/NBCTP01>. Acesso em 11 mai. 2017. • Código de Processo Civil. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015- 2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em 04 jun. 2017. • COSTA, J. C. D. Perícia contábil: aplicação prática. São Paulo, Atlas, 2017. • MARCELO, C. Objeto e finalidade da perícia contábil (2013). Disponível em <http://blogdoprofessorclaudiomarcelo.blogspot.com.br/2013/07/objeto-e-finalidade-da- pericia-contabil.html>. Acesso em 13 mai. 2017. • MAGALHÃES, A. de D. F. Perícia Contábil. São Paulo: Atlas, 2017. • ORNELAS, M. M. G. Perícia Contábil. 5. ed. São Paulo, Atlas, 2011. • ZANNA, R. D. Prática de perícia contábil. 4. ed. São Paulo, IOB. Folhamatic, 2013. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm http://blogdoprofessorclaudiomarcelo.blogspot.com.br/2013/07/objeto-e-finalidade-da-pericia-contabil.html http://blogdoprofessorclaudiomarcelo.blogspot.com.br/2013/07/objeto-e-finalidade-da-pericia-contabil.htmlMaterial Específico – Ciências Contábeis – Tomo V – CQA/UNIP 39 ÍNDICE REMISSIVO Questão 1 Normas Internacionais de Contabilidade. Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação de Relatório Contábil-Financeiro. Questão 2 Normas Internacionais de Contabilidade. Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação de Relatório Contábil-Financeiro. Questão 3 Normas Internacionais de Contabilidade. Teoria da Contabilidade. Questão 4 Normas Internacionais de Contabilidade. Princípios de Contabilidade. Questão 5 Normas Internacionais de Contabilidade. Ajuste a Valor Presente. Questão 6 Administração Financeira. Grau de Alavancagem Financeira (GAF). Questão 7 Perícia. Avaliação. Arbitragem. Planejamento da Perícia Contábil.
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